You are on page 1of 12
tui 2 Kishimoto, TRUKO Morcha, 2 jogo + x silncoresn infant dds a0 Penlo 2 Peoreine | 1998- JOGO, BRINQUEDO E Existemtermos que, BRINCADEIRA | msccasuezsn ‘com significados diferen- tes, acabam se tornando mprecisos como 0 jogo, © brinquedo e a brinca- deira. A variedade de jo- gos conhecidos como faz-de-conta simbslicos, motores, sensério-motores, inte- Jectuais ou cognitivos, de exterior, de interior, individuais ou coletivos, metaféricos, verbais, de palavras, politicos, de adultos, de animais, de sao e inieros outros ‘mostra a multipicidade de fenémenos incluidos na categoria jogo. A perplexida- de aumenta quando observamos diferentes situagSes receberem a mesma deno- minagao. Denominam-se jogo, situagdes como disputar uma partida de xadrez, um {gato que empurra uma bola de Ia, um tabuleiro com pides ¢ uma erianga que brinca com boneca. Na partida de xadrez, ha regras extemas que orientam as ages de cada jogador. Tais agdes dependem, também, da estralégia do adversério. Entretanto, ‘nunca se tema certeza do lance que serd dado em cada passo do jogo. Esse tipo de jogo serve para entreter amigos em momentos de lazer, situagio na qual predo- ‘mina o prazer, a vontade de cada um participarlivremente da partida. Em disputa entre profissionais, dois parceiros nao jogam pelo prazer ou pela vontade de 0 fazer, mas sZo_obrigados por circunstincias como 0 trabalho ou a competicao cesportiva, Nesse caso, pode-se chamé-lo de jogo? > i 2 ©1000 €AEDUCAGAO INFANT iw 7 0 gato que rola uma bola tem 0 comportamento igual ao de uma crianga que brinca com a bola? Enquanto a crianga tem consciéncia de seus atos, escolhe deliberadamente brincar, ou no, no caso do gato nfo seriam os instintos biolbgi- os do animal os estimulantes da. ago de rolar a bola’ Pode-seafirmar que 0 jogo do animal é semelhante ao jogo infantil? {Um tabuleiro com pies é um brinquedo quando usado para fins de brinca- aprendizagem de nimeros? fi brinquedo ou niaterial pedagépioo? Da mesma forma um tabuleiro de xadrez feito de material nobre como o cobre ou mirmore, exposto como objeto de decorago, teria o significado de jogo? ‘A boneca é um brinquedo para uma crianga que brinca de “filhinba”, mas ‘para certas tribos indigenas, conforme (pesquisas etnogrificas) é simbolo de di- vindade, objeto de addoragao. serene ‘A variedade de fertmenos considerados como jogo mostra a complexidade dda tarefa de defini-lo. Sey «A dificuldade aumenta quando se percebe que um mesmo comportamento “ie. pode ser visto como jogo ou nio-jogo. Se para um observador externo a ago da fF ctianga indigena que se divert atirando com arco eflecha em pequenos animais uma brincadera, para. a comunidad indjgena nada mais é que uma forma de preparo para a arte da caga necesséria& subsisténcia da tribo. Assim, atirar com arco eeflecha, para uns, é jogo, para outros, é preparo profissional. Uma mesma con-| =| dutapode ser jose ou ndo-jogo, em diferentes culturas, dependendo do significa: do a elaatribuido. 2 ttgenstein, em Investigagdes Filaséficas (1975), mostra que o mesmo nome jogo déniomina coisas muito diferentes. O autor fala em parentesco entre eles: - efiro-me a jogos de tabuleiro, de cartas, de bola, tomeios esportivos etc... 0 que é comum a todos eles? Nao diga: ‘Algo deve ser comum a eles, sendo ndo se chamariam ‘jogos' — mas veja se algo é comum a todos. — Pois, se vocé os cantemplar, ndo verd na verdade algo que seja comum a todos, mas verd seme- hangs. parentescas, e até toda uma série deles. Como disse: no pense, mas veja! — Considere, por exemplo, os jogos de tabuleiro, com seus miitiplos pa- rentescos. Agora passe para os jogos de cartas: aqui vocé encontra muitas cor- respondéncias com aqueles da primeira classe, mas muitos tragos comuns desa- Parecem e outros surgem. Se passarmos aos jogos de bola, muita coisa comum se conserva, mas muitos se perdem. — Sao todos ‘recreativos'? Compare o xadrez como jogo da amarelinha Hé'em todos um gankar e um perder ou uma concor- réncia entre os jogadores? Pense nas paciéncias. Nos jogos de bola hd um ga- 4000, BRINQUEDO E BAINCADEIRA 3 hare wm perder mas se acrianca aia bola na parede ea apanha outa ves tste trago desaparece. Veja que papéis desempenham a habildade ea sorte, E como é diferente a habilidade no xadrez e no ténis. Pense agora nos brinquedos de roda: o elemento de divertimento esd presente, mas quanto dos outro tra- 08 caracteristcosdesaparecem!eassim podemas percorrer muitos, muitos ot- tros grupos de jogos ever semelhancassurgrem e desaparecerem. Eno este € 0 resultado desta consideragdo: vemos uma rede complicada de semelhangas, que se envolvem e se eruzam mutuamente, Semelhancas de con- Junto e de pormenor.(§ 66) ‘Nao posso caracterizar melhor esas semelhangas do que com a expresso ‘e- methangas de familia’, pois assim se envolvem e se erdeam as diferentes seme- Ihangas qu existementreos membros de ua fai: estatura, tragosfsiondmicos, cor dos olhos, o andar, o temperament, et, etc. —E digo: 0s jogos formam uma familia.” (pp. 42-43, § 67) No texto acima,|Wittgensteinl mostra a dificuldade para se compreender 0 jogo, uma vez que significados distintos sio aribuidos ao mesmo termo. Para 0 fil6sofo, que questiona.alégica da linguagem, certas palavras s6 adquirem signi- ficado preciso quando interpretados dentro do contexto em que slo utilizados. (Por pertencer a uma grande familia com semethancas ¢ diferengas 0 termo jogo ‘apresenta caracteristicas comuns e especificidades J Dentro da variedade de signi- ficados, sio as semelhangas, que permitem classificar jogos de faz-de-conta, de construgao, de regras, de palavras, politicos e inkimeros outros, na grande familia, denominada jogos. /Para se compreender a natureza do jogo, é preciso, antes de tudo, identificar caracteristicas comuns que permitem. classificarsituagdes entendidas como jogo nessa grande familia, em seguida, precisardiferenciagdes que permitem 0 aparecimento de suas espécies (faz-de-conta,constugio c-YA analogia entre 0 Jogo € a familia proposta por Wittgenstein, failita a compreensio deste tema, CARACTERISTICAS DO JOGO z Entre os autores que discutem