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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ENGENHARIA MECÂNICA

Antonio Machado Neto


João Fernando Wonsovitz
João Vitor Zimermann Mendes
Nícolas Kirchhoff Alves
Pedro Eredia Araújo

ENERGIA NUCLEAR

CURITIBA
2018
Antonio Machado Neto
João Fernando Wonsovitz
João Vitor Zimermann Mendes
Nícolas Kirchhoff Alves
Pedro Eredia Araújo

ENERGIA NUCLEAR
Seminário apresentado para
obter nota parcial referente
à disciplina de Tecnologia
Química, ministrada por:
Profª Drª Cláudia Marino.

CURITIBA
2018

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SUMÁRIO

1. Introdução…………………………………………………………………………….……6
2. História………………………………………………………………………………….….7
2.1.​​ A descoberta da radioatividade…………………………………………………....7
2.1.1. ​O modelo atômico de Rutherford…………………………………….…8
2.2. ​A descoberta da teoria constante e quântica de Planck………………………..8
2.3. ​A teoria da relatividade de Einstein​…………………………………………...9
2.4. ​O modelo atômico de Bohr​……………………………………………………..9
2.5. ​A descoberta do nêutron​……………………………………………….……...10
2.6.​​ A descoberta da radioatividade artificial​…………………………….……...10
2.7. ​A descoberta da fissão nuclear​……………………………………….………10
2.8. ​A bomba atômica​………………………………………………………………...12
2.8.1. ​O projeto Manhattan​………………………………………………….12
2.9. ​Energia nuclear após a Segunda Guerra Mundial……………………...15
2.9.1. ​O tratado de não proliferação de armas nucleares…………..15
2.9.2. ​O Plano Marshall​………………………………….…………………..16
2.9.3. ​A primeira bomba atômica soviética…………………………....17
2.9.4. ​Tsar Bomb​……………………………………………………………….17
3. Geopolítica​………………………………………………..……………………………..19
3.1. ​O início da produção de energia​………………………………………………19
3.1.1. ​A Guerra Fria​…………………………….……………………………..19
3.1.2 ​A crise do petróleo​……………………………………………………..20
3.2. ​Aspectos positivos de uma usina nuclear​……………………………………21
3.3. ​Aspectos negativos de uma usina nuclear​…………………………………..23
3.4. ​Energia nuclear no mundo​……………………………………………………...25
3.4.1. ​Um panorama geral​……….…………………………………………..25
3.4.2. ​Energia nuclear na França​…………………………………………..28
3.4.3. ​Energia nuclear nos Estados Unidos​………………………….…..28
3.4.4. ​Energia nuclear no Japão​……………………………………………29

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3.4.5. ​Energia nuclear no Brasil​………………………………………..…..30
3.4.5.1. ​Angra I​………………………………………………………..32
3.4.5.2. ​Angra II​……………………………………………………….34
3.4.5.3. ​Angra III​…………………...………………………………….35
4. Definição de energia nuclear​………………………………………………………...38
4.1. ​As interações fundamentais da natureza​……………………...…………….38
4.2. ​As forças nucleares forte e fraca​………………………………………………39
4.3.​​ A física da radioatividade​………………………………………………………..40
4.3.1.​​ O tempo de meia-vida​……………………….………………………..40
4.3.2.​​ A datação por Carbono-14​…………………………………………..42
4.4.​​ Fissão nuclear​……………………………………………………………………..44
4.5.​​ Fusão nuclear​……………………………………………………………………...46
5. Aplicação da energia nuclear na usina e funcionamento…………………….48
5.1.​​ Análise da usina nuclear​………………………………………………………...​48
5.1.1.​​ Reator BWR​…………………………………………….……………….50
5.1.2. ​Reator PWR​……………………………………………….…………….51
5.2.​​ Rejeitos​………………………………………………..……………….……………57
5.3.​​ Comparação​…………………………………………………………………...…..60
6. Aplicação da energia nuclear​………………………………………………..….…...60
6.1.​​ Medicina Nuclear​…………………………………………………………..….….60
6.1.1.​​ O Tecnécio​………………………………………………………..…….61
6.2.​​ Exemplos de utilização​………………………………………………………….63
6.2.1.​​ Cintilografia​…………………………………………………………….63
6.2.2.​​ Tomografia Computadorizada​…………………………………...…64
6.2.3.​​ Ressonância Magnética Nuclear​…………………………….…….64
6.2.4. ​PET-CT​………………………………………………………………….65
6.3.​​ Medicina Nuclear no Brasil​…………………………………………………….66
7. Conclusão​……………………………………………………………………………….67
8. Referências​……………………………………………………………………………..68

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1. Introdução

Segundo a física, energia é a capacidade de realizar trabalho, o que quer dizer


isso? Trabalho é força multiplicada por deslocamento, logo energia é responsável por
fazer desde uma luz acender a um avião decolar, um forno esquentar a uma planta
crescer. Energia é um conceito muito amplo por isso é dividida em várias áreas dentre
elas a Energia mecânica, térmica, elétrica, química e nuclear são as principais.
A energia nuclear é uma forma de energia descoberta muito recentemente em
comparação com as demais, enquanto a energia eólica já era usada antes de Cristo,
por exemplo, a nuclear começou a ser estudada apenas no fim do século XIX. Assim
como o petróleo hoje, já foi utilizada como instrumento de intimidação demonstrando
poderio militar e tecnológico, atualmente a energia nuclear é mais utilizadas para fins
científicos, de geração de energia e tratamento de doenças do que para produção de
armas. Ainda que não seja tão importante quanto já foi, ainda cumpre um papel
importante no mundo, pois muitos dos aspectos que envolvem a energia contida no
núcleo dos átomos não são bem compreendidos e alguns ainda podem ser uma
completa incógnita.
Neste seminário serão abordados a história da energia nuclear desde a
descoberta da radioatividade até conflitos geopolíticos em torno de programas
nucleares. O início do uso de energia nuclear, os conflitos que influenciaram este
crescimento. Os primeiros reatores reatores , civis e militares. Além disso, os
mecanismos nucleares e as aplicações dos elementos radioativos e seus isótopos
serão, de forma dinâmica, explicados.

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2. História

2.1. A descoberta da radioatividade

Em 1896, o físico francês Antoine-Henri Becquerel descobriu que certas


substâncias, como sais de urânio, produzem radiação penetrante de uma fonte
desconhecida. Esse fenômeno era conhecido como radioatividade.
Becquerel estava trabalhando em seu laboratório e deixou
descuidadamente alguns sais de urânio ao lado de algumas placas
fotográficas que foram posteriormente expostas, apesar de serem
protegidas da luz. Após a pesquisa, ele percebeu que o falecido
foram as placas foi o urânio. Graças à sua descoberta Becquerel
tornou-se o "pai da energia nuclear".
Ao mesmo tempo, o casamento francês de Pierre e Marie Curie em sua
pesquisa descobriu a existência de um outro elemento mais elevado do que a atividade
de urânio, em honra ao seu país chamaram-lhe polônio. Eles também descobriram um
segundo elemento chamado rádio
Na sua tese de doutorado, Marie Curie escolheu o tema raios urânicos, radiação
que havia sido descoberta pelo físico inglês Becquerel. Em seu trabalho, ela conseguiu
provar que o óxido de urânio é um mineral capaz de eliminar a radiação armazenada
nos átomos.
A partir dessa pesquisa, Marie Curie descobriu a radioatividade, já que
Becquerel não prosseguiu com seus estudos com o urânio. Marie e Pierre Curie
continuaram a buscar outros minerais na natureza que pudessem também apresentar
atividade radioativa. Nessas pesquisas, eles desenvolveram uma técnica laboratorial
denominada cristalização fracionada, que consiste em aquecer um material a elevadas
temperaturas e resfriar gradativamente.
No ano de 1898, Marie e Pierre Curie apresentam ao mundo científico a
descoberta de dois novos elementos químicos, o polônio e o rádio. Com essas

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pesquisas, Pierre, em particular, verificou que a radiação podia matar células de tecido
doente, ou seja, iniciou o estudo da radioterapia.
Após a morte de Pierre, em 1906, Marie passou a lecionar e também continuou
a realizar diversas pesquisas. Uma delas, extremamente importante, foi o
desenvolvimento de um radiógrafo, um equipamento para a realização de radiografias
que foi utilizado durante a Primeira Guerra Mundial
A natureza de três elementos é realmente importante
para o desenvolvimento da energia nuclear. Atualmente,
todas as usinas nucleares estão virtualmente usando
urânio como combustível nuclear. Como resultado das
investigações de Rutherford e Soddy, descobrimos que o
urânio e outros elementos pesados emitem três tipos de
radiação: alfa, beta e gama. Os dois primeiros foram
compostos de partículas carregadas, provando que as
partículas alfa eram núcleos de hélio de átomos e
partículas beta eram elétrons. Além disso, verificou-se que a radiação gama era de
origem eletromagnética.
2.1.1. Modelo atômico de Rutherford

A descoberta da natureza da radiação permitiu que Rutherford estudasse a


estrutura da matéria. Em seus experimentos, ele poderia inferir que o átomo consistia
de uma área central positiva onde toda a massa estava concentrada e os elétrons
girando em órbitas ao redor do núcleo, como um pequeno sistema solar. Isso
significava que o átomo não era sólido como eles acreditavam.

2.2 ​ ​A descoberta da teoria constante e quântica de Planck

Em 1900, o físico alemão Max Planck afirmou que a energia é emitida em


pequenas unidades individuais chamadas quantum. Ele descobriu uma constante
universal conhecida como constante de Planck, representada como h.

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A lei de Planck afirma que a energia de cada quantum é igual à freqüência de
radiação eletromagnética multiplicada pela referida constante universal.
As descobertas de Planck representaram o nascimento de um novo campo para
a física, conhecido como mecânica quântica e forneceu a base para pesquisas em
campos como a energia nuclear.

2.3 ​ ​A teoria da relatividade de Albert Einstein

Albert Einstein é o cientista mais importante do século XX. Einstein propôs a


famosa equação E = mc2. Esta equação era uma equação revolucionária para estudos
futuros na física nuclear, mas naqueles dias não
estava disponível para prová-lo experimentalmente.
Assim, E representa a energia e m representa a
massa, ambos inter-relacionados pela velocidade da
luz c. Esta equação relaciona as conversões de
massa da energia, assim que poderia se supor que
ambas as entidades eram manifestações diferentes da mesma coisa.

