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Relatório sobre visitas ao setor pedagógico nos Museus do Rio de

Janeiro

Este presente trabalho foi realizado a partir da solicitação da profa. Dra. Vivian
Fonseca que ministrou as aulas da disciplina de Estágio Supervisionado II do Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas. Tal trabalho pretende analisar as possibilidades de
aplicação do ensino de história e a acessibilidade em museus localizados na cidade do
Rio de Janeiro, sendo eles: Museu Histórico Nacional (MHN), Museu da Vida Fiocruz,
Museu de Astronomia e Ciências Afins, Museu do Índio, Museu Villa-Lobos, Museu
Aeroespacial, Museu do Negro, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular também
conhecido como Museu do Folclore e Museu da Light da Energia, somados ao roteiro
pedagógico sobre a Zona Portuária do Rio de Janeiro.
Para tal, deve-se levar em consideração a importância dos museus para o
aprendizado e a construção do conhecimento como um todo, em especial, para o
conhecimento histórico. Portanto, cabe aqui fazer uma breve menção aos autores Mario
Chagas e Claudia Storino, para eles os museus agregam vários aspectos, são vistos
como “práticas sociais, antros de relação e dispositivos de narração que se constroem
por meio de espacialidades, temporalidades, imagens informações, vivências e
convivências tratadas, em simultâneo, como bens, representações e manifestações.”1
Nesse caso, trata-se de pensar a educação patrimonial nos museus, pensar de que
maneira os museus possibilitam o acesso aos visitantes, qual é a estrutura do setor
educativo, quais são as possiblidades de instrução sobre os museus dado aos
professores. Questionar qual narrativas eles pretendem transmitir ao público e de qual
forma o professor pode trabalhar variadas temáticas históricas dentro dos museus
selecionados. Sendo necessário, ver a exposição e a maneira como o museu se constitui
como fruto de seu meio histórico, assim como afirma Carina Martins Costa:

torna-se necessário historicizar os discursos produzidos pelos museus pelos


museus históricos e seus agentes para que seja possível refletir sobre os
sentidos de passado, nação, memória e, também, de povo, visitante e
educação que estão presentes nos materiais publicados.2

1CHAGAS, Mário; STORINO, Claudia. Museu, patrimônio e cidade: camadas de sentido em Paraty.
Cadernos de Sociomuseoligia, [S.l.], n. 3, june 2014.
http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/4532. Acesso em: 17 dez.
2018, p. 74.
Além disso, é preciso ter um olhar atento aos museus, aos seus objetos as formas
que se configuram, suas exposições, sua curadoria e organização, é preciso criticar,
pensar suas possibilidades. Refletir sobre sua construção e analisar qual modelo de
história e qual exemplo de nação nos é apresentado e tentar demarcar para os alunos
todas essas características e mostrar que ali é mais uma forma de se contar a história,
mas não é a única. Assim como afirma Mario Chagas, é preciso desconfiar dos museus e
da própria ciência, da noção de memória, é preciso “confiar desconfiando” não sendo
possível a existência de diálogos em meio à plena desconfiança ou confiança.3
Portanto, pretende-se analisar e apontar quais são as possibilidades de se
construir uma história, quais provocações podem ser feitas aos alunos a partir deles.
Não fazendo dos museus meros apêndices da sala de aula, mas pensando neles como
locais de construção do conhecimento. Nas palavras de Francisco Régis Lopes Ramos:

Fazer relações entre museu e educação, especialmente o ensino de história,


implica reconhecer que, na sua própria definição, o museu sempre o caráter
pedagógico – intenção, nem sempre confessa, de defender e transmitir certa
articulação de ideias, seja o nacionalismo, o regionalismo, a classificação
geral dos elementos da natureza, o elogio a determinadas personalidades, o
conhecimento sobre o certo período histórico, a chamada “consciência
crítica” (...). Tudo isso sempre se orienta por determinada postura teórica, que
pode ir dos modelos de doutrinação até parâmetros que estimulam o ato de
reflexão.4

Também se deve pensar o museu não apenas em função dos seus objetos
expostos, mas sim o papel que eles ocupam na lógica organizacional da cidade, que
obviamente foi historicamente construído, o que era antes e o que se tornou. Qual é a
relação dos moradores de seu entorno e do público em geral. Esses comentários também
se fazem pertinentes para a estruturação de um roteiro pedagógico, para pensar a cidade,
sendo os museus como um marco, pensando sempre na interferência humana na cidade
e também em como a cidade interfere nessas relações. Assim discorrer sobre os museu e
cidade como espécies de textos, que possam ler lidos e interpretados. 5 Ademais, o

