Professional Documents
Culture Documents
A Empresa Portuguesa
Entre o final do século dezesseis e a primeira metade do século dezenove, a economia brasileira não
passou de uma grande empresa dirigida pela metrópole portuguesa.
Monocultura e Escravidão
Portugal precisou inicialmente garantir a posse de suas terras na América e, ao mesmo tempo, valorizá-
las. A solução encontrada foi a colonização através da agricultura tropical.
A empresa portuguesa no Brasil colonial desse período caracterizou-se pela produção especializada
em apenas um produto para exportação e utilização de mão-de-obra escrava.
Toda a produção brasileira era vendida à metrópole. Esta, por sua vez, fornecia à sua colônia tudo o
que ela necessitava para consumo.
Latifúndio
A produção de bens agrícolas complementares aos bens europeus era feita em grandes propriedades
chamadas latifúndios. Foi assim com a cana-de-açúcar, o algodão, o fumo e, mais tarde, o café.
Açúcar e Mineração
Entre o final do século dezesseis e o início do século dezenove, a produção de açúcar e, em seguida, a
mineração foram as duas principais atividades econômicas. Todos os demais setores da economia
colonial se desenvolveram em função destas.
O Açúcar
O Engenho
O plantio da cana e a produção do açúcar na faixa litorânea fértil da região Nordeste constituíram o
primeiro grande foco de atividade econômica desenvolvida no Brasil.
A empresa açucareira exigia um grande investimento inicial, porque a fábrica, chamada engenho,
exigia uma elevada escala de produção.
A produção aumentou de forma extensiva, com a incorporação de novas áreas e o emprego de mais
mão-de-obra escrava. Por essa razão, o tráfico de escravos, feito por comerciantes ingleses, também
se tornou um bom negócio.
Produção e Comercialização
Houve separação entre as atividades de organização da produção e comercialização. Os proprietários
de engenho encarregavam-se exclusivamente da produção. O transporte e a comercialização ficavam
por conta de negociantes portugueses ou holandeses.
Pecuária
No século dezessete, a pecuária desenvolveu-se como prolongamento da atividade açucareira. O
negócio do açúcar instalou-se na faixa litorânea do Nordeste, entre os atuais estados de Alagoas e da
Paraíba, enquanto a pecuária espalhou-se pelo interior.
Essa expansão foi induzida pelo próprio desenvolvimento da empresa da cana-de-açúcar, que precisava
de animais de carga e abastecimento de carne.
A pecuária fornecia couro para o mercado externo. Como acontecia com o fumo e o algodão, o couro
tinha pouca importância no comércio internacional.
A empresa do gado praticamente não utilizava mão-de-obra escrava.
Economia de Subsistência
A economia de subsistência foi outra atividade que se manteve paralelamente às atividades principais.
O Ouro
Mineração
A partir do século dezessete, a principal atividade da colônia passou a ser a mineração. Esta atividade
estabeleceu-se na Serra da Mantiqueira (no atual estado de Minas Gerais), na região de Cuiabá e no
sul de Goiás.
População
Com a queda da lucratividade da empresa de açúcar e início da mineração, houve um deslocamento
maciço de mão-de-obra e de capitais do Nordeste para a região Centro-Sul.
Ocorreu também um grande fluxo de migração espontânea de Portugal para o Brasil. Ao contrário do
que ocorrera no caso do açúcar, estes imigrantes eram, em sua maioria, homens de classe média, com
pequenos recursos. Por causa disso, em nenhum momento a população escrava chegou a ficar em
maioria na região mineradora.
Mobilidade Social
Dadas essas condições, as pessoas podiam ter mais mobilidade social no negócio do ouro do que na
empresa açucareira. Qualquer indivíduo da classe média portuguesa podia reunir recursos e montar
uma empresa mineradora.
Pecuária
A empresa do ouro dependia de alimentos produzidos fora da atividade de mineração, diferentemente
do engenho, que era praticamente autossuficiente.
A pecuária do Rio Grande do Sul, que até então vivera de insignificantes exportações de couro,
vendidas a preços menores do que as exportações de açúcar, passou a atender o mercado da mineração.
O mesmo ocorreu com a pecuária da região do Mato Grosso do Sul. Até mesmo a pecuária do Nordeste
passou a oferecer seus produtos à região do ouro.
A produção do ouro também abriu mercado para animais de carga, uma vez que se encontrava isolada
por montanhas e distante dos portos.
Estagnação Econômica
Dos anos de 1760 até meados do século dezenove, a economia brasileira ficou estagnada. Os preços e
as quantidades das exportações caíram. Em especial, a quantidade exportada de ouro foi muito pequena
e os preços do algodão e do açúcar permaneceram baixos.
Independência Política
Nessa época aconteceram importantes mudanças políticas, como a abertura dos portos em 1808 e os
tratados firmados em 1810 entre Portugal e Inglaterra.
Por estes tratados, a Inglaterra teria o privilégio de comercializar com o Brasil com tarifas preferenciais
reduzidas. A administração da colônia encarou isso como um limite à sua autonomia, que já se
encontrava em curso.
Como consequência, o Brasil separou-se abruptamente de Portugal em 1822 e passou a negociar
diretamente com a Inglaterra.
O Café
O Começo
O negócio do café começou a se desenvolver no início do século dezenove na região da Baixada
Fluminense. Nessa época, a empresa empregava mão-de-obra escrava e não tinha grandes lucros.
Localizada nessa região, a empresa cafeeira beneficiou-se da proximidade do porto e do poder central,
bem como dos recursos ociosos liberados pelo extinto negócio do ouro.
Quando o preço do café subiu no mercado internacional, os lucros começaram a aumentar. Novas áreas
foram incorporadas ao plantio, do Vale do Paraíba até o Oeste Paulista.
A Montagem da Empresa
O investimento inicial imobilizado na empresa cafeeira foi relativamente baixo. A sua montagem
baseou-se na utilização de equipamentos simples, em sua maioria de fabricação local.
O cafeicultor estava envolvido em todo tipo de tarefa: aquisição de terras, organização e direção da
produção, recrutamento de mão-de-obra, transporte interno, armazenagem, comercialização nos
portos, empréstimos financeiros e até mesmo influência na política econômica.
Mão-de-Obra Europeia
Restou aos cafeicultores a alternativa da mão-de-obra europeia. Com ela, o trabalho assalariado foi
introduzido no Brasil.
Por volta de 1870, ocorreu a unificação da Itália. A nova tecnologia agrícola fez com que grande parte
da população fosse expulsa dos reinos italianos menos desenvolvidos do sul. O maior fluxo migratório
italiano ocorreu entre 1870 e 1900.
Final Antecipado
Com o fim do regime de trabalho escravo em 1888, o trabalho assalariado já existente na empresa
cafeeira tornou-se generalizado.
O fim da escravidão já era previsto pelos cafeicultores, que cada vez mais utilizavam mão-de-obra
assalariada. A elevação do preço do escravo, nas duas décadas anteriores à Abolição da Escravidão,
não mais compensava sua utilização.
A Borracha
No final do século dezenove, a produção de borracha na Amazônia foi um dos fatores que mais
contribuíram para a expansão econômica do período. O negócio da borracha experimentou um
crescimento rápido em um período de tempo relativamente curto: entre 1870 e 1930.
A expansão da produção foi motivada pelo grande crescimento da demanda no mercado internacional.
Aquele era o momento em que a indústria de carros começava a liderar o crescimento da economia
norte-americana.
O negócio da borracha atraiu para a Amazônia a mão-de-obra do Nordeste. Ele gerou muita riqueza
para a região, mas esta riqueza não foi aproveitada no sentido de manter o crescimento econômico.
Na mesma época, o café do Sudeste tornava-se o negócio mais dinâmico da economia brasileira.
Nascimento da Indústria
Diversificação da Produção Doméstica
O crescimento da renda nacional, provocado pelas exportações de café, estimulou a produção e o
comércio de produtos manufaturados, a produção artesanal e fabril e o desenvolvimento do setor de
serviços. Foram fundados bancos, companhias de navegação a vapor, empresas de seguros, de
colonização e de transporte urbano e armazenagem.
Os fazendeiros do Oeste Paulista construíram um sistema de ligação entre a região e os portos de
exportação, investindo muito capital em estradas de ferro.
As Primeiras Fábricas
Fábricas artesanais surgiram a partir da iniciativa dos colonos das fazendas de café, que se
transformavam em industriais. Nessa época, instalaram-se vários tipos de fábrica, como a de mineração
de ferro, cal, mármore, xisto betuminoso e a de produção de fósforo, sabão, velas, laticínios e bebidas.
