You are on page 1of 15
cela @\ AMBIENTAL GLOBAL: DIALOGOS COM AW a AO ae Maria Luiza Machado Granziera Perret (Organizadores) Dados Internacionais de Catalogagao Departamento de Bibliotecas da Universidade Catélica de Santos Governanga ambiental global : didlogos com energia @ meio ambiente / Maria Luiza Machado Granziera, Fernando Rei (Organizadores).-- Santos (SP) : Editora Universitaria Leopoldianum ; 2017. 144 pos 42. Inclui bibliografias 1, Protecdo ambiental. 2. Meio ambiente. 3. Gestao ambiental. I.Granziera, Maria Luiza Machado. IT.Rei, Fernando. ITI. Titulo ISBN: 978-85-60360-70-3 cou: Bd. 1997 ~~ Revisio. Editora Universitéria Leopoldianum Planejamento Grafico / Capa Elcio Prado Sobre o livro + Formato: 160 x 230 mm * Manchas 130 x 200 mm * Tipologia: Minion Pro (textos/titulos) 1 + Papel: Cartio Supremo 250g/m? ; Offset 75g/m2 + Tiragem 500 * Impressao: Pallotti Editora Grafica Este livro foi impresso em 2017. Foi Loyola Distribuidora Loyola Rua Sao Cactano, 959 (Luz) CEP 01104.001 - Sio Paulo - SP Tel (11) 332.0100 ~ Fax (11) 322.0101 E-mail: vendasatacado@livrarialoyola.com.br depésito legal. Colabore com a produgao cientifica ¢ cultural, Proibida a reprodugio total ou parcial desta obra sem a autorizagio do editor. GOVERNANCA URBANA E A RECUPERACAO ENERGETICA DE RESIDUOS SOLIDOS Suani Teixeira Coelho! Alessandro Sanches Pereira* Amanda Marques de Castro? Lucas Hamilton Calve* Luciano Reis Infiesta® Luiz Henrique Targa Goncalves Miranda‘ Introducao gestéo de residuos sélidos é um dos servigos urbanos mais vistveis do ponto de vista politico. Estes servicos geram um numero de empregos consideravel e consomem uma grande parte da receita operacional de uma cidade ou municipio. Como tal, a gestao eficaz e sustentavel dos residuos esta intimamente ligada a uma boa governanga local ¢ uma boa gestéo municipal. A gestio dos residuos sélidos urbanos ¢ fundamental para a prote¢io no sé da satide publica, mas também da seguranga ¢ do ambiente. Nos paises menos desen- yolvidos, é também uma fonte fundamental de subsisténcia e capital social, parti- cularmente para a populacao pobre que vive em grandes centros urbanos. As pilhas de residuos deixadas nas ruas, bloqueando os canais de drenagem ou despejadas nos cursos de Agua estdo entre as principais causas de risco para a satide ptiblicas © descarte descontrolado de rejeitos ameaga os recursos hidricos e gera riscos sig- nificativos para a satide dos habitantes. Além disto, os riscos de satide e seguranga ocupacional para os trabalhadores de residuos s6lidos e catadores também séo uma grande preocupacio, o que se verifica pela grande quantidade de organizagbes nado governamentais envolvidas com este tema. Existe uma grande diversidade na natureza e padrées dos servigos de gestio de residuos s6lidos urbanos dentro e entre paises ¢ diferentes dreas urbanas. As quest6es variam de local para local. Considerando que, nos paises de rendimento mais elevado, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia, Instituto de Energia e Ambienta, Universidade de Sao Paulo. 2 Pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Bioenergia, Instituto de Energia e Ambienta, Univer- sidade de Sao Paulo. » Engenheira Ambiental, Especialista em energias renovéveis pela Universidade de Séo Paulo “ Engenheiro Eletricista, Especialista em energias renovaveis pela Universidade de Sao Paulo 5 Engenheiro Agrénomo ¢ Mecanico, Especialista em Energias Renovaveis pela Universidade de Sao Paulo © Engenheiro Ambiental, Especialista em energias renovaveis pela Universidade de Sao Paulo 63 Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente aatencao é colocada na maximizacao da recuperagao dos recursos provenientes dos residuos, nos paises mais pobres o foco é mais a forma de prestar servicos basicos de recolha, tratamento e eliminacao para a crescente populacao urbana e aumentar as oportunidades de geracao de renda e emprego. Porém, todas as cidades ttm uma coisa em comum, a gestao de residuos é uma questao de governanga urbana que, por usa vez, envolve um alto perfil publico e crescente importancia. Refletindo sobre isto, ha um forte argumento para considerar o estado da gestao de residuos