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Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP Departamento de Engenharia de Construcao Civil ISSN 0103-9830 BT/PCC/217 Estruturacdéo Urbana: Conceito e Processo Witold Zmitrowicz Sao Paulo - 1998 FICHA CATALOGRAFICA Zmitrowicz, Witold Estruturagae urbana : conceito @ proceso / W. Zmitrowicz. - $40 Paulo : EPUSP, 1998. 48 p. ~ (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departa- mento de Engenharia de Construgao Civil, BT/PCC/217) 1. Planejemento urbano 2. Engenharia urbana |. Universidade de 'Sd0 Paulo. Escola Politécnica, Departamento de Engenharia de Cons- trugao Civil i. Titulo Ill. Série ISSN 0103-9830 cpu 711.4 e271 ESTRUTURACAO URBANA: CONCEITO E PROCESSO RESUMO 0 conceito de estrutura como um conjunto de elementos condicionando um fluxo pode ser aplicado aos sistemas territoriais. Aglomeracdes humanas podem ser anaiisadas de diversos pontos de vista, fisicos ¢ niio-fisieos (psicoldgicos, sociais, econdmicos). No primeiro caso, podemos ver 0 desenvolvimento de usos do solo como uma fungo de fluxos de materia. energia, pessoas e informagoes, direcionados por estruturas compostas de elementos espaciais. No outro caso, as estruturas sao criadas nas mentes dos seres humanos, e tém influéncia sobre decisdes que modificam as realidades fisicas no territério. Anafises de mudangas nos fluxos orginicos, inorganicos ou de pessoas nas areas vurbanas e nas conexdes de infra-estrutura e transportes, indicam que esses processos, na era da revolugao cientifico-tecnolégica, ocorrem rapidamente. Portanto, precisarnos de estruturas urbanas mais flexiveis, pois estruturas onerosas e rigidas vio tornar cada vez ais dificil o desenvolvimento humano nas nossas cidades, A estabilidade das estruturas depende da criagdo de rotinas em atividades urbanas ¢ seus fluxos correspondentes A eficiéncia do seu desempenho necesita de padres a serem impostos aos fluxos para ajusté-los s estruturas em uso. Por outro lado, as estraturas, para serem construidas, nevessitam de viabilidade econdmica e politica, que nao € oferecida no caso de fluxos ndo-regulares, URBAN STRUCTURING: CONCEPT AND PROCESS ABSTRACT The concept of a structure as a set of elements conditioning a flow may be applied (0 territorial systems. Human agglomerations can be analysed from different standpoints: physical or non-physical (psychological, social, economical). In the first case, we can see the development of land-uses as a function of flows of matter, energy, people and information, directed by structures composed by spatial elements. In the latter, the directing structures are created in the minds of human beings, and they have influence on decisions that modify actions on physical realities in the territory Analysis of changes in organic/inorganic/people flows in the city, and in infrastructure and transportation links, indicate that these processes in the era of scientific-technological revolution occur at a remarkably high rate. So we need flexibility in urban structures, because costly and “petrified” structures will turn difficult human development in our cities The stability of the structures depends on the creation of routines in urban activities and its corresponding flows. The efficiency of their performance needs pattems that have to be adequate to the structures in use. On the other hand, the structures, to be built, need economic and political viability, which is not offered in the case of non- regular, changing flows. inpIcE 1, Introducio. A interpreted da realidade Kstrutura urbana Anélises urbanas Modelos Hierarquias Organrizagoes espaciais 2. Conceito de Estrutura Urbana de Estrutura 2.1, A evolucio do cone Concettos basicos A dimensdo tempo Os elementos da andlise estrutural urbana Os elementos estiveis As infra-estrururas Os elementos nao-fisicos 2.3. Revisio dos conceitos. A diferenctagdu de ambiemtes Universo de fluxos Oy controles fisicos ¢ néw-fisicos 2.4, Conceito de Estrutura no espaco 3.0 Proceso de Estruturacio Urbs 3.1. Os espacos territoriais Atividades Fluxos fisicos v ndo-fisicos Espagos terrioriais O poder sobre os espacus territoriais Ciclos evolutivos da subdivisio territorial 3.2. As conexdes entre os espacos territoriais Acessibilidade: as resisténcias Acessibilidade: 0 poder Rigides e flexibilidade Deslocamento de agentes X deslocamento de elementos dos ambientes Reflexos sobre os usos do solo eres 12 12 3 14 4 Is 7 20 21 23 23 23 23 26 26 28 30 30 30 32 33 36 3.3. A dinamica da estruturacao urbana Estruturas espaciats e temporats AS rotinas urbanas A degradlagdo das estruturas em desuso 4. Conclusiio 5. Bibliografia 37 37 38 40 42 45 AJotroducio A interpretagdo da Realidade Cada um de nds, desde o inicio de sua existéncia, tenta formar idéias sobre o mundo que 0 cerca. Aos conhecimentos e procedimentos herdados de seus ancestrais vai acrescentando elementos novos ao longo da vida, vai construindo na sua mente imagens, modelos (nem sempre coerentes entre si), através dos quais procura compreender situagdes & sua volta e nas quais muitas vezes deseja interterir Mas a recepeio de informagio ¢ um processo que depende das nossas expectativas, A nossa "visio" ¢ a nossa "ago" so condicionadas, Os conhecimentos vao se enquadrando dentro das nossas concepgdes mentais, que se modificam em fungi dos fluxos de informagdes recebidas, inclusive mensagens encaminhadas por outros seres vivos e que dao ensejo a reinterpretagdes. "A percepeio nio é uma reprodugio passiva do mundo, mas um processo mental ativo" (Kolipinski, 1980). As visdes e interpretagdes do mundo podem ser consideradas como versdes da realidade, criadas de forma individual ou coletiva nas nossas mentes, e que tém uma profunda influéncia na nossa forma de agit. Podemos nao saber, portanto, © que vem a ser efetivamente a realidade Mas podemos imagina-la e analisé-la a partir dos modelos que dela construimos. Estratura Urbana Para discutirmos a realidade que nos cerca, precisamos ter claros os conceitos que utilizamos para represema-la, Ao discutirmos sobre cidades com profissionais dos mais diversos setores, freqientemente nos deparamos com a expresso “estrutura urbana” O que vem a ser uma “estrutura urbana”? As estruturas ambientais ja foram conceituadas como “paisagens fisicas e sociais, dentro das quais se desenvoive a vida de um homem e com as quais ele chega a se entrosar psicologicamente” (Alomar, 1961). Entretanto, a escala dos ambientes urbanos toma essa idéia de pouca utilidade em termos praticos. E para 0s urbanistas € importante definir as estruturas das cidades para facilitar a sua andlise, simplificar a montagem dos cenarios do seu desenvolvimento, direcionar as atividades do sew planejamento. A esirutura urbana necessita de um conceito mais preciso, Designamos com 0 nome de “estrutura” coisas bastante diversas, desde as mais abstratas até as mais concretas, envolvendo os mais diferentes campos do conhecimento humano. Ao engenheiro este termo sugere algo sélido, a servir de suporte a todos os componentes que sobre ela se expandem. Algo que se modifica através de grandes obras, que & perturbam mas ao mesmo tempo lhe abrem novas perspectivas de evolucdo, mudando suas rotinas e criando novas atividades e edificagdes, Algo que mantém a vida urbana ‘Nas areas urbanas, normalmente sao considerados como elementos da sua “esirutura” 0 conjunto das edificagdes mais importantes, a trama vidria, a localizaglo dos acidentes geograficos que interferem no desenvolvimento, a disposi¢ao geral dos usos do solo, eventualmente as redes e equipamentos de infra-estrutura ¢ servicos urbanos e sociais, Dependendo da escala ¢ ritmo de evolugio, a importincia dada a cada um desses elementos varia de cidade para cidade, Nas povoagdes pequenas ¢ estabilizadas. as pragas, muas e edificagdes de porte formam por si estruturas as quais véo se adaptando os novos elementos a implantar, e que dificilmente se modificam por décadas. J nas. grandes cidades em desenvolvimento tais tipos de estruturas podem dar apenas visdes momentaneas de bairros, mas no um panorama geral da evolugdo da aglomeracao, nem auxiliar nas projegdes das mudancas firturas. Sistemas vidrios regionais, complexos industriais, parques, centros comerciais, grandes conjuntos residenciais, formam a base para a evolugo das grandes metropoles. Elementos aparentemente similares podem constituir fatores importantes em uma determinada época, ¢ deixar de ser importantes na época seguinte, modificando-se entdo a organizagdio urbana em volta dos mesmos. Cidades crescem, se estagnam & decaem. Cidades morrem, eventualmente renascem. O proprio conceito de “cidade” varia com o campo de conhecimentos em que se insere a sua discusséo. Comegam entao a surgir problemas com a utilizagao do termo “estrutura urbana”. Anatises urbanas Embora planos de aglomeragdes humanas ¢ de suas expansdes tenham surgido ha mifénios, as primeiras preocupagdes com a estruturagao urbana datam do final do século XIX e inicio deste, em fungdo da urbanizagao causada pelo desenvolvimento industrial, Pretendendo estabelecer uma analogia com o campo da biologia, e aproveitando, de um lado, estudos de “Ecologia Humana” iniciados por Galpin (1915), ¢, de outro, as idéias langadas ainda em 1826 por Von Thiinen, procurou-se visualizar regras de organizagio espacial utilizando nogdes de competicao por melhores localizagdes, A estrutura da cidade era entendida como a localizagio relativa dos usos do solo, e dependeria de processos de sucesso espacial, consistindo em substituigdes devidas a concorréncia e mudangas nos fatores locacionais ocorrentes entre certos tipos de ocupagio ou atividades. Foram a seguir enfatizados os aspectos econdmicos das, mudangas ocorrentes, A disposiggo dos usos do solo é considerada reflexo das diferenciagdes de renda do solo devido a alocagao das atividades como processo baseado na concorréncia, cujo objetivo é a obtengdo do maximo de utilidade para cada uma delas. A geometrizacdo inicial das idéias apresentadas (Burgess, 1925 - abordagem ecoldgica) foi parcialmente contestada em estudos posteriores (Hoyt, 1939, Harris e Ullman, 1945), flexibilizando-se ¢ descaracterizando-se progressivamente. A elaboragdo tedrica foi desenvolvida principaimente por Haig (1926) - abordagem econdmica -, Alonso (1960), Shevky ¢ Bell (1955) - andilise social -, Horst (1965) - ecologia fatorial - e Cox (1973) - conflito lacacional -. Os fatores intervenientes seriam: valor da terra, valor locacional, acessibilidade (incluindo custo de transporte), area ocupada, ¢ atratibilidade do meio. Entre as interpretagdes dadas as estruturas espaciais, as vezes bastante complexas, cabe destacar a de Chombart de Lauwe (1952) que as considerava como espacos sociais resultantes das condigdes materiais e tecnoldgicas e das concepgies coletivas apresentadas pela Sociedade, (Vide Johnson, 1969, Koreelli, 1974; Clark, 1985). 6 Modelos As teorias serviram de base para o desenvolvimento de modelos funcionais que surgiram como suporte para o pianejamento urbano quantificado, Nestes modelos as, relagdes espaciais entre os campos de atividades humanas sao descritas partir da diferenciagao ¢ localizagio destas, através da sucessdo dos ipos de uso do solo. A “estrutura territorial” ¢ entendida como formada por uma somatoria de conjuntos setoriais (de empregos, de habitagdes, compras, lazer, contatos sociais, etc.) que correspondem aos principais campos de vida e atividade humana. A sua interdependéncia, principalmente dos locais de habitago e de trabalho, eria a forma espacial da cidade. A interagdo aumenta com o crescimento da acessibilidade entre os elementos desses varios conjuntos, As modificagdes da forma espacial de um deles cria transformagées nos outros Baseando-se em anilises de sistemas dindmicos, Forrester (1979) visualiza como fatores essenciais na sua definigdo a delimitagdo em relaglo ao meio externo. as conexdes internas € 05 niveis ou taxas dos estoques ou fluxos, © considera que a aplicagdo de modelos no campo urbano deve envoiver trés subsistemas: “negécios”, “habitagdo” e “popuiagdo”. A “auto-regulagdo” do sistema seria devida as “‘reagdes” dos fatores endogenos as mudangas exogenas, Em grande parte dos modelos “funcionais” so definidas como elementos exogenos as fungdies “basicas” de produgao (constituindo elementos de um sistema mais amplo), ¢ a partir delas obtém-se projecdes de empregos, de produgio, de populagdo, etc.. A disposigaio dos usos do solo & ento estabelecida a partir das necessidades de ocupagao da area por parte das diversas atividades e as fungdes de alocagdo sao baseadas na acessibilidade, oferecendo sucessdes, no tempo, de cenarios resultantes do equilibrio a ser aloangado entre as variaveis intervenientes. (Vide modelos de Lowry, 1964, e outros, mais compiexos, inclusive 0 MUT- Modelo de Uso do Solo e Transport, envolvendo questdes de economie e trafego, desenvolvido em 1978 para a Cidade de Sao Paulo por Marcial Echenique e equipe da PMSP, também Martin et al., 1972; Echenique et al., 1974). Aprofundando-se nos aspectos microanaliticos, individuais, dos processos geradores dos espagos urbanos, slo enfatizadas, ao lado das motivagées econdmicas, motivagdes sociologicas e psicologicas. Haigerstrand (1970) sugere 3 tipos de “imitagées" as agdes dos individuos: a) limitagdes biolégicas e técnicas, b) limitagBes de interrelagio - referentes a integragao entre atividades individuais e coletivas; ¢ c) limitagoes de poder - problemas sociais e legais. (Vide também Korcelli, 1974), Como base para previsdes quantitativas, esses modelos, impulsionados inicialmente pelo desenvolvimento da informatica, que foi o seu grande suporte, passaram a seguir por uma fase de descrédito, provocada principalmente por sua grande rigidez, aliada a dificuidade na obtengdo de dados confiaveis, que se enfatizou com a proliferagao das atividades informais nas areas urbanas, Com relativo éxito sio empregados em campos setoriais ¢ areas mais restritas, como apoio a planos e projetos urbanos Hierarqnias A teoria dos lugares centrais (Christaller, 1933: Losch, 1944), inicialmente proposta em escala regional, em que recebeu grande impulso dos estudos de Perroux (1950), - polos de desenvolvimento -, foi transposta para a escala intraurbana (Berry, 1959), apoiando-se no principio da diferenciagdo e hierarquizagao do setor terciario (Vide, também Boudeville, 1968, Righi, 1988). As economias de escala, associadas 4 atrago exercida sobre os consumidores pela proximidade dos centros de servigos, deram lugar a esquemas territoriais reiativamente rigidos, que exerceram grande influéncia sobre o planejamento urbano. Entretanto, no processo de desenvolvimento da cidade, com a redugao dos custos de transporte ¢ 0 aumento do nivel de mobilidade dos habitantes, essas estruturas bierarquicas se viram progressivamente substituidas por esquemas outros, que realgam as cespecializagdes fiuncionais, (Kolipinski, 1978) Organizagdes espaciais Ao procurar abranger setores mais amples, baseado em esquemas teéricos desenvolvidos por D. L. Foley (1964) que ineluem aspectos espaciais e ndo-espaciais, fisicos, funcionais/organizacionais, normativas e culturais, Melvin M. Webber (1964) considera a estrutura da cidade formada por: a) fluxos espaciais de bens, pessoas, dinheiro ¢ informagdes, b) redes de canais para transporte e comunicagdes, e espagos adaptados por construgdes, ¢ c) a localizagao dos diversos tipos de atividades. Segundo ele, as modificagdes estruturais seriam resultado de decisdes locacionais tomadas com o objetivo de ampliar as possibilidades de interagao e devidas a mudangas ocorrentes nas interligagdes funcionais. (Webber, 1974) Numa abordagem diversa das anteriores, a