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Resumo:
1. Introdução
Nas últimas décadas, várias questões ambientais, econômicas e sociais graves que, por estarem
interligadas, têm sido encaradas como grandes desafios (GOVINDAN; SHANKAR;
KANNAN, 2013; SCHLUEP et al., 2013; WANG; HUISMAN; STEVELS; BALDÉ, 2013;
NEVES; DROHOMERETSKI; DA COSTA; DE LIMA, 2014). Isso se deve, principalmente,
a dois motivos: produção e consumo das empresas não ocorrerem de maneira sustentável
(ADHAM; SIWAR; BHUIYAN; HOSSAIN, 2015); e crescimento da população mundial – 7,4
bilhões em 2015 e perspectivas de 8,1 bilhões em 2025 e 9,7 bilhões em 2050 (ONU, 2015).
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Mestranda em Administração e Desenvolvimento Gerencial na UNESA
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Mestrando em Administração e Desenvolvimento Gerencial na UNESA
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Prof. adjunto da UNESA, UERJ e UNIRIO
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Petrópolis/RJ – 30 de novembro e 01 de dezembro de 2017
Esses resíduos sólidos urbanos somam mais de 1 bilhão de toneladas por ano, sendo que a
projeção para 2025 é de que subirá para 2,2 bilhões de toneladas por ano (WBCSD, 2012).
Desse total, cerca de 5% são representados pelos resíduos eletrônicos diversos, de celulares a
computadores (PNUMA, 2015), ou seja, se hoje já são 50 milhões de toneladas, em 2025, serão
cerca de 110 milhões de toneladas por ano.
Considerando que grande parte desse resíduo eletrônico é despejada em lixões ou aterros
sanitários (PNUMA, 2015), isso resulta em graves problemas ambiental e social, visto que
equipamentos eletrônicos contêm substâncias químicas - chumbo, cádmio, mercúrio e berílio,
entre outros - os quais podem contaminar o solo, a água e, ainda, prejudicar a saúde de possíveis
catadores de lixo (MAGERA, 2012).
Para que o descarte desse lixo eletrônico seja adequado, não só é necessária a existência de uma
logística reversa bem estruturada, como também, que essa seja utilizada pelos consumidores
(pessoas físicas e jurídicas). Por esse motivo, pesquisas sobre o tema da logística reversa de
lixo eletrônico podem ser consideradas importantes para colaborar com os pilares do
desenvolvimento sustentável.
O presente estudo tem como objetivo analisar a produção científica sobre lixo eletrônico e sua
logística reversa no Brasil. Com isso, contribuir para o avanço do conhecimento no tema,
apoiando novos trabalhos por meio de subsídios bibliográficos e, paralelamente, colaborar para
a conscientização da necessidade de mais publicações nesse campo.
Este artigo foi dividido em cinco segmentos: o agora exposto; a revisão da literatura, onde são
apresentados os principais conceitos em que o estudo se baseia; a metodologia utilizada, no
qual são descritos quais procedimentos e critérios foram adotados para se realizar a pesquisa;
os resultados e discussões, onde são apresentados os dados encontrados e as análises realizadas,
tanto estatísticas como de conteúdo; e na última seção, são apontadas as conclusões baseadas
nos indícios que foram encontrados na pesquisa.
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2. Fundamentação Teórica
2.1 Sustentabilidade
Após a década de 50, houve um grande crescimento do consumo. A sociedade aprendeu a usar
e descartar bens de todos os tipos, incluindo, vidro, garrafa PET, plásticos em geral e produtos
eletrônicos (SOUZA, 1993; DEMAJOROVIC, 1995).
Só no Brasil, em 2015, todos os dias, cerca de 80 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos
foram descartadas de forma inadequada. Isso corresponde a mais de 40% do lixo coletado,
mesmo considerando o aumento de 6,2% ao ano do volume de lixo disposto de forma adequada
(PNUD, 2016).
Com esse aumento da quantidade de lixo e de seu descarte inapropriado, além de outros
problemas interligados ambiental, econômico e socialmente, também começou a crescer a
preocupação mundial, tanto sobre o uso saudável e sustentável do planeta, quanto o de seus
recursos. Nesse sentido, em 1987, a Comissão Brundtland, apoiada pela Organização das
Nações Unidas (ONU), publicou um relatório que foi um marco ao trazer o conceito da
sustentabilidade (ONU, 2017).
Resíduo eletrônico ou lixo eletrônico é todo material eletroeletrônico que tem seu descarte
depois do uso, tais como: geladeiras, máquina de lavar roupa, liquidificador, tv, rádios, pilhas,
baterias, celulares, computadores, placas de circuito impresso, notebook, impressoras, teclados,
entre outros (MAGERA, 2012).
