You are on page 1of 19
tivesse dito que se algum desses objetos valiosos desaparecesse ele seria o responsavel (pois era 0 nico pesquisador trabalhando com 0s mesmos objetos no momento € 0 unico capaz de identificar entre todos aqueles objetos semelhantes quais eram os mais raros € valiosos). Importante lembrar que toda a area de Reserva Técnica ¢ de acesso restrito, ¢ como um grande cofte, portanto, a entrada e permanéncia de pessoas devem ser altamente controladas Fatores que devem ser controlados e monitorados em uma Reserva Técnica Deve ficar bem claro que os fatores que devem ser objetos de controle ¢ ‘monitoramento em uma reserva técnica sio (de acordo com Thomson 1978, 1986; Thompson 1992) ‘Umidade relativa do ar (UR): é a porcentagem de umidade que o ar suporta em uma determinada temperatura. O ar a 100% UR estaria contendo o ‘méximo de vapor de Agua em uma temperatura, ou seja, o ar estaria saturado de umidade (Thomson 1978). A umidade relativa do ar esta relacionada com a temperatura. Os objetos higroscépicos absorvem ou cedem Agua para o ambiente, contraindo ou expandindo. As mudangas bruscas de UR podem provocar contragées ou expansdes muito répidas, causando danos aos objetos. Umidade muito baixa pode ressecar objetos higroscépicos; umidade muito alta pode favorecer proliferagaio de fatores de biodeterioragao, causar corrosio ‘em metais ou reagdes quimicas indesejadas (com sais, por exemplo); ‘Temperatura: conforme mencionado anteriormente, esti relacionada com a umidade relativa do ar, pode acelerar reagdes quimicas e favorecer a proliferagio de fatores de biodeterioragio; Fontes de calor: podem alterar a temperatura interna do ambiente ou podem trazer outros riscos, como curtos-circuitos, incéndio, aceleragdo de reagdes ‘quimicas dos materiais constitutivos dos objetos armazenados etc. A inércia térmica da edificagao: é a influéncia ou reagio de um ambiente interno de uma determinada edificagio frente as variagdes externas de temperatura e umidade relativa do ar. © objetivo da conservagdo preventiva, nesse caso, é manter a maior estabilidade possivel do ambiente interno da Reserva Técnica, independente das condigdes externas de temperatura e umidade relativa do ar. Quanto melhor a inércia térmica de uma edificagio, menor € 0 gasto com a manuteng&o de climatizagao, ou mais facil é obter um ambiente interno mais estavel; 44 © Cireulagdo de ar: para evitar a formagio de micro-climas favoraveis ao crescimento de fatores de biodeterioragio deve haver uma boa circulagio interna de ar; + Luz visivel e suas radiagées invisiveis ao olho humano — ultravioleta (UV) ¢ infravermelho (IV): também aceleram reagées quimicas conhecidas por serem responsaveis pela deterioragao / alteragdo das matérias-primas dos objetos armazenados ou expostos; © Agentes causadores de biodeterioracio (insetos, animais microorganismos): no Brasil temos grandes problemas com insetos, roedores fungos. Grandes prejuizos sio causados as colegées por causa da proliferagio desses agentes. O combate as causas envolve, como nos demais casos, um diagnéstico para detecgio de quais sfio os maiores riscos. Existem profissionais especializados em cada um dos possiveis agentes causadores de biodeterioragdo. A estratégia para lidar com esses agentes é chamada de “Pest Management” (vide: Pinniger, D. 2001; Kingsley, H., Pinniger, D., Xavier- Rowe, A., Winsor, P., 2001); ‘* Poeira e gases poluentes: o material particulado pode ser de diversas origens, incluindo aqueles produzidos pela propria edificag&o e seus agentes internos. Os gases poluentes também sto produzidos por diversas fontes, desde aquelas externas até as internas, como os materiais de embalagem, acondicionamento, exibigdo, produtos de limpeza utilizados etc.. Ambos apresentam riscos muito grandes para as colegdes expostas e armazenadas e seria desejvel a eliminagiio ou atenuagio de seus efeitos; + Riscos internos e externos (catistrofes, emergéncias, roubos, transporte e manuseio inadequados): a adequada avaliagio desses riscos (vide “A Importancia do diagnéstico”) & imprescindivel