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Grandes tendéncias da seguranga internacional contemporanea HECTOR LUIS SAINT-PIERRE Os conflitos armados nao cessaram com o final da Segunda Guerra Mundial. O dese- quilibrio da multipolaridade que levou o mundo aquela guerra saiu dela concentrado na maxima expressio do equilibrio das relagées de forcas que tensionam a politica internacional: a bipolaridade. Durante a bipolaridade, a seguranca internacional con- sistiu no reconhecimento (tanto politico quanto académico) da concentragio da cor- relagao de forgas em dois polos de decisdo estratégica contrérios, de maneira tal que um reconhecia 0 outro como ameaga e sobre esta percepgio orientava sua constelagao de aliados. © “outro” era o inimigo que, ante a iminéncia ¢ inevitabilidade do seu ataque,' justificava o preparo estratégico para a guerra e transformava toda deliberagao politica em questdo de “seguranga”. A profusdo nuclear em ambos os polos ¢ a it néncia da “Mutua Destruigao Assegurada” (MDA, ou MAD na sigla em ingles) esta- beleceram 0 contorno da Estratégia da Dissuas3o como estrutura légica da chamada Guerra Fria. Se o confronto direto entre os polos foi impensavel, isso nao tornaria a guerra improvavel. A estratégia indireta e a mutago da violéncia nas mtiltiplas formas que ela pode assumir ao arbitrio da imaginagao dos homens incendiaram quase todos 0 continentes. As guerras nao cessaram, pelo contrdrio, manifestages de intensidade 0 que Wright Mills chamava de “mistica militarista” ao referirse a tendéncia que conduzia inexora- velmente a Terceira Guerra Mundial. “A verdade, porém’, dizia ele, “é que a inevitabilidade da Terceira Guerra Mundial foie esta sendo criada pela falta de flexibilidade dos homens que tém acesso aos novos meios de se fazer a Histéria. E; cada vez mais evidente que nao é o ‘destino’, mas sim a incompeténcia doutrindria que arrasta a humanidade a essa grande armadilha”, | Seguranga Intemacional: Perspectivas Brasileiras variada cobriram a face da Terra diluindo o improvavel megaconfronto entre as duas grandes poténcias, O que se seguiu aquela guerra foi um mostrudrio da realizagzio em- pirica da maxima clausewitziana “a guerra € um camaledo”. 'Todavia, quem associou \s irregulares, indiretos, assimétricos ao confronto ideol6gico da bipolari- dade nao demorou em reconhecer seu engano: depois da dissolugao da Unido Sovié- tica e do fim da bipolaridade os conflitos se espalharam, suas consequéncias letais se potenciaram, as vitimas civis se multiplicaram, e suas intimeras formas, espetacular- mente violentas, provaram a infinita capacidade humana para 0 engenho letal A proximidade do fim da Guerra Fria e da bipolaridade das relagoes de forgas mundiais levou a Organizagao das Nagdes Unidas (ONU) a destacar uma comissio para analisar as novas ameagas & seguranga internacional. Sem descartar as ameagas tradicionais e interestatais, outras ameacas, de natureza internacional ¢ transnacional, ‘comegaram a ocupar a agenda de seguranga. Uma resposta a essa nova realidade global foi conhecida como “Consenso de Washington”, que propunha a redugao dristica do Estado e uma agenda de seguranga comum atenta, basicamente, &s percepg6es € aos te- mores estratégicos da superpoténcia sobrevivente da Guerra Fria. Na Europa manteve-se a cobertura miclear da Guerra Fria e, embora os fundamentos da sua criagdo tivessem ruido com © muro, permaneceu a estrutura da Organizagao do Tratado do Atlantico Norte (Otan) se alastrando provocadoramente para o Leste. No continente ameri conservou-se 0 moribundo Tratado Interamericano de Assisténcia Recfproca (Tiar), propondo-se uma agenda hemisférica de seguranca com 0 narcotrifico ¢ as migragdes esses conflit no como principais ameacas (0 terrorismo ainda nao estava entre as ameacas prioritirias) € uma resposta militarizada para todos os problemas. A associacao ideolégica dessa agenda com 0s princfpios do Consenso de Washington sugeria ajustar os orcamentos da Defes: adequar as Forgas Armadas nacionais a seguranca interna, como forgas pol as tarefas de defesa aos curidados da poténcia hegeménica do hemisfério. O panorama polemolégico contemporaneo, complexo e multifacetado pela va- riedade camalednica de conflitos que ameaga a seguranga internacional na atualida- de, apresenta uma série de aspectos a serem analisados. As preocupagdes nesse sentido cobrem hoje uma gama inédita de possibilidades que podem implicar 0 emprego das Forgas Armadas. Desde catastrofes naturais até ameacas nucleares, pasando pelo terrorismo € pelas ameagas tradicionais de todo tipo, exigem a reflexio estratégica, a reformulagao de doutrinas, o preparo da tropa e a adequagao dos meios. Aqui apre- sentaremos alguns dos elementos que nos parecem destacdveis na reflexio estratégica sobre a seguranca internacional contemporinea. ciais, e deixar A metamorfose dos conflitos: “novas guerras”? A maior parte dos conflitos armados que hoje flagelam 0 mundo nao cumpre com a destinagio de impor a vontade politica ao inimigo, como pretendia Clausewitz, Se para o prussiano o fim da guerra era a realizagao da politica na paz. aleangada pela vitéria militar, esta ultima aparece, nos conffitos atwais, como a tinica perspectiva vi sivel das conflagragdes, enquanto a politica, que forneceria coeréncia e racionalida- de, parece esquecida. Ante os conflitos contemporaneos, a reflexio estratégica depara com um dilema: ser fiel & tradicional definigao de “guerra” e considerar a maior parte desses conflitos como “nao guerras”, ou consideré-los guerras e abandonar a definigao clausewitziana para cair numa polissémica seméntica de espantos. Desde o final da Guerra Fria, e a partir do ressurgimento de tensdes que se supunham superadas, como 0s conflitos de cunho étnico, religioso ou nacionalista — aqueles que antes haviam aceitado conviver no mesmo territ6rio — se enfrentam mili- tarmente. Se antes os Estados combatiam entre si confrontando exércitos claramente identificados, uniformizados ¢ organizados com base em uma estrita hierarquia de comando, em teatros de operagdes delimitados, com interlocutores representativos que garantiam a continuidade diplomatica durante a guerra, agora so grupos regula- res ¢ irregulares, etnias, clas e facgdes que se enfrentam apoiados em instrumentos de combate nem sempre convencionais € que muitas vezes carecem de cabegas vistveis € representativas que possam negociar seu comportamento numa guerra sem campo de batalha definido e que desconhece as diferengas entre o militar ¢ 0 civil. Se a ca- racteristica desses conflitos pode nao ser