2.4 Modelo atômico de Bohr

Em 1913, o físico dinamarquês Niels Bohr desenvolveu uma hipótese segundo a


qual os elétrons foram distribuídos em camadas distintas (ou níveis quânticos) a
alguma distância do núcleo. Assim, a configuração eletrônica dos vários elementos é
constituída.
Para Bohr, os elétrons revolvem órbitas estacionárias das quais nenhuma
radiação é emitida. Assim, o velho conceito do átomo como indivisível, inerte e
simplesmente enterrado, e a hipótese de uma estrutura complexa que mais tarde daria
manifestações de energia complicadas.

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2.5 A descoberta do nêutron

A descoberta do nêutron foi feita por James Chadwick em 1932. Chadwick


"mediu" a massa da partícula nova que deduz que era similar à massa do próton mas
com uma carga eletricamente neutra. Assim observado que o núcleo atômico consistia
de nêutrons e prótons, o número de prótons igual a elétrons.
Com sua descoberta, Chadwick conseguiu um "projétil" com características ideais para
causar reações nucleares.

2.6 A descoberta da radioatividade artificial

O casamento de Frédéric Joliot e Irene Curie foram os descobridores da


radioatividade artificial.
As conclusões do casamento Joliot-Curie baseavam-se na ideia de que a
radioatividade, até então natural, poderia ser produzida pelo homem, construindo
elementos radioativos por bombardeamento com partículas alfa de alguns elementos
químicos

2.7 A descoberta da fissão nuclear

Em 1938, na véspera da Segunda Guerra Mundial, uma equipe de


pesquisadores alemães no Instituto Kaiser Wilhelm em Berlim, com Otto Hahn, Fritz
Strassmann, Lisa Meitner e Otto Frisch, interpretou o
fenômeno da fissão nuclear, identificando o elemento de bário
como resultado do núcleo dividido de urânio. Primeiros
estudos sobre fissão nuclear foram realizados por Otto Hahn e
Lise Meitner, com base nos resultados obtidos pelo casamento
Joliot-Curie, que através de análise cuidadosa encontrou um

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elemento de número atômico ​intermediário em uma amostra de urânio bombardeado
com nêutrons.
Lise Meitner e Otto Frisch podem inferir que ao bombardear urânio com
nêutrons, os núcleos de urânio capturaram um nêutron e foram divididos em dois
fragmentos, emitindo uma grande quantidade de energia. Foi a descoberta da Fissão
​ U.
nuclear. Um exemplo clássico de ocorrência de fissão nuclear é a do 235​
Como a cada processo de fissão, no mínimo, dois nêutrons são liberados, a
fissão nuclear ocorre por meio de uma reação em cadeia, em que cada novo nêutron
criado colide com um núcleo de urânio, gerando uma nova fissão.

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2.8 A bomba atômica

Muitas das grandes invenções da história têm origem Militar. O caso da energia
nuclear não é uma exceção.

2.8.1. O Projeto Manhattan

Em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, Albert Einstein


recomenda ao Presidente dos Estados Unidos, F.D. Roosevelt, que desenvolva
a bomba atômica. Einstein explicou que através da pesquisa conduzida por
Enrico Fermi e Leo Szilard, nos Estados Unidos, e Frédéric Joliot e sua esposa
Irene Joliot-Curie em França, logo seria possível desencadear uma cadeia
nuclear de reação que liberaria uma grande quantidade de energia. Este
procedimento também permitiria a construção de um novo tipo de bombas.
Einstein também mencionou a escassez de reservas de urânio nos
Estados Unidos e que as minas desse mineral estavam na antiga
Tchecoslováquia e no Congo Belga. Einstein propôs a colaboração entre
cientistas e a indústria para desenvolver esta bomba atômica o mais
rapidamente possível.
Além disso, relatou que a Alemanha tinha parado a venda do urânio das
minas checas, que o Reich tinha tomado sobre. Isso poderia significar que os
cientistas do Instituto Kaiser Wilhelm também poderiam estar experimentando a
cisão nuclear.
O medo de Albert Einstein sobre a guerra nuclear foi um resultado de seu
conhecimento profundo do progresso da pesquisa neste campo. Teve que
emigrar aos Estados Unidos em 1933 da Alemanha no início da perseguição dos
Judeus.
Parte de uma carta escrita por Albert Einstein:

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Trabalho recente de E. Fermi e Szilard LS [...] deixe-me assumir que o elemento
químico urânio [...] pode se tornar uma fonte de energia muito importante [...].
Nos últimos quatro meses a possibilidade de criar uma cadeia de reação nuclear
usando uma grande quantidade de urânio aumentou. Esta reação resultaria em
grandes quantidades de energia e novos elementos semelhantes ao raio [...]
Este novo fenômeno também levar à construção de bombas [...]. Dada esta
situação, recomendo manter algum contato entre o governo e o grupo de físicos
trabalhando em conjunto sobre as reações em cadeia nucleares na América.
Uma maneira possível de conseguir isso pode ser que você possa atribuir essa
responsabilidade a uma pessoa em quem confia. Sua tarefa a este respeito
poderia ser a seguinte: [...] assegurar o fornecimento de urânio para os Estados
Unidos [...] acelerar o trabalho experimental [...] levantar fundos [...].

EINSTEINS, Albert. Carta destinada a Franklin Delano Roosevelt.

Roosevelt recebeu esta carta sem ilusão excessiva, e criou uma


comissão para assumir a responsabilidade de todas as questões mencionadas
pelo cientista.
Entre 1940 e 1941 alguns sistemas de medição continham urânio-grafite.
Glen Seaborg descobriu um elemento artificial em 1940: plutônio-239, que
poderia ser usado para o posterior fabrico da bomba atómica.
A construção da bomba foi confiada ao exército, num projeto de guerra
que custaria cerca de 2.500 milhões de dólares. O programa incluiu duas
alternativas: a separação do urânio-235 do urânio-238 ea produção de
plutônio-239 no grafite Reatores.
No dia 2 de dezembro de 1942 um grupo de físicos nucleares europeus,
que emigraram para os Estados Unidos e operado pelo físico italiano Enrico
Fermi, apresentou a primeira reação em cadeia nuclear produzida pelo homem
com a intenção de aplicar pela primeira vez a energia nuclear. O reator nuclear
usado, chamado Pile de Chicago (CP-1), era uma estrutura simples e foi
estabelecido sob o stadium do football da arquibancada na universidade de
Chicago. O combustível utilizado era o urânio, como o que Fermi usou em suas
experiências em Roma e o moderador de grafite. ( os moderadores servem para
desacelerar os nêutrons para sustentar a reação em cadeia )

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Os preparativos para esta experiência foram realizados com grande
segredo. O objetivo da pesquisa foi obter uma reação em cadeia, teoricamente
controlada, para permitir o estudo de suas propriedades e desenvolver uma
bomba atômica.
A reação em cadeia da fissão começou quando extraíram
cuidadosamente as barras de controle. Neste momento, o primeiro reator
nuclear na história da energia nuclear tornou-se operacional.
Em 1943 foram levantadas três cidades cheias de instalações de pesquisa: Oak
Ridge (Tennessee) para separar o urânio 235 do urânio 238, Hanford para o
estabelecimento de reatores nucleares e Los Alamos para construir a bomba
atômica. Robert Oppenheimer tornou-se diretor do laboratório de Los Alamos,
reunindo cerca de mil cientistas que permaneceram lá até seis meses após a
guerra terminar.
Na data de 16 de julho de 1945 foi realizado o primeiro teste de bomba
atômica de plutônio no deserto de Alamogordo (Novo México), com um sucesso
total.
As bombas atômicas de Urânio e Plutônio estavam prontas ao mesmo
tempo. A primeira bomba atômica, chamada Little Boy, consistia em duas
massas de urânio-235 que eram projetadas uma sobre a outra com explosivos
convencionais. O segundo, chamado Fat Man, consistia em uma esfera oca de
plutônio que estava desmoronando ao redor de seu centro pela ação de
explosivos convencionais. 6 de agosto de 1945, as duas bombas atômicas que
alterariam o curso da história foram abandonadas. Little Boy foi deixada cair em
Hiroshima pelo Gay Enola, e o 9 de Agosto Fat Man foi despejada em Nagasaki.

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Figura 1. “Cogumelo” proveniente da bomba “Fat Man” despejada em Nagasaki.

As condições para a construção de uma bomba atômica, em que alguns


físicos soviéticos (como Igor Vasilievich Kurchatov) trabalhou sem sucesso
durante a Segunda Guerra Mundial, foram mais rigorosas do que o necessário
para o funcionamento bem-sucedido de um reator nuclear.
A energia liberada pela detonação é distribuída aproximadamente 35% da
radiação térmica, 50% da pressão e 15% da radiação nuclear. Este processo
poderia atingir temperaturas de até 14 milhões de graus Celsius. A bomba
atômica de Hiroshima lançou 23,2 milhões de KWh.

2.9. Energia nuclear após a Segunda Guerra Mundial

2.9.1. Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares

No final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos mantiveram a


guerra pela supremacia devido ao seu considerável potencial nuclear. A
complexidade existente em torno das questões militares e civis da energia
nuclear exigia o estabelecimento de uma lei conjunta para as aplicações civis no
país ea regulação internacional em todos os níveis.
Apesar de várias reuniões internacionais terem tido lugar, os Estados
Unidos relutam em perder o seu papel e o Presidente Truman declarou: "Temos

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de nos constituir como guardiães desta nova força para impedir a sua obra
mortal e dirigi-la para o bem da humanidade".
Em 1946, o plano americano foi apresentado nas Nações Unidas,
consistindo numa libertação gradual de segredos, fábricas e bombas atómicas
em troca de controlo e inspeção internacionais.
A antiga União Soviética não concordou com esse controle, eo
representante Andrei Gromyko apresentou uma contraproposta em que a
construção de armas atômicas foi proibida e a eliminação de curto prazo
existente era necessária. Depois de vários anos de negociações, o primeiro
plano de não proliferação nuclear se tornou um fracasso.

2.9.2. O Plano Marshall

Em junho de 1947, o Plano Marshall nasceu como uma iniciativa de apoio


financeiro dentro da política dos Estados Unidos de contenção do controle
soviético. Os estados da Europa Central e Oriental foram submetidos ao Plano
Marshall, atrás do que era chamado "cortina de ferro". Este plano foi o obturador
histórico da Guerra Fria em que se produziram diferentes confrontos entre as
duas superpotências.
Anos mais tarde, os Estados Unidos construíram vários reatores de
plutônio. Em 1953 tornou-se protótipo
operacional no solo do reator Náutilos, o
primeiro submarino nuclear.( Náutilos em
homenagem ao submarino do capitão
Nemo no livro 20 000 leguas submarinas ,
do escritor francês Júlio Verne).

