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Polêmica quanto ao fundamento e natureza dos direitos humanos: são direitos naturais
e inatos ou direitos positivos, históricos ou que derivam de determinado sistema moral?
Liga das Nações. “Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações
tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança
internacional, condenando agressões externas contra a integridade
territorial e a independência política dos seus membros. A Convenção da
Liga das Nações, de 1920, continha previsões genéricas relativas aos
direitos humanos, destacando-se as voltadas ao mandate system of the
League, ao sistema das minorias e aos parâmetros internacionais do direito
ao trabalho — pelo qual os Estados se comprometiam a assegurar
condições justas e dignas de trabalho para homens, mulheres e crianças.
Esses dispositivos representavam um limite à concepção de soberania
estatal absoluta, na medida em que a Convenção da Liga estabelecia
sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade
internacional contra os Estados que violassem suas obrigações. Redefinia-
se, desse modo, a noção de soberania absoluta do Estado, que passava a
incorporar em seu conceito compromissos e obrigações de alcance
internacional no que diz respeito aos direitos humanos.”.
Richard Pierre Claude e Burns H. Weston1: “Entretanto, foi apenas após a Segunda Guerra
Mundial — com a ascensão e a decadência do Nazismo na Alemanha — que a doutrina da
soberania estatal foi dramaticamente alterada. A doutrina em defesa de uma soberania
ilimitada passou a ser crescentemente atacada, durante o século XX, em especial em face
das consequências da revelação dos horrores e das atrocidades cometidas pelos nazistas
contra os judeus durante a Segunda Guerra, o que fez com que muitos doutrinadores
concluíssem que a soberania estatal não é um princípio absoluto, mas deve estar sujeita a
certas limitações em prol dos direitos humanos. Os direitos humanos tornam-se uma
legítima preocupação internacional com o fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação
das Nações Unidas, com a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela
Assembleia Geral da ONU, em 1948 e, como consequência, passam a ocupar um espaço
central na agenda das instituições internacionais. No período do pós-guerra, os indivíduos
tornam-se foco de atenção internacional. A estrutura do contemporâneo Direito
Internacional dos Direitos Humanos começa a se consolidar. Não mais poder-se-ia afirmar,
no fim do século XX, que o Estado pode tratar de seus cidadãos da forma que quiser, não
sofrendo qualquer responsabilização na arena internacional. Não mais poder-se-ia afirmar
no plano internacional that king can do no wrong”
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Human rights in the world community: issues and action.
pelo qual ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar os
criminosos de guerra.”
“A criação das Nações Unidas, com suas agências especializadas, demarca o surgimento
de uma nova ordem internacional, que instaura um novo modelo de conduta nas
relações internacionais, com preocupações que incluem a manutenção da paz e
segurança internacional, o desenvolvimento de relações amistosas entre os Estados, a
adoção da cooperação internacional no plano econômico, social e cultural, a adoção de
um padrão internacional de saúde, a proteção ao meio ambiente, a criação de uma nova
ordem econômica internacional e a proteção internacional dos direitos humanos.”
“Contudo, ainda que a Carta da ONU tenha adotado linguagem vaga e imprecisa no que
se refere aos “direitos humanos e liberdades fundamentais”, os dispositivos, já aludidos,
pertinentes à promoção desses direitos implicaram importantes consequências”.
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“Os oito Estados que se abstiveram foram: Bielo-rússia, Checoslováquia, Polônia, Arábia Saudita,
Ucrânia, URSS, África do Sul e Iugoslávia. Observe-se que em Helsinki, em 1975, no Ato Final da
Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, os Estados comunistas da Europa aderiram
expressamente à Declaração Universal.”
de qualquer voto contrário às suas disposições, confere à Declaração Universal o
significado de um código e plataforma comum de ação. A Declaração consolida a
afirmação de uma ética universal46 ao consagrar um consenso sobre valores de cunho
universal a serem seguidos pelos Estados.”
A Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem pública mundial fundada
no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos universais. Desde seu
preâmbulo, é afirmada a dignidade inerente a toda pessoa humana, titular de direitos
iguais e inalienáveis.
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“Vale dizer, sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos
civis e políticos se reduzem a meras categorias formais, enquanto, sem a realização dos
direitos civis e políticos, ou seja, sem a efetividade da liberdade entendida em seu mais
amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem de verdadeira
significação.”
“Não há mais como cogitar da liberdade divorciada da justiça social, como também
infrutífero pensar na justiça social divorciada da liberdade. Em suma, todos os direitos
humanos constituem um complexo integral, único e indivisível, no qual os diferentes
direitos estão necessariamente inter-relacionados e são interdependentes entre si.”
“Por isso, como já aludido, a Declaração Universal tem sido concebida como a
interpretação autorizada da expressão “direitos humanos”, constante da Carta das
Nações Unidas, apresentando, por esse motivo, força jurídica vinculante. Os Estados
membros das Nações Unidas têm, assim, a obrigação de promover o respeito e a
observância universal dos direitos proclamados pela Declaração.”
“Há, contudo, aqueles que defendem que a Declaração teria força jurídica vinculante
por integrar o direito costumeiro internacional e/ou os princípios gerais de direito,
apresentando, assim, força jurídica vinculante. Para essa corrente, três são as
argumentações centrais: a) a incorporação das previsões da Declaração atinentes aos
direitos humanos pelas Constituições nacionais; b) as frequentes referências feitas por
resoluções das Nações Unidas à obrigação legal de todos os Estados de observar a
Declaração Universal; e c) decisões proferidas pelas Cortes nacionais que se referem à
Declaração Universal como fonte de direito.”
Posição de Flávia Piovesan: “Para esse estudo, a Declaração Universal de 1948,
ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica
obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada
da expressão “direitos humanos” constante dos arts. 1º (3) e 55 da Carta das
Nações Unidas. Ressalte-se que, à luz da Carta, os Estados assumem o
compromisso de assegurar o respeito universal e efetivo aos direitos humanos.”
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