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Pe A clencia Apés a primeira integracao do espago na teoria econémica, no principio do século, a ciéncia regio- nal, essa sintese concertada, deu um novo impulso As investigacdes que exploravam essa via. Os traba- Ihos comecgaram com um interesse comum, dirigido para “a dimensao espacial da vida’, e com um espiri- to novo, para o qual as primeiras descobertas eram o labirinto da interdependéncia das regiées. “Este labi- rinto faz com que conjuntos inter-regionais de popu- laces, de tipos de recursos, de localizacées indus triais, de economias locais, de contas sociais, de ba- lancas de pagamentos, de mercados, de pélos e re- gides urbanas, de estruturas e instituigdes sociais e politicas, de valores, de mébeis e de objectivos sociais, se interpenetrem. Iodos estes conjuntos, que se inter- penetram por intermédio de conjuntos inter-re- gionais e intersectoriais, de fluxos de bens e moedas, de movimentos de populagdes, de informagées e, em geral, de relac6es socioculturais, determinam os pro- cessos de decisao” (Isard, 1960) 2. ESPACO E ECONOMIA: ANTES. DA CIENCIA REGIONAL Aeconomia e 0 espago: um casal cuja historia é rela- tivamente recente. Neste capitulo, propomo nos analisar as principais etapas da integragao do espa- G0 na economia. Dividiremos esta evolucao em duas partes: em primeiro lugar, a apresentacao das pri- meiras tentativas; em seguida, os trabalhos dos fundadores. Os antecessores Na verdade, na histéria das ciéncias economicas, poucos autores concederam um lugar importante ao espago. Basta recordar o que disse Alfred Marshall para compreender que as preocupagées temporais Sempre primaram sobre as consideragGes espaciais:! As dificuldades do problema provém principal- mente das diferengas relativas ao espaco e ao perio- do de tempo em que se considera o mercado em 1 Asobras citadas entre paréntesis no texto so referéncias essenciais, apresentadas no final deste livro. As outras referéncias sao citadas em notas de rodape. : ae 30 A ciéncia regional: rigoroso dos mesmos. A sua originalidade neste campo vem sobretudo do facto de ter estudado em conjunto os movimentos das pessoas e dos produ- tos. O seu objectivo era dirigi-los, no intuito de pro- vocar efeitos benéficos para a economia nacional, lu-, tando assim contra a crise econémica que atingiu a Franga no inicio do século XVII. Z| Fora do reino de Franga, trés obras revelam o pensamento econémico espacial britanico no século, XVII: as de Thomas Mun, Josiah Child e William ‘Temple." Todos eles tomaram a Holanda como mo- delo e se mostraram convictos de que a riqueza da Inglaterra se explicava pela presenga do mar e de que 0 comércio, fundamentalmente de transporte, representava uma actividade essencial. Dedicam-se a investigagao das causas do desenvolvimento do comércio marftimo, analisam as vantagens propor- cionadas pela localizacao e por uma populagao nu- merosa num territ6rio relativamente pequeno e, por fim, mostram que o comércio com parceiros longin- quos é mais vantajoso para a nagaio do que o comér- com vizinhos préximos. Teoure ingles, William Petty (1623-1687), desen- volve uma anilise original, estudando a localizacao, a dimensao e as mudangas de local das cidades. Jus- tificando a concentragao industrial, opde-se a ideia de dispersao das actividades econdmicas e & sua re- particao uniforme pelo territério. Com este objecti- vo, estudou sobretudo a situacao de Londres e o seu crescimento, bem como as vantagens das grandes r yinces Unies des Pays-Bas 4 W.Temple (1658), Remarque strI'Etat des Provinces Unies des Pay: (3672) ¢ Works (1758);]. Child (1668), Brief Observations Concerning ‘rade and the Interest of Money; T. Mun (1664), Englavnd's Treasure By oreign Trade. 5 Wie, The Economic Writings of Sir WP. (editado er 1901, Expago e economia: antes da cigncia regional a aglomeragées. Podemos considerar Petty como um precursor das nogdes de economia de aglomeragaoe de zona industrial: Vemos igualmente que, nas cidades e nas ruas das §randes cidades em que toda a gente exerce o mesmo tipo de comércio, os produtos especiais sio de me- Ihor qualidade e mais baratos do que em qualquer outro sitio. Sempre que se exploram num mesmo lo- cal induistrias de todos os géneros, qualquer navio Prestes a largar pode ser carregado rapidamente com todos os artigos especiais e todos os géneros de pro- dutos que o porto de destino pode receber. Pés também a lonica na divisao do trabalho, e inter- rogava-se sobre os beneficios de uma situacao geo- grafica vantajosa, comparando trés paise: a Inglaterra e a Holanda Na mesma época, em Franga, Vauban (Sébastien le Prestre, senhor de Vauban, 1633-1707) demonstra, por seu turno, a importancia da localizacao e os efei. tos benéficos da concentracao no espaco.° Engenhei- ro militar especializado na defesa e alayue de pracas fortes, executou igualmente grande ntimero de tra. balhos civis. A sua obra é fruto das suas numerosas deslocagées. Vauban conhece a diversidade das re gides e as vantagens que podem resultar de uma dada localizagao para defender ou tomar uma praca forte. Influenciado pela arte da guerra, foi conse- quentemente levado a reflectir sobre as vantagens econémicas das estradas e dos canais. Como militar © economista, analisou as fronteiras do reino e os a Franca, © Vauban (1707), Dizme Royale e Vauban, sa Famille et ses Ecrits, Ses Oisi- vetds et sa Correspondance (1910), das cidades perto dos cursos de agua. Cantillon, im- portante precursor da economia dimensional, man- tém-se desconhecido durante muito tempo. No en- tanto, a sua visdo de conjunto do sistema econémico aparece-nos como muito mais rica do que a da maior parte dos seus sucessores imediatos, incluindo von Thiinen Na viragem do século XVII, os fisiocratas Fran- gois Quesnay (1694-1774)° e R. J. Targot (1727-1781)? deram também eles a sua contribuicaio para a econo- mia espacial. Partindo do seu célebre postulado — s6aagricultura é produtiva—, Quesnay interpreta a economia como um circuito fechado, construindo assim o primeiro esquema dos modelos econémicos. Turgot passa da andlise em termos de fluxos A andli- se em termos de pregos, aborda as teorias classicas do valor, dos precos e do juro, e abre o caminho a Ricardo. Os mercantilistas que se opunham ao liberalis- mo, como o Padre Ferdinand Galiani (1728-1787) —"° e sobretudo James Steuart (1712-1780)" com a sua sintese —, integraram igualmente o espaco nos seus trabalhos. A andlise da origem da cidade, da re- partigao da populagau, das vias de comunicagao e da localizagao das culturas ocupam um lugar im- portante nos seus escritos. Fe Durante a segunda metade do século XVIII, Eti- enne Bonnot de Condillac (1715-1780) ¢ Adam Smith (1723-1790)"* conseguiram dar foros de nobre- za 4 doutrina liberal. Condillac, filésofo, formula RB Tablen Econontique (1258), 9 Reflexions sur la Formation et la Distribution des Richesses (1776) 10 Dialogue sur te commerce du ble (1770), U1 An Inquiry into the Principles of Politica! Economy (1767). 