2COSTA, Carina Martins. Lições de História: o passado brasileiro narrado nos guias de museus. In:
ROCHA, H. et al. Identidades, memórias e projetos políticos. Rio de Janeiro. FGV Editora, 2016, p. 105-
106.
3CHAGAS, Mario. Breves sugestões para a antropofagia do autor. In: RAMOS, Francisco Régis Lopes.
A danação do objeto: o museu no ensino de História. Chapecó: Argos, 2004, p. 8.
4RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de História. Chapecó: Argos,
2004, p. 14.
5ARAÚJO, Venessa Barboza de. A leitura da cidade e o desenvolvimento da consciência da cidade. In:
SIMAN, Lana; MIRANDA, Sonia Regina. Cidade, memória e educação. Juiz de fora, UFRJF, 2013,
passim.

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espaço da cidade é marcado por disputas, é o reflexo da “materialização do poder”,
espaço de embate entre o lembrar e o esquecer.6
Portanto, parto do entendimento que o conhecimento deve ser acessível a todos
os públicos, sejam eles jovens, crianças, idosos. Com base no documento da Declaração
De Salamanca firmado em 1994 na Espanha a Conferência Mundial Sobre Necessidades
Educativas Especiais: Acesso E Qualidade. Que vem reafirmar a Declaração Universal
dos Direitos do Homem de 1948 ao qual diz que todos têm direito a educação,
independentemente de suas diferenças, além de assegurar o acesso e oportunidades
iguais a pessoas com deficiência.7
Assim os museus devem ser acessíveis a todos os públicos, isso é, pessoas com
alguma forma de deficiência mental ou física, que necessitam de outros recursos para
além daqueles tradicionalmente utilizados. Exigindo dos curadores, do setor
pedagógico, dos professores e do museu uma enorme criatividade, além de se colocar
como um grande desafio. Dito isso, passaremos para tratar da acessibilidade nos nove
museus visitados e como se dão sua estrutura de atendimento ao público em geral e se
obtém sucesso e se conseguem alcançar outros públicos e como o fazem.

1. Museu Histórico Nacional


O Museu Histórico Nacional se constitui num dos maiores e mais antigos
museus da cidade, criado em 1922 no momento das comemorações em prol do
centenário de independência do Brasil. Ele tem em sua constituição uma árdua tarefa,
tem como objetivo central a construção – por meio de seu acervo – de uma história
nacional comum. O Museu detém cerca de cinco salas principais que compõem sua
exposição permanente, que fora remodelada entre 2005 e 2010. A exposição permanente
- de caráter cronológico – é marcada por leituras clássicas sobre a história do Brasil a
partir de divisões como período colonial, imperial e republicano.
Carina Costa fez considerações sobre o material guia produzido pelo MHN na
década de 50, algumas das características da narrativa histórica contida no livro poderia
ainda ser atribuída a sua atual exposição. A autora aponta para o destaque feito ao
período imperial, como uma herança portuguesa, cujos o valor deve ser reconhecido

6CHAGAS, Mário; STORINO, Claudia. Op. cit. p. 75


7DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e Enquadramento da Acção na Área das Necessidades Educativas
Especiais. Salamanca, Espanha, editado pela UNESCO, 7-10 de Junho de 1994, passim.