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2.9.3. A primeira bomba atômica soviética

Estes eventos enfatizaram a situação tensa causada pela explosão da


bomba Soviética H. A idéia para esta bomba atômica era um recipiente cilíndrico
grande com a bomba atômica em uma extremidade e o combustível do
hidrogênio no outro. O surto da bomba atômica proporcionaria uma quantidade
de radiação suficiente para comprimir e inflamar a pressão de hidrogênio.
Após os esquemas preliminares de 1951, a bomba atômica estava pronta
no início de 1952, de modo que em novembro de 1951 foi testado por
pulverização Ilha Elugelab no Oceano Pacífico. Seu poder foi encontrado para
ser 700 vezes maior que a bomba atômica de Hiroshima.
Em 8 de dezembro de 1953, os Estados Unidos decidiram ir às Nações
Unidas para denunciar o equilíbrio do terror na população mundial, alertando
que se os EUA fossem atacados com armas nucleares, a resposta seria destruir
o atacante imediatamente.

2.9.4. Tsar Bomb

Tsar Bomb​ (em russo, Царь-бомба) é o apelido ocidental para a bomba


de hidrogênio soviética RDS-220 (РДС-220) (codinome Vanya). Detonada pela
União Soviética em 30 de outubro de 1961, ​Tsar Bomb​ é o maior dispositivo
nuclear já detonado e a mais poderosa explosão provocada pelo homem na
história. Com um rendimento de 50 megatons de TNT, Tsar Bomba foi a
culminação de uma série de testes com bombas de hidrogênio realizadas
durante esse tempo tanto pela União Soviética quanto pelos Estados Unidos.
Tsar Bomb​ também era conhecido como “Kuzkina mat” (Кузькина мать) ou
“mãe de Kuzma”. Esse apelido pode se referir à promessa de Nikita Khrushchev
feita em 1960 na Assembléia Geral das Nações Unidas de mostrar aos Estados
Unidos um “Kuzkina mat” que também traduz aproximadamente “vamos mostrar
a você!”. Havia muitos outros apelidos associados com ​Tsar Bomb,​ como ​Big

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Ivan,​ ​ Project 7000, e
​ ​ Product Code 202​ (Izdeliye 202). A Agência Central de
Inteligência designou o teste nuclear Tsar Bomba como “JOE 111”.

Figura 2. Ilustração para fim comparativo entre a explosao da Tsar Bomb e da bomba
“Little Boy”.

Com a detonação da bomba os acontecimentos posteriores não são


considerados mais história e sim geopolítica, ou seja, uma análise diferenciada
pois seus efeitos continuam até hoje.

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3. Geopolítica

3.1. O início da produção de energia

3.1.1 Guerra fria

Como já apresentado, o início do uso da energia nuclear foi baseado na corrida


armamentista da Guerra Fria, com propósito totalmente militar. Essa competição trouxe
pontos negativos mas também positivos, principalmente o avanço nas pesquisas e
tecnologias à respeito de processos nucleares. Isso beneficiaria o mundo inteiro com a
construção de usinas nucleares civis, essas sem intuito militar algum (com exceção de
algumas mistas), totalmente voltadas para a produção de energia elétrica para
responder a alta demanda energética da época, que com o passar dos anos
aumentaria exponencialmente.
Foi inaugu​rado no dia 27 de junho de 1954, na atual Rússia, o primeiro reator
nuclear do mundo, em Obninsk, uma pequena cidade a cem quilômetros ao sul de
Moscou. O local tornou-se símbolo do triunfo da União Soviética e foi usada para fins
civis e militares. Além de ser a primeira usina nuclear do mundo, Obninsk foi também a
primeira a ser desativada corretamente. Por até 10 anos foi o único reator civil em
operação na União Soviética, com previsão de vida útil de operação até 1984, mas com
as demandas econômicas a estrutura só foi desativada definitivamente em 29 de abril
de 2002. O projeto e reator foram batizados de AM-1 (“Атом Мирный”, Átomo
Pacífico), com uma capacidade de operação de 6 MW seria o suficiente para 20.000
casas modernas.

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Figura 3. Primeiro reator nuclear, “Átomo Pacífico”

Com o passar do tempo os reatores nucleares de fins civis foram aparecendo.


Esses com o intuito de incrementar a oferta de energia devido às altas demandas da
crescente população mundial.

3.1.2 Crise do petróleo

A crise do Petróleo foi um dos eventos da década de 1970 que contribuiu com a
visão de um mundo interdependente no que diz respeito ao comércio e à política
internacional do petróleo e inseriu a preocupação com a demanda energética dos
países dependentes desse tipo de fonte. A Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP) foi fundada em 1968 por Arábia Saudita, Kuwait e Líbia, e até 1973 já
contava com 10 países árabes associados. A entidade foi criada com o intuito de
estabelecer diretrizes de cooperação regional e intragovernamental entre os seus
membros, buscando políticas comuns para o melhor desenvolvimento da indústria
petrolífera dos países associados. A instituição da OPEP, na época, foi a concretização
de uma política para coordenação do petróleo dos países da região, pois tais Estados
buscavam estabelecer diretrizes independentes das empresas estrangeiras que

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atuavam na região. A OPEP desempenhou um papel relevante na Guerra do Yom
Kippur, em outubro de 1973, quando determinou cortes progressivos de produção de
petróleo para os países neutros no conflito e impôs um embargo total sobre os aliados
de Israel no conflito, em especial para os Estados Unidos da América (EUA),
considerado pelos árabes como um dos principais parceiros do Estado israelense.
Além da interrupção do fornecimento, os produtores de petróleo estabeleceram um
preço muito mais alto do que a média histórica até aquele momento alterando
significativamente as condições do mercado petrolífero mundial. O Choque do Petróleo
de 1973, derivado da Guerra árabe-israelense, trouxe a discussão sobre a necessidade
de buscar novas fontes de energia que diminuíssem a dependência do mundo em
relação ao petróleo, ao menos no sentido de produção de energia elétrica. Assim,
abriu-se uma brecha para que as primeiras usinas nucleares fossem projetadas e
construídas em vários países do mundo.

3.2. Aspectos positivos de uma usina nuclear

Em países onde a hidrografia ou o relevo não possibilitam a construção e o


funcionamento de centrais hidrelétricas, ou países que não possuem jazidas de carvão
mineral por exemplo, as usinas nucleares são uma opção considerável.
A usina nuclear não necessita de uma área tão grande para ser construída. Ao
comparar com uma usina hidrelétrica, a usina nuclear tem maior capacidade por área
(W/km²). Por exemplo, a maior usina hidrelétrica do mundo, a “Itaipu Binacional”,
localizada na divisa entre o Brasil e o Paraguai tem uma potência de 10,37GWh/km² de
área do reservatório. Já as capacidades de Angra 1 e Angra 2 somadas, divididas por
suas áreas somadas é de 15,61GWh/km². Ou seja, uma usina nuclear produz mais
energia que uma usina hidrelétrica se forem comparadas também as suas áreas.

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Figura 4. Comparação das áreas de Angra 1 e Angra 2 somadas, com a área de Itaipu

Em relação ao meio ambiente alguns aspectos são positivos. As usinas


nucleares emitem uma quantidade muito pequena de gás carbônico quando
comparadas com usinas termoelétricas - essas ultrapassaram o desmatamento da
amazônia, como maior fonte poluidora do Brasil. Isso torna a energia nuclear, de certa
maneira uma energia limpa.
A matéria-prima para a produção da energia nuclear é o minério de urânio, um
metal pouco menos duro que o aço, encontrado em estado natural nas rochas da
crosta terrestre. ​99,27% do metal é formado por urânio-238, que não serve para as
usinas nucleares. Energeticamente falando, o que interessa mesmo é o urânio-235
(U-235), que compõe menos que 1% da massa total do urânio extraído nas minas.
Desse minério é extraído o átomo de urânio utilizado na geração nuclear. Em 2014
essas reservas totalizaram 5,8 milhões de toneladas distribuídas por vários países,
números consideráveis que comprovam certa abundância de urânio presente em nosso
planeta, com destaque para a Austrália, Cazaquistão e Canadá que, juntos, respondem
por 48% do volume total. No Brasil, apenas 25% do território foi prospectado em busca

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do minério. Ainda assim, o país ocupa o 5º lugar do ranking, com 309 mil toneladas em
reservas conhecidas e correspondentes a cerca de 5,3% do volume total mundial. As
jazidas estão localizadas principalmente na Bahia, Ceará, Paraná e Minas Gerais,
conforme informações da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A principal delas, em
Caetité, Bahia, possui 100 mil toneladas, volume suficiente para abastecer o complexo
nuclear de Angra I, II e III por 100 anos.
Após esses dados pode-se concluir que o combustível necessário para gerar
energia nuclear não impede um país detentor de jazidas de urânio de investir nessa
forma de produção elétrica.

Grafico 1. Reservas medidas de Urânio (mil toneladas)

3.3. Aspectos negativos de uma usina nuclear

Como boa parte dos métodos de obtenção de energia elétrica, a energia nuclear
também possui alguns fatores negativos de seu uso.
Ainda não se conseguiu encontrar uma solução definitiva para os dejetos
radioativos que se constituem nos elementos mais perigosos do processo de produção
da energia nuclear. Estes dejetos são classificados de baixa, média e alta atividade.
Depois de um tempo de uso – geralmente um ano – o combustível utilizado na usina
vence e precisa ser trocado. Esse rejeito de alta atividade (RAA) é o mais perigoso,
mas pode ser reciclado. Já os rejeitos de média e baixa intensidade, que são

23
produzidos pelo contato direto ou indireto de equipamentos, ferramentas e roupas de
proteção com o combustível da usina.
Outro fator considerável, é de que a usina necessita ser construída próxima a
fontes de água, como rios, mares e lagos, a fim de resfriar a usina devido aos
processos que serão explicados mais adiante. A água é retirada das fontes, depois é
utilizada nas torres de refrigeração da usina, e por fim a mesma água retorna ao lugar
de onde foi retirada. Porém, essa água volta em temperaturas mais elevadas que as
condições ambientes do local que foi retirada. ​O aumento da temperatura das águas
diminui a quantidade de oxigênio dissolvido, o que prejudica a respiração de peixes e
outros animais aquáticos, podendo levá-los à morte. Além disso, a elevação da
temperatura da água também aumenta a velocidade das reações de outros poluentes
— se já estiverem presentes na água — e afeta o ciclo de reprodução de algumas
espécies, diminuindo o tempo de vida delas. Outra consequência da poluição térmica
das águas é que o aumento da temperatura da água acima do normal tolerado pelo
ecossistema pode acelerar o desenvolvimento de bactérias e fungos, que, por sua vez,
podem causar doenças em peixes e outras espécies marinhas. Estudos indicam que a
temperatura da água no ecossistema pode aumentar cerca de 1 ou até 2 graus celsius.
O custo da energia nuclear também é um empecilho, pois considerando todos os
gastos envolvidos no processo de geração de energia, a produção pode não ser viável
devido ao alto investimento mesmo possuindo ​baixos custos operacionais.​Os custos de
capital de usinas nucleares variam muito, tendo uma média de pouco mais de 2 bilhões
de dólares. Este valor representa o custo necessário para construir a usina, incluindo
os juros. Normalmente, os principais trechos da planta e porcentagem do custo nuclear
são: reator e sistema de vapor (50%), gerador de turbina (30%), e demais
componentes da planta (20%). Os custos adicionais incluem o terreno, o
desenvolvimento local, licenciamento da planta e regulação, treinamento de
operadores, juros e impostos durante a construção, e uma previsão para contingências