12 LeCommerceet le Gomemement Considnts Reltivement una Antre(776). Espago © economia: antes da ciéncia regional uma teoria do juro e do valor, desenvolvendo ao mesmo tempo uma geografia das actividades. Adam Smith merece, mais do que ninguém, o titulo de “pai da economia politica”. Na sua obra A Riqueza das Nagées (publicada em 1776), traca pela primeira vez um esquema de conjunto dos factores de produ- S80, dos factores de equilibrio e dos factores de evo- lugao da vida econémica. Smith alarga o campo da reflexéo espacial; considera que a divisdo do traba- Iho tem um papel primordial no aumento, muito im- portante, da produtividade e no processo de cresci mento. Mostra que a divisao do trabalho sé pode ser posta em pratica se o volume das trocas for impor- tante; 0 que pressupée a utilizagaio da moeda e im- plica que as empresas beneficiem de vastos merca- dos. Demonstra que o desenvolvimento das trocas entre paises pode ser benéfico para todos quantos nelas participam desde que um produto custe me- nos no estrangeiro do que no territério nacional e outros sejam mais baratos no territério nacional do que no estrangeiro. A especializacdo aparece-nos portanto como benéfica a nivel internacional, do mesmo modo que a nivel nacional, dado o desenvol- vimento da divisao do trabalho. O pensamento de Smith é um elemento chave de todas as explicacées geograficas da diferenciacao das actividades; assis- te-se ao nascimento da ideia de divisao espacial do trabalho, A reflexio econémica desenvolve-se rapida- mente no inicio do século XIX, coma ajuda de conce- itos que se vao afirmando. T. R. Malthus (1766-1834) enuncia a sua lei da populacao," e David Ricardo 13, The Wealth of Nations (1776) [tradugio portuguesa: Riqueza dae Na- s6es, Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian. 3 ed., 1993], Analisada em pormenor em numerosas obras,!® a sua teoria nao poderd ser aqui mais do que mera- mente esbocadafo seu livro Der Isolierte Staat,” pu- blicado em 1826, tem o mérito de colocar claramente alguns problemas espaciais da economia de troca: a influéncia da cidade sobre o preco dos produtos, as relagoes entre a cidade e 0 campo, o papel dos trans. Portes na economia, a localizacao 6ptima das cultu- fas ea renda fundidria, entre outros. A sua teoria ba- seia-se em observagdes empiricas, método contrério ao do pensamento econémico do século XIX, no qual aandlise abstracta é frequentemente predominante. Von Thiinen parte da hipstese de um espaco agricola homogéneo e uniforme, de fertilidade igual em toda a sua extensau e com condigdes de transpor- te idénticas em todos os pontos. Nesta planicie exi: te um Unico centro de mercado, a cidade, no qual se efectuam todas as transacges, Cada um dos pontos deste espaco identifica-se pela sua distancia relati. vamente a cidade. O problema que se poe 60 de re~ partir as diferentes culturas maximizando o rendi- mento do produtor. Este rendimento é definido como a diferenga entre o prego de venda do produto agricola no mercado e o custo dos factores da respec- tiva producao, inchiindg 0 custo do transporte. Um dos contributos originais de von Thiinen é a associa. ga0 de varios factores: 0 custo do transporte, a 18 _J-M, Huriot (1994), Von Thiinen, Economie et Espace, Paris, Economi- cai C. Ponsard (1958), Histoire des Théories Economiques Spatiaies, Pac ris, A. Colin: J. Lajugie, P. Delfauid, C. Lacour (1985), Espace Régional et Amdnagemert di Tervitoine, Pats, Dallos 19 Johann Heinrich von Thinen, Der Islierte Stant i Beiteung auf Lanwirtschaft und Nationalokonomie, (O Estado Isolado mas suas Rela, $8¢s com a Agricultura eq Economia Nacional), Hamburge ¢ Resteck, com quatro edigdes, duas delas péstumas, entre 1826 ¢ 1863 [tracho, 0 francesa: Paris, Guillaumin, 1851 ¢ 1897, Espago © economia: antes da ciencia regional » distancia (0 espaco), o custo de producao e o lucro. Deste modo haverd, para cada produto, uma distan. cia limite a partir da qual a producao deixaré de ser rentavel. Para maximizar o seu lucro, 0 produtor vai sempre escolher a producao mais rentavel. A locali- zagao de cada tipo de cullura seguira a logica da re- ducao dos custos de transporte, que sio funcao da distancia a percorrer e do peso. Tal como na hipstese inicial, as condigdes geograficas sao idénticas em to- dos os pontos, e as zonas de cultura sao delimitadas por circulos concéntricos e sucessivos A volta da ci- dade. Partindo da cidade, encontram-se sucessiva- mente as seguintes culturas: cultura livre (producao horticola e leiteira); (é a zona onde a renda é mais elevada, os produtos sao de alto valor e de transporte delicado, 6 ne- cessaria grande rapidez, a utilizagao do adubo é facil); — silvicultura (muito rentavel na época; a utiliza- sao da madeira era frequente, embora o seu transporte fosse caro); — afolhamento alternado (sem pousio, cultura cerealifera); — afoitamento pastoril; — afoitamento trienal; — sriacao intensiva de gado (e producio de manteiga). Enriquecendo o seu modelo, von Thiinen reintro- duz clementos que, no inicio, tinha afastado para fins de esquematizacao, e abre o caminho a uma teorizacao ao mesmo tempo mais complexa e mais exacta das utilizacées da terra. A presenca de um curso de 4gua navegavel, ou de uma estrada A cigneia regional a2 Figura 2.2 Esquema do tngulo de locaizago de Weber energia necessarias jota: Ae B = matérias-primas ou fontes de energ S 4 prodogtes Ue heres Ue muse (pede acabade. argu Gas setae 6 proporcional aos custo sem clonal Jo taneparte nos custos. Os custos s reduzigos ao minimo no caso Ge a labnca estar localzade no senie do oravigade da tigura, Fonte: Claval, 1974, producio, em particular da produgio industrial Procura respostas tericas para o problema da loca- Nzacdo éptima das empresas. Por definicao, as em- presas privadas sio méveis, podem localizar-se a qualquer ponto do espa¢o. No entanto, do ponto de vista dos custos de producao, os locais nao sao equi- valentes, existindo um local preciso onde a produ- so se realizaré ao custo minimo. A producao preci- sa de inputs (entradas), como as matérias-primas, a energia e a m&o-de-obra, entre outros factores, ¢ 0 produto acabado ou semi-acabado (output, ou saida) deve ser vendido no mercado. Deste modo, cada es- tabelecimento encontra-se no centro de uma rede de fluxos. A deslocagao dos diferentes elementos da produgao tem um custo em valor monetdrio, em Espago e economia: antes da cigncia regional 23 tempo ¢ em esforco. Localizar uma produgao indus- tial (tal como uma cultura ou um servico) é escolher © local 6ptimo para maximizar o hucro, que constitu! o objectivo de todos os empreendimentos econdmicos O mais facil é jogar com os custos de transporte, mini- mizando-os. Antes de comegar 0 seu traballiu tebrico puro, Weber estudou empiricamente a evolucao da lo. calizacao das induistrias na Alemanha entre 1860 « 1895. a Na sua obra Uber