original, sua aparicdo no cendrio posterior & Guerra Fria ~ no qual uma hiperpoténcia, no exercfcio unilateral da sua soberania ¢ sob o argumento da sua seguranga nacional, ofende ¢ debilita as estruturas juridicas ¢ politicas multilaterais que continham e regulavam as relagdes entre os Estados — nos obriga a refletir sobre este mundo no qual vivemos com uma andlise renovada do pon- to de vista da teoria da guerra e da estratégia. Em algumas dessas “guerras”, 0 objetivo ndo parece ser impor a vontade ao inimigo que se enfrenta nos campos de batalha alhures, mas manipular a vontade politica do compatriota para dirimir um pleito eleitoral doméstico. Exércitos carregan- do estandartes da democracia, marchando sobre cadaveres cujas mentes € coragdes eles se propuseram a conquistar, provocam uma resisténcia alimentada pelo édio que mistura o invasor com os valores que diz. representar. Campanhas militares, unilateral- mente punitivas, banalizam a violéncia e atropelam o Direito Internacional. Culturas milenares séo afrontadas por tropas estrangeiras, auxiliares e mercendrias que satisfa- tiam a taxonomia maquiaveliana dos exércitos. Seres humanos assumem o destino de se transformar em vetor da morte, colocando sua vida a servico do terror. Etnias, racas ¢ religides alimentam genocidios intraestatais. A ideia do “Estado-nagao”, que teria sido o ambiente de neutralidade posterior 4s matangas religiosas medievais, hoje, assegura Ulrich Beck, conteria a dialética de alguns dos confrontos contemporaneos: © Estado parece j4 nao conter no seu interior as nagdes que se insurgem contra ele. Algumas intervengdes militares para garantir a seguranca no mundo sio realizadas por empresas privadas. Se garantir a seguranga € uma empresa, o negécio é a inseguranga a légica da politica, que se espera na guerra, € substitufda pela do lucro, | Grandes tendéncias da seguranca internacional contempordnea Seguranga Internacional: Perspectivas Brasileiras a = Essas duas caracterfsticas — por um lado, a emergéncia de formas ancestrais de conflito de miiltiplas faces e aparéncia difusa, e, por outro, a forma tecnologicamente mais sofisticada da violéncia institucional concentrada unilateralmente ~ encontram- -se e se complementam para fornecer os limites conceituais ao drama humano con- tempordneo, A emergéncia renovada daqueles conffitos na sua natureza ancestral ¢ em suas formas variadas ¢ primitivas de guerra constitui um desafio epistemolégico para a andlise polemolégica, e também um pantanoso limite empirico aquela vontade que, na sua unilateral prepoténcia bélica, desafia a frdgil ordem internacional. As “novas ameagas” e a seguranea internacional O termo “ameaga” aparece na preocupagio estratégica, essencialmente militar, relativa 8 Defesa, cobrindo as limitagées do conceito negativo de “seguranga”. Embora seja em- pregado nos planejamentos estratégicos, 0 conceito de “seguranga” designa um estado de coisas estdtico ¢ nao uma atividade. O conceito de “ameaca” é, por definigdo, fun- dacional e operativamente anterior a formulagao estratégica que objetiva a seguranga. O conceito de “seguranga”, como objetivo da Defesa, é tio geral, vago ¢ ambiguo que resulta inttil como orientador de uma concepgio estratégica que se pretenda auténo- ma, independente de definigdes impostas de antes determinagao independente da ameaga permite uma concepcao estratégica auténoma, pois, como diremos mais adiante, cla se constitui sempre em e para uma percepcao. As ameacas séo percebidas sempre e apenas por uma unidade politica. Por isso a reflexdo sobre as ameagas € primordial, tanto na deliberagao sobre as capacidades estratégicas quanto nas decisées relativas aos sistemas de defesa nacionais ¢ regionais. Etimologicamente, “ameaca” (do latim minacia) pode significar: 1) palavra ou gesto intimidador; 2) promessa de castigo ou maleficio; 3) prenincio ou indicio de coisa desagradvel ou temivel, de desgraga, de doenga. Sempre ¢ algo que indica, que mostra, que anuncia um dano, uma desgraga. A amea inimigo, o dano ou o ataque, mas seu antincio, seu indicativo, seu sinal. Portanto, a ameaca € essencialmente diferente do que ela manifesta: ela nao pro- voca 0 temor, mas 0 anuncia, Por isso, embora nosso inimigo possa ser o perigo, ele pode ou nao, conforme as circunstincias, nos ameagar. O inimigo pode intimidar com a promessa, o gesto, a atitude ou a disposigao, tanto na mesa de negociagdes quanto no ‘campo de batalha, insinuando 0 que pode acontecer se nao for obedecida a sua von- tade. Porém, essa atitude intimidante, em si mesma, nao constitui uma agressio, mal, um dano, uma ofensa. A ameaga 86 se constitui e opera na percepedo daquele que €é ameagado. A ameaga per se nao constitui um perigo. Este pode ser externo a nés; a ameaga, ndo. A ameaga se constitu em nés, 0 perigo tem existencia propria, Embora seja apenas um sinal ou percepgdo, ela intimida, provoca temor. Enquanto sinal, a ameaga representa, na nossa percepgao, 0 que nos preocupa e intimida. A ameaga é ow por terceiros. Entretanto, a nao 6 a propria desgraga, 0 um uma representagdo, um sinal, é certa disposigdo, manifestagdo ou gesto percebidos como 0 amtincio de uma situagao ndo desejada ou de risco para a existencia de quem a percebe. A ameaga € essencialmente diferente do que anuncia, As cores amarela ¢ ver- melha de certos animais, por exemplo, sdo suficientes para advertir a outros sobre 0 perigo, embora essas cores ndio tenham necessariamente relagdo com 0 veneno que torna perigoso esse animal. Enquanto 0 sinal se constitui ou € emitido pelo agente da ameaca, a leitura desse sinal € percebida e opera como uma ameaga apenas para 0 ameacado. O medo nao esté no animal peconhento, nem no veneno, nem nas cores do petigo, mas naquele que associa essas cores com a letalidade do que representa, ‘A ameaga parece ser certo tipo de relacdo pela qual, através de um sinal emitido, 0 receptor reconhece no emissor a causa eficiente de uma alteragao no estado de coisas do receptor que o intranquiliza. Longe de constituir uma agressio em si mesma, é precisamente a ameaga que permite ao ameagado tomar as medidas preventivas para se proteger da agressdo que ela anuncia, “pois a particularidade da ameaga é que € necesséria... porque permite uma tomada de consciéncia das agressdes potenciais, que podem se desatar num setor ou noutro” (La Maisonneuve, 1998, p.152, grifo nosso). As cores daqueles animais que para outros representam ameaga, para quem as ostenta constituem sua defesa. A posse de artefatos nucleares por parte de alguns Estados pode constituir uma ameaga para os