analise marxista propde questdes de natureza mais fundamental, relativas ao poder exercido pelas diversas classes da populagdo, ao considerar que as estruturas ocorrentes no mundo capitalista so decorréncias da sua organizagao politico-econdmica, De particular interesse deve ser ‘mencionada a divisio do sistema econdmico no espago em elementos de produgdo. consumo e troca, desenvolvida por Castells. (Vide Harvey, 1973, Castells, 1983; Harloe, 1989), Dentre colocagdes mais recentes, cabe destacar as conceituagdes de Milton Santos referentes ao espago, “definido por estruturas e percorrido por fluxos”, traduzide ‘om realidades de “ritmos e formas, combinagdes quantitativas e qualitativas de um certo numero de variaveis”. Os fatores essenciais que fornecem os ‘modelos’, ou seja, os elementos de formagio e de transformagao das redes urbanas sio as “massas” (resultados da atividade humana), 03 fluxos ¢ o tempo. “O poder nao pertence aos organismos que produzem ou detém as massas, mas aqueles que dirigem os fluxos”. Na organizagio urbana sao distinguidos fatores de evolugao rapida (estruturas de transportes, de comunicacdes e do consumo) ¢ fatores de evolucdo lenta (estruturas sdcio-econdmicas), sendo que a instalagao e a eficiéncia das primeiras esto em grande parte subordinadas as segundas, (Santos, 1996) Os estudos e pesquisa tém adquirido, portanto, cada vez mais abrangéncia profundidade. Contudo, delineia-se uma lacuna nos campos mais ligados 4 Engenharia Urbana, onde seria necessaria sua meihor integragdo com a pratica do planejamento e da administragao urbana 2, Conceito de Estrutura Urbana A evolugio do conceito de Estrutura. Concertos basicos A palavra "estrutura” indica, em principio, "a maneira como as partes de um todo esto dispostas entre si", Provém da "structura’ latina, ligada ao verbo “struere” - construir. Uma edificago encontra-se construida de materiais diversos, de elementos cerémicos, de madeira, de pedra ou argamassas, que se dispéem de uma determinada forma, 2 qual garante a sua estabilidade e permite 0 seu aproveitamento. Similarmente, uma cidade se comporia de edificagies, dispostas em quarteirdes, estes delimitados por ruas, e que, juntamente com pragas e parques, permitiriam a formagao de ambientes estaveis para o seu funcionamento Segundo Roger Bastide (1971), 0 emprego dessa expresso se expande a partir do século XVII, de um lado com os estudos dos “anatoristas”, que comparavam o corpo humano a uma construgio, de outro, com os dos “aramaticos”, que analisavam a linguagem. Em seguida, o termo se expande para outras disciplinas: biologia, sociologia, psicologia, economia. A nogdo de “estrutura” para o bidlogo correspondia a de “organizagao”, definia a distribuigdo dos elementos nas varias escalas, desde os varios orgs no ser vivo, dos tecidos em cada érgao, das células nos tecidos, até a propria estrutura celular (a teoria celular data de 1838) Apoiando-se na biologia para distinguir a estrutura da fungi no organismo social, Spencer, na segunda metade do século XIX, teria sido o primeiro a empregar o termo em sociologia. «\ idéia vai adquirindo importancia, ao alcangar um significado cada vez mais profundo e abrangente, num processo do qual a uma certa altura surge 0 “estruturalismo”, que durante varias décadas seria alvo de debates tedricos entre intelectuais. Nas ciéncias sociais, principalmente a partir da década de 1920, 0 sentido inicial da palavra vai se modificando sob a influéncia do desenvolvimento do conhecimento em outros campos. 0 vocabulario de filosofia de Lalande, cuja primeira edigao data de 1926, informa que “em oposigdo a uma simples combinagdo de elementos, a “estrutura” é um. todo constituido de fendmenos solidérios, de modo que cada um depende dos outros € pode ser aquilo que é apenas pela relagdo com eles”. Tem, portanto, um sentido proximo a0 que hoje é dado a um “Sistema”. ‘Também nas ciéncias econémicas, em fisica, quimica, ete., a estrutura é 0 modo de ajustamento de um conjunto de coisas, de partes ou de forgas, que esto reunidas de modo a constituirem um todo especifico, Cada vez que se fala de estrutura, & para designar a forma de coeréncia de um conjunto e a sua heterogeneidade em relacdo a Wo ‘outros (Gama, 1976), ¢ também as proporcdes € relagdes entre os seus elementos constituintes. Frangois Perroux (1939) concebe a estrutura econdmica em termos de rede de conexdes entre unidades. bem como de proporgdes dos fluxos emtre as mesmas e dos estoques correspondentes. A estetica ¢ influenciads pela “psicologia da forma” (“Gestaltpsychologie”), que réjeita a explicagdo do conjunto através da somatoria ou composigao dos elementos simpies, A forma transcenderia cada objeto, cada obra, passando as questdes a serem interpretadas a partir do conjunto, ¢ ndo a partir da anilise das partes. Em psicopatologia, o conceito de estrutura, em lugar de considerar o quadro clinico como ‘uma colecao de sintomas, procura aquilo que “faz desses sintomas um conjunto.(...). A descoberta de uma estrutura permite um diagnéstico que a pobreza dos sintomas nao autoriza” (Daniel Lagache, in Bastide, 1971, pag. 83). Mas o termo “estrutura” distancia-se da idéia de forma, entendida como a superficie de contato de um objeto com um ambiente heterogéneo, ¢ aproxima-se das relagdes de coesio interna e de montagem, indicando, para uns, um sistema integrado que define cada objeto especifico em oposigao @ todos os demiais, para outros, um principio, um modo de fazer, algo suscetivel de gerar, além de cada forma acidental, formas similares. A teoria dos modelos permitiu designar por estrutura “um sistema bem especificado de relagdes ou de leis, que descrevem o funcionamento do fendmeno representado por modelo” (Malinvaud, apud Bastide, 1971). As relagdes sociais sio a matéria prima para a construgao de modelos que delineiam a estrutura social. A estrutura permite destacar um modelo de funcionamento, tornando inteligiveis os fatos observados. Ela é definida pela organizagio interna das unidades que formam o sistema. Mudando a estrutura, também 0 modelo se torna diferente, Contudo, ao discutir a sua conceituagao, Lévi-Strauss conclui que @ estrutura no € 0 “nucleo do objeto” mas o “sistema de relagdes latente no objeto”, que poderia ser encontrado em objetos diferentes (Bastide, 1971, pag.9). As estruturas deixam de ser encaradas como uma realidade conereta, para constituir “modelos” mentais que facilitam as andlises. Na Matematica havia preocupacao em se definir os conceitos com. precisio. Desde Galois (1830), existe a idéia de elementos geradores que permitiriam reconstituir todo um sistema matematico. A idéia de estrutura aparece em 1847, na matemética do espago estudada por Riemann; S. Lie, ao estudar os conjuntos de parametros que constituem os grupos de transformacao, usa o termo “estrutura” na década de 1870, em 1894, Ellie Cartan denomina dessa forma os elementos constitutivos dos grupos. continuos € o seu modo de construgao. O sentido da palavra na passagem do século é similar ao de “isomorfismo”, sendo colocados como indistinguiveis dois objetos com a ‘mesma estrutura. Posteriormente passaram a ser consideradas varias categorias de estruturas desde as espaciais ou topoldgicas, as estruturas de pertencimento nos conjuntos, até as algébricas ¢ as estruturas de ordem (Guilbaud, in: Bastide, 1971, pag. 160) Segundo Newton C. A. da Costa, uma estrutura matematica ¢ uma sequéncia finita composta por certos conjuntos, chamados conjuntos basicos, e relagdes de tipo fixo sobre esses conjuntos, Ja a “espécie de estruturas” seria uma formula de linguagem detinindo aquelas estruturas que satisfazem a certos axiomas. As estruturas de especic, estudadas por Bourbaki na Teoria dos Conjuntos, sio caracterizadas pelos esquemas de formago dos conjuntos e pelas propriedades (axiomas) que definem a espécie (Costa, 1987) Na Fisica, desde estudos que remontam a Poincaré (1899), foi desenvolvida a Teoria dos Sistemas Dindmicos, em que sdo considerados estruturalmente estaveis aqueles sistemas nos quais mudangas de parametros néio modificam 0 seu comportamento qualitativo, apresentando, portanto, fluxos topologicamente equivalentes (Fiedler-Ferrara, 1994). Observe-se, contudo, que de forma gerai as conceituagdes apresentadas, pela sua propria natureza, se apresentam atemporais. A cada fase ou estado de um fendmeno corresponde uma determinada estrutura, A dimenséio tempo ‘Ainda em meados do século XIX, Marx apresentava a seguinte idéia’ “Na produc social de sua vida, os homens entram em relagdes necessirias, independentes de sua vontade, em relagdes de produgao que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento de suas forgas produtivas materiais O conjunto destas relagdes de produgdo constitui a estrutura (Struktur) econémica da sociedade, ou seja, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura (Uleberbau) juridica e politica, e & qual correspondem formas determinadas de consciéncia social” (Preficio “Contribuigdo & critica da economia politica”, 1859). Muitas idéias posteriores aqui ja se encontravar tragadas, ¢ seriam desenvolvidas e aplicadas em campos diversos, inclusive na area do planejamento urbano No século seguinte a estrutura passaria a ser vista nas ciéncias humanas “como ‘um elemento relativamente estavel, o que nos chama para o carater temporal, pelo menos descontinuo, da estrutura,” (Pierre Francastel). Os elementos "estruturais", em contraste com 0s “conjunturais” so destacados pela sua continuidade dentro do conjunto total, adquirindo quase uma existéncia propria, dentro de uma especializarao de fungdes que é enfatizada nas andlises. A semelhanga da definicao dindmica de estrutura econémica apresentada por André Marchal (“Méthode scientifique et science économique”), uma estrutura seria, nessa concep, constituida por um subconjunto de elementos que, durante um determinado periodo, aparecem como relativamente estaveis em relagdo aos demais. A estabilidade desses elementos garantiria a continuidade de todo 0 conjunto (Vide Bastide, 1971, pags. 61/62 ¢ 171) A distingdo entre “estrutura” ¢ “processo” em sociologia ¢ enfatizada por Evon Z. Vogt. A primeira seria a apreensio instantanea, pelo observador, de uma realidade mével, cuja transformacao poderia ser captada através do entendimento de processos, os quais ou se repetiriam de forma ciclica, ou seriam “acumulativos”, transformando progsessivamente o sistema (Bastide, 1971, pag. 36) Jean Piaget (1972) define a estrutura como "um sistema de transformagdes", ‘com regras proprias (em contraposigao as propriedades possuidas pelos elementos) e que “mantém-se ou se enriquece gragas 20 proprio jogo das suas transformagdes, estas no ultrapassando os limites do sistema nem exigindo referéncia a elementos externos. Em resumo, a estrutura tem por caracteristicas: totalidade, transtormagées ¢ autoregulagio” No caso de escalas bioldwicas e humanas, a auto-rewulagio seria assegurada pelo mecanismo dos ritmos, (Piaget, 1974, pag.8/16, vide também Ramozzi-Chiarottino, 1972, 1988). A evoiugdo do conceito de estrutura avanca assim além da situagdo estitica e temporal e passa a ser aplicado também ao mundo em transformagao, no qual certas caracteristicas dos conjuntos se mantém ao longo de um periodo de tempo. Resumindo, poderiamos dizer que, dentro das idéias apresentadas até aqui, e que percebemos refletidas em varias das conceituagdes mencionadas anteriormente na Introdugao, o termo “estrutura” corresponderia ao conjunto de proporgdes ¢ relagdes, entre partes de um sistema, de redes de conexdes entre elas e dos fluxos correspondentes, ou ao conjunto de leis que caracterizam a formagdo ou a transformacao do sistema. E 0 conjunto desses elementos deveria ser imutavel, out pelo menos bastante estavel, de forma a garantir continuidade, permanéncia ¢ funcionamento ao sistema. 2.2, Os elementos da anilise estrutural urbana. Os elementos estaveis Nas analises territoriais costumam ser separadas as “estruturas naturais” das “estruturas artificiais”, produzidas pelo homem, Nas andlises urbanas tal classificagaio perde de certa forma o sentido, pois todas acabam sendo amoldadas pelo uso humano, Entretanto, os elementos mais estaveis que compiem as cidades sio, obviamente, os proprios elementos fisicos naturais, sobre os quais a cidade se apoia e estende. As camadas geologicas e 0 relevo sio de dificil modificagao, mormente depois de sobre eles estarem implantados os espagos urbanos. Também os cursos d'agua, superficies liquidas, quando de proporgdes relativamente grandes, ndo sdo de remogao muito facil. Por outro lado, 08 espagos de circulagdo envolvendo grande numero de usuarios tém os seus tragados bastante estaveis, sendo menos provavel a sua mudanga ou destruigdo que a dos edificios aos quais eles dio acesso, Estes, por sua vez, costumam durar mais que as atividades por eles abrigadas. Para enquadrar tais elementos nas conceituagdes de “estrutura” apresentadas anteriormente, poderiamos dizer que eles estdo interligados entre si, através de uma série de “leis”, fisicas ou nao fisicas, um elemento dependendo de alguma forma do outro. As superficies liquidas esto ligadas ao sistema de drenagem, e este certamente depende do relevo e da consisténcia do solo. Os espagos de circulacdo se apoiam no solo, dependendo o seu tragado do relevo da regido: e nmuitas vezes 0 relevo ¢ modificado localmente em func&o dos sistemas viarios implantados. As vias. por sua vez, devem garantir acesso aos espacos edificados, cuja utilidade delas depende. Portanto, nenhum desses elementos pode ser modificade livremente, a sua eventual substituigao deve levar em conta diversas condigées preestabelecidas, para o seu aproveitamento adequado em fingdo dos outros elementos existentes. E esse conjunto forma um sistema de relagdes, das quais depende a existéncia e a configuragdo da cidade, A introdugao do horizonte de tempo acrescenta a analise desses elementos turbanos a questo do prazo a ser considerado, o qual vai depender, além da velocidade de transformagao de todos os elementos fisicos, da prépria sociedade que utiliza 03 espagos. em questao As infra-estruturas Mas a continuidade da cidade no depende apenas dos elementos mais, duradouros. Ha outros, cuja duragdo muito menor, que necessitam de continua manutengao, de reformas e substituigdes, e entretanto sdo imprescindiveis para a cidade funcionar como um todo. Os conjuntos de redes de infra-estruturas ligam os espagos urbanos 4s fontes de matéria, energia e informagdes, ou aos locais de disposigao de matérias nocivas ou prejudiciais, interconectando as zonas urbanas com as zonas do seu entorno, formando por vezes complexos sistemas regionais. Os sistemas de transportes ¢ comunicagdes, por sua vez, interligam os espagos urbanos entre si ¢ com as areas de producao ndo-urbanas, A evolugio tecnolégica reduz a sua duragio, e muitos desses elementos se tomam obsoletos rapidamente, sendo substituidos por elementos novos para gerantir a continuidade dos servigos, pois a sua destruigdo, pura e simples, interrompe 0 funcionamento da cidade, que se deteriora em um tempo muito custo, exemplo mais notorio disso foi a cidade de Roma, cuja populagao, de uma cifra que, segundo alguns historiadores, estaria proxima a um milhdo de habitantes nos tempos aureos do Império, com as invasdes e @ destruigdo dos seus sistemas de aquedutos ¢ vias, caiu para cerca de 40.000, s6 se recuperando em periodo bastante recente. Similarmente. cidades que tém os seus sistemas urbanos destruidos por bombardeios 86 se recuperam apés a reconstrugao dos mesmos. E até interrupedes relativamente curtas de fornecimento de agua ou energia (veja-se 0 caso de Nova York ‘em meados da década de 60) ou mesmo de transporte piblico criam graves perturbagées na vida das cidades. Observe-se que alguns autores separam “infra-estruturas” c “superestruturas”, dentro de uma conceituagao diferente, que sob certos aspectos, e niio casuaimente, lembra a de Marx. “Um quantum da forga de produgao da sociedade (trabalho abstrato) € dedicado anualmente a produgao da somatoria total de mudangas nas infra e superestruturas fisicas exigidas para adaptar 0 espaco urbano aos requisitos da producio e reproducdo”. As infra-estruturas, de dominio piblico, serviriam de suporte a unidades juridicas de localizagdo ou lotes. As superestruturas, de dominio privado, seriam as construgdes dentro dos lotes, servindo & produgdo de mereadorias. (Deak, 1989), 1s Os elementos ndo-fisicos Alem dos elementos fisicos, existem também elementos nio-fisicos a desempenhar papéis fundamentais na esiruturagdo espacial urbana, A sociedade estabelece as suas regras proprias, para permitir a convivéncia de grandes massas de setes humanos. Essas regras influem no comportamento dos individuos, sendo tio. importantes para a criagio e utilizagiio dos espacos quanto os elementos fisicos de propriedade ou limites administrativos por vezes no esto demarcados de forma visivel no territério, mas influem decisivamente em sua transformagao € no seu funcionamento, E os documentos ¢ ieis das quais eies dependem, aparentemente meros sinais graficos apostos em pedagos de papel, podem ser muito dificeis de serem modificados Aproveitando 0s pontos ja estudados ¢ discutidos nos trabalhos analisados, de forma que nos seja possivel enveredar por um caminho de aproximagdes sucessivas, poderiamos concluir que a estrutura urbana deveria compreender um conjunto de elementos a condicionar o funcionamento da cidade. Novos elementos acrescentados a estrutura passariam a fazer parte dela, ao exercerem um papel na transformagdo € manutengao urbana, Nesse conceito a estrutura como uma figura estatica pode ficar assim adstrita a periodos extremamente curtos dentro da evolugdo urbana. Gana importancia a nagio de estruturagdo, como proceso dindmico que delineia a transformagdo das cidades no tempo. 