den Standort der Industrien (So- brea Localizacao das Indtistrias 1909), da uma tes. Posta global a esta questo, Parte de um esquema tri- angular, em que cada angulo representa um elemen. to da producao: energia, matéria-prima, mereado de consumo. Pressupde os custos de transporte propor- cionais a distancia e ao peso, permitindo assim aes. milar 08 pesos a transportar a forcas, o que transfor. ma o problema numa equacao matematica (mecani- ca .classica ou geométrica) em que se procura o ponto de equilibrio correspondente & localizacao éptima Weber nao tardou a modificar o seu esquema inicial a fim de ter em conta, por um lado, a atraccao exercida Pelos centios de mao-de-obra vantajosos (diferencas nos custos do trabalho), e, por outro, as forgas aglome- radoras (agrupamento geografico: dos produtores, Provocando economias de aglomeragao). Se o empre~ Sario se afasta do ponto éptimo definido pelos custos de transporte, é para realizar economias suplementa, res nos custos de mao-de-obra, ou para aproveitar as economias de aglomeragao. A economia assim obtida deve ser siperior ao aumento dos custos de transporte Provocado pelo afastamento do produtor em relacao 20. Publicadoem Tabingen, traduzidopara oinglés em 1929,emChica- go. por G. J. Friedrich. - 46 Aciéncia regional atmosfera industrial), para nao falar do facto de ter posto em evidéncia a importancia da localizacao para o acesso aos factores de producao. $6 partir da década de 80 é que os seus trabalhos foram redesco- bertos, no Ambito de uma extensa literatura sobre ds distritos industriais. Hans Weigmann é pouco citado pelos historia~ dores do pensamento econémico, apesar de uma contribuigao metodolégica notavel que utiliza uma abordagem em termos de equilibrio geral da econo- mia espacial, concebida como um vasto ordenamen- to dos mercados espaciais.* O mesmo autor liga a concorréncia imperfeita a anélise espacial. Harold Hotelling concebeu um modelo simples de concorréncia em 1929 modelo que conhecen grande celebridade e deu lugar a miltiplos entre as mesmas fases de processos de produgio semelhantes — di- |gonais — quando se trata de actividades de servicos prestados as fadustrias do distrito, PropGem-se empregos a todos os segmentos da populagao activa, Aeficacia desta organizagao territorial é anali Sada por A. Marshall por referéncia & nogio de economias externas Tocais. Aquele autor salienta, entre as vantagens de uma localizagao comum, 0 que se designa por economias nos custos de transacgao. (A localizacao dos produtores e dos utilizadores no mesmo espago geogrilico facilita a realizagao de numerosas transaccoes e desen- Volve relagoes reciprocas de conhecimento e confianga entre os in- tervenientes.) Marshall introduz a nogio de “atmosfera industrial” para designara formagaoe a acumuilagso de competéncias no ambi- fo do distrito industrial, propondo assim a presenca de um proceso cultural, essencial ao desenvolvimento industrial, que se inscreve no funcionamento do mercado de trabalho local. O distrito industrial marshalliano € 0 local onde se retinem as condicdes de densidade populacional, de infra-estruturas, de “atmosfera indus- trial” que silo, a0 mesmo tempo, causa e efelto da parte dos rendi- ‘mentos crescentes que nio se explica nem através das economias de Greala nem através das caracteristicas materiais das novas tecnologias 25 Hi. Wegmann (1931), “Ideen 2u einer theorie der raumwirtschaft Weltwoirtschaftliches Archiv, XXXIV. 26H. Hotelling (1929), “Stability in competition”, Economic Journal, 39, pp. 41-57, Espago ¢ economia: antes da ciéncia regional 7 desenvolvimentos. A sua ideia pode ser facilmente resumida: no passeio de uma estacao balnear, dois vendedores de gelados teriam interesse em repartir as duas metades da praia, colocando-se, um, a um quarto do passeio, e 0 outro a trés quartos. Porém, como ambos tentam “morder” o territério do outro, vo acabar por se “colar” win av cule nu meiv da praia, perdendo assim os clientes de ambasas extremi dades! Este jogo de falta de cooperagao nao convence. Vai-se para meio da praia porque se sabe que, ai, ha vendedores de gelados (e de creme solar, e de 6culos desol,etc.). Aaglomeracao nao tem forcosamente efei- tos perversos. ‘Tem efeitos positivos para os concorren- tes, efeitos de aglomeracao: economias de aglomeracao internas ao ramo de actividade (9 vendedor de gela- dos esté mais préximo do fabricante de gelados), efei- tos de proximidade externos ao ramo de actividade (vai-se comprar creme solar, volta-se com um gelado na mao). Hotelling demonstra que o equilibrio das lo- calizagSes conduz a respectiva concentracao. O stieco Tord Palander apresenta, em 1935, uma importante Contribuicao Para a Teoria do Espa- ¢0.” Aumenta a sofisticag’o da apreensao sintéti- ca, precisando melhor a medida dos custos de transporte. Palander salienta a complexidade dos factores de localizagao numa economia fundada na divisao do trabalho e na dimensao do mercado; segundo ele, a localizagao é também influenciada pelos locais de consumo. Na ultima parte da sua obra, liga a localizagao industrial ao problema dos métodos de fixac&o de precos e da concorréncia enue empresas. 27. T,Palander (1935), Beitrag Wiksells, ur Standortstheorie, Uppsala, Almavist e Sees ee Log PysLog K-q Log F Cxganizagao polieéntnica Lee, en, 8 | organizacao © [ primaciat Nivel Figura 2.3 Nivel e dimensao das cidades: relagées esquematicas Na maior parte das aplicagées, a populacao & utilizada como indice de escala, mas 0 ntimero de fungdes centrais pode do mesmo modo ser utiliza- do, j4 que constitui uma medida fundamental da atracgdo dos centros. Os modelos gravitacionais s4o utilizados em dominios diversos da andlise espacial (migragées, crescimento regional, transportes) e conhecéram va- rias reformulag6es; a propésito das aplicacées, po- dem assinalar-se, entre outros, os trabalhos de Brian Berry nos anos 60. Note-se que o modelo gravitacio- nal é puramente intuitivo, nao propondo qualquer explicagdo teérica. Aleinivel-dimensao (ou nivel-escala), muitas ve- zes chamada lei de Zipf (1949), é uma aplicacao da lei Pareto aos campos demo-econémicos.” J4 antes de 29 GK. Zipf (1949), Human Behaviour and the Principle of Lenst Effort, Cambridge, Mass., Addison-Wesleg, Espaco ¢ economia: antes da ciéncia regional St Zipf os economistas a utilizavam na classificagao das cidades. A observagao da rede urbana de uma regio revela habitualmente a existéncia de um grande nu- mero de pequenas cidades e de algumas cidades de grande dimensao. Trata-se de uma relagao exponen- cial que existe entre a dimensao da populacao e 0 ni- vel das cidades. A formula matematica é simples: Ron Pn, populagao de uma cidade de nivel n; P,, popula- sao da cidade de maior dimensao; n 60 niveleq é um expoente positivo que caracteriza o grau de hierarquizacao Autilizagao de medidas logaritmicas torna a re- lagdo linear, de forma que passa a poder utilizar-se a andlise de regressao