You are on page 1of 52

Todos os direitos reservados

TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM

AGRADECIMENTOS

Agradeço as porções de mim, que vêm retornando


uma a uma para o espaço amplo e gentil que tenho
me tornado, que me apoiaram e continuam a me
apoiar em minha jornada, em especial nos
momentos quando não pude ser maior que os
eventos que me sucediam.
Agradeço em especial à pequenina que mora aqui
dentro e que não me deixou esquecer meu grande
sonho...
Agradeço cada passo da jornada que me trouxe até
aqui, a cada mestre, cada aprendizado, cada
conhecimento e experiências vividas tão
intensamente ao longo da vida.
Agradeço à minha família e ao meu companheiro
de vida, Ricardo, por todo amor experimentado,
sendo o amor minha grande escola.

Muito obrigada!
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM

PREFÁCIO

O CURADOR FERIDO
Foi já em minha Pós-Graduação em Psicotraumatologia que um
mito calou mais fundo em mim... O mito do curador ferido, o
centauro Quíron...
Coincidentemente, o centauro é a imagem simbólica do meu
signo zodiacal, o símbolo metade bicho, metade homem.
Este lindo centauro, Quíron, falava mais a mim nessa
perspectiva dual de ter os pés bem fincados na terra em sua
forma animal e sua flecha sempre apontada para as estrelas, na
constante busca de compreender os mistérios dos céus...
Quíron sempre falou a mim em minha jornada. De fato, a
jornada é um ponto que sempre me chama e para o qual eu não
canso de olhar. Seja a jornada que fizemos há um certo tempo
para chegar a este mundo, atravessando o portal da vida, seja a
jornada de encontrar o próprio propósito e de se tornar FAIXA
PRETA naquilo que você ama fazer.
São muitas jornadas heroicas ao longo da vida; elas nunca
cessam. Algumas ocorrem de forma simultânea, outras duram
toda a vida. Muitas vezes somos faixa preta em uma área da
vida, faixa branca em outra e faixa azul em outra; enfim,
independentemente da faixa, o que é realmente importante é
continuar no processo de seguir para o próximo nível em você,
em sua própria jornada de si mesmo.
Nessa minha Pós-Graduação, encontrei uma professora
completamente sábia em sua visão de desenvolvimento
humano, em especial em sua fala tão eloquente sobre a
necessidade de reencontrarmos o casamento mente e corpo há
tanto tempo separado por “divórcio litigioso”... Uma terapeuta e
professora verdadeiramente faixa preta a caminho da maestria.
Sua fala que mais me chamou atenção foi:
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM

“A Psicologia ocidental historicamente se divorciou da Fisiologia;


este é um matrimônio que precisa ser reparado, para que
o fazer psicoterápico se apoie num saber integrado, que nos
permita acessar os múltiplos níveis de inteligência e mistério que
vivem dentro de nós.”
(Liana Netto)

Já fazia alguns anos que eu me dedicava às especializações que


me permitissem encontrar esses níveis de sabedoria em nós, os
quais estão além de nossa perspectiva cognitiva e que, de
alguma forma, me ajudassem a compreender nossas dores e
nossos comportamentos, emoções e sensações – que não se
explicam de maneira lógica e que não mudam apenas pela
manifestação de nossa vontade deliberada.
Corpo, coração e mente... Diversas faces de uma mesma
integridade que é ser UM SER HUMANO.
Desde o começo da vida, aprendemos pela experiência que não
é nada fácil integrar essas faces e, por isso, muitas vezes
vivenciamos verdadeiras guerras internas. Nosso “tatame mora
dentro nós mesmos”.
Quantas vezes quisemos fazer uma coisa que “SABEMOS
RACIONALMENTE” que é “certa”, seja comer mais saudável ou
abandonar um relacionamento tóxico, mas não conseguimos
FAZER, por mais que queiramos? Quantas vezes não nos
cobramos e nos “chicoteamos” por não termos a habilidade de
conseguir fazer o que é “melhor”? Quantas vezes quisemos
mudar algo em nós, fosse um comportamento ou emoção, e
simplesmente não conseguimos? E, para aumentar o desafio,
escolhemos como carreira manejar esses processos em outras
pessoas.
Nós, que somos profissionais da área do desenvolvimento
humano, talvez tenhamos perseguido soluções para estes
dilemas durante toda a vida, tanto por nossa própria história
quanto pela busca de compreender e apoiar nossos clientes.
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM

Foi por meio da jornada de encontrar o caminho para essa


conversa sobre estas instâncias em mim que encontrei o
caminho, e foi pela perspectiva do relacionamento interior e do
aprender a escutar esses lugares em mim até então ignorados
que encontrei o como aprender a escutar meu próprio corpo!
Eu dediquei alguns anos estudando as abordagens de
renegociação de trauma por meio do contato com o corpo e não
apenas na instância cognitiva. Foi assim que encontrei muito do
que vou compartilhar com você neste e-book.
Em minhas aulas com Liana Netto, a professora à que me referi
anteriormente e coordenadora da pós-graduação que realizei,
vi-me mais uma vez apaixonada pelo tema trauma de
desenvolvimento e conversa com o corpo. Tantas aulas
incríveis, tantas experiências tocantes... Pedi autorização para
gravar um bate-papo nosso, para poder trazer um pouco dessa
beleza que eu testemunhava em nossas aulas... Em um dado
momento de nossa conversa, eu perguntei:

– Como é que então você encontrou o tema trauma?


– Ou como é que o trauma me encontrou? –
provocou ela.
– Como é que o trauma te encontrou?
– Eu diria que não é a gente que escolhe ser terapeuta
de trauma... Muitos de nós só vamos saber que existe
terapia de trauma porque tivemos trauma. Então, eu
podia dizer até assim: como é que o trauma me
encontrou? Que é o que nos move com o impulso e
desejo para conhecer um pouco mais dessa
ferramenta. Eu vou contar um mito, posso?
– Claro!
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM

SUMÁRIO

O MITO DE QUÍRON ...................................................................................7


UMA FORMAÇÃO QUE COMEÇOU BEM CEDO ............................ 11
FOCALIZAÇÃO: UM NOVO RELACIONAMENTO COM O QUE
É SENTIDO .................................................................................................. 17
RELACIONAMENTO INTERIOR: A HISTÓRIA DE UMA
JORNADA .................................................................................................... 22
A CONVERSA MENTE E CORPO .......................................................... 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O SENTIDO DA FAIXA PRETA ........... 44
DEPOIMENTOS.......................................................................................... 49
O MITO DE QUÍRON

– Como é que então você encontrou o tema trauma?


– Ou como é que o trauma me encontrou? – provocou
ela.
– Como é que o trauma te encontrou?
– Eu diria que não é a gente que escolhe ser terapeuta
de trauma... Muitos de nós só vamos saber que existe
terapia de trauma porque tivemos trauma. Então, eu
podia dizer até assim: como é que o trauma me
encontrou? Que é o que nos move com o impulso e
desejo para conhecer um pouco mais dessa ferramenta.
Eu vou contar um mito, posso?
– Claro!

Nesse momento de nossa conversa, meu coração deu alguns


saltos, pois imediatamente percebi que lá estava Quíron
novamente, acessando pra mim, novamente falando comigo, e
tenho a sensação de que falará com você que lê isso agora...
***
“Quíron era um centauro: metade bicho, metade homem. Ele era
um ‘curadorzinho de beira de estrada’ e trabalhava com ervas. Não
era nenhum nome superconhecido. Enquanto centauro, ele era
imortal. Um dia, ele estava fazendo um veneno para colocar nas
flechas de Hércules e se feriu com este próprio veneno, e então ele
ficou condenado.
Um ser imortal que padeceria de uma ferida que doía imensamente,
para a qual ele não encontrava cura e que não tinha perspectiva de
finalizar, porque ele era imortal.

Todos os direitos reservados


7
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Então, ele saiu pelo mundo, desesperado, buscando recursos para


curar essa ferida. Aí, foi à procura da experiência somática, foi
procurar coaching, Psicologia Analítica, EMDR, Psicanálise, todos
os recursos que ele podia colocar na caixinha de ferramentas para
que conseguisse um alívio do sofrimento. Duas coisas foram
acontecendo ao longo dessa jornada de Quíron. Primeira, ele foi
criando uma caixa de ferramentas com um vasto repertório de
recursos; segunda, a partir da dor que ele sentia, foi tendo a
capacidade de se sintonizar mais empaticamente com a dor que os
outros sentiam. Isso fez com que ele pudesse encontrar a medicina
mais apurada que ele podia oferecer para aquele paciente.
Dessa forma, ele se transformou em um grande curador. Ele é
conhecido como “O grande curador”, “O curador ferido”.
No Pantheon grego, na mitologia grega, esse é um mito grego. Ele se
transformou em um grande curador não a despeito da ferida
traumática, mas pela ferida traumática.
Então, uma das coisas que eu digo, que é muito importante: a gente
acaba ensinando aquilo que a gente precisa aprender...”
(Trecho da entrevista com Liana Netto)

***
Os mitos, os arquétipos e os símbolos falam conosco
diretamente na instância interna, na instância onde precisamos
aprender a compreender; falam por meio dessa forma que este
lugar fala conosco, se comunica conosco, se manifesta em nós.
Mantendo essa perspectiva simbólica, o “mito” que trago nesta
escrita é a reflexão sobre tornar-se faixa preta. O faixa preta em
definição é aquele que “aprendeu a aprender”. Engana-se quem
acha que um faixa preta já um mestre; longe disso: assim como
o faixa preta é o faixa branca que fez a jornada, a maestria vem
em ser um faixa preta que continua sua jornada, assim como
Quíron.
Segundo Jonathan Maberry, um faixa preta de 1º grau é um
“iniciante avançado” ou aquele que aprendeu a aprender, como
citei, e a transição da faixa branca até a preta deve ser mais

Todos os direitos reservados


8
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

voltada à metodologia e aos procedimentos necessários para


aprender a pensar como um artista marcial.
Aqui temos mais uma metáfora que me chama a atenção: para
mim, isso que fazemos se trata de ARTE, trata-se de se tornar
uma artista daquilo que fazemos.
Hoje, minha vida é ensinar – e, se possível, com alguma arte. Foi
minha jornada como terapeuta que me tornou professora,
sendo esse meu grande sonho de menina, e foi essa pequenina
que mora em mim quem jamais me deixou esquecê-lo; você a
conhecerá também nesta nossa jornada.
Assim, na companhia de Quíron, convido
você a mergulhar comigo na jornada que este
livro propõe... Também convido a descobrir a
jornada simbólica que as artes marciais
propõem.
O convite é à descoberta do Quíron que
reside em você e o caminho para sua faixa
preta, para você mesmo, então apoiando
outras pessoas...
Você conhecerá algumas jornadas aqui.
Todas elas falarão com você. Apenas deixe
Quíron te guiar...

