You are on page 1of 53
SIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS, Prssitoa Comtrade tess Retr Pe Alpe Bolen, Sf Ye Naeelo Femandes de Aquino Sf Peiier Comrie trae ‘Vicente de Pao Oli San anna sf) Errors UNisiNos ale Albeto Ginott Cone Eid Carlos Alberta Ginnot Fernando faqs Aldolt 1. Marcelo Fernandes de Aqui, S] ‘Werner Akmann| O proprio e oalheio Ensaios de literatura compatada ‘Tania Franco Carell Errors Uses (©2003 tania Franc Cavatial 8 Dies dee i rex Ur da Ue "Es nition ot Beer pe, Gdn da Us oma de 2003, A repro. ind que pac pr quer mod iin “atch sem aural rata de cdr, ie ot ma coerti danos cars eo dept leg 802.008 She Leapaldo RS Heat Sumi Tntrodugio “Teorias em literatura comparada 13 Comparatismo ¢ interdisciplinaridade 35 Literatura comparada e globalizagio 3 Intertextualidade: a migragio de win conceit 60 A Weiter em gues 39 Pexiodizagio ¢ regionalizagio ltertia 109 © proprio eo alheio no percurso literirio ‘brsilei 135 Fronteinas da ertica eertica de fronteiras 153, Memria discurso da intermediagio 185, Literatura comparada e estudos culuarais 208 “Teadugao e recepgio na pritica comparatista 27 Introduce [Este livro retine trabalhos prodzidos em di {erentes momentos, tendo side elaborados para pa lestras, aulas, apresemtagies em congressos, circuns- tancias indicadas ens nota final. Dat decorre a reza exposiiva dos textos ea intencao de fazer a sin- tese ede situar a questio analisada ent sta aaah de, Paralelamente-a0 exame de aspectostedricas, de carter mais geral, alguns estudos se ocupam de problemas espeeificos da privica comparatst, Aliveratura comparada, como se sabe, tem as- summido no Brasil cada ver tas uma posicao rele- vvante no campo das Letras, Desde a criagio da Asso Gagio Brasileira de Literatura Comparada, em. 1986, os congressos da entidade congregam expres- sivo ndimero de estudiosos de diferentes lteraturas€ mesmo de areas afins. Além disso, a pesquisa com paatista articulando-se com viris teorias, tem for~ nnecido instrumental te6rico € metodologico para anilises de questdes interlteririas, interdiseursivas e interdisciplinares em diversos eampos de invest sgagao terrae cultural Lol quadeo aponta para uma necessdade sve vescente de ammpliar a bibliograliabasiea da Iva, Lavorecendo 0 acesso a referencias e da sic interesse. Ao reunir estudos resultantes de vont atuagio continua em literatura comparada, ‘mipreendida como pritica critiea € campo de i cigacto (ebrica, esta publicagio tem @ propasito de ser ati © primeiro artigo, Teovias em literatura comp vada, examina as transformagies por que passa a iisciplina em sua relagio com outras formas de in: rerrogar o lteritio, como a critica, as teorias € his: totiografia fierdrias. Nesse sentido, € introdutirio fs questbes que serao examinadas em maior pros didade nos textos soguintes. Assim, Comparatiomo ¢ ‘nterdiscipinavidadeanalisa 0 tago que permite 2am pliagio dos campos de atuagio da disciplina,consi- Herando-a em relacio com suas interfaces. sia na obra de Machado de Assis ilystza a relagesinte- rantsticas, No terceito estudo, a questio da globali- ago, da muniializagio cultural ¢ dos problemas a las relacionados sugerem outras indagagées perti- nnentes& prética comparatista. O contrast estabele- ido por Montaigne sobre o Novo eo Velho Mundo, nos Bios, asociad 8 idéia da “viagem” em um ‘onto machadiano, encaminha o exame desses as ppovtos, Essas consideragBes nos remetem aos textos Sequintes, sobre “intertextualidade", conceito bis co para a auagio comparatista, ¢ também sabre a ovisto, relacionada com a formagio do clone, dt ruocan le Hit ates", Pensar, hoje, esse terma sig: nifica articular a reflexio sobre 0 universal com out tos dados como 0 local, 0 nacional, 0 familiar, © ‘marginal, o institucional, o universal e nogbes como as de particular e gerl ‘Os estudlos tesricos dominantes no séeulo XX, ‘em especial os que se ocuparam com a produtivida: dee recepcio textuais,ensinaraan-nscomo se cons trot literavio em complexa gamia ile relagies. Nes secontexto, ocomparatismo desenvolve um tipo de Teitura de anilise das redes de relagoes que orgni- zam os textos e que comprovann, ni pric, ska a= tureza mosaica e plural Também questoes como “periodizagio © re ‘gionalizagio literrias", essenciais para pens historiografia Hieravia, sio vevisitadas x partie de guns conceitos bisicos. Nesse conjunto, examina-se ‘0 “discurso da intermediagio”, a partir das contri bnuiges