como um indicador geral do desenvolvimento urbano e da sustentabili- dade das cidades. A gestdo eficaz dos residuos requer uma abordagem estratégica e participativa que aborda questdes sociais, financeiras e ambientais, bem como técni- cas. Abordagens puramente tecnocraticas geralmente nao sio bem-sucedidas, pois ignoram questées de governanga e gestao e desenvolvimento urbano. Para que os servicos de residuos sejam eficazes, uma cidade deve ter a capacidade de gerenciar finangas e servigos de uma forma efetiva e transparente, racionalizar as responsabilidades de gestao e trabalhar efetivamente com as comunidades. Onde a gesto de residuos funciona bem, é provavel que a cidade também tenha abordado questées subjacentes relacionadas a estruturas de gestao, procedimentos de contratagao, praticas laborais, contabilidade, recuperagao de custos e corrup¢ao. A adequacao dos servigos as comunidades de baixa renda também reflete sobre quao bem-sucedida uma cidade esta lidando com questées de pobreza urbana e equidade social. Estas ligacdes reforgam o potencial para que este setor seja um indicador util de boa governacao. A avaliacao da governanga urbana em geral é dificil, sem gastar recursos signifi- cativos na coleta e avaliagao de dados. Uma opsao mais simples é olhar para um tini- co setor que incorpora aspectos-chave do desenvolvimento urbano onde ¢ possivel medir indicadores-chave. O setor de gestao de residuos sdlidos urbanos apresenta uma oportunidade ideal para aplicar este conceito, pois é um setor onde a infor- magao pode ser coletada através de observacao visual ou pesquisas de campo mais detalhadas e estar indiretamente relacionada ao estado geral de governanca e gestao municipal urbana. Os residuos séo um reflexo particularmente interessante da natureza dinamica das cidades. A quantidade e a natureza dos residuos produzidos num determinado local variam diariamente ¢ sazonalmente. Também pode ser possivel prever futuras mudangas econémicas em uma cidade através de andlise cuidadosa de residuos mu- nicipais. No entanto, devido a natureza dindmica dos residuos, deve-se ter cuidado para garantir que os dados sejam relevantes e precisos. Defini¢ées de trabalho boas e consistentes de diferentes tipos de residuos sao fatores criticos na medig¢ao e compa- ragao do desempenho. ‘A preocupacao legal com a situacdo dos residuos sdlidos no Brasil teve inicio com a Lei Federal 2.312 de 1954, a qual estabelecia que o gerenciamento dos residuos s6- lidos ndo deveria provocar inconvenientes a saiide e a0 bem-estar piblicos. Alguns anos depois, esta lei foi regulamentada pelo Decreto 49.974-A de 1961, 0 Cédigo Nacional da Satide, Em 1979, devido aos impactos causados pelos residuos no meio 64 oe _.._ Governanga urbana e a recuperagdo energética de residuos sdlidos ambiente, foi publicada a Portaria do Ministério do Interior n° 53, que deu inicio ao controle dos residuos sdlidos no Brasil, principalmente referente ao acondiciona- mento, descarte e tratamento, Além disso, motivada pela preocupacao com os efeitos da poluigéo do ar nas grandes cidades, estabeleceu a proibigao da incineragéo de residuos sélidos em edificag6es residenciais, comerciais e de prestagao de servigos, © que provocou o fechamento da maioria dos incineradores existentes em hospitais, método de tratamento que, na época, predominava em todo o Brasil. A Associagao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004) elaborou em 1987 a NBR 10.004 que apresenta a classificagéo dos residuos sélidos. Apés a revisio de 2004, a norma apresenta como objetivo classificar os residuos sélidos quanto a sua periculosidade, considerando seus riscos potenciais ao meio ambiente e & satide pi- blica, para que possam ser gerenciados adequadamente, identificando os residuos conforme o processo ou a atividade que lhes deu origem e seus constituintes. Esta norma orienta os cuidados especiais que devem ser tomados pelo gerador do re- siduo sélido em seu gerenciamento ao classificd-lo, identificar 0 potencial de risco do residuo, bem como identificar alternativas de tratamento e destinagao. A NBR 10004:2004 qualifica os residuos em duas classes de periculosidade, a Classe I - Pe- rigosos (inflaméveis, corrosivos, reativos, toxicos e patogénicos) e a Classe II - Nao perigosos, que ¢ subdividida em duas outras classes, Classe II A - Nao inertes ¢ Classe IIB - Inertes. Até 2010, nao existia no Brasil uma politica de residuos; no ambito nacional havia apenas diretrizes para determinados procedimentos associados ao gerenciamento de residuos. Apés longos 21 anos de tramitago no Congresso Nacional, foi aprovada a Lei 12.305 de 2010, a qual institui a Politica Nacional de Residuos Sdlidos (PNRS). A PNRS reiine principios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestio dos residu- 0s sélidos, um dos grandes problemas ambientais brasileiros, tendo como alguns de seus objetivos a “nao-gera¢ao, reducao, reutilizacao e tratamento de residuos s6lidos, bem como a destinagao final ambientalmente adequada dos rejeitos”, entre outros diversos. £ importante destacar que a PNRS nao é direcionada somente ao setor publico ou a empreendimentos privados, mas a todos os envolvidos no processo de geracao, ges- tao ou gerenciamento dos residuos, direta ou indiretamente, incluindo os cidadaos. A Lei 12.305/2010 - Politica Nacional de Residuos Sélidos - PNRS, classifica os resi- duos sélidos de duas maneiras, de acordo com sua origem (domiciliares, industriais, urbanos, servigos de satide, etc.) e sua periculosidade (perigosos e nao perigosos). Neste contexto, podemos assumir que ha varias maneiras de se realizar a classifi- cacao dos residuos sdlidos. As classificagSes mais comuns séo quanto aos riscos po- tenciais de contaminacao ambiental e quanto a natureza ou origem. Uma vez que as atividades humanas produzem res{duos s6lidos organicos e inorganicos, é importan- te distingui-los para estabelecer o tipo de tratamento e disposicao final. Os residuos organicos séo materiais que se putrificam, como papéis, madeira, restos de alimentos, fibras naturais e etc. Os inorganicos sao materiais sintéticos e de dificil decomposi- Gao, como metais, vidros, plasticos etc. 65 oad Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente Segundo dados da Associacao Brasileira de Empresas de Limpeza Publica e Residuos Especiais (ABRELPE), a média de geracio de Residuos Sélidos Urbanos (RSU) no Brasil em 2015 foi 79,9 milhées de toneladas, ou 390 kg/hab./ano, registrando um crescimento de 0,9% na geragao per capita, de 2014 para 2015. De um modo geral, o total de RSU gerado no pais aumentou 1,7% de 2014 a 2015, periodo em que a populacdo brasileira cresceu 0,8% e a atividade econ6mica (PIB) retraiu 3,8% (ABRELPE, 2016). Neste mesmo perfodo, foram coletadas aproximadamente 72,5 milhoes de toneladas de RSU, levando a constatacao de que pouco mais de 7,4 milhdes de toneladas deixaram de ser coletadas no pais neste ano e, consequentemente, tiveram destino impréprio. Estes dados resultam em um indice de cobertura de coleta de 90,8% (ABRELPE, 2016). A Tabela | apresenta a participacao das regides do pais no total de RSU coletado em 2015. Tate cee RCL arc Ry Conte ty Coletado (%) Cobertura (%) Norte 6.4 80,6 Nordeste 22,1 78,5 Centro-Oeste 82 93,7 Sudeste 52,6 94,3 Sul 10,7 90,8 Tabela 1: Participagao das regides brasileiras no total de RSU coletado em 2015. Fonte ABRELPE 2016 Claramente, a disposic4o adequada de RSU ainda é um grande problema, uma vez que existem mais de 3.300 municipios, com menos de dez mil habitantes com dispo- sigdo inadequada e sem condi¢ées técnicas e/ou econdmicas para resolvé-lo em um futuro proximo. Além disso, a PNRS estabeleceu que até agosto de 2014 fosse obriga- toria a destinacao adequada de res{duos. Isto significa que os residuos in natura nao poderiam ser eliminados sem tratamento prévio, tais como a redugio, reutilizagio, reciclagem e recuperagao antes do aterramento. No entanto, um forte movimento liderado por prefeitos foi apoiado pelo Congresso Brasileiro e a adogao da Lei foi adiada para 0 ano de 2017. 