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Existem dois tipos de canais de distribuição que realizam esse retorno de produtos: pós-
consumo e pós-venda. O pós-consumo são os descartados após o uso, enquanto que os de pós-
venda podem retornar por término da validade, excesso de estoque no final da cadeia, devolução
de consignação ou problemas de qualidade. De um modo geral, os produtos eletrônicos podem
ter como destino: reciclagem, desmanche reuso ou encaminhados para disposição final (LEITE,
2013).
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Nesse fluxo da logística reversa, os principais atores são: empresas integrantes da cadeia de
suprimento tradicional, empresas especializadas em reaproveitamento nas cadeias reversas –
coletores, especialistas em reciclagem, fundações ou organizações voltadas para o tema, como
as cooperativas, entre outros – e as instituições governamentais (BRITO; DEKKER, 2003).
Embora a existência de leis seja de grande relevância, a literatura mostra que ainda existe uma
forte resistência do setor empresarial em implantar modelos de logística reversa, devido ao
elevado custo e ao pouco interesse em coordenar o processo (THIERRY; SALOMON;
WASSENHOVE, 1995; FLEISCHMANN; KRIKKE; DEKKER; FLAPPER, 2000; STOCK;
MULKI, 2009).
3. Método de Pesquisa
Após essa seleção, utilizou-se, como critério de inclusão, artigos e resumos (trabalhos)
apresentados em congressos e periódicos e, como critérios de exclusão, artigos escritos em
outras línguas que não o português ou inglês, artigos que não apresentaram a sua versão
completa, artigos fora do tema, artigos duplicados e não foi utilizada literatura cinzenta.
Em seguida, foram identificados os referenciais teóricos dos artigos, utilizando-se, como base,
o levantamento realizado por Moriki e Martins (2003). A partir desses dados coletados, foi
possível verificar os números referentes a citações e suas interligações.
Os dados levantados foram compilados em tabelas, usando planilhas Excel, de forma a facilitar
sua quantificação e avaliação.
A partir da busca realizada, não foram encontradas publicações no período de 2007 a 2010. De
2011 a 2016, houve 19 publicações, sendo que, entre janeiro e abril de 2017, foram publicados
3 artigos, a mesma quantidade que, em cada ano, entre 2013 e 2015. A evolução das publicações
dos artigos pode ser vista na figura a seguir.
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Número de publicações
5
4
3
2
1
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Ano
Por esse resultado, tem-se o indício que a PNRS influenciou na quantidade de publicações sobre
o tema. Além disso, pode-se observar, pela quantidade de publicações até abril de 2017, que há
uma leve tendência a ter novas publicações com esse tema até o fim do ano.
No quadro abaixo, estão relacionados os periódicos dos artigos publicados e sua classificação
no Qualis-periódicos da CAPES de 2015.
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management options in
Brazil
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Os artigos que têm origem conferências estão como sem classificação na área avaliação e sem
estrato, pois conferências não são qualificadas no Qualis-periódicos. Quanto ao periódico
Progress in Industrial Ecology - An International Journal, este está sem classificação devido a
não ter sido encontrado na lista do Qualis-periódicos.
Para as próximas análises, foi adotado, como critério de seleção dos principais autores, o
percentual mínimo de 15% de citações dentre os 19 artigos.
Quantidade de % de Citações
Autores
Citações dentre os Artigos
Guarnieri, P.
10 52,63%
Rogers, D.S., Tibben-Lembke, R.S.
Demajorovic, J. 6 31,58%
Bardin, L.
Fleischmann, M.
Kiddee, P. 5 26,32%
Leite, P. R.
Stock, J.
10
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Araújo, M.G.
Franco, R.G.F.; Lange, L.C.
Nnorom, I.C.
Oliveira, C.R.
4 21,05%
Tsydenova, O.
Wager, P.A., Hischier, R.
Wang, F.
Zeng, X.
Ballou, R.H.
Barboza, M.R.
Godoi, C.K.
Hischier, R.
Huisman, J.
Khetriwal, D.
Manomaivibool, P.
Ongondo, F.O.,Williams, I.D., Cherrett, 3 15,79%
T.J.
Schluep, M., Hagelueken, C., Kuehr, R.,
Magalini, F., Maurer, C., Meskers, C.,
Mueller, E., Wang, F.
Souza, R.G.
Wagner, T.P.
Widmer, R.
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Araújo, M.G.
Zeng, X. 10 Ballou, R.H.
Widmer, R. 9 Barboza, M.R.
Wang, F. 8 Bardin, L.
7
Wagner, T.P. Demajorovic, J.
6
5
Wager, P.A.; Hischier, R. Fleischmann, M.
4
3
Tsydenova, O. 2 Franco, R.G.F.; Lange, L.C
1
Stock, J. 0 Godoi, C.K.