Todos os direitos reservados


9
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Todos os direitos reservados


10
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

UMA FORMAÇÃO QUE COMEÇOU BEM CEDO

“Toda sensação ruim é uma energia potencial no sentido de um modo mais ‘correto’
de viver se você lhe der espaço para buscar o que é ‘certo’”.
(Eugene Gendlin – criador da Focalização)

Foi com uma sensação indescritivelmente arrebatadora de ter


encontrado o tesouro que eu procurava há anos que encontrei a
Focalização do Relacionamento interior. Foi por meio da fala:

“No método da focalização, a gente não empurra nada


para fora. Teremos um relacionamento gentil com cada algo
difícil no corpo, com cada local difícil, com cada emoção, cada
sensação difícil do corpo, pois cada local do corpo que esteja
tenso, que esteja desconfortável, é parte de quem nós somos.
Tudo dentro de você é como sua família e, se a gente empurra
para fora um membro da nossa família, fica tudo triste.
Todos ficam tristes lá dentro...”

Essa foi uma das falas dentre as diversas que dali em diante me
marcariam. Ainda tenho esta anotação em meus materiais e, a
partir daquele meu primeiro curso com Ann Weiser Cornell,
Professora Internacional de Focalização (e hoje minha
professora de formação), ainda posso sentir seu impacto em
mim.
Para chegar a este ponto da história e compartilhar mais dos
tesouros que encontrei, preciso voltar um pouco no tempo...
Mais precisamente, na primavera de 1981, quando nasci e, já
muito cedo, desde muito criança, tive uma verdadeira obsessão
pelas questões humanas.
Sempre me perguntei de onde viemos, para onde vamos, qual o
propósito da vida... Aliada a estas indagações constantes, existia

Todos os direitos reservados


11
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

em mim uma sensibilidade muito grande que, por anos da


infância, promovera grande sofrimento.
Devido a essa minha grande sensibilidade e por ter sentimentos
que outras crianças não tinham, como angústia, medo, previsões
catastróficas e indagações existenciais, cresci com um
sentimento bastante ruim em relação a mim mesma, chegando a
ser classificada como depressiva. Cresci com a sensação
constante de que, com certeza, havia “algo errado” comigo e
que eu não era “normal”. Minha sensação de não ser normal me
trazia uma sensação de ser algo ruim ou defeituoso. Assim eu,
muito menina, sentia que precisava me consertar...
Houve outros desafios em minha história inicial. Houve
questões ligadas a meu desenvolvimento, que não sinto
necessidade de compartilhar neste momento e, embora tenha
sido bem difícil quando criança carregar esses sentimentos e
indagações e estes outros desafios, foram esses mesmos
sentimentos que me fizeram ir em busca de respostas e
soluções. Foi essa busca que me guiou durante a vida, pois, para
mim, se havia “algo errado” comigo, eu precisaria consertar.
Os modelos de corrigir erros que recebi não foram, digamos
assim, muito gentis. Não havia muito espaço para não agir da
maneira considerada “certa”, e assim também foi uma forma
como aprendi a lidar comigo mesma.
Deste lugar minha jornada começou – muito cedo e muito
antes de eu imaginar que estava em uma jornada. Uma
jornada em busca da cura pra minha “ferida mortal” ou, nas
possíveis palavras da época, da correção “do que havia de
errado comigo”.
Meus passos nessa busca de “me consertar” ou de “me aceitar”
passaram por vários caminhos. Os primeiros foram pelas
religiões; depois, terapias, ressignificações, reprogramações
mentais e, por fim, pelo conhecimento, por meio de formações
diversas na área de desenvolvimento humano. Mais tarde,
formações focadas do manejo terapêutico de traumas. Foi a
entrega pessoal completa em compreender as questões

Todos os direitos reservados


12
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

humanas deste âmbito que me levaria a tornar-me terapeuta e


então professora desta área. Mas antes disso muitas águas
rolaram.
Assim como Quíron, eu conheci muitas “medicinas”. Conheci e
me formei em vários métodos e abordagens; mergulhei
profundamente no aprendizado, e isso foi me tornando cada vez
mais apurada neste conhecimento. Porém, sem perceber, eu
também passei a ficar ainda mais severa comigo mesma. Mais e
mais eu olhava para mim como algo a ser consertado, devido à
minha ferida inicial, e passei a usar estes conhecimentos para
olhar para mim como alguém a ser realmente muito consertada,
cheia de traumas, com crenças limitantes, com questões
“inconscientes a ressignificar”, com mais medo de meus
“padrões inconscientes” que eu acreditava me sabotarem;
enfim, eu me tornei uma verdadeira vigia de mim mesma, tão
severa com qualquer erro ou qualquer coisa que não estivesse
funcionando ou como deveria funcionar que não percebia os
níveis de estresse e tensão em que meu corpo vivia e não
percebia o quão identificada eu estava com partes em mim que
tinham aprendido a ser assim e interpretar meus aprendizados
em leituras de mim mesma dessa forma.
E, por falar em tensões no corpo, por falar em corpo: que
corpo?
Eu não tinha qualquer relacionamento com a ideia de me
relacionar com meu corpo no sentido de prestar atenção no que
era sentido. Eu apenas buscava os porquês, eu buscava apenas
mudar minha mente, pensar e pensar em como mudar o que eu
concluíra no passado. Eu realmente estava empenhada em “me
consertar”, em me mudar, se possível me mudar de mim mesma
– e na época eu falava curar...
Por outro lado, eu sempre carreguei em meu íntimo que devia
haver alguma forma de me sentir bem comigo mesma que não
fosse por meio desse caminho que tinha ficado bem apertado.
Devia haver alguma outra forma que não fosse mudar todas
minhas “crenças limitantes”, todos meus sentimentos difíceis,

Todos os direitos reservados


13
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

todos meus traumas passados, tudo que estava me


atrapalhando viver minha “melhor versão”...
Eu comecei a ficar exausta. Eu, na verdade, havia estabelecido,
sem perceber, uma verdadeira guerra contra qualquer coisa em
mim que de alguma forma “estivesse me sabotando”...
De alguma forma, Quíron protege e guia os peregrinos, sendo
peregrino aquele que está na jornada. O coração de um
peregrino é puro de intenção e, mesmo que ele esteja se
perdendo, haverá uma forma de encontrar o caminho, porque,
na verdade, só se acha o que estava perdido, e se perder faz
parte do caminho de se achar.
Havia uma voz em mim que, em alguns momentos, sussurrava
que eu precisava voltar a sentir, que eu precisava voltar a me
sentir bem comigo mesma.
Eu, de alguma forma sentia, intuía e tinha a
necessidade de encontrar uma forma de sentir
o que era o melhor para mim, sentir e seguir
meu coração. Eu sentia saudade do meu
coração. Eu de fato queria sair da constante
sensação de não sentir de forma clara qual era
meu próximo passo.
Enfim, foram diversas escolas, diversas
formações e um desejo sincero de encontrar o
que eu estava buscando e, relembrando estes
eventos todos hoje, posso afirmar: eu não
sabia ao certo o que eu estava procurando,
porém havia uma instância em mim que sabia.
Eu fui chegando cada vez mais perto dessa
abordagem que hoje sigo, baseada em
aceitação e relacionamento interior. Eu tenho
muitos mestres e escolas a agradecer;
realmente me sinto abençoada por ter
encontrado esses diversos faixas pretas que
continuam sua jornada para a maestria, dentre
eles, Khalis Chacel e Tárika Lima, mestres de

Todos os direitos reservados


14
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

minha formação em Renascimento – um caminho de encontro


comigo por meio da respiração e da meditação que não
somente mudou minha vida mais também me acompanha até
hoje.
Eu me sinto abençoada por ter encontrado Dr. Stephen Paul
Adler e ter sido ele meu mestre não só em Hipnose
Ericksoniana, mas também ter me apresentado o tema
TRAUMA e todo seu trabalho com isso. Foi com ele e sua visão
que encontrei uma paixão por este tema, que nunca acaba.
Também foi com ele minha primeira formação neste tema
(Resolução Neurobiológica do Trauma), e foi por ele que
conheci todas as outras escolas nas quais eu viria me formar:
Somatic Experiencing (Experiência Somática, em português, é
uma abordagem terapêutica psicobiológica poderosa para
tratamento do trauma, desenvolvida pelo Neurocientista Dr.
Peter Levine); uma formação denominada Tratando Feridas de
Apego Precoce, com a especialista americana Dra. Diane Poole
Heller, quando me apaixonei pelo tema trauma de
desenvolvimento e algumas coisas começaram a ficar claras
para mim; também em Psicologia Pré e Perinatal, com Dr.
William Emerson, que me ensinou sobre minha jornada até o
nascimento; e então eu conheci a Focalização, por meio do Dr.
Stephen, quando tudo se encaixou e toda minha jornada
começava a chegar a um ponto que me dizia:

“Hora de encerrar a busca e iniciar uma nova jornada”


“Vamos mudar de faixa”

Todos os direitos reservados


15
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Todos os direitos reservados


16
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

FOCALIZAÇÃO: UM NOVO RELACIONAMENTO


COM O QUE É SENTIDO

“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?”
(Renato Russo)

Parafraseando Renato Russo começo este capítulo.