66 Goyernanga urbana e a recuperagdo energética de residuos solidos Felizmente, as tecnologias de conversio de energia poderiam contribuir para ajudar a minimizar 0 problema da eliminacao de RSU seguindo a nova politica, mas enfrentam algumas dificuldades significativas: + Os investimentos sao altos e os custos de geracao de eletrici- dade nao sio competitivos com as regras existentes no setor elé- trico brasileiro para a comercializagao de energia. Por exemplo, nos leilées organizados pelo Governo Federal as regras definem como obrigatério que os precos devam ser os mais baixos, sem considerar a localizago geografica nem as diferentes fontes de energia; « Ha uma rejeigo significativa da sociedade civil no que se refere ao medo dos impactos ambientais das instalagdes de incineragao € a0 receio de impactos sociais sobre os postos de trabalho dos catadores de materiais reciclaveis existentes. A primeira dificuldade j4 foi exaustivamente discutida em varios estudos, onde sao propostas politicas especiais para diversificar a matriz energética brasileira com a participacao da bioenergia (bioeletricidade) ambientalmente correta e gerada junto As regides de demanda, assim, reduzindo os custos de transmissao da malha interli- gada. A segunda dificuldade relacionada a rejeicdo pela sociedade civil é decorrente da falta de informacao adequada sobre os aspectos ambientais e sociais. Atualmente, hé tecnologias de conversio de energia para RSU instaladas no Bra- sil, especificamente no Estado de Sao Paulo, existem uma usina de incineragao de 30 MW no municipio de Sao Bernardo do Campo e 0 projeto em andamento do Con- sércio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (CIVAP) que utiliza o processo de gaseificacao para reduzir o volume de RSU. Tomando o Estado de S40 Paulo como exemplo, sao geradas 62 mil toneladas de RSU por dia ou quase 23 milhées de toneladas por ano. Todo esse rejeito recebe o mais variado destino final, ou seja, ele ¢ depositado no solo de formas diferentes. Parte segue para aterros sanitarios ou aterros controlados. O restante é disposto em locais a céu aberto, os chamados lixdes, e representam 7,9% dos residuos gerados ou o volume de quase 1,8 milhées de toneladas ano. Interessantemente, cerca de 40% dos municipios no estado de Sao Paulo possuem volume diario de RSU capaz de viabilizar a implantacao de usinas de recuperagio energética, pois geram acima de 12 toneladas por dia de RSU que ¢ 0 limite técnico -econémico para a implantacao de sistemas de gaseificacao. Porém, os demais 60% necessitam de solugdes consorciadas para acumular volumes acima do limite técni- co-econémico. De uma maneira geral, o RSU de um centro urbana apresenta uma composicao gravimétrica diferente ¢ por isso cada caso é um caso. Porém, algumas generalizagoes so possiveis caso as condi¢ées socioeconémicas forem iguais. Por exemplo, a com- posicao gravimétrica de um estudo sobre a avalia¢do comparativa entre tecnologias de aproveitamento energético de residuos sélidos financiando pela Agencia Nacional o7 PRISAN TOD Henieneen) Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente de Energia Elétrica (ANEEL)’ apresentou a seguinte composi¢io gravimétrica, apre- sentada na Tabela 2, baseada em um cenério onde nao acorre a coleta seletiva (GBIO, 2011). eee Cone ence tia | Papeis | 417% | | Papelées 414% Poliestireno (PS) 0,36% Polipropileno (PP) 0,81% i | Politereftalato de etileno (PET) 1,44% | | k t | \ | Polietilono de alta densidade (PEAD) 3,78% | Polietileno de baixa densidade (PEBD) 468% | f t | Cloreto de polivinila (PVC) 1,98% f Plastico “filme” e isopor } 5,40% Embalagens Longa-vida (Tetra Pak) 117% Borracha {| 0,27% Madeira e podas 3,69% Metais ferrosos } 117% ” Cédigo ANEEL: 0393-006/2011 68 Governanga urbana e a recuperagao energética de residuos sélidos Metais n&o-ferrosos 0,63% Vidros 1,26% Couro 0,27% ‘Tabela 2: Composigio gravimétrica em um cenario sem coleta seletiva. Fonte: GBIO, 2011 A Tabela 2 nao representa a realidade de todos os municipios brasileiros, mas apresenta um aspecto relevante relacionado a complexa composi¢ao do RSU. Outro aspecto importante que podemos perceber através deste estudo (GBIO, 201 1) éaca- pacidade de reintrodugio do material reciclavel nos processos produtivos por meio da reciclagem ou reuso. O estudo mostrou que tanto a reciclagem como 0 reuso ape- nas conseguem reduzir 20% do volume total do RSU (GBIO, 2011). Visando colaborar para a solucao do problema de RSU e a devida