para o planejamento de situagdes de emergéncia. Portanto, todas as iniciativas das atividades da conservagio preventiva devem, prioritariamente, levar em conta tais elementos, Necessidade de conhecimento fisico do acervo ‘Ao pensar no espago destinado a Reserva Técnica, convém lembrar que se deve antever 0 trinsito niio s6 das pessoas, mas, principalmente, das pegas, o que leva a prever portas 45 ¢ rampas de acesso adequadas, com planejamento estratégico e desobstrugo dos caminhos. E necessirio, portanto, um grande conhecimento fisico do acervo - uma experiéncia sensorial e no apenas através do inventirio, incluindo: * as dimensées; ‘© peso (para o planejamento adequado do mobilidrio, ou, sobretudo, se a area de armazenamento for em um pavimento que nio seja térreo, este é um item de extrema importincia para o célculo estrutural do edificio — por isso, é importante verificar previamente 0 peso de alguns objetos etnogrificos ou arqueologicos de grande porte, também seria recomendavel prever 0 aciimulo de materiais pesados em um determinado espago, aciimulo esse que poderia comprometer a estrutura de um edificio ou mesmo do mobiliario), ‘© forma dos objetos (também pode condicionar o planejamento do armazenamento e até do mobiliirio); © modos de manuseio (cada tipo de objeto condiciona a forma adequada de manuseio: sua fragilidade, seu estado de conservagio, sensibilidade aos movimentos e trepidagdes etc.); «as matérias-primas dos objetos, as interagdes entre si (objetos com mais de um tipo de matéria-prima ou no caso de agrupamento de objetos de constituigdes diferentes), interagées com outros compostos quimicos e com o meio ambiente (sensibilidade a luz, temperatura e umidade relativa); © eprincipalmente, o estado de conservagao desses objetos. Sabemos de casos recentes em que museus, planejados € construidos com esta finalidade cultural, ndo se preocuparam devidamente com esses dados, o que impossibilitou, mais tarde, abrigar determinadas pegas ou mesmo deslocé-las em seus interiores. Muitas vezes, os administradores ou mesmo os arquitetos relutam em levar essas consideragdes a sério, criando situagdes que complicam muito a vida cotidiana da preservagdo de colegdes. Plantas desatualizadas permitiram planejamento de mobilidrios impossiveis de ser instalados devido & existéncia de colunas, paredes, rebaixamentos e dutos de ar-condicionado nio mencionados. Outras solugdes simplistas apresentadas por arquitetos deixam os conservadores assustados, ‘como aqueles que sugerem que algumas pegas de grande porte entrem na edificagio antes do fechamento das paredes e fiquem trancafiadas lé dentro para sempre“. % Nao sao exemplos ficticios e nem proviveis. Todos os exemplos so veridicos, mas omitimos os nomes das insttuigdes ¢ dos profissionais envolvidos 46 Necessidade de previsio de problemas de manutencao predial Os problemas de manutengo predial devem ser pensados com antecedéncia, Nao se deve instalar equipamentos ou sistemas cuja manutencio no serd possivel com 0 orgamento ordinirio da institui¢ao. Este é um item de extrema importincia. Muitas vezes, com 1 possibilidade de financiamentos externos (agéncias financiadoras, patrocinadores da iniciativa privada), equipamentos sofisticados so adquiridos ¢ instalados e, apés o término do prazo de garantia dos fabricantes, as instituigoes culturais (geralmente com orgamentos baixos ¢ sempre sujeitas a cortes nos momentos de crise) no conseguem manté-los em funcionamento, Na medida do possivel, deve-se tentar solucionar os problemas com um plano de metas que possa ser implantado dentro das condigées orgamentirias da instituigao. Os danos causados pela falta de ‘manutengdo de equipamentos podem ser maiores do que se eles nunca tivessem sido instalados. Dentro das possibilidades, toda a instalagdo elétrica deve ser revista, Lembramos que a melhor prevengio contra incéndio & uma instalagio elétrica realizada com muita responsabilidade, com cilculos precisos sobre as necessidades do local para evitar uma sobrecarga e sistemas independentes para as redes de