simples para 0 calculo dos parametros. log P, = log P1~q log n O parametro q é uma constante que mede a inclina- s&o da recta de regressao. Assim, a regra de Zipf li- mita-se a ser um caso particular de uma distribuigao logonormal em que a inclinagao é igual a -1 A lei nivel-dimensao tem tido muitas aplica- oes," tanto nos Estados Unidos como em Franca, apesar da falta de justificagao terica de uma tal dis- tribuicdo. Em certos casos, foi utilizada no planea- mento regional e na anélise de redes urbanas. Na mesma linha, Colin Clark criou em 1951 uma formula que relaciona a densidade 30 Ver, por exemplo, D. Pumain (1982), La Dynamique des Villes, Pavis, Economica. A“ ciencia regional BS © Brande passo am frente foi dado Pelos tedricos da FnOmia espacial, fioMal ou urbana, da escola de Tena, Walter Christaller (1933) @ Ai. Bust Lisch (1949) % Partiram, «aematicamente, qe SeBuinte questao; como pensar a emergéncia de con- sentracdes urbanag da actividades transformadoras nen ettiatias a partir de 4M espaco plan, Neo (Ocampo dedicado as act estos. Cada bem: a fornecer, cada pevi86 a prestar, tons Ha Onto Sptimo de escala de Produgao. A esc Ponto Sptimo Correspo; FsP2¢0 © economia: antes 9 ciéncia regional 35 Assim se constituiria, m0 Ptimizadora, 4 hierar Poles dotadas de Spera 3 38 A.ciéncia regional © contro @ Centro C © Cento 8 2 Cention Limites 0a algada de E — sa alpaca de 0 da algada de C =: da algada do 8 Figura 2.5 O sistema dos lugares centrais segundo Christaller Figura 2.6 Areas hexagonais datinidas a partir de areas circulares, segundo Losch Oseu esquema inicial baseia-se em trés factores: distancia, produgao em grande escala e concorrén- cia. Os produtores (industriais) de um dado ramo delimitam os seus raios de acco comercial em fun- 80 de consideragées de racionalidade econémica. Raciocinando segundo a hipotese de uma curva de procura classica, 0 autor demonstra que, com a dis- tancia, os custos de transporte aumentam.e que, a partir de um certo limite, se atinge a area extrema de venda. A relagao entre a curva dos custos e a curva Espago € economia: antes da ciéncia regional 59 da procura determina o comprimento do raio de ac- sao ¢ a drea de mercado. Deste modo, o espaco regio- nal divide-se em areas de mercado por tipos de pro- duto. O hexagono representa a figura geométrica gue menos se afasta do circulo, permitindo atingir a maior procura por unidade de superficie. A sobre- Posisdo dos sistemas de hexagonos que correspon- dem a cada um dos ramos industriais faz aparecer coincidéncias entre certos centros de producao: de- senha-se assim uma hierarquia das cidades Em seguida, Lésch completa o seu esquema com elementos importantes que introduzem dife- renciagOes e transformam o modelo inicial. Trata-se de factores econémicos, naturais, humanos e politi cos. Nomeadamente, a diferenciagao do produto, os Custos de transporte, a dimensao da empresa, as fronteiras comerciais e os respectivos efeitos sobre’ as areas de mercado. Aanilise das areas de mercado e da sua conjuga- ¢80 em regides econdmicas constitui o mais impor- tante contributo de Lésch para a teoria econémica do espago. Como recorda Claude Porisard (1958), a teo- tia das regiées econémicas de Lésch aparece-nos como uma anélise combinada das redes de areas de mercado em sistemas regionais, eles préprios conju- gados em redes de sistemas. Oseu trabalho vem na li- nha das andlises de Berthil Olin, mostrando que é Possivel delimitar regides econémicas nao coinciden- tes com as fronteiras politicas. Ocontributo de Lésch para a economia espacial foi fundamental. A sua problematica inicial 6 espaci al, mas a nogdo de equilibrio, que constitui o 38 B Dhtin (1939), Interregional and Unternational Trade, Cambridge, MA, Harvard University Press, 62 Acciéncia regional Quadro 2.2 As grandes etapas da evolugao da economia espacial 1800-1950 Von Thanen (826) Integrago da astra no pancamento ecndmice (Gisios de vorsporey wt {aunnara (1082) {2cazaga indus: economia de slomracte Marshal (1890, 1900) Zona indus abmosteraincustl extemaade ‘eer (1908) Loeaiagdo industria: custos de transporte (ieora ao cone mimo} Prego (1925) arainalsmo @ teva da ecalizag (sia) Hoteting 11929) odo do concondnca tees de aiomeragso Ccstatr (909), ova do wgarescoiai:nclaagto ds acidades Patanser (995) oealiasdo indus: mensao da mercado, ‘eora do equine eral ‘Burgess; Park 1925) Hoy (1929); Ecolopa urbana: viizagto do solo urbane: densidade ar Ciman (149), ‘wana locateaga ester mevtotoga uibona, Hoover (1997), oealzagao ius: tater tema: concontncia Losen 3940) Tootla dos ugares cena; ieas do merce, ‘autora eansme espaca) 21 1949) Lo nvetimensto:nearia wdana em ree ee aes et te6ricas estao fundamentalmente ligadas aos pro- blemas da localizagao das actividades, com preocu- pages macroeconémicas. A partir dos anos 50, 0 campo da observagao espacial alarga-se, assistin- do-se a uma cada vez maior diversificagao das preo- cupagdes e dos métodos. A investigacao contemporanea baseia-se essen- cialmente num conjunto de teorias e modelos pro- postos entre 1826 e 1950, na sua maior parte proveni- entes de autores de lingua alema. Fundadores da economia espacial, dado que foram eles que estabe- leceram 08 seus principios gerais, estes autores so também, pela mesma razao, os precursores da cién- cia espacial contemporanea, disciplina certamente mais ecléctica e de inspiragao macroeconémica Espago e economia: antes da ciéneia regional es Com efeito, a partir da segunda metade do século XIX, os novos interesses dos economistas, a evolu- §40 dos métodos e a nova procura social no perfodo do p6s-guerra fizeram com que a anélise espacial evolufsse para uma nova ciéncia, conhecida pela ex- pressao de “ciéncia espacial”, Logo em 1949, com uma primeira e magistral sintese, Walter Isard abre um novo capitulo da in- vestigagao econémica espacial. 3. ACIENCIA REGIONAL: 40 ANOS DE INVESTIGACAO. Os comegos da ciéncia regional: os primeiros trabalhos dirigidos por Walter Isard A partir dos anos 40, a investigagao torna-se mais sistematica; passa das andlises sectoriais — agricul- tura, indtistria, comércio, actividades tercidrias em geral — para o esquema geral do equilfbrio espacial do sistema, delineado por Lésch, que constitui o conceito unificador dos modelos especificos e, deste modo, serve de elo de ligacao com a teoria econémi- ca geral. Depois dos investigadores alemaes ¢ escan- dinavos, Edgar Hoover (1948),' nos Estados Unidos da América, inova no dominio dos custos de trans- porte e elabora uma teoria geral da fronteira como elemento da localizagao da empresa. Durante a guerra, as técnicas de contabilidade territorial pro- gridem e sao postas em pratica ao nivel das regides e das pequenas localidades. Constroem-se diferentes modelos para medir as migragées populacionais eas zonas de atracgéio comercial, nascendo assim a lei da 1 E, Hoover (1948), The Location of Economic Activity, Nova lorque, McGraw-Hill. 6 4 conceito