adequacao dos municipios (principalmente os pequenos e médios), apresentamos neste texto alguns estudos de viabilidade técnica e econémica, considerando trés estudos de caso es- pecificos. O primeiro se refere ao aproveitamento energético de residuos de satide, © que corresponde a um problema importante em termos ambientais; 0 segundo apresenta o caso do municipio de Itanhaém, localizado no litoral do Estado de Sao Paulo (regido que enfrenta dificuldades importantes para disposi¢ao do lixo, sendo necessario que os residuos sejam transportados em caminhao para aterros localiza- dos no planalto); o terceiro estudo apresenta 0 caso do consércio de intermunicipal do Vale do Paranapanema, localizado na regio sudoeste do Estado de Sao Paulo. Por fim, a partir desses resultados, apresenta-se um cendrio geral para os municipios de pequeno e médio porte no Estado de Sio Paulo, focalizando as sinergias entre as duas opgées (producao descentralizada de energia e contribuigao para o saneamento basico no pais). 1. Estudo de Caso: Residuos Sdlidos dos Servicos de Saide O servico de satide em estudado analisa um hospital de grande porte localizado em na cidade de Sao Paulo, o qual gera aproximadamente sete toneladas por dia de residuos. Dentre os diversos tipos gerados, tais como infectantes, nao recicliveis quimicos, foram desconsiderados 0s residuos reciclaveis por causa da possibilidade de reaproveitamento. Houve no hospital em questao o interesse em implantar um processo de trata- mento térmico dos residuos, e a partir de entéo passaram a ser estudados diversos equipamentos disponiveis no mercado. Com a implantagao deste processo, a inten- Ao é reduzir o volume de residuos destinados ao aterro sanitario apés esterilizacao, 69 i Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente desta forma, reduzindo tanto os riscos bem como os custos relacionados com esteri- lizagao e destinaao final. Oestudo de caso optou pelo tratamento térmico por gaseificacao a plasma devido A existéncia de dados reais sobre o rendimento do processo, no qual a redugao do vo- lume dos residuos apés tratamento pode chegar a 99%, reduzindo consideravelmente os custos de destinagao final. Para o estudo foram utilizados dados de avaliages econémicas detalhadas reali- zadas por Byun et al (2012), em uma usina de gaseificacao a plasma para tratamento de residuos s6lidos urbanos localizada em Cheongsong, Coreia do Sul, com capaci- dade de dez toneladas por dia. O custo total de construgao da usina foi de USD 3,9 milhées. Devido ao baixo volume de residuos tratados, a unidade de tratamento sul-core- ana nao gera gas de sintese (syngas) o suficiente para viabilidade de geragio de ener- gia elétrica. Portanto, a geragao de syngas possivelmente também sera baixa para o tratamento de sete toneladas por dia de residuos do hospital analisado. Desta forma, a utilizacdo mais vantajosa é a utilizacdo deste para geragao de agua quente, devido ao seu alto consumo em processos internos que demandam a queima de gas natu- ral para realizar o aquecimento da 4gua. Ao avaliar a viabilidade de implantagao do tratamento térmico de residuos de servicos de satide por gaseificagao a plasma no hospital estudado, conclui-se que nao hé beneficios econdmicos para volumes abaixo de 12 toneladas dias. Isto ocorre devido ao baixo volume de syngas gerado, ao baixo aproveitamento da capacidade do equipamento e ao grande investimento necessario para iniciar o projeto’, Considerando que, para que haja o investimento financeiro em novas tecnolo- gias, s4o necessdrias boas referéncias e inspirago em casos de sucesso, conclui-se que a aquisicao de uma tecnologia nova e ainda nao totalmente comprovada é remota. Acredita-se que, nos préximos anos, a gaseificagao por plasma evolua. As plantas em construgdo devem estar em operacao em poucos anos ¢ os problemas operacionais devem ser resolvidos para tornar esta tecnologia mais atraente. 