vizinhos, porém, para eles, garante sua seguranga. O Plano Colémbia, que para os americanos protege os seus interesses, para a América do Sul pode constituir a principal ameaca, jé que pode ser percebido como a possibi- lidade de intemacionalizar um conflito interno com consequéncias indesejadas para a regio, além de envolver a presenga de tropas extrarregionais. Nas reflexes contempordneas conceitos diferentes se confundem ou se apresen tam como sinénimos, embora suas consequéncias para o planejamento estratégico re- presentem posicionamentos operacionalmente especfficos: “ameagas”, “adversidade”, “6bice”, “desafio”, “vulnerabilidade’” e “inimigo”. Na realidade, mais que desenvolver uma reflexdo académica sobre as ameacas, os governos se preocupam em identificar sas ameacas concretas, ¢ alguns deles — aqueles que tém condigies de fazé-lo — ten- tam impor suas percepgdes de “ameagas” as agendas coletivas. O fundamento epistemolégico das consideragdes precedentes tem, do ponto de vista politico, importantes consequéncias para a teoria da estratégia. Ao concordar €m que a ameaca s6 se constitu ¢ existe em e para uma percepgao sempre teérica € conceitualmente carregada, podemos inferir algumas consideragdes: 1) sea percepgdo depende da natureza ¢ das particularidades (situagio geopo- Iitica, hist6ria, cultura, lingua etc.) do sujeito perceptivo, questionamos a ideia de “percepgdes regionais” das ameagas ou “percepcées hemisféricas”, € denunciamos como arbitrério o critério para impor agendas hemisféricas de seguranga; 2) ainda admitindo a hipstese da implementagdo (seja voluntéria, militar ou economicamente imposta) de uma agenda regional de ameagas ante um | Grandes tendéncias da seguranea internacional contempordnea | Seguranga Internacional: Perspectivas Brasileiras S sinal detectado por todas as unidades politicas, cada uma destas pode perce- bé-lo como uma ameaga ou ni, Todavia, ainda que admitamos a possibilidade da univocidade perceptiva de uma ameaga por um conjunto de unidades politicas, podem-se articular sobre ela diferentes respostas estratégicas. Polaridade do sistema de seguranga internacional A desproporcional concentragao de forca pelos Estados Unidos, em sua onipoténci transformou o mundo no cendrio da sua seguranga nacional ¢ a guerra, em campa- nha punitiva. Privados de desenvolverem tecnologia nuclear ou impossibilitados de se oporem convencionalmente, os outros paises ensaiam alternativas estratégicas que ocultem suas vulnerabilidades sem chegar a atitudes provocativas. Nao obstante, a im- poténcia dos Estados ante a hiperpoténcia abre uma porosidade institucional da qual ‘emergem novos atores armados na cena internacional. Estes, privados do acesso a tec- nologia nuclear ¢ sem suficiente capacidade convencional, assumem ofensivamente a pavorosa titica do terror e defensivamente a “estratégia da resistencia dissuas6ria”? O desenvolvimento tecnolégico ¢ econémico ea capacidade de fogo da hiperpo- téncia chegou a tal ponto de concentragao e evolugdo que nenhuma outra forga pode se opor com expectativa de éxito. Esta é a situagZo posterior a bipolaridade das rela- es de forca: uma poderosa maquina bélica, superalimentada pelo maior orgamento de defesa jd visto, maior que a soma dos orcamentos das principais poténcias mundiais. Uma forga capaz de abater o inimigo antes mesmo que este consiga perceber de onde vem o golpe; capaz de interferir nas comunicagées ou bloqueé-las, ¢ assim obstruir 0 comando das forgas inimigas; com uma aviag%io quase invisivel e equipada com mis- seis inteligentes; com uma Marinha de superficie ¢ submersa, nuclear ¢ convencional em todos os oceanos. Em poucas palavras, um exército invencivel que com frequéncia leva a dois erros de andlise: a) pensar na existéncia de uma tinica forga bélica no mundo; €b) que pode impor sua vontade em qualquer lugar a qualquer momento. Alguns analistas da politica internacional e dos conflitos, talvez seduzidos pelos neologismos, aplicaram acriticamente o termo “monopolaridade”’ a correlagao de for- ‘gas atual. Mas isso, do ponto de vista conceitual, é uma contradictio in abjecto, porque 2 Essa modalidade estratégica serd abordada mais adiante. » No artigo “A nova (des)ordem mundial” (O Estado de S. Paulo, 19 maio 1992), nos referimos a esse «erro pela primeira vez, afirmando que “alguns comentaristas, aqueles que pela fadiga de pensar aderem facilmente as modas, imaginaram que, depois da queda do Muro e da atitude conivente dos soviéticos durante a Guerra do Golfo, nada impediria a concentragio absoluta da forga. Ignorando que por sua cesséneia a forga implica a sua alteridade, chegaram ao absurdo conceptual ‘monopolaridade’, polaridade pudesse ser monddical”. a maxima concentrago da polaridade € diddica; nao existe “polaridade monddica”. ‘Todavia, se conceitualmente tal ideia € contradit6ria, da perspectiva da filosofia politi- ca € insustentavel, jd que o fundamento da forga é sua alteridade. O que dé sentido ao exercfcio da forga € a existéncia do “outro” ameagante e que pode oferecer combate, daquele que, desde sua alteridade, emprega a forga para ameacar minha existéncia.* Assim, concluimos que a mera existéncia de uma forga denuncia outra ou outras adversas que a justificam e Ihe conferem sentido e, também, que a maxima polari- dade é a diddica. Na atualidade, um dos polos € a concentragao de forca € 0 outro, a reagio ou resisténcia a ela. Essa oposi¢do de forca pode concentrar-se em um tinico polo, constituindo uma relagao diddica com a anterior (a bipolaridade), ou diluir-se em miiltiplas outras fontes de natureza e poténcia variadas (multipolaridade). A forca pode concentrar-se ou diluir-se, buscando a melhor eficacia de acordo com a natureza ¢ intensidade da resisténcia. ialmente, do ponto de vista histérico essa concepgao que defende a “mono- polaridade” das relagdes de fora tampouco encontra corroboracdo empirica. Houve outros impérios na hist6ria e quase todos se mantiveram também, quando njo unica- mente, pelo exercfcio da forca, porque em todos os casos houve resisténcia 4 vontade imperial. Todos os impérios cairam: alguns corrofdos por violentas lutas contra forcas adversas, enquanto em outros casos essas forcas tiveram papel coadjuvante. Mas sem. essas forgas de resisténcia ao império, talvez este nao tivesse tido a necessidade de con- tar com uma forca imperial para se impor pela violéncia. ‘Como em outros exemplos hist6ricos, a existéncia de forgas que contestam a nova ordem também se manifesta atualmente na projegao das Forgas Armadas norte-america- nas pelo mundo. Que essa projegao de forgas