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FLORESTAN FERNANDES | — Ensaio de Interpretacao Sociolégica , : a. fo adicéo biblioteca de ciéncias sociais NO BRASIL 4 (28 edigho) Sociblogo cujas contribuigées ao desenvolvi- nento de sua ciéncia j& foram objeto de teses uni- ersitérias no exterior, fato que confere dimensio faternacional ao seu prestigio de cientista social, LORESTAN FERNANDES (raga, neste livro, soberbo paincl da evolugio do capitalismo ¢ da sociedade He classes no Brasil. Para chegar 4 conceituagio clara e precisa Ho que seja a nossa “revolucto burguesa", FLo- STAN FERNANDES remonta ao proceso de forma- {0 da economia e da sociedade nacional, desde bs tempos em que s¢ inicio a cofonizacgo. Nio b faz, porém, senio para exercer melhor a critica Hla ordem nacional, a partir de suas estruturas, submetidas a rigorosa andlise, Essa angulagio lhe permite ver as singularidades brasileiras dos con- itos de “revolugao burguesa”, “burguesia” e ‘burgués”, conceitos estes que’ nio podem ser ;plicados ‘no Brasil como simples transposi¢ao pcadémica. Capitulos como os que versam sobre ) status ‘colonial, as implicagdes soviais © ecoud- fiicas da Independéncia e a formacao da ordem Kocial competitiva estabelecem as condigdes ¢ ilu- fninam os estigios do desencadeamento histérico Ha nossa “revolugio burguesa”. Alto nivel de eresse ganham igualmente as paginas dedicadas Ko exame dos problemas da crise do poder burgués ho. Brasil, crise deflegrada pela passagem do capi- |ismo competitivo 20 capitalismo monopolista. Desdobra-se essa andlise na abordagem do modelo niléequico-burgués de transformagio capitalist jigente no Brasil, e das contradigbes sociais ¢ politicas geradas no interior da nova ordem. Desde © inicio do século a melhor tradigio Sociologia & 2 que a define (CaRt, BRINKMANN) no “‘cigncia da oposi¢zo”, no sentido de que tua missio especifica ¢ 0 exereicio da critica da Kociedade, E isso porque ela nunca poderd deixar fie ‘considerar que a emancipaco do homem ¢ a Mlefesd da, dignidade humana so a razio mesma “sua existéncia. Toda a obra de FLORESTaN INANDES insere-se nessa grande tradigio cien- 4 Revolugdo Burguesa no Brasil torna-se, por 0, livro de capital importfincia para a comprensio jetiva do impasse histérico com que nos defron- Esta segunda edigo ¢ om tudo igual a ;meira; salvo pequenas correcbes € 0 acréscimo ic um novo Prefacio, escrito pelo préprio autor. -A REVOLUCGAO BURGUESA’. A REVOLUCAO BURGUESA NO BRASIL Ensaio de Interpretagaéo Sociolégica ”, 7 J La&S £30 AWo%’ | $B6Snh . > | god - “ BIBLIOTECA DE CIENCIAS SOCIAIS Do autor, nesta mesma série: CAPITALISMO DEPENDENTE E CLASSES SOCIAIS Na AMERICA LATINA (1973) SOCIEDADE DE CLASSES E SUBDESENVOLVIMENTO (2.* ed. revista, 1972) FLORESTAN FERNANDES Revco Bugs noprasil ENSAIO DE INTERPRETACAO SOCIOLOGICA Segunda Edigdo » ge 201.4ho9 ZL ZAHAR EDITORES C3630 RIO DE JANEIRO Qood “ Copyright ©1974, 1975, by Florestan Feranandes capa de Erico Yeh LYABL EX Syudy AWa~QpRannoe’> 1976 ———-_— Direitos para esta edigdo concedidos a+ ZAHAR EDITORES Caixa Postal 207 (ZC-00) Rio de Janeiro Impresso no Brasit A meméria de Marialice Mencarini Foracchi e aos colegas ¢ amigos @ quem estive ligado mais intimamente, du- rante varios anos, na aventura comum de vincular a investigagao sociolégica 4 transformacao da sociedade brasileira: Fernando Henrique Cardoso Octavio Lanni ” Luiz Pereira . 4 Maria Sylvia Carvalho Franc: Leoncio Martins Rodrigues Netto José de Souza Martins Gabriel Cohn José Cesar A. Gnaccarini e José Carlos Pereira. INDICE, Nota Explicativa Prefacio & Segunda ow PRIMERA PARTE AS ORIGENS DA REVOLUCGAO BURGUESA + 2B Capitulo 1 — Questies Preliminares de Importancia Interprétativa 15 Capitulo 2 — As Implicagdes Sécio-Econdmicas da Independéncia 31 Capitulo 3 — O Desencadeamento Histérico da Revolugao Burguesa 86 SeGunpa PARTE A FORMACAO DA ORDEM SOCIAL COMPETITIVA (Fragmento) Capitulo 4 — Esbogo de um Estudo sobre a Formagiio e 0 Desen- volvimento da Ordem Social Competitiva 149 ‘Tercera PARTE REVOLUCAO BURGUESA E CAPITALISMO DEPENDENTE Introdugio .. Capitulo 5 — A Coneretizagio da Revolugéo Burguesa .. Capitulo 6 — Natureza e Btapas do Desenvolvimento Capitalista 222 — Emergéncia e Expansiio do Mercado Capitalista Mo- derno . - Emereéncia e Expansio do Capitalismo Compe- ne - Emergencia e Expansio do Capitalismo Monopolista 251 2 A REVOLUCAO BuRGUESA NO BRasiL Capitulo 7 — O Modelo Autocratico-Burgués de Transformacéo Capitalista, — Dominagéo Burguesa e Transformagio Capitalista ~- Contra-Revolucdo Prolongada e “Aceleragio da His- fria” — Estrutura Politica da Autocracia Burguesa — Persisténcia ou Colapso da Autocracia Burguesa Bibliografia Selecionada ... 