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258 ‘TEMPO E NARRATIVA um lado, as imposigdes vinculadas ao fipo d il Bes vine le intriga privilegia- do, por outro, ao préprio passado, através da informagio do cumentéria acessfvel num momer oe ni rento dado. O trabalho do his: le entio em fazer da estrutura narrativa um icone” do passado, capaz de “reproser Como a tropologia responde a0 segundo desafio? Res- po Antes que se possa interpretar um campo dado, ele tem de truido & maneira de um solo habitado por fi- guras discerniveis” (Metahistory, p. 30). A fim de figurar “o que realmente aconteceu” no passado, o his . conjunto dos acontecimentos relatados imentos (iid). Fungo dessa operacio pos! Ps 0 “campo ‘um primeito contomo a obje realmente aconteceu no pas- pode dlesignar esse anterior foram repre relatos historias visam segmentos do processa hi 0). pst ie podem sr mbigfo decontait “equ i)” aos fatosconhecidos riador consiste em “emparel cial com os acentecimentos que ele des fini). Com esas duas expressbes imagetlea, que se coloca & todo 0 prable- ;resentagio do passado em conjuncao com a operagéo de composi ga, ominaes dedlncuro, stngimos ee nivel de conan om gor Imunde de eperiéca€onstoanes de er nals” 259 privilégio dos quatro tropos funcamentais da retérica ssica consiste em proporcionar uma variedade de figuras de wra para esse trabalho de prefiguracio e assim preservar a 1eza de sentido do objeto historico, tanto pela equivocida~ ‘cada tropo como pela multiplicidade das figuras dos quatro tropos considerados ~ metafora, inédoque e ironia ~, € o primeiro que tem voca~ : itamente representativa, Mas Hayden White parece wer dizer que 0s outros tropos, embora distintos, seriam va~ iantes da metéfora e teriam por fungéo corrigir a ingenuida~ ora, que tende a considerar adequada a semelhan- love, a rose). Assim, a metonimia, reduzindo fator his ‘uma relacdo intrinseca entre qualidades raria uma integragio sem reducdo, Caberia & ironia introduzir uma nota negal se trabalho de prefiguragio algo como tum “second thought” ~ um “suspense” . Por contraste com a me- jinaugura c em certo sentido congrega 0 campo tro- poldgico, Hayden White chama a ironia de “metatr6pica”, na ‘medida em que ela suscita a tomada de cons ‘uso da linguagem figurativa e lembra constantemen- vel mi 29, por iso que, em contraposigio a0 binarlsmo em voga na ingufstica in esttutural, Hayden White volta aes quatro tropos de Ramus € de 1975, "Hi ve Imagina~ tien”, encontramos uma ctica argumentada do binarismo de Jakobson. de capantar que Tp of Discourse contenha varios ensaios deta o tamente dedicados A posticaldgica de Vico, que se descobre ser 0 i Kenneth Burke sua laragdo, a primeira vista desconcertan~ ima sinédoque so tipos (kinds) de metaforas, mas diferen- ‘de reducdo ou de integracio que operam iminagdo a que visam no nivel 26 e TEMPO E NARRATIVA te a natureza prob! a da linguagem como um todo. Ne- nhuma dessas iniciativas de estruturagio exprime uma impo- isdo légica, e a operacio figurativa pode parar no primeiro es- gio, o da caracterizagtio metaférica. Mas somente o percurso so mais ingénua (metéfora) & 2 ss em endgame medio (Durkee terizagio da dispersdo como “redugio”) ie Meer the fr agora todos ox devon qu concen dena signin prot i fea, fazed assim plnaente istign 8 posbilade ceases pox Se xpo otoodSu camo nd se tn peguag campo histo estendese a toda expe Ge pintrprelagdo, A wopolia ace da igen, sempre que a compreenato familar ta esta, por vis ied? eo ample to fundamental que pode, rico de todos os debe com su ‘ampos onde a consciéneia, na sua pr ‘meio, Toda nova codificngio 6, num nivel profund, figurativa 261 inte o tema do discurso””. Nesse sentido, a identificago do. ‘ode intriga remete a 6gica, mas a visdo de conjunto de acon- cema de signos, se propbe -se que a prefiguragao pica & mais especifica, na medida em que a explicagdo por composi¢ao da intriga é tida por m: nfundi da represen- no sentido de modelo pois nao existe origi a estranheza mo o sao os mapas Feogr: 1 a0 qual comparar 0 modelo; tal como os documentos ppara prefigurar seu estilo” valéncia, e sim uma rel contada, a0 passo que @ {qual os acontecimentos wersamente, sua retroimbricagio permite | segundo 0 qual a hist6ria estoria dilacerada 1 se dissolvem em agregados de impulses fisico-q y/em que a histia se perce nas vas- tus conmologias que definem o ritmo da ascensio e do decinio de civilzagies ‘interiors, laveria ass uma solugiorelrca para 0 paradoxo segundo 0 qual Gexcexco de infermagio prejudica a compreensio ¢ 0 excesso de compreensio ‘Smpabrece a informagio (opis of Discourse, p. 102]. Na medida em que o tr batho ce figuragao ajusta um ao outro foe exphcngo, permite que a Fistiria se ‘mantenha a meio caminho entre o dois exiremos destacados por Lévi-Strauss. 