Em 1886, a indústria mais importante era a têxtil. As importações de tecidos diminuíram, apesar do
crescimento da população provocado pelas entradas de imigrantes. O aumento do consumo urbano
favoreceu o crescimento da indústria têxtil nacional.
Café e Indústria
A empresa do café criou mercado doméstico para a indústria nascente, mas as importações em geral
não foram reduzidas. Os pequenos industriais pediram ao governo o protecionismo alfandegário,
argumentando que as importações prejudicavam a indústria local que estava nascendo.
Os Primeiros Industriais
Como os importadores encontravam-se em posição estratégica no comércio externo (com acesso a
créditos e conhecimento do mercado internacional e dos canais de distribuição de produtos), muitos
deles transformaram suas agências de venda em fábricas, passando a investir na manufatura nacional.
Além dos importadores, os cafeicultores também investiram seus lucros na indústria para diversificar
o risco do negócio do café.
Desta forma, a indústria nasceu em São Paulo no final do século dezenove, apesar das elevadas
importações.
Café e República
Com a Proclamação da República em 1889, os recém-nascidos estados da federação passaram a ter
mais autonomia do que as antigas províncias e os cafeicultores aumentaram sua influência na política
econômica, que passou explicitamente a proteger os lucros da empresa do café das oscilações de preço
do mercado internacional.
O imigrante.
A necessidade de mão-de-obra para a lavoura e a busca de novas oportunidades de trabalho explicam
a grande migração ocorrida para o Brasil entre 1887 e 1930, onde estima-se cerca de 3,8 milhões de
estrangeiros entraram no Brasil.
Os italianos formavam o grupo mais numeroso, seguido de portugueses e espanhóis. Outros grupos de
imigrantes chegaram ao país como os japoneses, os sírios, os libaneses e os judeus. Boris Fausto
comentando o papel dos imigrantes no Brasil ressalta que "os imigrantes mudaram a paisagem social
do Centro-Sul do país, com sua presença nas atividades econômicas, seus costumes, seus hábitos
alimentares, contribuindo também para valorizar uma ética do trabalho (...) Os imigrantes em sua
maioria pobres, tiveram êxito na nova terra. Quando pensamos no seu papel no desenvolvimento do
comércio e da indústria, em Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a
resposta afirmativa é quase espontânea.
No caso do campo é mais complicado. No Estado de São Paulo, por exemplo, nos primeiros anos de
imigração em massa, os imigrantes foram submetidos a duras condições de existência, resultantes das
condições gerais de tratamento dos trabalhadores no país, onde quase equivaliam aos escravos". A
imigração, e a urbanização geraram um mercado consumidor e o abastecimento da população ensejou
a "substituição de importações", ou seja, passou-se a produzir no país artigos de consumo de massa
que exigiam pouca tecnologia e capitais.
A industrialização tardia.
A indústria brasileira começou no setor de bens de consumo produzindo tecidos de algodão, chapéus,
bebidas, produtos químicos: fósforo, cosméticos, produtos farmacêuticos. No setor de alimentos
desenvolveu-se a indústria de carne, e açúcar e no setor metal- mecânico produzia-se pregos, parafusos,
porcas e latas.
O país importava de tudo: máquinas, ferrovias, artigos de ferro como cobre, folha de flandres, foices,
pregos, parafusos, tesouras, canivetes; vidros de todos os tipos, papel, tintas, artigos de alimentação
como: salames, batatas, água mineral, rum, queijos londrinos, manteiga, mostarda, vinagre, cerveja,
ervilhas, biscoitos além de outros produtos ingleses como: botas, toalhas, meias, lãs, móveis, pianos,
relógios, chapéus, conservas, chá, rapé, brinquedos, faqueiros, agulhas, alfinetes, cornetas, flautas e
inúmeros outros produtos.
O governo republicano brasileiro adotou uma política econômica voltada para os interesses
agroexportadores, principalmente o café, sem preocupação com o setor industrial, considerado
secundário e desnecessário num país de tradição agrícola.
Essa política econômica do governo republicano oligárquico estava de acordo com os interesses do
capitalismo internacional. Em São Paulo desenvolveu-se a grande indústria, "estabelecimentos que
empregam um capital igual ou superior a 1.000 contos", com capital disponível acumulado pela
cafeicultura. Os primeiros industriais - os "capitães de indústria" - eram grandes fazendeiros e alguns
poucos imigrantes que dispunham de algum capital e ou conhecimento técnico.
Esses imigrantes começavam como representantes comerciais de fábricas europeias no país para
posteriormente criar seu pequeno negócio montando ou adaptando componentes para o Brasil. Ao
contrário dos países capitalistas europeus, essa "burguesia industrial" ligada diretamente ao setor
agrícola não defendeu uma política de industrialização do país, pois, a indústria era considerada
"artificial".
Nos Estados onde a atividade exportadora não se desenvolveu, como em Minas Gerais, onde
predomina uma economia de subsistência (exceção das zonas da Mata e do Sul de Minas), o
aparecimento de indústrias ocorreu no setor têxtil, artigo de uso popular e fácil de obter a matéria prima
o algodão.
A 1a Guerra Mundial que deu um impulso a industrialização brasileira devido à dificuldade da
importação de manufaturados. Após a 1a Guerra Mundial ocorreu uma maior sofisticação da indústria
brasileira com o funcionamento de fábricas de cimento, papel e celulose, máquinas agrícolas e ferro.
O Operariado.
Os primeiros operários eram imigrantes italianos, que insatisfeitos com a exploração nas fazendas de
café, transferiam-se para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, os principais polos econômicos do
país. Em 1900, 92% dos trabalhadores da indústria em São Paulo eram constituídos de italianos, o que
ocorria em outras capitais. Em Minas Gerais onde a imigração não teve a importância de S.P.,
recrutavam-se trabalhadores entre órfãos, crianças abandonadas e indicação de políticos que ofereciam
famílias inteiras para trabalhar nas fábricas do interior de Minas.
As condições de trabalho nas fábricas eram duras: jornadas diárias que se estendiam a 15 horas, salários
sempre baixos, ausência de um sistema de previdência social ou indenização em caso de acidente ou
invalidez. Nas fábricas, trabalhava um grande número de mulheres e crianças, pois recebiam salários
menores, e eram mais fáceis de controlar. Durante a grande greve de 1917 em São Paulo entre as
reivindicações dos operários estavam: o fim do trabalho de menores de 14 anos; a proibição de trabalho
noturno para os menores de 18 anos e mulheres.
Os trabalhadores inicialmente defendiam-se através de organizações operárias assistencialistas, cujo
objetivo era amparar o trabalhador em caso de doença e morte. A primeira organização operária de
luta foi a corrente anarquista cujo objetivo era a formação de uma sociedade " sem governo e sem leis,
constituída por federações de trabalhadores que produzam segundo sua capacidade e consumam
segundo sua necessidade; uma sociedade onde a terra e suas riquezas sejam de todos os trabalhadores";
enfim uma sociedade sem opressão e miséria.
Os anarquistas defendiam a organização dos trabalhadores em sindicatos e a "ação direta" do povo
contra a opressão e miséria recorrendo até a atos de violência contra autoridades do Estado. As greves
constituíram-se em outro instrumento de luta dos operários, que foram frequentes mesmo com a
repressão policial. O governo da República Velha considerava as reivindicações operárias como
desordem e, portanto, caso de polícia.
Com o advento do comunismo na Rússia, liderado por Lenin e seu partido bolchevista de estrutura
centralizada e disciplinada, a corrente anarquista cedeu terreno. Em 1922, fundou-se no Brasil o
Partido Comunista, que procurou unir todos os operários especializados para dar mais força ao
movimento dos trabalhadores. O Partido, mesmo pequeno, foi duramente perseguido pelo governo de
Arthur Bernardes e lançado poucos meses depois na ilegalidade.
O movimento operário conseguiu, mesmo com grande resistência dos empresários, algumas leis de
proteção ao trabalho, principalmente após a participação do Brasil na Conferência de Paz de 1919, que
pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Nesse encontro das potências vitoriosas 10 pontos foram
considerados fundamentais: 8 horas por dia, 48 horas por semana; proibição do trabalho de menores;
auxílio a maternidade; serviço de saúde etc. De todos esses direitos fundamentais, apenas as 8 horas
de trabalho foram aplicados no país principalmente em São Paulo.