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pela a república, estabelecendo relação entre colônia, império e república, por fim, entre
Portugal e Brasil.8
A nova direção é esforçada e tenta diversificar as maneiras de se contar a história
nacional, apesar das dificuldades em mudar uma exposição de grande porte tentam
destacar a presença feminina e negra na história brasileira. Outro ponto de destaque é o
esforço para a participação e visitação do museu pelo público em geral, principalmente
através de atividades realizadas chamadas de “bonde e bondinho da história”. As duas
tem como objetivo a realização de uma visita com temáticas específicas a exemplo das
pinturas históricas, a presença feminina ou a presença das religiões de matrizes
africanas.
Na lojinha do museu podem encontrados a venda alguns livros infantis de
caráter pedagógico sobre algumas salas de exposição do museu, entre elas temas como
da exposição de automóveis e moedas. Material que pode ser útil para o trabalho
docente, assim como aponta Carina Costa que diz que esse tipo de material,
especialmente os guias, são materiais pertinentes para trabalhar as ideias pedagógicas
presentes em sua concepção e produção, pensando em determinado público.9
O museu abre amplas possibilidades de tratar questões históricas, principalmente
as questões que envolvem a história do Brasil e as relações como seus colonizadores
portugueses e as relações com a Inglaterra. Pode-se trabalhar e desconstruir a ideia de
ciclos econômicos, tratar dos diferentes momentos históricos (colônia, império e
república), questionar a presença e/ou ausência de mulheres, negros e indígenas. Além
de pensar de que forma o museu constrói uma história nacional comum, quais
personagens e regiões ganharam destaque.
No que tange a acessibilidade, deve-se destacar que o prédio é tombado e que a
realização de obras estruturais são difíceis, apesar disso o prédio dispõe de elevadores o
que facilita a locomoção de cadeirantes e de pessoas que tinham dificuldade de subir
escadas. Existe também ambientes sonorizados que permitem que os visitantes tenham
uma experiência auditiva e sensorial. Um dos pontos mais interessantes é a existência de
réplicas, normalmente miniaturas, de objetos da exposição, o que permite que uma
pessoa cega consiga sentir aquilo que foi representado em quadros ou objetos que ficam
protegidos por vidros. Além disso, vários objetos têm suas legendas também em braile,

8COSTA, Carina Martins. Op. cit. passim.


9Idem.

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a equipe também dispõe de um interprete de libras para acompanhar os visitantes em
visitas guiadas.

2. Museu da Vida Fiocruz


Localizado na Fundação Oswaldo Cruz e criado em 1999, o Museu da Vida se
apresenta como um museu diferenciado dos demais museus, já que é dividido em várias
partes com características diferentes que constituem todo, são locais com diferentes
espaços e que fazem os visitantes circularem por uma grande área, incluindo um passeio
de “trenzinho”. Sendo um museu da vida, há uma proposta temática pautada pela
relação de diferentes áreas do saber, com a história, a biologia, a matemática e a física,
ou como eles definem: aprender sobre ciências, saúde e cultura. Em todos os espaços
(contando com seis no total) existe ao menos um instrutor especializado naquela
temática, sempre atenciosos.
O local dispõe de uma estrutura diferenciada, especialmente no que tange ao
envolvimento dos visitantes, chamando a atenção dos alunos, principalmente das
crianças. Além dos objetos expostos, o Museu também conta com vários recursos
lúdicos como o uso de imagens, uso de jalecos interativos, além de diversos outros
objetos interativos que formam blocos entre outros.
No que tange ao ensino de história o ponto principal é a visita ao Castelo de
Oswaldo Cruz, onde é trabalhada a história de Oswaldo Cruz e também das medidas e
avanço tecnológicos a partir de questões sanitaristas. Portanto, se torna interessante
trabalhar aspectos como as reformas Pereira Passos e Rodrigues Alves, a Revolta da
Vacina, concepções de saúde de higiene no século XX. Como também a história do
bairro de Manguinhos, antes de ser cortado pela Avenida Brasil, além de falar sobre a
arquitetura eclética do prédio de inspiração mourisca. Ademais, há outras possibilidades
de uso como história da ciência, o principal exemplo é a presença de uma câmara
escura.
Também são oferecidos bons recursos para os professores que queiram levar
seus alunos, visto que a instituição oferece ônibus. Além de algumas exposições
contarem com um material específico, como no caso da exposição temporária de
prevenção ao câncer, em que o visitante pode levar consigo quadrinhos como
informações sobre tais doenças.
No que tange a acessibilidade, há dificuldade de circulação de pessoas com
deficiência física em diversos ambientes a exemplo do castelo mourisco que não detém

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elevadores. Mas os pontos positivos se devem a presença de interprete em libras e ao
acompanhamento de maneira geral de instrutores o que possibilita que pessoas com
necessidades especiais tenham mais atenção, como grande parte da exposição é
interativa e pode ser tocada facilita o contanto e o interesse de pessoas com diversos
tipos de deficiência intelectual como o autismo e síndrome de Donw.

