1) O documento discute a arte floral e como ela pode servir ao Mistério de Cristo, especialmente na ornamentação das igrejas.
2) Ele resume a tradição romana de usar a arte para glorificar Deus e a recomendação de "nobre simplicidade".
3) O documento argumenta que o estilo floral japonês ikebana pode enriquecer as igrejas ao abrir os olhos para a presença divina na natureza.
1) O documento discute a arte floral e como ela pode servir ao Mistério de Cristo, especialmente na ornamentação das igrejas.
2) Ele resume a tradição romana de usar a arte para glorificar Deus e a recomendação de "nobre simplicidade".
3) O documento argumenta que o estilo floral japonês ikebana pode enriquecer as igrejas ao abrir os olhos para a presença divina na natureza.
1) O documento discute a arte floral e como ela pode servir ao Mistério de Cristo, especialmente na ornamentação das igrejas.
2) Ele resume a tradição romana de usar a arte para glorificar Deus e a recomendação de "nobre simplicidade".
3) O documento argumenta que o estilo floral japonês ikebana pode enriquecer as igrejas ao abrir os olhos para a presença divina na natureza.
O rito romano é conhecido por sua característica de hospedar costumes e usos. É esta a perspectiva da sobriedade romana clássica, que o Concílio Vaticano II recuperou pela “Como um cacho de flores de hena nas vinhas de En-Gedi, recomendação da “nobre simplicidade” (Ritus nobili simplicitate fulgeant), se aplica de ma- é para mim o meu amado.” (Ct 1,14) neira muito especial às construções, vestes e ornamentos (SC 124). Desta maneira, compreende-se a recomendação clara da Instrução Geral do Missal Romano no que se refe- Contam os antigos... re ao decoro e ornamento das igrejas: As igrejas e os demais lugares devem prestar-se à execução das ações sagradas e à ativa parti- “Deus plantou o Jardim do Paraíso, Gan Eden. Ele era infinitamente grande, cipação dos fiéis. Além disso, os edifícios sagrados e os objetos destinados ao culto sejam com dois portais feitos de pedras preciosas de ônix e jaspe, que brilhavam intensamen- realmente digno e belos, sinais e símbolos das coisas divinas. (IGMR 288) te como o esplendor cintilante do céu do meio-dia e eram guardados por seiscentos mil Por isso, a Igreja não cessa de solicitar a nobre contribuição das artes e admite as expressões anjos. A Árvore da Vida cresceu dentro do jardim, seus galhos se estendiam de um artísticas de todos os povos e nações. (IGMR 289) extremo a outro. Ela era protegida por nuvens luminosas, que difundiam a maravilhosa fragrância da árvore. Todas as águas da criação corriam debaixo desta árvore singular, A ornamentação da igreja deve visar mais à nobre simplicidade do que a pompa. Na escolha que combinava quinhetos mil sabores e fragrâncias diferentes. dessa ornamentação, cuide-se da autenticidade dos materiais e procure-se assegurar a educa- ção os fiéis e a dignidade de todo o local sagrado. (IGMR 292) O jardim era totalmente cercado por correntes de água e por rosas e arbustos de Ao adotarmos um estilo como o ikebana para ornamentar nossos lugares de celebração, murta. Tinha em grande abundância dosséis e coroas feitos de jóias valiosas como o não estamos rompendo nem com a tradição romana e tampouco com o ethos do povo rubi, esmeralda e outro, aguardando a chegada dos justos, cada um de acordo com o brasileiro que, com certo manejo e facilidade, acolhe a riqueza que migra de outras na- seu mérito particular. Os dosséis eram separados um dos outros por divisórias feitas de ções e culturas. Na verdade, mesmo a fé cristã, na sua mais simples e crua forma, foi nuvens de glória iluminadas por relâmpagos. Quatro rios se ramificavam por toda a igualmente acolhida e assumida como nossa; pois se é verdade que “Deus é brasileiro e extensão do jardim, um fluindo com leite, outro com mel, um terceiro com vinho e um o papa