A Superprodução de Café
Desvalorizações Cambiais
Até o final do século dezenove, o governo protegeu o lucro das exportações de café através de
desvalorizações cambiais. Toda vez que o preço do café caía no mercado internacional, o governo
desvalorizava a taxa de câmbio. Eram as políticas de valorização do café.
A desvalorização cambial tornava os produtos importados mais caros. Como grande parte dos produtos
consumidos nos centros urbanos da época eram importados, aumentava o custo de vida. O governo
sustentava o negócio do café arrecadando o imposto inflacionário.
A desvalorização cambial também impedia que o preço do café sinalizasse excessos de oferta através
de seu aumento. Sem a política cambial, um excesso de oferta reduziria o preço do café. Os produtores
teriam, então, menos incentivos para produzi-lo e mudariam de negócio.
Monopólio Brasileiro
A partir de 1890, outros países produtores de café reduziram sua oferta no mercado internacional. O
Brasil passou a deter quase que o monopólio do negócio internacional. Como no monopólio o produtor
tem poder de controlar o preço de seu produto, os lucros aumentaram, estimulando o aumento da
produção.
A primeira superprodução de café ocorreu no início do século vinte. Com o aumento da oferta, o preço
caiu e a receita dos cafeicultores deveria cair, já que a demanda por café é inelástica. Para proteger os
cafeicultores, o governo contraiu a oferta armazenando o produto.
Armazenando Café
O governo passou a armazenar o café porque não podia mais recorrer às desvalorizações cambiais que
levavam a aumentos dos preços dos bens de consumo. As pessoas das cidades não queriam mais pagar
o imposto inflacionário e a inflação tendia a aumentar ainda mais.
O programa governamental de compra do café foi instituído em 1906 pelo Convênio de Taubaté. Toda
vez que a demanda externa diminuísse, o governo compraria os excedentes. Estas compras seriam
financiadas com empréstimos externos. Para pagar os juros destes empréstimos, o governo cobraria
uma taxa em ouro sobre cada saca de café exportada. Caso o excesso de oferta persistisse, os governos
dos estados produtores deveriam finalmente desencorajar a produção.
Esta política impediu a redução do lucro do negócio do café durante toda a primeira década do século
vinte. Ela iria mostrar sua limitação na superprodução dos anos trinta.
Importação de Máquinas
A indústria emergente precisava de máquinas para a montagem de fábricas. Porém, a desvalorização
cambial dificultava a sua importação. A indústria recorreu, então, às máquinas subutilizadas já
instaladas para atender à crescente demanda por produtos nacionais.
Reserva de Mercado
A taxa de câmbio desvalorizada fixa protegeu a indústria emergente. Com a redução das exportações,
caiu a capacidade de importar. O crescimento da indústria durante toda a década dos trinta até 1945
ocorreu neste ambiente. Esta restrição funcionou como uma reserva de mercado para a indústria
nacional. Depois de 1937, a reserva de mercado passou a ser promovida pelo Estado Novo. A
substituição de importações intensificou-se e aumentou a produção local de alimentos, tecidos, bebidas
e transportes.
Protecionismo Cambial
A taxa de câmbio permaneceu fixa e valorizada de 1947 a 1953. As importações foram selecionadas
para facilitar a compra de máquinas e insumos utilizados na indústria. A importação de produtos com
similar nacional foi dificultada e até mesmo impedida. A indústria brasileira cresceu, então, sob o
protecionismo cambial e sem competição externa.
Expansão do Crédito
Já que havia grande demanda por crédito, o Banco do Brasil emprestou a moeda nacional a juros baixos
e isto provocou a expansão do comércio e da indústria.
Gastos em Infraestrutura
Entre 1953 e 1954, o governo Vargas aumentou os gastos em infraestrutura e os financiou com
expansão da base monetária. Com ajuda de capital estrangeiro, o governo criou financiamento interno
para os investimentos em infraestrutura que se tornaram urgentes depois do crescimento da indústria
ocorrido entre 1951 e 1955.
O Plano de Metas
Diversificação da Indústria
O Plano de Metas do governo Kubitschek programou investimentos para o período de 1956 a 1961
com o objetivo de expandir e diversificar a indústria.
O plano delimitou a área de atuação do governo, do capital estrangeiro e do capital nacional. O governo
e o capital estrangeiro passaram a liderar a industrialização a partir daí.
Os investimentos governamentais em infraestrutura concentraram-se nos setores de energia,
transporte, comunicação e insumos básicos.
A finalidade era fornecer, a baixo custo, aço e outras matérias-primas para a indústria de carros.
A produção do governo criaria demanda para os produtos da indústria estrangeira, que poderia remeter
seu lucro para o exterior sem problemas, além de ter garantia de reinvestimento e facilidade de
importar.
Imposto Inflacionário
A política econômica desse período não se preocupou com a inflação: a prioridade foi dada ao
crescimento econômico. De fato, a arrecadação do imposto inflacionário foi uma fonte importante de
receita para os investimentos do governo.
Novas Indústrias
Entre 1956 e 1961, os investimentos expandiram-se em setores complementares entre si, como os de
energia elétrica, aço, mecânica e transporte. Como consequência, a renda e o emprego aumentaram.
Foram montadas as indústrias de automóveis, de material elétrico, mecânica, construção naval e outras
indústrias de bens de capital. Também aumentou a produção de insumos básicos, como petróleo,
siderurgia, metais não-ferrosos, celulose, papel e química pesada.
Os investimentos na produção de bens de capital foram os principais responsáveis pelo crescimento
da economia no período. A indústria passou a produzir não apenas bens de consumo e intermediários,
mas também bens de capital.
Financiamento do Crescimento
O crescimento da indústria nacional foi financiado com empréstimos a juros negativos feitos pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Os grandes investimentos realizados pelo governo
aumentaram o déficit público, que era financiado com criação de base monetária.
Com a taxa de câmbio oficial mantida valorizada para proteger a indústria, recursos do setor exportador
migraram para esta. Isto também contribuiu para o crescimento industrial do período.
Plano Trienal
Em 1963, o governo Goulart elaborou o Plano Trienal para reduzir a inflação, garantir o crescimento
até 1965 e realizar as "reformas de base".
Para combater a inflação, foram adotadas políticas fiscal e monetária contracionistas. A carga tributária
foi elevada e os gastos do governo em investimento e subsídio foram reduzidos. O crédito ao setor
privado também foi contraído.
As reformas de base diziam respeito à reforma agrária, às reformas fiscal, administrativa e educacional
e à redução dos desequilíbrios regionais. Acreditava-se que a inflação não seria eliminada sem as
reformas de base.
A possível renegociação da dívida externa e o aumento das exportações faria com que entrassem
capitais externos. O Plano Trienal contava com isto para retomar o crescimento e melhorar a
capacidade de importar da economia.
O Plano Trienal não deu certo, porém, basicamente porque não foi bem recebido pela comunidade
internacional.
Inflação e PAEG
Em 1964, a inflação acelerou e o déficit do balanço de pagamentos aumentou. Instalou-se um governo
militar e a estabilização da inflação passou a ser prioridade de política econômica.
O Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) procurou reduzir a inflação através da diminuição
da demanda agregada. A ênfase recaiu na redução dos gastos do governo e na remoção do excesso de
demanda provocado pelas políticas populistas anteriores de juros baixos e aumentos de salário acima
da produtividade. Ao invés do tratamento de choque, a inflação procurou ser reduzida gradualmente.
Para reduzir o déficit do balanço de pagamentos, foi adotado um sistema de minidesvalorizações
cambiais.
As Reformas do PAEG
Foram criados novos mecanismos de intermediação financeira, houve um reordenamento do mercado
de capitais e foram adotadas novas medidas para atrair capitais externos.
A correção monetária foi um mecanismo de indexação introduzido para convivência com a inflação.
Também foram criadas condições financeiras para fornecimento de crédito ao consumidor.
Empréstimos de curto prazo para as empresas ficaram a cargo de bancos comerciais, enquanto
investimentos de longa maturação foram financiados por bancos de investimento. Em particular, a
construção civil foi financiada pelo Banco Nacional da Habitação (BNH).
Um mecanismo de poupança forçada foi criado em 1967 para financiar a construção civil ao lado do
BNH: o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que mais tarde levou a um grande impulso
da construção civil.
A arrecadação de impostos cresceu a partir de 1965 graças a uma reforma tributária centralizadora e a
aplicação da correção monetária aos tributos.
Títulos do Tesouro foram vendidos para financiar o gasto do governo com poupança privada.