2.3. Revisio dos Conceitos. As cidades nao so meros espagos fisicos construidos segundo as regras das técnicas dominadas na época pelos engenheiros encarregados de implanta-las. Muito ‘menos so simples produtos da criatividade de urbanistas, obras de arte a serem perpetuadas como monumentos estético-culturais imutaveis. Pelo contrario, elas formam sistemas dinimicos em continua transformagdo, que s6 conseguimos imaginar imobilizados, ao desaparecerem aqueles que as produzem ¢ a quem elas preservam. E. ‘mesmo entéo essa imobilizagao ndo é verdadeira, pois outras forgas da natureza as dominam, prosseguindo na sua transformacao. Ao trabalharmos com areas urbanas, a nossa anilise deve comegar pelos elementos que sto a razdo da existéncia dessas areas, portanto pelos seres humanos, Sao les que, na sua ansia de criar ambientes mais adequados para si proprios, acabam modificando 0 meio tisico que os circunda, formando paisagens que a eles sobrevivem e acabam condicionando as atividades das geragdes seguintes, Os seres humanos vivem ¢ se reproduzem em ambientes que sdo construidos e modificados através de gerages, onde as suas atividades dependem de fluxos diarios de matéria, energia, informagdes e pessoas. A interrupgao desses fluxos acaba impossibilitando o prosseguimento das atividades humanas. E 0 funcionamento de todo esse complexo sistema hoje esta se tornando cada vez mais ampio, a depender de elementos distantes e intercambiaveis. A diferenciagdo de ambientes Cada individuo € por natureza um consumidor de produtos e servigos que, 20 menos parcialmente, ele mesmo procura produzir ou obter a partir do meio ambiente. Ele pode se apoiar em outros membros do seu grupo familiar segundo uma divisio de fingdes. Dentro da sua habitagdo se processam atividades para satisfazer as demandas. Mas a maior parte dos instrumentos ¢ ingredientes, bem como os insumos bisicos para a produgdo interna provém de fora. Embora para o individuo a sua casa tenha fungdes de produc&o e de consumo, em relagdo a cidade os locais de moradia normalmente s6 representam o papel de consumidores, Na escala maior, da regia, outras reas tomam 0 papel de produtores ¢ distribuidores de produtos e servigos basicos Todas essas atividades, seja de consumo, seja de produgio, como fenémenos de transformagio de matéria e energia que eventualmente podem envolver recepgio ou ctiagdo de novos entes ou informagdes, necessitam de ambientes propicios, especificos para pernitir 0 seu processamento satisfatorio, Quando surgem fluxos prejudiciais, barreiras ou filtros so estabelecidos contra eles, de forma a proteger os ambientes que envolvem as atividades. Ou sao construidos canais para permitir o seu escoamento mais rapido para fora do ambiente. Quando uteis, matéria, energia ¢ informagdes sio consumidos, ou armazenados para consumo futuro, em espagos fechados, podendo formar ambientes que permitem o seu consumo gradativo. Diferenciagdes ambientais podem ser implantadas em diversas escalas, variando desde roupas ¢ edificagdes até vizinhangas ¢ bairros nas cidades, e as diferentes areas de cultura e criagao nas zonas rurais. Atividades pressupdem a chewada de insumos ¢ saida de produtos, Portanto, os ambientes propicios aos diversos usos, aim de devidamente protegidos contra fatores externos que os possam prejudicar, devem ser alimentados e drenados por canais devidamente dimensionados Nas cidades deve haver ambientes adequados para garantir atividades de Interesse para todos. A maior parte dos usos é estabelecida em espagos tridimensionais fechados, com controles de acesso, subdivididos em cémodos com ambientes adaptados especificamente para cada uso. Além das edificagdes, fortificagdes, zoneamentos, servigos de seguranca, constituem barreiras para proteger os ambientes, transportes, vias publicas, infra-estruturas so exemplos de canais para facilitar os fluxos em escala urbana. Nas areas rurais os controles de acesso se reduzem, passando a maior parte das barreiras a apresentar carater “bidimensional”, delimitando ambientes “abertos”. Se nas cidades a sobrevivéncia dos individuos pressupée o funcionamento de complexos sistemas artificiais de produgio e distribuigdo, no campo os individuos procuram aproveitar os recursos que encontram em fluxos existentes nos ambientes naturais ¢ que na sua maior parte atravessam livremente as suas dreas de produgio, 16 Existe, portanto, uma gradagdo, desde ambiemtes “rurais” até os “urbanos", € desde os ambientes “externos", até os "internos" aos imoveis, onde eles so progressivamente adaptados as atividades caracteristicas das grandes aglomeragdes, Se nos ambientes internos as barreiras sao extremamente importantes, formando ambientes fechados, onde os fluxos que chegam ou stem por canais ficam confinados, nos ambientes externos os fluxos se deslocam mais por espagos naturais, reduzindo-se a importancia dos canais artificiais ¢ das barreiras, que diminuem substancialmente. Analisando os exemplos apresentados, verificamos que ndo apenas a tecnologia, como a propria cultura de uma sociedade procura direcionar, facilitar ou barrar fluxos de elementos de acordo com as necessidades que se apresentam a todo instante. Ha elementos que atam como filtros, ao constituir barreiras s0 para determinados tipos de fluxo mas ndo a outros, Pedestres conseguem atravessar espagos inacessiveis a veiculos, Ua simples sinalizagao de transito pode impedir o trafego de caminhdes Ha barreiras que no so implantadas com essa intenc3o, Estradas de ferro, rodovias, grandes avenidas, sao canais de deslocamento de veiculos em determinada diregao, mas 20 mesmo tempo, dependendo da intensidade e velocidade do trafego, podem criar dificuldades para a sua travessia, constituindo barreiras a separar bairros inteiros. Os conceitos de canais e de barreiras podem, assim, se aplicar aos mesmos elementos fisicos, os quais tém uma fungio ou outra dependendo do momento ¢ da diregdo que se pretende imprimir ao fluxo, E a fungdo de barreira nao € devida as vezes & conformacao fisica do canal, mas 4s condigdes do proprio fluxo que por ele passa, Portanto, fluxos podem representar barreiras a outros fluxos, dependendo de uma série de condigdes, como velocidade, intensidade, dimensoes dos elementos que formam os fluxos. Normalmente imaginamos uma barreira composta de elementos parados no espago, em contraposigao aos fluxos, sempre em movimento. Trata-se, contudo, de uma questio relativa, pois as coisas se nos aliguram paradas apenas devido 0 curto periodo de tempo que nos é dado observé-las, ou porque nao levamos em conta, 0s movimentos existentes considerando-os internos ao elemento maior que os contém. Entretanto, s30 08 veiculos em alta velocidade, e nao a via pela qual eles passam, que formam a barreira aos pedestres no caso de uma via expressa. Pelo que foi visto, a estrutura territorial poderia ser imaginada como um conjunto de barreiras ¢ canais que permitem a formagao de ambientes onde podem se desenvolver as atividades humanas. Mas a nogio de barreira é relativa, dependendo do tipo de elementos a serem barrados, E, mesmo na nossa experiéncia cotidiana, 03 proprios fluxos podem desempenhar o papel de barreiras. Poderiamos entéo pensar na idéia de estrutura, tomando por ponto de partida no as barreiras que a constituem, mas os fluxos por ela condicionados Universo de flucos Dependendo do objetivo do que pretendemos ¢ da escala em que o encaramos, ‘© mundo a nossa volta pode ser assemelhado a varios modelos, Se quisermos imaginar um proceso de acumulacao de conhiecimentos, tudo que percebermos ou sentirmos formara dados ou mensagens a transmitirem informagdes. Se desejarmos nele ver os nossos semelhantes, ele sera um pano de fundo, um ambiente onde circulardo e se interrelacionardo os individuos, Se estivermos interessados na circulagdo ¢ desenvolvimento ocorrentes em um territério, podemos ver nele matéria e energia, como em todo espago fisico, embora elas possam constituir objetos. seres vivos, pessoas ou mensagens. Para simpiificar 0 nosso raciocinio iremos agora considerar todo territorio como parte de um mundo formado apenas de elementos que se deslocam uns em relagio aos outros. As velocidades relativas desses elementos variam dentro de uma gama extremamente ampla: costumamos observar apenas aqueles que se movem em wm imtervalo de velocidades dentro da nossa limitagio perceptiva natural, Visualizamos mais facilmente velocidades discerniveis em tempo compativel com periodos de observagao continua, O movimento ou crescimento de uma planta sO nos captara a atengio se aparecer em um filme, Nao percebemos a velocidade da luz ou do som na nossa vida Jidria, Na cidade temos varias gamas de velocidade fora da nossa percepedo cotidiana. As velocidades das mensagens que nos chegam, trazendo as informagdes as mais, diversas, A velocidade dos fluidos deslocados através dos encanamentos. Q crescimento das arvores nos parques ¢ ruas arborizadas. Transformages de usos ¢ 0 avanco da urbanizagao. Os elementos podem ser por nos classificados segundo as suas caracteristicas aparentes, ¢ os seus tipos podem ser os mais variados possiveis, dependendo apenas do modelo de mundo que estivermos criando na nossa mente. Quando for conveniente modificar a escala da nossa analise, poderemos considera-los subdivididos ou reagrupados em elementos menores ou maiores. Elementos mais complexos podem ser constituidas de conjuntos de elementos mais simples, os quais podem inclusive estar em ‘movimento em relagao aos primeiros, O que nos interessa é que, em um determinado, periodo de tempo, cada um deles aja, dentro do nosso modelo, como uma unidade que se desloca em relacao aos demais elementos. ‘Chamaremos de "fluxo" ao movimento de um conjunto de elementos em deslocamento em relacdo 2 outros elementos tomados como referéncia. A sua velocidade € diregdo, em cada ponto ¢ em cada instante, ¢ relativa, i, €, depende dos deslocamentos dos pontos de referéncia. Os elementos que formam o fluxo podem conter outros fluxos, internos, e, por sua vez, os seus elementos de referéncia podem também estar em fluxo em relagao a outros elementos, extemos a eles, Desta forma eles podem se tornar conjuntos extremamente complexos, constituindo instrumentos, aparelhos, maquinas, & até seres vivos. Além dos fluxos gerais de matéria e energia podemos portanto imaginar fluxos de animais, de pessoas, de automoveis, que se deslocam em relagdo & superficie do planeta, a qual, por sua vez, se encontra em movimento em relago a outros pontos de referéncia, 18 5 fluxos podem ser ripidos. diriamos até "instanténeos" no caso de radiagdes, quando s4o praticamente atingidas as velocidades relativas méximas alcangaveis. Podem também ser extremamente lentos, 140 lentos que em relagdo aos nossos pontos de referéncia formam massas "paradas", como as aguas nas lagoas ou as jazidas nos subsolos, quando a sua velocidade se reduz, formando, em determinados iocais, aglomerados ou "estoques". Podem ter velocidade variavel. ser continuos ou descontinuos. Podem variar de trajetoria e de intensidade. Podem ser mais ou menos permeaveis, formando barreiras ou filtros para a passagem de elementos de outros fluxos, Podem influir uns nos outros, transformé-los, ou mesmo transformar-se uns em outros, O fluxo € condigdo para a mudanga e para a transformagao. Sem ele, nao pode aver periodo de tempo registrado. O sistema sem floxo se torna imével, morto, parado, Com todos 0s elementos de sistemas parados uns em relago aos outros, o tempo deixaria de existir A medida que procuramos fazer 0s fluxos atingir territorios maiores com as mesmas velocidades, distribuindo-os de maneira relativamente uniforme, eles precisam ser subdivididos em ramificagdes cada vez. mais finas. Em um ambiente homogéneo essas ramificagdes apresentardo simetrias, provocadas pela constancia das condigdes existentes nas varias diregdes possiveis de deslocamento de cada fluxo. Todos os fluxos se encontram de uma forma ou outra interligados, desde as escalas mais amplas até aquelas mais diminutas, Se quiséssemos classifica-los, poderiamos faze-lo em fungdo da amplitude e do isolamento do sistema em relagdo ao qual eles seriam considerados Num sistema global como o Universo (ou talver um conjunto de Universos interconectados) - constituindo um sistema fechado - nao ha entrada nem saida de matéria ou energia, Todos os fluxos sao circulatorios e internos ao sistema, embora ‘possam se somar ou subdividir, ou transformar uns em outros, total ou parcialmente, Nao ha para onde a matéria e a energia escaparem, pois nada mais existe em termos fisicos, J4 num sistema como o planeta Terra, mesmo praticamente nio havendo saida nem entrada de matéria em fungao da gravidade e distancias que a separam de outros corpos celestes, existe sempre entrada ¢ saida de energia na forma de radiagdes. Assim, além dos fluxos circulatorios internos ao sistema, ha fluxos de energia vindos de outros sistemas € os que saem para outros sistemas. ‘Nos sistemas terrestres, a principal fonte de energia extema é a luz solar. Esse fluxo continuo de energia em forma de radiagdes eletromagnéticas, em parte é transformado em calor e dé origem, nas camadas superficiais do planeta, a fluxos de matéria, pois energia pode ser armazenada em forma mecanica ou quimica, formando estoques intermediarios. Os ecossistemas so constituidos pelos conjuntos de elementos que passam por transformagdes comtinuas utilizando os fluxos energéticos existentes. O fluxo recebido € 0 fluxo de dispersdo se mantém aproximadamente constantes € interligados por fluxos