289 299 310 321 353 367 NOTA EXPLICATIVA CoMECEI A ESCREVER este livro em 1966, Ele deveria ser uma res- posta intelectual a situagdo politica que se criara com o regime instaurado em 31 de marco de 1964. A primeira parte foi escrita no primeiro semestre daquelé ano; € 0 fragmento da segunda parte?, no fim do mesmo’ ano. Varios colegas ¢ amigos leram a primeira parte, alguns demons- trando aceitar os meus pontos de vista, outros combétendo-os. Isso desanimou-me, levando-me a desistir do ensaio e a investir o tempo livre em atividades vinculadas ao ensino'e ao movimento universitario (de 1967 a 1968). De 1969 a 1972 estive ocupado com os cursos que lecionei na Universidade de Toronto. Se tra- balhei sobre o assunto, de uma perspectiva teérica e comparada, jamais sonhei em voltar a ele para terminar o livro. Gragas aos estimulos de varios colegas (entre os quais devo salientar os professores Luiz Pereira, Fernando Henrique Cardoso e Atsuko Haga) e, em particular, ao incentivo entusidstico de minha filha, a professora Helofsa Rodrigues Fernandes, no se- gundo semestre de 1973 retomei os planos iniciais, reformulei-os (adaptando-os aos meus pontos de vista atuais) ¢. iniciei a reda- sao da terceira parte. Os capitulos 6 e 7 foram escritos este ano @ contém, na esséncia, a parte mais importante da contribuicio tedrica que, porventura, esta obra possua. E preciso que o leitor entenda que ndo projetava fazer obra de “Sociologia académica”. Ao contrario, pretendia, na lingua gem: mais simples possivel, resumir as principais linhas da evo- lugdo do capitalismo e da sociedade de classes no Brasil. Trata-se de um ensaio livre, que nao poderia escrever, se nao fosse so- + Decidi nfo concluir essa parte, introduzindo no capitulo 6 algumas das questdes que seriam debatidas -ali. 4 A Revovucio BurGuESA NO Brasil cidlogo. Mas que pde em primeiro plano as frustragées ¢ as esperancas de um socialista militante. Gostaria de agradecer o apoio ¢ o incentive que recebi dos colegas e amigos que me animaram a concluir o livro. De ma- neira especial, queria agradecer a Jorge Zahar, por seu interesse em acolher o ensaio em sua fecunda programac&o editorial. Sto Paulo, 14 de agosto de 1974 Florestan Fernandes PREFACIO A SEGUNDA EDICAO Como acontece com todos os livros que lidam com os pro- blemas da histéria em processo, este ensaio sofreu restrigdes e elo- gios desencontrados, Recebi-os, a ambos, se néio com isengao de esptrito, pelo menos com boa-vontade: Aprendi, com eles, que nem sempre se encontra apoio naqueles que se poderia tomar como “oliados naturais”; e descobri que jé contamos com uma geragéo de socidlogos jovens que praticam uma verdadeira socio- dogia critica ¢ militante, sem limitagdes mentais e dogmatismos estéreis, Seria o caso de aceitar, entio, um amplo debate? Acho que seria prematuro, n@o por orgulho, mas exatamente pelo in- verso: a modéstia me obriga a reconhecer que este ensaio nao passa de um ponto de partida, Os que me criticam, a favor ou contra, é que devem ir mais longe e entabular o debate que mar- card le grand tournant de sociologia no Brasil..Tal debate — e ndo o presente livro — indicard o grau de maturidade tedrica e critica dos sociélogos brasileiros. De minha parte, jd colhi o essen- cial, pois voltei a circular como um autor vivo, que as circuns- tancias colocaram fora do processo intelectual, mas n&o fora e acima do confronto com as responsabilidades priticas da ciéncia. Sobre dois pontos gostaria de introduzir maior preciséo. Pri- meiro, no que diz respeito & vinculagéo reciproca da sociologia com o socialismo. Para os que conhecem as origens da civilica- ¢Go industrial, é fato bem sabido que a mesma situag&o histérica e os mesmos dilemas humanos esttio na raiz do aparecimento de uma e do desenvolvimento do outro. O que néo quer dizer que se confundam. Quanto a mim, como socialista militante que se for- mou, ao mesmo tempo, como socidlogo “profissional”, niéio pro- ‘eurei neste livro — como é freqiiente na pior espécie de “meio

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