As empresas estatais foram estimuladas a fixar os preços de seus produtos com base em planilhas de
custo. Estas empresas puderam então ampliar sua capacidade produtiva sem impactar as contas do
governo. Isto não se aplicou, porém, às empresas produtoras de insumos básicos.
Além das minidesvalorizações, foram instituídas outras medidas para atrair os investimentos
estrangeiros afugentados no final do governo anterior.
Na política salarial, reajustes foram concedidos com base na inflação prevista pelo governo
adicionando 1,5% pela produtividade. Como as previsões subestimaram a inflação, isto acabou
provocando perda do poder de compra dos salários entre 1965 e 1967.
Sucesso do Plano
Em geral, o PAEG foi um plano bem-sucedido: a inflação caiu entre 1964 e 1967. A estabilidade dos
preços juntamente com a reforma financeira, deixaram a economia em condições de voltar a crescer a
partir de 1968.
"Milagre Econômico"
Crescimento Explosivo e Aumento de Reservas
Os anos de 1969 a 1973 foram o período de maior crescimento da história da economia brasileira. O
setor de bens de consumo duráveis foi o que mais se expandiu. O período ficou conhecido como
"milagre econômico".
O retorno ao crescimento foi facilitado pela existência de capacidade ociosa do período anterior, pela
nova estrutura de financiamento montada no PAEG e pela disponibilidade de empréstimos
estrangeiros. Na falta de poupança doméstica, a poupança externa foi a alternativa viável.
As exportações aumentaram e o volume de empréstimos externos superou o montante utilizado para
financiar o crescimento. Houve, então, grande acúmulo de reservas cambiais.
Papel da Indústria
O crescimento econômico foi impulsionado pelo bom desempenho nas indústrias de bens duráveis
(automóveis e eletrodomésticos) e de construção civil. As indústrias de material elétrico, química,
construção naval e de bens de capital também aumentaram sua produção.
Financiamento da Demanda
A demanda por bens duráveis aumentou em virtude dos consórcios e do fornecimento de crédito ao
consumidor por empresas financeiras.
O Sistema Financeiro da Habitação, o BNH e o FGTS estiveram por trás da expansão da construção
civil, que passou a contratar mais. Com isso, cresceram o consumo agregado e a produção das
indústrias metalúrgica e de minerais não-metálicos.
Primeiro PND
O Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) foi elaborado para o período 1972-1974. O
"modelo brasileiro" seria organizar o governo de modo a tornar a economia plenamente desenvolvida
no espaço de uma geração.
Os custos da indústria nacional seriam reduzidos pelo fornecimento governamental de insumos básicos
mais baratos. As exportações, principalmente de produtos manufaturados, seriam diversificadas.
Seriam feitos investimentos em educação, no desenvolvimento tecnológico e na agricultura.
Petrodólares
Esse caminho foi viável por causa da grande liquidez internacional provocada pelo fato de os países
da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) terem acumulado dólares por causa de
seus superávits do balanço de pagamentos.
Optando pelo endividamento em petrodólares, a economia brasileira continuou importando petróleo e
matérias-primas para manter o crescimento, sem repassar os aumentos de preço destas importações
aos preços domésticos.
Segundo PND
Com a implantação do Segundo PND a partir de 1975, o governo aumentou seus gastos, construindo
grandes rodovias e usinas hidrelétricas e nucleares. O principal objetivo do segundo PND era alterar
a estrutura produtiva da economia visando reduzir a dependência de energia e outros insumos básicos.
Para a exploração doméstica de petróleo, foram estimulados contratos de risco com empresas privadas.
Além disso, incentivou-se a produção de álcool. Para reduzir as necessidades de importação de bens
intermediários, o governo investiu em petroquímica e metalurgia. Como estas indústrias utilizavam
muita energia, acabaram provocando aumento das importações de petróleo.
Aumento do Governo
Embora a intenção do Segundo PND fosse fortalecer a iniciativa privada doméstica, mais uma vez o
governo se encarregou dos investimentos pesados. Entre 1974 e 1976, investimentos privados foram
financiados basicamente com crédito subsidiado pelo governo. Houve grande crescimento das
empresas estatais, que passaram a liderar a industrialização. Foram feitos grandes investimentos pela
Eletrobrás, Siderbrás, Petrobrás, Embratel e outras.
Este foi o período de maior interferência do governo na economia, tanto por meio de investimentos
diretos como pela concessão de subsídios ao setor privado.
Dívida Externa
O Segundo PND foi abandonado posteriormente. Entretanto, os grandes investimentos continuaram
em andamento. Até o final dos anos setenta, a política econômica hesitou entre estabilização e
crescimento. Na prática, a política se voltou para a obtenção de divisas via exportações, para pagar os
juros e o principal da dívida externa. O crescimento da dívida interna do governo também passou a
ser um problema.
Relação Entre Dívida Externa e Interna
Até 1975, o Banco Central havia emitido títulos da dívida do governo apenas para esterilizar o grande
volume de empréstimos externos que entraram na economia, evitando assim o aumento da base
monetária.
A partir de 1976, a dívida externa começou a crescer sem que estivesse necessariamente financiando
o crescimento econômico. Cerca de um terço das divisas tiveram que se destinar ao pagamento de
juros e principal da dívida externa acumulada.
Para esterilizar as divisas que entravam no Banco Central para pagamento de juros, este era forçado a
colocar mais títulos da dívida pública. Através deste mecanismo, a dívida externa se relacionou com a
dívida interna durante toda a década dos anos setenta.
Inflação de Custos
A partir de agosto de 1979, o governo aumentou o crédito, já que diagnosticava que a inflação era
causada por custos. Por outro lado, fez uma política monetária expansionista e reajustou tarifas
públicas.
Segundo Choque
No final 1979, o preço do barril de petróleo aumentou novamente. As principais taxas de juros
internacionais também se elevaram. Isto aumentou o valor das importações e os juros da dívida externa.
O governo foi obrigado a retirar os subsídios aos exportadores para reduzir seu gasto. Para compensar
o déficit da balança comercial, a taxa de câmbio foi fortemente desvalorizada em dezembro de 1979.
Por causa da desvalorização cambial, as importações de petróleo ficaram mais caras, contribuindo para
o aumento da inflação. A partir do segundo semestre de 1980, o governo passou a controlar a oferta
de moeda visando reduzir a demanda agregada. Apesar disto, o PIB ainda cresceu em 1981, por causa
da política monetária expansionista do primeiro semestre de 1980
Superávit Comercial
Para obter superávits comerciais, o governo buscou novas fontes de energia e reorientou a economia
no sentido de aumentar as exportações.
Houve grandes investimentos na produção e exploração de petróleo e em fontes alternativas de energia,
como o álcool. Como resultado, a dependência com relação ao petróleo diminuiu.
Para recuperar a competitividade das exportações brasileiras no mercado internacional, o governo
desvalorizou a moeda em 1983, visando complementar a maxidesvalorização de 1979.
Foram também concedidos subsídios a produtos exportáveis.
Além disso, a recessão ajudou a aumentar as exportações, já que se podia exportar o que antes era
destinado à demanda interna.
Combate à Inflação
O governo passou a combater a inflação por controle de preços, o que provou ser ineficaz. Além disso,
os gastos públicos foram reduzidos, os impostos aumentados e os preços das tarifas públicas
corrigidos, visando reduzir o déficit do governo. Isto forçou ainda mais a queda da demanda agregada.
A política monetária limitou seletivamente o crédito interno e manteve as taxas de juros acima das
taxas internacionais, o que aumentou o serviço da dívida do governo.
A Vinda do FMI
O Fundo Monetário Internacional passou a monitorar a economia brasileira a partir de dezembro de
1982.
O grande superávit comercial e o uso de todas as reservas de divisas disponíveis não tinham sido
suficientes para cobrir o déficit do balanço de pagamentos. Além disso, não entraram empréstimos
externos e os juros internacionais crescentes aumentaram ainda mais o serviço da dívida externa.
O balanço de pagamentos continuou sendo o centro da política macroeconômica. O objetivo principal
foi reduzir o déficit em conta corrente.
O governo cortou subsídios às exportações e aumentou os preços das tarifas públicas. Porém, a inflação
não se reduziu e a queda do PIB acentuou-se em 1983.
O Efeito da Recessão
Durante o período 1981-1983, praticamente todos os setores da indústria tiveram sua produção
reduzida. Uma das poucas exceções foi a indústria extrativa mineral, que cresceu por causa do aumento
da produção doméstica de petróleo.