circulatorios intemos com transformagdes sucessivas em que os seres vivos desempenham papel relevante (Branco, 1989) rey Dentro dos sistemas ecologicos do planeta, 0s seres vivos procuram modificar a ordem encontracia, ou seja, 05 fluxos de matéria e energia existentes, de forma a poder deles tirar o melhor proveito Nos sistemas urbano-rurais que contém as atividades humanas, s80 utilizados os fluxos de energia e matéria acessiveis, cujo processamento os retira do seu encaminhamento natural, provocando o seu descarte em outros pontos do territério. E cada atividade recebe e emite, além de fluxos de matéria e energia, também os fluxos de informagées e de pessoas. ‘As informagdes. para serem captadas como tais pelos seus receptores, necessitam de codigos de interpretagdo adequados. Internamente a um ambiente fechado, cada um dos diversos sistemas abertos que 0 compéem recebe informacdes mais ou menos decifraveis e transmite também informagies para os outros. Entre especies diferentes de animais a comunicagao ¢ restrita. A transmissio das informagSes pode ser feita através de ruidos, odores, movimentos do corpo, cores, sinais graficos, sinais eletrdnicos, A existéncia e tipo de informagdes num fluxo dependem do ser vivo que o recebe, pois ele assimila a informagao em fungdo dos seus conhecimentos anteriores, Portanto, 0s fluxos de mensagens dependem da capacidade de interpretagao do ser vivo, Tais interpretagdes formam campos diversos do campo fisico, mas interferem no modo de agir dos seres vivos, e dessa forma interferem no campo fisico. Uma transformagio pode ser natural ou provocada artificialmente pelos seres, vivos, aplicando tecnologia disponivel e quantidades adequadas de certos tipos de informacdo, materia e energia. Todos estes fluxos tém de ser dirigidos para determinados espagos onde possam interagir. A interagdo constitui a esséncia daquilo que denominamos de "atividades". Um "ambiente” seria basicamente constituido por um espago onde haja disponibilidade de determinados fluxos, necessarios a “atividade", ¢ indisponibitidade de outros, a ela prejudiciais. Por outro iado, as atividades podem envolver fluxos de pessoas, que se deslocam em fungao de papéis que assumem na produgio ou no consumo. Surge-nos assim uma imagem de estrutura urbana constituida de espacos contendo um sem-nimero de interferéncias de fluxos que se entrecruzam, e que so passiveis de serem aperfeicoados através da introdugio de novas tecnologias. Na realidade nao seria uma unica estrutura, e sim um grande nimero de estruturas interconectadas. E esse sistema, além de extremamente complexo também extremamente dindmico, pois nao depende de um comando unico e racional, a ser acionado de forma teenicamente coerente ¢ cientificamente adequada, mas de um numero vastissimo de decisores parciais, que, se de um lado, proporcionam-lhe grande criatividade ¢ variedade no desenvolvimento, de outro, podem em determinados momentos coloci-lo a beira do caos jcos ¢ néo-fisicos Os controtes fis Os seres vivos de forma geral ¢ os seres humanos em particular constituem no mundo centros de decisdo em relagdo a armazenamentos ¢ transformagdes de fHuxos, Eles provocam a utilizagdo de energia ¢ matéria armazenadas, A sua agdo sempre afetou profundamente e ainda afeta os nossos ambientes. Os seres humanos, mesmo quando comandados por outros, ndo atuam como maquinas executoras: o seu trabalho depende de decisdes que eles tomam continuamente, dentro de Ambito mais ou menos restrito que thes é conferido pela sociedade, muitas vezes até reinterpretando decisées de seus superiores, Dessa forma o comando das atividades ¢ multiplo e pasticipativo Para todo ser vivo 0 mundo que o cerca tem uma conformagéo ¢ um sentido préprios, em continua transformacdo, que ele concebe em fungdo das informagoes através das quais ele se interrelaciona com o meio ambiente. Os seres vivos interferem nos fluxos conforme a sua forma de interpretar o mundo a partir das informag&es recebidas. Se a existéncia de informacdes num fluxo depende do observador que 0 recebe, (situagdo que pode ser facilitada ou dificultada pelo seu emissor), o observador assimila a informagdo em fungao dos seus conhecimentos anteriores. Similarmente aos outros seres vivos, a partir da sua interpretagio do mundo, ¢ das informagdes dele recebidas, os seres humanos procuram nele se manter. Para tanto, eles precisam: a) saber quais os fluxos tteis e garantir a sua ocorréncia oportuna, b) saber quais os fluxos prejudiciais, desviando-os, interrompendo ou reduzindo nos periodos adequades, Diversa é a importéncia dada por diferentes individuos aos varios fluxos, e cada um pretende ter algum controle sobre a sua intensidade, diregio, velocidade e periodicidade. Em relagio a intensidade, queremos receber quantidades especificas de determinados elementos em determinados periodos de tempo, Intensidades acima das necessarias podem ser prejudiciais, e portanto precisam ser evitadas. Eventualmente podemos tentar acumular os elementos em reservatorios ou poupancas, dos quais 0 fluxo possa sair s6 nos periodos necessarios.. Para tanto so freqiientemente deslocadas e colocadas em posigdes estaveis quantidades de matéria de forma a facilitar certos fluxos em determinadas direg6es e dificultar em outras. Criam-se artificialmente "canais” constituidos de "barreiras” que impedem fluxos em diregdes diversas das pretendidas, ¢ mantém 0 espago desimpedido para certos elementos fluirem com mais rapidez ¢ eventualmente serem armazenados em estoques de forma a poderem novamente fluir ¢ interferir uns nos outros nos momentos oportunos. Fluxos que nio puderem ser interrompidos ou que se dirijam a locais inadequados devem ser desviados, Formam-se entao barreiras para protecao contra fluxos indesejaveis. Noutros tempos pedras eram trazidas de longas distancias para colocélas em posigdes estaveis, (portanto em “fluxo” de velocidade “nula” em relagio 40 meio circundante) e de forma a ndo se deslocarem sob a aco da gravidade ou de impactos das armas inimigas, Ja uma “barreira” de fogo antiaéreo é formada pelo fluxo de elementos moveis disparados para impedir o avango dos avides inimigos sobre o territério, Ritmos, oscilagSes, movimentos circulatorios, so caracteristicas importantes nos luxos, devido a sua eventual previsibilidade, que facilita 0 seu aproveitamento ou a prevencdo contra a sua aco, possibilita automatizagdes © diminui a necessidade de agdes conscientes. Além dos controles fisicos, podemos ter outros, nao-fisicos: zoneamento, limites de propriedade, limites administrativos, limites legais, pois o comportamenta dos seres vivos ¢ influenciado também pelos seus sistemas de interpretagao ¢ pelos sinais por eles recebidos. O controle do trafego nas vias se processa através de mensagens encaiinhadas aos motoristas. O controle de uso de iméveis através da legislagio dirigida a proprietérios e construtores. Fluxos de informagGes formam mundos nao-fisicos, em que determinadas mensagens podem inibir ou direcionar decisoes ou ordens dos seres humanos, fuzendo com que certas atividades nao acontegam em espagos fisicos, delimitados por linhas correspondentes a tragados abstratos, 20 serem enquadradas em classes ou categorias criadas ou aceitas por nossas mentes, Embora eventualmente, em determinadas situagdes elas possam nao ser aceitas por determinados individuos. deixando entdo de exercer o seu papel controlador Portanto, para controlar um fluxo, modificando-the a diregdo ou velocidade, necessitamos formar outros fluxos, que componham barreiras ou que disponham de cenergias permitindo atrai-lo ou afasté-lo; ou, inversamente, retirar ou modificar barreiras ‘ou energias que nele estejam influindo, Tais fluxos podem ser fisicos. Mas podem ser fluxos de informagées, de mensagens que, devidamente interpretadas, influirao sobre quem controla diretamente o fluxo a modificar Surge-nos assim uma visio de estrutura formada por espagos orientados, através dos quais diversos elementos podem se deslocar mais rapida ou vagarosamente em determinadas direcdes, seja em termos de tempo, seja de custo, ou outros tipos de atritos, dificuldades ov até impedimentos, que sdo diferentes para cada tipo de elemento considerado. 2.4. Conceito de Estrutura no Espaco Chamaremos de "estrutura’ relativa a elementos "E” no espago, a0 conjunto de elementos "S", pertencentes ou no ao espaco mas a ele relacionados, que condicionam © fluxo dos elementos "E. No campo fisico, isto corresponde a uma permeabilidade espacial diferenciada para os elementos “E”, definida em cada ponto, em cada diregdo € em cada instante em fungdo desses elementos "S" Podem existir estruturas que, além de conterem elementos em fluxo em relagao a elas, se deslocam elas mesmas em fluxos em relagdo a outras estruturas. Os automoveis sdo elementos em fluxo em relacdo as rodavias, ¢ contém fluxos de liquidos e gases. Os seres humanos que neles viajam formam fluxos com velocidade variavel em rela¢do aos veiculos, durante certos periodos permanecendo eles “armazenados", para depois deles se afastarem, ¢ eventualmente serem substituidos por outros. Os seres vivos também 2 constituem estraturas, dentro das quais circula 0 sangue, 0 aiimento. ¢ até fluxos de informagoes. As estruturas nio so constantes, elas sio transformadas ao longe do tempo pela acdo, consciente ou no, de agentes os mais diversos, vivos ou nao-vivos. Mas nem toda estrutura tem que ser criada artificialmente pelos seres vivos para uma finalidade pré-estabelecida. Estruturas existem em toda parte, no mundo bidtico ¢ no bidtico Poderiamos chamar entio de estruturas aqueles conjuntos de elementos que, para nds, ou seja, dentro do modelo de mundo por nds imaginado, possuirem essa fungao em relagdo a um determinado fluxo de nosso interesse. Um amontoado de pedras nao sera para nds uma estrutura, enquanto ndo tivermos a idéia do papel por ele desempenhado no direcionamento ou contengao de determinados fluxos que estivermos considerando na natureza Essa flung pode ser desempenhada por um tempo mais curto ou mais longo. Estruturas instantaneas pouca importancia apresentam para o planejamento. E as estruturas permanentes podem eventualmente ir se adaptando aos fluxos, a medida que ‘estes as desviam das suas posigdes de equilibrio iniciais. Uma rede, ao receber uma carga, adapta-se a ela, e a ela resiste, Normalmente podemos prever o seu comportamento por um periodo razoavel de tempo. No caso dos fluxos de seres humanos, to importantes como as estruturas fisicas sdo as estruturas nio-fisicas, criadas nas mentes dos individuos e as quais eles se subordinam, seja por razdes inatas, hereditarias, ou adquiridas no convivio com 0 ambiente natural ou com a propria sociedade formada por seus semelhantes. As estruturas so idealizagdes das nossas mentes em campos de dimensdes as mais diversas, Tais campos podem interrelacionar-se, direta ou indiretamente, entre si e com o espago fisico-espacial do Universo que nos radeia, Aos elementos idealizados podem entao corresponder elementos reais do mundo em que vivemos. As estruturas sio transformadas ao longo do tempo pela ago daqueles que compdem a Sociedade e que se influenciam uns aos outros, modificando a sua forma de proceder e de enfocar a realidade. Elas formam os pontos de apoio e de direcionamento do desenvolvimento das atividades, e vio moldando os principais tragos da presenga humana no territorio. 3.0 Processo de Estruturaco Urbana 3.1. Os espagos territorinis Atividades Conceituado o termo “estrutura” no espago, podemos nos dedicar & andlise do que seriam as estruturas territoriais uzbanas, e de como se processa a sua sucesso ou teadaptagao a0 longo do funcionamento de uma cidade. Os fluxos condicionados pelas estruturas urbanas, correspondem aos elementos que formam a cidade. A forma mais abstrata de se conceber a cidade em funcionamento seria como o conjumto de espagos contendo inter-relacionamentos de fluxos de matéria, energia, jinformagses ¢ pessoas, Nas freas urbanas, criadas sobre o solo natural, mas a cle nao imegradas, esses fluxos so, em quantidade significativa, produzidos pelos moradores, & influem uns nos outros de forma intensa, se entrecruzam e se transformam, Portanto, os inter-relacionamentos, que constituem a esséncia da cidade, seriam condicionados pelos proprios fluxos mencionados Entretanto, do ponto de vista dos habitantes, esses inter-relacionamentos de fluxos sao simplesmente as atividades que so exercidas nos ambientes urbanos, internos ou externos, Atividades urbanas normalmente ndo se desiocam, mas so criadas em espagos novos ou morrem em espagos antigos. Avangam, como avanga uma floresta, em reas em que o solo € propicio ¢ para onde as sementes se propagam, levadas pelo sopro do vento, pela correnteza dos corregos, ou transportadas pelos animais. O exercicio dessas atividades depende de decisdes de seres humanos, ou de outros seres vivos, ov eventualmente de computadores ou robés, A base das atividades ¢ cconstituida pelos fluxos, fluxos "reais", existentes em dado momento, ou "potenciais”, que podem ocorrer em um momento futuro a partir do seu armazenamento. Os fluxos materiais s8o continuos, mas para efeito da nossa perspectiva pratica eles se iniciam terminam fora das areas urbanas, e oferecem-nos uma viséo “ambiental” das atividades que se processam no territorio. E, dentro de um enfaque /umano, eles se entrelagam ‘com fluxos nio-materiais, com origem nos proprios seres humanos, os fluxos de poder. Fluxos fisicos e nito-fisicos fluxo de elementos orgnicos sempre foi fundamental para a sobrevivéncia, e constituiu o objetivo principal da estruturagao territorial. Para a produgo dos alimentos so utilizados geralmente espagos abertos, com ambientes preparados e mantidos continuamente através da segregagic ¢ eliminagao de seres prejudiciais 4 eficiéncia da cy produce e do aproveitamento dos recursos naturais, cujo fluxo ¢ mantido. eventualmente acelerado ou reforgado, Para a produgo da materia organica, sao em geral utilizados diretamente os recursos oferecidos pela propria natureza, como as precipitagdes pluviais, as radiagdes solares, os pastos naturais. Contudo, esses espagos tendem a se tornar cada vez mais isolados dos ambientes exterios. Aumenta progressivamente a quantidade de entes criados em ambientes artficiais, em que no ficam sujeitos as instabilidades climaticas e nao necessitam de espagos to amplos para o seu cultivo, desde que sejam garantidos os necessérios fluxos de nutrientes e radiagdes. A localizagdo dessa produgdo é comandada pelas facilidades de transporte e de intiaestrutura e pelo custo do terreno, mas pode em principio ser efetivada até dentro das prdprias areas urbanas. Ha uma crescente independéncia das atividades produtoras de alimentos em relago as qualidades do clima € do proprio solo, podendo-se prever uma futura redugao da area ocupada para tal fim na superficie do planeta. Os morosos processos de preparo de alimentos pelas familias, seguindo muitas veres longas tradigdes culturais, jé foram substituidos pelo pré-preparo industrial. Perdeu a antiga importancia a produgdo realizada nas habitagdes, a area de servigo e a cozinha, onde 0 niimero de tarefas a serem executadas se reduziu substancialmente. Desapareceu © “quintal” que anteriormente contribuia para a alimentagdo com uma produgao auxiliar de verduras e frutas, por vezes aves e ovos, A produgdo alimentar se centraliza & “globaliza’’, reduzindo-se progressivamente nas areas residenciais, onde entretanto ainda se processa boa parte do consumo, que parcialmente vai se transferindo para as éreas ligadas ao trabalho e ao lazer. Os produtos organicos depois de consumidos so hoje em boa parte encaminhados para fora das cidades