Os autores mais citados nos artigos foram: Guarnieri, P. e Rogers D.S; Tibben-Lembke,
R.S. com 10 referências e Demajorovic, J. com 6 referências sendo que esses autores escrevem
sobre logística e ou logística reversa, como pode ser observado no quadro a seguir.
Tópicos Autores
Tsydenova, O.; Wager P.A., Hischier R.;
Barboza, M. R.; Hischier, R.; Huisman, J.;
Sustentabilidade/
Schluep M., Hagelueken C., Kuehr R.,
Desenvolvimento Sustentável/
Magalini F., Maurer C., Meskers C., Mueller
Responsabilidade Socioambiental
E., Wang F.; Souza, R.G.; Wagner, T.P.;
Widmer R.
Kiddee, P.; Araújo, M. G.; Franco, R.G.F.;
Lixo/Lixo Eletrônico Lange, L C.; Nnorom, I.C.; Tsydenova, O.;
Wager P.A., Hischier R.; Zeng X.; Barboza,
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Seminário/
Conferência/
Artigo/ Autor
Site de Legislação/ Monografia/ Encontro/
Livro Revista/ Jornal Entidade/
Internet Norma Dissertação Fórum/
Periódico Relatório
Congresso/
Workshop
Total de
89 386 4 43 100 29 13 26
Material
Mínimo 0 0 0 0 0 0 0 0
Máximo 17 55 3 11 18 5 2 6
Média 4,68 20,32 0,21 2,26 5,26 1,53 0,68 1,37
Mediana 4 17 0 1 4 2 0 1
Desvio
4,33 17,22 0,71 2,6 4,66 1,22 0,82 1,54
Padrão
Variância 18,78 296,56 0,51 6,76 21,76 1,49 0,67 2,36
Tabela 2: Fontes das referências bibliográficas.
Fonte: Dados da pesquisa e NBR 6023 (ABNT, 2002).
Um dado interessante encontrado foi que, apesar do tipo de material Revista/Periódico ser a de
maior expressão (56% aproximadamente), um dos trabalhos não a utilizou, fato esse que pode
estar atrelado ao objetivo que o artigo em questão iria atender.
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Outro ponto observado foi que 7 dos 19 artigos utilizaram menos do que 50% do total de seu
material de revista/periódico.
A partir da figura 7, pode-se perceber que a abordagem qualitativa é a mais utilizada, sendo
aproximadamente 79% do total dos trabalhos.
As pesquisas mostraram não serem cumulativas, pois não foi observado nenhum estudo baseado
em outro artigo publicado dentre os 19 artigos da seleção. Também não foi verificada a
utilização de um dos artigos da amostra como referência de outro artigo selecionado.
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5. Conclusões
O estudo desenvolvido teve como objetivo analisar a produção científica sobre lixo eletrônico
e sua logística reversa no Brasil.
Esta foi uma pesquisa bibliométrica, descritiva, com abordagem quali-quanti, análise de dados
utilizando estatística descritiva e análise de conteúdo.
Como resultado desse estudo, foram encontrados 19 artigos, nas bases Scopus, Spell e Emerald,
entre 2007 e 2017. Além disso, observamos que houve apenas publicações a partir de 2011 e
que, nos primeiros quatro meses de 2017 já foi publicada a mesma quantidade que todo o ano
de 2016, portanto, esperamos que haja mais publicações até o fim do ano.
Outro ponto identificado no resultado se refere aos autores mais citados na revisão da literatura
serem Guarnieri, P., Rogers D.S; Tibben-Lembke, R.S. e Demajorovic, J e que esses estão
relacionados ao tema logística/logística reversa.
Há um outro aspecto a ser citado, o da maior parte da referência bibliográfica desses artigos ser
de revista e periódicos, o que condiz com que se é esperado em pesquisas na área de
administração. Também pode ser observado que a que a maioria dos artigos tem abordagem
qualitativa,
Com as evidências obtidas, concluímos que há indícios de que a Lei n°12.305/10, que instituiu
a Política Nacional de Resíduos Sólidos, foi um marco para o início das publicações sobre esse
tema. Além disso, foi observado que apesar de uma discreta ascendência nessa frequência de
publicação, ainda existem poucas publicações sobre esse tema.
A presente pesquisa tem como escopo contribuir para o avanço do conhecimento no tema,
apoiando novos trabalhos por meio de subsídios bibliográficos e, paralelamente, colaborar para
a conscientização da necessidade de mais publicações nesse campo.
Para estudos futuros, recomenda-se comparar esses resultados com os que forem gerados por
publicações estrangeiras, preferencialmente, de países considerados emergentes como o Brasil.
6. Referências
BALDÉ, C.P.; WANG, F.; KUEHR, R.; HUISMAN, J. The global e-waste monitor. Bonn:
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Acesso em: 29 abr. 2017.
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KUEHR, R.; WILLIAMS, E. Computers and the environment: understanding and managing
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