ele Otto Maria Carpeaurx aos estudos erticos e historiogralicos no Brasil ‘O texto que di tino a0 volume, O pripria ea alheio no percurs litera brasileiro, ocupa-se com it problema central para a investigacio comparatista, fu seja, 0 da constitwigio das hteraturas, tendo em conta 0s processos de apropriacio do estrangeiro para a construgio do que é particular. A polemica centre José de Aleneare Joaquim Nabuco sobre 0 na- temol6gicas que exigem reflexao{..] Quando se _mulkiplicam as rekagbes, os processos e as estrunuras ‘de dominagio e apropriacio, bem como de integra ‘gio. fragmentacio, em escala mundial, nesse con- 6 tad ne. Fann dir Bn A Ce Py Onoemorosunens gicas”. i: " : 1 Topo Bio, by Bind da aig ser," 139 Be de Janes HN, p Livasronsenpscaner aouuicra so ritorialidade se globali 6 umn "remodelamento" a, © que acontece, enti. da situaco na qual se en contravam as mliplas particularidades, Est a apontar, portanto, para o fato de que, senos € possivel dizer que o processo de mundializa {Gio cultural esta completo no final de século XX pela ‘econdimica etecnologica, contradito- sem procedimento creseente dealir~ racio de particularidades. ica clara que, apesar de expresses como “globalizacio", “nmundializacio” e “deste vaca" apontarem para wma aparente " fe sea repeticio constante das lormas estia aludir & Seriacio 1 padronizacio, ou sea a uma certa homo- sgeneidade de habitos ede pensamentos, xs eiferen- sa, Portanto, 1 reducio do mundo resultante dos processos de globalizacio © de mundializacio nao implicaia uma homogenet- zagio: cle pode ter se tornado menor, mas nao idén- Com efeito, as modificagies de eardter pollti- co na cena mundial nos Glkimos tempos, provocm: ddo reestruturacées ma ordem internacional, tm le- vvado os estudiosos aidentificarem, como tragosdis- tintivos dos anos 1900, a "rebelizo dos particular imos” = étnicos, raciais, nacionais e sexuais ~ cont as deologias totalizantes, que na década precedente haviamn dominado. horizonte da politica. Contradi- toriamente, a globalidade desses projetos que en. Soe . we Orman ro sunt articulam 0 particular € o universal verdadeiro paradoxo, porque a uma "légica da dife- renca" = que procura legitimar 0 diferencial ~ se agrega wna “logica da equivaléncia” ~ que, embor sem expressar nenhuma tnidade, regula as relaghes das diferencas entre si quando elas eonvergem para reivindicagoes comuns. Além disso, conforme cl ressalta, “oda articulagio € contingente” e estard submetida a processos contraditorios de contexts lizagio e descontextualizacio Arede de consideracées que eston procuran: do veceraté aqui, com material de ordem varia en Stisticosliteria, antropolégiea ¢ mesmo politica nos possibilita dizer que, malgrado walteracio tad ‘al em nossa maneira de conhecer ede aprender ‘mundo, que caraeterizaram o final de seculo XX, 4 comparagéo contrastiva continua a ser para nds um recurso tio indispensivel conto foi para Montaigne € Machado de Assis no entendimento das relagies que constroem 0 mundo © 0 nosso cotidiano, Isso porque, felizmente, nao ha uma homogeneizacio das diferengas nem uma assimilacao de alteridades, como se potteria supor num processo de globalins ‘0, Se nos textos dos dois autores ji estavam sinal zaidos alguns elementos que estio no centro das pre. ‘cupagies atusis do comparatismo, nia ha dvida ide que as conexdes geograticas hoje imperiosas nos levam a repensar as relagées entre culturas, tradi {goes e lteranuras distintas As questies que rata-se de w yparecem nos fFagmentos se leciomados, como a das relacies entre universal ¢ particular, rearticuladas © serescidas necessaria mente de outrascoordenadas comoa do marginal (0 ‘que foi posto de lado, que faltou ou se sprit © do institucional, que repoem as relagées entve cif renga e convergéncia, slo as que orientam as was pesquisas com base fortemente tedrica, Essa revisio de quesides centrais ao comparatismo em outs perspectivas fornecidas por teorias recentes dis orque a associacio que se estabeleceu, sobretud parti dos anos 1970, entre rellexio tesricae prtica ‘omparatista foi determinant. Muliplicaram-se os «studos com relagio a propria natureza da literatara comparada e a idemiificacio de suas praticas, pois 0 campo da erica se frageentou também en indime- ras diversas perspectivas tedricas, Nesse cantexto, aslinhas de trabalho que se ofereceram a0 compara. tista, pela ampliagio dos campos de estudo e pela pritica