aproveitando os fluxos de aguas. através das redes de esgotos. Fluxos nao aproveitados e pouco controlados por estagdes de tratamento, normalmente centralizadas, mas que néio conseguem impedir a poluigao geral dos recursos hidricos naturais das imediagSes. Tamhém o tratamento do lixo se ressente de uma falta de maior desenvolvimento tecnologico nessa area, de alta potencialidade em tude da prodigiosa escala das areas metropolitanas surgidas. A medida que o volume desses fluxos em areas habitadas tem aumentado, cresceu também a preocupacdo com as suas fases posteriores, que comegaram a modificar as condigdes do entorno, nos espagos onde clas se integram com outros fluxos da natureza, em escala local, da regio e até do planeta, ricocheteando nas proprias aglomeragées humanas ao modificar fluxos por elas utilizados. Mas a parte mais significativa dos elementos que chegam as cidades é constituida por cargas destinadas ao aumento do conforto e a viabilizagdo de outros fluxos, integrantes do sistema em que estamos inseridos. Eles sao deslocados pelos sistemas de transportes desde as suas dreas de produgdo até as areas de consumo através de uma complexa estrutura econémica/politica abrangendo amplas regides de escala internacional. Paralelamente, os detritos e dejetos, provenientes principaimente dos estagios finais dos fluxos de matéria consumida nas atividades urbanas, poluem os sistemas hidricos, o ar, ¢ 0 territério em geral, criando problemas na renovaso natural ddos recursos. ¢ @ grande quantidade de energia encaminhada eleva a temperatura das cidades A internacionalizago da economia criou novas organizagoes englobando muitas unidades de produgdo e tipos de produtos, bem como muitas atividades do setor terciario (entrepostos, eseritorios, centros de pesquisa). O seu objetivo ¢ uma combinacao flexivel de produtos, de facil redistribuigdio conforme as necessidades de cada momento (Manzagol, 1985), Esses novos ¢ complexos sistemas de produgio passaram a fomentar novos tipos de especializagao territorial em escala macro-regional As reas de produgdo se distanciam cada vez mais dos pontos de consumo, mas reforgando o papel de certas economias de aglomeragio em pélos regionais. Conforme ‘observa Coutinho (1995), as inovacdes tecnologicas tém feito emesgir cada vez mais, uma articulagdo e coordenagao das redes entre empresas (fornecedores - produtores - distribuidores - associados), formando um complexo efetronico em que as relagdes tradicionais de mercado so em parte substitutdas pela coordenagao “on line” de decisdes de produgdo, oferta e distribuigdo. “A formagdo destas redes entre empresas (ou de empresas-rede) tende a estreitar a distancia fisica otima para os sistemas supridores das industrias montadoras finais, de forma a viabilizar a minimizacdo dos estoques de partes e pegas ¢ a operagiio dos sistemas ‘just on time”. Surge uma globalizagdo financeira e aprofundamento de internacionalizagao produtiva, em um periodo de turbuléncia, que esta desestabilizando as estruturas de produgao em nivel mundial Ao lado dos fluxos fisicos, orgénicos ou inorginicos, transparece cada vez mais, a importancia dos fluxos de informagdes, em fiungdo dos quais se correlacionam, adaptam e integram os cada vez mais complexos sistemas de produgdo ¢ de consumo da nossa época Com a formago de novas estruturas econémicas, reorganizam-se ¢ modifica 08 fluxos de redistribuigo do poder que se processam nos territorios, influindo nos papéis desempenhados pelos seres humanos, Estes, embora em principio sendo a razio 0u objetivo dos fluxos criados, passam a ser encarados como seus componentes secundarios, tornando “descartaveis’ os contingentes sociais de menor utilidade & evolugao econémico-tecnoidgica em curso. A recente redugio de mao de obra empregada nas atividades formais, tem causado novo aumento do nimero de atividades informais, sendo os produtos e servigos oferecidos eventualmemte nos préprios espagos piblicos de acesso. Formam-se, ao lado dos mercados oficiais, amplos mercados paralelos através dos quais individuos e grupos de individuos procuram subsistir e obter parcelas de poder que Ihes garantam fungdes ‘os sistemas em operagao Assim, com a formagio de novos fluxos ¢ seus aproveitamentos multiplos, apoiados em fluxos de redistribuigdo de poder (refletidos em fluxos de capital, de mercadorias, de organizaySes) novas estruturas vio surgindo, eventualmente sobre o que resta das antigas, podendo-se prever em decorréncia grandes transformagoes em futuro proximo 26 Espacos territoriais As atividades se processam no espaco, subdividido fisica e ndo-fisicamente, Os ambientes assim delimitados adquirem nas mentes dos componentes da sociedade humana novas dimensOes. que regem a sua utilizagio. As atividades espacializadas formam os us0s do soio em continua transformagao que se vém condicionados pelos elementos que formam a sua estrutura. Partiremos da idéia de que a estrutura urbana surge com a cidade ¢ se modifica através do acréscimo ¢ eliminagao de elementos que a compéem, até deixar de existir a0 desaparecerem as atividades urbanas. Ora, se a atividade urbana surge junto com os primeiros elementos da estrutura ou vice-versa, isso nos leva a consideragao da transformagdo ou incorporagaio de elementos ndo-urbanos. No periodo anterior & formagao de uma cidade, podemos imaginar a existéncia de atividades ndo-urbanas no territorio, eventualmente intetligadas por redes de transportes e comunicagio. As atividades urbanas se diferenciariam das nao-urbanas, basicamente, por utilizarem o territorio apenas como suporte, sem aproveitar os recursos naturais do solo sobre 0 qual esto assentadas Quando desaparecem as atividades primarias e surge a possibilidade de criagdo de ambientes urbanos, a estrutura inicial que garante 0 acesso a outros ambientes é constituida pelas proprias vias rurais ou interurbanas, sendo-Ihe aos poucos sobreposta uma estrutura criada por vias novas de acesso aos terrenos que vao sendo parcelados, formando espagos menores, sob o comando de pessoas cujo poder, restrito 4 area contida em cada lote ¢ delimitado pela legislagao e pelas hierarquias e subdivisdes territoriais e administrativas, Surgem ambientes em espagos cada vez menores, nos quais sio desenvolvidas atividades que formam usos urbanos As sociedades humanas so complexas, com os seus grupos familiares bastante reduzidos formando agrupamentos organizados em hierarquias amplas e subdivididas. A escassez, de determinados recursos provoca entre eles o fendmeno da territorialidade, os grupos estabelecendo para si a exclusividade ou prioridade na utilizagdo de areas delimitadas sob 0 seu dominio, Com excegao de areas desocupadas e sem donas, essa exclusividade € obtida a custa do seu uso por outros grupos, e portanto do poder especifico destes, e & conseguido ou através de troca por outros recursos, ou pela imposigao fisica, pelo “direito de conquista”. Entre os romanos, segundo Gaius, a langa era o simbolo da justa propriedade, pois “eles tinham particularmente por seu o que tinham tomado do inimigo” (Lévy, 1972, pag. 34). O poder sobre os espacas territoriais Poderiamos caracterizar 0 poder de um individuo ou grupo de individuos pela sua possibilidade de influir no entomo ou sobre as agdes ou comportamentos de outros individuos ou entidades. Dentro de um conjunto maior, através de instrumentos diversos, desde coagao fisica até exibigdo de um “status” social, um individuo ou grupo de individuos pode proceder a uma “redistribuigdo de poderes” com outros individuos ou grupos. Poder também os poderes ser eventualmente colocados no mercado ¢ trocados centre si, A propriedade ¢ ume das formas assumidas pelo poder sobre as coisas (e também sobre vegelais, animais, e, em certos periodos historicos, até sobre pessoas). Teriamos assim “faxos” de redistribuigdo de poderes, que podem se concentrar ou desconcentrar, e que se modificam ao longo do tempo em fungao dos fluxos de informagoes que sdo repassadas e de mudangas ocorrentes nas mentes dos agentes decisores existentes, © poder & exercido pelo individuo ou peia organizagao com o objetivo de assegurar pelo menos uma parcela de um ideal que seja a esséncia do modelo pelo qual eles enfocam 0 mundo & sua volta, Cada nivel de organizagao da sociedade humana corresponde a uma certa possibilidade de influir no ambiente, nos seres vivos ¢ suas atividades, bem como em alguns dos outros niveis de organizacio existentes. O poder relativo propriedade pode passar de um cidadao a outro, conforme regras estabelecidas e aceitas, sendo hoje, como em muitos outros periodos, negociado no mercado, com valores monetarios. Aos niveis mais amplos das organizagGes estatais correspondem poderes menos negociiveis, que refletem as estratificagdes sociais, os grupos dominantes procurando manter o controle sobre as mesmas de forma a assegurar as suas posigdes ¢ eventuais privilégios, A influéncia dos governantes se manifesta através de fluxos de determinagdes, de ordens que sdo aceitas ¢ executadas pelos governados. Pretende-se que as nagdes devem ter um poder sem limitagdes, através dos seus governos soberanos, nao subordinados a outros. Nao haveria influencias externas dentro dos seus territorios, nem restrigdes ao seu comando. Contudo, quem efetivamente exerce © poder no so entes abstratos ou grandes massas de populagio, mas individuos, organizados em grupos reduzidos, cujos comandos so obedecidos pelos outros individuos ou grupos, Verifica-se que Estados governados por individuos ou grupos em nome de entidades ou entes supostamente poderosos, soberanos e perenes, conseguem ‘manter mais facilmente a continuidade da maquina governamental. Regras para essas grandes organizagdes so entio elaboradas e fixadas pela autoridade maxima, ou seja, os representantes daquele em nome de quem o poder é exercido - “Deus”, “Povo”, ou outra entidade ou ente que seja considerado influente pela populago. No século XVIII, David Hume jé considerava que © governo € fundado no controle da opiniao piiblica (Chomsky, 1997) Enquadrados nessa ordem geral é que se desenvolvem e operam os diversos grupos ¢ seus chefes, atuando eventualmente com ampla autonomia, mas obedecendo as regras dos comandos centrais, Distribuem-se tarefas ou objetives especificos para os diversos membros componentes das organizagdes ou subordinados aos individuos. Cada um ira executa-las na medida em que, no seu enfoque, dessa execugdo depender a sua estabilidade ¢ seyuranca, seja ela fisica, moral, espiritual ou financeira, mas de suprema importancia para esse subordinado ou membro. A territorialidade expressa uma area de influéncia, Divisdo em areas distintas corresponde a diviso de comando no territorio. Seus limites so membranas que filtram © poder e so demarcados através de sinais, detectaveis apenas por determinados grupos de individuos em fungao do sistema de informagées por eles desenvolvido (Heimstra; 28 ‘McFarling, 1978). Eventuaimente eles podem nao ser reconhecidos ou no ser obedecidos por outros grupos. Invasdes de territorios séo observadas em muitas especies de animais, inclusive na espécie humana, Guerras e revolugdes ensejam contiscos ¢ realocagSes de propriedades, ¢ criam por vezes novos elementos estruturais no territério. As guerras religiosas nos séculos XV e XVI na Europa, a Revolugao Russa neste século, transtornaram as estruturas vigentes. Algo similar, mas em muito maior escala, aconteceu no continente americano ao se iniciar a invas4o europeis, quando terras de indigenas eram “terras de ninguém” para grupos exégenos que se consideravam superiores a eles. Mas, uma vez aceita a delimitagao do territorio onde em principio deve dominar um individuo, ha uma predisposi¢ao, por parte dos outros, a aceitagio dessa sua dominncia naquele territorio, e, de outro lado, 4 imposigio e defesa dessa dominancia pelo proprio individuo (Moreira, 1986) As restrigdes aos poderes de um proprietirio supdem a aceitagdo de niveis de poder superiores pelo menos dentro de determinados campos, 0 que decorre da existéneia, mitiea ou real, de entidades guardando as fronteiras a nio serem ultrapassadas, Regras morais, religiosas, legais, slo impostas pelos proprios membros da comunidade ou por grupos externos dominantes. Elas serio obedecidas se uma parceia poderosa da populacdo as considerar necessirias aos seus interesses, ou se a comunidade se sentir constrangida a tanto por uma entidade a quem reconhega 0 poder, se néo o direito, de impor normas e exigir obediéncia no seu campo especifico, Cielos evolutives da subdivisdo territorial Um territorio se subdivide, esfacelando-se em um grande niimero de fragmentos, maiores e menores, cada um sob o comando de uma pessoa, individuo ou sociedade, que determina ou permite agdes ow atividades dentro do seu espago especifico. Esse esfacelamento nao se produz ao acaso. De um iado, cada um dos ‘espagos se interliga com todos 0s outros através de determinado sistema de canais que os faz funcionarem como um todo. De outro, o tragado dos seus limites obedece a uma logica propria, que se amolda as condicdes locais A propriedade é exercida em diversas escalas, fisicas e sociais. Os individuos procuram ter exclusividade de uso de uma série de objetos, roupas, ferramentas, recursos pessoais. Os grupos primarios em que ¢ organizada a sociedade, procuram ter exclusividade de uso dos seus abrigos, dos recursos necessdrios para a sua subsisténcia A organizago mais ampla da sociedade, que da apoio aos seus componentes principalmente em periodos criticos também necessita de recursos para as suas ages Esses varios niveis de propriedade na sociedade humana existem em todas as épocas, ¢, dependendo do tipo de organizagdo econdmica e social, um deles prevalece sobre os outros. Existem ciclos de diferenciagao de tipos ¢ de fragmentacao territorial de propriedades, acompanhando uma descentralizagaio do poder central. Grupos proximos 0 individuo ou grupo dominante passam de forma crescente a co-participar do comando. Com 0 tempo, 0 poder sobre o territério passa a ser exercido de forma auténoma e até exclusiva por grupos ou familias. A subdivisdo progressiva reduz 0 tamanho das propriedades que acabam sendo coiocadas no mercado para ser trocadas por outros tipos de poder. Estruturas legais procuram assegurar os niveis de poder alcangados pelos diversos grupos sociais, mas a longo prazo os fhuxos tém a tendéncia de descentralizar 0 poder sobre o territério, Ao ocorrerem eventuais reconcentragbes na organizagao da Sociedade, 0 ciclo aqui esbocado pode repetir-se novamente Isto pode ser observado nas civilizagdes antigas e também na Europa a partir da Idade Média e, posteriormente, sob a influéncia do dominio europeu, no Brasil. A propriedade da Ordem de Cristo, representada pelo Rei de Portugal, se subdividiu entre pessoas relativamente proximas a ele (mas no muito proximas, devido & pouca atracio apresentada pelas terras distantes) e a seguir passou a alienavel, entrando no sistema de mercado, Dentro da organizagao capitalista, o sistema territorial é um bem divisivel, associado a idéia de recurso capaz de, ao ser disponibilizado, dar renda ao seu proprietéirio Os espagos langados no mercado nio sao simples elementos de consumo, direto ¢ imediato, pelo adquirente. Eles so pouvo deterioraveis, ¢ o seu valor varia de acordo com a evolugao do mereado e com a sua propria transformagao como mercadoria. Eles representam bens passiveis de “entesouramento”, de especulagao quanto aos seus pregos a prazo mais longo, ¢, mais que isso, nas cidades em crescimento e desenvolvimento, de sua propria transformago, como bens imoveis, através de modificago de suas caracteristicas e de novas condigdes de acessibilidade e utilizagio. As rotinas