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AGOS-CARBONO E AGO! uw xv AGOS PARA CEMENTAGAO E NITRETACAO 1 — Cementagao — O enriquecimento superficial em carbono nos agos, proporcionado pela cementagéo, visa produzir uma superficie de altas dureza e resisténcia ao desgaste, suportada por um niicleo tenaz. Em principio, intmeros tipos de agos apre- sentam condigées satisfatérias para &sse fim. E’ preciso consi- derar, entretanto, que a cementagdo exige tratamento térmico relativamente complexo, de modo que a selegdo do ago para pegas cementadas no pode ser feita baseada sémente na apli- cagao final do material, mas também tendo em vista o tratamento térmico que vai sofrer. De infcio, portanto, dois fatores basicos devem ser levados em conta ao se escolher um ago para ce- mentagao : a) meio de esfriamento a ser usado na témpera apés a cementaca b) tipo e gréu de tensdes a que as pecas poderdio estar sujeitas. a) Meio de esfriamento — As principais varidveis a serem aqui consideradas sao: forma e secgdo das. pegas e distorcdo ou empenamento tolerdvel. Os meios usualmente empregados na cementagdo sdo gua ou solugdes aquosas e éleo. Os pri- meiros s&o os*mais draésticos e sGico empregades quando as pegas sdo de forma simples, ou apresentam sec¢gdes aprecidveis e tam- bém quando o perigo de empenamento é muito pequeno. Além de se caracterizarem pela alta velocidade de esfriamento, ésses meios ado de baixo custo ¢ facilitam a limpoza final das pegas. O dleo € recomenddvel quando as pegas apresentam sec¢des complexas ou finas, as quais sdo mais propicias ao empena- mento ou mesmo & ruptura na témpera. E’ evidente que, em qualquer caso, a velocidade ‘de esfriamento deve permitir a obtengGo da dureza superficial desejada e as propriedades con- venientes de tenacidade e resisténcia do niicleo. Neste caso, a velocidade critica de esfriamento do ago ou seja, o tipo de ago a ser usado constitue o fator preponderante. Quando a tnica exigéncia é a maxima dureza superficial a escolha recairé num ago de baixo carbono gem ou com teores minimos de elementos de liga e em dgua ou, preferivelmente, solugdes aquosas como meio de témpera, desde, € claro, que o formato e as dimensdes das pecas permitam a utilizagéo désse meio de esfriamento. Quando. o formato e as dimensdes das pegas sob cementagao forem tais que ha probabilidade de ruptura ou empenamento pela utilizagao de um meio drdstico de esiriamento, a escolha recairad em dleo, como meio de témpera, e num ago apresentando teores convenientes de elementos de liga para que sua veloci- 2 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA dade critica de esfriamento produza edurecimento satisfatério devido ao emprégo do meio de témpera mais brando. fsses ” agos, com teores aprecidveis de elementos de liga sGo também vantajosos sob o ponto de vista de propriedades finais do nicleo. b) Tipo e gréu de tensdes — As varidveis que aqui entram em jogo sGo principalmente: espessura e estrutura metalografica da camada cementada, propriedades mecdnicas do nticleo € caracteristicos da zona de transigdo. — camada cementada — em linhas gerais, pode-se dizer que dois tipos de camadas cementadas sGo usadas: hiper-eute- toides quando se visa em primeiro lugar alta resisténcia ao desgaste; eutetoides ou ligeiramente hipo-eutetoides quando o requisito importante da superficie endurecida é alta tenacidade, visto que um rendilhado de carboneto livre intergranular presente nos agos hiper-eutetoides é mais propicio para conferir fragilidade. No caso da aplicagdo em que o desgaste é fator importante deve-se também procurar a produgdo de uma camada com espes- sura razodvel, pois com isso se prolonga a vida das pecas. Sob o ponto de vista de dureza e resisténcia da camada cementada, a introdugdo de elementos de liga pouco afeta essas propriedades. Entretanto, os elementos de