ndo é meramente ornamental se constata tragicamente: € possfvel ver nos aeroportos o ligubre retorno dos soldados em féretros lacrados. Nao obstante a capacidade militar da hiperpoténcia seja uma forga suficiente para defender seus interesses em qualquer lugar do mundo, ndo o é para impé-los. Essa forga convive com outras pelas quais também se manifesta o pertinaz. conflito interna- cional: por um lado, a implementagao de téticas terroristas que mostraram a vulnerabi- lidade da hiperpoténcia até em sua propria casa e, por outro, a resisténcia A sua vontade, not6ria na complicada permanéncia no Iraque € na atolada presenga no Afeganistao. As “novas guerras” e os mecanismos internacionais de amparo Enquanto as principais guerras envolviam as grandes poténcias no cendrio europeu, durante 0 conflito bipolar ~ nos casos das guerras anticoloniais e revolucionérias — ea partir de 1989, grande parte dos conflitos foi deslocada para a Africa, a Asia, a América Latina, o Caribe e o Leste Europeu. Diferentemente dos conflitos interestatais tradi- “Tratamos desse tema em Saint-Pierre (2002). | Grandes tendéncias da seguranga internacional contempordnea Bs | Seguranga Intemacional: Perspectivas Brasileiras cionais, em que as guerras eram declaradas por Chefes de Estado que se constitufam em interlocutores reconhecidos ¢ representativos que mantinham a politica ativa e a diplomacia alerta durante a beligerancia, nos conflitos contemporaneos intraestatais, muitas vezes ndo hd uma clara identificagao dos interlocutores; portanto, tampouco hé declaragao de guerra formal, nao existem campos de batalha definidos nem di- ferenciacdo nitida entre combatentes ¢ ndo combatentes, ¢ estes tiltimos passam a ser alvo direto da violéncia generalizada. Pela auséncia de interlocutores, de bandos beligerantes identificaveis, de guerra declarada, de delimitagaio das agées, de diferen- ciagao entre combatentes e nao combatentes, tampouco hd convengdes € normas de protecdo ao individuo em perfodos de conflito armado. Ante a falta de uma ordem normativa univoca no territério em questao, resulta dificil, se nao impossivel, diferen- ciar entre 0 ato bélico, o crime de guerra ¢ 0 mero crime, entre as consequéncias nao desejadas das aces militares ¢ 0 genocidio deliberado — ow seja, distinguir a guerra do delito, Desa sittiagao resultam outras, entre elas, prolongadas guerras civis de desgaste social € esgotamento econémico, normalmente acompanhadas por crises humanité- rias e violagdes dos direitos humanos, muitas vezes cometidas pelo aparato estatal que teria a obrigacdo de garantir os direitos das suas préprias vitimas. Nessas confrontagGes intraestatais, grupos armados, paramilitares, gangues © facgdes, muitos deles sem cabecas organizativas nem dirigentes visiveis, enfrentam-se utilizando principalmente as taticas da guerrilha e do terrorismo, negando, portanto, a forma de combate habitual ¢ explicita dos exércitos regulares. Caracterizar esses fend- menos armados como “guerra”, no sentido clausewitziano, constituiria um anacronis- mo, pois nao ha unidades politicas enfrentando-se em campos de batalha definidos e utilizando técnicas regulares de combate. Talvez o termo mais adequado seja “conflito armado”, entendido como uma condigao na qual grupos de seres humanos ~ tribos, etnias ou unidades politicas, linguisticas, culturais, religiosas ou socioeconémicas ~ se ‘engajam em uma oposigao consciente a tm ou mais grupos por estarem perseguindo objetivos incompativeis (Dougherty; Pfaltzgraff, 2001, p.188-189). Mary Kaldor (2001, p.6) denomina os conflitos que ocorreram no final da dé- cada de 1980 ¢ durante a década de 1990, principalmente na Africa e na Europa Oriental, de “novas guerras”. “Novas” para diferencié-las dos fendmenos bélicos que ocorreram no perfodo anterior, ¢ “guerras” para enfatizar a natureza politica deste novo tipo de violéncia organizada, empreendida por grupos que reivindicam o poder com base em identidades nacionais, religiosas, linguisticas ou tribais. Em alguns des- ses conflitos, a autoridade estatal foi desintegrada, ocasionando a perda do monopolio da violéncia e, consequentemente, da univocidade juridica que caracteriza o Estado. Nesses casos, stala-se uma situagio de anarquia ¢ 0 tipo de “administraga0” passa a ser denominado “Estado colapsado”, incapaz de garantir as minimas condicdes de Vida aos seus cidadios, De acordo com La Maisonneuve, os prineipais fatores que influenciaram a crise do Estado sao a multiplicacao dessa entidade pelas sucessivas ondas de independén _ € separatismo ¢ a degradacao do modelo sobre o qual foi instituido. A multiplicagao dos Estados foi acompanhada pela exportagao do modelo de “Eistado-nagao” ociden- tal para contextos socioculturais muito diferentes. Esse process desencadeou focos de tensdes ¢ crises, revelando a incapacidade daquelas unidades politicas de exercer soberania tanto internamente, garantindo a prevaléncia do estado de direito dentro de seu territério, quanto externamente, fazendo reconhecer e valer seus direitos frente aos outros Estados do sistema internacional Nesse ambiente, temas como violacao dos direitos humanos, genocidio, limpe- za étnica, fluxos migratérios e de refugiados passaram a ocupar lugar de destaque na agenda internacional. O desenvolvimento e a propagagao dos meios de comunicacao permitiram que cada vez mais pessoas se sensibilizassem com cenas que revelavam a face cruel dos conflitos que assolavam povos miserdveis ¢ desamparados. Esse des- pertar de consciéncias levou a sociedade internacional a exigir resposta firme a essa situacao de beligerincia dilufda e profunda, principalmente por parte dos organismos multilaterais preocupados com a manutengao da paz.e seguranga internacionais. Den- tro dessas organizagoes, a ingeréncia nos conflitos intraestatais desencadeadores de crises humanitirias foi autorizada, ou pelo menos justificada, naqueles casos em que o Estado era incapaz de garantit os direitos basicos de sua populagao, ou quando 0 proprio governo era o perpetuador de atrocidades ‘A Organizagao das Nagées Unidas (ONU) assumiu a lideranga do amparo ins- titucional a esse tipo de conflito que sangrava patses da Africa e da Asia. Kaldor (2001, p-16) compara o trabalho do Secretario-Geral da ONU na mobilizagao de Forgas Ar- madas dos Estados membros para constituir as forgas de paz ao papel dos monareas na época da formacao dos Estados modernos quando convocavam os senhores feudais a armar coalizées para ir A guerra. A década de 1990 foi palco de uma grande prolifera- ao das operagdes de manutengao da paz: 0 