de redistribuigdo de propriedade ou de sua utilizagdo efetiva obrigam ‘& manutengio de uma série de elementos estruturais no territorio (vias de acesso, delimitagao dos terrenos, registros iegais, etc.). Quando abandonadas e sem uso, surgem ‘outros aproveitamentos ou mesmo invasées de outros individuos ou grupos pretendendo a posse. Pode entio desfazer-se a sua repartigdo anterior, e 0 territério ser redividido para novas finalidades, sob influéncia de novas expectativas criadas pelos fluxos de redistribuigdo de poder. A facilidade de se trocar um recurso territorialmente fixo por outros, desvincula, aparentemente, o territério da populagdo. A cidade material de bens € atividades parece obter uma existéncia propria, impulsionada pelos interesses do capital ¢ comandada por leis vinculadas a da oferta e da procura, a atuarem independentemente das populagdes que ocupam os espagos formados no territério em fungao das necessidades e possibilidades de cada um dos individuos ou grupos. Nos paises de econornia liberal, “a cidade se atualiza através do mercado” (Vieille, 1974). As reas, urbanas constituem conjuntos de recursos que so aproveitados por individuos ¢ grupos de populagdo em fluxo ¢ refluxo, condicionados por estruturas ndo-fisicas, A propriedade de espagos territoriais é apenas uma das formas do poder. Ele pode ser armazenado, para ser exercido ou trocado por outro, criando fluxos de redistribuigdo que se cruzam ¢ se transformam, Trata-se de valores ndo-fisicos, que variam com mudangas ocorrentes 20 longo do tempo nas mentes dos individuos, 3.2, As conexées entre os espagos territoriais Acessibilidade: as resisténcias Os espagos em que se divide e subdivide o territorio sdo interligados entre si, mas para as distncias serem vencidas por fluxos de matéria, energia, informagdes, pessoas, ¢ necessério ultrapassar dificuldades que se apresentam tanto em termos espaciais, como temporais, econdmicos e psicotigico-sociais. Os tempos de pereurso dos caminhos nem sempre sao proporcionais as distancias fisicas. Dependem das condigdes das vias e dos veiculos utilizados, Na segunda metade do século XIX, espacos conectados por ferrovias a portos oceanicos eram muito mais rapidamente alcangaveis, devido as velocidades dos navios e trens (Abler et al., 1972); essa proximidade relativa foi afetada neste século pelos avides e veiculos rodoviarios. Nas zonas rurais, onde podem ser desenvolvidas velocidades mais clevadas, a relago tempo/distancia geralmente foi menor que nas zonas urbanas, Mas muitos territorios (como reas nao-ocupadas ou com poucas atividades) apresentamn sistemas vidrios de reduzida capacidade Em termos econémicos, o panorama varia conforme o tipo de fluxo a ser encaminhado, em fungdo do tempo e dificuldades de embarque/desembarque ou carga/descarga, e dos custos fixos e variaveis correspondentes. Por outro ado, dependendo da mente humana o discernimento dos obstaculos a vencer em relagao as diferentes regides, o mundo se deforma na medida em que sio visualizadas acessibilidades diversas das realmente existentes. homem esta mais disposto ou menos disposto a se deslocar ou encaminhar produtos ou mensagens para certos locais em fungdo das suas concepgdes psiquicas ou sociais, que chegam a predominar sobre as espaciais, temporais ou econdmicas. As regides proximas sto percebidas de forma detalhada, e as distantes de forma vaga ou homogeneizada. A imagem que temos do mundo tem contornos diferentes dos reais, e dela podemos nos aproximar em alguns casos modificando a escala da sua representagao. “Segundo Hagerstrand (1957) é possivel generalizar simultaneamente a visio sociologica e a visio econémica mediante uma transformacio logaritmica de distancia” (Haggett, 1976, pag.52). Podem parecer-nos igualmente pouco acessiveis as areas distantes como as areas desconhecidas: somos propensos a evitar areas que exijam esforgo extra de adaptagio ou deslocamento. Acessibitidade: 0 poder Em termos fisico-espaciais, a escala dos mamiferos Homo sapiens enfatiza a importancia da forga de gravidade do planeta, tomando conveniente o uso de extensos planos horizontais para deslocamento e transporte, com aproveitamento da superficie do solo na definigao dos espagos dos seus projetos. A “bidimensionalidade” das suas aglomeragGes, parcialmente apenas ultrapassada nos tempos mais recentes através das 31 estruturas filamentares dos aitos edificios servidos por elevadores movidos a energia elétrica (até o advento do séeuio XIX, edificagdes com mais de seis pavimentos eram excegao nas cidades) e, ainda, pelas construgdes subterrineas constituidas por diversos sistemas de infraestrutura, sistemas metroviarios, passagens ¢ eventuais abrigos antiaéreos ou instalagdes militares, contrasta com a tridimensionalidade das construgses, por exemplo, de insetos, que utilizam uma gama muito maior de materiais e se aproveitam de forma engenhosa dos recursos que Thes oferece na sua escala a natureza. Mesmo em eseala intercontinental, no conseguindo atravessar 0 globo terrestre, os transportes se mantiveram sobre a superficie do planeta. Foi somente neste século que comegaram a ser aproveitadas as possibilidades de desenvolvimento de grandes velocidades nas altas camadas da atmosfera, Em condigbes idealmente simplificadas, o deslocamento mais rapido entre dois pontos em um meio homogéneo ¢ o que segue o segmento de reta que os une, Quando 0s dois pontos nao se situam sobre uma superficie plana ¢ isétropa ou quando ha limitagdes para as declividades dos trajetos, 0 tragado ideal pode ser diverso. As linhas ferroviarias da Sao Paulo Railway entre o litoral ¢ 0 planalto paulista, ¢ um sem-numero de urbanizagdes em encostas de morros sio exemplos disso O territério, hoje, se divide, em termos de propriedade, e portanto de sua utilizagio por agentes humanos, em espagos privados, onde se desenvolve a maior parte das atividades, e espagos piblicos de acesso. Mas pode-se também imaginar espagos privados adquirindo conotagao de uso publico, estendendo-se entre 08 outros espagos, privados ou publicos, a oferecer as conexdes que sio demandadas. Ferrovias ou rodovias particulares ou privatizadas so administradas por empresas, constituindo negécios por vezes lucrativos, E além dos “de uso publico”, ainda ha os diversos tipos de espagos “de uso comum, nem sempre de livre acesso para todos (denominados também de espagos “setni-piblicos” e “grupais"). Ha gradacdes, com passagem permitida eventualmente apenas a certas classes de pessoas, como autoridades, funcionirios, condéminos, clientes, associados, etc. Formam-se dessa maneira conjuntos internamente subdivididos em espagos diferenciados e de acesso restrito, mas sempre se interligando com espagos de uso publico (vide Figueiredo, 1981), Sao os espagos de uso publico que garantem as conexdes entre os diversos espagos privados entre si, criando assim um sistema fisico global a ser utilizado para 0 desenvolvimento das fungdes através das quais se sustenta a sociedade, Os caminhos que, sobre as superficies terrestres, sto construidos em fungo dos deslocamemtos periédicos dos individuos, ao longo de diretrizes que permitem a sua efetuagao de forma mais facil, criam faixas de territério privilegiadas em termos de informagao, comunicagio e transporte. Tal sistema vai se diferenciando em relago ao territorio “natural”, os usos humanos modificando significativamente a sua paisagem. A adaptagdo sucessiva entre os espacos e as atividades cria concentragdes de certos ambientes que, ao se transformarem ao longo do tempo, aproximam ou distanciam as regides, caractetizando os diversos estigios do seu desenvolvimento. s canais podem normalmente ser melhorados ou obstruidos por quem tiver poderes e interesse em aproximar ou isolar espagos fisicos. Sempre procurou-se facilitar a integragao entre os elementos de produgdo e os de consumo que faziam parte de um nico todo. Nos tempos antigos, considerava-se que esse todo era um Estado autosuficiente. Com excegao daqueles cujo desenvolvimento se baseou no comércio, a sua sobrevivéncia no deveria em principio depender de quaisquer fluxos, seja de pessoas, produtos, moedas ou informacdies, que tivessem de atravessar as suas fronteiras, ‘A independéncia dos Estados era demarcada fisicamente, a travessia das fronteiras dificultada pela vontade dos governos de ter a maxima fiscalizago sobre as entradas e saidas, garantindo assim meihor o controle sobre os proprios tertitorios ‘As aglomeragdes se formavam em geral em flngao do comércio, de santuarios religiosos, de grupos dominantes que controlavam espagos estratégicos, exercendo assim atividades que Ihes permitiam apropriar-se rotineiramente de parcelas de cargas em trnsito ou até, diretamente, de parte da produgdo das areas circundantes. Em determinados periodos da Histéria, nessas agiomeragdes se concentrou significativamente o poder, e, a0 serem dominadas areas nurais circunvizinhas, formaram- se as Cidades-Bstados. Em outros periodos, territorios imensos foram controlados por grupos reduzidos de pessoas, eventualmente alheias as aglomerages urbanas, mas apoiados por forgas militares e organizagdes civis, formando grandes Impérios. A criagdo de Estados é sempre acompanhada da construgao de redes de conexdes, de forma a permitira integragdo do territerio e faclitar 0 seu dominio. O controle depende da tecnologia de comunicagées e transportes existente, da velocidade com que podem ser transferidos informagées, ordens, exéreitos, matérias primas, produtos Rigides ¢ flexibilidade sistema viario ¢ utilizado com dois objetivos diversos. mas que na maior parte dos casos se complementam: a) acesso aos espagos contiguos, ocupados pelas atividades, eb) deslocamentos entre areas relativamente distantes. Em cidades pequenas e areas residenciais isoladas, os percursos podem ser feitos a pé. Os espagos publicos contiguos aos lotes que formam a cidade recebern pavimento ¢ um sistema de drenagem que facilita o deslocamento de pedestres ¢ veiculos locais. Entretanto, para veiculos em circulagdo a distancias significativas, no espaco piblico séo implantadas estruturas que facilitam 0 seu destocamento rapido. Tais fluxos de cargas ou passageiros ndo costumam ser constantes, ¢ as vias apresentam deterioragdo progressiva sob a interferéncia do trafego, das aguas pluviais e outros, fatores eventuais, que obrigam a uma manutengio periddica. Além disso, os espagos vidtios sao usados ainda para outras atividades humanas - comércio, turismo, reunides, apresentagdes, transmissao de informagdes. ‘Nas grandes metrépoles, para tornar mais eficientes os sistemas de transporte, formam-se hierarquias vidrias que abrangem desde vias locais até as arteriais e expressas, servindo a pedestres, veiculos particulares e veiculos piblicos, podendo chegar a transportar grandes massas de poputagdo com altas frequéncias, Geram-se assim grandes contrastes nos niveis de acessibilidade entre pontos urbanos em fungao de sua localizagdo em relugdo ao sistema operante. As redes, ao se tomnarem obsoletas, sao substituidas por outras, utilizando em geral os mesmos espagos publicos, eventualmente alargados. Excepcionalmente so desapropriados espagos novos ou utilizados espagos novos alternatives, como no caso de vias elevadas ou subterrdneas. Regulamentos estabelecem seu uso, ¢ é implantada sinalizagao para orientar e informar os usuarios. As condigéses dos deslocamentos por veiculos dependiam dos progressos tecnolégicos, ¢ atualmente aguardam melhoramentos nos setores de automagao ¢ de armazenamento de energia A utilizagdo para tantos e to variados fins, tomam esses espagos extremamente estaveis quanto ao tragado. As faixas disponiveis podem ser eventualmente alargadas, modificando os limites das propriedades lindeiras, ou podem ser criadas faixas novas atraves de verdadeiras “‘cirurgias urbanas”. Mas o grande numero de usuarios das estruturas implantadas, inclusive de redes de infraestruturas, e principalmente o grande nlimero de acessos aos usos urbanos situados ao seu longo, dificultam 0 seu remanejamento ou extingdo. Dentro desses espagos rigidos so implantadas estruturas muito mais flexiveis, ¢ de durabilidade limitada, que so modificadas e substituidas em fungdo de avangos tecnoldgicos ocorrentes ao longo do funcionamento da cidade. Pavimentos, trilhos, viadutos, redes areas ¢ subterraneas de energia elétrica, agua. esgotos, drenagem, gi telefonia, passagens de pedestres ¢ ate linhas de metré (cujos tineis, diferentemente das estruturas anteriores, formam elementos rigidos, no tanto pelo seu uso intenso quanto pelo custo de implantacao ou modificagao). Regras para a utilizagio dos espagos, facilitam 0 seu aproveitamento racional. Normas para o transito nas vias procuram evitar que fluxos fora dos padrdes pré-estabelecidos provoquem 0 colapso das estruturas. Portanto, se de um lado ha uma grande rigidez decorrente das dificuldades de mudanga do seu tragado, mudangas tecnolégicas, apesar dos custos que reduzem a maleabilidade pretendida, permitem sucessivas reciclagens nas estruturas internas que so implantadas para a sua efetiva utilizagao. Deslocamento de agentes X deslocamento de elementos dos ambientes Os seres humanos se vém obrigados, em prazos relativamente curtos, a se ajustar a diferentes condigdes do meio em continua mutagio. Nao podendo adequar rapidamente o seu organismo, eles podem se deslocar para ambientes mais favoraveis. Podem, também, utilizar-se de recursos externos para adaptar o ambiente as suas, necessidades. Os ajustes sto efetuados através do deslocamento ou transformagao dos seus elementos Toda transformagdo do meio circundante cria espacos, com maior ou menor grau de adequacdo, em termos de conforto, seguranga ¢ acessibilidade, a0 desenvolvimento de seres os mais diversos. A produgio ¢ © consumo s&o atividades que se processam em ambientes que existem naturalmente ou sfo eriados pelos seres vivos ar imteressados. Os abrigos constituem parte de uma estratégia para a manutengao de ambientes diferenciados, adaptados ds exigéncias dos organismos e as atividades por eies exercidas. Os abrigos edificados sto destinados, especificamente, a determinadas atividades, e devem, além de manter determinadas faixas de temperatura, de pressio, de umidade, de composicao do ar, de iluminagao, proteger de radiagdes, vibragdes, impactos, permitir, ainda, a segregagao de outros seres vivos que podem procurar utilizar os mesmos espagos, Assim, as paredes das edificagdes devem ser impenetriveis para diversas formas de energia e a grande nimero de substancias, apresentar resisténcia a corrosio ¢ ataques externos em geral, ser maus transmissores de calor. As aberturas devem permitir controle de fluxos entre os ambientes internos ¢ externos. A manutengio do micro-clima ¢ uma das fungdes da diferenciagdo dos espacos pelos seres vivos, ¢ nas construgdes humanas a manutencdo da temperatura nos climas de grandes variagées térmicas ¢ a ventilagao em regides umidas constituem preocupagao constante. Outra razao importante, 20 longo da historia, para a separagao de espagos do ambiente extemno, foi a seguranca, Desde a seguranca geral, obtida no meio urbano através de muraihas e fortificagdes ou através do policiamento, até a seguranea do lote, da edificagao ¢ do cémodo, resguardando as atividades pretendidas e a propria privacidade. © controle dos acessos atraves dos habitos, regulamentos e policiamento pode ser to ou mais efetivo para tal fim, Servigos e infra-estruturas oferecem aos espagos @ manutengdo dos ambientes, vizinhangas e conexdes a ambientes distantes Considerando 0 conjunto das infraestruturas, verificamos que elas se referem basicamente a trés fluxos: energia, agua e informagao. Se outrora, além da energia humana e animal em geral, excetuando-se a aproveitada em fungo dos fluxos de agua e ar, a energia em estado potencial na forma de material combustivel era transportada atraves das vias, hoje s6 a distribuigao de gasolina e gas liquefeito (e alguns elementos de menor vulto, como alcool, carva, pilhas elétricas) ¢ feita dessa forma, o restante (principalmente eletricidade e gas canalizado) sendo encaminhado por cabos e dutos. O seu armazenamento nem sempre é ficil, por razdes técnicas e de seguranga, e a energia consumida acaba se transmitindo ao meio ambiente na forma de calor, e provocando nele mudancas e eventuais danos a partir de consequéncias secundarias advindas principalmente de transformagdes quimicas produzidas (vide Branco, 1989), Aquedutos e sistemas de esgotos e drenagem existiram na remota Antigiiidade. Na Idade Média, canais interligados aos rios serviram nao s6 de fossos para defesa das cidades, como também para drenagem do terreno e transporte por embarcas6es, levaram ‘agua aos artestios e energia fluvial para moinhos, (substituidos em boa parte nos séculos XV e XVI por moinhos de vento por razdes de seguranga). As técnicas de produsio utilizadas exigiam grandes quantidades de agua, que s6 pode ser economizada no final do século XVIH com o desenvolvimento da quimica “minerat” (Guillerme, s.4.) fluxo de gua, cujo armazenamento para garantir a continuidade de uso é praticado ha milénios, com as preocupagdes sanitérias do século XIX chegou de forma generalizada as habitagdes por redes de encanamentos, seja para finalidades higiénicas, seja para finalidades alimentares, Nas habitagdes houve uma incorporagdo de cmodos diestinados especificamente a higiene pessoal, descemtralizando os servigos correspondentes - banhos pablicos e similares - desenvolvidos em diversos periodos historicos anteriores. O uso intenso da 4gua poluiu os recursos hidricos em geral, problema que tem sido objeto de legislagdes e de ages dos governos. 