interdisciplinar, permitiram-Ihe substituir fs estudos exclusivamente pontuais sobre autores € bbras por reflexes que se ocupsam dos Fenmenos Titerarios, vendo em conta seus contextos culturais,¢ estabelecem fertius comparationis, que contribuem para esclarecer 0s fenimenos estéticns literarios Ads, “contexaialiagao” se tornou nos li ‘os empos uma palswra-chave pata as mais ara das sbordagens da iterator, Patsuma revisin mul- sehr dos eae preempt dquo textor ef representmtvos nig apenas da cra fcental, mas de oda spate do mundo, alguns Jam que os "inchidos" em deserrepreseoat Orrimmo conto das cutras em que foram gerados. A proposta de como "rellexo” de determina cultura, ghee fia disci, nese campo, Ca quctpode representa: pre fol imperiosa send 0 que ditingue,porexene Plo, a recepcio de um determinado ator em co texto clas cierenese 0 que permite o et dos de recep comparada, que texan dies sss posibiidades de letra contdas na aba © omparatsta se depara tame como problemas acevo on conor ever os Ale buscar apenas pontos em comutn(echegir sau, primi as diferengas), nest instr somente nec Shimase depararse com impessibidade det cular relies entre la Se, poruin ado as dlinigbes chicas. raturacomparada (pens em Omen Aldridge, em ‘hols ¢ Rousseau ees Henry 111 Remi) com provaram a ampiaci crescent dos campo «dae U0 ints de'1900, houve uma preocupaso smarcante com dingo de conclu operation pelo refrgoterico, com ainamento mevedlogce ts elghes intrdeptinares De um lado, ad Disalogando com essasindagacbes, Krysinski sai explorar a hipétese da probabilidade empirica e cliscursiva da Wellteratur, vestida de valores espe- cificamente mundiais. Procura, como diz, "prob matizd-la, sem forcar além da fantomizagio possi cl”, perguntando-se se conceitos como “mundial (welch) bumano (menschlich ou nacional” se torna- sam “metonimias ilusbrias ou metaforas ideol humanist tm sido destruidos pelos acontecimen tos histricas, de que as certeras epistemolégieas es Go abaladas, de que © campo problemitico do lite- ririo também se esvarion de certeras, o critica pro- poe que a literatura mundial se fundamente sobre "uma dialétiea do reconhecimento cuja complexida de implica um movimento com cinco agentes: 0 la- ‘al, 0 nacional, © marginal, 0 institutional ¢ 0 univer sal", Para ele, “sio 03 suportes actanciais eseminti cos de um relato de valores que se desdobra a escala do planeta e que garante literatura mundial suas formas e seus contetidos™. ‘Mesmo que a rellexdo se desdobre corn base em corpus lterdrios distints,o pensamento de Ha- 25 Apa ps 8 106 Omerioeoatnuo roldo de Campos coincide com o de Wladimir Krysinski mio apenas no fato de que a definigio de “universal se torna cada ver mais dificil ¢ sua abords- {gem mais complexa, encaminhando para a necessi- Ha revisio do conceita goethiano. Por ista 0 pot. \a-critico (ou critico-poeta) brasileiro transereve no ‘ensaio antes mencionado algumas afirmagoes do es. tudo em pauta aceitando que, pressionada por esses novos agentes aciant), como quer Krysinski, “alte ratura inundial se define sobretudo pela heteroge- neidade de suas obras, das linguas que ela fala e das Paixdes que a sustencam neste final de século” Assim, ilustrando seu pensamento com obras de diversas lteraturas, Krysinski acentua as qualia des diferenciais de cada um dos cinco fatores (a tants) para mostrar que a Weltideatur € wn conceito em constante formagio, de equilforio instavel e, fi. nnalmente, “que cla pode ser apenas uma utopia fan. ional a servigo de uma visio ce mundo unitaria que arealidade dificilmente confirma”. Para ele, somen- te apés examinar como se realizaram e se realizar 'mutagbes de valores nos diferentes campos citicos.¢ teoricos € que sera possivel propor uma nova pro- blematizagao dos cinones literarios universais. Des. ‘a forma, “ orelato de valores se realiza em uma ten ‘to permanente entre o marginal, o local, 0 nacional, institutional € 0 universal” sina W955, aia Silat teal Siaeaentaseanaiasscnansnie Amruraeion ce guts ra Percebe-se, entio, que, seo conccito goethia- no dstanciou-se de sua formulagio inital, ha ma- neiras atuais de considerar a nogio de Iteratura ‘mundial, levando em conta quest6es que seimpoem Ascondigées culturais de hoje. Apenas com outs (¢ nnovas) coordenadas a WelUitatur pode contin ser importante na reflexio comparatista e motiv-la Para una colaboragio coma nova histéria litera e cultural eas teorias recentes.

You might also like