iluminagdo, alimentagao de aparelhos diversos e computagio (é inevitivel a previsio da presenga de terminais de computadores para facilitar a documentagdo do armazenamento e, conseqientemente, a localizagao das pegas). ‘Se houver possibilidade de se instalar um sistema de prevengo contra incéndio, deve-se levar em conta os efeitos da ago deste sobre 0 acervo. Na Reserva Técnica do MAE, foi instalado um sistema de prevengio contra incéndio"’ com detectores eletrénicos éticos que, a0 sinal de fumaga, acionam o sistema emitindo um alarme, com um tempo de seguranga para que 0s funcionérios saiam da area (e possam bloquear o sistema, em caso de alarme falso, ou deixi-lo agir em caso de necessidade); em seguida, a porta corta-fogo se fecha e tem inicio a descarga de gis carbénico diretamente dentro do mobilidrio. Este gis vai sendo drenado do interior do mobilidrio para todo 0 espago a ser protegido, diminuindo a concentragdo do oxigénio até o ponto de extinguir 0 fogo. Para isto, foi desenvolvido todo um aparato para diminuir © impacto da pressio da emissiio desse gis sobre as pegas, calculando-se, ainda, 0 volume de gis necessério para cobrir todo 0 espago e as mudangas de temperatura ¢ umidade relativa (UR) em toda a Reserva Técnica. O gis € muito seco e sai dos difusores com uma temperatura de aproximadamente -40° C (quarenta graus centigrados abaixo de zero). Estes ciilculos so necessarios, pois muitos objetos nio suportam uma mudanga brusca de condigBes de temperatura e UR e outros podem ser destruidos se a temperatura cair abaixo de determinados valores ~ é 0 + [niciativa e projeto da conservadora Yacy-Ara Froner. Financiado pela FAPESP redimensionado ¢instalado sob minha supervisio. 47 caso do estanho, por exemplo, que pode se quebrar facilmente em temperaturas abaixo de 13° C. E claro que, em caso extremo como este, tem que se avaliar os riscos e beneficios dos efeitos do funcionamento de tal mecanismo. Como a maior parte de nosso acervo etnografico ¢ altamente inflamével, avaliamos que os beneficios seriam maiores do que 0s prejuizos. A agua foi descartada no planejamento de nosso sistema devido & alta sensibilidade da maioria dos objetos etnogrificos, com a presenga de muitos objetos decorados com pinturas soliiveis em agua € também bonecas Karaja de barro no queimado (que se desmanchariam completamente com um esguicho de agua e se transformariam em pura lama). No caso de acervos artisticos € ccontemporiineos avaliamos que os problemas devam ser semelhantes devido & variedade imensa de materiais que 0s constituem (0 efeito da gua é completamente destrutivo sobre aquarelas, ‘guaches, desenhos a pastel ndo fixados et.) Ainda, quanto a prevengGo contra incéndio e catistrofes, a instituigio deve se preocupar em montar uma brigada antiincéndio e ter um plano de emergéncia, com treinamentos e simulages periédicas. A CIPA (Comissio Interna de Prevengio de Acidentes), comum na maioria das empresas ¢ instituigdes, pode ser muito itil nesse planejamento. Os telhados e todo 0 encanamento de agua que passa sobre 0 local merecem uma investigagdo cuidadosa para evitar inundagdes, prevendo-se um eficiente sistema de escoamento € drenagem da Agua, De preferéncia, ndio deve haver passagem de rede hidréulica sobre a area de Reserva Técnica. Se for inevitavel a passagem de rede hidriulica sobre essa drea, que seja escolhida aquela de circulagiio, fora da érea onde ficam os mobilirios ¢ 0 acervo. Caso isso seja impossivel (edificios reaproveitados), selecione o acervo mais sensivel a agua para o armazenamento no local mais seguro e de menor risco de acidentes desse tipo. Nenhum tipo de acervo deve ficar em contato diretamente com 0 piso. Existem dois problemas: um é a absorgaio da umidade do piso pelo objeto (principalmente se for um material higroscépico ~ que absorve a Agua por capilaridade), 0 outro é a inundagao (se os objetos esto acima do piso, os riscos sio menores ¢ 0 tempo de salvamento ou tomada de providéncias adequadas é maior). No caso de inexisténcia de um mobiliario que faga esse isolamento, pode-se utilizar