0 isolamento progressive das atividades em relagao ao meio ambiente natural, ao impermeabilizar os espagos urbanos pela climinago dos quintais e solos expostos ou cobertos de vegetagio. vai modificando também 0 regime de dguas pluviais. As sobreposigdes de volumes em fluxo apés as precipitagdes atmosféricas, tomam muites vezes necessaria a sua armazenagem artificial em reservatorios de retengo, para evitar inundagdes Os fluxos de energia e agua se cruzam em indmeras atividades, interagindo entre sie com outros fluxos (principalmente de alimentos e pessoas). A informago “instantinea” antigamente s6 era possivel dentro de raios de agdo extremamente reduzidos. O seu armazenamento ¢ transporte era penoso, embora praticado ha milénios (veja-se os sistemas de correios ou as bibliotecas da Antigtidade) O desenvolvimento das civilizagdes se baseou em grande parte na sua acumulaedo manipulagdio em forma grafica e escrita, Hoje redes telefSnicas, permitindo interligagoes diretas entre as memorias de computadores, ¢ os sistemas de TV a cabo interligam os ambientes privados, os quais ainda podem receber informagdes transmitidas pot meio de ondas eletromagnéticas através da atmosfera, inclusive com auxilio de satélites. As transmissdes sio rapidas, e comegam a se delinear novas formas de acumulagao operagao dos sistemas, revolucionando as atividades nesta passagem do século Todos esses fluxos conectam os locais em que se processa a “produgao” aos ambientes onde se processa 0 “consumo”. Mas nem o consumo nem a produgdo so normalmente constantes e contimuos. A produgio em geral nio é consumida imediatamente, Os equipamentos para o armazenamento de elementos desses fluxos so 605 investimentos aos quais os seres humanos 1ém dedicado os seus esforgos para garantir © funcionamento das atividades urbanas, “Reservatorios”, seja de agua, de combustiveis ou de informagbes, localizados central ou perifericamente, formam parte essencial de nossas cidades. O aumento demasiado de sua capacidade ria inconvenientes, desde problemas de seguranca, complexidades na organizacao dos fluxos, até a rigidez das estruturas e suas dimensdes significativas tanto em termos fisicos como administrativos A cemtralizagao ou descentralizagio dos sistemas depende dos avangos da tecnologia utilizada, ¢ os seus custos podem influir até nas tendéncias de adensamento ou desconcentrago que se verificam nos planos das cidades As “infra-estruturas” servem normalmente a fluxos especificos, com operagio subordinada a controles centralizados. Sem fluxos compostos de agentes autdnomos . com algum poder de deciso, como os seres vivos), apresentam grande flexibilidade no sentido de poderem ser modificadas ou substituidas parcial ou totalmente por estruturas ¢ fluxos alternativos, utilizando espagos subterraneos ou aéreos disponiveis nas vias. Novas tecnologias criam novos tipos de fluxos e estruturas, cada vez mais dindmicas, que se alocam dentro das velhas e rigidas estraturas de espacos piblicos Portanto, as estruturas existentes sobrepdem-se normalmente estruturas novas, para acomodar novos fluxos, altemnativos aos anteriores, em fungao de novas tecnologias cuja aplicagao vai se tornando viavel. As estruturas anteriores vao regredindo ou desaparecendo com a progressiva reduc2o dos fluxos correspondentes. O tempo gasto nos desiocamentos interurbanos, e também 0 seu custo, tém decrescido, diminuindo as “distancias aparentes” entre as cidades e dentro delas, No mundo de hoje a independéncia dos governos, dos paises e das aglomeragdes sendo cada vez mais restrita, avolumam-se os fluxos e tendem a reduzit-se 0s comtroles sobre os mesmos a medida que se acelera a “globalizagao” Reflexos sobre os usos do solo Explica Milton Santos (1988), que circuitos espaciais de produgao sao circuitos pelos quais flui a matéria, e circuitos de cooperagio aqueles pelos quais flui a informagao. A rede urbana se constitui dos “pontos de enconiro, nés ou nédulos, pelas conexdes entre esses diversos circulos espaciais de produgao e esses diversos circulos de cooperagao”, redistribuindo geograficamente os capitais, 0 trabalho produtivo e o resultante espectro das classes sociais. Os nds correspondem a uma concentragao de fluxos, Na escala regional, as cidades recebem fluxos de locais distantes, transformam- nos € redistribuem. A origem e 0 destino dos fluxos pode encontrar-se em zona rural ou urbana Ja 08 estudos do inicio deste século referentes & “Ecologia Humana” apontavam uma dindmica na transformagao das reas urbanas, com “invasOes” de determinados tipos de uso provocando a retirada de outros, num movimento geral de “sucessio” ou “substituigao”. Assim, usos comerciais ou de prédios de apartamentos invadem e substituem, por exemplo, usos residenciais. ‘Nas areas residenciais observa-se que, em fiunco principalmente do movimento “pendular” diario, ao longo das vias que se dirigem ao centro, a expansio urbana avanga através de setores radiais, fato observado por Homer Hoyt no final da década de 1930, que 0 desereveu atraves de um “modelo setorial” de desenvolvimento urbana As vantagens da concentragao de usos comerciais e de servicos emt locais acessiveis para determinados territérios permite visualizar uma hierarquia dos tipos de atividades, ¢, em fungao das economias de escala possiveis, de um lado, e das demandas existentes, de outro, formar-se-iam pélos dominantes para territorios maiores ou menores, Um centro de vizinhanga ofereceria produtos e servigos cotidianos; um centro de bairro, produtos mais sofisticados, um centro urbano ou metropolitano concentraria, servigos especializados para toda a regido. Essa hierarquizacdo, estudada ha décadas por Christaller e Lsch, é, entretanto, extremamente dindmica, modificando-se rapidamente principalmente em fungio dos custos de produgao e transportes e da facilidade de deslocamentos As transformagdes ocorrentes nos usos do solo, eventualmente controladas com auxilio de legislagdo de zoneamento sdo devidas a acomodagoes entre as atividades, motivadas pelos agentes decisores a partir de seus habitos e expectativas que surgem em fangdo das acessibilidades, pressionadas pelos fluxos de redistribuigdo de poderes. 37 3.3. A dindmica da estruturacdo urbana Estruneras espaciats ¢ temporats As atividades referentes as fungdes de produgo e de consumo necessarias & sobrevivéncia e ao desenvolvimento da sociedade humana, se antes correspondiam & escala regional ou nacional, hoje esto alcangando uma escala mundial. As estruturas que dirigem a evolugao dos usos do solo correspondentes tém como seus principais elementos fisicos: o territério, com as suas dimensdes e os seus recursos proprios, desde a composigéo dos solos, demonstrando a sua fertilidade na flora e fauna, até o seu relevo talhado por agentes climiticos, e servindo de leito ao fluxo das aguas; e a acessibilidade obtida pela constragao de rodovias, eventualmente auxiliadas por sistemas ferroviarios, hidroviarios, e, em proporedo crescente, aerovidrios. [Nas areas urbanas, o territério se mantém como elemento estrutural apenas em termos de apoio 4 criagdo dos espacos necessarios as atividades, para as quais sto trazidos fluxos de origem e destino externos. Com a expectativa de aumento do nimero e da diversidade das atividades, a acessibilidade se toma cada vez mais complexa, 0 sistema vidrio passando a ser o elemento estruturador mais importante das cidades. Através dele fluem os veiculos de transporte de carga e de transporte individual ou coletivo de pessoas, Este ultimo tem por alternativa 0 fluxo de veiculos das metrovias & ferrovias que permitem acesso ao tecido urbano nas respectivas estagdes e terminais. E as atividades se processam em espagos que Ihes so adequados através de adaptagdes ou construgées implantadas nos lotes em que o tertitorio se encontra subdividido, mantidos através de fluxos condicionados por infra-estruturas que os interconectam uns aos outros com os espacos externos Assim, partindo do territério, chegamos aos equipamentos nos quais se processam as atividades, numa hierarquia de estruturas em que os elementos quasi- estaticos iniciais condicionam a implantasio de elementos cada vez mais dindmicos que influem nos seguintes através de servigos que, direta ou indiretamente devem ser executados rotineiramente. Tanto as obras como os servigos referidos devem obedecer a normas, que constituem elementos estruturais de outra ordem. Uma outra hierarquia, de estruturas no-fisicas, influi nas decisdes tomadas pelos agentes através de informagdes que a eles so transmitidas Todos esses elementos estruturais se interrelacionam, interferern uns nos outros. Uns podem englobar os outros, que seriam meros detalhes dos primeitos. Quais deles iremos escolher para analisar o desenvolvimento da cidade, dependera do nivel de detalhamento e do propasito do nosso estudo. As estruturas no determinam os fluxos, somente os condicionam. Poderia-se imaginar, em principio, que a superposigdo dos elementos estruturais vai reduzindo as opgies disponiveis. Nao nos sendo possivel somar “todos” os elementos estruturals, sempre havera no nosso “modelo” uma certa indefinigdo no resultado, 8 O fluxo de pessoas ou de cargas depende dos fluxos de veiculos que por sua vez depende do desempenho das vias. Mas a aceleragdo de um deles, ou 0 aumento de sua capacidade nao necessariamente faz crescet 0 outro. Trata-se de condigdes que podem ou nao ser aproveitadas. A capacidade de uma via nao determina o volume de veiculos que passa por ela, apenas o limita, Lima série de outros fatores nele influem, desde as condigdes de trafego das vias que a alimentam até o mimero de viagens geradas (e nisso entram decis6es dos condutores de veiculos, decisdes essas baseadas em uma série de outros condicionantes, muitos deles impossiveis de serem detectados mum estudo em escala urbana), Poderia-se dizer em principio que a estrutura “completa” teria de ser 0 Universo, se assumirmos que cada um dos seus elementos influi de algurma, forma, por minima que seja, em todos os outros. A estrutura que conceituamos é uma imagem mental, um modelo que facilita as nossas andlises e projecdes. Se pegassemos para representa-la, no caso acima citado, todos os condicionantes possiveis e imaginéveis, e os condicionantes dos condicionantes, © assim por diante, teriamos uma ferramenta impossivel de ser utilizada pela sua propria complexidade e falta de informagdes para alimenté-la Entretanto, ¢ importante a percepgdo da influéncia desses fatores “secundarios”, pois muitas vezes eles podem ser ponderaveis e modificar os desempenhos previstos As rotinas urbanas As ages individuais ou coletivas sao exercidas em boa parte de forma repetitiva, constituindo atividades periddicas dentro dos espacos territoriais, mundo em continua transformacdo apresenta a0 longo do tempo semelhangas periddicas. Desde estagdes do ano, dias e noites, até mudangas de temperatura, deslocamentos de ar ¢ de agua, todas elas sdo ligadas a movimentos ciclicos, seja do planeta seja de suas particulas, decorrentes da interagdo dos fluxos de energia e matéria, Os seres vivos apresentam ciclos vitais, com fungées descontinuas que vao se repetindo, desde a respiragao, 0 sono ou a alimentagao, até o trabalho, reunides ou periodos de descanso, Sao ciclos causados por condigdes internas, proprias do organismo ou por condigdes externas, como as variagdes do meio ambiente - formando rotinas didrias, semanais, mensais, anvais A intensidade das atividades dos vegetais segue ritmos que sfo influenciados pelas condigdes ambientais. "Amostras frequentes das pontas da raiz de Melitorus revelaram uma periodicidade diuma muito clara na mitose; as mitoses eram nmuito mais, frequentes ao meio-dia e a meia-noite do que em qualquer outra hora. O ritmo diurno foi encontrado em cada tecido da raiz." (Cutter, 1987, pag. 18), "Os ritmos circadianos foram identificados até mesmo em animais unicelulares, tais como amebas ou paramécio: eles s40 universais para os seres vivos". ..."O ritmo é endégeno. ..Relégios bioldgicas ajudam a sincronizar 0 organismo com as propriedades mutaveis do ambiente” (Chapple, 1970, pag,26). O organismo prevé cada estagio de adaptagio, reagindo antecipadamente em termos de sua propria organizagao interna Esté sempre preparado ¢ € isto que permite que ele sobreviva. Dada a existéncia desses varios ritmos, é necessario que haja formas de se ajustar cada rel6gio ao ambiente externo. "Os seus trés sincronizadores mais importantes seriam a luz, a temperatura e a interagdo social.” (Moran, 1994) ‘Tambem os grupos de individuos costumam apresentar regularidades nas suas ages ao longo do tempo. O fendmeno da repetitividade das agdes humanas, segundo 1966), € condigao para o funcionamento de um grupo como sistema organizado, capaz da execugdo de agdes com objetivos pré-estabelecidos, ¢ leva a petrificagao das formas de ago soctal. Os fluxos correspondentes néo apresentam portanto caracteristicas idénticas ao longo do tempo e as suas variagdes © descontinuidades costumam se repetir com certa regularidade. Gracas a esses processos é possivel a regularidade na formagdo e funcionamento das estruturas, tanto sociais come fisicas. (Kolipinski, 1978). As rotinas individuals s4o reforcadas pelo relacionamento e comunicagao entre 08 individuos, criando sincronias entre muitas das suas atividades. Muitos deslocamentos © comunicagdes acontecem de forma quase coincidente no tempo ou se sucedem uns aos outros. E a sobreposigao de rotinas individuais forma movimentos ciclicos coletivos, gue determinam o surgimento de fluxos direcionados e periddicos, cuje localizagio oferece oportunidades a serem aproveitadas por outras atividades, que assim se véem interrelacionadas umas as outras, Assim, os seres vivos ndo se