Conselho de Seguranca da ONU triplicou ‘o ntimero de novas missdes autorizadas em relagdo as quatro décadas anteriores. Esse processo de expansio do amparo internacional aos novos conflites foi acompanhado por uma série de desafios que revelaram 0 despreparo generalizado em oferecer uma resposta adequada emergéncia dos conflitos intraestatais. igo de conflitos no interior dos Estados confronta os principios tra- A me dicionais do sistema westfa assuntos internos -, e até mesmo naqueles casos em que o Estado € considerado “co- lapsado” existe um limite que se impée as atividades de manutengao da paz. Nao no’ ~ soberania, independéncia ¢ nao intervengao nos sistema westfaliano: 0 Tratado de Paz da Westlilia foi briick ¢ Munster que encerrou a Guerra dos Trinta Anos. Esse ‘Tratado definiu as bases do Estado-nagio edo conceito modemo de soberania, “A fim de impedira repetigao de confltosglobais, da mesma amp tude verificada na Guerra dos’ Tinta Anos, a estrutura westfaliana se constituira sobre o estabelecimento © respeito 3s aliancas firmadas, a instituigdo de relagdes diplomticassdidas e o equilibrio de poder entre (0s Estados, As estruturas € 0s valores (antichegemonia, autodeterminagao religiosa, desvinculagio entre os dominios seculares e religiosos, fronteras e soberania) juntos atuavam numa dindmica para conter as pre- tensdes hegem@nicas da época e garantir a paz” (Silva; Cabral; Munhor, 2009, p.156). (N.E.) | Grandes tendéncias da segurana internacional contemporanea | Seguranga Internacional: Perspectivas Brasileiras 3 obstante o esforgo da ONU para adaptarse a esse novo quadro internacional, repre- sentado pela evolugao das operagées de paz tradicionais para as missées com mandatos multidimensionais,* a organizagdo enfrentou dificuldades para respeitar os fundamen- tos os quais, no perfodo anterior, garantiam certa legitimidade as intervengGes: respei- to a soberania estatal, imparcialidade da missdo, consentimento das partes em conflito e uso da forga somente em autodefesa. Kofi Annan, ex-Secretdrio-Geral da ONU, argumenta que a organizagao enfrenta um dilema moral quando depara com a deci- io sobre intervir ou nao em conflitos armados internos a um Estado, j4 que a pedra basilar do sistema internacional € o respeito a soberania, a integridade territorial e independéncia politica estatal (Annan, 1998, p.56-57). Nesse caso, Annan sugere que o entendimento do conceito de soberania sofre uma transformagao significativa, uma vez que passa a ser observado de uma perspectiva diferenciada: “soberania como uma questio de responsabilidade, ¢ nao somente de poder” (ibidem, p.57) O recurso a forga por parte da ONU também sofrew transformagées para se adaptar as caracteristicas desses conflitos. Nas missdes tradicionais, que objetivavam: a interposigao das tropas entre as partes beligerantes até que estas acordassem e cum- prissem 0 cessar-fogo, o uso da forca era permitido somente ao exercfcio da autodefesa em situagdes extremas. No entanto, de acordo com Cardoso (1998, p.28), nas opera- des mais recentes adaptou-se a restrigdo ao uso da forga as necessidades da operagao. Estendeu-se a agdio impositiva as situagdes que exigiam a remogao de obstéculos ao cumprimento do mandato, sobretudo a agao de grupos armados irregulares que difi- cultam a distingdo entre bandidos ¢ os interlocutores que garantem o pactuado. Assim, a ONU, antes considerada um mediador amparado pela neutralidade de suas forgas, passou a ser vista muitas vezes como parte do conflito. Os maiores insucessos das missdes de paz ocorreram justamente em missdes transformadas em imposigdo da paz diante da falta de consentimento das partes em r a mediagaio da ONU, ou do recrudescimento do uso da forca por parte do componente militar das operagdes de paz, a exemplo do que ocorreu na Somélia (Operagio das Nagdes Unidas na Somilia II - Unosom Il), em Ruanda (Missio de Assisténcia das Nagdes Unidas a Ruanda ~ Unamir) e na Bosnia-Herzegévina (Missdo das Nagées Unidas na Bésnia-Herzegévina - Unmibh). Apés 0 fracasso de tais opera- ‘goes, a ONU diminuiu a aprovagao de novas misses de paz e encomendou a revisio destas. Os resultados desses estudos esto expostos no Relatério Brahimi,’ que examina act © As operagoes de paz tradicionais orientavam-se a monitorar as tréguas € os armisticios, a patrulha de fronteiras e as zonas de exclusio militar, 0 apoio a retirada de tropas ¢ o acompanhamento de negocia- «es para a assinatura de tratados de paz definitivs. As operagdes multidimensionais, caractertsticas do periodo pés-Guerra Fria, contam ja com mandados orientados & prestacao de auxilio humanitétio, verificagao da situacao dos direitos humanos, a atuagao da policia, a supervisio de eleigoes, a0 auxilio administragao publica € a restauragao da infraestrutura do setor econémico, além dos objetivos tradi jonais. Para mais informagées, consultar Bellamy et al. (2004) e Fontoura (1999). United Nations. Report of the panel on United Nations peace operations. Disponivel em: http:/Avww. un.org/peacelreports/peace_operations. Acesso em: 20 abr. 2006, | | | | ; © funcionamento de uma operacao de paz e as condigées para o seu desenvolvimen- to, buscando aumentar sua efetividade e capacidade de resposta répida aos conflitos. Consideramos que nao € a diminnicao de conflitos e crises humanitérias, mas sim 0 fracasso das misses de paz com mandatos coercitivos, que explica a desaceleragio da implementagao de novas missées no final da década de 1990 ¢ no infcio da de 2000. As missées de paz e a seguranga internacional A Guerra Fria impos um cendrio de rigidez. as relagdes internacionais no qual a ONU tomnou-se incapaz. de operar o sistema de seguranca coletiva previsto na Carta de S30. Francisco. Diante desse impasse, surgi a proposta na qual a ONU poderia desem- penhar o papel de terceira parte neutra em um conflito, mediando a resolucdo de controvérsias entre os Estados. Os idealizadores dessa concepgio sao 0 ex-Secretario- -Geral Dag Hammarskjold, que exerceu mandato entre 1953 ¢ 1961, ¢ Lester Pearson, Embaixador canadense que na época presidia a Assembleia Geral, os quais acredita- ram que a ONU poderia desempenhar um papel relevante na manutengdo da paz € da seguranga intemnacionais, mesmo em um cenério marcado pela rivalidade entre as superpoténcias. Entre as décadas de 1950 e 1980, os esforgos da ONU no campo da resolugio de conflitos concentraram-se sobretudo em torno das operagdes de paz, que por meio do envio de forgas multinacionais ao local do conflito procuravam cultivar um grau de confianga entre as partes, para que estas empreendessem