a natureza do jogo, suas caracteristicas ou, como diz Wittgenstein, “semel Gi lia”, encontram-se Caillois (1967), Huizinga (1951), Henri (1989), mais recentemente, Fromberg (1987) ¢ Christe T1991ae 1991b).) args Ao descrevé-lo como elemento da cultura) Huizinga (1951, pp. 31) exclui [gsi a EA ere prazer demonstrado pela jogador, o cariter “no-sério” da acdo, a liberdade do hue 48) (0000 € AEDUCAGKO INFANT, {ogo e sua separagio dos fendmenos do cotiiano, a exsténcia de repr, 0 cari- ter ficticio ou representativo e a Jimitarc.da jogo no tempo e no espaso,) [Embora predomine, na maioria das situagdes, o prazer como distintivo do jogo, hi casos em quejo desprazer¥ o elemento que caracteriza a situagio lidica. + Vygotski é um dos que afirmam que’nem sempre o jogo possui essa caracteristica porque em.certos casos hi esforgoedesprazer na busca doDNjtvo da brncadei- ra/A psicandlise também acrescenta 0 desprazer como Consttutivo do jogo, es- ppecialmente ao demonstrar como a crianga representa, em processos catirticos, situagdes estremamente dolorosas. >) [0 caratér “nio-sério” apontado por Huizinga no implica que a brincadeira infantil deixe de ser séria{ Quando a crianga brinca ela o faz de modo bastante ‘compenetrado, A pouca seriedade a que faz referéncia esté mais relacionada 20 ‘bmico, 20 iso, que acompanha, na maioria das vezes, 0 ato lidico, e se contra- _p6e ao trabalho, considerado atividade séra, a + {Ao postular a natureza livre do jogo, !uizingajo coloca como atividade volun do ser umano| Sena orbs, dexa de jog. 86 ¢ jogo quando 4 ago voluntéria do ser humano esti presente. Quando brinca, a crianca est tomando uma certa distincia da vida cotidiana, esta no mundo imaginatio” ~ ce Embora Huizinga ndo aprofunde essa questdo, ela merecerd a atengio de psicélogos que discutem o papel do jogo na construc da representagao mental eda realidade, {J existéncia de egras em todos 0s jogos ¢ uma caractritica marcante/ Hi rerasexplcitas como no xadrez ov amazelinhabem como regrasimplcitas como nabrincadeira de faz-de-conta,em que a menina se faz passr pela mie que cuida de sua filha. Nessa atividade sto regras intemas, ocultas, que ordenam e condu- zema brincadei F) [Finalmente todo jogo tem suaexisténcia em um tempo e espago|FH4 no s6 ‘a questiio da localizagio hist6rica ¢ geogréfica, mas também uma seqiiéncia na propria brincadeira. Os lances dados numa partida de xadrez ndo podem ser in- Yes, et ores jogo eatery ——— °°) Seguindo quase amesmaorientago dé Huizinga, Caillois (1967, pp. 42-43)> aponta as seguintes caracteristias do jogo4aliberdade de agio do jogador, a separago do jogo em limites de espago e tempo, a incerteza que predomina, 0 carter improdutivo de ni criar nem bens nem riqueza e suas tegras] ‘Umnovo elemento introduzido pelo autor a natureza improdutiva dojog0) Entende-se que o jogo, por ser uma ago voluntéria da ct um fim em si ‘mesmo, nao pode criar nada, ndo visa a um resultado fis jue img processo em si de brincar que a crianga se impde) Quando ela brinca nao esta preocupada com a aquisigao de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer 44060, BRINQUEDO E BAINCADEIRA 5 habilidade mental ov fisica, Essa andlise de Caillois receberd, em outro capitulo, novaiinterpretagdo, visando complementé-la, quando aescola se apropria do jogo para educar a crianga, Da mesma forma, a incerteza presente em toda conduta lidica é outro ponto que merece destaque.jNo jogo, nunca se tem o conhegimen- toprévio dos rumos da ago do jogador,/ incerteza esti sempre presente/A ago do jogador depended, sempre, de fatores internos, de motivagSes pessoais bem” como de estimulos extemos, conduta de outros parceiros. / Preocupado em “explicaro jogo fenror (1989) acompania o raciocinio de Wittgenstein e identifica, dentro da multiplicidade de concepgSes sobre 0 jogo, 0 cixo.comum que as unem [odo e qualquer jogo se diferencia de outras condu- tas por uma atitude mental caracteizada pelo distanciamento da situago, pela incereza ds resultados, pela auséncia de obrigago em seu engajamento Desta\ forma, 0 jogo supe uma situagdo concreta e um sujeito que age de acordo com cla. Portanto, para se ter i. dimensfo completa do jogo, & preciso analisar dois elementos: a situago concreta, observivel, compreendida como jogo e, aatitude * mental do sujeito, envolvido na atividade|Nem sempre, a conduta observada por tum pesquisador é jogo, uma vez.que se pode manfestar um comportamento que, ‘extemamente, tem a semelhanga de jogo, mas nio est presente a motivago {ntema para o lddicoE preciso, também, estar em perfeita simbiose com o joga- ddr para identificar, em sua atitude, 0 envolvimento no jogo, “Muitas vezes, ao observar brincadeiras infantis, 0 pesquisador se depara com situagbes em que a crianga manifesta a mesma conduta e diz: “agora eu no estou brincando”, mas, logo em seguida, entra na brincadeira.{O que diferencia 6 primeico momento (ndo brincar) do segundo (brincar), €aintengao da crianga.) Esse fato mostra a grande dificuldade de realizar pesquisas empiticas sobre 0 jogo. ee Mais recentemente, Christie (1991b, p. 4}rediscute as caractefstcas do {jogo infantil, apontando pesquisas atuais que o distinguem de outros tipos de ‘comportamentos. Utilizando estudos de Garvey, 1977; King, 1979; Rubin e ou- iros, 1983; Smith e Vollsted, 1985, a autora elabora os seguintes critérios para identifiar tragos que distinguem 0 jogo: 1 amioJiteralidade —as sinuagdes de jogo caracterizam-se porum quadro no ‘qual a realidade interna predomina sobre a externa. O sentido habitual E ignorado por um novo. So exemplos de situagdes em que o sentido no é literal: 0 ursinho de pelicia servir como filhinho ea crianga imitar 0 imo que chora; 2. efeito positive — o jogo & normalmente caracterizado pelos signos do prazer ou da alegria, Ente os sinais que exteriorizam a presenca do jogo 6 (0v000 A EOUCAGAO INFANT, esto os sorrisos. Quando brinca livremente e se satisfaz, nessa agi crianga o demonstra por meio do sorriso. Esse processo traz intimeros efeitos postivos na dominfncia corporal, morale social da crianga; JP) 3.flexibilidade —as criangas esto mais dispostas