3. Museu de Astronomia e Ciências Afins


Localizado em São Cristóvão e como o título já diz, é um museu que tem
sobretudo interesse na propagação das ciências de uma forma geral. O prédio de caráter
histórico detém grande número de peças expostas, e painéis que contam a história das
ciências. Eles recebem grande número de visitantes de escolas públicas. O local oferece
um encontro de assessoria ao professor e também o que chamam de Visita Escolar
Programada que duram cerca de 2h 30m com visitas livres e intermediadas, onde podem
existir as trilha “Onde vivemos?” e “Por onde vamos”.
Existe ainda material pedagógico que fica disponível no google drive da
instituição. As trilhas têm caráter multidisciplinar, buscam fazer com que os alunos
reflitam sobre as conexões entre as áreas da física, química, sociologia e biologia, no
intuito de que o aluno conheça e questione a sua própria realidade. E de maneira a
destacar a ciência como uma construção cultural, a partir de aspectos históricos e sociais
da constituição da ciência.
O local dispõe de estrutura pensada para atender e prender a atenção das
crianças, com passeio guiados chamados de trilhas educativas além de material para os
professores. Mas no que tange a acessibilidade, não há muitos recursos disponíveis, não
vimos nenhum tipo de legenda em braile ou outro tipo de adaptação didática, o museu
acaba ficando no clássico dos objetos expostos.
Assim como diz o título o museu é voltando para a astronomia e ciências, mas
suas exposições podem ter boas contribuições para a área da história, sobretudo ao que
diz respeito a temáticas como as revoluções científicas e o avanço tecnológico, também
pensar tecnologias de localização no espaço e como essas descobertas possibilitaram
aos homens conhecerem outras partes do mundo. Além disso, incentiva aos alunos
perceberem como se desenvolveu e desenvolve a ciência no Brasil. O prédio também
histórico constitui numa boa análise, principalmente de sua relação com os prédios do
entorno, já que está localizado num bairro nobre onde viveu a família imperial.

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4. Museu do Índio
O Museu do Índio se encontra como um caso peculiar em relação as demais
instituições visitadas, pois não está aberto à visitação desde 2016 devido a uma
ocupação indígena que ocorreu no local o que levou ao seu fechamento por data
indeterminada para o público geral. Com o local desocupado, exigiu-se da instituição
determinados alvarás que impedem seu funcionamento da instituição até o determinado
momento. O que nos remete ao descaso do poder público de manter fechado um local
poderia estar servindo à população.
Fora aos problemas, os funcionários da instituição continuam a pleno vapor,
apesar de não existir um setor educativo, há um serviço de atividades culturais. Estes
foram bem receptivos e não deixam a instituição ficar parada mesmo que ela não esteja
de fato aberta ao público em geral, o atendimento aos pesquisadores se mantém, entre
outros serviços. Dito isso, eles adotaram um sistema de museu itinerante levando
diversas peças como fotografias, jogos, objetos confeccionados pelos indígenas a
diversas escolas.
De mais a mais, os professores também podem realizar empréstimos de parte
desse acervo para levar em suas aulas, podendo levar jogos, bonecas Carajás e outros
objetos. A maioria dos objetos são confeccionados a pedido do museu, a exemplo do
jogo didático chamado varal da história, também há fotografias de tamanhos variados.
A partir do que observei nos objetos que ficam para o empréstimo aos
professores, pude notar que o museu contribui e muito para aulas sobre história
indígenas e serve principalmente para quebrar com algumas ideias de senso comum para
de os indígenas “são todos iguais”. Dessa forma, se pode construir diferenciações,
pensar quais grupos produzem quais tipos e materiais, entre outras possibilidades. Não
pude examinar a exposição do museu em si, mas os funcionários afirmaram não existir
um projeto sobre a acessibilidade na instituição, mas vale ressaltar que o material tátil
contribui para o aprendizado de cegos e também funciona muito com relação aos
deficientes intelectuais.

5. Museu Villa-Lobos
O Museu Villa-Lobos está localizado na antiga casa do renomado músico, o
local é pouco conhecido é foi a menor instituição visitada. Possui apenas três salas de
exposições, algumas delas com recursos de áudio e vídeo e outra com chocalhos que

