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Universidade aa CURSO DE HISTORIA DA LINGUA PORTUGUESA 1VO. CASTRO Introdugio Breve Sintese da Histéria da Lingua Portuguesa Ahistéria da lingua portuguesa conta-nos como alguns dialectos latinos falados no Angulo noroeste ula Tbérica se converteram em lingua auténoma, servindo de lingua nacional a um pequeno estado nascido no séeulo XII dentro do mesmo Angulo c, posteriormente, acompanhando-o na sua expansio para sul, de modo que, no meio do séeulo XIII, ja oeupavam toda a faixa ocidental da Peninsula. Século e meio mais tarde, cava-se irreversivelmente uma scparagdo entre os dialectos mais Setentrionais desta faixa (os galegos) ca lingua de Portugal, baseada a sul, Ao mesmo tempo, inicia-se lum novo movimento de expansio, desta vez para fora da Europa; ele viria a ser responsdvel pela isperstio do portugués um pouco por tode 6 litoral africano e asidtica, além do Brasil, mais cnraizado Aluns lugares que noutros, em todos negociando com as linguas locais formas de convivio, que condiazi- fam uma vasta coleccio de linguas mio europeias, mas de ciara base portuguesa, os crioulos. E conduziram, evidentemente, a win monumento de uniformidade linguistica, que € 0 Brasil Para quem ignorasse a historia da cxpansio da lingua portuguesa, x sua geografia actual levaria a defini-ta como uma lingua falada entre 08 dois trépicos por uns 150 milhOes de pessoas e ainda, nurn teeanto da Europa, por uns anexos dez milhdes. Corrigir essa imagem, ordenando as coisas segundo a sua existéncia cronolégica ¢ procurando a Aarticulasilo légica dos processos cvolutivos, €a primeira missdo de qualquer histéria da nossa lingua. A segunda, destinada a funcionar como travlo de possiveis utilizagdes chauvinistas da primeira, é a demonstrayao aturada de que a lingua portuguesa nio é uma s6,e muito menos apenas nossa. Para 0 ‘mostrar, bastaria fazer um inquérito linguistico a um grupo constttuldo por quemescreve estas piginase or todos aqueles que as léem: se nos retine o direito.e a vontade de chamar nossa A lingua que usamos, {erlamos contudo enormes dificuldades em ignorar as diferengas que, na prondncia, na gramética, no \éxico, na pragmatica, se calhar aténa ortografia (ounas opiniGes.a respeito dela)indubitavelmente nos distinguern. Mas nos nto separa, AA diversidade interna, a variedade entre formas contempordineas ¢ alternativas, a mudanga ocor- Fida entre formas distanciacas no tempo, nada disso impede ou destréi a cocsioea unidade maior de um siatema linguistico, © dominio natural que adquirimos da nossa lingua deve habilitat-nos aescolher para Uso proprio entre mais de uma variedade, adoptando a mais adequada a qualquer situaco de didlogoou ‘eserita. Conhecer essas varicdades na sua escata social, regional e temporal é um dos objectivos mais importantes para cada estudante de lingulstica portuguesa. Respeitar as varicdades que no usamos ¢ Feconhecera sua legitimidade, através da sua hist6ria, slo um dos proveitos adicionais desse estudo. ‘Oque ncaba de ser dito sugere qual a oricntagiio que vai ser seguida ao longo deste curso. Faremos Ainguistica histGrica, mas sistematicamente equacionands os factat linguisticos com factos histéricos, ogrifices, sociais e culturais. Doutrinariamente, o curso caracteriza-se por um certo eclectismo, que fprocura combinar formulagses, apresentacdes de dados © propostas de explicagto vindas ora da lingulstics romanica, ora do cstruturalismo diacrénico, ora da sociolinguistica. Essa atitude de absorver todos os comtributos que se possam integrar ¢ ajudam a matizar, expandir c reclassificar a nossa Compreensiointerior do grands organismo cultural que €a lingua portuguesa, é,nofundo, umaatitude tipica da romanistica. O capitulo 1 procura definir © enquadraments disciplinar em que curso se situa, sem entrarem discussoes tedricas prolongadas ¢ nio tentando esbogar sequet uma histéria da diseiplina, © capitulo 2 ocupa-se da distribuigao espacial do portugués das variedades crioulas com ele relacionadas. Ao classifiear as variedades e ao explicar as suas caracteristicas principais, era inevitavel fecorrer constantemente & diacronia, dai resultando que este capitulo aparentemente sinctonico faz a historia da expansio do portuguas ¢ ¢, assim, complementar do capitulo S, que sucintamente raga a evolusto da variedade curopeia da lingua desde 0 séeulo XVI até ao XVIII, sem fazer tentativar de chegar aos nossos dias, euja histéria linguistica esta por esbosar. Quandose tem em mente que nos.achamos muito mais informados acerca da lingua da antiguidade eda Idade Média que acetea da lingua nossa contemporinea, porque-os estudes monagrificos (sem os uais nose pode construirumasintese)aisso obrigamn, pode compreender-se por que raz8o os eapitulos 3, dedicado ao Iatim vulgar ¢ sua diferenciagdo, c 4, dedicado aos séeulos formativos do portugus, sho ‘muitissimo mais desenvotvides que os restantes, Estamos, lids, perante uma particularidade eomurn a outros trabalhos. A Histérta da Lingua Porrugucsa de Serafim da Silva Neto, monumento de erudiczoe de defintivas formulagoes dos problemas, uma obra decerto mais assimétrica que a presente. A formapio de romanista do seu autor nfo conseguiu deixar de transparecer num longo tratamento do latim. que fica mais favorecido que, por exemplo, @ portuguts classico, Muito mais equilibrada,a este respeito, ¢ a excelente Hiriéria de Paul Teyssicr; mas poderé sugerit-se que o tratamenta dado ao Portugués posterior ao século XV ni ¢ qualitativa nem quantitativamente inferior ao dos periodos Prececentes pela razio, muito simples, de o seu autor ser um dos maiores especialistas desse periodo inédio¢ cecente da histGria da nossa lingua. Foi, assim, mais uma vez aformagio pessoal do autor que eterminou o relevo dado As diversas partes da obra. Mas nile foi apenas a maior abundancia de informagdo testada ¢ consensual que nos levou a écsenvolver oscapitulos 3¢4. Enossa conviceo que o aparecimentodo portugués easua posigdo impar fhe quadro das linguas roménicas (como aquela que simultaneamente é das mais conservadoras ¢ das ‘ais revoluciondrias) j§ estayam contidos em ovo na historia do latim villgar, a que sempre nos obrigaria « tratar esta matéria com muita demota, Mas, acrescida a isso, ha a noglo de que esta € Precisamente uma das dreas que os estudantes menos oportunidades tiveram de percorrer durante os Stis

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