liga parecem influir no teor de carbono dessa camada assim como na sua profun- didade. Assim é que os elementos formadores de carbonetos, principalmente o cromo e o molibdénio (manganés também, se bem que em menor escala), tendem a produzir carbono elevado na superficie; os elementos formadores de ferrita, como o silicio e o niquel (éste em altos teores) tendem a produzir baixo carbono. Por outro lado, a espessura da camada cementada e o gradiente de carbono dependem da difusGo do carbono, a qual por sua vez € afetada principalmente pela temperatura e pelo tempo. Varios autores admitem também que os elementos de liga pos sam influenciar a profundidade de cementagdo e a velocidade de penetracdo do carbono na superticie. Outra opinido mais ou menos generalizada é que a tenaci- dade da camada cementada pode ser melhorada pela presenga de certa quantidade de austenita residual. A austenita pode ser rotidar por témpora direta em muitos tipos de agos para comen tagGo, principalmente quando o teor de carbono superficial é elevado. A tendéncia & formagGo da austenita residual 6 acen- tuada por teores mais elevados de elementos de liga (além do carbone inais alte), pelu temperatura de témperu ¢ pelu emprége de dleo como meio de esiriamento, em lugar da dgua. Lembre-se que a temperatura de revenido para os agos ce- mentados é geralmente baixa — 150? (ou menos) a 175°C — de modo a reter a estrutura martensitica dura; na realidade ha passagem da martensita tetragonal & martensitica cibica. De qualquer modo, as temperaturas mencionadas nao sdo suficien- tes para eliminar a austenita retida quando esta esté presente. AGOS.CARBONO E AGOS-LIGA 13. O efeito aparentemente benéfico da austenita retida parece provir do fato dela produzir como que um efeito de amorteci- mento, 0 que diminue a criagdo de tensées internas ou mesmo a formagGo de verdadeiras fissuras nas agulhas de martensita. Nessas condigées, a resisténcia & fadiga também deverd ser me- Thorade pela presenga de austenite retida. Convém, entretanto, esclarecer que as vantagens ou desvantagens da retencdio da austenita ainda est&o por ser definitivamente comprovadas. — nicleo — aparentemente deve-se procurar produzir um niicleo o mais possfvel tenaz. A importéncia da tenacidade do nticleo parece, entretanto, ter sido exagerada. De fato, nada adiantc um nticleo excepcionalmente tenaz, se se tiver produzido uma fissura na camada superficial rica em carbono, pois essa fissura propagar-se-d rapidamente através do nticleo, por mais tenaz que éle seja. Conclue-se que parece ser muito mais impor- tante produzir uma camada cementada muito tenaz e convenien- temente suportada. A menor importéncia que se tem dado & tenacidade do nticleo, tem permitido substituir os agos com 0,1 % de carbono pelos de 0,2 % de carbono, que so mais facilmente usindveis. — zona de transigéio — 0 idel é produzir-se uma zona de transigGo gradual, a qual proporcionaré o melhor suporte para a camada cementada. Duas varidveis afetam a qualidade da zona de transigGo: difusGo e estrutura. Se a difusdo é insu- ficiente, produzirfse-4 uma zona de transigcio muito viva, que favorecera o lascamento da superticie. Com difusdéo constante, a resisténcia da zona de transig&éo dependeraé da sua estrutura que pode ser ferrita, perlita ou bainita. Quanto maior a endu- recibilidade do ago, tanto mais resistente a zona de transi¢do. Uma das razdes do emprégo de agos-liga para a cementagdo seria essa. Também a adigéio de boro é muito eficiente na pro- dugdo de uma zona de transigé&io mais gradual e mais resistente. De fato, 0 boro, que pouco afeta a endurecibilidade de agos eute- toides ou hiper-eutetoides, é muito eficiente nesse sentido & me- dida que o carbono diminue, o que se d& exatamento na zona de transigco dos agos cementados. Em resumo: o melhor suporte da camada cementada é dado por uma