unificador dos modelos especificos, permi- te-lhe estabelecer lacos com a teoria econémica ge- ral. Em conjunto com Christaller, através da nogao de lugar central, Lésch marca também infcio de um periodo novo na investigacio geogréfica, frequente- mente apelidada de “nova geografia” (Claval, 1977). Para além destas consideragées, é interessante salientar a sua concepgao do papel do economista: O verdadeiro dever do economista nao é explicar a nossa pobre realidade, mas sim melhoré-la. A ques- tao da localizagao Gptima reveste-se de muito maior dignidade do que a determinagao da localizacao real, A contribuicéio de Edgar Hoover para a compreen- so da localizacdo industrial é consideravel. Nas suas duas obras principais —” a primeira sobre a in- dtistria do calgado e dos curtumes, a segunda, de ca- rdcter mais geral, sobre a localizacao das actividades econémicas —, parte da localizagao individual, su- bordinando no entanto o estudo dos factores que ex- plicam as diferengas locais dos custos de transporte e de producio A andlise dos custos totais de aprovi- sionamento, transformagao e distribuigao. A intro- dugao do factor tempo é um ponto original do seu trabalho. Estabelece também os limites de uma ané- lise da concorréncia monopolistica e da discrimina- c&o dos pregos, e propée as primeiras equagdes que exprimem a relacao entre curvas de procura e de re- ceita marginal, Na sua obra, Hoover conseguiu sin- tetizar as contribuicdes anteriores (sobretudo de 39 EM, Hoover (1937), Location Theory and Shoe and Leather Industry, Cambridge, MA, Harvard University Press; e (1948), The Location of Economic Activity, Nova lorque, McGraw-Hill Weber e Palander) e aplicar também ideias tedricas realidade, no ambito do seu estudo empirico da in- dtistria dos curtumes. O decénio 1940-1950 foi marcado por um esforco de andlise abstracta aplicado ao estudo dos equilibri- os parciais. Numerosos autores completaram e aper- feicoaram os trabalhos anterivres. Glenn McLaugiilin levou a cabo uma projecgao espacial dos métodos de andlise das flutuagdes por meio do estudo do cresci- mento das principais zonas industriais dos Estados Unidos." Ronald Coase, prémio Nobel de 1991, esta, dentro do espirito neo-classico, na origem de uma nova reflexao sobre a empresa e as externalidades de que a mesma pode beneficiar."' Elaborado durante os anos 30, a seu trabalho voltou ao primeiro plano, nos anos 80, a propésito da nogao de custos de transac- sao. Rutledge Vining analisou as variagdes regionais das flutuag6es cfclicas da economia. O puiblico fran- cés ficou durante muito tempo privado de uma expo- sigao geral do problema da localizagao das activida- des econémicas, lacuna que foi preenchida pelo belga Laurent Dechesne em 1945.7 Como pudemos constatar, as teorias econémi- cas espaciais evolufram de forma dispersa ao longo dos séculos, ao ponto de se poder dizer que qual- quer tentativa de classificacao seria arbitraria e pou- co satisfatéria. Podemos resumir esta marcha rumo a uma teorizagao espacial mais generalizada afir- mando simplesmente que todas as construgdes 406.5. McLaughlin (1938), Growth of America Manufacturing Arca2, Pittsburg, PA, Bureau of Business Research. 41 RH, Coase (1937), The Nature of the Firm, Economica, 4, 16, pp. 386-405. 42 L:Dechesne (1945), La Localisation des Diverses Productions, Bruxelas, Les Editions comptables, commerciales et financitres volumes de populagao Env encontra-se um resume dos resultados. ‘No seu trabalho, Christaller sistematiZou 0s prin \ cipios da organizacio “irbana do espaco regional. BO primeiro autor a sustentor ¢ jdeia — ja ventilada por .| Prunhardt—de que ohexégono © 2 mais credivel das formas de fronteiras de wmercado complementares: Na realidade, este modelo sofre algumas alteragoes, vVavendo o prinefpio do mercado °° campletado pelo principio do transporte (dependendo da qualidade Bias comunicagoes) © pelo principio da organizagao administrativa (paseado no ‘papel administrative dos centros urbanos). Deste modo, os trés principios de organizacao devem combinar-se para chegar & UNS imagem completa das Tedes urbanas regionals: AS yerificaces empiricas que °° seguiram a andlise de Christaller forant muitas, tendo-se sucedido até aos nossos dias estudos yenovados sobre as armaduras Urbanas. A.sua obra € jgualmente pioneira no campo Ja teoria da localizagao: Fstabelecendo um paralelo cntre a hierarquiia urbana ¢ jhierarquia dos servig0S Christaller foio fandador da teoria da Jocalizagao das actividades terciarias. ‘August Losch foi © primeiro a ligar NUM mes- mma andlise a teoria da localizagao e a do equilfbrio menomico espacial. Com. ® Sia principal obra, ‘(© Ordenamento Espacial da Economia, consegue Wine rr tio 24000 i500 roplagbodas ses paguagie dos 28 10800 m00 vase etubeot ‘io 133 00 v0 3600 uma contribuicao notavel a tese do ly Atierarqula utoana segundo Chest & Note-se que ‘Lésch nao conhecia 0 trabalho de a 38 taller,eo ‘seu ponto de partida é diferente: a sua Prine _ ig eeeee cipal preocupact? Garda relacionar localizes’? re- a e |e gbseel giao e comércio inter-regional € internacional. 2 5 |S 38 3 7 gy Ver nota 36 su Modelo de Harris ¢ Hulmann (1945) igera e armazéns, esidéncias das cesses idéncias da classe mécis; ¢reicéncias da casse media, 5 residéncas ca dase e Ullmann Modelo de Hoyt (1939) (cidade de Chicago) 1: Cento de aegis: 2: ind pobre: Os modelos da ecologia urbana: Park e Burgess; Hoy: H Modelo de Burgess e Park (1925) Figura 2.4 mspase ¢ economia: antes da ciencia regional 3 populacional com a distancia relativamente ao cen- tro da cidade." Outros investigadores, sobretudo socidlogos da escola de Chicago, interessaram-se pelas regras de utilizagao dos solos no meio urbano. R. E. Park e E. W. Burgess (1925) aperfeicoaram um modelo da estrutura residencial da cidade de Chicago e, mais genericamente, das cidades norte-americanas.*2 A linguagem utilizada (invasio, dominacao, etc.) e 0s principios derivados da ecologia, aplicados as ci€ncias sociais, deramn a este modelo o nome de eco- logia urbana. A ideia central é a ascensao social dos habitantes da cidade. Em fungao dos seus recursos ¢ do seu estatuto social, a populagao localiza-se em zonas de circulos concéntr icus (semelhantes aos do modelo de von Thiinen), e as suas mudangas de situacao traduzem-se por deslocagées geograficas. Em redor do centro de negécios, nos bairros mal cui dados e densos, localiza-se a populagao mais desfa- vorecida (minorias étnicas, imigrantes recentes). Esta auréola, chamada zona de transigao, esté rodea- da por zonas residenciais cada vez mais ricas, a me- dida que se avanca em clireccao A periferia Oeconomista H. Hoyt (1939) completou este mo- delo, transformando-o em sectores que valorizam 0 papel dos eixos de transporte na utilizacao resi- dencial dos solos.