Nova República
Em 1985, a economia manteve a tendência de recuperação do crescimento iniciada em 1984. Embora
os pagamentos do serviço da dívida externa tenham exigido a manutenção do superávit comercial, este
deixou de ser o principal objetivo da política do governo.
O governo da chamada Nova República priorizou a manutenção do crescimento e a renegociação dos
prazos e dos juros da dívida externa.
Controle de Preços
Para reduzir a inflação, houve controle direto dos preços e, secundariamente, interrupção da expansão
monetária por meio de altas taxas de juros.
A estabilidade de preços foi conseguida temporariamente às custas do rígido controle de preços e do
congelamento dos preços dos serviços públicos.
Como isto criou distorções nos preços públicos, a capacidade de autofinanciamento das empresas
estatais foi prejudicada e o déficit público, portanto, aumentou. As estatais recorreram, cada vez mais,
a recursos do Tesouro.
Para conter seu déficit, o governo tencionava cortar gastos e aumentar a arrecadação de impostos.
Plano Cruzado
A partir de 1986, a estabilização da inflação passou a ser a principal preocupação da política
macroeconômica.
O governo adotou o Plano Cruzado, procurando acabar com a indexação, fazer uma reforma monetária
e congelar preços e salários.
O governo acreditava que a inflação era "inercial", alimentada pela indexação.
Com os preços controlados, o produto e o emprego da economia cresceram, no primeiro semestre de
1986, por causa do aumento do consumo.
Com as taxas de juros congeladas em um nível muito baixo, seguiram-se uma expansão monetária e
um grande aumento do consumo.
Os gastos do governo, que vinham crescendo desde 1985, continuaram a aumentar em 1986 e, em
1987, atingiram recorde histórico.
A demanda agregada aumentada esbarrou na insuficiência de produtos, que desapareciam das
prateleiras por causa do congelamento. Houve um enorme excesso de demanda.
Como não havia incentivo para o investimento privado, o governo resolveu investir. Para obter a
poupança para este investimento, instituiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND). O FND era
uma contribuição forçada das pessoas que consumiam os bens considerados "não-essenciais" pelo
governo.
Com a taxa de câmbio congelada em nível sobrevalorizado, houve progressiva queda das exportações,
acompanhada de elevação das importações.
Como o consumo de importados aumentou, o saldo da balança comercial caiu.
Em vez de descongelar os preços e cortar seu gasto, o governo insistiu no congelamento, tentou
restringir seletivamente o consumo e fez gastos de investimento.
Com a persistência do excesso de demanda, aumentou o desabastecimento e surgiram os ágios
cobradas sobre os produtos em falta.
Para reduzir o desabastecimento, o governo tentou aumentar as importações, mas isto não foi possível
diante da queda do saldo comercial e da necessidade de pagamentos de juros da dívida externa.
Depois das eleições de novembro de 1986, o governo descongelou os preços. A inflação galopou.
De Volta à Realidade
A política do governo restaurou, então, a indexação e passou a dar importância ao controle da demanda
agregada. Para reduzir a demanda agregada, o governo tentou diminuir seus gastos e aumentou os
impostos indiretos.
Do lado das contas externas, o governo adotou minidesvalorizações da taxa de câmbio. Contudo, a
queda do superávit comercial levou à moratória: os juros da dívida externa não puderam ser pagos.
Plano Bresser
Em junho de 1987, o governo anunciou o Plano Bresser de combate à inflação. O diagnóstico foi o
mesmo do Plano Cruzado: inflação inercial. O Plano Bresser, porém, reconheceu o papel das políticas
monetária e fiscal convencionais.
Sem procurar desindexar a economia, o governo congelou mais uma vez preços e salários, além de
adotar políticas monetária e fiscal contracionistas.
Poucos meses após a implantação do plano, a inflação voltou a crescer, graças às pressões para
aumento dos preços dos bens que tinham ficado defasados quando do congelamento.
Como as empresas temiam novo congelamento de preços no final do ano, foram feitas remarcações
defensivas que contribuíram para o aumento da inflação. Além disso, a atividade econômica continuou
desacelerando.
Um Ano Sem Planos
Em 1988, a inflação aumentou progressivamente e o produto agregado quase não cresceu. Não houve
plano de estabilização em 1988. O governo procurou administrar os preços sobre os quais tinha
controle direto: os preços das tarifas públicas e a taxa de câmbio.
Embora o governo tenha tentado diminuir as necessidades de financiamento do setor público,
comprimindo os salários do funcionalismo, a administração de preços acabou aumentando o déficit
público.
A inflação piorou no segundo semestre de 1988.
Em outubro, o governo tentou o "pacto social": um acordo com trabalhadores e empresas para pré-
fixar preços e salários.
Ao contrário de salários e preços, as tarifas públicas respeitaram as metas de reajustes estabelecidas
pelo pacto. Com as tarifas públicas defasadas em relação à crescente inflação, o déficit do governo
aumentou ainda mais.
Plano Verão
Em janeiro de 1989, o governo fez outra tentativa de combate à inflação, instituindo o Plano Verão.
Houve outra reforma monetária, preços e salários foram congelados e foram tomadas medidas para
desindexar a economia. O Plano Verão enfatizou, porém, políticas monetária e fiscal restritivas.
O governo realinhou os preços públicos e comprometeu-se com uma política fiscal austera. Além
disso, desvalorizou a taxa de câmbio para ampliar o saldo comercial.
Na execução do plano, o governo subestimou os reajustes de preços ocorridos nas últimas semanas
que o precederam. A inflação de janeiro surpreendeu o governo. O Plano Verão não pôde funcionar já
que tinha sido completamente antecipado e, além disso, o governo não desfrutava de credibilidade.
As previsões de redução do déficit público não foram cumpridas.
Restou à política monetária compensar os maus resultados da política fiscal, mantendo as taxas de
juros elevadas, o que aumentou o serviço da dívida interna.
Nos dois meses seguintes à implantação do Plano Verão, houve grande crescimento do consumo e
aumento do ágio no mercado paralelo do dólar.
Graças ao fato de o Banco Central não ser independente do Tesouro, a dívida foi monetizada, a despeito
da política de juros altos.
Plano Collor
O Plano Collor veio em março de 1990. Preços e salários foram congelados, nova reforma monetária
foi feita e tentou-se mais uma vez desindexar a economia.
O plano congelou a dívida interna do governo e bloqueou todas as aplicações financeiras, inclusive
depósitos em caderneta de poupança. Houve aperto do crédito e as taxas cobradas pelos depósitos
compulsórios dos bancos foram aumentadas.
A taxa de câmbio foi liberada para evitar que empresas estrangeiras tivessem aperto de liquidez.
O plano tentou fazer uma reforma estrutural no governo, através de privatizações e de corte do
funcionalismo. Vários tipos de subsídios foram suspensos e a carga tributária foi aumentada. As tarifas
dos serviços públicos foram realinhadas.
Essas medidas, juntamente com o aumento das importações, aumentaram os custos da produção.
A inflação caiu no início, mas retornou em seguida. O Plano Collor não conseguiu estabilizar a
inflação, apesar de ter impedido a hiperinflação em curso.
Com a interrupção do governo Collor em 1992, as metas de estabilização passaram para o segundo
plano. A ênfase foi dada ao crescimento econômico.
O Programa de Estabilização Econômica, ou Plano Real, foi concebido e implementado em três etapas:
Estabelecimento do equilíbrio das contas do governo, objetivando eliminar a principal causa da
inflação;
Criação de um padrão estável de valor, a Unidade Real de Valor (URV);
Emissão de uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estável, o real.
Fase 1 – o PAI. A primeira etapa do Real foi implantada com o Programa de Ação Imediata (PAI), em
14 de junho de 1993 (governo Itamar Franco).
A necessidade de equilibrar as contas públicas implicava efetuar uma ampla reorganização do setor
público e de suas relações com a economia privada. Para tanto, o governo diagnosticava as seguintes
necessidades:
Redução dos gastos da União e aumento da eficiência no ano de 1993;
Equacionamento das dívidas de estados e municípios com a União;
Controle mais rígido dos bancos estaduais;
Saneamento dos bancos federais;
Aperfeiçoamento do programa de privatização, ou seja, redução da participação do governo na
economia por meio da privatização das estatais.
