You are on page 1of 5

Volume 186

Janeiro de 2018

Editorial

O património espiritual da Europa


António Júlio Trigueiros, sj
A Comissão Europeia declarou este ano de 2018 que agora inicia como
Ano Europeu do Património Cultural. No inicio do preâmbulo do Tratado
da União Europeia assinado em Maastrich em 1992, afirma-se que o
património religioso assume este papel inspirador dos valores universais
que constituem a identidade da Europa. A tentação a que esta afirmação
pode levar é a de relegar o conceito de património religioso ao património
histórico, arquitetónico e artístico. O conceito deve ser muito mais
abrangente e há que reconhecer antes de mais o papel que o Cristianismo
e particularmente a vida monástica e conventual tiveram na preservação
e transmissão desses valores universais.

Atualidade

Património Cultural- Identidade e Diferença


Guilherme d’Oliveira Martins
O objetivo do Ano Europeu do Património Cultural (2018) é sensibilizar
para a história e os valores europeus e reforçar o sentimento da
identidade europeia. Mas, mais do que isso, é considerar esses valores e
essa identidade como realidades abertas a outras realidades – sabendo-
se os desafios que o património cultural enfrenta e que têm impacto,
desde a transição para a era digital até à pressão ambiental e física, sem
esquecer a prevenção e o combate do tráfico ilícito de bens culturais. Daí
a necessidade de promover a diversidade cultural, o diálogo entre
culturas e a coesão social, de realçar o contributo económico do
património cultural para os setores criativos e para o desenvolvimento e
de salientar o papel do património cultural nas relações internacionais,
desde a prevenção de conflitos à recuperação de património destruído.

1
Volume 186
Janeiro de 2018

Sociedade e Política

Sobre as Fronteiras Externas e Internas da União Europeia


Annette Bonghardt e Francisco Torres
A pertença à União Europeia deixa de ser um dado adquirido – a
participação de cada estado-membro obriga a uma constante atenção
com o bem comum e os estados que nisso não estejam interessados
podem (e devem) sair da União. Com efeito, é do interesse de um estado-
membro que já não está interessado em contribuir para os bens públicos
do clube optar por sair da União Europeia. No entanto, é ainda mais
importante para o resto da União que isso aconteça: ela deixa de estar
sujeita ao bloqueio dos seus esforços de integração e à violação
sistemática das regras e políticas acordadas entre todos por um
determinado estado-membro.

Desafios Éticos da Inteligência Artificial,


Bruno Nobre, sj
Um dos problemas mais óbvios, e talvez mais prementes, associados aos
desenvolvimentos tecnológicos na área da Inteligência Artificial tem que
ver com o facto de muito do trabalho até agora executado por seres
humanos poder vir a ser assegurado, num futuro próximo, por máquinas
inteligentes ou robots. À primeira vista, esta possibilidade parece ser
inteiramente positiva. Afinal, quem não desejaria que uma máquina o
substituísse na execução de tarefas monótonas, repetitivas, talvez
perigosas, e que exigem grande esforço físico ou mental? E quem não
desejaria ter mais tempo livre para poder dedicar-se ao lazer e a
atividades mais estimulantes e criativas? Na prática, contudo, a extinção
massiva de postos de trabalho poderá conduzir a elevados índices de
desemprego que poderiam precipitar uma fração significativa da
população mundial numa situação de grande precariedade.

2
Volume 186
Janeiro de 2018

Religião

Jerusalém, cidade santa-zona de guerra


David Neuhaus, sj
Todos os que viajaram até Jerusalém sabem o quanto a cidade continua a
sangrar, dilacerada e infetada pela menos santa das doenças, o fanatismo
religioso, a intolerância nacionalista, o ódio étnico. Porém, a cidade na
sua realidade concreta é confrontada pelo símbolo de Jerusalém nas
nossas tradições religiosas. Não se vive em Jerusalém, mas caminha-se
até ela. Não se a possui, é-se possuída por ela. Não se repousa tranquilo
em Jerusalém, mas é-se esticado até ao limite pelas suas contradições.
Jerusalém deve tornar-se símbolo da promessa escatológica – uma cidade
promessa de uma cura e de uma plenitude que supera todo o
quebrantamento.