Reconhecendo e honrando essa sabedoria interna que me guiou
e me provocou a continuar minha busca, reconheço também
que foi essa mesma sabedoria que me disse em alto e bom som:
VOCÊ ENCONTROU!
No final daquele primeiro treinamento com Ann, percebi que
essa “voz” não vinha da minha cabeça: vinha de todo meu corpo
e, mais especificamente, do meu peito, do meu coração. Foi
assim que comecei minha jornada de entender a conversa
mente–corpo ou “razão e emoção...”, e hoje eu a chamo corpo,
coração e mente. Embora tudo esteja dentro de um mesmo
corpo, que é a integralidade, promover a comunicação entre as
instâncias desse todo é que nos dá a vivência de todo. Mas
vamos compreender isso melhor durante a jornada; no
momento, estamos vendo a fase da vivência de viver
fragmentado.
Você já teve a sensação de viver guerras internas? De sentir que
dentro de você tem sempre algo te cobrando ou te criticando?
Já sentiu que, por mais que faça, há sempre uma sensação de
que há algo faltando? Eu não sei você, mas eu vivi isso por anos
e inúmeras vezes, e também testemunhei meus clientes fazendo
o mesmo.
Ter que escolher um lado ou ter que reprimir, rejeitar e eliminar
um dos lados do que está sendo sentido é realmente difícil e
muitas vezes doloroso, porém, quando não temos outra forma
de lidar com nossas experiências internas, é o caminho possível.
Então, eu também sei e realmente acredito que fazemos o
melhor que podemos diante do que sabemos e sei que há mais

Todos os direitos reservados


17
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

para aprender. Ainda bem que não fiquei apenas com o que eu
sabia... Ufa!
Por meio da Focalização, eu aprendi outra forma de me
relacionar com o que sinto e assim pude apoiar meus clientes a
encontrarem esta outra forma. Hoje meu trabalho é ensinar isso,
e chegarei a isso também daqui a pouco, porque quero
compartilhar antes outra jornada, de um faixa preta que virou
mestre. Quero contar um pouco da história da Focalização e de
onde ela vem.
Eugene Gendlin, o homem que desenvolveu a Focalização,
nasceu em 1926 e era um estudante de Filosofia na
Universidade de Chicago na década de 1950. Ele estava se
debatendo com um problema de Filosofia, e ninguém do
departamento conseguia ajudá-lo.
A questão que ele refletia era: como pode ser que tenhamos
uma vivência, uma experiência, antes de termos palavras para
essa vivência, essa experiência? Todo mundo conhece isso, de
ter uma vivência e não ter as palavras para expressar
completamente essa vivência ou não ter as palavras apropriadas
para expressar essa experiência. Se a gente pensa e acredita que
nossos pensamentos causam nossa experiência – que primeiro
vêm os pensamentos e, depois, vem a experiência –, nós
podemos dar uma segunda olhada nisso e perceber que há
experiências para as quais não há palavras, não há pensamentos
que vieram antes. Uma experiência conhecida é quando você
está ali tentando expressar uma vivência importante que você
teve para outra pessoa e a pessoa diz que não entendeu, e
então você tenta de novo, de outra forma, e volta para o
significado daquilo que você estava tentando explicar, até que
você encontra outra maneira de dizer isso.
Não importa o que sentimos ou pensamos; nós conseguimos
encontrar outra maneira de dizer isso. Isso é um exemplo da
Filosofia a partir do qual a Focalização se desenvolveu: há uma
dimensão da experiência, da vivência que é real, que tem seu
sentido, e há também a dimensão que é mais que as palavras,
que está além, que está implícita.

Todos os direitos reservados


18
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Então, o jovem Eugene estava se debatendo com essa questão


filosófica, de como é que podemos ter uma experiência, uma
vivência que não vem das palavras, que podemos não ter
palavras para expressá-la. Ele não estava encontrando ajuda,
respostas no Departamento de Filosofia, e então ouviu que
alguém da área de Psicologia poderia ajudá-lo. Naquela época,
na Universidade de Chicago, havia nada mais, nada menos, que
Carl Rogers (preciso citar que Rogers foi outro faixa preta que
continuou a jornada até a maestria?!).
No Departamento de Psicologia, sob a orientação de Carl
Rogers, havia grupos onde as pessoas estavam tendo vivências
e encontrando formas de colocá-las em palavras. Que
sincronicidade perfeita, não acha? Penso que os mestres ou
aqueles que buscam a maestria se atraem.
Eugene Gendlin entrou para o programa do Departamento de
Psicologia, embora ele tenha permanecido sempre como aluno
de Filosofia. Formou uma parceria com Carl Rogers, e desta
parceria surgiu a pesquisa que o levou à Focalização.
Essa pesquisa visava ao estudo da Psicoterapia bem-sucedida
versus Psicoterapia malsucedida e a compreender o que tornava
o processo psicoterapêutico bem-sucedido. O julgamento em
relação a se aquela Psicoterapia havia sido bem-sucedida ou não
era determinado por três fatores: (1) identificar se o terapeuta
pensava que a terapia fora bem-sucedida, (2) observar se o
cliente pensava que a terapia havia sido bem-sucedida e (3)
mensurar, por meio de testes aplicados no início da terapia e ao
final, se houve mudanças.
Imagine este cenário: digamos que tenhamos as sessões de
terapia bem-sucedidas de um lado e, do outro, as malsucedidas,
e nós estejamos tentando encontrar o fator determinado. Na
época, essas sessões foram gravadas em áudios e não, em
vídeo; então, os pesquisadores buscavam escutar indícios de
quais seriam os diferenciais entres esses dois grupos de terapia.
Primeiramente, escutaram o que o terapeuta vinha fazendo:
será que a gente consegue ouvir uma diferença entre o que os

Todos os direitos reservados


19
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

terapeutas fazem em uma sessão que é bem-sucedida versus o


que o terapeuta faz em uma sessão malsucedida?
Foi uma completa surpresa quando os pesquisadores
descobriram que não estava ali a diferença. De acordo com
todas as medidas que eles estavam usando para mensurar, os
terapeutas estavam sendo igualmente empáticos e sábios,
dando suporte tanto quanto eles conseguiam perceber; então,
os pesquisadores voltaram sua atenção para os clientes.
Como era esperado que ao final do processo terapêutico os
clientes da terapia bem-sucedida fossem diferentes dos clientes
da terapia malsucedida, os pesquisadores não foram ouvir as
sessões ou o final da terapia: eles decidiram escutar a primeira
ou segunda sessão apenas. Era a primeira ou segunda sessão de
alguém cujas sessões mais tarde seriam bem-sucedidas
comparadas à primeira ou segunda sessão de alguém cuja
terapia ao final se mostraria malsucedida.
Foram milhares de sessões ouvidas, foram anos de pesquisa.
O que foi descoberto é que havia uma diferença, uma diferença
da qual os próprios clientes não tinham consciência, mas os
pesquisadores conseguiram ouvir, e de fato era uma diferença
muito peculiar.
Foi identificado, na primeira e segunda sessões, com aqueles
clientes que mais tarde seriam bem-sucedidos, que havia alguns
momentos quando eles ficavam desarticulados. A pessoa parava
de falar tão rapidamente e começava a ficar “caçando” palavras,
buscando palavras que descreveriam sua vivência naquele exato
momento. Na gravação, você ouviria algo como “Eu não sei como
dizer isso” ou “Está bem aqui”, e dá para identificar, mesmo que
haja apenas o áudio de quando a pessoa fala "Está bem aqui”,
um tipo de gesto apontando para o corpo ou mesmo dizendo
“Em minha garganta, em meu estômago, em meu peito”.
Essas características da vivência no exato momento, a
dificuldade de colocar as palavras, um tipo de procura (“Eu não
sei como dizer isso”), um tipo de interrupção no fluxo de histórias
e pensamentos e essa referência ao corpo foram identificados

Todos os direitos reservados


20
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

na primeira ou segunda sessão dos clientes que estavam no


grupo das pessoas com terapia bem-sucedida.
Os clientes que faziam isso espontaneamente, sem que fossem
convidados pelo terapeuta, seriam aqueles bem-sucedidos na
terapia, em contraste àqueles que terminaram não tendo uma
terapia bem-sucedida.
Quando as pesquisas mostraram que os clientes de terapia bem-
sucedida tinham essa forma de se relacionar com a questão que
trouxeram para seu processo terapêutico, que a diferença era a
presença desta habilidade, Eugene Gendlin decidiu que ele
deveria ser capaz de ensinar a aprender essa habilidade de
forma que todos os clientes pudessem ter uma psicoterapia
bem-sucedida.
Se concordarmos com a definição que o faixa preta é aquele
que aprendeu a aprender, temos algumas pistas aqui nesta
jornada. Assim nasceu a Focalização. Eugene chamou essa
habilidade de entrar em contato com a vivência da qual ainda
não se tem muita clareza de Focalização. Embora a pesquisa
esteja na área de Psicoterapia, esse processo de Focalização
tem sido aplicado em diversas áreas, como criatividade,
educação, negócios... Minha paixão é a aplicação para
crescimento pessoal, desenvolvimento de um novo
relacionamento consigo mesmo baseado em compaixão e
gentileza, autoconhecimento sem precedentes e para uma nova
forma de atuar como terapeuta e professora.
A maneira como conto essa história é retirada de uma das aulas
com Ann em meus cursos iniciais de Focalização. Foi a forma
mais pura e mais tocante como conheci esta jornada e esta
história. Ela é contada com mais ou menos riquezas de detalhes
devido ao tamanho impacto que as pesquisas de Eugene
tiveram. Ele foi premiado 5 vezes pela Associação Americana de
Psicologia (APA) por seu método de desenvolvimento da
Psicoterapia Experimental. Eugene realmente permaneceu e
permanece na jornada e, mesmo tendo falecido em 2017, aos
91 anos, sua jornada continua viva a cada novo focalizador.

Todos os direitos reservados


21
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

RELACIONAMENTO INTERIOR: A HISTÓRIA DE


UMA JORNADA

“Gosto de pessoas ‘sentipensantes’, que não separam a razão do coração.