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podem ser manuseados pelos visitantes. Na verdade, o número de peças expostas é bem
pequeno, especialmente se comparados aos outros museus.
Apesar do pouco espaço o setor pedagógico é esforçado e tenta manter o local
em movimento, existindo de atividades mediante agendamento. Há grande número de
visita de escolas, principalmente daquelas próximas a região, no dia que estive na
instituição, uma escola estava fazendo visitação no local guiadas por uma das pessoas
que fazem parte do setor educativo.
O local tem como objetivo principal a inserção das crianças com a música,
introduzindo-as em seus primeiros estudos e narrar a trajetória desse importante
personagem da história brasileira. Nesse intuito, o local tem espaço reservado para
apresentações feitas por estudantes de músicas de diversas escolas que também são
abertas ao público, o que é chamado de miniconcerto didático. O local distribui ainda
material educativo para as crianças e jogos como o jogo da memória musical e
musicalização. Dentre as exposições existe uma de caráter indianista e temas voltados
para a natureza brasileira. O local faz parte do circuito de museus de Botafogo e
também de Villa-Lobos. As crianças recebem um material interativo, o Almanaque do
Tuhu (de 2013) que propõe atividades e faz uma representação de Villa-Lobos na
infância e em desenho. Já para o professor há um material produzido no mesmo ano,
uma pequena revista composta por artigos de diversos autores que buscam transmitir as
relações entre o museu, a escola e a música brasileira.
O local permite ao professor trabalhar com questões sobre a história da música e
a importância de Villa-Lobos para a história nacional, servindo para chamar atenção
para aspectos culturais da história brasileira. Ademais a casa que abriga o museu é
característica do século XIX, pode servir como roteiro para pensar a história da cidade e
do bairro, discorrer sobre a lógica organizacional do bairro no século XIX em paralelo
com a atualidade. O setor educativo é composto por duas pessoas que fazem
acessibilidade através da mediação da visita, o museu precisa de várias adaptações, pois
a pequena escada e os espaços estreitos dificultam a circulação de cadeirantes e poucos
dos objetos das exposições receberam alguma adaptação.

6. Museu Aeroespacial
O Museu Aeroespacial tem caráter diferenciado dos demais por ser um museu
controlado pela aeronáutica, tendo, portanto, caráter de história militar. Onde alguns
aspectos de cunho nacionalistas ficam mais evidentes. O museu localizado no Campo

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dos Afonsos, pretende contar a história da aviação no país, em especial, da aviação
militar.
O local é bem grande e a maior parte das exposições estão localizados em
galpões, as peças que mais chamam atenção são os grandes aviões de marcam décadas
diferentes. Além disso, outros pontos de destaque é a presença de aviões nos conflitos
bélicos e objetos relacionados como armas e itens da participação brasileira na Segunda
Guerra Mundial. Além de fazer grandes ressalvas a vida do pai da aviação, Santos
Dumont. Um dos pontos mais interessantes é a presença de uma sala exclusiva para
pensar a participação da mulher na aviação, esta, apesar de estar presente desde do
início da aviação brasileira, tem mais destaque na contemporaneidade.
Parte do museu está fechado para a visitação pois passa por reformas devido a
estragos causados por fortes chuvas. O local dispõe de visita guiada que busca narrar a
história da aviação brasileira através das peças. Estão disponíveis para as crianças gibis
da Turma da Monica que falam sobre atitudes que parecem pequenas, mas que podem
atrapalhar um voo e causar acidentes, como o uso de pipas com cerol e lazer.
O Museu é interessante e pode ser problematizado das mais diversas formas,
podem ser levantadas questões a respeito da história da aviação, da disputa histórica
entre Estados Unidos e Brasil representadas pelos irmãos Wright e Santos Dumont, ou
seja, pensar a histórica como um constante embate e disputa. Trabalhar a presença
feminina na aviação, pensar mudanças tecnológicas e a utilização de aviões em guerra e
a participação brasileira na segunda Guerra Mundial através da Força Expedicionária
Brasileira (FEB). Tratar da participação de instituições militares na construção de uma
identidade nacional brasileira, sempre alertando para as possíveis consequências de um
nacionalismo exacerbado. No que tange a acessibilidade o museu deixa a desejar,
detém elevadores, mas pouco material pensando nesse sentido.

7. Museu do Negro
O Museu do Negro carrega uma característica importante já presente em seu
título, conta a história da presença negro no Brasil, o negro que por diversas vezes foi
segregado na história do que viria a se transformar o Brasil, ou que em determinados
momentos teve pouca atenção da historiografia brasileira. Sendo assim necessário à sua
valorizado e que se torne sujeito da história e não mero coadjuvante.
O Museu foi abrigado por uma igreja e se encontra no segundo andar da
Imperial Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, era