130, Espa prefiguragio fae “enunciados metafGricos que sugere Recimentose processos € 0: tipos de fe para dotar os acontecimentos de nossa vida de sigificagbes cul ralmente sancionadas” (Topics of Discourse, p. 88). 262 TEMPO E NARRATIVA Gostaria de dizer agora mesmo me situo com relagio As andlises sutis e muitas vezes obscuras de Hayden White. Nao hesito em dizer que elas sao a meu ver uma contribuigao decisiva para a exploragao do ter~ ou de repre- cas palavras como eu sa sugestéo de que a relagdo com a realidade do passado deve passar sucessivamente pela grade do Mesmo, do Outro e do Andlogo. A ai as coisas devem ter sa narrativa aqui; gragas & grade tropoldgica, 0 sercomo do acontecimento passado é posto em palavras. Dito isso, concordo que, isolado do contexto dos dois ou- tros grandes géneros ~ 0 Mesmo e 0 Outro ~e sobretudo isento da coergio que exerce sobre o discurso 0 vis-A-vis - 0 Gegen- em que consiste ido do acontecimento passado, 0 tropologia corre o risco de apagar a fronteira entre ar a énfase quase que exclusivamente no procedi- corte-se 0 risco de ocultar a intencionalidade nteci- alto nivel o poder: Fm ambos a5 casos, reconhecemos a forma mediante a qual a consciéncia cons- tui e ao mesmo tempo coloniza o munclo que ela busca habitar de forma acei- (p. 61). Ao dizer isso, White ndo esté muito Tonge do que nds mesmos cruzala da fiegio € pos mostra © que érealista em toda fies j0 do mundo tida por reaista& destacado, (O TEMPO NARRADO 263 mentos passados. Se nao restabelecéssemos esse primado da perspectiva referencia ‘amos dizer, com © proprio i éa0mes- ‘mo tempo uma “com daquilo em que 0 passado pode ter cons da frmula: “$6 podemos conhecer o efetivo (the actual) con~ trastando-o ou comparando-0 com o imaginavel" (p. 61). Para que essa formula possa conservar todo 0 seu peso, a preacu~ pacdo de “reconduzir a histéria a suas origens na imaginagao ia” ({bid,) nao deve levar a dar mais valor & poténeia ver- bal investida em nossas redescrigGes do que &s incitagdes & re- descrigo que brotam do préprio passado. Em outras palavras, ‘uma certa arbitrariedade tropolégicat nao deve fazer esquecer Oo tipo de coergaio que o acontecimento passado exerce sobre 0 através dos documentos conhecidos, exigin- cago sem fim. A relacao entre ficcio e hist6- ria 6 soguramet se possa imaginar. No entanto, 6 decerto preciso combater © precon: do 0 qual a linguagem do historiador pod mente transparente, a ponto de deixar falar os préprios fatos: ‘como se basiasse climinar os omnamentos da prosa para acabar com suas figuras de poesia. Mas nao € possivel combater esse primeiro preconceito sem combater 0 segundo, de acordo com © qual a literatura de imaginagdo, por fazer uso constante da ficgao, nao apreend: idade. Os dois preconceitos devem ser combaticos dod 4. “A implicagio & que 0s historiadores con etos possiveis de representagio narrativajustamente em gem que empregam para descrevé-k "2, H, White concona: cemiveis enquanto artfatos bai, mas ambos aspiram a oferece ua ima- igem verbal de realidad; uma nBo tem vocagio de coertacia eo outro de cor- ‘sspondéncia; ambos visun, por vias diferentes, anf coericia como 8 corres ‘pondéncia:“E nesses dois sentidas gens que todo discurso escrito € cognitivo Tpaanto a suas fnalidades e mimético quanto a seas meios” ("The Fictions of Factual Representation’, in Topics of Discourse, 122) F mais: “A historia & fama forma de ficgio tanto quanto © romance é uma forma de representagio Iistrca” (id). 