2. Estudo de Caso: Residuos Sélidos Urbanos do Municipio de Itanhaém A escolha do municipio de Itanhaém, Sao Paulo, para a realizagao do estudo de caso foi devido a dois motivos. O primeiro é a grande dificuldade existente na gestio e gerenciamento dos residuos sélidos, principalmente nos municipios de pequeno e médio porte, uma vez que a PNRS estabeleceu prazos e exigéncias para a elaboracio de um plano de gestao integrada e, em geral, estes municipios nao possuem corpo *£ importante mencionar que por ser uma tecnologia relativamente recente com poucas unidades em funcionamento, nao h muitos estudos e referéncias bibliogrficas sobre implantacio de unidades de gaseificacao a plasma, principalmente relacionado a gaseificacao de residuos de servicos de satide. Dessa forma, nao hé confiabilidade de que a tecnologia seja ambientalmente correta. Sem a realizagao de testes alongo prazo, néo ha dados reais de monitoramento na saida de gases e nao se sabe a composicao destes. 70 Governanga urbana e a recuperagao energética de residuos sdlidos técnico especializado para fazé-lo. A segunda motivacao é baseada na distancia percorrida para a destinacao final dos residuos gerados em Itanhaém, 110 km até a sua disposicao final adequada, no planalto. Interessantemente, esta é a realidade da maioria dos municipios do litoral do Estado de Sao Paulo. Com relagao a escolha da tecnologia, 0 estudo de caso levou em consideragao algumas premissas como: + Geracio didria atual e projecdo futura para os préximos 20 anos; + Composigio gravimetria; + Restrigdes municipais, disseminagao e conhecimento da tecno- logia a ser escolhida; ¢ + Atendimento ao PNRS. Baseado nestes itens foram avaliadas as seguintes tecnologias de tratamento sendo: Aterros Sanitarios, Biodigestores, Incineradores, Pirdlise, Gaseificagio e Plasma. A melhor tecnologia a ser aplicada, com 0 aproveitamento energético para a geraco de energia elétrica, é a gaseificacao, principalmente pela baixa geracdo de residuos sélidos do municfpio, inviabilizando a implantacao de algumas tecnologias, além de questées de legislacdo, mao-de-obra qualificada e disponibilidade de verba do municipio. O municipio de Itanhaém gera diariamente 76 toneladas de residuos, sendo que, apos a triagem e remogao de parte da matéria organica para a compostagem, a quan- tidade final para o proceso de gaseificacdo ¢ de 67 toneladas por dia. Com todos os célculos elaborados pela conversao do residuo em syngas, conside- rando 25% de umidade, PCI? de baixo poder calorifico com a utilizagao de ar como agente gaseificante e rendimento de conversao de 70%, tem-se a produgao de mais de cinco mil metros cuibicos normais por hora de syngas. Este volume tem o potencial de suprir a necessidade de quase 19 mil habitantes ou 22% da populagao local. Des- ta forma, a recuperagao energética do RSU local tem o potencial de nao sé reduzir gastos com o transporte e destinacao final, mas também reduzir emissdes de gases causadores do efeito estufa. Vale ressalta a grande contribui¢ao deste tipo de tratamento com seu aprovei- tamento energético, uma vez que nao apresenta apenas solugdo para a questéo da disposi¢ao final, mas contribui para a geracao de energia elétrica alternativa de forma descentralizada. 3. Estudo de Caso: Consércio Intermunicipal do Vale do Paranapanema O Consorcio intermunicipal do Vale do Paranapanema (CIVAP) contara com a ? Poder Calorifico Inferior (PCI), isto é, a energia liberada na forma de calor. 7 (2h oe 3 Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente recepgao de residuos de 26 municipios localizados no sudoeste paulista, em um raio de 60 km da usina, sendo eles: Ourinhos, Assis, Palmital, Candido Mota, Marilia, Lu- técia, Paraguacu Paulista, Maracaf, Ribeirdo do Sul, Campos Novos Paulista, Platina, Salto Grande, Ibirarema, Andird, Cambard, Taruma, Bandeirantes, Oscar Bressane, Ocaucu, S40 Pedro do Turvo, Echapora, Pedrinha Paulista, Florinia, Santa Mariana, Santo Anténio da Platina e Jacarezinho, com uma populagio total entre os munici- pios de 783.244 habitantes conforme dados do IBGE 2014. O projeto a ser instalado, sera uma usina de beneficiamento do residuo para trans- formacao em CDR e uso futuro na unidade de tratamento térmico por gaseificagdo". O empreendimento proposto é dimensionado para um consumo dirio de 450 tone- ladas de RSU e capacidade instalada de eletricidade de 8,15 MW. O processo do tratamento e industrializa¢ao, seré feito em um