a ensaiar novas combi- ~~ nagiies de idéias e de comportamentos em situagdes de jogo que em ou- ts atividadesnio-eereativas. Estudos como os de Brunet (1976) de- ‘monstram a importincia do jogo para a exploragao. A auséncia de pres- sfo do ambiente cria um clima propicio para investigagdes necessérias & solugto de problemas. Assim, brncar leva a cvianga a tomate mais fle- xivel e buscar alternativas de ago; 4, prioridade do processo de brincar — enquanto a crianga brinca, sua atengiio esta concentrada na atividade em si e néio em seus resultados ou welts | jog 36 6 ogo qua a cng pena apie bnee]O \Gogo educativo uilizado em “sito ao dag dades; 10) 5. livre escatha —f jogo s6 pode ser jogo quando selecionado livre e espon- taneamente pela crianga. Caso contrério,é trabalho ou ensino; 6 controle interno — no jogo, sio os proprios jogadores que determinam © desenvolvimento dos acontecimentos. Quando o professor utiliza um {jogo educativo em sala de aula, de modo coercitivo, no permitindo li- berdade ao aluno, ni hi controle interno] Predomina,nesse caso, 0 en- sino, a ditego do professor, / cconfiaveis do jogo podem ser encontrados nas quatro primeiras caracteristic ~~ Rio-literalidade, o efeito posi ivo, a flexibilidade e a finalidade em si. Para: liar pesquisadores na tarefa de discriminar se os professores concebem ativi escolares como jogo ou trabalho, as dois diltimos so os mais indicados, [Se a atividade nfo for de livre escolha.e seu desenvolvimento nio depender da propria crianga, ndo se tem jogo, mas trabalho)J4 existem estudos no Brasil, como 0 de ‘Costas (1991), que demonstram que as criangas coneebem como jogo somente aquelas atividades iniciadas e mantidas por elas} Para Fromberg (1987, p. 36), 0 jogo infantil inclui as seguintes caracteristi- cas: simbolismo, ao representar a realidade e atitudes; significago, uma vez que permite relacionar ou expressar experi tividade, ao permitir que a crian- ‘ga faga coisas; voluntario ou intrinsecamente motivado, ao incorporar seus motivos e interesses; regrado, de modo implicito ou explicito; e episédico, ca- racterizado por metas desenvolvidas espontaneamente. ‘Gegundo Christie (1991b, p. 5)Dos indicadores mais tes ¢ relativamente 4060, BRINQUEDO E BRINCADEIRA 7 Em sintese, excetuando os jogos dos animais que apresentam peculiarida- des que nio foram analisadas, 05 autores assinalam pontos comuns como ele- ‘mentos que interligam a grande familia dos jogos: liberdade de aglo do jogador ~ (0 0 cariter voluntirio e epis6dico da agi lidica;o pe (2, © ‘ “nig-si0" ou 0 efeito postivoy/as regras (implicitas ou explicita); hrelevnc «do processo de brincar (0 carter improdutivo), a incerteza de nfo lteralidade ou arepresentacio da realidade, a imaginagao ga contextualizaga0 no tempo ¢ no espago, Sto tas caractefstcas que permitem identificar os fend- ‘menos que pertencem 3 grande familia dos jogos. 2 SIGNIFICADOS USUAIS DOS TERMOS: JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA (O que oferece dificuldade para a conceituacio de jogo & 0 emprego de vi- tios termos como sinénimos, Jogo, brinquedo e brincadeira tém sido utilizados com 0 mesmo significado No Brasil, estudos {le Bomiempo, lussein e Zamberlain (1986), Oliveira (1984) e fRosamitha (1979)apontam para a indiferenciagdo no emprego de tais ‘termos. Segundo o diciondirio Aurélio (Holanda, 1983, p. 228), o termo brinque- do pode significar indistintamente objeto que serve para as criangas brincar; {jogo de criangas e brincadeiras. O sentido usual permite que a ingua portugue- ‘sa referende os trés termos como sindnimos. Essa situagdo reflete o pouco avan- go dos estudos na rea. ~— Darn evar est indfereciago neste abalhoornguedder entenido ) (/ sempre como objeto, suporte de brineadeirabrincadeirajcomo a descrigho | deuma conduta estruturada, com regrasé jogo infantiljpara designar tanto \, 0 objeto e as regras do jogo da crianea. (brinquedo e brincadeiras). = —“ ‘Dar-se-4 preferéncia ao emprego do termo jogo, quando se referir a uma descrigio de uma ago Iidica envolvendo situagSes estruturadas pelo préprio tipo de material como no xadrez, triha e dominé. Os brinquedos podem ser utilizados de diferentes maneias pela prépria crianga, mas jogos como o xadrez (tabuleiros, pegas) trazem regras estruturadas extemas que definem a situagio Iddica. ‘Segundo a definigdo de Beart (apucl Campagne, 1989, p. 28),0 o bringueda)) €0 suporte da brincadeira, quer seja concreto ou ideolégico, coneebido simplesmente utilizado como tal ou mesmo puramente fortuito. __— ‘Essa definicdo, bastante completa, incorpora nfio s6 brinquedos criados pelo ‘mundo adulto, concebidos especialmente para brincadeiras infantis, como os que 8 (0060 € & EDUCAGAO INFANT. |aprépria crianca produza partir de qualquer material ou invested sentido lidico. No iim caso, colheres, pratos e panelas tém servido como suporte de brinca- | deira, adquirindo 0 sentido lidico, representando, por exemplo, instrumentos -musicais, pente, entre outros. Brougére (1981), em trabalho denominado Le jowet ou la production de Venfance, mostra que brinquedos construidos especialmente para a crianga 56 snezeadquirem o sentido lidico quando funcionam como suporte de brincadeira. Caso J, Contrrio, no passam de objetos/E a fungao lidica| que atrbui o estatuto de ‘1 brinquedo a9 objeto fabricado pela indstria de brinquedo ou a qualquer outro | objeto,Se uma casa de boneca é objeto decorativo em sala de jantar, disposta em leas propria de una nsttvigo infant, fncona como objeto sible, cstimulante de brincadeira para criangas, especialmente de 3 a 4 anos. E possivel entender o brinquedo em outra dimensio, como objeto cultu- ral. Segundo Jaulin (1979, p. 5), 0 brinquedo nao pode ser isolado da sociedade 1] que 0 criou e reveste-se de elementos culturais e teenol6gicos do contexto hist6- rico social. Estudos como o de Oliveira (1986) mostram o brinquedo nessa pers- pectiva. utra vertente que explora o brinquedo provém de estudos histsricos. O ineresse em conhecer a origem ea evolugio de brinquedos jogos antigos como 4 boneca, a pipa ou o pido merecem alguns esclarecimentos. Granje (in Jaulin, 