Que sentem e pensam ao mesmo tempo.
Sem divorciar a cabeça do corpo, nem a emoção da razão”
(Eduardo Galeano)

Ann Weiser Cornell estava recebendo seu doutorado em


Linguística pela Universidade de Chicago quando conheceu e
estudou com Eugene Gendlin, em 1972. Aprender Focalização
com ele a levou para um processo longo, uma vida de
descobertas e desenvolvimento pessoal.
Em 1980, Eugene Gendlin
convidou Ann para ajudar nas
oficinas de Focalização. Isso a
iniciou em um caminho para
se tornar uma professora de
Focalização e, em 1990, Ann
tornou-se a primeira pessoa a
viver em tempo integral como
professora de Focalização.
Esses dois parágrafos são a apresentação que Ann faz em seus
materiais, e eu posso garantir a você que estas linhas refletem
apenas um pouco do muito que você conhecerá dessa faixa
preta que está na jornada da maestria, embora apenas ela possa
saber onde é sua maestria. Para mim, Ann é uma grande mestra
e é uma honra ser sua aluna.
Hoje, Ann é reconhecida internacionalmente como uma das
principais inovadoras e teóricas da Focalização. Ela já ensinou a
Focalização em mais de 20 países. Eu a conheci quando veio ao
Brasil, em 2014. Seus livros e manuais de Focalização foram
traduzidos para outras 11 línguas; dentre eles, um best-seller,
mas infelizmente não há tradução para o português.

Todos os direitos reservados


22
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Estima-se hoje que haja mais de 1 milhão de praticantes da


Focalização no mundo, sendo uma comunidade crescente e
atuante, porém ainda pouco conhecida aqui.
Eu amo contar a história de Ann. Ela, para mim, conforme citei
há pouco, tem sido uma mestra e também uma amiga e uma
inspiração. Me identifico com diversos pontos de sua jornada,
em especial com a dificuldade de sintonizar e perceber no corpo
e por termos ambas tido e crescido com pais alcoólatras.
Obviamente que para cada uma de nós isso teve impactos
singulares e representa um ponto relevante de nossas feridas
“quirônicas”, mas deixo destacado que tanto eu quanto ela
falamos disso publicamente, não sendo uma exposição de
conteúdos privados.
Por meio da dificuldade de sentir o corpo, Ann desenvolveu um
desdobramento da Focalização que recebeu o nome de
Focalização do Relacionamento Interior. Sua premissa
fundamental é a aceitação radical de tudo, uma atitude que
propicia o que eu chamo de Alquimia da Mudança: a integração
corpo, coração e mente.
Aprender a Focalização do Relacionamento Interior é
aprender o idioma do mundo interno ou aprender o idioma
que o corpo fala: é aprender a aprender! E lembrando que
aquele que aprende a aprender se torna um _____________?
Eu quero contar isso em detalhes agora. Quero compartilhar os
eventos que levaram à criação deste método tão poderoso e ao
mesmo tempo tão tocante.
Reforço novamente que o que vou compartilhar é público, é
compartilhado pela própria Ann em seus materiais, aulas e site.
Muito do que está aqui é uma tradução livre de suas falas, com
o objetivo de transmitir a essência de sua comunicação, de sua
jornada e de sua peregrinação. Então, vamos à história...
Ann havia vivido um rompimento de relacionamento. Nesta
época, tinha por volta de 22 anos. Ela sentiu “não ter
participado da decisão” mediante a perceber atos e situações,
que vivenciara em decorrência deste rompimento, em seu

Todos os direitos reservados


23
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

comportamento. Nesta experiência, ela fez uma resolução para


si, uma resolução que seria capaz de ter mais consciência do que
atuava nela e seus comportamentos: queria conhecer com mais
clareza SEU QUERER, queria saber o que decidia dentro dela.
Poucos meses depois de fazer essa resolução, ela ouviu falar
sobre uma pessoa que ensinava algo chamado Focalização em
seu bairro universitário. Seus amigos lhe disseram que a
Focalização era uma maneira de ouvir a si mesmo e descobrir o
que você realmente quer, por estar mais consciente de algo que
seu corpo sente. Para mim, Cecília, um evento típico de
sincronicidade perfeita.
É interessante observar que Ann compartilha não saber o
porquê de isso ter lhe chamado atenção. Talvez ela tivesse um
pressentimento ou aquela voz interior talvez soubesse, e este
saber de certa forma a tenha guiado. Ela, de alguma forma,
sentiu que seu saber, o saber o que quer que seja, seria
encontrado em algum lugar ao sul de seu pescoço e, mesmo que
normalmente, como estudante de doutorado, sua tendência
fosse a ser orientada para a cabeça, seu corpo seria o último
lugar onde ela teria pensado em procurar informações.
Aprender Focalização não foi fácil para ela. Ann diz que
estava tão longe da consciência de seu próprio corpo que mal
sabia que tinha um corpo, quiçá seus próprios sentimentos e
necessidades. Ann diz: “Eu poderia simplesmente pegar
emprestado os sentimentos e necessidades da pessoa sentada ao
meu lado, porque não tinha ideia dos que eram meus.”
A triste verdade é que Ann diz ter crescido muito melhor para
sintonizar os sentimentos, necessidades e emoções de outras
pessoas do que as próprias... Esse é outro dos pontos com o
qual me identifico em sua história e que vejo frequentemente
nos terapeutas que atendo ou que são meus alunos.
Quíron andou por aqui também ;)
O que ajudou Ann a compreender e vivenciar a Focalização foi
estar em Parcerias de Focalização, uma prática desta
comunidade.

Todos os direitos reservados


24
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Eu quero fazer uma pausa aqui para destacar este diferencial da


Focalização em relação a qualquer outra técnica que eu
conheça. Eugene Gendlin criou a comunidade de Focalização,
onde você, ao aprender a técnica por meio de um curso com um
professor certificado, pode fazer parte de um grupo para
encontrar parceiros de trocas, de parceria, ou seja, você
encontra pessoas, marca com a pessoa e acompanha a pessoa
Focalizando; depois, você é acompanhado, SEM CUSTO!
A parceria de Focalização, esta comunidade, é um dos maiores
presentes que encontrei. É um dos tesouros que citei: ter
alguém com quem contar e compartilhar, uma parceria para
olhar para seu mundo interno, uma comunidade a pertencer.
Não tem preço e é um de meus recursos essenciais para ser
terapeuta e professora, afinal, como profissional desta área, os
cuidados consigo mesmo são premissas fundamentais, e vamos
aprofundar este item mais à frente.
Voltando à história, Ann se encontrava toda semana com outra
pessoa do grupo para fazer as trocas na parceria: durante meia
hora, era sua vez de fazer a Focalização e, por meia hora, era a
vez da outra pessoa. Quando ela finalmente conseguiu aprender
a Focalizar, foi uma mudança de vida, um salva-vidas, “como um
milagre”, nas palavras de Ann. Ela diz ter se recuperado
novamente – foi exatamente assim que se sentiu – e então Ann
se perguntou se havia uma maneira para que outras pessoas não
tivessem dificuldade de aprender Focalizar como foi para ela.
Mal sabia ela na época que isso se tornaria o trabalho de sua
vida e o que criaria a partir daí!
O grande sonho de Ann era escrever um livro, um livro que
realmente ajudasse as pessoas, e o problema é que Ann tinha
bloqueio de escritor. Ela simplesmente não conseguia escrever.
Por esta altura (início dos anos 1990), ela esteve focalizando por
mais de 20 anos. A focalização lhe guiara por inúmeras decisões
importantes e também a ajudara a sentir um senso mais forte de
si mesma. Ela teve parceiros da Focalização e trocava sessões
de Focalização com eles toda semana. Porém, a Focalização
parecia não estar ajudando com o bloqueio de escritor.

Todos os direitos reservados


25
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Ela também tentou outras coisas: quase todo livro de autoajuda


ou técnica da nova era de que tivesse ouvido falar, fosse por um
amigo ou na TV. Nada ajudou.
Ann sentia-se desencorajada, autocrítica e atormentada por um
desejo não realizado de dar ao mundo o livro que ela sabia que
estava dentro dela.

“Toda sensação ruim é uma energia potencial no sentido (direção) de um modo mais ‘correto’ de viver, se
você lhe der espaço para buscar o que é ‘certo’.”
(Eugene Gendlin – criador da Focalização)

Com um desejo como esse, Ann simplesmente não conseguia


desistir. Então, decidiu dar mais uma chance para Focalizar com
o bloqueio do escritor. Só que, desta vez – quem sabe por que –
ela tomou uma abordagem diferente. Em vez de apenas
convidar a sensação corporal do problema (a técnica da
Focalização consiste em entrar em contato com a percepção
sentida da questão e convidar a sensação corporal; é uma
técnica de muita precisão e não irei entrar em detalhes dela
neste momento), Ann decidiu convidar a parte dela que não
queria escrever. Ela se deu conta de que provavelmente havia
algo nela que não queria escrever. Ela teve esse “palpite”.
Essa sessão de Focalização foi diferente da habitual. A parte
dela que não queria escrever realmente apareceu, em um
primeiro momento, como uma sensação tensa no peito, que se
transformou em uma sensação de se abaixar, que por sua vez se
metamorfoseou em uma sensação de estar em um campo de
tiro desviando das balas. Essa parte de Ann sentia claramente
que escrever era um convite para ser alvejada, baleada,
atingida! Ao perceber isso em sua sessão, Ann ficou curiosa em
relação a quem ou pelo que essa parte sentia que poderia ser
alvejada, atingida, e então percebeu a imagem de seu pai
surgindo; seu pai sarcástico veio à sua mente. Ann se deu conta
de que essa parte que não queria escrever realmente não queria
que ela fosse baleada, atingida pelo sarcasmo do pai (não
importava que por esta altura seu pai estivesse morto há cerca