Filosofia e Ética

Daniel Callahan, um filósofo moral,


Walter Osswald
Daniel Callahan, no limiar dos 90 anos, filósofo de formação, autor de
duas dezenas de livros, fundador do instituto de estudos da sociedade e
da ética das ciências da vida, hoje conhecido como Hastings Center, pode
e deve ser considerado como um dos pioneiros da Bioética. Inovador e
persistente denunciador da perturbada relação da sociedade com a
tecnomedicina e a ideologia do progresso, Callahan desempenha essa
tarefa numa campanha coerente e bem fundamentada, apoiando-se em
factos e nos aportes dos grandes filósofos que entenderam que o viver, e
o viver bem, e o esforço de dilucidar o que é morrer bem, é, na verdade o
cerne de toda a filosofia.

3
Volume 186
Janeiro de 2018

História

O Abade de Baçal e Monsenhor José de Castro


- entre ilustres nordestinos
Henrique Manuel Pereira
Os historiadores e homens de letras nordestinos, Francisco Manuel Alves,
Abade de Baçal (1865-1947), Monsenhor José António de Castro (1886-
1966), Belarmino Augusto Afonso (1931-2005), Hirondino da Paixão
Fernandes (1931-), no conjunto, e cada um a seu modo encontrou,
preservou, traçou e legou sinais que tornam o tempo mais legível. São
gigantes aos ombros dos quais muitos fazem caminho.

Artes e Letras

Aires Mateus – A Arquitetura como vocação


– A propósito do Prémio Pessoa 2017
Ana Magalhães e Pedro Belo Ravara
O Prémio Pessoa 2017, atribuído no passado mês de Dezembro distinguiu
Manuel Aires Mateus, galardoando pela terceira vez um arquiteto, e
reconhecendo o valor da arquitetura no contexto mais abrangente da
cultura portuguesa contemporânea. A obra de Manuel Mateus, para
quem esta distinção é ainda extensível ao seu irmão Francisco Aires
Mateus bem como a todos os colaboradores de atelier, é na verdade, uma
linguagem da contemporaneidade, uma arte do espaço e uma ciência da
construção.

Wim Wenders - a redenção da realidade física


Pedro Mexia
Nascido em Düsseldorf em 1945, poucos meses depois do fim da guerra
na Europa, Wim Wenders estudou cinema em Berlim e sobretudo na
Cinemateca de Paris. Fez crítica na imprensa, e numa das suas colectâneas
de textos subscreveu uma ideia forte do crítico cultural Siegfried
Kracauer: a de que o cinema é “a redenção da realidade física”. Vale a

4
Volume 186
Janeiro de 2018

pena pensar a obra cinematográfica de Wenders em termos de realidade


(realidade física, imanente) e de redenção (o que pode implicar uma
dimensão transcendente, embora não necessariamente metafísica).

Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa,


António Barreto
O lançamento da colecção em 30 volumes de “Obras Pioneiras”, pelo
Circulo de Leitores é um acontecimento cultural inesquecível. O primeiro
volume “Primeiros textos em português”: uma antologia de cantigas de
amor, de amigo e de escárnio e maldizer, bem como uma selecção de
prosa literária e os primeiros exemplos documentados do uso do
português em textos não literários. E o segundo volume, primeiro tratado
de Física, “Recreação filosófica”, de Teodoro de Almeida: em forma de
diálogo, o livro é um compêndio de física, mas também um livro de
divulgação, com apreço e circulação alargada.

CADERNO CULTURAL

NOTA BENE: Søren Kierkegaard, Ou/Ou – Um fragmento de


Património, democracia dos mortos vida (Carlos Maria Bobone)
(Carlos Maria Bobone) História:
CINEMA: Javier Cercas, O monarca das sombras (Paulo
A Roda Gigante, de Woody Allen dos Anjos Gonçalves)
(Carlos Capucho) Literatura:
ESCRITOR: Sandro William Junqueira, Quando as Girafas
Juan Manuel de Prada (Carlos Maria Bobone) baixam o pescoço (Carlos Maria Bobone)
EVOCAÇÃO: Religião:
Jean d’Ormesson (Carlos Maria Bobone) António Vítor Ribeiro, O império da vontade e a
EXPOSIÇÃO: raiz cristã da descristianização (Carlos Maria
As Ilhas do Ouro Branco (Nuno Resende) Bobone)
MÚSICA:
James MacMillan, The Sun Danced,
(Rui Miguel Fernandes, SJ)
PATRIMÓNIO:
Igreja de São Francisco, no Porto
(Joana Ferreira da Silva)
RECENSÕES:
Ensaio:
Ricardo Araújo Pereira, Reaccionário com dois
cês (Carlos Maria Bobone)
Filosofia:

You might also like