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no seu início ainda no século XVII, foi a primeira irmandade de negros e que abrigava
escravos fugidos e que compravam escravizados com objetivo de libertá-los. Por isso,
nada mais justo que o local permanecesse como um ponto de valorização da história
negra, nesse caso, em forma de museu.
À primeira vista, percebe-se que o local recebe pouca verba, o prédio é tombado
o que dificulta determinadas modificações, mas que tudo isso é compensado por muito
esforço e criatividade por aqueles que trabalham lá. O museu detém variados número de
peças, grande parte delas de caráter iconográfico, a maioria são reproduções de
litografias de artistas viajantes, que carecem de legendas de informações como data e
autoria, além de outros objetos como hastes de ferro. Há uma dificuldade de se expor de
forma mais aberta, peças ligadas a religiões de matriz africana, visto que o museu está
localizado em cima de uma igreja católica, o que feito de maneira sutil em algumas
peças.
Outro ponto interessante são exposições temporárias que são realizadas, alguns
dos quadros expostos foram feitos por alunos menores infratores, que tem uma chance
de tomar outro rumo em suas vidas através da arte. O local também recebe lançamentos
de livros e outros grupos de trabalhos como um grupo de mulheres negras. Assim o
museu pode ser trabalhado na chave de uma relação passado e presente, já que muitas
das peças retratam o passado histórico sofrido da escravidão africana no Brasil e
também levantam outros aspectos culturais como as comidas, vestimentas e religião. E
ao mesmo tempo valorizar o negro, sua história e formas de resistência, valorizando sua
produção e seus trabalhos na atualidade. Dessa forma, o museu contribui para o
empoderamento do aluno negro como também contribui para uma educação anti-racista.
O museu também tem caráter itinerante, o grupo faz visitas a escolas
principalmente de regiões carentes, levando parte de seu acervo e também materiais
com representatividade e personagens negros. Mas no que tange a acessibilidade o
museu falha, sendo esta uma crítica do próprio instrutor, já que o local já falou prêmios
por acessibilidade. O local só pode ser acessado por escadas o que dificulta a presença
de qualquer pessoa com dificuldade de locomoção. Não há legendas em braile ou outras
formas de objetos adaptados, a mediação de grupos com necessidades especiais deve ser
feito pelo instrutor com conhecimento em libras.

8. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

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Também conhecido como Museu do Folclore, o museu tem como um dos
grandes preceitos quebrar estereótipos sobre o que é cultura popular e o que é folclore.
O museu tem um acervo de peças muito diversificado, sendo a maioria dos artefatos
objetos confeccionados no século XX. Em seu acervo podem ser encontradas peças de
caráter religioso, relacionados a diversas regiões, também há grafite, hip hop, cordéis,
brinquedos, fantoches, entre outros.
A curadoria do museu escolheu uma forma de organização diferenciada, já que
optaram por não dividir seu acervo por data ou região, ou religião. Todos esses objetos
estão próximos um dos outros, dando a sensação que a cultura popular brasileira é vasta
e diversa e que diferentes elementos estão em constante contato um com os outros.
Nesse aspecto, são pertinentes as palavras de Marília Xavier Cury que coloca o Museu
como um espaço onde a diferença é evidenciada, também é onde surge o conflito, mas
que é tratado de forma democrática.10
Acredito que a visita ao museu seja proveitosa em vários aspectos, seja para
trabalhar a cultura popular de caráter urbano ou uma das lendas presentes na região
Norte do Brasil, ou ainda os costumes de várias regiões diferentes, mas que convivem,
dialogam e trocam características e traços. Auxiliando na formação cidadão, e o
combate a preconceitos, ao racismo, a intolerância religiosa, a xenofobia, entre outros.
O museu recebe constante visitas de escolas ou de turmas universitárias, um de
seus pontos importantes é a visita-aula oferecida para os professores uma vez no mês,
que tem como principal instituto instruir professores sobre as exposições do museu e
descontruir preconceitos previamente estabelecidos. Capacitá-los para eles possam
trabalhar com suas turmas pontos chaves da exposição em concordância com as aulas
ministradas na escola. O local também mantém um acervo itinerante e fazem
empréstimos do material as escolas. Para os professores foi preparado um livro bem
interessante contendo informações sobre o museu e sua relação com a escola, além de
fotos de objetos expostos que podem ser usados em sala de aula.
A acessibilidade no museu é problemática, já que grande parte do acervo está
disponível no segundo andar e o prédio não dispõe de elevador e quase não tem
legendas em braile, portanto poucas foram as alternativas encontradas nesse sentido em
tal instituição.

10CURY, Marília Xavier. Museus e memórias. Que memórias? Que museus? Cadernos Tramas da
memória, n 1, 2011, p. 132.