* Os diferentes sectores ‘esten- “dem-se ao longo das vias de comunicagao. Finalmen- te, os gedgrafos C. D. Harris e E. L. Ulmann, no seu 31. Clarck (1951), The Condition af tconomic Progress, Londres, MeMillan, 32 RE. Park, E. W. Burgess, McKenzie (1925), The City, Chicago, Uni- versity of Chicago Press, 33H. Hoyt (1939), The Structure and Growl: of Residential Neighborhood 1m American Cities, Washington, Federal Housing Administration, E preciso esperar a chegada de Lésch, nos anos 40, para ver resolvido um sistema completo de equa- s6es que exprimem as relacdes espaciais de um equi- librio econémico geral cujas relagées implicam uma concorréncia limitada. A partir dos anos 30, a curiosidade dos economis- tas volta-se para a cidade. O movimento de urbaniza- so acelera-se, as cidades tornam-se de dia para dia mais importantes na organizacao econémica, social, politica e cultural do espaco nacional e regional. H4 miiltiplas interrogacées que exigem resposta: que rela- sOes mantém as cidades entre si e com o campo? Seré que sao complementares ou concorrentes? Quais sao as légicas que definem a respectiva morfologia? Etc. Os estudos podem ser clasificados segundo varios critérios, mas, provavelmente, o mais simples é orga- niza-los em torno de dois eixos: 0 primeiro poe a tonica Nos efeitos externos da cidade (rede urbana, relagdes coma regiao ou com outras cidades, I6gica da respecti- va reparticao no espaco, etc.); 0 segundo estuda as questoes ligadas aos mecanismos internos do tecido urbano (0 mercado imobiliario, a morfologia, as fun- Ses, 0 crescimento, etc.). Esquematicamente, pode fa- lar-se de uma dualidade macro/micro-econémica, se- gundo as abordagens. Até aos anos 30, a economia es- Pacial encarava 0 espago essencialmente como uma distancia (quantificada em termos de custos) ou, por vezes, como uma area (expressa como zona de atrac- sao). Através dos estudos urbanos, 0 éspaco transfor- ma-se pouco a pouco num lugar (caracterizado por valores especificos), sendo que estes lugares nao sao forgosamente intermutaveis. Varios economistas privilegiaram a abordagem estatistica para identificar as regularidades e as leis. aplicaveis as cidades. A elegancia e a sofisticacao ee enn AEE: Ci CINCO rogpeeRy ” das formulas mateméticas sio muito apreciadas, e 08 observadores empiricos sao confrontados com as. hip6teses dos modelos. Dois destes modelos conheceram um sucesso particularmente importante: a lei de Reilly e a lei de Zipf. Ea partir do estudo do comércio de retalho (La Loi de Gravitation du Commerce de Détail), em 1931, que William J. Reilly** abre novas vias de investiga~ ¢A0, inspirando-se na ffsica newtoniana. O principio é simples: dois corpos materiais atraem-se na razao directa da sua massa e na razao inversa do quadrado da distancia que os separa. A traducao econémica desta lei assenta no principio da disténcia, segundo © qual a interaccao entre dois centros urbanos, em termos de contactos sociais e econémicos, é inversa- mente proporcional a distancia que os separa. A po- pulacao da cidade intervém positivamente, e a dis- tancia negativamente. O modelo permite resumir a disposicao das areas de mercado, ou seja, determinar os limites de influéncia entre localidades, mas tam- bém descrever e prever a importancia dos fluxes en- tre as mesmas. O modelo aplica-se a aglomeragoes distribuidas em redes cujo espacamento é fungao das. massas demograficas. Segundo 0 enunciado da lei gravitacional, a atraccaio exercida por uma cidade é: A =a(FP+0%), em que A, éa interacgao prevista entre ie j (dois cen- tros dados); P; e P, sio as populagées dos, dois cen- tros; e D, a distancia entre os dois centros 28 WJ. Reilly (1931), The Law of Retail Gravitation, Nowa lorque, Knick- brocker Press; para uma apresentagao pormenorizada do modelo, ver P. Merlin (1973) e M.-F. Ciceri, B. Marchand, 5. Rimbert (1977). oe TT ao seu ponto éptimo. Weber calculou o lugar geomé trico dos pontos para os quais os custos de transporte sao iguais, chamando-lhe isodépana. Em torno do pon- to 6ptimo encontra-se toda uma série de isodépanas, entre as quais uma isodapana critica, para a qual a eco- nomia do custo da mao-de-obra, ou a economia de aglomeracan esperada, é compensada pelo aumento. do custo de transporte. As posicées das isodépanas criticas relativamente ao centro de mao-de-obra ou aos processos de aglomeracao definem a localizacaio opti- ma. Os cdlculos séo repetidos para cada ramo industrial. Weber teve igualmente © mérito de levar a sua andlise até ao ponto de construir uma teoria dos sis- temas de localizagio, prefigurando assim, com 30 anos de avango, a teoria dos sistemas de redes de Areas de Auguste Lésch Weber foi portanto levado a analisar sucessi- vamente 0 ponto éptimo de transporte, a distorgao do trabalho e o papel da forca aglomeradora. Ao contrario dos seus predecessores, a sua obra teve um papel importante no desenvolvimento do pen- samento econémico espacial durante todo 0 sécu- lo XX." Abriu um campo teérico de investigacao ao qual se chama frequentemente a escola weberiana da localizagao. Apés Weber, os economistas alemaes deram no- vos passos. Nos anos 20, Andreas Predéhl integrana sua teoria a variagao do prego dos factores de produ- 40 no espago.” O instrumento que permite ao autor 21 Ver, entre outros, sobre Weber: C. Ponsard (1958); P. Claval (1976), Eléments de Géographie Economique, Paris, Conin; D. Gregory (1981), “Alfred Weber and location theory”, iD. R. Stoddart (org.), Geo graphy, Ideology and Social Concern, Oxford, Blackwell, pp. 165-185; MJ. Webber (1972), Impact of Uncertainty on Location, Cambridge, MA, MIT Press 22 A. ‘Predohl (1925), “Das Standortsproblem in der Espace ¢ economia: antes da ciéncia regional 45 esta nova integracao é o da substituigao pelo método de andlise marginalista. A empresa combina da me- Ihor forma a sua fungao de producio no local onde se situa, segundo 0 custo dos factores de producao, e, deslocando-se, substitui uns factores pelos outros em fungao dos seus precos relativos e dos custos de transporte. Varias séries de calculos econdmicos per- mitem assim determinar 0 local onde a empresa obte- r4 globalmente os seus custos minimos. Apesar da in- suficiéncia dos seus trabalhos (que se baseiam intei- yamente no principio da substitui¢do), estes foram enriquecidos nos anos 60 por Walter Isard, que deles se serviu como base para uma andlise abstracta, a sua teoria geral do equilibrio espacial Alfred Marshall (1842-1924)" foi contempora- neo de Weber. A sua obra Princfpios de Economia Poli- fica (1890) marcou a sua geragao. Penso que é hoje em dia um esquecido da andlise espacial, apesar de ter introduzido na sua obra varias noces importan- tes:** economia externa, distrito industrial (e Wirtschaftstheorie”, Weltwirtschoflliches Archiv, XX, e (1927), "Zur Frage einer allgemeine Standortatheorie", Zeiisclrift fr Volk. swirtschaft und Sosialpoitik, . 