24
3.4. Energia nuclear no mundo

3.4.1 Um panorama geral

Um comparativo feito pela IEA (Agência Internacional de Energia) mostra a


matriz elétrica mundial, no ano de 1973 e no ano de 2015. Em 1973, a pesquisa indica
de a energia elétrica gerada pelo mundo inteiro era de 6115 TWh. Em 2015 esse
número quase quadruplicou, passando para 24255 TWh. A energia obtida através do
petróleo e seus derivados caiu bastante com o decorrer do tempo, em 1973
representava 24,6% e em 2015 somente 4,1%. A energia provinda da queima do
carvão teve seu papel na matriz elétrica estável, de 38,3% passou para 39,3%. A
energia hidráulica passou de 21% para 16%. As energias que aumentaram sua
participação na matriz elétrica foram as obtidas à partir do gás natural (de 12,2%
passou para 22,9%), as energias renováveis, como biomassa, biodiesel, eólica, solar,
geotérmica, energia obtida através de marés e ondas, também o gás industrial ( não
renovável), passaram a ser muito bem utilizadas, onde antes representavam apenas
0,6%, agora representam 7,1%. A energia nuclear também teve seu uso intensificado
com o decorrer dos anos, em 1973 já representava 3,3% e em 2015 passou a
representar 10,6%.

25
Grafico 2. Matriz elétrica mundial, nos anos de 1973 e 2015

A distribuição mundial do consumo acompanha a disposição do país para


investir na geração nuclear de energia elétrica. Segundo a International Energy
Agency, os dois maiores consumidores são Estados Unidos e França. Em 2014, eles
foram também os maiores produtores, com participação de, respectivamente, 33% e
17% no ranking mundial.

Grafico 3. Produção de energia nuclear e os 10 maiores geradores do mundo (2014).

26
Ao final de 2014, havia 438 reatores nucleares em operação no mundo, segundo
dados da AIEA reproduzidos no trabalho Panorama da Energia Nuclear da
Eletronuclear, empresa de economia mista subsidiária da Eletrobrás e responsável pela
construção de usinas e geração de energia nuclear no Brasil. Os Estados Unidos
concentravam o maior número de unidades (99), mas foi a França, com 58 reatores,
que demonstrou maior dependência da produção nuclear: 77% da energia total
produzida.
Grafico 4. ​Capacidade Instalada por país (MW) e nº de reatores – 2014

No mesmo período, também, um total de 70 reatores encontravam-se em


construção em 16 países.

Grafico 5. Reatores em construção (MW), ao final de 2014

27
Grafico 6. Papel da energia nuclear na matriz de países selecionados (2014)

3.4.2. Energia nuclear na França

Os países mais dependentes da energia nuclear, isto é, os países em que a


energia nuclear tem maior representatividade no percentual da matriz elétrica total são
na maioria europeus. Com um destaque notável para a França. Atualmente, 77% da
energia elétrica do país provém das usinas nucleares. Ao todo, são 19 centrais e 58
reatores em funcionamento, todos explorados pela estatal EDF (Eletricidade da
França). Porém, o objetivo do governo francês é diminuir 15% da atividade das centrais
nucleares  ​até 2025 por questões ambientais, e assim procurar investir mais em fontes
renováveis que não afetem o meio ambiente.

3.4.3. Energia nuclear nos Estados Unidos 


 
  ​Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de energia nuclear, com uma
potência instalada de cerca de 103 mil MW, graças à acumulação das décadas de

28
1960 e 1970, período em que foram habilitados 99 reatores em aproximadamente 60
lugares. A energia nuclear representa apenas 9% da energia utilizada nos Estados
Unidos, (aproximadamente 19% da geração de eletricidade), muito abaixo do gás
natural (32%), do petróleo (28%) e do carvão (21%).
Uma curiosidade é que lá, os rejeitos nucleares são colocados em tambores
lacrados, e enterrados bem fundo em desertos. O custo para armazenar os tambores
são tão grandes quanto a manutenção da usina.

3.4.4. Energia nuclear no Japão

O Japão possui hoje a maior usina nuclear do mundo, a ​Kashiwazaki-Kariwa,


com capacidade de 7.965 megawatts, localizada na cidade de Niigata-Ken, conta com
um total de 7 reatores. Essa usina sofreu um acidente em 2007 devido à um terremoto
e permaneceu desativada. Em dezembro de 2017 foi autorizada a reativar dois
reatores.
Todos os reatores operantes no Japão foram interrompidos por causa do
acidente nuclear na usina Fukushima Daiichi, provocado pelo gigantesco tsunami
gerado após o poderoso terremoto de 9 graus em 11 de março de 2011, que devastou
parte do nordeste japonês. Depois da tragédia, Japão passou a adotar um sistema de
segurança extremamente rígido. Para tanto, foi criado a Autoridade Reguladora
Nuclear, em 2012. O órgão então estabeleceu no país as novas diretrizes de
segurança, em julho de 2013. O Japão tinha 54 reatores operacionais antes da
destruição de seis unidades da central de Fukushima. Dos 48 restantes, pelo menos
cinco devem ser desmantelados. A Autoridade Reguladora Nuclear também
determinou o fechamento de todas as usinas nucleares no país a partir de setembro de
2013. O reator 1 em Sendai foi o primeiro a superar os novos requerimentos mais
rígidos em matéria de segurança, sendo reativado em agosto de 2015.

29
O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe e as companhias elétricas do país
têm defendido a reativação de usinas que cumpram com os novos padrões de
segurança por causa dos aumentos dos custos com a compra de hidrocarbonetos,
necessários para o funcionamento das centrais térmicas que estão funcionando a pleno
vapor.

Desde o blecaute das usinas, Japão passou a importar 90% de seu petróleo,
bem como todo o carvão e gás natural, o que levou o país a sofrer um forte déficit na
sua balança comercial. Os gastos com essa importação têm atrapalhado os planos de
Abe para reaquecer a economia, bem como foram um dos principais obstáculos
encontrados pelo Banco do Japão (BoJ, o banco central japonês) para atingir sua meta
de inflação estável de 2% ao ano.

Com a retomada do programa de energia nuclear, o governo de Abe deseja que


os reatores gerem 22% da energia elétrica no Japão até 2030, um porcentual menor
que antes de Fukushima. No entanto, segundo indicam pesquisas, a maior parte da
população é contrária a reativação dos reatores pelo temor de um novo acidente.

3.4.5. Energia nuclear no Brasil

Qual o papel e a importância da energia nuclear como alternativa energética


para o Brasil? De complementaridade. Não deve existir competição entre as fontes
energéticas disponíveis. Dificilmente haverá uma fonte de energia que represente
solução única de forma sustentável para um país. O próprio exemplo brasileiro, cujo
sistema elétrico integrado foi por muito tempo baseado essencialmente na fonte hídrica
e que hoje passa por uma transformação no sentido de se tornar um sistema
hidrotérmico, reforça essa tese.

30
A energia nuclear é uma tecnologia viável e sustentável no Brasil, por vários
aspectos. Primeiro porque a opção nuclear permite a geração confiável de uma energia
ambientalmente limpa, em partes, como já mostrado anteriormente. Além disso, a
energia nuclear faz uso de um combustível de origem nacional(Brasil possui a quinta
maior reserva de Urânio no planeta), o que permite minimizar vulnerabilidades no
abastecimento e proteção contra a volatilidade dos preços, não estando sujeito a
flutuações no mercado internacional. Ocupando uma área pequena, quando
comparada com outras formas de geração de energia, as usinas nucleares podem ficar
próximas aos grandes centros consumidores, eliminando a necessidade de longas
linhas de transmissão.

Hoje o Brasil conta com duas usinas nucleares ativas e uma em fase de
construção. Todas elas localizadas em ​Angra dos Reis (RJ) na Central Nuclear
Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). Todas elas são propriedades da Eletronuclear,
subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobrás. As 2 usinas ativas se
chamam Angra 1 e Angra 2. A outra se chama Angra 3.

Figura 5. Localização da CNAAA

31
Figura 6. Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA)

3.4.5.1. Angra I

A primeira usina nuclear brasileira teve sua construção iniciada em março de


1972, entrou em operação comercial em 1985 e opera com um reator de água
pressurizada (PWR). Com 640 megawatts de potência, Angra 1 gera energia suficiente
para suprir uma cidade de 1 milhão de habitantes.

Nos primeiros anos de sua operação, Angra 1 enfrentou problemas com alguns
equipamentos que prejudicaram o funcionamento da usina. Essas questões foram
sanadas em meados da década de 1990, fazendo com que a unidade passasse a
operar com padrões de desempenho compatíveis com a prática internacional. Em
2010, a usina bateu seu recorde de produção, fato que se repetiu novamente em 2011.

32
Esta primeira usina nuclear foi adquirida da empresa americana Westinghouse como
um pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por parte dos
fornecedores. No entanto, a experiência acumulada pela Eletrobras Eletronuclear em
todos esses anos de operação comercial, com indicadores de eficiência que superam o
de muitas usinas similares, permite que a empresa tenha, hoje, a capacidade de
realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais recentes
avanços da indústria nuclear.

Para ser construída foram gastos 1,63 bilhão de reais, os equipamentos


custaram cerca de 864 milhões de reais. O custo de produção de uma usina é
constituído pelo seu custo de O&M (Operação e Manutenção) e do combustível. O
custo de produção de Angra 1 (em 31/12/2008) foi de R$ 97,33/MWh, sendo R$
77,18/MWh de O&M, e R$ 20,15/MWh de combustível.

Figura 7.​ Angra 1

33
3.4.5.2. Angra II

A segunda usina nuclear brasileira começou a operar comercialmente em 2001.