1979, pp. 224-276) mostra a impossibilidade de escrever |\a historia do bri {focalizando a pesquisa sobre um objeto ou todos os “ObjefOs pertencentes a essa categoria, estudando circunstincias e variages se- gundo o tempo ¢ o lugar. A semelhanga do jogo, o brinquedo nao pertence a uma ‘categoria nica de objetos, Com vérias manifestagées,existéncia efémera, como fazer séries histéricas de milénios de brinquedos confeccionados com matetiais pereciveis, esquecidos, como raminhos, seixos raizes, vegeta, castanhas e espi- ‘828? Essa historia deveria incorporar também objetos do mundo doméstico que passam a ter o sentido de brinquedo quando a fungio idica sobre eles incide. A ‘caneta enquanto preenche sua fungdo usual € apenas um objeto, Passa a ser brin- quedo quando a crianga utiliza com outro significado (colher, pene). Apesar da dificuldade de estudos de natureza hist6rica, destacam-se pesqui- sas sobre a boneca, por sua caracteristica antropomirfiea. Os vaios registros encontrados ein diversas culturastém se consttuido em material para andlise de lum grupo internacional de pesquisadores Para Grane (in Jaulin, 1979, p. 268), bringuedo conotaerianga{O brin- quedo tem sempre como referéncia a crianga e nao se confunde com a mirfade de Significados que o termo jogo assume) A histéria do brinquedo s6 pode ser » em eset liga com a hstria da erang. (avango de pesquisas acerca da 460, BRINQUEDO E BRINCADEIRA 9 imagem da crianga em diferentes culturas mostra como os historiadores estio ampliando seu objeto de estudo atingindo a crianga, seus brinquedos ¢ jogos. Se, «em tempos passados, os historiadores nao se detinham nas descrigGes de brinca- deiras infantis, hoje a situaglo se alterou com a multiplicago de pesquisadores interessadios no tema. Divergindo do brinquedo e da brincadeira, como jé foi visto o jogo por sual) amplitude 86 se explicita dentro do contexto em que é utilizado. Neste trabalho i foco de atengao privilegiaréo jogo infantil Por ser uma categoria, com propriedades amplas que assumem significados dlistintos, o jogo foi estudado pochistoriadores Huizinga, Calli, Arts, Margolin, Manson, Jobe), ésatas( Arsttees, Plato, Schiller, Dewey), lingistas( Cazden, Vygotski, Weir) antsopSlogos( Bateson, Schwartzmai, Sutton-Smith, Henrot,, Brougkre), psiélogos (Bruner, Jolly e Sylva, Fein, Freud, Piaget) e edueadores (Chateau, Vial, Alain) Entre as vitias perspectivas de andlise do jogo, no campo da Histéria, a iconografide tempos passados mostra muito mais ametéfora do que arepresen- Taco do real. Pintores do passado retratam a imagem de fragilidade propiciada plas brincadeiras com bolhas de sabiio que se espatifam no ar pela ago das criangas ou a vaidade estampada em cenas de criangas portando seus brinquedos. utras apontam o cater de pouca seriedade ricularizando figuras politicas da €poca por meio de bonecos. ¢——Apoiando-se sobre uma imagem negativa da crianga, os jogos eram utiliza- dos pelos adultos nas caricaturas poiticas,divulgando a imagem de frivolidade e ridiculo, Mais raras sio as gravuras como a de Bruegel, que mostram em toda sua ( variedade os jogos tradicionais infants presentes nos tempos passados. Atwalmente, especialmente no campo da educagio infantil, a perspectiva que predomina é a evolutiva, Psic6logos tém dado grande atengo a0 papel do | jogo na constituigio das representacSes mentais ¢ seus efeitos no desenvolvi- | to da crianca, especialmente da faixa de 0a 6 anos de idadé)Muitos estudos de natureza metafGrica explicitam, também, jogos para criangas de outras faixas etdrias. Por envolver relagdes abstratas, analogias, jogos matemiticos e fisicos ue fazem comparagdes metaféricas sio adequados, geralmente, para criangas com mais idade. Por exemplo, é possivel ensinar cetas equagées mateméticas como a=b; 2a=2b, X= por meio de uma balanga com objetos com 0 mesmo peso. Assim, pode-se dizer que objetos diferentes mas com 0 mesmo peso sto ‘guais e, quando se aumenta um deles, ¢ necessério aumentar 0 outro. O jogo permite visualizar concretamente a equacio matemitica em que se postula que X € igual a ¥, ou que A ¢ igual a B. Desta forma, pela brincadeira com balangas, a tianga estéaprendendo equagdes matemiticas,realizando comparagées, analogias. 10 (0060 € A EDUCAGAG INFANT. [Estudos de naturezacnogrifica procuram explicitar 0 jogo infantil dentro | de cada cultura, investigandoo coidiano da erianga. Partiarios de teorias antropol6gicase fenomenoldgicas, como Hentiot (1989) Brougére (1981), emitem conceitos de ogo de acordo como fendmeno e 0 uso que se faz dele] Historiadores, como Jolibert (1981), Arits (1978) e Margolin (1982), propsem oestudo do mesmo a patirda imagem que cada contexto forma daca Fil6sofos ¢ psicélog08 também apresentam concepebes diversas de jogo infantil. Para uns, 0 jogo representa a possibilidade de eliminar o excess de teneriarepresado na crianga (Spencer). Para outros, prepara acrianga para vida « furura (Gross) ou, ainda, representa um instnto herdado do passado (Stanley- Hall) ov = clemento fundamental para o equi lo soso tian. a Je, Erikson, Winicot Ente representantes dapsicolo login: ° 0 ca ‘assume os seguintes signficados: para Wallon (1981), € uma forma de infragio do cotidiano e suas normas. Bauaer (1976) tem interpretagao ssemelhante a atibuir ao ato hdico.o poder de eriar situag®es exploratstias pro- picias para a solugdo de problemas. }ygotski (1988) ¢ Elkonin (1984)entendem [24a brincadeira como uma si imaginaria criada pelo contato da crianga com Lg situago imagindria criada pelo contato da eraga ArBalidade sogPiaget (1976) tendo como principio basco a nogao de equilibragao ‘como iiécanismo adaptativo da espécie, admite a predomindncia na brincadeira, ‘de comportamentos de assimilagao sobre a acomodacdo. Navdrea da educagio, teéricos como Chateau (1979), Vial (1981) e Alain (1986) assinalam a importancia do jogo infantil como recurso para educar e de- senvolver a crianga, desde que respeitadas as caracterfstcas da atividade Idica. _~ Tif (1986) classifica as definigdes do jogo em dua categorias metodol6gicas: as que descrevem manifestagdes externas com uma andlse