264 TEMPO E NARRATIVA Para esclarecer esse papel a a tropologia na articu- ntima da nogao de representancia, parece-me ser preci- s0 voltar ao “como” contido na expressao de Ranke que nao cessou de nos instigar: os fatos tal como eles realmente aconte~ ceram. Na interpretacio analégica da relagao de locotenéncia ou de representincia, 0 “realmente” s6 € significado pelo “tal vivo da metéfora no plano 5 de aumentar a polissemia inicial de nossas palavras. A corres ia entre 0 ver-como € ser-como satisfaz, a essa exi- géncia E em virtude dessa capacidade, que antes chamei de re- a~alude a do de figura, miicleo da tro~ Mas, assim como coneedemos ao funcionamento retérico ontol6gico da metéfora uma autonomia completa para dar conta da linguagem pottica, ilustrada em primeiro lugar pela poesia xo do Me: mbora o passado seja de fato, em ve ser reefet o no modo iden- i, ele $6 0 & na medida em que também for o ausente de todas as nossas construgées. © Anélogo, precisamente, con- TEMPO NARRADO 265 serva em sia forga da reefetuagao e da colocagao a distancia, na medida em que ser-como é ser e néo ser. Nao € apenas com 0 Mesmo ¢ 0 Outro que o Andlogo deve ser relacionado neste capitulo, mas também com a pro- lo anterior e aquela dos que vém a seguir. lerpretado do ponto de vista da reinscricao do tempo fenomenol6gico no tempo césmico; vimos nele a conjuncéo 1, e de uma relacdo de por isso o chamamos de stante acreditamos esgo- jogdo de um texto de Lévi- com uma nota voluntaria~ -mos, significa sem fazer aparecer. Enesse ponto que a anélise da representancia toma a dianteira; “valendo pelo” passado encontra ni ‘uma saida parcial. Es sulta do fato de que a andlise da representéne! — Me! poral & 0 que o vestigio des io de representancia nada vessia do tempo pelo ve estrutura dialética da travessia que converte 0 espacar em mediagao. sa ta io. Mais precisamente, explicita a ento ; olharmos para frente, para 0 processo mos imaginar por que a exploragio tinha de inacabada porque abstrata. Como a fenomenologia nos ensi nou, e a de Heidegger em particular, o passado separado da dialética entre futuro, passadio e presente & uma abstragio. E por isso que 0 capftulo que estamos encerrando é apenas uma tentativa de pensar melhor 0 que continua enigmdtico na pre- 266 ‘TEMPO E Na teridade do passado como tal, Situando-o sucessivamente nos “grandes péneros” do Mesmo, do Outro e do Analogo, ao me- nos preservamos também o carter misterioso da divida que faz, do mestre em intrigas, um servidor da meméria dos ho- ins do passado". 43, Minha nogée 1/na perda da tera natal, no exili ue dialetiza essa perdae esse virlude do que a vida é também a heranga de potencialdades vivas. Concorde contudo com M. de Certeau quando ineluo a itera na pro- pala divida: a perda é certamente uma figura da alteridade. Que a historia faga mais do que enganar a mort ¢ 3K titigio da divida eretozno do recaleado, no «dG a entender. Nunca te | mostraremos que a expectatica voltada para 0 futuro e a destituigio de Todo o histrico pelo presente intmpestioo dialetizam a divida, assim como a divida dialetiza a perda 4, MUNDO DO TEXTO E MUNDO DO LEITOR Daremos mais um passo na diregao do ponto em que se recruzam 0 tempo da ficgao e o tempo da hist6ria indagando ‘0 que, do lado da ficedo, pode ser considerado a contrapartica aparece como pasado “real”. O fr sato, se permane- ‘ionais da referéncia. Com feito, em termos absolutos, somente do historiador pode ser to que ele se refere a algo “real”, no sentido de que aquilo de «que cle fala foi observado pelas testemunhas do passado. Por nagens do romancista séo simplesmente também a experiéncia que a fiegio descre- lidade da fieg ve dissimetria é t Rompemos problema ao questionar o con‘ passado. Dizer que certo acontecimento relatado pelo riador pdde ser observado por testemunhas do passado nao resolve nada: o enigma da preteridade ¢ simplesmente deslo- cado do acontecimento relatado para o testemunho que 0 re~ lata. O ter-sido & problemdtico na medida exata em que nao é observavel, quer se trate do ter-sido do acontecimento ou do ter-sido do testemunho. A preteridade de uma observacdo no passado nio ¢ observavel, mas sim memordvel. & para resolver esse enigma que elaboramos a nogéo de representancia ou de

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