um processo de didlogo politico. As principais atividades dessas operagdes eram o monitoramento de cessar- -fogos, tréguas e armisticios, o patrulhamento de fronteiras e zonas de exclusdo militar, apoio a retirada de tropas e o acompanhamento de negociagées para a assinatura de tratados de paz definitivos. A década de 1990, no entanto, apresentou um cendrio que mais uma vez desa- fiow a capacidade das Nagdes Unidas em cumprir seu escopo de manutengio da paz ¢ da seguranga intemacionais. O ressurgimento de tenses que se supunham superadas, tais como os conflitos de fundo étnico, religioso e nacionalista, ¢ a recorréncia de conflitos que ja haviam sido mediados pela organizacao revelaram a necessidade de a ONU concentrar seus esforgos para a drea de prevengdo de conflitos, além de melhorar seu desempenho no campo da resolugao de conflitos. Os documentos “Uma Agenda para a Paz”, apresentado pelo Secretério-Geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, em 17 de junho de 1992, e “Suplemento de Uma Agen- da para a Paz”, de 3 de janeiro de 1995, representam a tentativa de adaptar a agZo onu- siana ao cendrio pés-Guerra Fria, no qual as grandes poténcias passaram a apoiar com maior empenho essa instituigao. Tais documentos descrevem cinco categorias opera- * Os documentos esti dispontveis em: http:/Avww.n orgldocs/SGI. Acesso em: 15 maio 2008, | Grandes tendéncias da seguranga internacional contemporanea + | Seguranca Internacional: Perspectivas Brasileiras + cionais no campo da paz e seguranga: Diplomacia Preventiva (preventive diplomacy), Promogao da Paz (peacemaking), Manutengao da Paz. (peacekeeping), Consolidagao da Paz (peacebuilding) e Imposigdo da Paz (peace-enforcement). As diferengas entre as categorias sio ténues, e, na pritica, a atuagao da ONU implica a inter-relacdo entre elas, sendo o termo peacekeeping o mais abrangente para caracterizar as agdes de pre- vengao e gerenciamento dos conflitos. Atualmente o escopo da acdo preventiva no mbito da ONU combina estraté- gias de “manutengdo da paz” e de “construgdo da paz”. No primeito caso a acdo visa resolver ou conter as disputas ou ameagas, prevenindo que estas se tornem conflitos armados. As técnicas utilizadas para isto so de dois tipos: 1) 0 uso dos meios diplomé- ticos, incluindo as mediagdes € os bons oficios do Secretério-Geral e de seu quadro de diplomatas assessores; 2) 0 destacamento preventivo, ou seja, 0 uso de recursos militares com propésitos de contengdo das ameagas.’ JA as estratégias de construgdo da paz visam abordar as causas essenciais das disputas, crises e conffitos, para que 0 pro- blema nao adquira maiores proporgdes nem se tome recorrente. O cardter preventivo encontra-se nos esforgos para criar sistemas de regras internacionais efetivos e arranjos cooperativos e na busca da satisfagao das necessidades econémicas, sociais, culturais € humanitérias basicas. Aacio preventiva da ONU constitui-se na identificagdo de focos de divergéncia e de interesses conflitantes, buscando a maneira de reconcilid-los. No entanto, a atua- gio do Secretério-Geral e de sua equipe muitas vezes nao é suficiente para atingir uma transformagio profunda no status do conflito. Na pratica, tais mecanismos funcionam somente com 0 consentimento das partes envolvidas na questio e com sua vontade de resolver as diferengas pacificamente. O caso da invasio do Kuwait pelo Iraque em agosto de 1990 exemplifica tais deficiéncias, pois os esforgos diplomdticos nao foram suficientes para impedir a agressiio. Somente seis meses apés 0 inicio do conflito 0 posigao da paz, com Conselho de Seguranca conseguiu aprovar uma missio de i base na coalizao de forgas militares. No caso da crise entre Colémbia e Equador, a ONU cedeu a OEA a mediagio do conflito, dando provas de que pode delegar as fungdes de manutencao da paz ¢ seguranga a um organismo regional. O Subsecretério-Geral da ONU para assuntos pol borar estreitamente com as organizagdes regionais, ¢ se elas trabalham nesses temas ¢ querem assumir a dianteira, parece-nos muito bom”."” .0s, Lynn Pascoe, declarou que “um dos nossos prinefpios é que queremos cola- * Tais recursos esto descritos detalhadamente no Handbook of the peaceful settlement of disputes between States (documento do Secretariado da ONU, de 1991). " Disponivel em: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/03/05/onu_cede_oea_mediacao_no_ conflito _da_colombia_com_equador_venezuela-426093257.asp. Acesso em: 25 maio 2008, O terorismo e a seguranca internacional O terrorismo nao é um fenémeno novo. Os Estados, os exércitos, as etnias, os grupos 05 homens isoladamente tém empregado a tética terrorista para diminuir a coragem dos seus inimigos, enfraquecer sua resisténcia. De assassinatos até etnocidios, passan- do por genocidios ¢ magnicidios, com 0 objetivo de infundir o terror, a humanidade, em todos os rincdes do globo, conhece desde sempre essa particular manifestagao da violéncia. A tétrica caracteristica que recobre com um manto de novidade esse velho flagelo talvez.seja sua atual e crescente transnacionalizagao. A caracteristica internacional do terrorismo pode ser nova, mas nao surpreende. Num mundo cuja novidade consiste na hegemonia incontestada de uma superpotén- cia com interesses globais, onde a realizagao desses interesses dificilmente se completa sem ferir outros, a colheita de édio torna-se inevitével. Quando nenhuma acio diplo- mitica é eficiente para defender interesses postergados, quando nenhum organismo internacional é suficientemente forte para distribuir justica entre interesses afetados, quando nenhuma forma convencional de violéncia é eficaz para defendé-los, fica aberta a porta para que 0 6dio da impoténcia se manifeste de maneira incontrolivel ¢ algumas vezes irracionalmente com relagao aos seus objetivos. Na Guerra do Golfo ficou claro, como observou La Maisonneuve, que qualquer exército convencional é impotente ante a manifestagdo pretoriana da hiperpoténcia. Ante essa constatacio, qualquer pretensao estratégica conta com apenas dois caminhos: 0 poder igualitério da tecnologia nuclear, demasiado longe para os pafses pobres, ou o recurso & guerra assimétrica: a guerrilha ¢ o terrorismo. Especialmente o terrorismo, por sua simplici- dade operativa, baixo custo, efeito devastador, facilidade de transnacionalizagio e pelo impacto global ¢ em tempo real da noticia, torna-se tentador para manifestar 0 édio de fandticos ou como forma de expressio politica para grupos descontentes. Com res- peito a internacionalizagao do terror: ante uma hegemonia planetéria, com interesses globais