Todos os direitos reservados


26
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

de cinco anos; este era o pai de sua infância, ainda vivo e


atacando dentro dela mesma). Ann esperou, permanecendo em
contato com o sentimento e a imagem, esperando uma noção
do que seria certo fazer a seguir.
Esse certo a que me refiro aqui – e que Eugene traz em sua
frase: “Toda sensação ruim é uma energia potencial no sentido
(direção) de um modo mais ‘correto’ de viver, se você lhe der
espaço para buscar o que é ‘certo’ – se refere ao próximo passo
de nosso organismo, próximo passo da vida”. Eugene dizia:
“Tudo que está vivo implica, pressupõe um próximo passo”.
Quando inspiramos, o “CERTO” é expirar, ou seja, o próximo
passo é expirar; quando comemos, o próximo passo é a digestão
– ou o “CERTO”. Nosso corpo sabe o próximo passo certo, e é
neste sentido que usamos a palavra “certo”, e não no sentido
moral de certo ou errado.
Retomando a história novamente, quando Ann então se deu
conta de que havia algo nela que sentia que escrever seria ser
baleada pelo sarcasmo e isso se relacionava com seu pai, ela
manteve sua atenção no que viria a seguir, no próximo passo a
seguir. E o que veio foi: Deixe saber que você a ouve. Deixe
essa parte de você saber que você realmente ouve. Ann deixou
essa sua parte saber que ela (Ann) estava ouvindo; deixou
aquela parte dela saber que não era de se espantar que ela (a
parte) se sentisse assim; se era isso que ela sentia que
aconteceria, caso Ann escrevesse, não era de se espantar que
ela não a permitisse escrever.
Ao fazer isso, ao ouvir essa parte dela com empatia profunda, a
resposta dentro dela foi imediata. A tensão no peito foi
liberada e ela respirou aliviada. É como se essa parte dela
estivesse dizendo: "Você me ouviu!". E porque Ann ouviu, essa
parte não precisava mais segurar.
No dia seguinte, escrever foi mais fácil. Em 1996, seu primeiro
livro, The Power of Focusing (O poder da Focalização), foi
publicado. Tornou-se um best-seller, foi traduzido para seis
idiomas, e Ann adora ouvir as pessoas dizerem que o livro
mudou suas vidas.

Todos os direitos reservados


27
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

O que Ann aprendeu naquele dia foi o começo de uma nova


fase de sua jornada com a Focalização. Juntamente com sua
amiga, Barbara McGavin, criou esse desdobramento, que
combina o processo de Focalização com uma consciência de
“partes” e como trabalhar com elas a partir de um lugar de
compaixão, que recebeu o nome de Self In Presence. Assim,
nasceu a Focalização do Relacionamento Interior, que é
tão eficaz e transformadora para todos os tipos de problemas
que Ann se sente profundamente feliz e realizada, sendo capaz
de realmente ajudar as pessoas a realizarem suas próprias vidas!
E pensar que tudo começou com o término de um
relacionamento, quando ela percebeu que havia uma instância
nela que sabia qual era seu próximo passo, mesmo que ela, de
alguma forma, ainda não soubesse.
Em outras palavras, tudo começou com uma jornada em direção
ao próximo passo, ao próximo nível, à próxima faixa, que
simboliza o próximo nível.
Ann aprendeu a ouvir e a conversar com essa instância. Ann me
ensinou e continua a me ensinar. Eu hoje ensino e continuo a
aprender. Estou aprendendo a aprender, e tudo começou em
uma jornada e continua sendo uma jornada, uma jornada de
aprender em si mesmo.

Continuando nossa jornada...

Todos os direitos reservados


28
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

A CONVERSA MENTE E CORPO

Todos os direitos reservados


29
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

É impressionante o quanto podemos aprender por meio das


histórias, das jornadas, das vivências... Nestas histórias que
estou compartilhando com você, há alguns pontos que gostaria
de destacar para levar sua atenção para o saber que existe em
nós, que sabe mais que nós.
Talvez esta frase pareça estranha, soe sem sentido, porque ela
nos desafia a reconhecer que, sim: há diversas instâncias em nós
que não sabemos e que estas instâncias são muito maiores do
que a instância sabida, e eu não estou me referindo apenas aos
aspectos inconscientes e até mesmo a traumas passados: estou
me referindo a um saber em nós que nos impulsiona para uma
direção de que muitas vezes só vamos nos dar conta depois, ou
seja, depois de sabermos.
Tanto eu como Ann, Eugene e tantos outros perseguimos
determinadas perguntas, determinados desejos, sonhos, buscas
e jornadas que acabaram por resultar em encontrar aquilo que
procurávamos sem saber o que
especificamente estávamos procurando,
mas reconhecemos assim que
encontramos.
Eugene queria encontrar essa instância
onde ainda não há palavras, mas uma
vivência. Encontrou a Focalização e
mudou a vida de milhões de pessoas.
Ann queria encontrar primeiramente seu
querer e assim ter melhores
relacionamentos. Encontrou a
Focalização, depois queria ser escritora
e, por meio de seu bloqueio, encontrou a
Focalização do Relacionamento Interior,
realizou seu sonho e vem transformando
sua vida e a de milhões de pessoas com
seus livros, cursos e sabedoria adquirida
em sua jornada. Ela aprende a aprender.
Quando eu era menina, desde novinha falava incessantemente
que queria ser professora. Sonhava com isso, me sentia ansiosa

Todos os direitos reservados


30
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

pelo dia quando seria eu quem estaria à frente daquele quadro


negro que eu tanto amava. Quando cresci, me distanciei disso.
Muitos desafios e dificuldades financeiras me colocaram no
mercado de trabalho já aos 14 anos. Nesta jornada pessoal e de
trabalho, acabei trabalhando em banco e me distanciando desse
sonho, praticamente o sepultando sem saber.
Os meus desconfortos aumentaram; minha inabilidade de lidar
com o que eu sentia também, e assim mergulhei na jornada de
desenvolvimento pessoal. Nela, encontrei a Terapeuta que sou
hoje, encontrei a terapeuta que vem cuidando de si mesma e
que vem apoiando o processo de muitas pessoas, e foi neste
processo que eu reencontrei meu sonho de menina. Foi assim
que eu me reencontrei com o ser professora, o ensinar, a
pedagogia que sempre existiu em mim e que eu já não ouvia
mais, já não sentia mais, não trazia para o mundo mais.
A Focalização vem me ensinando a ouvir o próximo; o próximo
passo me leva pra o próximo nível, e este passo reside em mim,
nesta instância implícita do meu corpo. É um caminho de
desenvolvimento destas habilidades que continua e continua.
Sabe? Como terapeutas, estamos acostumados a ouvir as dores,
as perdas, as feridas e os traumas e queremos ser capazes de
lidar com tudo isso para que a pessoa possa realizar seu
potencial inerente, para que se cure, para que se transforme;
porém, além de tudo isso, nós também podemos aprender a
ouvir essa instância de saber em nós, a qual pode nos guiar com
muito mais assertividade e realização na vida, e isso é na minha
visão o Graal da Alquimia da transformação pessoal.
A diferença que encontrei entre a Focalização do
Relacionamento Interior e meu trabalho e estudos em relação a
trauma é que nós não temos a intenção nem a ação de lutar,
eliminar, expulsar, empurrar, ressignificar e mudar nenhuma
dessas coisas que citei no parágrafo anterior; ao contrário: nós
temos a intenção de conhecer e de desenvolver um
relacionamento gentil, uma amizade com cada uma dessas
coisas e, ao fazermos isso, sem brigas, sem lutas, SEM
CONSERTOS, apenas com empatia profunda e aceitação

Todos os direitos reservados


31
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

amorosa de cada uma dessas coisas. Estas mesmas questões,


dores, emoções difíceis e traumas e tudo mais que não
aceitamos em nós é o que nos conduzirá em direção aos locais
onde porções preciosas de nós ficaram esquecidas, no caminho,
pontos de paradas onde o fluxo da vida foi interrompido.
É no relacionamento por meio da conversa com nosso mundo
interno, aprendendo a falar esse idioma que você não aprende
nas escolas de idiomas, que você encontra a voz que te conduz
e te leva a encontrar os tesouros que residem em você.
Não se trata de consertar a si mesmo: trata-se de conhecer a si
mesmo nas instâncias que não puderam ser conhecidas por falta
de espaço, de compaixão e de habilidade para fazer isso.
Não adianta apenas saber o que nos aconteceu e provocou
determinadas crenças ou comportamentos em nós, mas, sim,
aprender a se aliar com tudo que mora em você e, no retorno à
integridade, seguir o próximo passo de vida que já reside aí em
seu próprio corpo.
É muito mais simples aprender a ouvir e amar do que
procurar e consertar, e isso é um aprendizado que propõe
novos paradigmas.
Quando Eugene descobriu em sua pesquisa essa instância de
percepção corporal a que ele deu o nome de Felt Sente
(percepção sentida, em uma tradução livre), ele descobriu o
portal de sabedoria residente em cada ser humano, e atravessar
o portal é jornada pessoal.
Como terapeutas, aprendemos inúmeras coisas para poder
cuidar das outras pessoas e talvez tenhamos esquecido que a
pessoa que somos é o instrumento que cuidará do outro; sem os
cuidados necessários, esta construção desafinará, e com o
tempo não mais emitirá suas lindas notas.
Aprender este relacionamento comigo mesma me tornou
terapeuta, e me tornar terapeuta me levou à direção para a qual
a flecha de Quíron já apontava; nesta jornada, tornei-me
professora, professora da “medicina” que me curou e ainda me

Todos os direitos reservados


32
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

cura. Afinal, aquilo que ensinamos é o que precisamos aprender


e aprendemos mais do que ensinamos.
Quando aprendemos a fazer isso em nós com facilidade,
levamos o ensinamento para nossas práticas terapêuticas; na
minha visão, avançamos de nível, mudamos de faixa e nossos
clientes recebem a oportunidade de aprender a aprender com
eles mesmos também.
O significado psíquico do mito de Quíron continua a evoluir, já
se escreveu bastante a respeito dele. Geralmente é descrito
como “O Curador Ferido”, como vimos. Quíron é o princípio
arquetípico com o qual nós, terapeutas, temos nos identificado.
Ele pode ser encarado como um indicador da “ferida quirônica”,
a “ferida psíquica” que representa os problemas ou danos
psicoemocionais não resolvidos, provenientes de traumas na
infância ou experiências posteriores, questões que muitas vezes
são acessíveis, mas frequentemente reprimidas ou até
dissociadas, mas que ainda vivem em nós. Porém, muitas vezes
a ferida psíquica é exatamente este dom oculto que age como
estímulo para a descoberta do si mesmo.