superficial dos pro- cess0s internos do animal ou ser humano, crianga, adolescente ov adulto, primi tivas ou contemportineas e as que uilizam as manifestagGes extemas paraexplicitar (0s processos interns. [-~ Para.as eorias externalistas, as concepedes do jogo aparecem como dispén- io deenergia isica| ‘como meio de preparago para a Vida adulta, como imitagi0 Ida vida e das aividades do adulto ou, ainda, como distragao. Tas propostas sio criticadas por Millar (apud Trifu, 1986, p. 227), uma vez.que apontam apenas a auséncia de pesquisas na érea ou cuidam de aplicagées prticas ou, mesmo, tra- {am superficialmente os processos intemos relacionados com a atividade lidica. ‘As teorias que discutem os processos interno relacionados com o compor- ‘tamento lidico focalizam 0 jogo como representagio de um objeto. Etre seus representantes estio Piaget, Vygotski, Freud, “Calla Hzing, Ta estudos, a0 considerarem a realidade interna (representagdo), ¢ 0 ambiente externo (papkis, # 4060, BAINQUEDO E BANCADEIRA " “objetos, valores, pressses, movimentos et.) permitem uma determinagdo tecri- cca mais completa ‘Para Trifu, o jogo é uma realidade mével que se metamorfoseia conforme a Tealidade ea perspectiva do observadore do jogador. Por tais razdes 6 necessrio considerar 0 contexto no qual esté presente o fenémeno, ele que co significado atrib O JOGO NAEDUCAGAO Mois ies pe sistem entre educadores ue procuram associar 0 jogo deducagdo: shi di. ferenga entre 0 jogo e 0 ‘material pedagégico, se © jogo educativo empre- /gado em sala de aula € realmente jogo e se o jogo tem um fim em si mesmo ou é ‘um meio para alcangar objetivos. A aradativa percepedo de que a manipulagdo de objetos facilita a aquisigio de conceitos introduz a pratica de materia concretos subsidiarem a tarefa do- cente, Em decorréncia, multiplicam-se experiéncias nas quais cordées so em- pregados para representarelipses hipérboles, a construgzo de um sistema arti culado tem como suporte brinquedos de construgio tipo Meccano, formas geo- rigiricas sio construidas com auxilio de pranchas da Gattegno guamecidas com Pontos sobre os quais se prendem elistcos,réguas de Cuisenaire so empregadas para facilitar a compreensdo do niimero, blocos légicos servem para ilustrar a ‘matemiética de conjuntos e quebra-cabegas e jogos de encaixe destinam-se 20 desenvolvimento da atengio, percepcio e habilidades intelectuais e motoras.. ‘Tais experiéncias sio exemplos de jogos ou materiais pedagégicos? E a Pergunta que se colocam professores sobretudo os de educagio infantil, ‘As dividas parecem localizar-se na substituigao de antigos materiais didét- ‘cos como mapa mundi, livros e catazes por objetos conhecidos por brinquedos (Jogos da Meccano, quebra-cabecas). Deeg ES pense g ! 4 (04000 A EDUCAGAO INFANT, [Se brinquedos so sempre suportes de brincadeiras, sua utilizaglo deveria ctiar momentos lidicos de livre exploragdo, nos quais prevalece a incerteza do ato e nao se buscam resultados} Porém, se os mesmos objetos server como aux; liar da agdo docente, buscam-se resultados em relagio a aprendizagem de concei tos e nogdes ou, mesmo, a0 desenvolvimento de algumas habilidades, caso, o objeto conhecido como brinquesdo no realiza sua fungéolidica,defxa de ser brinquedo para tomar-se material pedagégica, Umi iiesmo objeto pode ad- ‘quirir dois sentidos conforme.o.contexto em que se utiliza: brinquedo ou material Pedagogico. ) uso de brinquedos ¢ jogos destinados a criar situagdes de brincadeiras em sala de aula nem sempre foi aceito. Conforme a visio que o adulto tem da crianga da instituigdo infantil, o jogo torna-se marginalizado, Se a crianga é vista como ‘um ser que deve ser apenas disciplinado para sen conhecimentos em insttuigGes de ensino académico, ndo se aceta o jogo, Entende-se que, se aesco- latem objetivos a atingire o aluno a tarefa de adquiri conheecimentos ¢ habilida- des, qualquer atividade por ele realizada na escola visa sempre a um resultado, & uma ago dirigida orentada pra a busca de inalidades pedagépicas, O empre- z0de um jogo em sala de aula necessariamente se transforma em (um meio)para arealizagdo daqueles objetivos [Portanto, o jogo entendido como agio livre, ten- do um fim em si mesmo, iniciado € mantido pelo aluno, pelo simples prazer de jogar, ndo encontraria lugarna escola, Sio tas ponderagSes que tém aquecido as discusses em tomo da apropriagdo do jogo pela escola e, especialmente, 0 jogo educativo. ‘Ao incorporaro jogo a sua dea, a prética pedagdgica cra a figura do jogo ‘educativo. Como surgiu e evoluiu essa nogio? 7G sete h JOGO EDUCATIVO ois interessantes trabalhos detalham a histéria dos jogos educativos, mos- trando seu aparecimento e precisando o significado atribuido ao termo. Rabecg- Maillard, Histoire dos Jeux Educatifs (1969) mostra 0 gradual aparecimento dos jogos educativos na histéria ocidental, a partir do século XVI, ¢ Brougtre, La rnotion de Jeu Educatif dans l'école maternelle francaise au debut du XXéme sidcle (1987), a penetragao da idgia do jogo educativo na escola maternal fran- esa. Embora Rabecq-Maillard aponte o século XVI como o contexto em que surge 0 jogo educativo, 0s primeiros estudos em tomo do mesmo situam-se na Roma e Grécia antigas. rite (0,060 NA EDUCAGAO 15 Piatio, em Les Lois (1948), comenta a importancia do. “aprender brincan- do”, em oposigao 2 utilizagao da violéncia e da repressio.)Da mesma forma, Aristteles sugere, para a educagdo de criangas pequenas, 0 uso de jogos que imitem atividades sérias, de ocupagies adultas, como forma de'preparo para a vida futura. Mas, nessa época, ainda ndo ge discute 0 emprego do jogo como recurso para o ensino da letura e do célculo, Entre os romanos, jogos destinados ao preparo fisico voltam-se para a for- magi de soldados ¢ cidadios obedientes e devotos e a influéncia grega acres- ‘centa-hes cultura fisica, formacdo estética eespiritual. ‘O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horacio e Quintiliano, que se referem presenca de pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma, destinadas ao aprendizado das letras. A pritica de aliar 0 jogo aos primeiros estudos parece justticar 0 