paletes construidos para esta finalidade e com a possibilidade de serem movimentados através de empithadeiras (como aquelas utilizadas em armazéns comerciais e terminais de carga) mecénicas ou elétricas, sempre tendo 0 devido cuidado de se imobilizar os objetos que estio sobre o palete para serem transportados (mesmo por pequenas distincias). O problema para a utilizagio de empithadeiras elétricas ou motorizadas & a operagio e 0 espago maior necessério para a circulagio. De preferéncia, os paletes devem ser de metal. Grandes acidentes acontecem em pequenos deslocamentos de pegas dentro das instituigdes, quando, geralmente, as pessoas envolvidas 48 acreditam que nao existem perigos a vista, distraindo-se ou relaxando a atengio as devidas precaugdes para que danos possam ser evitados. Se hé forro, este deve ser conferido sempre e receber um isolamento térmico. Se a cobertura da rea construida for de laje e no houver um outro pavimento acima, é necessério um revestimento, de preferéncia, com telhas de cerimica ou outro material que reduza a absorgao ¢ transmissio imediata de mudangas climéticas externas (chuva ¢ calor). Recomenda-se fechar todas as janelas com alvenaria ou, no caso de ser impossivel, usar filtros ou black-out para diminuir ou barrar completamente a incidéneia de luz externa (a incidéncia de luz solar direta deve ser definitivamente banida). O vidro comum permite, além da passagem da luz, uma maior influéncia das variagdes de temperatura externa no ambiente interno, Este fator no ¢ desejado em uma area de armazenamento de colegdes. Seria conveniente que as paredes também fossem isoladas termicamente ou, entio, duplas e de tijolos de argila (no caso de construgdes novas), com pintura a base de cal (solugao de mais baixo custo), que é permeavel, & mais duradoura, lavivel e afasta alguns insetos. Ainda, contribuindo para o isolamento térmico, as portas ¢ janelas podem receber isolantes térmicos ou vidros duplos, como em paises onde ha invernos rigorosos. As portas devem ser bem vedadas. O objetivo de todas estas precaugées, além de dificultar a mobilidade e proliferagao dos insetos, é fazer com que as variagSes climiticas externas sejam transferidas © minimo possivel para 0 ambiente interno (aumentando, portanto, a inércia térmica da edificag&o) e, a0 mesmo tempo, néo transformé-lo em uma estufa impermeével. Nao se pode esquecer que deve haver uma ventilago adequada no local, com troca constante de ar. O cilculo do volume de troca de ar necessario (e adequado as dimensdes do espago) deve ser feito por um engenheiro especializado. Ar parado, escuridio, umidade excessiva e temperaturas mais altas so condigdes ideais para a proliferagio de fungos ¢ insetos. Por isso, evitam-se plantas complexas, com nichos que favoregam 0 aparecimento de fatores de biodeterioragdo (microclimas adequados) ou que dificultem vistorias periédicas, Uma planta complicada também dificulta controle e monitoramento climatico, encarecendo-o de modo considerivel. Para cada ambiente ou nicho deveré existir um equipamento para monitori-lo. Portanto, quanto mais simples for 0 projeto do local, methor € ‘mais econémico para a manutengo € o monitoramento, ‘Equipamentos de monitoramento de temperatura, umidade relativa e iluminacao primeiro passo para a escolha de equipamentos para monitoramento de condigdes de temperatura, umidade relativa e luz de um museu é 0 planejamento de como isso tudo seré gerenciado, Hoje temos diversas opgdes, desde equipamentos que funcionam a corda (2 moda 49 antiga) até os sofisticadissimos sistemas integrados computadorizados. O gerenciamento desses equipamentos depende da verba e da qualidade técnica de pessoal disponivel, Nao adianta nada monitorar se no se souber 0 que fazer com 0s dados coletados. © monitoramento visa a implementag&o de medidas que possam auxiliar na preservagao dos acervos sob a guarda de uma instituigéo, No caso da temperatura e umidade relativa do ar, ressaltamos que a estabilidade é um dos maiores objetivos. Certos parimetros internacionais (como 55% +5% e 22°C +2) podem ser