O setor financeiro era o beneficiário direto do desajuste fiscal, pelo efeito das taxas de juros e da
inflação sobre suas receitas. Assim, quando a inflação caísse e os juros baixassem, diversas
instituições financeiras teriam que recorrer ao BC para sobreviver. Seria necessário promover um
processo de saneamento dos bancos públicos e privados.
Medidas iniciais do PAI:
Corte orçamentário de US$ 6 bilhões em 1993;
Proposta de orçamento de 1994 deveria ser baseada em estimativa realista de receita, em vez
de nortear-se pelas pretensões de gastos do governo;
Encaminhamento de projeto de lei que limitasse as despesas com os servidores civis em 60%
da receita corrente da União, assim como dos estados e municípios, o que permitiria exercer
maior controle sobre gastos com funcionalismo;
Elaboração de projeto de lei que definisse claramente as normas de cooperação da União com
estados e municípios. Essa lei também estabeleceria a obrigatoriedade dos estados e municípios
de se manterem em dia em seus débitos com a União para receber verbas federais. Essa rigidez
legal foi imposta por ser um elemento essencial para outras etapas do Plano Real.
O aprofundamento do ajuste foi viabilizado a partir da criação do Fundo Social de Emergência,
cujo objetivo era equilibrar o orçamento e atenuar a excessiva rigidez dos gastos da União
determinada pela Constituição de 1988.
Para auxiliar o governo federal a equilibrar suas contas no biênio 1993-1994, foi aprovado o
Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF).
Combate à sonegação:
A evasão fiscal inviabilizava o ajuste das contas públicas. Para cada cruzeiro arrecadado,
outro cruzeiro era sonegado. Como parte do PAI, o governo aumentou a fiscalização sobre
as maiores empresas do país e passou a atuar de maneira mais contundente na cobrança dos
impostos das pessoas físicas.
Proibiu-se a inadimplentes do governo federal a participação em concorrências públicas, a
tomada de empréstimos de bancos oficiais e a manutenção de qualquer tipo de concessão
pública.
O objetivo expresso pelo governo para a realização desse ajuste tributário era criar
condições para uma reforma tributária.
A reforma tributária não foi realizada por diversas razões, entre as quais a inviabilidade de
alguns projetos, a falta de “vontade política” de realizá-los e o fato de a reforma ter sido
preterida por sucessivos “pacotes” de medidas emergenciais.
Relacionamento com estados e municípios:
Redução das transferências de recursos federais, regularização do pagamento de dívidas
vencidas com a União e tentativa de impedir que os estados voltassem a condição de
insolvência;
Foram estabelecidas condições globais para o endividamento público, restringindo-se
também o acesso ao crédito e retendo-se os repasses de recursos federais para os estados e
municípios em débito com instituições federais.
Bancos estaduais:
O BC deveria exercer um controle mais rígido sobre os bancos estaduais, com severo
cumprimento das normas relativas ao montante mínimo de capital dessas instituições, bem
como limitação na concessão de empréstimos para entidades do setor público;
Promoção da reestruturação dos bancos estaduais e federais, para racionalizar suas
estruturas, tornando-os mais competitivos. O Banco do Brasil teria sua vocação agrícola
incentivada.
Privatizações:
O equilíbrio fiscal demandava o fim das transferências para empresas estatais
deficitárias;
A transferência para o setor privado dos custos necessários a modernização da
infraestrutura.
Fase II – URV
A URV foi implementada em 27 de fevereiro de 1994 e serviu como transição para a introdução
de uma nova moeda.
Seu objetivo era proporcionar aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilidade
de preços.
O cruzeiro real, introduzido em 1993, estava se desvalorizando a taxas crescentes, o que
alimentava aumentos constantes de preços e salários.
A URV foi utilizada para restaurar a função de unidade de conta da moeda, que havia sido
destruída pela inflação, bem como para referenciar preços e salários. O BC emitia, diariamente,
relatórios sobre a desvalorização do cruzeiro real e a cotação da URV. Em pouco tempo
provocou-se uma indexação generalizada da economia.
Patrões e empregados utilizavam a URV para determinar preços e salários. Por motivos
jurídicos e sociais, os salários e os benefícios previdenciários foram os primeiros valores a
serem convertidos para URV, seguidos pelos contratos e preços num processo que se
desenvolveu durante três meses.
O pressuposto básico do Plano Real foi o da neutralidade distributiva. Salários foram
convertidos pela média de quatro meses.
Ao transformar negócios prefixados em pós-fixados, o novo padrão monetário levou os agentes
a analisar de maneira criteriosa seus custos e iniciou um processo de eliminação da memória
inflacionária facilitado pela ampla disseminação da URV.
Fase 3 – a nova moeda
Uma vez que grande parte dos valores haviam sido convertidos para a URV, a nova moeda –
o real – foi introduzida sem que houvesse um consenso na sociedade de que a transição já
estava completa. Em 1o de julho de 1994, o governo decretou a MP do Plano Real, acusado de
render-se a objetivos eleitorais;
Para manter o valor da nova moeda, o governo alterou radicalmente os métodos empregados
para definição da política monetária, tornando-os mais rígidos;
Estabeleceu-se um teto máximo na taxa de câmbio, um real equivalia a um dólar;
O BC detinha US$ 40 bilhões em reservas, porém a taxa de câmbio não era fixa, mas o BC e o
CMN tinham instruções bem rígidas com relação à necessidade de manutenção do teto
máximo.
A valorização ocorrida em sua fase inicial foi muito criticada, mas o Plano Real foi considerado
por diversos analistas um dos mais bem-sucedidos programas de estabilização da história do
Brasil.
Nível de Atividade, Renda e Emprego
O PIB cresceu 5,6% em 1994 e o setor industrial apresentou expansão de 7%.
O setor de serviços cresceu 4% menos que os outros setores, em parte como resultado do
desaparecimento do ganho inflacionário.
Embora muitos acreditassem que o programa seria recessivo, a economia manteve-se em
expansão nos primeiros três meses de 1995.
Ao adotar, no final de 1995, medidas de aumentos dos empréstimos compulsórios, restrições
de crédito e juros elevados, o governo claramente optou por sacrificar o crescimento a fim de
evitar um déficit muito elevado no balanço comercial e de reforçar a prevenção contra uma
eventual inflação de demanda.
A brusca queda da inflação teve efeitos significativos sobre o poder de compra da população.
Ganho adicional de renda real adveio da eliminação da incerteza associada à forte oscilação
dos salários reais.
Esse ganho derivado da estabilidade da moeda explicitou-se no mercado pela maior facilidade
que os assalariados passaram a ter no acesso ao crédito ao consumidor.
Entre junho e dezembro de 1994 os empréstimos do sistema financeiro às pessoas físicas
aumentaram em 150%.
Setor Externo:
A redução das alíquotas tarifárias e o dólar barato estimularam o aumento das importações, ao
mesmo tempo que exportar se tornava um mau negócio.
A restrição externa tornou-se o maior fator de limitação ao crescimento econômico, porque
sempre que a atividade econômica cresce as importações aumentam. Adicionalmente, quando
o mercado interno está aquecido, os produtores tendem a se voltar para o atendimento da
demanda interna, geralmente em condições mais rentáveis em virtude da situação cambial.
Em 1997, diante da crise asiática, a vulnerabilidade da economia brasileira tornou-se evidente
e o governo foi mais uma vez obrigado a adotar medidas de contenção do nível de atividade
para evitar o descontrole externo
O retorno ao FMI
O enorme déficit em conta corrente e o déficit público em 1998, somados a crise russa,
aumentaram a desconfiança dos credores e dificultaram a obtenção de créditos externos.
A grande perda de reservas cambiais levou o Brasil a recorrer ao FMI, que ofereceu uma linha
de empréstimos de US$ 41,5 bilhões a serem sacados sob demanda.
Em janeiro de 1999, existiam muitas dúvidas sobre a capacidade do Brasil de honrar os
compromissos assumidos com o FMI. Manter a taxa de juros elevada era um remédio que
debilitava mais que a “doença” pois, o seu aumento agravaria a recessão e diminuiria a receita
do governo, afetando-o também nas suas contas pela elevação do custo do financiamento da
dívida pública.
A mudança, um tanto atabalhoada, do sistema cambial (de fixo para flutuante) iria permitir um
ajuste lento no balanço de pagamentos reduzindo consideravelmente o déficit em conta
corrente desde então.
A adoção do regime de metas de inflação a partir de 2000 deu maior credibilidade à política
monetária e permitiu taxas de juros menores, ainda que elevadas, que as do antigo regime.