local coberto, fe- chado, com piso impermeabilizado, dotado de recolhimento de efluentes liquidos e com controle da poluigdo atmosférica, obedecendo as etapas para a produgao de CDR os quais caracterizar-se-do de recebimento do RSU, pesagem, recepsao e veri- ficagao das conformidades e nao conformidades, separacao de metais, trituracao e homogeneiza¢ao, prensagem e reducdo da umidade, enfardamento, armazenamento para posterior utilizagao no processo de gaseifica¢ao. O CDR processado, seguir para a prensa enfardadora onde ser4 compactado e enfardado com umidade média de 12%, conforme. Os fardos terao aproximadamente 1,9 m? em volume e com peso médio de 1.600 Kg. O patio de matéria prima tera dimensio de 100.000 m? e possibilitara o armazenamento de aproximadamente 200.000 fardos. Todo 0 liquido gerado em todo o processo operacional de manuseio dos residuos e transformagéo dos mesmos em CDR, serd tratado dentro da area do empreendimento e transformado em agua de reuso. O CDR formado, sera destinado a moega de armazenamento para posterior uti- lizago nos silos alimentadores do gaseificador, a uma vazao missica de mais de oito toneladas por hora com PCI médio de 4.190 kcal/kg e 12 % de umidade. Dentro do reator, o CDR em contato com o leito fluidizado circulante, composto de silica a 850°C juntamente com o ar de processo proveniente dos sopradores, transforma-se em gas combustivel. Os produtos nao gaseificados no CDR, como produtos inertes e cinzas (8,8%), sio extrafdos pelo fundo do leito fluidizado, o qual esta sendo sustentado por uma gre- Iha. Juntamente com as cinzas, hé a extragao do sulfato de cilcio". O gés gerado no proceso de gaseificagao, possui um poder calorifico inferior entre 1.160 kcal/Nm* a 1.260 keal/Nm* com vazao volumétrica de 23.371 Nm*/h e massica de 26.094 kg/h. O particulado arrastado e os produtos clorados sao abatidos, por meio de adicio de cal na agua"? de processo utilizando lavadores tmido de circuito fechado tipo Ven- tury e scrubbers (lavadores), que compéem o sistema de limpeza dos gases. *° Em consonancia com as Resoluges CONAMA 316/02 e SMA 079/09. 4 Durante o processo de gaseificagao é necessério a adigao de calcério que permita 0 abatimento do enxofre desprendido no processo, evitando assim a formacao de sulfeto de hidrogénio (H2S) com pos- terior geracao de diéxido de enxofre (S02) na fase de combustao. ™ CaO + HCl = CaCl2 + H20 72 Governanga urbana e a recuperacao energética de residuos s6lidos © gis limpo e resfriado é enviado para uma caldeira de recuperagao, onde seré queimado em condigées estequiométricas para a liberacio de calor e produgao do va- por. A energia liberada no processo, ¢ suficiente para que possa ser produzido 35 to- neladas de vapor a 42 bar de pressdo e 420°C. O vapor ¢ introduzido em uma turbina a vapor de condensacio total, cujo sao necessarios 4,3 t/h para a geracao de 1 MWe. Para a operacao da Usina de gaseificacao serao necessarios 1,4 MW de potencia para acionamento dos motores e periféricos, sendo assim o empreendimento contaré com 6,7 MW para a comercializagao. 4, Conclusao Apesar do enorme desafio que representa a coleta e disposicéo adequada do RSU no pais, ainda nao se verifica uma percepcao adequada nem por parte da sociedade civil nem por parte dos governos em quaisquer niveis. Por sua vez, quando se discute a PNRS, o principal tema é a reciclagem e os catadores (como se o trabalho extrema- mente insalubre dos mesmos fosse a solucao final para os problemas sociais do pais). Entretanto, os estudos anteriormente desenvolvidos pelo GBIO em conjunto com a EMAE mostraram que em media apenas 20% dos residuos pode ser reciclado (inclu- sive por falta de mercado para muitos tipos de residuos) e, portanto, restam 80% dos RSU a serem adequadamente tratados antes de serem dispostos nos aterros, como preconiza a PNRS (GBIO, 2011). Neste contexto, o aproveitamento energético aparece como uma solugao comple- mentar a reciclagem. Ao contrério do que muitos pensam, a reciclagem é operacao fundamental e imprescindivel para o adequado processamento materiais destinados ao aproveitamento energético. E, como verificado neste texto, ela pode ser a solugdo para os pequenos