nome de Iudus atribuido as escolas responséveis pela instrugo elementar,semelhante aos locais destinados a espe- téculos ea pritica de exercicios de fortalecimento do corpo e do espitto (Kishimoto, 1990, pp. 39-40). eras [Dimteresse pelo jogo deeresce com 0 advento do Cristinismo, a poderosa “~~ sociedade cris que toma posse do Império desorganizado e impe uma educa fo disciplinadora/ Escolas episcopais e anexas a mosteiros impdem dogmas ¢ ve distanciam-se volvimento da inteligéncia. Os mestres recitam ligdes € ae Jem cademos. Aos alunos resta a memorizagao e a obediéncia, Nest clima nio f° hd condigoes para a expansio dos jogos, considerados delituosos, a semelhanga da prosttuigao e embriaguez) og aparecimento de fig¥0s ideais tr outras concepybes pedagégicas que’“"4. reabilitam o jogo. Durante 6 Renasciniento,>a feicidade terrestre, considerada ~ legttima, nfo exige a mortficago do Corpo, mas seu desenvolvimento, Desta = Si« forma, a partir do momento em que o jogo dexa de ser objeto de eprovagio “py oficial, incorpora-se no cotidiano de jovens, no como diversio, mas comoten- | “y prinefpios de Rousseau, Pestalozzi € Foca sa 2 0 j0g0, vie entendido como abjeto eagao de brincar, caractezadopeTaiberdadee es y? neidade, passa a fazer parte dahistéria da educ Manipulandve brin- 4 cando com materiais como se cilindros, montando e desmontando cubos, a ‘\ crianga estabelece relagées matemidticas ¢ adquire conhecimentos de Fisica € 4°. . Metafisica, além de desenvolver nogées estéticas. Embora Froebel, em sua teo- £5 fia, enfatize 0 jogo live como importante para o desenvolvimento infantil, mes- % — moassim introduz.a idéia de materiais educativos, os dons, como recursos auxi- Y liars necessiros & aquiscSo de conhecimento, como meio de instrugio,) (0,000 € A EDUCAGAO INFANTIL ‘0,000 NA EDUCAGAD 7 ‘Com a expansio dos novos ideais de ensino, crescem experiéncias que in- ‘troduzem o jogo com vistas a facilitar tarefas de ensino. Paralelamente, o desen- ‘volvimento da ciéncia ¢ da técnica constitui fonte propulsora de jogos cientificos ‘¢ meciinicos [Surgem jogos magnéticos para ensinar Hist6ria, Geografia e Gra- ‘méticaAs fabulas de La Fontaine ¢ os contos de Perraut inspiram “puzzles” brinquedos de cubos] A expansio dos meios de comunicago bem como 0 avan- {go do comércio estimulam o ensino de linguas vivas, ocasionando o aparecimen- to de jogos como o Bazar alfabético, destinado ao aprendizado de vocabuliio, ¢ o poligiota, para ensinar at cinco linguas ao mesmo tempo. [A expansio dos jogos na rea da educagiio dar-se-4 no inicio deste século estimuladas pelo crescimento da rede de ensino infantil ¢ pela discussio sobre as relagGes entre 0 jogo ¢ a educagio, Revistas como L'Education Enfantine divul- ‘gam tis idéias. Editores como «i Nathan estabelecem uma linha de “brinquedos educativos”, usando slogans como “instruir divertindo”. Além de melhorar a {qualidade de seus produtos, os fabricantes de jogos educativos procuram melho- raras normas de seguranga dos brinquedos e introduzem, nos folhetos, informa- (gOes que orientam a ago de brincar ¢ aprender, adequagio de brinquedos para as faixas etéirias. surge na século XVI, c conbccimentos ¢ conquista ne Brougere (1987, pp. 83-88) reproduz o debate ocorrido entre inspetores da = escola maternal francesa acerca da introdugio do jogo educativo, entendido ora! jogo livre, ora como jogo orientado, Certamente, desde tempos passados, alguns estudos apontam uma ligagio entre 0 jogo ea aprendi: as predominaaidéia do ogo associndo &reerea- ‘G0, a situagées que se contrapSem ao trabalho escolar. E essa orientago que flui 10s priméndios das salas de aslo francesas. Segundo ainspetora Pape-Carpantir, em 1849 (apud Brougére, 1987, p. 83), “0 jogo ndo pode oeupar o lugar de lies morais e ndo deve absorver o tempo) de estud, embora ninguém no mundo poss fcar sempre esctando nem esti- | ideals 2 practoy tesa ade soBrenuda, danear corel, dollar, movers por | seu proprio ela.) Seo jogo no forma diretamenteo expr, leo recreia"._) ‘Para a inspetora francesa, o jogo nio se presta para a formagtio moral, nem ‘mesmo colabora para 0 desenvolvimento cognitivo. Admite-se como recreagio, uma espécie de distragdo e descanso do érduo trabalho, Influenciada pela experiéncia froebeliana dos jardins-de-infancia, Kergomard dota a idéia do jogo livre e espontineo como o eixo da educagio infantil: 18 (0,000 € A EDUCAGAD INFANTIL “A escola maternal é uma familia grande, a diretora é wna mde de um grande niimero de criangas. Ora, que facem criancas de 2 a4 anos em sua familia? Elas rivalicam com os pdssaras as atividades incessantes e algazarras ininterrupias las néo fazem nada de preciso, no tomar ligdes mas fazem o que devem fazer para seu desenvolvimento fisico, intelectual e moral” (i, ibid, p. 83) idéia de uma escola infantil sem a interferéncia do professor cria um debate na 6poca. Discute-se a adequaeio do jogo livre proposto por Froebel. “| (As interpretagbes apontam para a necessidade de um jogo controlado como ‘suporte da ago docente, Assim, nasce(@ jogo educalivo> mistura de jogo e de \ensino Kergomard (1906, p. 161) apéia-se na idéia da incompatibilidade Iégica centre 0 jogo e a educagio e ponders | “Sei muito bem que a primeira vista estas duas palavras —a pedagogia pelos jogos — colocadas juntas, facem um efeito de certas unides infelizes, caracte- ~ ‘rizadas sobretudo pela incompatibilidade de caréter dos cénjuges; mas esta impressio cessa no momento em que se reflete, porque se compreende, entdo, que a pedagogia, em vez de estarlimitada dinstrugdo, abraca acultura comple- \ tado ser”. se com aque comesa a predominar. Girard (1908, p. 199) e muitos outros tentarm conciliar a tarefa de educar com a necessidade iresistivel de brincar. Nessa jun- <0, surge o jogo educativo, um meio de instrugzo, um recurso de ensino para 0 professor e, a0 mesmo tempo, um fim em si mesmo para a crianga que s6 quer brincar. Esse é 0 sentido captado pela inspetora Girard nos debates que acompa- nnham a reformulago da escola maternal: 0 jogo é para a crianga um fim em si mesmo, ele deve ser para nés um meio (de educar), de onde