que nao poupam continentes, o terreno de operagdes torna-se também global. E, assim, “afastamo-nos das guerras convencionais, limitadas aos especialistas, que podiam constituir uma forma de continuagao da politica por outros meios; estamos na era da guerra de todos contra todos” (La Maisonneuve, 1998, p.184). Os atentados de 11 de setembro de 2001 provocaram um realinhamento es- tratégico com o objetivo de oferecer combate contra um “terrorismo” nao definido, 1r, mal definido. De fato, a frente de projecdo estratégica que polariza a atual correlacao de forcas internacionais é um fendmeno difuso e global que, na sua ambi guidade conceitual, torna-se politicamente versdtil para identificar 0 inimigo em trés planos diferentes, superando amplamente a fungdo que desempenhava 0 conceito po- lemolégico do “comunismo” durante a Guerra Fria. Esse conceito, deliberadamente vago e ambiguo, permite: 1) delimitar a frente intemacional, ao definir uma inimizade global com 0 con- sequente arco de aliangas intencionais que divide o mundo em duas esferas | Grandes tendéncias da seguranga internacional contempordnea B | Seguranga Internacional: Perspectivas Brasileiras + eticamente antagénicas e inconciliaveis, o “bem”, representado pelos que concordam com as listas elaboradas que determinam quem so 0s “terroris- tas” € se comprometem na guerra mortal contra eles, e 0 “mal”, representa- do pelos considerados “terroristas”, mais os paises que os apoiem e todos os que pretendam manter-se a margem de guerra que nao admite neutros; 2) essa ambiguidade e o cardter difuso do inimigo, somados a imprevisibilidade das suas agdes € da localizagdo na qual emergirio para despejar sua carga letal, obrigam os governos a permanecerem alerta A manifestagdo nacional do “terrorismo”, delimitando a fronteira interna da “guerra”. Detras de cada cidadao se potencializa uma eventual ameaga que obriga a desconfiar de todo patricio, nacionalizando a inimizade internacional do terror. Essa fren- te de combate permite aos governos caracterizar manifestagdes de descon- tentamento social como “atos terroristas” € 0s movimentos sociais que os promovem como “grupos terroristas”; 3) finalmente, embora vago ¢ difuso, esse conceito pode se condensar material- mente em pafses representativos do “eixo do mal”. Isso cria um cendrio bé- lico convencional sobre 0 qual exibe-se capacidade despejando armamento bélico convencional e nao convencional, como bombas de fragmentagao. O uso abusivo do conceito de “terrorismo internacional” nao leva em conta uma distingao iniludivel entre os critérios especificamente académico-definicionais € 0s pragmitico-politicos. Por exemplo, houve incidentes no Cone Sul, como 0 atenta- do contra a Embaixada de Israel na Argentina e, posteriormente, aquele que atingiu a Asociacién Mutual Israelita Argentina (Amia), que aparentemente tiveram apoio financeiro € organizacional do estrangeiro, mas que ainda assim nao foram con: derados, naquele momento, como “terrorismo internacional”, nem como ameaga a seguranga internacional. Para esses casos nao se solicitou nem se ofereceu apoio internacional 4 luta contra o terrorismo. Tampouco foram investigados depésitos bai cdrios nem rastreados os fluxos financeiros que poderiam ter conexdo com os aten- tados, e ninguém propés organizar uma comunidade internacional de inteligéncia para prever atentados similares ¢ antecipar-se a cles. Naquele momento nao houve a solidariedade internacional hoje exigida: o perigo ainda parecia infinitamente aus- tral. Depois do 11 de Setembro ¢ convocada por Bush, a comunidade internacional deci sica, contra qualquer forma de “terrorismo” que oculte esse conceito esquivo. terrorismo pode, e portanto deve, ser combatido. Negar essa possibi decretar a impoténcia da estratégia. Mas precisamente por isso ¢ para isso sua defini: Jo deve ser inequivoca, explicitados os critérios da sua aplicacdo, discutidos os meios mais eficazes para esse combate. Como diz Grant Wardlaw, “sem uma definigao fun- damental, nao € possfvel dizer se o fendmeno que chamamos terrorismo € ao menos combater solidariamente numa “guerra” que foge a toda caracterizagao clis- . independentemente do peso semantico lade € uma ameaga, se a sua natureza é diferente das suas manifestagdes anteriores e se pode- tia se estabelecer uma teoria do terrorismo” (Wardlaw, 1986, p.38). Estratégia da “resisténcia dissuas6ria” As unidades politicas cuja situagao sociopolitica e econémica nao permite que esta- belegam o equacionamento das relagées de forca ou um posicionamento auténomo, nem que ingressem no exclusivo clube nuclear, deverdo beber na hist6ria para encon- trar a saida ao dilema estratégico proposto por La Maisonneuve: como exercer auto- nomia deciséria e defender os interesses nacionais ante a vontade de uma poténcia inquestionavelmente superior? Diante dessa questao pertinente, alguns exércitos comegam a reconhecer sua ificuldade convencional na hipétese de terem de enfrentar uma superpotén: litar, mesmo entrando numa init] corrida para incorporar novas tecnologias bélicas. Parte-se da constatagao de que, independentemente do esforco bélico para evitar a invasdo e 0 dominio militar territorial por parte do inimigo, quando este possui cz pacidade militar exageradamente maior, acabard consegui maior ou menor desgaste ou mesmo com 0 aniquilamento das forcas de defesa. Nao obstante, ainda que a forca nacional pouco possa fazer para impedir a invasiio de uma poténcia militar superior, nao pode abdicar da defesa nacional ante o invasor. Pelo contrario, é na possibilidade dessa circunstancia que o pensamento estratégico mostra sua dimensao e importancia, quando inteligéncia, ousadia, criatividade ¢ engenho de quem tem a responsabilidade da defesa do pais sdo exigidos para servir aos interesses da nagao. Nao se ganha uma guerra repetindo as taticas e estratégias que levaram a vitria na iiltima deflagracdo, pois dessa experiéncia todos os atentos aprenderam, inclusive © inimigo. A proxima guerra seré ganha com novas titicas e desenhos estratégicos que consigam adequar as capacidades ¢ potencialidades as circunstincias do momen- to. Por isso, conscientes de que nao podem impedir a invasdo de uma poténcia em telagdo de forga extremamente desfavoravel, os estrategistas direcionam seu esforg¢o militar nao para evitar a invasdo do agressor, mas para desestabilizar a consolidagao da forga invasora no territ6rio nacional; desgastar, exigir um empenho militar continuo do inimigo usando ataques permanentes, de baixa intensidade ¢ incontrolaveis; provo- car baixas nas tropas