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40 anos do golpe militar: oportunidade para uma reflexao histérica e historiogrdfica sobre a ditadura ea resisténcia no Brasil.’ ‘Mawua Pauta Nascimento Aratjo Universidade Federal do Rio de Janciro Resuao [Neste artigo, temos por objetivo refletir sobre os quarenta anos do Golpe de 1964, que implantou a Ditadura Militar no Brasil. Noseo enfogue recaird sobre 0s aspectos historiogrificos do acontecimento histico em questi, procurando assinalar as novas perspectivas acerca do assunto a parti da interdscipinaridade e da exploragdo das fontes. Palavras-chave: Brasil; Golpe Militar; Historiografia ‘AasTRAcr In this article, we intend to discuss some historic aspects of the Brazilian dictatorship, started in 1964. In order to doit, we show the new views on the theme, namely the contribution of the Human Sciences forthe debate and the analysis ofthe sources Key-words: Brazilian Republic; Dictatorships Historiography honrou, de ministrar a aula inaugural de 2004 do Programa de Pés- |Graduagio em Histéria da UFES ¢ com o qual eu estimo poder fazer rmuitas parcerias daqui para a frente. E IM PRIMEIRO LUGAR, GOSTARIA DE AGRADECER 0 CONVITE, que muito me 132 UUNIVERSIOADE FEDERAL DO ESTIRITO SANTO Depa de Hi Gostaria também de aproveitar este momento fazer uma homenagem 20 Professor René Dreifuss, pioneiro dos estudos sobre o golpe militar no Brasil Estamos prestes a completar 40 anos do golpe militar no Brasil e é importante resaltar que estamos utilizando esta data nfo para comemoracoes, ‘mas, sim, como ocasiio para uma reflexio histérica ¢ historiogrifica sobre 0 golpe, a ditadura, a resistencia, atransigao e © processo de redemocratizacio. Entender este perfodo ralver.nos ajude a entender o Brasil de hoje. Nos iiltimos anos tem havido um significative crescimento dos estudos sobre o golpe e a ditadura, Este crescimento tem a ver com 0 momento € a realidade em que vivemos, mas, também, é beneficiério de algumas das novas correntes historiogréficas contemporineas, especialmente: a “historia vista de baixo”, a Histéria do tempo Presente, 0 retorno da histéria politica e a difusio da Histéria Oral. A“ Historia vista de baixo” (“history from bellow”), tal como formulada pela Escola Marxista Inglesa, formada pelo grupo de historiadores vinculados 20 partido comunista briténico, especialmente Hobsbawm ¢ Thompson’, jé rompers, desde a década de 1960, com o preconceito em relagio a uma hist6ria politicamente posicionada, rejeitando a idia de uma imparcialidade politica absoluta no fazer do historiador. ‘Algum tempo depois, na verdade mais de uma década depois, a Histéria do’Tempo Presente consolidada no “Institut d’Etude du Temps Présent”, centro de pesquisa que se organizou em tomo do historiador Francois Bédarida, passou a valorizar a histria produaida por historiadores contemporineos dos fatos ¢ dos personagens que narravam e botou por terra o preconceito em relacio 4 proximidade temporal. O historiador podia, sim, escrever sobre algo que Ihe fosse muito préximo. Mais ou menos na mesma época o historiador francés René Rémondliderou lum movimento no campo da teoria que re-valorizou a histéria politica, superando o paradigma tradicional de uma histéria politica vinculada apenas aos grandes nomes, As guertas, aos acontecimentos. Uma outta concepgio de histéria politica, muito mais ampla, passava a ganhar corpo, recuperando € colocando em cena temas como: partidos politicos, movimentossocais, a midi, i piiblica, ete E, por fim, a Histéria Oral, valorizando os depoimentos orais, a meméria, a experiéncia pessoal, mesclada com a experiéncia coletiva, a subjetividade.* Estes novos enquadramentos, provenientes do debate historiogréfico contemporineo, no cenétio internacional, beneficiaram positivamenteo campo 0 intelectuais, a opi DIMENSOES wl. 16-2004 133, dos estudos sobre o golpe ea ditadura militar no Brasil. Incentivados por estes novos enquadramentos, nos fortalecemos na idéia e no propésito de que poderfamos, sim, fazer histéria sobre um periodo ainda tio préximo de nés (préximo nao s6 no sentido temporal mas, muitas veres, também no sentido ‘emocional). Poderiamos, sim, Fazer esta histéria sem ostentar uma neutralidade impossivel para m de nés, ¢ poderiamos, sim, recuperar episédios esquecidos e sem registros através de depoimentos orais. Estes novos enquadramentos nao fizeram mais do que estimular um desejo e um propésito que jé havia sendo, hd alguns anos, limentado muitos de nossos historiadores Eo fato € que, nos ltimos anos, este campo tem crescido e revelado excelentes trabalhos. Eu gostaria de comentar alguns aspectos deste campo de estudos. A Interdisciplinaridade (© caupo be estupos EM TORNO DO GotrE de 64 e da ditadura militar tem tum campo de estudo interdisciplinar, que tem mesclado diferentes disciplinas com distntas abordagens: no apenasa ciéncia politica, a sociologia, a antropologia, 4 economia, mas também, a literatura a histéria da arte, a psicologia Na Cigncia Politica hé que se ressaltar os estudos que tem sido feitos aprofundando e debatendo as razdes do golpe ~ se eram essencialmente raziecs ‘econdmicas ou politicas e como elas se articularam. Um bom exemplo nesta linha ¢ 0 trabalho de Argelina Figueiredo: “Democracia ou Reformas” (1993). ‘Uma anise das diferentes causas do golpe também é feita por Caio Navarro de Toledo em dois livros *Visses Criticas do Golpe” (1997) e “O Governo de Goulart e o Golpe de 64" (1993). A Economia tem nos ajudado a entender, principalmente, os mecanismos do chamado "Milagre Econémico”. Chico de Oliveira, Wilson Cano, Carlos Lessa, Paulo Nogueira Batista, Igndcio Rangel sio economistas que escreveram sobre este tema. Gostaria de destacar duas andlises produzidas na década de 1980: “A Economia da dependéncia imperfeita", de Francisco de Oliveira (1989) ¢ “Economia: milagre ¢ antimilagre”, de Ignacio Rangel (1986). A ociologia tem produzido estudos eandlisesinteressantes sobre sociedade durantea ditadura militar. Bu gostaria de salientar aqui as andlises sobre partidos politicos, no caso sobre 0 MDB, realizadas por pesquisadores do CPDOC! FGV e as anilises sobte 0 sindicalismo, chamado na época de “novo sindicalismo”, fetas por Luis Werneck Vianna, do IUPERJ*, Mais rccentemente, tuma nova leva de pesquisadores do campo da socilogia tem se dedicado a0

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