Com potência de 1.350 megawatts, Angra 2 é capaz de atender ao consumo de uma
cidade de 2 milhões de habitantes, como Belo Horizonte. A usina conta com um reator
de água pressurizada (PWR) de tecnologia alemã da Siemens/KWU, fruto de acordo
nuclear entre Brasil e Alemanha, assinado em 1975. Angra 2 começou a ser construída
em 1981, mas teve o ritmo das obras desacelerado a partir de 1983, devido à crise
econômica que assolava o país naquele momento, parando de vez em 1986. A unidade
foi retomada no final de 1994 e concluída em 2000.

A performance da usina tem sido exemplar desde o início. No final de 2000 e no


início de 2001, sua entrada em operação permitiu economizar água dos reservatórios
das hidrelétricas brasileiras, amenizando as consequências do racionamento de
energia, especialmente na região Sudeste, maior centro de consumo do país. Em 2009,
a unidade foi a 33ª terceira em produção de energia entre as 436 usinas em operação
no mundo, segundo a publicação americana Nucleonics Week, especializada em
energia nuclear. No mesmo ano, ocupou a 21ª posição em comparação com as 50
melhores usinas americanas numa análise dos indicadores de desempenho da
Associação Mundial de Operadores Nucleares. A construção de Angra 2 propiciou
transferência de tecnologia para o Brasil, o que levou o país a um desenvolvimento
tecnológico próprio, do qual resultou o domínio sobre praticamente todas as etapas de
fabricação do combustível nuclear.

Segundo o Balanço Anual da Eletronuclear, o custo bruto de construção das


instalações de Angra 2, atribuído à Eletronuclear, foi de 5.118 bilhões de reais, os
equipamentos custaram cerca de 3,95 bilhões de reais. O custo de produção de Angra

34
2 (em 31/12/2008) foi de R$ 54,82/MWh, sendo R$ 37,30/MWh de O&M e R$
17,52/MWh de combustível.

Figura 8. Angra 2

3.4.5.3. Angra III

Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto,


localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Quando entrar em operação
comercial, a nova unidade com potência de 1.405 megawatts, será capaz de gerar
mais 69de 12 milhões de megawatts-hora por ano, energia suficiente para abastecer as
cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período. Com Angra 3, a

35
energia nuclear passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do Estado do Rio de
Janeiro.

Angra 3 é irmã gêmea de Angra 2. Ambas contam com tecnologia alemã


Siemens/KWU (hoje, Areva ANP). As etapas de construção da Unidade incluem as
obras civis, a montagem eletromecânica, o comissionamento de equipamentos e
sistemas e os testes operacionais.

O Brasil, pouco antes do acidente no Japão, havia optado por resgatar o projeto
de concluir a usina nuclear Angra 3, no litoral fluminense, iniciada em 1984.
Infelizmente está sem previsão de término. Essa é a realidade da usina nuclear de
Angra 3. Crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas na
execução do projeto são investigados em uma operação que é um desdobramento da
Lava Jato – e que já resultou na prisão de um ex-presidente da Eletronuclear.

A construção de Angra 3 foi interrompida pela primeira vez dois anos depois de
início das obras, quando o país atravessava uma crise econômica que afetou a área de
infraestrutura e implicou na desaceleração dos investimentos no setor.

Retomada em 2010, com a concretagem do reator, a obra foi novamente


interrompida em 2015, quando o governo federal esbarrou na falta de dinheiro para
terminar o projeto. De acordo com a Eletronuclear, as obras estão 61,5% concluídas,
mas seguem paralisadas aguardando uma decisão do Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE). A nova previsão é que a construção termine em 2022, caso seja
retomada até o início do segundo semestre de 2018, e custe cerca de 17 bilhões de
reais para ser concluída.

36
Figura 9. Angra 3

37
4. Definição de energia nuclear.

4.1. As interações fundamentais da natureza.

O universo está em constante movimento, quantidades inimagináveis de


interações dinâmicas acontecem o tempo todo ao longo do espaço. Até onde sabe-se,
essa dinâmica acontece devido a interações fisico-químicas fundamentais entre
materia. Hoje a comunidade científica atribui toda essa energia às interações
fundamentais da natureza.
No século XVI, Newton fundamentava a interação chamada hoje, gravitacional,
esta foi a primeira grande descoberta. Nomes como Coulomb e Maxwell foram
fundamentais para a descoberta da interação eletromagnética. Até o século XX não se
considerou mais nenhuma dessas atividades fundamentais da natureza. Yukawa, físico
japonês, foi quem considerou a força nuclear como mais uma interação fundamental.
A força nuclear foi também força forte. Essa força é a responsável por manter o
núcleo do átomo coeso. Sendo mais específico, através das leis que regem a interação
eletromagnética, os prótons, por terem mesma carga, deveriam se repelir, como
poderiam se manter tão próximos no núcleo? A distâncias muito pequenas, na ordem
de grandeza de 10​-14​ metros, a força forte supera a repulsão eletromagnética dos
prótons, mantendo dessa forma, os núcleo estável.
Marco Antônio Moreira, brasileiro autor do artigo “A FÍSICA DOS QUARKS E A
EPISTEMOLOGIA”, mostra nessa obra, especificamente no trecho abaixo, sobre a
relação entre as interações fundamentais e a propriedade da matéria:

As quatro interações fundamentais da natureza são: gravitacional,


eletromagnética, forte e fraca. Cada uma delas devida a uma propriedade
fundamental da matéria: massa no caso gravitacional, carga elétrica na
interação eletromagnética, cor na interação forte (quarks) e no caso da interação
fraca uma propriedade chamada carga fraca.

MOREIRA, M.A. Porto Alegre, 2007.

38
4.2. As forças nucleares forte e fraca

​Para compreender a força nuclear forte, e extremamente importante


compreender duas coisas. Primeiramente, é importante lembrar que sem levar em
conta qualquer outra interação, a força eletromagnética garantiria a repulsão dos
prótons no núcleo atômico, visto que têm mesma carga elétrica. O outro ponto
importante é a concepção de que os prótons e nêutrons são formados por partículas
ainda menores pelo que se conhece.
Como citado anteriormente, a força eletromagnética favorece a separação do
núcleo atômico, e a força nuclear forte faz o papel inverso. A força forte sempre
favorece a atração entre as partículas, porém só atua em um raio muito pequeno,
aproximadamente 10​-15​m, portanto, a nível nuclear, essa interação garante a
estabilidade, no entanto, vale ressaltar que essa interação varia conforme a distância.
Átomos grandes, possuem núcleos também grandes, e os prótons e nêutrons
mais externos sofrem menos intervenção da força nuclear forte, tornando o elemento
instável. Esses átomos tornam-se radioativos, e por vezes precisarão se desfazer de
partículas para atingir estabilidade.
A atração se dará pela atividade da força forte entre as partículas internas de
prótons e de nêutrons, os chamados Quarks. São seis tipos de Quarks, porém os dois
de maior destaque são UP e DOWN, os formadores das duas subatômicas citadas. O
próton possui dois UP e um DOWN, enquanto o nêutron possui o mesmo número de
quarks, porém com dois DOWN. A partícula UP possui carga elétrica equivalente a ⅔
da carga elementar positiva, a partícula DOWN teria metade da carga, porém, negativa.
Dessa forma, a carga de um próton e de 1 carga elementar, enquanto o nêutron,
intuitivamente, não possui carga.
Além dessa força, existe uma de menor intensidade e que opera ainda mais
internamente. A força nuclear fraca tem raio de atuação 10 vezes menor que a forte, e
faz com que um nêutron se converta em um próton, um elétron, e um neutrino. Existe
também a possibilidade de um nêutron se converter em próton, mas não será abordada

39
essa particularidade. Quando essa instabilidade é observada, um elétron é liberado do
átomo em forma de emissão beta.
Essas duas forças são as responsáveis pela estabilidade de um átomo. A
diferença grande no número de prótons e nêutrons garante instabilidade por parte do
balanço dessas forças, então um átomo de pequeno raio nuclear, pode ser instável por
conta dessa possibilidade. Um exemplo de pequeno núcleo instável é o do tecnécio-99,
produto do decaimento do molibdênio, pois possui 43 prótons e 56 nêutrons.

4.3. A física da radioatividade

Átomos grandes, que pode consequência possuem núcleos grandes, são


considerados menos estáveis, visto que seus prótons não possuem uniformidade no
balanço de forças. Esses elementos muito grandes, são classificados radioativos. A
denominação passa por outros critérios de instabilidade, como também, a diferença do
numero de protons e neutrons no núcleo, obtidos por sintetização.
O que acontece com os átomos com núcleo grande? A resposta mais imediata
seria: Mudam! Como citado na parte de história deste artigo, o casal Joliot-Curie,
determinaram o funcionamento da radioatividade artificial, dando continuidade ao
profundo estudo do casal Curie sobre matéria radioativa. Esses quatro nomes, foram
responsáveis pela descoberta de que, elementos radioativos perdem prótons para se
tornarem estáveis, na prática se tornarem menores. Perdem matéria através de
partículas, que teriam sido batizadas de partículas alfa. Logo mais, Enrico Fermi e
Ernest Rutherford complementaram o trabalho sobre radiação, com a descoberta das
partículas beta e gama.

4.3.1. O tempo de meia-vida

O tempo de meia-vida é um parâmetro extremamente importante para o


estudo de aplicações dos estudos sobre radioatividade nos avanços

40
tecnológicos. Essa medida se resume no tempo em que um corpo de núcleos
instáveis levam para que metade de seus átomos se decaiam em um átomo de
núcleo estável. Cada isótopo radioativo de cada elemento possui um tempo de
meia-vida diferente, o que permite que sejam atribuídas diferentes funções para
estes. Existe uma simples equação que relaciona as massas iniciais, massa
instantâneas e a meia-vida de cada matéria:

Equação 1:

mi M - Massa Instantânea
m = 2x Mi - Massa inicial
x - Numero de meias-vidas

De acordo com essa equação, pode-se notar que a massa do elemento


radioativo não chegará a ser igual a zero. Ao olhar prático, obviamente em
algum momento toda a massa terá decaído, no entanto, quando esse valor está
muito pequeno, a equação perde sua confiabilidade científica. Então, é
importante saber que cada elemento possui um limite de meias-vidas para que
esses valores tenham validade.

Figura 10. Gráfico genérico do tempo de meia-vida de um elemento radioativo.