Carl Jung disse: “Seu sintoma não está aí para ser curado,
ele está aí para curar você”... Eugene disse que toda
sensação ruim é um indicativo da distância entre você e seu
próximo passo certo em direção à vida, e eu gostaria de
dizer pra você, agora:
VÁ EM DIREÇÃO A QUALQUER COISA QUE DOA EM
VOCÊ, NÃO PARA CURÁ-LA OU MUDÁ-LA, MAS PARA
DESCOBRIR O TESOURO A VOCÊ RESERVADO.

Aprender a aprender sobre a conversa mente e corpo é uma


linda arte, que pode ser como a arte marcial, e tenho certeza de
que você amará as histórias que seu corpo tem para lhe contar.
Como qualquer bom papo que você tenha com alguém,

Todos os direitos reservados


33
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

depende de ter um relacionamento bacana, e assim é também


com o que mora em seu corpo; é por meio de suas sensações e
emoções que você desenvolverá este relacionamento e
aprenderá esta conversa.
Ninguém poderá te transformar em faixa preta. Apenas você
poderá ir até lá, e para isso você precisará encontrar um mestre.
A boa notícia é que ele mora em seu interior.

A Focalização pode te levar até lá.

Todos os direitos reservados


34
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

“Não basta escutar o corpo: é preciso aprender como escutar o corpo para
que o corpo possa trazer esse governo de autorregulação, de
transformação. E eu digo que a atenção se torna o forno da nossa
alquimia. Se você colocar leite, manteiga, fermento e ovos, mexer e colocar
no forno por cinco minutos, o que vai acontecer? Vira uma pasta que é
nada, certo? Mas, se você colocar por 40 minutos, a alquimia se torna um
bolo. Então, quando eu presto atenção em alguma coisa, eu preciso dar
tempo para que o corpo, de alguma maneira, me revele com suas palavras,
que não são palavras linguísticas – são palavras procedurais, são
sensações, são dores, aperto, constrição, fluxo, rigidez. Então, ele nos conta
o registro de nossas experiências e, através disso, a atenção posta por
tempo suficiente cria uma alquimia – e é extraordinário. Não significa abrir
mão da cognição: significa usar a cognição em uma perspectiva diferente, e
a cognição não é uma força-diretriz. Ela é o vaso que ampara o fluxo da
experiência, recepciona matéria-prima da experiência. Depois da matéria-
prima ter sido sentida, elabora-se e burila a experiência para dar sentido,
significado e interpretações. Então, existe uma questão importante: qual a
ordem das coisas? Se, antes de eu sentir, eu me orientar para o que está
acontecendo no corpo, eu começo a burilar; eu estou fazendo uma
elaboração sem ter matéria-prima para isso. Primeiro eu sinto. Sentir me
permite integrar e receber de volta porções de mim. Aquilo que eu sinto me
permite elaborar. O que eu posso elaborar, eu também posso liberar. O
que eu não posso sentir, paradoxalmente, é o que mais vai se perpetuar,
porque eu não consigo integrar, e aquilo acaba criando formas de
possessão.”

(Palavras de Liana Netto, expressadas por meio da entrevista)

Todos os direitos reservados


35
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

TERAPEUTA DE MIM E DE OUTRAS PESSOAS

Nossa tarefa de ser terapeuta, psicólogo, coach, assistente


social, profissional da área saúde ou de desenvolvimento
humano é um desafio grande, muito grande. É um desafio como
dos guerreiros das artes marciais. Em muitos momentos eu
percebo que nem todos os profissionais têm a dimensão do
tamanho que é.
Sentar-se com a dor do outro implica se sentar com a própria
dor... Levar, conduzir e apoiar processos de autoconhecimento
implica nosso autoconhecimento e cuidar de pessoas implica
cuidar da pessoa que cuida: VOCÊ!
O tatame é a hora quando você executa sua
técnica aprendida e praticada. Maior ou menor
habilidade está diretamente ligada ao que você
fez e faz antes de entrar no tatame. Eu sempre
digo isso e direi muitas vezes, é de fato uma de
minhas metáforas mais precisas a respeito deste
tema e também tem a ver com arte.
Agora, a arte da música.
Um cantor que não cuida de sua voz com o
tempo a perderá; na verdade, ele gritará tanto
por não conhecer suas extensões e por não saber
como desenvolvê-la que irá machucar-se e,
então, perderá capacidades. Precisará descobrir a
necessidade dos exercícios vocais, do descanso e
de muito outros manejos de suas cordas vocais
que, se não os fizer, além de jamais usar toda sua
potencialidade, com o tempo os machucados e
maus-tratos constantes a suas cordas o farão
perder seu dom. Em outras palavras, apenas voz bonita e
afinação não são suficientes! Dom não cobre a necessidade de
desenvolvimento constante. Ter o “dom” para cuidar de pessoas
não é o suficiente para alcançar uma performance que toque os
corações como fazem os grandes cantores!

Todos os direitos reservados


36
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Embora o cantor cante para que o outro o ouça, é de suas


cordas vocais que o som sai. Embora você faça o manejo
terapêutico do processo de alguém, é da sua habilidade consigo
mesmo que este manejo, que esta habilidade, é mais ou menos
afinada. E isso pode ser mais e mais bonito com o tempo, com
prática, treino e o processo certo!
Andrea Bocceli, cantor e tenor italiano, indiscutivelmente um
faixa preta que continua na jornada, compartilha em sua
biografia o quanto teve de aprender isso e o quanto precisou
descobrir suas capacidades de alcance de notas agudas e
sustentação de voz, embora sempre fosse elogiado pela beleza e
timbre dela. Foram muitas as avaliações e os testes negativos
por não ter uma técnica apurada e por ter um baixo
autoconhecimento de seu canto.
Eu entendi isso ao longo de meus anos de consultório e ao
longo do meu processo de me tornar professora nesta área, em
especial ao me tornar professora internacional de Focalização
do Relacionamento Interior. Aprendi que aprender o manejo do
meu mundo interno, aprender o relacionamento com as minhas
emoções, com o que eu sinto, era o caminho para a maestria –
era e é o caminho da faixa preta que eu busco.
Não se trata apenas de curar a si mesmo ou estar consciente de
seus padrões que podem ser desengatilhados em um
atendimento: isso é mais que pré-requisito para a boa execução
de nosso trabalho – afinal, nosso trabalho depende de nossa
percepção, tanto para não interferir no mundo do outro quanto
para sabermos o que é nosso e o que é do outro. Eu penso que
isso deva ser claro para a maioria. Ao que me refiro mais
especificamente é que precisamos ter habilidade técnica e
processo diário para podermos cuidar de nós mesmos e assim
podermos estar em “boa forma” para a execução de nosso
trabalho.
Da mesma forma que um atleta precisa treinar para conseguir
jogar, não adianta ter o talento do Messi se não fizer o
treinamento diário para estar com seus músculos disponíveis
para a hora de correr atrás da bola. Sem a bola, não conseguirá

Todos os direitos reservados


37
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

expor ao mundo sua habilidade; em outras palavras, sem as


condições físicas para correr, não poderá executar sem dom.
A musculatura de um terapeuta é psíquica; ele não consegue
treinar na academia. Ela é desenvolvida e se torna disponível
para quando entramos em campo, no tatame, no palco, se
fizermos os treinos de habilidades – e estes “treinos de
habilidades” são feitos em relação a nós mesmos.
Não se trata de fazer terapia todo dia: trata-se de como você
lida com o que você sente, com suas dores, com seus temores,
com suas angústias, anseios, sonhos, frustrações, como você se
apoia, como se consola, como se ouve e como se orienta.
Nosso trabalho é apoiar as pessoas a desenvolverem isso nelas
também. Elas também estão na jornada de uma melhor relação
com o que sentem em si mesmas. Sempre se trata do sentir. Por
mais que possa haver crenças limitantes, como a pessoa se
sente devido às crenças é que causa o desconforto que lhe faz
procurar ajuda. Nós precisamos aprender a conversar com o que
é sentido primeiro em nós, e então levar isso adiante.
Outro ponto importante a destacar. Nós, desta área, por
sabermos que precisamos de alguma congruência em relação a
como somos e como fazemos nosso trabalho com outras
pessoas, possivelmente temos a tendência de nos cobrarmos
muito, seja para sermos bem-sucedidos, seja para estarmos
vivendo o tipo de transformação que queremos proporcionar às
outras pessoas.
Se ensinamos ou conduzimos processos de desenvolvimento
pessoal, acreditamos que devemos ter alcançado esse
desenvolvimento, e isso pode gerar uma cobrança interna
massacrante. Podemos viver em maus-tratos emocionais
constantes até mesmo sem perceber, assim como o cantor que
está gritando com a linda voz e não imagina os machucados que
suas cordas vocais estão desenvolvendo.
Eu me sinto muito tocada quando vejo um terapeuta perdendo
sua linda voz ou sua resistência física. Fico muito tocada em ver
que não consegue correr, pois sua musculatura está tão cansada

Todos os direitos reservados


38
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

que não consegue pegar a bola para mostrar ao mundo suas


habilidades, seus talentos e, mais que mostrar ao mundo, não
pode ter o prazer de conhecer seus dons e em especial vivê-los.
Cuidar de quem cuida no sentido de ensinar essas habilidades
que aprendi em minha jornada – e, mais especificamente,
ensinar a Focalização do Relacionamento Interior para
profissionais de desenvolvimento humano – se tornou meu
sonho à medida que fui vivenciando isso em mim e vendo diante
dos meus olhos a quantidade de transformação que essas
habilidades causam.
Como você deve ter notado ao longo de sua leitura, todo esse
conhecimento vem de fora do Brasil. Há uma comunidade muito
grande fora do Brasil e pequeníssima aqui. Eu decidi aprender
inglês, tamanhos o amor e a paixão com que me arrebatou essa
técnica. Eu me certifiquei como professora reconhecida pelo
The Focusing Resources e The Focusing Institute em uma
formação toda em inglês, que durou dois anos, além de em
todos os outros cursos presenciais que fiz no Brasil quando Ann
esteve por aqui e na Argentina, quando esteve lá. Foi uma
dedicação intensa e um dos motivos (foram muitos os motivos
que me moveram a isso) foi poder trazer para o Brasil este
aprendizado, poder ensinar em português, dentro da nossa
cultura, com todas as percepções, dores e potenciais que temos.
Meu sonho atual, um deles, é não apenas ver terapeutas
incluírem a Focalização em suas técnicas e manejos terapêuticos
(pois a Focalização é como um motor-turbo para diversas
abordagens e uma potência em si mesma), mas incluírem a
Focalização em suas vidas, pois com ela será muito mais fácil
entrar em campo, no palco ou no tatame, para estar realmente
preparado e cuidado; a maestria com o tempo chegará.
Quero ver no Brasil uma comunidade de Focalizadores para que
as parcerias aconteçam, para que tenhamos com quem trocar,
uma comunidade a pertencer, onde se possa aprender a
aprender, e que em especial tenhamos ao alcance dos nossos
ouvidos o processo de ouvir o próprio corpo, o próprio coração,
em uma amizade sincera consigo mesmo, assim nos orientando