seu nome jogo educative que toma cada vez mais lugar na linguagem da pedagogia maternal” (Girard, 1908, p. 199). jogo educativo, metade jogo e metade educago, toma o espago da escola matemal francesa a tal ponto que Chamboredon e Prévot (1986) chegam a dizer {que esta se transforma em um grande “brinquedo educativo” (0,00 nA EDUCAGHO 19 O SIGNIFICADO ATUAL DO JOGO NA EDUCACAO AAs divergéncias em tomo do jogo educativo estio relacionadas & presenga concomitante de duas fungées: quando escolhido voluntariamente, ¢ 2. fungao educativa —o jogo ensina qualquer coisa que complete indivi- do jogo para fazer pequenas construgses, a func lidica predomina e absorve 0 aspecto educativo definido pelo professor: discriminar frutas. Da mesma forma, — certos jogos perdem répido sua dimensdo Iidica quando empregados inadequa- damente(O uso de quebra-cabecas e jogos de encaixes como modalidades de favaliagao constrangee elimina a ago Iidica|Se perde sua fungio de propiciar,, ‘prazer em proveito da aprendizagem, o brinquedo se torna instrumento de traba- lor{@ “brinquedo” jd ndo ¢ brinquedo, é material peda ‘Alguns fildsofos e tedricos quando tratam da utilizagdo do jogo pela educa- 20, apontam 0 que denominam paradoxo do jogo educati a roca vse of cacaeshcrat ng del cemenoy| cconsiderados istinto®) o jogo & 4 educagao. O jogo, dotado de natureza livre, ‘parece incompatbilizar-se coma buscade resultados, ipica de processos educativos. Embora autores como Bally, (1959), Caillois, (1967), Huizinga (1951), Alain (1957), Henriot (1983), Rabecs-Maillard, (1969), Sutton-Smith, (1971), entre outros, destaquema liberdade come educagio procura-se Concil fi a dos jogos, Som a orientagao propria. dos processos educativos) Em outros termos, elimina-se o paradoxo et Pac peta ose preset de iar drag ese que Wo entre em conflito com a ago voluntéria da crianca, a agio pedagSgica inten- onal per ore Ore organizagio do espago, na selegio dos |*. NG, ional do professor deve refleti. ‘inguedos e na interagio com as criangas. 20 (0,060 € AEDUCAGAO INFANT. Cresceo nero de autres que adotam o jogo na escola asumindoosign- ficado usta: incorporando a fungéo lia ea edueaiva, Ente eles destacase Campagne (1989, p. 113), que suger eritérios para uma adequada escoha de ‘ringuedos, de US escolar, de modo a garantr a essEncia do jogo. So eles: er : : 1) valor experimental — permitir a explorago e a manipulagio; 1... | 2.@-valor da estruturagio — dar suport constusao da personalidad » infantil “x 3c). 3, ovalor derelagio—colocaracriangaemcontato com sus paes¢ adultos, (wx J com objec com o ambiente em geal para propciaro estabelecimento 3M) derelagiese “) + 4, ovalor hidico—avaliarse os objeos possuem as qualidades que estimulam. to da. aco lia. yi apareciment ahaa tas crits so aerescidos questionamentos relatives 8 dade, peferéa- cias| capi pos deca casas ‘uma constante verificagao da pre~ do prazere dos eeitos positives do 088) Fla que se considerar ainda que 0 2 | jogo no €inato, mas uma aqui ial) Desta forma, 9 educador tem que 765 cota atento pura aul ‘ensiné-la utiliza obringuedo. 56 depois ela _estard apta a uma exploragao livre.) ‘A organizagio de espagos adequados para estimular brincadeiras constitu we hhoje uma das preocupagdes da maioria de edueadorese profssionais de institui- es infants ei Od ‘Nessa organizagao do espago, Campagne (1989, p. 116) alerta para a neces- " sae de aaa. sompoene cone: a disponibilidade de materias,o nivel de 0 ene aulins e rings aspects educativos coporas par et- tla ba ‘Ossuporte material deve incluir locais apropriados, dotados de estantes para “al ‘comportar diferentes tipos de brinquedos, dispostos de modo acessivel as crian- {gas € espagos para o seu uso] A verbalizaco do professor deve incidir sobre a -valorizagdo de caracteristicas e possibilidades dos bringuedos e posstveis estraté- gas de exploragio. Enfim, o professor deve oferecer informagies sobre diferen- 5+ tes formas utilizagio dos brinquedos, conitibuindo para aampliagao do referencial infant, TA dimensio corporal nao citam-se 0 corpo eos sentidos [0 educadorleve,lambém, brinea e participar da . Seeing ome a eo z6-lo mas estimulando as crian- iS agbes Tnalmente, 0 cardter educativo coloca o jogo na ordem de tar ausente] Na relactio. com abjetos,spli- (0,080 NA EOUEAGAO 2 eis e recursos que consieram deseos,necessidades de expresso ous] valores exigidos para a implementacdo de um projeto educativo. ~ Alain (1957, p. 19) defende o emprego do jogo na escola. Sua justifcativa 64a de que|o jogo favorece o aprendizado pelo eno e'estimula a exploragio ea solugao de probl ‘Jogo, por ser livre de presses € avaliagdes, cria um clima adequado para a investigagao e a busca de solugdes. O beneficio do jogo estinessa possibilidade de estimulara exploragdo em busca de respostas, em nifo constranger quando se erra. O autor vé dois momentos na situacio escolar fot trabalho pedagdgico de aquisigdo sistemitica do saber o jog que, escapando & severa lei do trabalho, caminha em diregio a um “ndo-sério”, sem se submeter & ordem, criando um espago de liberdade de agdo para a crianga, Por tas razies, ‘Alain coloca-se do lado daqueles que valorizam o uso do jogo na educagiio,) np oe upgrade poet livre permite # expressio do eu. Visto como meio ou, como diz, tendo “fins artficiais”, na verdade, o jogo & um instrumento do adulto para formar acrian- .2{0 papel pedagégico do jogo s6 pode serentendido dentro do dominio do jogo feqhanfo mo, enquanto um “fn artificial”) Provavelmente Chateau fa efe- réncia aos fins naturais, considerando aspectos biolégicos do ser humano, Mas no se pode esquecer, também, 0s fatores sociais. /A formago social inclui os “ins artfciais”, os valores expresso, ntencionalmente, porcada sistema educalivo, para educar seus membros. (Chateau valoriza 0 jogo por seu potencial part aprendizado mora ss da crianga no grupo socal e como meio para aquisigio \Considera que habilidades ¢ conhecimentos adquiridos no Jogo preparam para o desempenho 20 €, par o autor uma espécie de “vestibulo do trabalho”, wma Porta aberta que prepara nfo para uma profissGo em especial, mas para