e médios municipios (em separado ou em consércio, como ilus- trado aqui). Entretanto, as barreiras ainda permanecem, por varios motivos: «+ Falta de vontade politica dos atores envolvidos e por reduzida percepgio da gravidade do problema pela sociedade em geral + Falta de condigées financeiras, agravadas pela atual crise eco- némica por que passa o pais, ao longo destes anos + Falta de capacitacdo dos municipios, néo apenas para poder discutir com os interessados as intimeras propostas a eles apre- sentadas, e em seguida poder realizar a adequada selecdo, mas também para poder gerenciar todo 0 processo e prestar contas aos municipes Portanto, o envolvimento da academia é fundamental na solugao deste problema, nao apenas orientando os municipios quanto aos melhores procedimentos como também providenciando a adequada capacitacao técnica para realizar suas escolhas e gerenciar todo 0 process, antes, durante e apds a construgéo da planta. Esta 73 ~r Governanga Ambiental Global: Didlogos com Energia e Meio Ambiente importancia da universidade se confirma cada vez mais pelo fato de ser a mesma cada vez mais procurada de forma pontual pelos municipios a procura de orientacao. Todos estes aspectos sao fundamentais para tornar o conceito de governanga me- nos abstrato e se tornar um instrumento real de garantia de bem-estar urbano para a populacao. Referéncias ABRELPE. Panorama dos Residuos Sélidos no Brasil, 2015. Sao Paulo, 2016. ABNT - ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 10004:2004. Residuos Sélidos - Classificagéo. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BRASIL. Ministério da Satide. ANVISA. Manual de gerenciamento dos residuos de servicos de satide. Brasilia: Ministério da Satide, 2006. . Resolugao RDC n° 306, de 07 de dezembro de 2004. Ministério da Saide: Br: Brasilia, 2004. . Secretaria Executiva. Projeto Reforco 4 Reorganizacao do Sistema Unico de Satide (REFORSUS). Gerenciamento de residuos de servicos de satide. Brasilia, 2001. . Ministério de Minas e Energia. Balango Energético Nacional 2015. Brasilia:, Ministério de Minas e Energia, 2015. . Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Demanda de Energia - 2050. Rio de Janeiro, 2014. - Lei n° 12.305. Politica Nacional de Residuos Sélidos. Brasilia, 2010. . Ministério do Meio Ambiente. Resolugao CONAMA n° 358/2005. Brasilia, 2005. . Resolugéo CONAMA n° 237/97. Brasilia, 1997. BYUN, Youngchul; CHO, Mochyun; HWANG, Soon-Mo; CHUNG, Jaewoo. Thermal Plasma Gasification of Municipal Solid Waste (MSW). In: YONGSEUNG YUN (Org.). Gasification for Practical Applications. Austria: InTech, 2012. CARVALHAES, V.. Andlise do potencial energético de residuo sdlido urbano para conversio em processos termoquimicos de gaseificagio. Universidade de Brasilia - Titulo: Mestrado em Ciéncias Mecanicas. Brasilia, 2013. FEAM — Fundagao Estadual do Meio Ambiente. Estudo do estado da arte e anilise de viabilidade técnica, econdmica e ambiental da implantacao de uma usina de tratamento térmico de residuos sélidos urbanos com geracao de energia elétrica no estado de Minas Gerais. Relatério 1. 2. ed. Belo Horizonte, MG:FEAM,2010. GBIO. Avaliagéo de Ciclo de Vida (ACV) comparativa entre tecnologias de aproveitamento energético de residuos sélidos. Codigo ANEEL: 0393-006/2011. . Governanga urbana e a recuperacao energética de residuos sdlidos Sao Paulo.2011. GOLDEMBERG, J; et al. Avaliagao de ciclo de vida (ACV) comparativa entre tecnologia de aproveitamento energético de residuos sélidos. Projeto CENBIO - P&D EMAE/ANEEL - IEE (Instituto de Energia e Ambiente). Sio Paulo, 2013. GONGALVES, M. As et al. A destinagao final dos residuos sélidos urbanos: alternativas para a cidade de Sao Paulo através de casos de sucesso. Profuturo: Programa de Estudos do Futuro. So Paulo, 2013. ITANHAEM (Municipio). Plano de Gestdo Integrado de Residuos Sélidos do Municipio de Itanhaém/SP, Itanhaém, 2014. SAO PAULO (Estado). Decreto n° 8468 de 08 de setembro de 1976. Sao Paulo, 1976. SAO PAULO (Estado). Deliberagéo Normativa Consema n° 01/2014. Sao Paulo, 2014. SAO PAULO (Municipio). Lei n° 13478 de 30 de dezembro de 2002. Sao Paulo, 2002. 75 HMinnereens SAR IS

You might also like