adversdrias, poucas, mas continuas; dificultar a permanéncia do inimigo e colocar travas & maquinaria que lhe permitiria administrar a vitria militar. A tese entao €: 0 inimigo pode chegar a vit6ria militar, mas ndo ganhard a guerra; em outras palavras: entregar a vit6ria, mas impedir a paz para ganhar a guerra. Nesse desenho estratégico a chave € contar com o apoio da populagao, pois ela fornecerd a logistica especifica para esse tipo de guerra. A pega militar central do dispositivo militar sao os quadros de oficiais com capacidades necessérias para manter ativo e eficaz 0 emprego legitimo da violéncia, ou seja, a defesa nacional frente a0 mi- ido a vit6ria militar com | Grandes tendéncias da seguranga intemacional contempordnea & | Seguranga Internacional: Perspectivas Brasileira + & invasor. A legitimidade dessa forga é relevante no quadro geral da estratégia. Ela € 0 combustivel da ofensiva politica travada por “linhas exteriores""! sobre a opiniao inter- nacional e os organismos intemnacionais, como a ONU, para defender a propria causa ¢ desacreditar a do invasor ¢ Ihe retirar 0 apoio internacional. Enquanto ofici com logistica popular, 0s quadros politicos ¢ diplomaticos do governo, clandestino em seu proprio territ6rio, aplicam a grande estratégia politicamente ofensiva e inter- nacionalmente visivel por “linhas exteriores”. Essa estratégia de resisténcia € ofensiva em seu nivel politico, defensiva no ambito estratégico — nao se podem expor as forgas combativas ao enfrentamento direto ¢ aberto contra um invasor militarmente mais poderoso ~ ¢ ofensiva e defensiva em seu nivel tdtico. A atitude da forga de resisténcia é ‘a agressdo difusa e permanente, sem trincheiras nem frentes de combate, golpeando ocultando-se: a clandestinidade € 0 ambiente da resisténcia. Mas esse desenho estratégico nao é novo. Durante a Guerra Fria, a neutralidade sueca se manteve sobre uma dissuasio original: os suecos estavam conscientes de que, no caso de uma Terceira Guerra Mundial, uma ofensiva de um dos grandes blocos de forca estaria propensa a — ou nao teria alternativa a — passar por seu territ6rio. Assim, eles sabiam que as forgas do Pacto de Vars6via ou da Organizagao do Tratado do Atlantico Norte (Otan) teriam de deslocar parte de seus exércitos pela Suécia, com ‘ou sem seu consentimento. Frente a possibilidade de perder soberania, a estratégia sueca consistiu em se dispor a perder até o tiltimo dos seus cidados na concepgio estratégica. Nao para ganhar a guerra — coisa impossivel pela correlagao de forgas com esses possiveis invasores ~, mas para cobrar muito caro o pedégio estratégico de quem decidisse passar por seu territ6rio, Dessa maneira, a Suécia esperava que 0s dispositivos estratégicos polares considerassem seriamente os custos de quebrar sua neutralidade e que, ante a tenacidade de seu povo, decidissem passar por outro lado. A atitude dos suecos teve considerdvel peso disstuasério nos célculos estratégicos do invasor. Existem dois tipos de “dissuasiio” reconhecidos na literatura dos estudos estraté- gicos: a nuclear ¢ a convencional. A primeira € absoluta e se fundamenta na possibili- dade da Mtitua Destruigdo Assegurada.'? Com efeito, a certeza de que o inicio de um ataque nuclear desataria a firia do outro polo manteve congelado, durante quase meio século, 0 gatilho nuclear que ameacava o mundo. A segunda € relativa ¢ se fundamen- ta em percepcées. Trata-se de convencer 0 adversario de que sua tentativa de agresso pode resultar em derrota estrondosa ou custo insuportavel, e dessa maneira dissuadi-lo de qualquer intento de invasio. Essa estratégia foi o fundamento do equilibrio de po- der que estabilizou a balanga europeia desde a Paz de Westfilia. resistem militarmente na estratégia da guerra prolongada e No sentido que dé a esse termo 0 General André Beaufte (1982) ¢ niio naquele em que © Liddell Hart (1982), "© Talvez as paginas mais claras e conhecidas sobre esse tema sejam as escritas pelo General André Beautfre (1980) ‘Todavia, hoje presenciamos um ordenamento estratégico da Defesa que objetiva a dissuasdo do eventual inimigo, mas que nao se fundamenta nem na antiga balanga de poder convencional nem na ameaca nuclear, mas na promessa de resistir 3 invasio com base na clandestinidade e por todos os meios, desde greves e boicotes até a guerra de guerrilhas ¢ atos terroristas, Denominamos esse desenho “Estratégia da Resisténcia Dissuaséria”, Esta propde nao perder os quadros militares na tentativa de impedir uma invasio inevitavel, porque tais quadros serao necessdrios para vencer a “Guerra de Libertagao”. Sua forga consiste em manter a vontade de resistir e de nao abdicar da soberania decisoria, o que significa organizar a forca que dificultard a permanéncia no territ6rio ¢ o exercicio da administragdo estatal por parte do invasor. As duas pecas fundamentais dessa estratégia sto: a) oficiais altamente capacita- dos ¢ treinados; e b) o apoio irrestrito, decidido e permanente da sociedade que forne- cer a logistica para a resisténcia clandestina. A logistica da estratégia da “resistencia dissuas6ria” se encontra no préprio povo, consciente do importante papel que desem- penha na longa luta contra 0 invasor. Com oficiais bem preparados e armados, com uma doutrina adequada para esse tipo de guerra e em comunhao preestabelecida com as forcas sociais da nagao, a formulacao dessa estratégia impedird, mediante o exercicio de uma resistencia prolongada e baseada no apoio popular, que o inimigo consolide uma paz imposta posteriormente a invasdo. Certos exércitos, entre eles alguns latino-americanos, de maneira mais ou menos explicita ou de forma tacita ja esto discutindo — se no ensaiando — essa concepgao estratégica, fundada em uma cuidadosa leitura da historia da guerra ¢ da estratégia, sem preconceitos, atenta as vulnerabilidades e potencialidades nacionais e baseada em um conscientes de que a defesa é um di- ista, o bom relacionamento entre civis relacionamento harménico entre civis e militares, reito ¢ um dever de toda nagao. Desse ponto de e militares ndo é apenas uma preocupacio do correto funcionamento do sistema demo- cratico, mas também a invioldvel formula da concepgio estratégica da sua defesa. Referéncias bibliograficas ANNAN, K. A. Peacekeeping, military intervention, and national sovereignty in internal armed confit. In: MOORE, J. (Bd.). Hard choices: moral dilemmas in humanitarian intervention. Lanham (MD): Rowman and Littlefield, 1998. ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nagdes. Brasilia: Ed. UnB, 2002. 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