Todos os direitos reservados


39
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

a vida como grandes parceiros de nós mesmos. Que tenhamos


conosco os recursos para sermos nossos próprios terapeutas e
que tenhamos o grupo, a comunidade, para nos apoiarmos
quando isso não for possível. Acreditem: precisamos do outro!
As pesquisas já indicam que o vínculo é o instrumento de
melhor cuidado para com o Sistema Nervoso Humano,
apresentando os melhores resultados no manejo terapêutico de
transtornos que envolvem depressão. O vínculo terapêutico
com o cliente é um instrumento de cura e, para sermos capazes
de fazer isso, precisaremos cuidar dos nossos padrões de
vínculos por meio de relações sadias, seguras e nutritivas. As
parcerias de focalização pressupõem esses requisitos.
Que possamos aprender a habilidade de não mais se perder de
si para estar com outro e que não mais nos fechemos em nós
mesmos para nos esconder do mundo. Que possamos aprender
a estar em nós mesmos e com o outro e estar com o outro e nos
mantermos em nós. Esses são os pressupostos do apego seguro.
Esse é meu sonho atual: ver cada vez mais terapeutas faixa
preta da própria jornada colocando suas lindas vozes no mundo,
tocando os corações sem perder a voz.
Eu comecei esta jornada na busca de encontrar a medicina mais
apurada para minha ferida da flecha envenenada que havia me
ferido. Conheci as mais diversas formas de promover cura e
transformação, porém, quem me cura de muitas formas, quem
vem me curando (uma vez que esse processo não termina, pois
Quíron é imortal), é minha própria ferida. Foi ela quem me guiou
a cada passo da minha jornada. Ela tem sido minha mestra. Foi
ela quem me disse “Você está mais perto” ou “Você está mais
longe”. Foi ela quem alertou: “Sim, é isso, você encontrou!”. Foi
ouvindo ela que descobri o amor que vivia lá dentro, fui
conhecendo naquela pequeninha que sonhava ser professora e
que um dia acreditou que era algo quebrado que eu encontrei o
que estou compartilhando com você, agora. Foi aprendendo a
ouvir meu corpo que minha mente serenou e vem serenando.
Foi com ela que aprendi a aprender, e, se você colocou atenção
neste ponto lá no início e em alguns outros pontos da jornada

Todos os direitos reservados


40
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

deste livro, você reparou que aprender a aprender é o


verdadeiro significado de ser faixa preta.
Foi pelo encontro da minha porção mente – representada pelas
aspirações de Quíron que apontam para os céus – com minha
porção bicho – que representa o corpo – que venho
experimentando a possibilidade de ser integral como Quíron nos
convida a ser.
Volto a dizer: esse aprendizado nunca acaba, eu continuo minha
jornada. Diante de tanta beleza e transformação que pude
vivenciar em meu caminho, não há como não compartilhá-las
com você, amigo de jornada, que tem suas próprias feridas, para
que possa aprender a escutar aí dentro, tornando-se assim o
grande curador que Quíron nos inspira a ser – porém, agora sem
a obrigação de ser, sem o peso de ser, sem a necessidade de
salvar alguém para se sentir aceito ou amado, sem o peso de ser
perfeito para então se permitir ser aceito por você mesmo, sem
chicotes, sem severidade, apenas com amor, gentileza e
amizade. Para mim, Quíron é o grande faixa preta que virou
mestre.
Meu desejo é levar informação e conhecimento que realmente
transforme seu relacionamento consigo mesmo(a) e,
consequentemente, transforme sua prática profissional, de
forma prazerosa e expansiva, permitindo o desenvolvimento de
potencialidades adormecidas.
Se você quer ir para seu próximo nível, sua próxima faixa até
chegar à faixa preta, que é apenas o primeiro passo para a
jornada da maestria, você precisará encontrar sempre o próximo
passo, e agora você já sabe onde encontrar e o método que
ensina você a aprender a aprender isso.
Relacionamento Interior é o caminho que eu aponto para
essa transformação profunda da forma como você enxerga
a si mesmo, trata a si mesmo, investe em si mesmo, cuida de
si mesmo e então cuida de outras pessoas.

Todos os direitos reservados


41
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Para mim, a Focalização é o método, o processo, a técnica,


assim como a arte marcial escolhida é o meio para seu
praticante alcançar a faixa preta de si mesmo.

Convido você a descobrir esta arte e esta ciência!


Aqui está quase terminada a jornada deste livro.
Desejo que você, mesmo que não tenha mais contato com nada
disso que escrevi aqui, aceite apenas um presente meu: que
você se lembre de ouvir aquela voz que rodeia você e que sabe
o que sua mente ainda não sabe, pois ela geralmente se localiza
ao sul do seu pescoço...
De alguma forma, a gente se encontra lá,
neste lugar que você sabe!

Que a vida te seja leve e que seu amor e relacionamento com você
cresçam e floresçam a cada dia.
Assim, você apoiará cada vez mais pessoas a viverem o mesmo!

Com amor,
Cecília Lauriano

PS: Caso você queria saber mais sobre mim, não deixe de visitar meu site, me acompanhar nas redes
sociais – onde procuro postar frequentemente vídeos e textos que apoiem você e sua jornada.

Não deixe de conhecer o Programa de Formação em Focalização do Relacionamento Interior e se


cadastrar em minha lista para receber os conteúdos e ser avisado das próximas turmas. Veja na última
página deste e-book mais informações sobre o programa de formação que dou no Brasil. Continue sua
leitura para as considerações finais.

http://www.cecilialauriano.com.br/programadefocalizacao/

https://www.youtube.com/channel/cecilialauriano

Todos os direitos reservados


42
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Todos os direitos reservados


43
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

CONSIDERAÇÕES FINAIS: O SENTIDO DA FAIXA


PRETA

Imagino que o leitor (a) já tenha percebido minha intenção de


trazer a ideia simbólica da faixa preta como forma de
compreender o caminho para o próximo passo que te leva para
o próximo nível. Não tive a intenção – e não a tenho – de ser
uma dominante de seu significado para aqueles que
efetivamente são lutadores e praticam as artes marciais.
Apesar desta não ser a intenção, li e leio muito sobre este tema
e escolhi alguns trechos de um artigo de Ana Calazans sobre o
sentido da faixa preta que se encaixam perfeitamente em nossa
jornada vivenciada até aqui.
***
“Adotada apenas no século XIX como símbolo de maestria nas artes
marciais, a faixa preta possui um sentido muito mais complexo do
que suspeita o senso comum.
Alguns praticantes de artes marciais treinam por longos anos e
alcançam um excelente nível técnico. Seus cinturões ou faixas
pretas exibem as marcas que atestam o número de graus ou dan
que atingiram e, do ponto de vista físico, sua energia, potência e
agilidade impressionam. Para eles, no entanto, o treino e a técnica
vão significar sempre um meio para chegar a um determinado fim,
seja a aceitação social, a projeção de uma imagem de poder e
sucesso ou a melhoria da autoestima.
Esses praticantes por alguma razão não descobriram ao longo de
sua jornada uma joia escondida, que é ao mesmo tempo a “técnica”
mais difícil e a que traz maior realização: o entendimento de que a
prática da arte é um fim em si mesmo e seu grande ensinamento é
uma unidade dualista: a percepção de que somos simultaneamente
uma singularidade integrada de corpo, mente e espírito e parte de
um todo com o qual nos comunicamos. Esse ensinamento se torna
objetivo por via da busca contínua do conhecimento de si mesmo,

Todos os direitos reservados


44
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

do autodesenvolvimento, que tem como consequência direta o


serviço ao mundo.
Para muitos praticantes essa conversa pode soar como uma
bobagem mística vazia e banal, mas ela é a imensa raiz que
sustenta o tronco das artes marciais em seu berço, o Oriente.
Embora a faixa preta seja um símbolo tardio, adotado no século XIX
e difundido por Jigoro Kano, o sistematizador do judô, é a essa raiz
que seu significado remete.
Muitos textos sobre artes marcais registram que a cor preta da
faixa reflete a ideia da morte, da escuridão e do desconhecido. Os
samurais costumavam usar trajes pretos e o Bushido, seu código
moral, tem como eixo principal o destemor à morte. Mas alcançar
tal estado só é possível de maneira paradoxal, através do
adentramento, entrega na vida. A disciplina marcial, o
desenvolvimento da percepção da energia (chi, ou ki) e a meditação,
repetidas diligentemente por um praticante sério, permitem que ele
se torne cada vez mais desperto, atento ao instante e a todas as
suas possibilidades, mergulhado na vida.
No caminho dos guerreiros, o destemor à morte se tornava também
amor à vida, à sua riqueza e beleza escondidas que se mostram não
apenas no perfeito, mas também no imperfeito, no falho e no
inacabado – espelhos do homem.
Antes de qualquer coisa, o tatame traz para aqueles que o abordam
com coragem a humildade. A coragem aqui não é a bravura
beligerante que nos dispõe a atacar e a ser atacado; a batalha é
travada em nosso interior.
Lidar com a quebra de expectativas – a nossa e a dos outros –, com
a frustração e a aceitação de que somos imperfeitos e limitados é o
primeiro ensinamento. Depois vem outro mais desafiante: criar
intimidade com um estranho esquecido: nós mesmos! Muitas vezes
ao ser arremessada no tatame a “persona” cuidadosamente
construída do adulto firme e seguro dá lugar ao menino humilhado
e magoado derrubado pelos colegas no recreio.