A instabilidade no nível de atividade econômica manteve-se em razão do quadro de
desaquecimento simultâneo dos principais países da economia internacional e, internamente,
do racionamento de energia, que restringiu o crescimento econômico.
Reformas do período (1994/1999):
Privatização
Fim dos monopólios estatais nos setores de petróleo e telecomunicações
Mudança no tratamento do capital estrangeiro
Saneamento do sistema financeiro
Reforma (parcial) da previdência social
Renegociação das dívidas estaduais
Aprovação da lei de responsabilidade fiscal (LRF)
Ajuste fiscal, a partir de 1999
Criação de agências reguladoras de serviços de utilidade pública
Eventos importantes durante o período 1994/2002
Crise do México (1994), dos tigres asiáticos (1997) e da Rússia (1998);
Apreciação cambial (real se valorizou perante o dólar) com a utilização de um câmbio pouco
flexível;
A atividade econômica cresceu rapidamente no primeiro ano do plano com a queda do desemprego
inicialmente (1995) e posterior aumento nos anos seguintes;
A expansão econômica foi baseada principalmente no consumo (bens duráveis mais sensíveis ao
crédito), com baixo crescimento do investimento e melhoria da produtividade;
Crescimento dos salários reais;
Rápida deterioração da balança de pagamentos com elevação no déficit da conta de transações
correntes;
Crise da Argentina (2000) impactando o fluxo de investimentos em países em desenvolvimento;
Aumento expressivo da dívida interna, decorrente do grande fluxo de investimentos especulativos
em busca de juros reais, que estiveram muito altos durante toda a década;
Introdução do tripé macroeconômico que passou a marcar a política ecnômica do 2º governo
Fernando Henrique:
Geração de superávit primário para fazer frente ao aumento da dívida pública;
Câmbio flutuante;
Fixação de metas de inflação.
Rápida deterioração do ambiente econômico em 2002 (taxa de juros, câmbio e superávit primário)
face as incertezas quanto a possível eleição de Lula e seu programa contrário ao Plano Real.
Os governos Lula
Conjuntura internacional extraordinariamente favorável entre 2003 e 2006. Melhora generalizada dos
indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural dos países em desenvolvimento.
O Governo Lula foi responsável pela perda da oportunidade extraordinária criada pelo contexto
internacional pós-2002 que permitiria colocar o país em trajetória de desenvolvimento econômico
estável e dinâmico.
O 1º Governo Lula manteve a mesma política econômica do segundo Governo FHC – metas de
inflação, ajuste fiscal permanente e câmbio flutuante. A melhora das contas externas foi causada pelos
crescentes superávits comerciais. Os principais determinantes do desempenho da balança comercial
foram a desvalorização cambial de 2002, o crescimento das economias americana e chinesa, a
recuperação da Argentina e a elevação dos preços das commodities.
A trajetória descendente da dívida líquida externa se deveu diretamente aos grandes saldos da balança
comercial.
A relação dívida interna/PIB foi crescente em decorrência da troca de dívida externa, de maior prazo
e menor juro, por dívida interna, de prazo menor e taxas de juros mais elevadas.
No 1º Governo Lula as elevadas taxas de juros praticadas acarretaram montante acumulado de
pagamentos de juros de R$ 590 bilhões, aproximadamente 61% maior do que aquele acumulado entre
1999 e 2002.
A trajetória instável e de baixas taxas de crescimento do PIB esteve associada a taxas de investimento
baixas e de desemprego altas. Taxa de desemprego - apesar da tendência de queda durante o governo
Lula, esta taxa se manteve em níveis elevados, inclusive, superiores aos níveis observados durante o
primeiro mandato de FHC.
A inflação média entre 2003 e 2010 foi da ordem de 5,7% ao ano, ainda elevada para os padrões
internacionais, considerando-se, inclusive, a média inflacionária dos países emergentes. Ademais, em
2003 a meta de inflação não foi atingida, bem como em 2004 ela somente foi alcançada - diga-se de
passagem, 0,4% abaixo do limite superior de 8,0% - após o Banco Central do Brasil (BCB) ter alterado
tanto o alvo da meta quando o intervalo de variação da banda.
A taxa média de crescimento do PIB foi da ordem 4,0% ao ano. Ademais, o PIB apresentou uma
volatilidade acentuada, caracterizando-se por um processo à la stop and go.
A taxa média de desemprego, apesar da geração de 15 milhões de empregos entre 2003 e 2010, foi
aproximadamente 9,5% ao ano.
A balança comercial apresentou trajetórias bastante distintas ao longo dos dois mandatos de Lula da
Silva: entre 2003 e 2006, o saldo comercial cresceu cerca de 86,0%, passando de US$ 24,8 bilhões
para USS 46,1%, ao passo que no segundo Governo, o saldo comercial apresentou uma queda de
68,0%, atingindo um valor de US$ 15,0 bilhões.
Comportamento semelhante teve o saldo de balanço de pagamentos em transações correntes: até 2007,
o referido saldo foi positivo e entre 2008 e 2010 o saldo de balanço de pagamentos em transações
correntes acumulou um déficit da ordem de US$ 102,5 bilhões.
Por fim, o setor público apresentou uma dinâmica relativamente estável e confortável: por um lado, a
relação resultado fiscal primário/PIB manteve-se próxima a 4,0% entre 2003 e 2008 e foi reduzida, em
2009 e 2010, para cerca de 2,5% devido às políticas fiscais contracíclicas implementadas para que o
País enfrentasse a crise financeira internacional. Por outro, a razão dívida líquida/PIB caiu ao redor de
21,0%, passando de 53,5%, em 2003, para 42,0%, em 2010.
Os governos Dilma
No início do governo Dilma o BCB mudou sua política monetária, forçando uma baixa artificial da
Selic, levando-a a 7,5% a.a. em 2012. Esta ação combinada com uma política fiscal expansiva manteve
a inflação próxima ao limite superior da meta de inflação.
A partir do final de 2013 o BCB teve que retomar sua política de juros altos para combater a inflação
e aumentou a Selic. A taxa em 2015 atingiu o patamar de 14,25% aa.
Pontos Críticos:
Queda da produtividade – esgotamento das reformas anteriores.
Enfraquecimento das instituições com comprometimento da responsabilidade fiscal;
Crescimento com base na ampliação do consumo – esgotamento;
Excesso de intervenção estatal, mudanças de regras, perda de credibilidade da política econômica.
Crédito subsidiado do BNDES aumentando a dívida pública, diminuiu a transparência das ações
de política fiscal. Pouca contribuição para o investimento.
A taxa anualizada para o período 2011/14 ficou em 2,12%, uma das menores taxas médias de
crescimento da história da economia brasileira. A taxa anualizada dos dois períodos do presidente Lula
foi igual a 4,0%. Comparando-se os dois governos, do presidente Lula e da presidente Dilma, o Brasil
deixou de crescer 1,9% a cada ano
A técnica da contabilidade do crescimento econômico indica que a principal fonte para explicar a
redução do crescimento econômico no governo Dilma foi o crescimento zero da produtividade total
dos fatores de produção. De um ponto de vista técnico não é fácil identificar as causas que estão por
trás desse fenômeno. Todavia, a intervenção casuística na economia, com pacotes de política
econômica do tipo apaga incêndio, gera incertezas, destrói a credibilidade da política econômica e cria
um ambiente refratário ao investimento.
O governo não pode anunciar metas e deixá-las de cumprir, como aconteceu, por exemplo, com a
política monetária, com a inflação acima de 8,0%, enquanto o centro da meta é 4,5%. A contabilidade
criativa da política fiscal utilizada durante o 1º governo não enganou ninguém, apenas destruiu a
credibilidade do governo
O governo Dilma pode ser considerado em termos de crescimento econômico o quarto pior no período
republicano já que durante este governo a economia brasileira “andou para trás” em alta velocidade.
Para ilustrar, no período 2011-13 a economia brasileira cresceu 2,0% a.a. enquanto a economia
mundial cresceu 3,5% a.a. (média simples das taxas anuais de 188 países da base de dados do FMI).
Neste período o hiato de crescimento médio foi de -1,5%.
No período 2011-14 as taxas são 1,9% e 3,7% respectivamente e, portanto, o hiato aumentou para -
1,8%
Uma análise sobre as condições que geraram esses péssimos resultados alcançados durante o 1º
governo, podem ser resumidos em 5 (cinco) determinantes:
Conjuntura internacional desfavorável;
Políticas econômicas inadequadas e ausência de reformas;
Déficit de governança;
Nulidade de liderança da presidenta; e
Deficiências do modelo de desenvolvimento adotado.