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9. Museu da Light da Energia
O Museu da Light da Energia é um museu de cunho privado, mantido por uma
das empresas responsáveis pela distribuição de energia na cidade. É um museu pequeno
com poucos objetos expostos, a visita é feita sempre intermediada por um guia e em
horários pré-determinados pela instituição. O local conta atividades interativas e
tecnológicas, com destaque para uma maquete de lego da cidade que representa a
distribuição de energia, jogo interativo de computador sobre o consumo consciente de
energia. Livros ilustrados digitais, além de uma esfera de plasma que chama atenção de
crianças e adultos.
O museu trata principalmente de aspectos relacionados a física (apesar disso,
mantém uma equipe interdisciplinar, com pessoas formadas em letras, geografia, entre
outros.) Tendo como principal objetivo trabalhar com as crianças quais são as diferentes
formas de obtenção de energia, com destaque a diferenciação entre as energias renoveis
e as poluentes, além de destacar quais são os problemas gerados pelos famosos “gatos”
na energia. No que tange ao ensino de história, o museu não oferece possibilidades tão
abrangentes, vejo como principais possibilidades tratar aspectos da chegada da energia e
da luz elétrica no Brasil e no Rio de Janeiro e como essas alteraram as vidas das
pessoas, frisando datas para que o aluno consiga se deslocar temporalmente sem
anacronismos. Eles também oferecem oficinas aos professores uma vez no mês e
mantém o projeto Light nas Escolas para o consumo consciente.
O local recebe grande número de visitantes vindos de diversas escolas, que são
atendidos por uma variada equipe. No dia da visita, havia um grupo de alunos com
necessidades especiais chegando no local para a realização da visita. O museu fica no
térreo, o que facilita a locomoção de pessoas com deficiência física, já a equipe inclui
pessoas com atendimento em libras, apesar de não ter legendas. Por ser interativo e
sempre guiado por instrutor, o acesso para pessoas com necessidades especiais acaba
sendo facilitado. O local costuma ter material pedagógico, mas no momento de nossa
visita estava em processo e elaboração, o antigo já não podia ser utilizado por questões
de direito de imagem.

10. Roteiro pedagógico pela Zona Portuária do Rio de Janeiro


O roteiro pedagógico pela Zona Portuária foi ministrado pela professora Vivian
Fonseca e se demonstrou uma importante ferramenta pedagógica para o ensino de
história e para fazer com que os alunos reflitam sobre o meio em que eles vivem e que a

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cidade que eles habitam é uma construção história com várias camadas de historicidade.
Além de tudo um conflito um espaço de disputas e interesses.11
Ademais, nesse aspecto a realização do roteiro permite ao aluno o contato com
espaços da cidade para eles desconhecido ou conhecidos, passam a ver a região sobre
uma nova ótica. Podem observar o movimento da cidade, seus transeuntes, o comércio,
os museus da região e como as mudanças transformaram esse espaço.
Assim o aluno pode perceber questões como memória e esquecimento, a medida
que a região tem diversos marcos históricos que disputam espaços, muitas vezes
passando por cima de uma outra narrativa. Assim foi a construção do Jardins Suspensos
do Valongo durante o governo Pereira Passos em cima de uma região de mercados de
escravos, ou ainda da construção do cais da imperatriz em cima do caís do Valongo
(uma das regiões com intenso fluxo de chegada de escravizados), numa clara tentativa
de apagamento.12
Ou ainda perceber a releitura desse espaço que é feito a partir das obras do
governo Eduardo Paes, que buscou “revitalizar” a região e buscou dar ênfase turística a
partir de dois Museus: o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio, além da
circulação do VLT. Ainda ressaltando pontos da memória e da resistência negra a partir
da região chamada de pequena África. Por isso cabe levantar aos alunos a seguinte
questão: quantas cidades diferentes cabem numa mesma cidade? Qual mudanças essas
novas construções trouxeram para os cariocas e os antigos moradores da região? Qual a
importância de se eleger uma região para marcar a influência da presença negra? Entre
inúmeras outras questões.

Considerações Finais
A partir das visitas aos museus é possível conceber que ainda há muito a se
fazer, isso em vários aspectos, vários deles precisam de adequações em sua linguagem,
em suas exposições, na representatividade de personagem que foram invisibilizados,
mas que precisam ter lugar de fala, ou ainda os museus se tornarem conhecidos dos
alunos e dos grandes públicos, além do problemas de acessibilidade. Quem pode estar
no museu? Quem tem ferramentas suficientes para tomar parte e conhecimento daquilo
que foi exposto?
11ARAÚJO, Venessa Barboza de. Op. cit. passim.
12COUTINHO, Leila Cristina Gibin. De comércio a tráfico: as mudanças na província do Rio De Janeiro
a partir de 1831. Ano 2, N.º 2, pp. 11-22, jun. 2018. Disponível em:
http://docs.wixstatic.com/ugd/220b2a_965d2022e9b5490aa679cfd1ebbf5889.pdf. Acesso em 24 dez.
2018, p. 20.