10/12 23 Cr. por exemplo, os artigos sobre Marshall: JL. Gaffard, P.M. Ro: mani (1990), "A propos de la localisation des activités industrielles. le district marshallien”, Reoue Frangaise d'Economie, 5, pp. 171-185; ou M. Dimou (1994), La Dynamique d' Evolution des Systemes Produc. fife Locaux, Grenoble, IREPD, 24 Pode definit-se 0 distrito industrial como uma entidade sociotersi torial caracterizada pela presenga activa de uma comunidade hu- mana e de uma populasdo de empresas mum espago geogrético & historico. No distro, a comunidade e as empresas tendem a reer nirse. Na reflexdo marshalliana (e nos ensinamentos dos seus su sessutes: Becattini, Bellandt, Sorza, Garofoli, etc. nos anos 1970 ¢ 1980), 0 distrito industrial tem wma conotagéo sectorial, mas esta no significa que o distrito seja homogénco. Aactividacle que carac. teriza 0 distrito compreende uma vasta gama de indiistrias etm re- dor da inddstria dominante. As relagoe: poder ser verticals ene tte fases diferentes de um mesmo processo produtivo —~,laterais.— Figura 2.1 Os circulos de von Thiinen e as suas deformages importante, prolonga as areas concéntricas em fu- sos situados ao longo dessas vias. A existéncia de varias cidades, as diferengas de fertilidade dos so- los, a variacdo da fiscalidade, podem por seu tur- no deformar o modelo inicial est : Mesmo que a validade da sua teoria seja discuti- vel nas condigdes econémicas actuais, von Thiinen construiu uma obra muito avangada para o seu tem- po. O seu raciocinio conserva um alcance geral, e 0s principios que enuncia tem valor universal. A inves tigagao inovadora de von Thiinen inaugura uma sé- rie de trabalhos de economia espacial. Influenciara numerosos investigadores até aos nossos dias, em particular nos anos 60, a partir de Alonso, tornan- do-se a base tedrica da nova economia urbana. Foi o primeiro a integrar a nogio de distancia na econo- mia, a raciocinar em termos marginalistas e a utili- zat os célculos econométricos. Por outro lado, cons e- guiu associar construgao tedrica e observacao empi- rica, 0 que constitui o interesse central dos seus trabalhos. te eee a Entre os representantes da escola histérica alema, Wilhem Roschere Albert Schéffle interessaram-se pela localizagao industrial. Schaffle baseia-se no método historico, tem uma visdo organicista da sociedade e acumula dados que descreve e compara. O factor es- sencial do seu modelo é o afastamento relativamente ao mercado. Chega aos circulos conentricos para ex- plicar os resultados da luta entre forcas centralizado- ras e forcas descentralizadoras na localizagao das in- duistrias, em fungao dos factores (capital, trabalho, ma- térias-primas, etc.) e dos ramos de produgao Wilhem Launhardt 60 primeiro autor a tratar de forma sintética a localizagao industrial. Num artigo Publicado em 1882, “Die Bestimmung des zweck- massigsten Standorts einer gewerblichen Anlage” (“A determinagao da localizacgéo éptima de um esta- belecimento industrial”), coloca-se, ao contrario dos outros autores, ao nivel do estabelecimento industri al, que optimiza a sua localizacao em fungao das difi- culdades de transporte. Na sua obra The Principle of Ra- ‘vay Location (publicada em inglés em 1900), ao estu- dar 0s efeitos da melhoria dos meios de comunicacao, chega a nogao de economia de aglomeragao. A obra de Launhardt é relativamente pouco conhecida na histé- ria econémica. S6 Schumpeter e Blaug notam a impor- tncia ea originalidade do seu trabalho sobre a locali- zagao das induistrias e dos transportes. O nome de Alfred Weber (1868-1958) marca o pensamento da histéria econémica espacial, sendo frequentemente considerado como 0 fundador do modelo da localizacao industrial. Irmao do socidloyy Max Weber, interessa-se em primeiro lu- gar pelos problemas sociolégicos. Esta preocupacao leva-o a reflectir sobre os movimentos da populacao no espaco e a consagrar-se a andlise da esfera de (1772-1823)" apura a ideia do valor-trabalho desen- volvida por Smith. Na sua teoria da repartigao, mos- tra as relagSes que podem existir entre o crescimento ea reparticao, tendo a teoria da renda um papel fun- damental na sua andlise. A renda difere do lucro do capita) irivestido na terra, é 0 que é pago ao proprieta- rio pela exploracao da terra. Quando se exploram ter- ras de fertilidade diferente, a renda é igual a diferenga entre a produgao de trigo (ou, mais genericamente, a producao agricola) de uma dada terra e a producao de trigo obtida com a mesma quantidade de trabalho e de capital numa terra menos fértil. O proprietario desta ultima, portanto, nao recebe renda. Em contra- partida, quanto mais a populacao aumenta, tanto mais a exploracao de terras cada vez menos férteis se torna necessaria para alimentar a populagao; daqui resulta uma tendéncia histérica para o crescimento da renda recebida pelos proprietérios das terras mais férteis. Além da sua teoria da renda, argumenta a fa- vor da liberdade das trocas, baseando-se na teoria das vantagens comparativas. Os fundamentos da especializagao internacional assentam em diferencas de precos relativas aos factores de produgio. Espirito subtil e forte, Ricardo estuduu igualmente os efeitos do progresso técnico sobre os saldrios e 0 emprego. Stuart Mill (1806-1873), tiltimo representante da escola classica inglesa de economia, introduziu a no- a0 da raridade do solo urbano, e portanto da concor- réncia para o obter. Propondo também uma nova teo- ria, dita dos valores internacionais, precisa a medida tedrica das vantagens das trocas internacionais. 14 Ensaio Sobre o Principio da Poputagito (1798). 15 Principios da Economia Politica e do Imposto (1817), 16 Principles of Politica! Economy (1848). Apés este rapido panorama, podemos concluir que a reflexao sobre o espaco no pensamento econd- mico foi pontual e relativamente marginal; em con- trapartida, assumiu um lugar cada vez mais impor- tante a partir do inicio do século XIX." Pode consi- derar-se que os trabalhos produzidos entre 1820 e 1950 constituem a base das modernas teorias da eco- nomia espacial. Os precursores: primeiras teorias da economia espacial Para a maior parte dos autores, o grande iniciador da andlise econémica espacial foi von Thiinen (1783-1850), frequentemente apelidado de “pai das teorias da localizagao”. Proprietario e agréno- mo, explorador de uma herdade modelo no Meck- lemburgo, no Norte da Alemanha, filantropo e apaixonado pela economia, parte da hipétese de um territério isolado (dafo nome do seu ensaio, do qual s6 parte foi publicada em vida do autor) para enunciar as leis que regem os sistemas de cultura segundo 0 afastamento do mercado. Aborda, 11ui- to melhor do que Ricardo, a renda (rendimentos decrescentes) e, a partir desse facto, demonstra como 0 salario recebido pelo “trabalhador contra- tado em ultimo lugar determina 0 de todos os tra~ balhadores de igual pericia”; idém para os capitais, etc. Era formular, antes do tempo, o principio da produtividade marginal 17 Encontram-seindicasSes precisas sobre a evolugdo do pensamento espacial na economia, antcriormente ao século XIX,-na obra de P Docks (1969), L’Espnce dans In Pensée Economique di