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8 Os intelectuais Jean-Frangois Sirinelli E cHEGADA, afinal, para esta hist6ria das paixdes francesas que éa histéria politica dos intelectuais, a hora da Hist6ria, com esta maitiscula que convém a toda atividade de pesquisa que possui status cientifico reconhecido. O fenédmeno é recente, e muito ainda esta por ser feito. H4 30 anos, contudo, uma dessas campanhas de envergadura que mobilizam pesquisa- dores para um novo campo de investigagio e desembocam em aberturas frutiferas teria podido ser posta em marcha. Em junho de 1957, foi organizada pela Association Frangaise de Science Politique uma mesa-redonda sobre “os intelectuais na sociedade francesa contemporanea”. A Revue Frangaise de Science Politique — RFSP, que publicou pouco depois uma parte dos trabalhos apresentados nesse encontro, observava, com razdo, que “os especialistas em ciéncia politica, pelo menos na Franga, haviam-se preocupado muito pouco” com esses problemas até entdo e, enquanto Louis Bodin e Jean Touchard definiam um quadro conceitual, René Rémond acentuava que “o comportamento politico dos intelectuais me- Teceria por si s6 um estudo”. Curiosamente, de fato, no exato momento em que a comu- nidade nacional, as voltas com o drama argelino, comegava a Tepercutir 0 engajamento e as polémicas de seus intelectuais € a reverberar os debates sobre seu papel,’ a escola histérica francesa, com raras excegdes, praticamente niio dava atengao 4 esses atores do politico. Poderfamos comentar longamente esse siléncio — ao menos relativo — dos historiadores enquan- to outras disciplinas — particularmente a ciéncia politica e, em Menor escala, a sociologia’ — voltavam pouco a pouco seu POR UMA HISTORIA POLITICA 232 olhar nessa diregao. Mas ha algo ainda mais surpreendente, Longe de se por progressivamente em movimento, ° estudo histérico dos intelectuais permaneceu por muito tempo ainda no mesmo lugar, enquanto tomavam impulso, ao longo da década de 1960, as pesquisas sobre “a histéria abandonada” do perfodo entre as duas guerras, pesquisas estas cuja eclosio ao longo da década seguinte deu lugar a algumas das mais bri- Ihantes contribuigdes da histéria politica.* Assim, no que diz respeito a esta abordagem histérica do meio intelectual, os anos 1960 e 1970 aparecem, com 0 recuo, em meias-tintas. Se as pesquisas de histéria medieval de Jacques Le Goff ou de Bernard Guenée e as de histéria moderna de Robert Mandrou, Daniel Roche e Robert Darnton alcanga- ram €xitos incontestdveis e brilhantes — associados na maioria das vezes, € verdade, mais A hist6ria social ou cultural que a historia do politico —, 0 balango € mais irregular, no limiar da nossa década, no que concerne & histéria contemporanea, apesar de algumas belas realizagdes. E Madeleine Rebérioux péde sublinhar com razao, num relatério de semindrio de 1980, que, No tocante aos intelectuais franceses do século XX, as incertezas” continuavam “considerdveis”> Apés estudar as causas que durante tanto tempo deixaram Os intelectuais no angulo morto da pesquisa — pois, na verdade, era muito mais uma questdo de auséncia do olhar a ae sera portanto necessério apresentar em ince wsieria nascente, mais que renascente. Sua Problematicas ae contudo de ganhar vigor, testando Para tanto instrumeng sc eabstrindo aaa Animas ae ‘08 especificos. A hist6éria dos intelectu- auténomo gue iia €M_poucos anos, um. campo_histérico ~onge de se fechar sobre si mesmo, € uM campo aberto, situa ‘soci » Situado no cruzai ae hint, mn Social e cultural, mento das histérias politica, OS INTELECTUAIS Uma Histéria no Angulo Morto Na historiografia dos atores do politico, os intelectuais ocupam indiscutivelmente um lugar a parte. Se observarmos mais de perto, de fato, amplos setores da hist6ria politica foram revivificados por pesquisas realizadas nas tltimas trés décadas, e para as quais o problema era menos, na verdade, um problema de esséncia que uma questdo de existéncia aos olhos de uma comunidade cientifica que, por razées comple- xas, durante muito tempo Ihes negou um status pleno na chamada historia nova. Um olhar retrospectivo sem precon- ceitos sobre essas pesquisas mostra que a estrada percorrida ja € longa e que o caminho, no final das contas, foi frutifero. Em compensagao, no que se refere a historia dos intelectuais, um olhar pelo retrovisor nao traz grande proveito. Um subobjeto da histéria? HA ai, pensando bem, um verdadeiro problema histérico que pede esclarecimento e que é em si mesmo um belo tema... de histéria politica. Belo mas delicado, pois as causas de tal situagao participam de dois fendmenos de natureza bem di- ferente. O primeiro remete ao status complexo da histéria politica — e, mais ainda, da histéria politica do passado Préximo — na escola histérica francesa das tiltimas décadas. © segundo é mais especffico e tem a ver com os problemas Préprios da histéria dos intelectuais na cidade. Incontestavelmente, e sem dtivida mais que em outros se- tores, esta histéria sofreu do processo de suspei¢ao movido contra 0 pesquisador do politico. A honra perdida da historia Politica — segundo os cfinones dominantes — durante muito tempo escondeu dos olhares galhos no entanto ricos de seiva. Mais que isso, para setores que, como o dos intelectuais,

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