41
4.3.2. A datação por Carbono-14

A arqueologia tem por objetivo estudar comportamento de povos


passado, e seus principais objetos de estudo são utensílios e fósseis
encontrados de muito tempo atrás. Quando algum artefato é encontrado,
deve-se estimar qual é sua idade, e para isso existem os métodos de datação.
Em geral os arqueólogos e paleontólogos recorrem aos métodos de datação
através da atividade radioativa de elementos contidos no encontrado.
Um importante datador para as descobertas da historia humana e o
​ C. Esse isótopo do Carbono e radioativo, é
Carbono-14, também denotado por 14​
formado por conta de colisões de raios cósmicos na atmosfera terrestre, fazendo
com que nêutrons sejam despejados na superfície e atinjam átomos de
​ N por sua vez se torna 15​
Nitrogênio. O 14​ ​ N, um isótopo instável que quase
​ C.
instantaneamente perde um próton, se tornando um átomo de 14​
Este isótopo instável do Carbono está presente em uma quantidade
inferior a 0,1% do total de massa dos isótopos na atmosfera, portanto, pode-se
dizer que essa proporção de carbono também está presente nos átomos em
animais, plantas e demais seres vivos. Sabendo que o tempo de meia-vida do
Carbono-14 é de aproximadamente 5730 anos, conclui-se que ao passar esse
​ C
período de meia-vida um ser sem vida terá metade da concentração de 14​
presente na atmosfera naquele período. A concentração da época e muito
simples de estimar, pois equivale a concentração atual, visto que a taxa de
formação do isótopo coincide com seu decaimento, ou seja, a taxa de
concentração se mantém constante.
Assim como todo elemento radioativo utilizado para datar artefatos
antigos, existe um limite para a confiabilidade do método. Em geral todos
regulam 10 meias-vidas, pois após isso fica muito difícil determinar com precisão
a idade do objeto, o do Carbono-14 está entre 55 e 60 mil anos.

42
Figura 11. Fóssil “Luzia” e sua estimativa de reconstituição. O fóssil humano mais antigo
encontrado na América Latina, datado através do método do Carbono-14.

43
4.4. Fissão Nuclear

Com a contribuição científica dos pesquisadores da radioatividade e


principalmente de Chadwick ainda naquela década, a equipe de pesquisas científicas
nazistas, liderada por Otto Hahn, revolucionaram a importância da força nuclear no
aparato bélico dos países, e futuramente, na tecnologia de modo geral, descobrindo o
fenômeno de fissão nuclear, como já foi citado anteriormente.
​ U,
A descoberta consistia que ao incluir mais um nêutron em um átomo de 235​
radioativo, a energia seria tanta dentro do núcleo, que deveria se romper, formando
dois núcleos diferentes, naquela situação, um tendo a configuração do Bário e ou outro
do Kriptônio. Além dos átomos, o produto da reação ainda continha dois nêutrons
isolados e uma quantidade muito grande de energia, esses nêutrons se tornam novos
acionadores para um reação em cadeia de liberação de energia. Nem todos os átomos
se dividem, alguns emitem partículas radioativas, o que e ideal para uma arma de alto
poder destrutivo, visto que além da explosão, as vítimas sofreriam com as terríveis
​ U
consequências da radiação. A seguir a equação que representa a fissão do 235​
​ Xe e 94​
quando seus produtos são 140​ ​ Sr:

Equação 3:

235​
​ U → 141​
U + n → 236​ ​ Ba + 92​
​ Kr + 3 1​​ n + ENERGIA

A viabilidade do processo, permitiu que fosse utilizada como eficiência arma de


guerra, mas também foi descoberta a possibilidade desse fenômeno ser responsável
pela geração de energia elétrica, a chamada energia nuclear. A fissão nuclear e hoje
responsável por aproximadamente 77% do abastecimento de energia elétrica na
França, de acordo com a revista EXAME da editora Abril.
Outro elemento também testado para a fissão nuclear e o Plutônio. E outros
elementos radioativos possuem essa mesma capacidade de fissão, e observável que
​ U, tem-se como produto, átomos radioativos, como é o caso do 141​
na reação do 235​ ​ Ba.

44
​ Ba por sua vez também é físsil, mesmo que com mais dificuldade. Na maioria dos
O 141​
casos, os produtos de fissão tornam-se elementos radioativos com mais curto período
de meia-vida, e são intensos emissores de partículas radioativas.

Figura 12. Bomba atômica de fissão nuclear “Little Boy” utilizada pelos EUA para atingir a cidade
japonesa de Hiroshima em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.

45
4.5. Fusão nuclear

Não apenas a fissão nuclear é um fenômeno capaz de liberar energia, a fusão


nuclear é um processo tecnicamente oposto à fissão. Esta consiste em unir dois
átomos para formar um terceiro elemento, assim liberando uma quantidade de energia
muito grande e um nêutron. Esse processo ocorre quando um átomo e arremessado a
outro com uma grande energia para que mais uma vez supere a repulsão
eletromagnética, e entre no raio de ação de força nuclear.
Esta pode ser considerada a fonte de energia mais importante para a
humanidade. Este título é concedido pois a fusão nuclear é o fenômeno que abastece a
energia do sol, e na verdade de todas as estrelas conhecidas. O sol tem hidrogênio, e
seus isótopos, em abundância e estes quando entram em contato, formam o Hélio,
através da fusão. Mas com qual energia o sol consegue fundir os átomos de
hidrogênio? Por menos intuitivo que parece, a resposta dessa pergunta não é a
temperatura, até porque ela não é suficiente para isso. A força gravitacional do Sol é
tão forte que mesmo que fosse frio, jamais seria possível um humano pousar lá, pois
seria completamente esmagado pelo seu próprio corpo. Essa intensa gravidade
permite que os átomos se aproximem o suficiente para fundir-se. A seguir segue a
equação que define a fusão do trítio e do deutério, isótopos de hidrogênio, convertidos
em um átomo estável de Hélio:

Equação 2:

3​
H + 2​​ H → 4​​ He + 1​​ n + ENERGIA

Hoje existe um forte investimento para a geração de energia elétrica a partir da


fusão nuclear. Depois de constatarem que as bombas de hidrogênio obtém muito mais
liberação de energia do que as bombas de fissão, o mundo conheceu a tecnologia
soviética Tokamak, um reator capaz de alcançar temperaturas absurdamente altas
para a realização da fusão nuclear. Baseada nessa tecnologia, países como os EUA, o

46
Reino Unido, a Índia, entre outros, desenvolveram o ITER (I​nternational Thermonuclear
Experimental Reactor), o objeto de estudo de um programa que visa captar a energia
do reator para a geração de energia elétrica.

Figura 13. Imagem representativa em seção oficial do endereço eletrônico da organização de projeto do
reator ITER.

47
5. Aplicação da energia nuclear na usina e funcionamento

Tendo já entendido como se dá o processo físico da fissão nuclear, o


funcionamento de uma usina nuclear pode ser facilmente compreendido.
Cada usina difere em pequenos detalhes estruturais, porém o funcionamento de
todas elas acontece da mesma forma. Uma usina nuclear é composta por várias
instalações, cada uma com uma função, algumas são de caráter operacional e outras
são de caráter logístico e administrativo, para o entendimento do funcionamento da
usina, os prédios que envolvem a geração efetiva da energia são os mais relevantes,
desse modo, sua importância e a função que desempenham serão esclarecidas.
Será utilizado um esquema da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, que
não foi concluída até o momento, para o entendimento das principais partes da usina,
outras usinas podem ou não seguir essa configuração.

5.1. Análise da Usina Nuclear

Figura 14. Edifício do Reator - Estrutura Interna (UJA)

48
Figura 15. Predio do Reator

O cerne da usina, onde acontecem as reações nucleares de fissão, é o reator


(destacado em verde no prédio do reator), existem pesquisas para o desenvolvimento
de reatores de fusão nuclear, como no Reino Unido, por exemplo, porém o tipo de
reator mais viável, mesmo que produza menos energia, é o de fissão que utiliza células
de combustível contendo dióxido de urânio enriquecido (​235​UO​2​), podendo ou não ser
misturado ao dióxido de plutônio. Para a obtenção dessas pastilhas o minério de urânio
é moído e dissolvido em ácido sulfúrico formando uma pasta amarela, depois
convertido em Hexafluoreto de Urânio (UF​6​), o gás passa por uma espécie de filtro que
retém o Urânio-238 por ser maior, e deixa passar o Urânio-235. Depois de atingida a
​ U), o UF​6 é novamente transformado em
concentração requerida (de 2% a 4% de 235​
Dióxido de Urânio. O Urânio puro não é utilizado por conta da temperatura de serviço
requerida, enquanto o dióxido de urânio pode operar em até 2780ºC, o urânio puro
chega até 1170ºC apenas.

49
Figura 16. Pastilhas de Urânio.

Depois de processadas neste formato, as pastilhas são arranjadas em varetas,


com cerca de 3,5 m de altura, e revestidas em ligas de zircônio (Zr), material que
possui uma elevada permeabilidade a nêutrons, ou seja, mesmo envolvendo as
pastilhas de combustível, o revestimento não impede os nêutrons de permearem entre
mais de uma vareta, intensificando a reação de fissão.

5.1.1. Reator BWR.

Figura 17. Agrupamento de celulas de combustivel para reator BWR.

Essas características são repetidas em todo reator, porém, existem 2


tipos fundamentais de reatores refrigerados a água, o BWR e o PWR.

50
Figura 18. Esquema de funcionamento do reator BWR.

No BWR (Boiling Water Reactor), ou Reator de Água Fervente,


representado acima, a mesma água que resfria o reator, desacelerando os
nêutrons liberados na fissão para possibilitar o andamento das reações de
fissão, também gera o vapor para movimentar as pás da turbina ligada aos
transformadores. O circuito secundário de água é responsável por condensar a
água que volta para o reator novamente. Esse tipo de reator é utilizado no
México e no Japão, por exemplo. Representam 16% dos reatores em operação
no mundo.

5.1.2. Reator PWR.

Figura 19. Esquema de funcionamento do reator PWR.