zona de transigGo gradual e resistente; sob ésse aspecto, quanto maior a endurecibilidade do ago tanto melhor. Dai uma das principais razdes de serem empregados acos-liga pora a cementacéio e o motivo pelo qual se tende & utilizagdo de agos com carbono mais elevado; com isso, além de se melhorar © suporte da camada cementada, produz-se também nticleos mais resistentes. A ndo ser que as condigdes de servico exijam uma camada cementada muito espessa, prefere-se camadas relativa- mente finas, com nticleos de carbono mais elevado, portanto mais resistentes e que dao melhor suporte & superficie endurecida. 14 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA 2. — Acos para cementacéto — Do exposto acima, verificcrse que a tendéncia atual na produgGo de pecas cementadas 6 a utilizagGo de agos-liga. A introdugdo de elementos de liga, entre- tanto, quando em teores aprecidveis reflete-se no custo dos agos, além de afetar, tornando mais dificeis, as operagées de fundigéio, forjamento, laminagdo e tratamentos térmicos. Por ésse motivo, procura-se utilizar, sempre que poss{vel, para as aplicagdes mais simples, agos-carbono ou, quando necessdrio, agos de baixo teor em liga, com 0 carbono mais elevado do que nos agos simples- mente ao carbono. Em certos casos, entretanto, devido ds secgdes ¢ formas das pegas cementadas, pode-se ter necessidade de um ° ego de alta endurecibilidade. Nesse caso, a solugdo é introduzir elementos de liga em altos teores para garantir o endurecimento maximo Os acos para cementagéo sdo, portanto, de trés tipos: @) agos-carbono; b) agos-liga de baixe teor em liga; c) agos-liga de alto teor em liga. a) Agos-carbeno para cementagéo — © teor normal de carbono nesses agos é 0,08 a 0,25 %, os outros elementos apare- cendo nas porcentagens usuais, O tipo padréo é o SAE 1020 empregando-se também a variagdo com manganés mais alto (0,70 a 1,0 % de Mn) devfo a apresentar melhor usinabilidade e & capacidade de carbonetar e endurecer com menor tendéncia & formag&o de pontos moles, em relagéo ao primeiro. O seu tratamento térmico é facil e perfeitamente controlavel. Apesar de ndo apresentarem uma resisténcia e uma tenacidade tao béa como as dos agos-liga, asses agos convenientemente cementados, temperados e revenidos, sé capazes de adquirir um nticleo su- ficientemente tenaz (cuja resisténcia pode chegar a 70 kg/mm?) combinado a uma superficie carbonetada de grande dureza, 0 que os torna indicados a uma grande variedade de aplicagées, em que o principal requisito é superficie dura e resistente ao desgaste. Exemplos tipicos sGo: pinos, pequenas engrenagens, alavancas, eixo de comando de vdlvulas, fusos, roletes, pequenos mecanismos, enfim, pegas que ndo estdo sujeitas a solicitagdes severas de outra natureza a ndo ser desgaste superficial. b) Agos-liga de baixo teor em liga — £fsses agos-liga sGo os que contém um total de 1 a 2% de elementos de liga, como niquel, cromo, molibdénio e manganés, em combinagées adequa- das. A introdug&o désses elementos confere suficiente endureci- bilidade de modo a se obter dureza elevada por témpera em éleo, além de alta resisténcia & tragéo (até 140 kg/mm?)- com aprecidvel dutilidade do nticleo. A resisténcia do nticleo pode ser ainda melhorada, aumentando-se 0 teor de carbono até 0,40%. AGOS-CARBONO E AGOS-LIGA as Os agos de baixo teor em liga mais comumente empregados em cementagdo correspondem as séries SAE 3100, 4100, 4600 e 6100 e as NE («National Emeraenay») *, 8000, 8600, 8700 e 9400. Alau- mas composigées tipicas, com exemplos de aplicagées, so apre- sentadas na Tabela XVII. As propriedades mecdnicas comparativas no estado tratado térmicamente e as temperaturas recomendadas de témpera para obtengdo da mdxima tenacidade em pequenas barras cemen- tadas séo apresentadas na Tabela XVIII. c) Acos-liga de alto teor em liga — No caso presente a soma