No 2º governo Dilma, na política monetária, o ajuste de 2015 teria que ser feito ou mudando-se o
centro da meta ou trazendo a economia para o centro da meta.
Na política cambial, o Banco Central teria que abandonar a política de controle sistemático do câmbio
e adotar o sistema de flutuação suja, no qual as intervenções no mercado de câmbio são esporádicas e
pontuais.
E na política de combate de inflação, tinha que voltar ao sistema de metas de inflação que prescinde
de controle de preços, que nunca deu certo. O resultado dessas dificuldades herdadas e ampliadas pela
presidente culminaram em seu impeachment em 2016.
A dívida interna aumentou em mais de 70% e algumas das maiores empresas do País tiveram perda
expressiva de valor de mercado, como a Vale, com queda de 63,45% no valor da ação, e a
Petrobrás, com recuo de 55,85% na cotação do papel.
O governo Temer
A partir de 2014, a crise econômica que se abateu sobre a economia brasileira principalmente nos anos
de 2015 e 2016 representou uma das maiores recessões da história econômica brasileira, ampliando a
deterioração dos cenários político e econômico que já estavam presentes nos anos anteriores ao
impeachment.
Os resultados negativos do PIB de 2015 e 2016 tem sua origem em algumas mudanças ocorridas no
ambiente interno da economia brasileira, bem como na economia internacional. As principais
mudanças que podem ser listadas conforme abaixo:
Queda na taxa de investimento – em 2016 o investimento representava 70% do nível de 2013, com
destaque para construção civil e máquinas e equipamentos. Essa piora deriva de alguns fatores:
Esgotamento do ciclo de desenvolvimento da primeira década e piora na economia global;
Piora das contas públicas, com diminuição do superávit primário, aumento da dívida
pública e perda do grau de investimento no final de 2015;
Aumento das taxas de juros para tentar controlar a inflação decorrente da liberação de
alguns preços administrados (energia, combustíveis, etc.), influenciando negativamente o
investimento.
Operação Lava Jato impactando as operações de grandes empresas, principalmente de
construção civil e petróleo e gás.
Aumento do nível de desemprego – 6,8% em média (2013) para 11,3 em média (2016). Entre 2015
e 2016 foram destruídas mais de 3 milhões de vagas formais de emprego, principalmente na
indústria (928 mil) e na construção civil (775 mil).
É nesse ambiente de crise que o governo do novo presidente tenta uma série de reformas, a partir de
uma mudança radical na política econômica. Assim que ocorreu a mudança de governo, em maio de
2016, a nova administração tinha o diagnóstico de que precisaria adotar uma política econômica mais
convencional, reforçando os pilares do tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal, preocupação
com a inflação e equilíbrio externo. Além disso, necessitava recuperar a credibilidade do Banco
Central, perdida na gestão anterior, e diminuir a intervenção do governo na economia, fosse por meio
de redução de políticas setoriais, de proteção comercial ou até mesmo de crédito subsidiado, a fim de
melhorar a alocação de fatores na economia.
O objetivo era alcançar um crescimento sustentado com taxa média entre 3,5% e 4%, o que
corresponderia a um aumento anual de 2,5% do PIB per capita. Desde o início o novo governo teve
como objetivo ser reconhecido pela agenda das reformas.
Em vista da forte deterioração fiscal observada nos anos anteriores, e sendo ela uma das principais
causas da crise econômica, pode-se dizer que o principal pilar das reformas do governo de Michel
Temer foi o fiscal. Nesse sentido, logo nos primeiros dias de sua gestão, foi proposta a adoção de uma
regra fiscal para o teto de gasto (também chamado de Novo Regime Fiscal), aprovada em dezembro
de 2016.
Para justificar a PEC, o governo partiu do diagnóstico de que o quadro fiscal deteriorado, cuja raiz
principal estaria no crescimento acelerado da despesa, implicava elevados prêmios de risco, perda de
confiança, juros altos e efeitos negativos na atividade. Com base no texto aprovado, o teto de gastos
terá duração de vinte anos. Nos dez primeiros, o limite das despesas será corrigido pela inflação do
ano anterior; do 11º ao vigésimo ano, existe a possibilidade de alteração da regra, caso o governo
considere necessário. A implementação do teto de gastos colaborou para a percepção de menor risco
fiscal, com impactos consideráveis nas taxas de juros.
Temer se cercou de uma equipe econômica de renome internacional que, a despeito dos últimos
resultados, que frustraram as projeções oficiais para 2018, conseguiu feitos como manter a inflação
dentro da meta e tirar do negativo o desempenho do produto interno bruto (PIB). Com a indicação de
Pedro Parente para o comando da Petrobras, o governo também conseguiu tirar da beira do precipício
uma estatal que, atolada em dívidas bilionárias e alvejada pelo mega esquema de corrupção
desvendado pela Operação Lava Jato, quase teve suas contas insolventes.
O respiro foi breve. Nos dois anos de gestão, o presidente tentou supervalorizar índices como a alta do
PIB em 2017. O resultado foi acanhado, de 1%, mas parecia animador depois de dois anos
consecutivos de retração da atividade econômica. Ainda mais quando aliado às quedas do resultado
inflacionário e da taxa básica de juros (Selic) para 6,5% anuais, o menor nível desde 1986, quando o
Banco Central deu início à série histórica de medição da Selic.
Apesar dos êxitos iniciais, o ano de 2018 não correspondeu as projeções feitas quando da mudança da
política econômica. Previsto inicialmente para um crescimento do PIB em torno de 3%, o resultado
atual indica um crescimento para 2018 menor do que 1,5%, e uma queda na taxa de desemprego menor
do que o necessário para a recuperação da economia. Alguns fatores internos e externos geraram essa
frustração no crescimento econômico, quais sejam:
Greve dos caminhoneiros em maio de 2018;
Especulação política em relação ao presidente devido ao seu envolvimento em inquéritos da
operação Lava Jato;
Manutenção de grande déficit fiscal decorrente de frustração de receitas públicas e baixa
recuperação do consumo e do investimento.
Especulação cambial decorrente do ambiente político extremamente polarizado, e do aumento
das taxas de juros dos USA, gerando pressões inflacionárias;
Frustração da safra agrícola, que não repetiu a grande produção de 2017;
Insegurança quanto aos rumos da política econômica no ano de 2019, retendo investimentos
produtivos face a instabilidade gerada.
Instabilidade política e econômica leva a população a consagrar nas urnas um político que se
apresentava como uma mudança radical nos rumos do país.
Dados do Período
Ano PIB % Per capita (R$) Inflação % Desemprego % SELIC Dívida/PIB %
2017 1,0 31.586 2,95 12,7 7,0 74,0
2018 1,1 32.747 3,75 11,6 6,5 76,7
O governo Bolsonaro
Economia continua com baixo crescimento. Projeção do crescimento do PIB abaixo de 1%. No
início do governo era de 2,5%.
Desemprego continua alto e sem perspectiva de mudança no curto prazo - 12,4%. Somando-se aos
considerados desalentados, o desemprego ultrapassa 25,0 milhões de brasileiros.
Expectativas do setor empresarial, que eram positivas no início do governo, estão em queda.
Crise fiscal continua provocando déficits sistemáticos e apontam para crescimento da relação
dívida/PIB. Queda na arrecadação provoca aumento no contingenciamento das despesas públicas,
podendo gerar crise na manutenção de órgãos públicos.
Proposta de liberação do FGTS não resolve a queda no consumo e amplia a crise na construção
civil, que depende desses recursos para ampliar a oferta de moradia para as classes de baixa renda.
Aprovação da reforma da previdência em 1º turno aponta para uma possível melhora de
expectativas no segundo semestre, caso ocorra aprovação sem maiores alterações no Senado.
Acordo preliminar do Mercosul com União Européia após vinte anos de negociação, é um bom
prenuncio de melhoria das contas externas da economia brasileira.
MP da liberdade econômica pode melhorar o ambiente de negócios atual, ao desburocratizar a
vida de empresários, principalmente dos pequenos, e garantir a livre iniciativa de negócios no país.
Plano de abertura do mercado de gás natural pode contribuir para a redução do custo de energia
no país.
Falta de consenso entre governo e congresso quanto a proposta de reforma tributária, aponta para
uma dificuldade na aprovação.
Governo federal aparentemente está mais preocupado com a pauta de costumes do que a
econômica. O país tem pouca expectativa de melhoria no curto prazo.