estruturam apenas espacialmente, para fazer frente A variagdo do meio extemo. Eles se estruturam também no tempo, através de ritmos que imprimem 4 sucessdo das suas agdes, de forma a melhor adapta-las as mudangas ambientais, Se examinarmos as grandes sociedades organizadas, nelas sempre encontraremos atividades rotineiras, So elas que garantem a sua existéncia Tanto os fluxos quanto as estruturas nao sdo imutaveis. Eles evoluem no tempo As estruturas recebem interferéncia de varios fluxos ¢ agentes diversos que ocasionam a sua variagdo Qs fluxos ndo sto independentes e, sob a influéncia uns dos outros, eles se transformam, avolumam ou reduzem, eventualmente interrompem e reiniciam. As estruturas utilizadas para o seu percurso podem ser as previstas ou as que servem para tal propésito naquele momento e desempenham essa fungao s6 enquanto so percorridas pelos fluxos. Sao 0s fluxos que justificam as estruturas, as quais sé tem sentido serem criadas quando houver previsio de sua utilizagio, Uma estrutura ¢ necessiria para garantir o percurso de um fluxo em um determinado momento. Fluxos sucessivos podem ser condicionados por estruturas sucessivas, ou por uma Unica estrutura permanente no tempo 40 ‘Se dependéssemos de sistemas com fluxos de grande variabilidade, as estruturas correspondentes seriam extremamente complexas. As atividades ndo se realizariam em espagos fixos, mas migrariam juntamente com toda a estrutura do sistema em permanente transformagao. A maior parte dos fluxos que nos interessam varia mais na intensidade que na direcdo, E eles se repetem, oferecendo assim oportunidades para controlé-los ou deles tirar proveito, visualiziveis pela maioria dos membros da Sociedade. Chamaremos de estruturas estaveis aquelas que tendem, ao longo do tempo, a condicionar de forma semelhante aos fluxos, independentemente das variagdes destes, podendo exercer esse papel por tongos periodos de tempo, Quando se trata de estruturas naturais, os fluxos provocam a sua transformago continua, seja através do desgaste, distensio, erosio, introdugao de novos elementos. Os fluxos se ajustam as condigdes dos elementos que exercem a funciio de estrutura em cada momento. Quando se trata de estruturas artificiais, a sua criagZo tem por objetivo, normaimente, um condicionamento permanente do fluxo nos periodos em que ele se encontrar ativado, acarretando a necessidade de controle e manuten¢gao. Um ieito de rio comporta as aguas que por ele fluem, No caso de uma enchente, © extravasamento do rio fara as Aguas fluirem por um leito maior, nfo previsto anteriormente, provocando inundagSes. A criagio de um canal artificial de dimensdes que comportem esse volume a mais poderia ser planejado e construide, Contudo, a sua execugdo podera depender do grau de importaneia que Ihe sera attibuido por responsdveis pelas decisdes a serem tomtadas. Especialistas podem prever variagdes nas caracteristicas de um fluxo existente ou a formagio de fluxos novos. Suas previsdes podem ser recebidas e utilizadas para 0 planejamento de novas estruturas, que irdo desempenhar o seu papel mais ou menos fieqdentemente no futuro. Mas os cidadaos comuns costumam prever o futuro a partir da repetigdo ciclica de fendmenos de seu conhecimento direto. E em muitos periodos da Historia deles dependem em boa parte as decisdes da Administragdo Urbana, Havera maior probabilidade de todos os agentes intervenientes estarem conscientes da importincia da estrutura, quando o fluxo a condicionar puder ser objeto de previstio no apenas por técnicos especializados mas pela maioria dos cidadaos e, principalmente, pelos responsiveis pela administragao do territorio, Dai a importancia dos fluxos intermitentes, que formam as Rotinas Urbanas. A degradagiio das estraturas em desuso As atividades sao normalmente fungdes periédicas, ¢ os fluxos que as alimentam podem ser interrompidos intermitentemente. Mas as suas descontinuidades nao so em geral suficientemente longas de forma a justificar mudangas de fluxos para permitir a introdugao de outras atividades nos intervalos que surgem, As estruturas se modificam sob a ago dos fluxos. Um fluxo que age sobre a estrutura por longo tempo, sem interrupgées, pode causar a longo prazo a sua 4 deteriorago devido ao cansago ou dificuidades em se proceder a ajustes, substituigdes, ¢ manutengo em geral dos elementos em operaco. No caso oposto, de fluxo que se "terrompe por um longo periodo, também pode ocorrer a deterioragio, devido a dificuldades politico-administrativas ou até s6cio-psicoldgicas na manutengéo da estrutura. A falta de previsao ou de conscientizagdo da importancia do fluxo, pode refletir-se na sua n30-manutencdo ou mesmo no seu aproveitamento para outros fins. Quando uma atividade € interrompida por tempo mais longo, sem previsio para reativago, e 0 uso é considerado como desaparecido, uma série de elementos especificos necessirios ao uso antes existente sdo normalmente retirados ou se deterioram (moveis, eletricidade, por exemplo). Temos uma estrutura apenas "yrosso modo" adaptada a usos urbanos, como uma edificagdo sem os equipamentos que permitem e até obrigam ao uso especifico - habitagdo, comércio, indiistria, etc... A deterioragio neste caso poder ser causada nao pelo fluxo normal para o qual a estrurura foi concebida, mas por fluxos secundarios que surgem em fungao da falta do anterior, ow por outros, cuja acdo seria normaimente desprezivel face ao fluxo principal previsto. A interrupgdo de uma atividade retira a importancia daquele ambiente, fazendo com que ele se deteriore As estruturas que nao sao utilizadas parecem perder a sua funcdo e deixam de ser mantidas. Uma rede de drenagem que deixa de ser usada no periodo das secas ¢ deteriorada em razio da falta de limpeza e crescimento de vegetagao, e acaba entupida de lixo e solo proveniente da erosio. Redes vidrias abandonadas so destruidas pelas Aguas pluviais e acomodagdes do terreno, Prescrigdes de zoneamento que nao sio utilizadas acabam esquecidas. Deixam de ser aplicadas mesmo sem serem revogadas Estruturas para o escoamento das aguas pluviais so sdo inspecionadas na iminéncia da estado chuvosa, Servigos de calefagio so aprontados s vésperas da estagao fria. A previsio dos fluxos faz com que as estruturas em desuso no sejam desmanchadas, e a previsto da iminéncia do fluxo faz com que elas sejam colocadas em forma para serem utilizadas, Mas podem também ser aproveitadas para outros fluxos. Estruturas de defesa das cidades, desde fortificagdes até abrigos antiaéreos, quando deixavam de ser usadas por longos periodos, acabavam senda desarticuladas e transformadas para servirem a outros fins. Aquedutos antigos s6 nao sio desmanchados quando podem ser aproveitados para vias ou para fins turisticos, embora, em principio, possam até voltar a servir a propésitos similares aos primitivos. Quantos templos no voltam a servir a propositos religiosos? Mas para tanto, 0 seu objetivo tem que novamente se tornar uma rotina, dentre tantas das quais participamos nas areas urbanas. Sao as atividades rotineiras que definem as cidades. 2 4. Conclusio A cidade € constituida por uma compiexa concentragdo de fluxos, e a estes correspondem conjuntos de estruturas, Além das estruturas naturais, existem as estruturas artificiais: as “infra-estruturas”, as estruturas vidrias, as adaptagGes e as edificagdes nos lotes. E além dessas estruturas fisicas, ha as nao-fisicas, constituidas pelas normas gerais de conduta dos agentes, desde as normas sociais e econémicas até as egais. Sem esquecer os condicionamentos psicoldgicos de cada um dos individuos Portanto estamos diante de hierarquias de fluxos e estruturas, os primeiros sendo condicionados pelas segundas, que por sua vez. desempenham 0 papel de condicionadas em relagao a outros elementos estruturadores, Lima estrutura faz parte de sistemas muito mais amplos mergulhados no Universo So os proprios fluxos, ou seus elementos, que desempenham o papel de estrutura em relagao a outros fluxos, ¢ eles se condicionam mutuamente. Nao ha estrutura sem fluxo: sem os elementos do sistema que formam 4 este tltimo, ela é apenas uma esirutura em potencial, que nao desempenha a fungao prevista. Ela pode ter sido ou cla pode vir a ser estrutura, mas efetivamente ela ndo o é. Sera, sim, no instante em que comegar a condicionar o fluxo correspondente. Inicialmente, verificamos que, de um lado, a divisto do territério corresponde a uma divisio do poder, e, de outro, as propriedades constituem no espago estruturas que servem a varios tipos de fluxos, desde fluxos de redistribuicdo de poder até fluxos de matéria, energia, informagdes e pessoas, que ali se concentram na forma de fluxos turais/urbanos, Dessa utilizagio miitipla resulta a sua relativa estabilidade. Rotinas de utilizagdo efetiva ou de redistribuigao de propriedade obrigam a manutengao das vias de acesso, delimitagdo dos terrenos, registros legais, etc.. Deixando de ser usadas, desfazem-se as reparticdes e estruturas, que so recriadas para novas finalidades sob influéncia de novos fluxos que se formam, As conexdes entre os espacos territoriais so usadas simultanea ou intermitentemente para muitos e variados fins, tomando-se extremamente estaveis, quanto ao tragado, Dentro dos espagos internos a elas sfo implantadas estruturas muito mais flexiveis (pavimentos, trilhos, infra-estruturas), que se modificam em fungdo de mudangas tecnologicas ou de utilidade. Fluxos de informagées, apoiados em estruturas legais, procuram orientar os agentes controladores dos fluxos fisicos para evitar irregularidades que poderiam resultar em colapso das estruturas utilizadas. As infra-estruturas para os fluxos de energia, agua e informagées, nos quais também se torna clara a existéncia de rotinas em virtude da intermiténcia da sua produgdo do seu consumo, demonstram a importancia dos equipamentos constituidos para armazenamento dos seus elementos, destinados a garantir o funcionamento das, idades urbanas. Observando as aglomeracdes humanas ¢ os fluxos que por elas passam de uma. perspectiva mais ampla, constatamos que, ao longo das iitimas décadas, 0s fluxos organicos, em fungao de novas teenologias, modificaram as escalas de producdo e estéio se tornando menos dependentes de condigées locais € climaiticas, reenquadrando-se em novas estruturas, maiores e mais flexiveis que as anteriores. Os fluxos inorginicos também esto passando a estagios teenolégicos mais elevados € novas escalas de produgdo. Profundas mudangas sociais surgem em boa parte decorrentes das citadas acima Dessas mudangas gerais que se processam em ritmos cada vez mais acclerados, resultam modificagdes na localizagao e nas caracteristicas do uso do solo, que entretanto se apoia, além dos elementos territoriais acima mencionados, em estruturas fisicas (relevo, hidrografia) ¢ nao-fisicas (Iegislagdo, normas) existentes e de modificagao lenta. As mudangas de fluxos tornam obsoletas muitas das estruturas existentes. Muites estruturas novas que séo criadas podem ndo chegar a estabilizar-se quando em periodos de rapida transformagao Analisando as interrelagdes e a transformagao das estruturas territoriais, verificamos que existe uma hierarquia de estruturas (fisicas e niio-fisicas), umas condicionando as outras, em geral as condicionadas sendo mais dinémicas que as, condicionantes. Elas servem a fluxos relacionados a agentes - constituidos pelos, habitantes, que tomar decisdes no dia a dia das suas atividades. Estas atividades tém normalmente por caracteristicas a regularidade e intermiténcia, formando rotinas. As estruturas cujos periodas de utilizagdo sdo imprevisiveis se tornam dificeis de manter, financeira e politicamente, Dentro do planejamento de situagdes fisturas, as prioridades se referem normalmente a fendmenos que se espera ocorrerem dentro de um periodo de tempo considerado de interesse para as atividades em curso. Mesmo podendo resultar em consequgneias de certa gravidade, o fato de haver uma probabilidade razoavel de um fendmeno nao ocorrer, praticamente inviabiliza as medidas preventivas. AS presses politicas e administrativas se multiplicam, pois o capital empatado na ‘manutengao poderia ser utilizado para outros fins, ¢ os espacos vazios poderiam ser ocupados com outros objetives. Tomando por base prazos longos, indaga-se se os prejuizos nao seriam compensados pelos periodos em que 0 espaco fosse usado com finalidades diversas ¢ com o risco assumido. As estruturas urbanas so adaptadas a partir das estruturas existentes ou s80 criadas quando sao previstos fluxos que Vio utiliza-las. A manutengio e adequacao das estruturas pode ser administrada sem maiores dificuldades quando a sua utilizagdo é previsivel. Estruturas com utilizacao intermitente requerem inspegdes que Ihes garantam sempre a entrada em funcionamento em boas condigdes, e a programagao das rotinas de ‘manutengdo pode eventualmente até ser facilitada pela ocorréncia de periodos inativos previsiveis. Periodos ciclicos, permitindo a implantagdo de rotinas de operagao ¢ manutengdo sio mais favoriveis que os irtegulares. A existéncia de uma determinada estrutura exige a sua utilizagdo, sob pena de ela se detetiorar e desaparecer sob influéncia de outros fluxos existentes no sistema urbano. A previsibilidade dos fluxos é condig&o imprescindivel para o planejamento da cidade. E as rotinas sio a condigdo para o reconhecimento da sua importdncia, ¢ portanto para a permanéncia das estruturas implantadas, Portanto, do que foi exposto ¢ attalisado, conciuimos que 1. Havendo previsio de fluxas, podem ser criadas estruturas. 1ss0 ocorre em todo lugar em que atuam seres vivos, ¢ particularmente nos espagos habitados pelo homem, Os fliucos se mantendo regulares, podem ser criadas estruturas estéveis, & assim ser aproveitadas por longos periodos, 3. Nas estrumuras estaveis, procura-se eviuar grandes variagdes nos fluxos, mantendo-os dentro de padrdes que permitam o seu melhor aproveitamento, reforgando assim a sua estabilidade. 4, Sdo as atividades rotinetras que estabilizam as estruturas, pois sao elas que exigem fluxos regulares. te Entretanto, quando analisamos as transformagées ocorridas nas iiltimas décadas, verificamos que em um munclo dindmico os fluxos e as respectivas rotines tendem a se modificar com rapidez crescente, criando evidentemente a conveniéncia de readaptagdes das estruturas. Embora estaveis, elas devem ser flexiveis na sua utilizacéo, sob pena de acabarem constituindo entraves a evolugao da humanidade. Devem admitir variagdes nas rotinas dos fluxos que elas condicionam, uma eventual criagao de rotinas alternativas e mesmo a sua propria substituicdo ou transformagdo, sem danos graves s ‘outras estruturas da Sociedade. Esses ajustes e transformagGes so uma obra coletiva, uma obra continua, da qual participam todas as pessoas que habitam as nossas aglomeragdes. As estruturas urbanas se modifieam. De um lado, grandes obras as perturbam e lhes abrem novas perspectivas de evolugio, com mudangas de ritmos, novas atividades e edificagdes. De lance em lance, artistas e lideres eriativos pretendem criar o futuro das cidades, De outro, os habitantes correm atras do tempo e dos espacos das suas rotinas que se inovam, tentando manter o seu papel, aparentemente to diminuto frente as transformagoes em curso E como 0 trabalho das células frente 20 do organismo vivo. Parece secundario, diante das grandiosas perspectivas do seu desenvolvimento geral. Mas falhando as rotinas das suas pequenas componentes, desabam os grandes projetos e lamentam os desastres 0s seus pretensos criadores. 45 ABLER, Ronald; ADAMS, John S.; GOULD, Peter. Spatial Organization: The Geographer’s View of the World. 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