total de elementos de liga ultrapassa 2 %; ésses agos apre- sentam endurecibilidade muito elevada, de modo que o teor de carbono n&o deve superar 0,25 %. Com @sses agos consegue-se excepcionais valores de resis- téncia e tenacidade do niicleo, muito importante para certas con- digdes de servigo. Além disso, éles possibilitam a produgdo de pecgas cementadas de secgdo aprecidvel, apresentando as de- sojadas propriedades no nticleo. O custo décses agos © as maiores dificuldades na sua fabricagGo e tratamentos térmicos limita © seu uso a casos especiais. A Tabela XIX da algumas composigées tipicas com exemplos de aplicagdes. A Tabela XX d& as propriedades mecémicas comparativas no estado tratado térmicamente e as temperaturas de témpera recomendades para obtengdo da maxima tenacidade em peque- nas barras cementadas. Durante a dltima Grande Guerra Mundial, os alemdes utili- zaram para certas pegas muito sujeitas ao desgaste empregadas em armamentos, agos cementados de alto niquel e alto cromo, apesar da grande escassez de niquel existente no seu pats. Esses agos apiesentavam 9-1/3 a 4-1/2 de Ni, 1/2 a 1-1/2 % de Cr e 0,05 a 0,20% de Mo e eram especialmente indicados para as partes sujeitas ao desgaste de metralhadores; em engrenagens cementadas para servigo pesado em motores de avido, utilizavam agos semelhantes, entretanto com Mo alé 0,35 %, e niquel re- duzido a 2% e Cr elevado a 2%. Admite-se que a utilizagao désses agos de alto teor em liga, apesar da escassez de niquel * Os «Agos de Emergéncia Nacional+ («National Emergency Steels»), usualmente conhecidos abreviadamente por NE, foram desenvolvidos nos EE.UU. durante a ultima Guerra Mundial como um meio de economizar certos elementos de liga escassos e imprescendiveis na fabricagdo de armamentos e outros materiais estratégicos. Esses agos, caracterizados por utilizarem simulténeamente vérios elementos de liga em teores muito baixos, apresentam béas propriedades de resisténcia mecdnica, resisténcia ao choque e & fadiga, além de serem {dceis de forjar, laminar, soldar, usinar, possuir béa endurecibilidade. enfim. com caracteristicos gerais perieitamente satis- fatérios, a ponto de se terem rapidamente formados populares e de conti- nuarem a ser apreciavelmente utilizados mesmo depois de terminada a Guerra. METALURGIA, BOLETIM GEOLOGIA E 16 "Dy5 Or -sd_op soutd ‘pyuouuo}-spumbput op - $t'0 — 30'0 | os'0 — oc'o | 09'0 — oe’o | ot't — 08'0 | ev'0 — 81/0 | ozs AN sushousifie onenpas Sp sissounIeus, : 088 — 02'0 | 09'0 — o7'0 | 020 — o¥'0 | 060 — Oz'0 | €2'0 — 810 | 0248 AN mamioc SP Sore {oousre”p =p seh - $20 — St'G | 090 — 070 | 02'0 — oF'0 | 06:0 — 0z'0 | E20 — Bic | Oz98 ~AN -pueiBue ‘spo109 ‘spjnappa ep opupur -09 @p ox]e ‘sfoapuiojnp op sosnjoiod ‘a2 ‘soyiger ‘pquiog ep soxie ‘opSesp of odpiq ep “sosnypind _ 0z'0 — o1'0 — = oe't — 00't | €v’0 — 810 | ozos AN ‘opisid ep sourd ‘sesosindm segyud soxlo 9 sourd ‘sexy © sequu : 2 ae . fy — oro exo aes oe eoesene ee trespuessue { ui 910 060 — ovo 06:0 — oz’o | zz’a — 2’ | ozt9 avs ‘sy105 segdvoydo pind soxjo © sou : ; . | ean ' s o = = _ - 029 avS eee = eo — 029 - woz — et eo — er sigy 4¥S “Ip ep © opsstuisupy ap sueSpuss6ue ‘9}8 ODsstuisuKy, 6p sued ot ae in = py i jak “A 07" 0 — Li asuoituo, ‘euospdey wept "eo | ovo — 07° | oso — ovo ep ov | aaa 410 | cele ave ‘opsouy-up syoupur sozoysjonjed = -- * | suo —sy'o | oF't — or't | 080 — o9'o | zo — ai'e | ote avs sodod ep opSpinyed pind spooiq ‘ser = aa SZ'0 — $3'0 | OF'I — Olt | 090 — ov'0 | 8I'0 — €1'0 | STIe AVS -0}DH op opssiusuDy op suehpuesue A ow 1) W ow a ofp SWOldLL saQSyoray ep odsy ‘YOINILO O¥DISOdNOD Br] Wo 109], oxpg woo opSnjueueg pind DBrT-soSy ep spordyy seoStsoduioy TIAX Wises uz AGOS-CARBONO E AQOS-LIGA v0 es cee S'¥6 2088 vo es sei S'6 ove aN a = czg $'66 88 = 29 ove o'sor 0zi8. 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