argentino”, Jesus com certeza não era latino-americano, mas de origem semita. quarto com óleo perfumado. Fontes de água de rosas constantemente irradiavam seus Nestes sentido, elementos fundamentais presentes na estrutura de nosso culto são, odores agradáveis entre as árvores. todos eles, de origem estrangeira. Cabe-nos, enriquecer com nosso jeito, nossas tradi- ções, fazendo notar a dimensão crística, como diria Claude Gefré, que não pertence a Cada canto do jardim era preenchido por oitocentas mil árvores de especiarias, tradição alguma e a todas simultaneamente. enquanto seiscentos mil árvores de especiarias, enquanto seiscentos mil anjos se reuni- A tradição do ikebana tem muito a nos proporcionar, sobretudo porque nasceu para am em cada canto para entoar suas lindas melodias. Sobre este cenário brilhava o sol, abrir-nos os olhos à presença da divindade celebrada na provisoriedade do cosmos e com intensidade sete vezes maior, nunca deixando de reluzir nem por um minuto, com na fragilidade de nossa carne. Afinal, no ato de compor os ornatos de nossas igrejas, seus raios refletindo a beleza das joias cintilantes e lançando um esplendor multicolori- nas flores, folhas e galhos que selecionarmos será também um “caminho”, a “via das do sobre todo o jardim. flores”, pelas quais reconheceremos uma transformação, uma metamorfose: o desabro- char de uma nova humanidade e o frutificar de uma nova relação com o Senhor. Esta Foi neste belo jardim que Deus colocou o ser humano (Adam) (...).” relação encontra sua concreção mais apropriada ao redor do altar, onde verdeja para nós o paraíso, como oásis em meio ao ermo desértico de nossa vida. Assim, contem- Uma promessa antiga... (Is 27,2-3.6; 57,3) plando as flores, deixando-nos educar por elas, festejaremos com o Salmista: Naquele dia, haveis de cantar a vinha graciosa. “Os justos plantados na Casa do Senhor, florirão nos átrios de nosso Deus. (Sl 91,14) Eu, o Senhor, sou o seu guarda, rego-a continuamente; para que não a danifiquem, vigio-a noite e dia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Nos dias vindouros Jacó criará raízes, Israel florescerá, a terra se encherá de frutos. 101 IKEBANAS. Segredos da Arte milenar japonesa. São Paulo: Editora Europa, 2009. ABE, Kimiko. KAWAMURA, Tokuko. Ikebana. Arte e criação no estilo ikenobo. São Paulo: Aliança Cul- Porque o Senhor tem piedade de Sião, consolou todas as suas ruínas; ele transformará tural Brasil-Japão, 2002. o seu deserto num Éden e suas estepes em jardim do Senhor. Nela se encontrarão go- VALENZIANO, Crispino. Scritti di Estetica e di poietica. Su l’arte di qualità litúrgica e i beni culturali di qua- zo e alegria, cânticos e ações de graças ao som da música. lità ecclesiale. Roma: EDB, 1999. O começo do cumprimento... Quem somos nós? (Eclo 24,40-42; Ez e Lc 23,39-43) Nasceu a Flor formosa, da tribo de Jessé. - Quanto a mim, sou como canal de rio, A prole venturosa da esposa de José. como aqueduto que vai ao paraíso. Jesus é essa flor, Maria é a roseira, Eu disse: “Irrigarei o meu jardim, que trouxe o Salvador. regarei os meus canteiros.” É essa flor bendita, de luz e grato odor. - Tu eras modelo de perfeição, cheio de sabedoria, de beleza perfeita. Estavas no Há séculos predita, Nos livros do Senhor. Éden, jardim de Deus... Desde o dia de tua criação foste íntegro em todos os teus Ó Rosa Divinal! Maior que a roseira, caminhos até o dia em que se achou maldade em ti... prodígio sem igual. Eu o tinha feito com belo com ramagem abundante, de modo que todas as árvores do Ó flor que a humanidade atraís com teu vigor. Éden - as que estavam no jardim de Deus, tinha inveja dele. Não negues, por piedade, A nós o teu amor! - Um dos malfeitores, suspenso à cruz o insultava, dizendo “Não és tu o Cristo? Salva Ó rosa, ó flor, sem par! Sacia nossas almas -te a ti mesmo e anos.” Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: “Nem sequer com graça salutar. temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça; pagamos Uma nova aliança... Um encontro... (Jo 19,41) por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal.” E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres com teu Reino.” Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje Havia um jardim no lugar onde ele fora crucificado e, no jardim, um sepulcro novo, estarás comigo no Paraíso.” no qual ninguém fora ainda colocado. Ali, então, por causa da Preparação dos judeus e porque o sepulcro estava próximo, eles depuseram Jesus. Uma prece, um dom... No primeiro dia da Semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino. (bis) ainda estava escuro... Estava junto ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava, Hoje estarás, estarás no paraíso. No paraíso, entrarás!! inclinou-se para o interior do sepulcro... Voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia Pela “via das flores...” que era Jesus. Jesus lhe diz: “Mulher, porque choras? A quem procuras?” Pensando ser o jardineiro ela lhe diz: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste Crispino Valenziano, filósofo e teólogo italiano, não se acanha em afirmar que a arte que eu o irei buscar...” floral sem comparação foi desenvolvida no Oriente, no Japão, cujas origens remon- tam à pratica e sentido monásticos. Segundo Ele, o que está em jogo na arte e técnica Patrística (Irineu de Lião) do ikebana, a sua espiritualidade, radica-se na contemplação da disposição divina do Eis a regra da nossa fé. O primeiro artigo é esse: Deus, Pai, incriado... Criador do Uni- cosmos, a percepção da harmonia entre o Céu e a Terra elaborada na mediação huma- verso. O segundo artigo é esse: o Verbo de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor... O ter- na. (cf. VALENZIANO: 1999, p. 99). ceiro artigo é esse: O Espírito Santo, pelo qual os profetas profetizaram... E que no De fato, a tradição do ikebana não está vinculada à pura funcionalidade estetizante, ou fim foi mandado de maneira nova à humanidade... seja, ao uso decorativo. Este estilo de composição floral reflete remonta muito antiga É por isso que, também nós, quando somos regenerados pelo batismo que nos é dado de “colocar uma flor” determinando o lugar de encontro entre o homem e a divinda- o nome destas três Pessoas, somos enriquecidos com este segundo nascimento com de. Tratava-se, inclusive de um sinal de hospitalidade (cf. ABE. KAWAMURA: 2000, os bens que existem em Deus Pai por meio de seu Filho e com o Espírito Santo. De p.11). A palavra japonesa ikebana pode ser traduzida por “dar uma vida nova às flo- fato, os que são batizados recebem o Espírito de Deus que os entrega o Verbo, isto é res”. Também é chamado de kado, “ o caminho das flores”, pelo qual se chega à per- ao Filho. O Filho toma-os e oferece-os ao seu Pai. feição espiritual (cf. 101 IKEBANAS: 2009, p. 4). Esta perfeição dependia do encon- tro com a divindade, de modo que as flores serviam de guias para os deuses até que ali Foi da terra, enquanto ela permanecia virgem, que Deus tomou lodo e fez o homem, se instalassem (cf. ABE: 2000, p. 12). princípio da nossa humanidade. Recapitulando em Si este homem, o Senhor assumiu a mesma economia de ‘corporeidade’ do homem... a fim de mostrar a identidade da sua O estilo rikka, que deu origem a todos os outros estilos de ikebanas, tem a ver com a ‘corporeidade’ relativamente a Adão, e para Se tornar aquele que estava descrito no recriação da natureza. Sua composição objetiva revelar a perfeição e originalidade da princípio, o homem segundo a imagem e semelhança de Deus. vida, muito embora seja provisória, passageira. Os demais estilos, derivados deste, estão sempre associados à contemplação da natureza a partir da qual se percebe e tem acesso à beleza do universo.