13
Tais mudanças não são simples, apesar de urgentes, demandam trabalho, equipes
estruturadas, verbas, entre outros aspectos. Sendo assim, são mudanças que podem levar
anos, principalmente nos museus de grande porte, a exemplo do Museu Histórico
Nacional e do Museu Aeroespacial. Apesar disso, todos são muito úteis ao ensino de
história, nas mais diversas temáticas, seja de forma a fazer críticas ou de maneira
elogiosa a curadoria da exposição. Mas obviamente, esses objetos não são dados, cabe
ao professor preparar a turma conforme a temática que ele pretende instigar e também
conhecer previamente o museu parar saber conduzi-los nas temáticas propostas e
sempre dando voz aos alunos. Para que a visita ao museu não se torne apenas um dia de
passeio, mas um aprendizado para a vida dos alunos.
No que tange a acessibilidade ainda há muito a ser feito, muitos desses museus
possuem escadas ou detém salas estreitas onde o acesso é dificultado para pessoas com
dificuldade de locomoção, idosos, cadeirantes. O que pode gerar situações
constrangedoras ou até mesmo impedir o acesso desses grupos, mais deve-se pontuar
que alguns museus possuem elevadores (casos do MHN e Museu Aeroespacial). Nos
casos de outras deficiências físicas como surdez e cegueira, também tem o acesso
dificultado, pois poucas instituições possuem legendas em braile e mesmo assim
carecem de algo que aponte para a existência de tais legendas e poucas vezes existem
explicações dos objetos por meio de áudio. Assim, os visitantes acabam dependendo
muito de um guia e de alguém que descreva os objetos para ele, um diferencial é o
MHN que tendem réplicas que alguns objetos expostos que podem ser tocados, assim é
outra maneira desse grupo perceber a exposição. E no caso dos surdos, poucas
instituições detém interpretes de libras, a exemplo do Museu da Light da Energia.
Há ainda o caso de pessoas com deficiências intelectuais, deve-se pensar novos
modos de transmissão de conhecimento muito abstratos. Para esses alunos, olhar um
objeto através de um vidro pode ser extremamente cansativo e desinteressante, é
necessário aguçar a curiosidade. Nesse sentido, as exposições mais interativas como o
Museu da Vida levam vantagem devido a sua abordagem diferenciada, já que os alunos
podem sentar no chão, se envolver em experimentos físicos, ou jogar com aplicativos
educativos em um tablet. Nos demais é necessário um esforço maior do guia e/ou
professor para prender a atenção do aluno. Apesar das críticas, sabemos que essa
adaptação não é simples e muito menos rápida, é imprescindível ter criatividade para
fugir do obvio e só fazer o básico. Ademais é importante o maior investimento do poder
público em cultura, educação e acessibilidade.

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Considero que as visitas realizadas foram muito proveitosas, pois possibilitaram
a visita em museus em que ainda não havia estado, como as aulas e discursos foram
pertinentes para pensar as exposições, a curadoria e a narrativa que os museus querem
montar sob uma nova perspectiva, principalmente de forma crítica. E pensando como
diversos museus com diferentes abordagens e temáticas podem ser pertinentes ao ensino
de história e como podem servir de base para a construção de alunos perceptivos, que
note a força da representação presente nos objetos e que seja um cidadão críticos em
relação ao mundo que vivem. E isso é válido para todos os alunos, tenham eles ou não
necessidades especiais, a mensagem quem te ser acessível a todos.

Referências Bibliográficas

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da cidade. In: SIMAN, Lana; MIRANDA, Sonia Regina. Cidade, memória e educação.
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CHAGAS, Mário; STORINO, Claudia. Museu, patrimônio e cidade: camadas de


sentido em Paraty. Cadernos de Sociomuseoligia, [S.l.], n. 3, june 2014.
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CHAGAS, Mario. Breves sugestões para a antropofagia do autor. In: RAMOS,


Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de História. Chapecó:
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DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e Enquadramento da Acção na Área das


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de Junho de 1994.

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Chapecó: Argos, 2004.

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