51
Já no PWR (Pressurized Water Reactor), ou Reator de Água
Pressurizada, representado acima, há três circuitos separados de água, o
primário é o que fica em contato efetivo com o reator, essa água é pressurizada
a cerca de 155 bar e aquecida pelo reator a 300ºC sem ferver. O circuito
secundário é fervido, gerando vapor quase que instantaneamente quando entra
no gerador de vapor, aquecido pela água de serviço. O circuito terciário, assim
como no BWR é responsável pela condensação do vapor advindo da turbina.
Esse tipo de reator é o mais utilizado, sendo ligeiramente mais seguro e mais
caro que o BWR, podem ser encontrados na Finlândia, Índia e no Brasil, em
Angra 1 e Angra 2. Representam 66% dos reatores em operação no mundo.
Há ainda outros tipos de reator, por exemplo, que são refrigerados a gás
(GCR – Gas Cooled Reactor), e o FBR (Fast Breeder Reactor) ou Reator de
Reprodução Rápida, que tem uma eficiência tão alta que é capaz de gerar
material físsil mais rapidamente do que o consome. Existem ainda as variantes
dos modelos PWR e BWR que utilizam diferentes materiais nas varetas de
contenção ou água deuterada na refrigeração do reator.
A água deuterada ou água pesada, utilizada nos modelos PHWR (Reator
de Água Pesada Pressurizada, é diferenciada da água comum pelos hidrogênios
que a compõem. Sua fórmula é 2​​ H​2​O, ou seja, cada átomo de hidrogênio da
molécula de água possui, além do próton, um nêutron no núcleo, esses
hidrogênios são denominados Deutérios, logo, a fórmula molecular da água
pesada é D​2​O, denotando os deutérios. Cerca de 0,001% da água encontrada
no mundo é deuterada naturalmente. A água pesada usada comercialmente em
grande escala é obtida através da eletrólise. A água deuterada envolve as
células de combustível nuclear, quando ocorre a fissão os nêutrons são
liberados com altíssimas quantidades de energia e colidem com os deutérios,
transferindo boa parte de sua energia para a água pesada, e então podem ser
absorvidos por outro átomo de urânio para dar continuidade à reação. Os

52
reatores PHWR, que utilizam a água deuterada representam 11%, podem ser
encontrados na Argentina e na Romênia, por exemplo.
Quando o reator fica instável ou quando sua potência precisa ser
reduzida simplesmente, entram em ação as chamadas varetas de controle,
quanto ativadas, ficam posicionadas entre as várias células de combustível
fazendo com que as reações em cadeia de fissão sejam interrompidas. Desse
modo, as varetas são fabricadas em materiais que absorvem os nêutrons mas
não sofrem fissão, têm boa resistência mecânica, estabilidade térmica e
resistência à corrosão, como Boro (B), Índio (In), Cádmio (Cd) e o Gadolínio
(Gd) utilizado em Angra 2.

Figura 20. Edifício do Reator - Estrutura Anelar (UJB).

Além do reator propriamente dito, o prédio do reator abriga outras instalações,


como o circuito de refrigeração secundário e a piscina de combustível. Esse prédio tem
ainda a função de proteger o resto da usina de eventuais falhas no reator.

53
O Sistema redundante de prevenção contra falhas é bem
eficaz, conta com vários mecanismos de desligamento automático
e margens de segurança rigorosas. Porém, mesmo que falhem
todos os protocolos, o reator está envolvido em várias barreiras
físicas de segurança.

1. Dióxido de Urânio – O próprio combustível nuclear é capaz de absorver certa


quantidade de produtos de fissão.
2. Revestimento do Combustível – Fabricado em uma liga de Zircônio e outro metal,
normalmente o estanho para conferir rigidez e resistência à corrosão.
3. Circuito de Refrigeração Primário – Os tubos desse circuito são capazes de conter
produto radioativo advindo de algumas células de combustível defeituosas, e o vaso
do reator, fabricado em uma liga de manganês, molibdênio e níquel, possui
resistência à altas temperaturas.
4. Esfera de Contenção – Mesmo em caso de um acidente grave de perda de
refrigerante, a esfera é dimensionada para resistir à uma explosão com temperatura
enorme, é feita do mesmo material de portas de submarinos e navios.
5. Prédio do Reator – O concreto armado do prédio garante mais uma proteção em
caso de falhas e ainda protege o reator de terremotos e ondas de pressão.

Ainda no prédio do reator está localizada a piscina de combustível, onde são


estocadas as células de combustível nuclear que não têm mais utilidade na geração de
energia, mas são radioativas demais para serem descartadas no ambiente.

54
Figura 21. Piscina de combustivel de Angra II.

Figura 22. UMA e UJE.

Depois que a água do circuito secundário ou água de alimentação (PWR)


transforma-se em vapor, ela passa pelas válvulas (destacadas em azul) até chegar no
edifício do turbo gerador (destacado em vermelho) que está acoplado a um gerador
elétrico. O vapor então é resfriado pelo circuito terciário e pode retornar pelo mesmo
circuito de válvulas para gerar mais vapor no edifício do reator. Em angra 2, a turbina
utilizada é fabricada pela empresa alemã Siemens, e movimenta-se tipicamente à 1800
RPM. O gerador, também alemão, fornece 1350 MWe (megawatt elétrico), e é capaz
de alimentar a cidade de Belo Horizonte inteira sozinho. Em média, um quilograma de
urânio gera 36,4 kW de energia elétrica.

55
Figura 23. Estrutura de Tomada D’água (UPC) / Casa de Bombas da Água de Serviço (UQB) /
Dutos de Admissão de Água de Refrigeração (PAB).

As usinas nucleares utilizam água de alguma fonte como o oceano ou um rio,


em angra a tomada d’água (destacada em vermelho) retira a água do Oceano
Atlântico, no caso de Angra, para a refrigeração da usina, ao lado dessa instalação
encontram-se as casas de bombas (destacadas em amarelo) que direcionam uma
quantidade de água para a desmineralização e então ser usada como água de serviço
para resfriar o reator. A água de refrigeração, do circuito terciário, é direcionada pelos
dutos (destacados em azul) para condensar a água de alimentação que volta para o
gerador de vapor.

56
Figura 23. Poço de Selagem de Água de Refrigeração (UQJ) / Poço Coletor de água de Serviço
(UQM) / Sistema de Tratamento de Efluentes Líquidos (UGN) / Dutos para descarga de Água de
Refrigeração (UQN).

Depois de utilizada, a água do sistema terciário vai para o poço de selagem


(destacado em vermelho), quando necessita ser renovada, a água de serviço também
é descartada e chega ao poço coletor (destacado em verde). A água que sai da usina
então é tratada no sistema de tratamento (destacado em azul) para garantir que não
haja níveis de radiação capazes de trazer algum efeito colateral. Depois de tratada, a
água vai pelos dutos (destacados em amarelo) para ser devolvida ao mar ou rio de
onde foi coletada. A divisão Eletronuclear da Eletrobras afirma que ela volta ao oceano
“sem causar impactos significativos”.

5.2. Rejeitos

Um dos maiores entraves da usina nuclear é a periculosidade apresentada pelos


rejeitos e resíduos que a mesma emite. Contudo, se bem tratados e corretamente
estocados, os detritos não oferecem risco ao ambiente onde são depositados. Abaixo

57
encontra-se um fluxograma da Eletrobras que ilustra os processos envolvidos no
descarte do material proveniente da usina nuclear.

Figura 24. Fluxograma ilustrativo por parte dos processos de descarte do produto radioativo. Eletrobrás.

O DMAS.O, a Divisão do Meio Ambiente e Saúde do Trabalhador, desenvolveu


um manual de segurança para a operação das usinas nucleares em Angra, o
documento possui 64 páginas com especificações que vão desde exigências de
Equipamento de Proteção Individual até a Arrumação e Limpeza do local. Na 51ª
página lê-se: “A radiação ionizante não pode ser percebida por nenhum dos nossos
sentidos. Assim, é importante obedecer rigorosamente aos sinais indicativos e avisos
que fazem a advertência da presença do potencial risco.”, percebe-se então que a
segurança quanto à radioatividade dos materiais é uma das principais preocupações,

58
por isso existem vários estágios que garantem que o resíduo não chegue ao meio
ambiente ainda com índices de radiação perigosos.
Os Rejeitos são classificados em 3 grupos:
1. RAA, Rejeitos de Alta Atividade: Com potência térmica superior a 2kW/m​3​, é o
combustível que já foi utilizado na geração de energia e não possui mais uma
concentração dos isótopos de Urânio 235 suficiente para serem usados no reator.
Os RAA são estocados na usina, mais especificamente na piscina de combustível, e
ficam lá enquanto a usina estiver funcionando, em caso de desativação são
encaminhados para depósitos geológicos.
2. RMA, Rejeitos de Média Atividade: Cerca de mil vezes menos radioativos que os
RAA, são os materiais que entraram em contato com o rejeito de alto nível de
radiação, como ferramentas e equipamentos. Esses rejeitos são concretados e
colocados em barris metálicos para que não ofereçam risco ao ambiente.
3. RBA, Rejeitos de Baixa Atividade: São tipicamente os EPI’s e roupas de serviço,
que podem ser lavados e reutilizados algumas vezes, porém, depois de certo
período também são concretados e confinados em barris.
A CNEN, Comissão Nacional de Energia Nuclear determina rigorosos padrões para
os depósitos para onde vão os rejeitos de baixa e média atividade, como segurança e
restrição de acesso do local. Todas a exigências podem ser encontradas na Norma
CNEN NN 8.01, resolução 167/14.
Na Finlândia, está sendo adotada uma técnica para o descarte de RAA, o
combustível é colocado em um favo de ferro fundido e preenchido com um gás pouco
reativo, como argônio. Esse favo, por sua vez, é inserido em um tambor de cobre
resistente à corrosão. O conjunto é então descido até um depósito 420m abaixo da
superfície, as cavidades no depósito são revestidas em um material que absorve água,
para evitar o contato dos tambores com um lençol freático em caso de vazamento. O
sistema todo deve ficar pronto para uso em 2020.

59
5.3. Comparação
.
O custo da energia de Itaipu é aproximadamente R$151/kWh, enquanto de
Angra II é aproximadamente R$200/kWh, o que não mostra diferença muito
significativa, mas quando comparada ao custo da energia de uma usina a óleo diesel,
que gira em torno de R$600/kWh, a usina termonuclear mostra-se muito mais
vantajosa, e uma boa alternativa inclusive para as usinas hidrelétricas que geram mais
de 70% da energia nacional e que devastam imensas áreas para represa do rio. A
densidade energética é outro fator que evidencia a superioridade da utilização dos
combustíveis nucleares, o urânio enriquecido tem uma densidade energética de 88,2
milhões de Megajoules por Kg, enquanto o carvão possui densidade energética igual a
19 Megajoules por Kg, ou seja, a quantidade de energia obtida com um Kg de urânio é
a mesma obtida com 46 mil toneladas de carvão, aproximadamente.

6. Aplicações da Energia Nuclear

6.1. Medicina Nuclear

A utilização da energia nuclear da medicina é empregada para o diagnóstico,


tratamento e prevenção de doenças. Provinda de alta tecnologia e altos custos, a
medicina nuclear abrange em suma, a radioatividade das moléculas.

Existem alguns conceitos elementares a serem abordados quando se trata de


medicina nuclear, dentre eles há o conceito de radioisótopo.