Todos os direitos reservados


45
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Meus mestres costumam dizer que uma das maneiras mais rápidas
de conhecer o temperamento de um aluno, ou seus traços mais
marcantes no enfrentamento da vida, é observar como ele luta.
A luta é a síntese da arte marcial. Todo o trabalho físico de
fortalecimento e condicionamento, de técnicas, formas com armas e
de mãos de um estilo e o treinamento da mente e da respiração
estão à serviço do combate. Um faixa preta que entendeu o
verdadeiro sentido de sua técnica vai cristalizando essa
compreensão ao longo de seus anos de treino. Para os orientais a
prática é uma forma de partilhar a natureza de buda (e do tao)
penetrando em seu fluxo, que nada mais é do que a percepção da
conexão profunda entre nós e a natureza. Mas essa conexão só se
torna real se a prática se tornar a própria vida.
Embora todos esses conceitos remetam à ideia de desenvolvimento
de um “poder” que pode ser notado ou sentido de maneira objetiva
ou intuitiva pelos outros – muitos se referem a ele como um
“carisma”, “presença”, “aura”, “autoridade” ou “energia” – o real
valor dele é algo privado e interior e está menos ligado a uma
projeção física do que ao desenvolvimento de traços de caráter
como a compaixão, a lealdade, a coragem e a generosidade; “não se
trata daquilo que fazemos questão de mostrar aos outros. É
secreto”. Tem a ver com autonomia, com agir segundo sua própria
natureza e espírito, ouvir lá dentro. A faixa preta tem valor não
como uma bengala externa que justifica quem a porta frente aos
outros, mas como um lembrete mental de que ela é o símbolo de um
caminho que só vai fazer sentido se continuar a ser trilhado.”

Todos os direitos reservados


46
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

O Programa de Formação de Focalização do Relacionamento


Interior I e II é o curso que ensina você a Focalizar e assim
desenvolver uma nova relação com o que sente em você, suas
emoções, suas sensações, suas percepções e tudo mais que se
refere ao seu mundo interno, habilitando você ainda mais em
sua prática clínica ou atendimentos a outras pessoas.
Uma integração corpo, coração e mente que te leva para seu
próximo nível.
No curso, você tem a oportunidade de aprender todas as
bases da Focalização, iniciando pelos passos de Eugene
Gendlin e aprendendo as habilidades do método de
Focalização do Relacionamento Interior desenvolvido por Ann
Weiser Cornell.
O curso está todo estruturado em uma plataforma digital,
dividido em 12 módulos de aulas gravadas e materiais. Além
de todos estes materiais e aulas, os alunos(as) têm aulas online
comigo, ao vivo, para aprofundamento, esclarecimento e
práticas, vivenciando toda a jornada para se tornar
Focalizador, além da formação das parcerias de Focalização,
que podem continuar mesmo após o término do curso – o que
será um presente que poderá ficar com cada um que cultivar
esse grande recurso. A ideia é levar a sala de aula para dentro
do ambiente do aluno de forma que, mesmo sendo um curso
online, possamos criar o ambiente de um curso presencial. A

Todos os direitos reservados


47
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

transformação é realmente incrível, podendo ser sentida em


todo o corpo.
Além do conteúdo programático da focalização, o curso
dispõe de dois cursos bônus. Nestes dois cursos eu tive a
intenção de compartilhar uma visão das minhas demais
formações, as quais compõem minha visão de processo
terapêutico, incentivando você a criar sua própria Alquimia e
juntar seus novos aprendizados adquiridos com aquilo que
você já traz em sua bagagem.
 No CURSO BÔNUS 1, que se chama Mais que Terapeuta,
apresento e exploro essas outras abordagens que
compõem meu método de atendimento, em especial no
que ser refere aos meus estudos e formações no trabalho
com trauma.
 No CURSO BÔNUS 2, que se chama Roteiro de Primeiro
Atendimento, compartilho meu passo a passo para a
transformação desde a primeira sessão, uma experiência
vivencial desde o primeiro atendimento.
Todo programa é um curso muito completo, focado em
proporcionar uma jornada de onde partamos do porto como
nadadores e cheguemos ao outro lado como mergulhadores,
descobrindo as belezas do oceano do mundo interior de cada
ser humano.
Deixo aqui alguns depoimentos escritos por alunas da última
turma para que você possa sentir a qualidade de nossa
jornada.

Quem sabe possamos fazer a próxima viagem juntos!

Grande abraço!
Cecília Lauriano

Todos os direitos reservados


48
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

Inscreva-se e seja avisado da próxima turma.

Devido ao meu acompanhamento ao vivo, as vagas são limitadas

http://www.cecilialauriano.com.br/ebookcadastroprogramafocalizacao/

DEPOIMENTOS

“Pra mim a maior transformação que este curso me


trouxe foi saber que posso olhar pra minha dor,
entender o que ela quer e com isso amenizar dores
físicas e reduzir ansiedade, tristeza. Não preciso
mais fugir ou evitar. Olhando para o que sinto posso
encontrar as melhores soluções. Como quando um
dia que eu estava muito ansiosa, angustiada, estava
tudo muito estranho, eu focalizei sozinha e, ao fazer
isso, algo em mim só queria chorar. Então, deixei a
emoção fluir e tudo passou em poucos minutos.
Foi incrível...”
Zara Calió
Psicóloga

“A focalização me trouxe a possibilidade de assumir


a responsabilidade das dores e traumas, assim como
parar de querer mandar embora (enviar pra fora da
minha vida) algo que existe dentro de mim e que me
faz sofrer!
Estou aprendendo aos poucos a acolher tudo dentro
de mim, o bom, o ruim, e que no momento consome
90% de mim...”
Elaine Teixeira
Coordenadora de apoio psicossocial e promoção de saúde em
situações de conflito, emergências, epidemias. Especialista em
Intervenção em saúde mental em projetos humanitários

Todos os direitos reservados


49
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

É uma prática profunda, estruturada, que


potencializa imensamente nosso trabalho e
autoconhecimento.
Sandra Marcolin
Psicóloga Clínica e Coach

“Focalização traz um termo que eu pouco aplicava:


‘Senso de...’
Foi através desse termo que me dei conta do Senso
de amor pessoal, paciência, tristeza, alegria e tantas
outras emoções, mas, o SENSO mais lindo foi o do
meu corpo. Escutar esse corpo e deixá-lo me guiar,
na dor, na tristeza e até mesmo na falta de Senso de
alguma coisa.
Focalização é, pra mim, a integração amorosa, sem
julgamentos de tudo o que fui, sou e serei...”
Martha Semeraro
Yoga terapeuta, Terapeuta em Respiração Circular, Facilitadora
em Constelação Familiar e Astróloga

“Uma vivência incrível, profunda.


Desperta para uma nova dimensão da conexão
comigo e com o mundo. Um bem-estar comigo.
Uma megadose de autoconhecimento.
Um desabrochar potencializado para o equilíbrio.
A plataforma e o material são excelentes, acho
indispensável frisar e destacar isso. Conheço meio
mundo de gente que não se dispõe a fazer curso
e/ou vivência online ainda.
Ótimas reuniões e ideias.”
Soraya Toledo Pessoal
Historiadora e Personal Bem-estar

Todos os direitos reservados


50
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

“A minha experiência com o curso se desenvolveu


para um reconhecimento de poder ser e vivenciar
minha essência de uma maneira mais real e integral.
Mantendo o relacionamento de algo em mim me faz
poder escolher a qualquer momento. Escolher sem
ter que estar de acordo com algum conceito já pré-
estabelecido, ou algo assim... O relacionamento que
a focalização me proporciona é estar no presente
momento vivendo aquilo em mim que está sendo
percebido, e poder receber qualquer coisa com
compaixão e poder aprender com aquilo, um
aprendizado ou um gatilho para alguma potência
adormecida. Somos todos potência, porém
adormecemos em situações vividas em que nosso
corpo não deu conta de processar ...
O incrível é poder estar em um processo em que
sentimos uma transformação natural e orgânica sem
precisar efetivamente saber de onde ou como ela
aconteceu. O não precisar analisar me traz
tranquilidade. Algo em mim parece estar cansado de
apenas ficar no mental. O relacionamento interior
me trouxe essa paz e a oportunidade de viver no
corpo, no coração e na mente...”
Polliana de Macedo
Terapeuta energética e facilitadora Miracle Choice

Todos os direitos reservados


51
TERAPEUTA DE SI E ENTÃO DE MAIS ALGUÉM Cecília Lauriano

DIREITOS AUTORAIS

Este guia está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o guia são
reservados. Você não tem permissão para vender este guia nem para copiar/reproduzir o
conteúdo do guia em sites, blogs, jornais ou quaisquer outros veículos de distribuição e
mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeita a ações legais.

ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADES

Todas as informações contidas neste guia são provenientes de minhas experiências


pessoais com o aprendizado ao longo de vários anos de estudos e atendimentos. Embora eu
tenha me esforçado ao máximo para garantir a precisão e a mais alta qualidade dessas
informações e eu acredite que todas as técnicas, métodos e filosofia aqui mencionados
façam parte de uma visão a respeito da postura de relacionamento interno de cada
indivíduo, sua situação e/ou condição particular podem não se adequar perfeitamente aos
métodos e técnicas e filosofias aqui mencionados. Assim, você deverá utilizar e ajustar as
informações deste guia de acordo com sua situação e necessidades.

Todos os nomes de marcas, produtos e serviços mencionados neste guia são de


propriedades de seus respectivos donos e são usados somente como referência. Além
disso, em momento algum neste guia há a intenção de difamar, desrespeitar, insultar,
humilhar ou menosprezar você, leitor, ou qualquer outra pessoa, cargo ou instituição.

Caso qualquer escrito seja interpretado dessa maneira, eu gostaria de deixar claro que não
houve intenção alguma de minha parte em causar tal desconforto e me desculpar de
antemão.

Caso queria fazer sugestões, elogios, críticas ou tirar dúvidas, você pode entrar em contato
diretamente comigo pelo e-mail atendimento@cecilialauriano.com.br

Todos os direitos reservados


52

You might also like