vida, adulta/Embora estabeleca um estreto vinculo entre 0 ogo e o trabalho escolar, indica que a educacio deve, em certos momentos, separar-se do comportamento lidico. Nao se pode pensar em uma educagfo exclusivamente baseada no jogo, tuma vez que essa postura isolaria o homem da vida, fazendo-o viver num mundo ilus6rio. Chateau considera que a escola tem uma natureza propria distinta do ‘jogo e do trabalho. Entretanto, ao incorporar algumas caracteristicas tanto do trabalho como do jogo, fiescola cria 1a modalidade do jogo educativo destinada a estimular a moralidade, 0 interesse a descoberta ea rellexio, Da mesma forma, Vial (1981) considera importante a cola adotaro jogo pelos efeitos que proporciona. > © autor observa uma variante no emprego dos jogos na educagio: 0 jogo ] didético como modalidade destinada exclusivamente & aquisigio de contetdos, | ‘ferenciando-o do jogo educativo. O primeiro, mais dinimico, envolve agdes 2 a 2 0.40G0 AEDUCAGAO INFANT ativas das criangas, permite exploragao e tem multiplos efeitos na esfera corpo- ral, cognitiva, afetivae social. O segundo, mais restrito, pela sua natureza atrela- dda ao ensino de conteidos, torma-se, no seu entender, inadequado parao desen- ‘volvimento infantil, por limitaro prazer ea livre iniiativa da crianga e tomar- ‘se muitas vezes mondtono e cansaivo. Mialarete Vial (1981, p.204) entendem que a crianga, que brinca livemen- \ e+ Passa por um processo educativo espontineo e aprende sem constrangimento |, de adultos, em interagio com seu ambiente.|Ensretanto, em qualquer ambiente, doméstico, escolar ou piblico como as ruas ¢ calgadas,\a liberdade da crianga é jv |.» limitada por contingéncias do proprio contexto histérico cultural. { liberdade & "sempre relativi>Se em qualquer um desses ambientes for planejada uma organi- raga do espago que privilegie materiais adequados, tas situagSes maximizam a potencialidade do jogo. Sao tais pressupostos que estimulam o aparecimento de propostas em insttuigdes infantis, que valorizam a organizago do espago para estimular brincadeira, Em sintese, a polémica em tomo da utilizagdo pedagégica do jogo, deixa de : existr quando se respeita sua natureza. O significado usual da pritica educativa cos estudos de natureza psicol6gica referendam sua adogao na educagio infantil. ? (Qualquer jogo empregado pela escola aparece sempre como um recurso para a realizago das finalidades educativas e, 20 mesmo tempo, um elemento indispen- sGvel a0 desenvolvimento infantil. (Se a crianga age livremente no jogo de faz- de-conta dentro de uma sala de educagdo infantil, expressando relagdes que . observa no seu cotidiano, {a fungao pedagégica serd garantida pela organizagio do espaco, pela disponibilidade de materiais e muitas vezes pela propria parceria, ! do professor nas brincadeiras:) Ao permitir a manifestagio do imaginétio infan- til, por meio de objetos simbslicos dispostos intencionalmente, a funcdo pedagé- gica subsidia 0 desenvolvimento integral da crianga. [Nesse sentido, qualquer [jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do ato liico, apre- 2 | senta cariter educativo e pode receber também a denominago geral de jogo educative,| (0 jogo educativo aparece, entdo, com dois sentidos: {sentido amplo: como material ou situago que permite a livre explora ‘em recintos organizados pelo professor, visando ao desenvolvimento ge- ral da crianga e ido restrito: como material ou situagio que exige ages orientadas com vistas a aquisigao ou treino de contetidos especificos ou de habili- dades intelectuais. No segundo caso recebe, também, 0 nome de jogo di- datico, 2, (0000 na EDUCAGO 23 [Embora a distingo entre 0s dois tipos de jogos esteja presente na pritica usual dos professors, |pode-se dizer que todo jogo & educativo em suaesséncia, smpre se educa, or am = abe eq’ O JOGO NA EDUCAGAO INFANTIL A relevancia do jogo vem de longa data, Fil6sofos como Platio, Aristételes ¢, posteriormente, Quintliano, Montaigne, Rousseau, destacam 0 papel do jogo na educagiio. Entreanto, & com Froebel,jo criador do jardimede-infaincia, que 0 jogo passa. fazer parte do centro do currictlo de educagao infantil| Pela primeira vez. crianga brinca na escola, manipula brinquedos para aprender conceitos e desenvolver hablidades. Jogos, miisica, arte ¢ atividades extemas integram o/ ‘programa diario composto pelos dons e ocupagées froebelianas, } - ‘Embora Froebel conceba o jogo como|auto-atividads) expressfio das capaci- dades da crianga!a organizagio dos dons e ocupagaes diverge dessa orientagio, prevalecendo uma forma de estruturago das atividades infantis. ‘© com contetido predeterminado, Essa ambigtiidade nas Conicepgdes do fildsofo, due viveu em periodo de extrema repressao na Alemanha, pode explicar a pre- senga de orientagdes contrait6ris. ‘A orientagio mistica ¢ romantica de Froebel dominou a educagao infantil por50anos, até oadvento do progressivism, Dewey modifica tradigofroebeliana, colocando a experiéncia direta com os elementos do ambiente e os interesses da crianga como novos eixos. Criangas slo vistas como seres sociis ea aprendiza- gem infantil far-se-d de modo espontineo, por meio do jogo, nas situagées do Cotidiano como preparar alimentos para olanche, representar pegas para as fami- lias, brincar de faz-de-conta com temas familiares|Dewey concebe 0 jogo como atividade livre, como forma de apreensio dos problemas-da.cotidiano, ~aralélamente, na Europa, escolanovistas como Montesssori divulgam aim- portincia de materiais pedagdgicos explorados livremente e Decroly expande ‘ nogio de jogos educativos.(A ambigtiidade das concepgdes froebelianas dO alicerce para a esruturagio GT WOcto de jogo educaivo, uma mistua da =| lidica ¢ a orientagao do professor visando a objetivos como a aquisigao de con- Aetidos ¢ o desenvolvimento de habilidades e, a0 mesmo tempo, 6 desénvolvi- ‘mento integral da crianga,/ a ‘O jogo continua presente nas propostas de educagio infantil com o advento do freudismo, como mecanismo de defesa de impulsos no satisfeitos.| freudianos, especialmente 9, Winnicot e outros, enfocam a importaneiardo —— ee ee ee : Ae tuo

You might also like