Radioisótopo nada mais é do que um isótopo (elementos químicos com mesma


quantidade de prótons e quantidades diferentes de nêutrons) que apresenta caráter
radioativo.

60
Figura 25. Lista de Radioisótopos e seus respectivos usos na medicina nuclear.

6.1.1. O Tecnécio

O Tecnécio (Tc) é um metal de transição radioativo, descoberto no ano de


1937 por Emilio Segrè, após realizar o bombardeio de isótopos pesados de
Hidrogênio (deutério) sobre uma amostra de Molibdênio (Mo). Esse elemento é
obtido puramente em laboratório, por isso seu nome deriva do grego Technitó,
que significa artificial.

O isótopo descoberto por Segrè foi o Tc-97, porém, o Tc-99 é o isótopo


que possui uma importante aplicação na área médica, utilizado em grande
escala em exames localizadores de tumores, principalmente cerebrais. Este
radioisótopo possui uma meia-vida extremamente baixa(aproximadamente 6
horas), podendo entrar em contato com o organismo humano sem maiores
problemas.

O baixo tempo de meia vida desse isótopo acaba sendo um problema


logístico em seu transporte, pois há uma perda muito grande de radioatividade
em pouco tempo, prejudicando a precisão do exame e sua funcionalidade. Deste

61
modo, muitos hospitais optam pela produção desse elemento dentro de seu
ambiente laboratorial, através do Gerador de Tecnécio.

Desenvolvido em Nova York, no ano de 1958, por Walter Tucker e


Margaret Geene, o gerador de tecnécio (que é blindado com chumbo) funciona
de modo que o Molibdênio se aloque em uma coluna cromatográfica recoberta
por óxido de alumínio (​Al​2​O​3​). No procedimento, o Mo-99 (meia vida de 65
horas) decai para o Tc-99, de modo a formar pertecnetato (​99mTcO​4​), que é
posteriormente extraído por uma solução salina de sódio, sendo então separado
da solução e encaminhado para os devidos usos.

Figura 26. Equação da obtenção de tecnécio pelo decaimento do Molibdênio.

Figura 27. Estrutura de funcionamento do Gerador de Tecnécio.

62
6.2. Exemplos de utilização

6.2.1. Cintilografia

Cintilografia (PCI) é um dos maiores exemplos da medicina nuclear, muito


utilizado na oncologia. A cintilografia é basicamente um procedimento, que visa
localizar órgãos, tecidos ou células do corpo humano através de radiofármacos,
que por sua vez, são isótopos radioativos de elementos (como o
Tecnécio-99-metaestável, Iodo-131 e Gálio-67), que emitem cintilações (brilhos)
quando bombardeados por radiações.

O procedimento é realizado da seguinte maneira:

- Uma mistura com glicose e o isótopo radioativo é preparada.

- O paciente recebe a amostra (mistura) através de via intravenosa.

- É obtida a imagem através da tomografia.

- A imagem é processada e avaliada pelo médico.

Figura 28. Imagem gerada por um procedimento completo de cintilografia.

63
6.2.2. Tomografia Computadorizada

A tomografia computadorizada é um procedimento de obtenção de


imagem que pode ou não utilizar contrastes como a Cintilografia. Através da
emissão de Raios-X, esse exame permite a visualização de ossos, órgãos e
tecidos do corpo.

Utilizada para a identificação de doenças musculares e ósseas, a TC


pode ser realizada em qualquer parte do corpo, porém, gestantes não devem realizar o
exame devido a emissão da radiação, podendo recorrer a outros exames como a
ressonância magnética e ultrassom.

Figura 29. Equipamento utilizado no procedimento de Tomografia Computadorizada.

6.2.3. Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

A ressonância magnética nuclear é um exame com alta capacidade de


identificação e determinação de uma estrutura orgânica, e s​e baseia na medição
de absorção radiação de radiofrequência por um núcleo em um campo
magnético forte. Esse procedimento é realizado através de modificações do spin
dos elétrons de elementos como Carbono (C) e Hidrogênio (H) geradas pela
aplicação de campo magnético forte. É uma técnica muito utilizada por químicos
e bioquímicos na investigação de propriedades de moléculas orgânicas.

64
Figura 30. Resultados obtidos na identificação da composição molecular pela RMN.

6.2.4. PET-CT

O PET-CT ou PET-SCAN é um procedimento de identificação de tumores,


realizado por meio da aplicação de radiofármacos em solução na corrente sanguínea
do paciente.​ ​Na Oncologia, a diferença entre os exames de cintilografia e PET se faz
quanto à localização e ao tipo de tumor a ser avaliado.

Esse exame apresenta extrema precisão, pois as células cancerígenas possuem


um metabolismo extremamente rápido, se multiplicam constantemente e por isso
demandam de muita energia, e como o radiofármaco é misturado em uma solução com
glicose, essas células acabam por concentrar uma grande quantidade de
radiotraçadores em sua localização, já que a glicose é uma fonte energética eficiente.

Com a concentração dos radiolocalizadores ao redor das células cancerígenas,


um exame por imagem é realizado, permitindo ao médico um detalhamento completo
do corpo do paciente, com destaque para os pontos brilhosos (radiofármacos que
receberam incidência de radiação durante o exame) que permitem ao especialista
avaliar a posição, o tamanho e o avanço ou retrocesso dos tumores.

O PET-CT tem papel fundamental no tratamento de tumores, e não causa dano


algum à saúde, já que os elementos radioativos utilizados, como o Gálio-67, possuem
uma meia-vida muito baixa, permitindo ao paciente que após a realização do exame,
retorne à sua residência e retome normalmente suas atividades. O elemento radioativo
deverá estar fora do corpo do paciente em poucas horas.

65
6.3. Medicina Nuclear no Brasil

Enquanto na escala global o comércio de fármacos nucleares são um mercado


vantajoso, e com tendências crescer muito até 2020, no Brasil, a situação é um pouco
mais precária.

Com índices ainda muito pequenos nesse conceito, o Brasil apresenta um


mercado ainda principiante, especialmente em função do excesso de regulamentação,
falta de fornecimento de material radioativo, falta de opções em fornecedores no
mercado, alto custo de implantação de serviços pelo enorme investimento, sem contar
as elevadas cargas tributárias.

Apesar de possuir de possuir a tecnologia, sua distribuição em território nacional


se dá de forma errônea, visto que onde há demanda, não se tem o equipamento
necessário, e onde não se precisa tanto, há máquinas ociosas. Além desse alarmante
fato, o número de profissionais especialistas da área no país não chega a 500, que no
total chegam a realizar anualmente cerca de 2,5 exames a cada mil habitantes, índices
extremamente baixos se comparados a países como o Canadá, que realiza 64,6
exames a cada mil habitantes.

Grande parte da culpa pela não utilização da medicina nuclear vem sim do
Estado, porém, o preconceito popular que se tem a respeito do tema acaba
comprometendo projetos de inclusão de medicina nuclear em postos públicos de
saúde.

Mesmo com tantos índices negativos e grande deficiência na área de medicina


nuclear nacional, o governo brasileiro em parceria com a marinha iniciou a construção
do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), destinado a pesquisa e produção de
radioisótopos, ampliando a capacidade de atendimento da medicina nuclear no país.

No total, o RMB deve custar em torno de 500 milhões de dólares, são recursos
expressivos, que vão possibilitar o fechamento desse projeto. Vamos avançar
muito em pesquisa nuclear e na produção de insumos para a saúde. O valor
desse projeto representa tudo isso e, certamente, é um projeto fundamental para
o país.”

KASSAB, Gilberto. Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

66
Figura 31. Reator Multipropósito Brasileiro.

7. Conclusão

Ao longo desta obra, conhecendo mais sobre a política é a física da energia


nuclear, seu recurso como obtenção de energia elétrica é de aplicação muito
específica. Apesar de ter sido muito incentivada anos atrás, pode-se dizer que a
energia nuclear e a energia do futuro em um certo passado.

Existem muitos pontos positivos, como por exemplo, a boa razão entre eficiência
e área, com o descarte correto dos resíduos radioativos apenas água é emitida. E para
o Brasil, um país abundante em Dióxido de Urânio, é uma aplicação vantajosa para
atribuir um fim para o minério.

Por outro lado, o investimento inicial é muito alto. O resíduo também se mostra
um limitador, visto que seu descarte deve ser extremamente cauteloso. Portanto, se
torna uma alternativa mal vista por certos países, principalmente nos que possuem
muito grande demanda energética.

No campo medicinal, os estudos nucleares foram de suma importância para


produzir exames hoje corriqueiros mas de extrema importância na prevenção e no
tratamento de doenças e lesões.

Basicamente, a área nuclear é muito considerável e deve ser aprimorada no


campo médico. Sua aplicação como geração de energia, é viável se estiver em
conjunto com demais maneiras de obter eletricidade, pode ser a melhor opção em
lugares específicos onde se necessita de mais estrutura logística para a distribuição.
Há maneiras mais interessantes para garantir a eletricidade a todos no futuro.

67
8. Referências

pt.energia-nuclear.net/que-e-a-energia-nuclear/historia
www.Aneel.gov.b​r
www.bp.com
www.eletronuclear.gov.br
www.epe.Gov.br
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www.iea.org
www.worldenergy.org
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www.infoescola.com/quimica/enriquecimento-de-uranio
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www.ambientelegal.com.br/angra-i-e-ii-o-que-fazer-com-o-lixo-nuclear
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www.cnen.gov.br/normas-tecnicas
www.brasil.gov.br/noticias/infraestrutura/2011/12/fontes-hidraulicas-geram-a-maior-parte-da-ener
gia-eletrica
w​ww.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=2773

conceito.de/conceito-de-radioisotopo

www.infoescola.com/medicina/medicina-nuclear/

www.tuasaude.com/cintilografia-de-corpo-inteiro/

cermen.com.br/exames-medicina-nuclear/2/cintilografia-ossea/

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www.passeidireto.com/arquivo/19363148/rmn--ressonancia-magnetica-nuclear/3

p​t.wikipedia.org/wiki/Espectroscopia_NMR

www.huap.uff.br/medicinanuclear/content/o-que-%C3%A9-medicina-nuclear

www.portalsaofrancisco.com.br/quimica/tecnecio

68
portalhospitaisbrasil.com.br/artigo-o-mercado-brasileiro-da-medicina-nuclear/

www.vencerocancer.org.br/cancer/diagnostico-2/cintilografia-e-spect-tc/

www.cnen.gov.br/ultimas-noticias/450-lancamento-da-pedra-fundamental-do-rmb

www2.fc.unesp.br/lvq/LVQ_tabela/043_tecnecio.html

69

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