XVI Sicle mt XVIII Sitele, Paris, Flammarion. circuitos econémicos e, melhor ainda, situou-os no espaco. Via a circulacao dos bens e do dinheiro atra- vés de trés relagdes espaciais: Paris-provincia, pro- vincia-provincia e cidade-campo. Vauban fez igual- mente avancar os estudos estatisticos, por intermé- dio de descrigdes quantificadas destinadas aos ser- vigos do Estado. Na mesma ordem de ideias, Pierre le Pesant, senhor de Boisguilbert (1646-1714),’ construiu uma obra original que alia as nogées de equilibrio geral e de circuito, de classe social e de mercado, de abordagens micro e macroeconémicas, de in- formacao e de antecipacao, de pregos fixos e de precos flexiveis, analisando a prosperidade ea de- pressao. Construiu uma estrutura macroeconémi- ca baseada em seis mercados: os dos produtos agricolas, dos produtos manufacturados, dos bens de investimento, dos fundos mutuaveis, do traba- tho e da moeda. Integrou esta estrutura nos fluxos, ou seja, numa rede comercial, ¢ explicou os efeitos nocivos das fronteiras. Dava particular importan- cia As cidades, constatando que “a influéncia da ci dade abarca regides afastadas”, ¢ preconizava 0 crescimento do consumo: “o dinheiro benfazejo, fiel escudeiro do consumo, circula rapidamente de lugar em lugar”. Um dos elementos caracteristicos do pensamento de Boisguilbert é a generalizacao no espaco de fendmenos inicialmente locais, o que salienta a reciprocidade das trocas ea interdepen- déncia nao sé entre diferentes regides de um mes- mo pais mas também entre paises. 7G, Faccarello (1986), Aux Origines de Economie Politique Libérale: Pierre de Boisguilbert, Paris, Anthropos; J. Hecht (1966), Pierre de Bois- ‘guilbert, ou ln Naissance de l'Economtie politique, Paris, INED, 2 vols. Richard Cantillon (1680-1734), personagem sin- gular, cosmopolita, banqueiro de profissao, autor de um Essai sur la Nature du Commerce en Général (publi- cado a titulo péstumo em 1755), dé-nos uma das pri- meiras visdes de conjunto da actividade econémica. Sustenta que a terra eo trabalho sao a fonte da rique- za, e estuda as relagées entre os factos econdmicos & demograficos, formulando as nogées de populagao maxima e populagdo dptima. O seu trabalho parte da reparticao da populacao e das suas actividades. Deste modo, é levado a reflectir sobre as aglomera- g6es, bem como sobre as dimensées. Sustenta a ideia de que basta que alguns grandes proprietarios se es- tabelecam num dado lugar para que af apareca uma tidade. “Uma capital forma-se da mesma maneira que uma cidade de provincia, com a diferenga de que os maiores proprietdrios de terras do pais resi- dem na capital; que 0 rei, ou o governo supremo, af tém a sua morada e af despendem as receitas do Estado. ” Partindo de observagdes concretas, Cantil- lon elaborou uma construgao légica do espaco, atra- vés de uma hierarquizagao das regides e das cida- des, bem como das respectivas areas de influéncia. Depois desta teoria da localizacao, interessa se pelas deslocagdes das mercadorias e da moeda no interior da nagao, bem como além das fronteiras nacionais. A sua preocupagao de implantar manutfacturas na provincia condu-lo a ideia da igualizacao das rique- zas no espaco: ” erigir manufacturas nas provincias afastadas da capital, a fim de as tornar mais impor- tantes e de af provocar uma circulagao de dinheiro menos desigual por comparag’o com a capital.” Integra assim o papel dos transportes na formagao dos pregos e nas desigualdades inter-regionais dos rendimentos, bem como no dominio da localizagao ~ eT eae questo; sendo que a influéncia do tempo € mais im- portante do que a do espaco.” Curiosamente, e ape sar de os homens sempre terem vivido no espago, os economistas ignoraram durante muito tempo esta evidéncia. Os seus trabalhos inscreviam-se numa es- pécie de “pais das maravilhas, sem dimensao”, a tal ponto que foi preciso esperar pelo aparecimento Je Van Thiinen, no inicio do século XIX, para ver nascer a primeira verdadeira teoria econdmica espacial, ao passo que o tempo era hé muito um dos pontos cen- trais da andlise econémica. ‘A explicacao para esta marginalizacao do espa- co nas ciéncias econémicas é frequentemente insa- tisfatoria. E verdade que muitas questdes econdmi- cas podem ser tratadas no seio de modelos de expli- cacao desprovidos de toda e qualquer dimensao es- pacial. Neste tipo de casos, o espaco poderia contri- buir para o realismo dos modelos, mas nao adianta- ria nada a respectiva capacidade de prognéstico. No entanto — como referem Suzanne Scotchmer e Jean-Francois Thisse —,? isso nao implica que 0 es- paco seja economicamente neutro ou que possa ser negligentemente tratado. Pelo contrario, a introdu- cao do espaco obriga a ultrapassagem de certas teo- tias existentes, em vez de simples generalizages. ‘Torna os modelos mais complexos, aumentando 0 ntimero de parametros em jogo. Mesmo neste mundo puntiforme, a nogao de distancia acabou por ser introduzida, inevitavel- mente, através de diversos elementos. A distancia pode sentir-se como uma perda: quem desperdi¢a espaco perde tempo. A distancia é um obstaculo, 2 §.Scotchmer JF. Thisse (1993), “Les implications de espace pour la concurrence”, Revue Economique, 44, 4, pp- 659-668. aumenta os custos, os prazos e os riscos de transpor- te. A proximidade das matérias primas ou dos mer- cados pode reduzir os custos de producao e aumen- taro lucro do empresario. Em contrapartida, porém, a distancia também pode trazer vantagens. O afasta- mento em relagao a um concorrente ou a um ambi ente desfavoravel facilita, em certos casos, a tarefa do produtor. Entre os séculos XVI e XIX, os estudiosos aperce- beram-se das realidades do espaco através das divi s6es do espaco (em unidades politicas ou religiosas), da utilizagéo do solo na agricultura, dos meios de comunicacao (redes de estradas e vias navegaveis), da circulacao (portagens, alfandegas, fronteiras), das correntes comerciais (a nivel local, nacional e in- ternacional), da implantagao das indtistrias. Entre os precursores dignos de nota encontra- mos, evidentemente, Jean Bodin (1530-1596), que se dedicou a definir as condicdes de riqueza ligadas a abundancia de terras férteis, de homens e de capitais. Sendo estes dois tiltimos factores méveis, Bodin tentou encontrar os meios de controlar os res- pectivos movimentos. Nos seus trabalhos,? os argu- mentos que aduz.e os conselhos que da situam-se no plano das explicagdes espaciais. Antoyne Montchré- tien (1576-1621), no seu Traité d'Economie Politique (1615), faz uma andllise do comércio interno e precisa as vantagens de uma certa especializacao inter-re- gional, tornada possfvel pelas comunicacées da épo- ca, Estuda igualmente os movimentos através das fronteiras nacionais, movimentos das pessoas, dos produtos e do dinheiro, recome idandy unt controle 3. Réponses aux Paradoxes de Malestroit (1568) e Les Six Livres de la Répu- blique (1576),

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