muito dificeis de se obter dependendo das condigdes externas ¢ também da propria inércia térmica da edificagZo, No entanto, a estabilidade obtida com niveis um pouco mais altos ou mesmo mais baixos do que o indicado pode ser um fator extremamente positivo na preservagdo desse acervo. Todas as medidas possiveis para auxiliar essa estabilidade natural da edificagio devem ser tomadas. Isso ajudaria a forgar menos todo funcionamento do equipamento de climatizagio (se houver) ou mesmo obter indices excelentes sem aparelhos muito sofisticados e de dificil manutengo. Todos 0s aparethos que trabalham com medio de umidade relativa devem ser calibrados periodicamente para se evitar distorgées nos dados fornecidos. Este trabalho deve ser feito por conservadores experientes ou, dependendo do equipamento, apenas por técnicos autorizados pelos fabricantes Alguns equipamentos indispensiveis para 0 monitoramento ambiental de museus ¢ ‘seus respectivos objetivos sio™: + Higrémetro: mede apenas a umidade relativa do ar. Pode ser util no monitoramento isolado de vitrines ou no laboratério de conservagao e restauro para tratamentos em que se precisa controlar a umidade relativa do ar, + Termohigrémetro: mede simultaneamente a temperatura e a umidade relativa do ar; existem deste modelos puramente mecénicos até aparelhos digitais que podem ser programados para registrar as médias méximas e minimas dessas variéveis em um determinado periodo (geralmente em 24 horas), Alguns modelos sto equipades com rel6gio para facilitar a leitura. Este tipo de equipamento pode ser usado para se conferir “* F necessirio discutir, entretanto, que @ base de uma aproximaglo racional para @ prescrvagio ¢ através do conhecimento do que esti mudando, de quo rfpido esti mudando por qué esti mudando. Apesar de que a anélse sinda seria aividade bisica do centista de museus, iss ter que ter um objetivo expandide: no apenas prover informagGes para restauradores ¢ historiadores, mas investiga a deteriora em si. (Thomson, G., 1986) ‘Texto original: 11 is hardly necessary fo argue, however that the very basis of a rational approach to preservation is a thorough knowledge of what is changing, how fast is changing, and why its changing. Thus although analysis will sui be the basic activity ofthe museum scientist twill have an expanded alm: not only to provide data for restorers ‘and historians but to investigate deterioration. (Thomson, G. 1986, p. 265). 50 essas medidas em tempo real, porém nao registra por si as informagées. Ele pode ser uusado para confeceio de uma tabela com horirios pré-determinados, quando um funcionario seria encarregado, todos os dias, de coletar pessoalmente os dados. Geralmente, é 0 tipo de equipamento que um conservador ou courrier carrega consigo para conferir os indices fornecides pelos Facility Reports das instituigdes. Termohigrégrafo: mede simultaneamente a temperatura e a umidade relativa do ar registrando-as simultaneamente em uma folha ou disco de papel. Em alguns modelos pode-se escolher a periodicidade da gravago das informag®es em 24 horas, 7 ou 31 dias. Nesse tipo de registro fica facil observar as variagdes bruscas de temperatura ¢ umidade relativa do ar, mesmo nos periodos em que nao ha ninguém por perto (noite madrugada). Os defeitos de climatizagdo podem ser detectados ¢ pode-se estudar melhor © comportamento da edificagaio através da instalagdo de varios desses aparelhos em locais distintos e a comparago dos dados obtidos. Com 0 estudo desses dados ao longo de um ano, por exemplo, pode-se determinar as principais tendéncias dos indices de temperatura € umidade relativa. Isso viabiliza um estudo de adogdo de medidas fisicas prévias que possam atenuar mudangas bruscas e indices indesejados em determinadas épocas mais criticas. Deve-se evitar instalar equipamentos de marcas variadas, uma vez que cada fabricante usa um tipo diferente de formulario que se encaixa apenas em seu aparelho. Para cada marca, o usuario teré que ter folhas especificas de reposigdo. As trocas so efetuadas de acordo com 0 periodo escolhido (dependendo das possibilidades de cada modelo). Precisa também de reposigdo de baterias e das canetas que registram os dados. Data-loggers: mede simultaneamente a temperatura e a umidade relativa do ar registrando-as digitalmente, Thomson adverte para o perigo dos instrumentos eletrénicos sem devida calibragao ou mesmo para a falta de qualidade e confiabilidade dos modelos mais baratos (Thomson, 1986). Existem virios modelos atualmente no mercado e convém pesquisar muito antes de adquirir algum. As opgdes vio desde aqueles que mostram, em tempo real, as medidas até aqueles que descarregam os dados em um equipamento especial de leitura ou computador, através de um cabo e um programa pré-instalado (semelhante ao funcionamento de cdmeras fotogrificas digitais). Ha também os modelos ‘mais sofisticados que transmitem, via ondas de radio, todas as informagdes em tempo real para um computador equipado com um receptor e um software que retine tudo conforme uma pré-programagio: em forma de graficos, tabelas ou monitoramento em tempo real sobre uma planta da edificago indicando 0 local onde esta cada uma das unidades instaladas. Este tipo de armazenamento permite a comparagéo simultinea dos indices coletados nos diversos ambientes do museu, sob diversas formas de apresentagao, em st ‘graficos ou tabelas, com médias maximas e minimas dos periodos pré-selecionados. Pode vir a ser um dos sistemas mais eficientes de monitoramento ambiental, mas exige pessoal treinado, um computador ligado 24 horas por dia e sua manutengo é mais dispendiosa. ‘Nao ha divida de que este tipo de equipamento ser4 uma tendéncia cada vez mais acentuada nas instituigdes museologicas. Luximetro: mede a quantidade de luz (como um fotémetro) que um objeto (ou ambiente) recebe em unidades chamadas LUX (unidade de iluminago internacional definida como a iluminagao de uma superficie de um metro quadrado que recebe normalmente 0 fluxo uniforme de um lamen — Calvo, A. 1997; Thomson, G., 1986”). Existem varias marcas com diversas especificagdes. Convém escolher um equipamento de facil manutengio ¢ operagéo. Geralmente esse equipamento também é usado pelos conservadores e courrier para monitoramento ¢ controle dos niveis de iluminagéo que um determinado objeto esta recebendo ou mesmo de um ambiente em que haveré uma determinada exposigio. Serve também para aferir as informagdes fornecidas pelo Facility Report de uma instituig&io que pretenda receber obras em empréstimo (ou comodato) ou mesmo na posigzio oposta, quando a instituigdo estiver emprestando suas obras para exposigdes externas ao seu proprio espago. Existe uma lei chamada de “lei da reciprocidade” (Thomson, G., 1986. p. 21) que ensina que a luz, como as radiagées de alta energia, age cumulativamente de modo que nio é a dose total que importa, mas o tempo de exposigao a uma determinada dose. Para que a luz cause algum dano consideravel (dependendo da sensibilidade de cada objeto), a exposigao precisa ser constante. Se a ilumindncia é medida em LUX e o tempo em horas, a medida de 100 LUX sobre um objeto por 5 horas causaria uma exposigio de 500 LUX/hora. Entéo, a medida de 50 LUX por 10 horas seria equivalente, ou seja, 0 tempo maior com a iluminagdo menor causaria o mesmo tipo de efeito cumulativo, com a vantagem de se prolongar o tempo de exposigio a luz (THOMSON, G. 1986). Este é 0 raciocinio usado para a redugdo de iluminagio de materiais muito sensiveis. Ao diminuir a quantidade de iluminagao, os danos cumulativos causados também so retardados, prolongando por mais tempo um determinado estado desejavel do objeto ¢ retardando a ocorréncia de possiveis reagdes quimicas (causadoras de deterioragées). Medidor de ultravioleta: mede a quantidade de radiagio ultravioleta emitida por uma fonte de luz. Se uma fonte de luz emite mais de 75 microwatts por limen de radiago ultravioleta, essa fonte requer 0 uso de filtros que absorvam essa radiagao excessiva. Esse © “An illuminance of 1 lie equals 1 lumen per square metre. This unit of luminous flux, the lumen, could be described as the radian energy flux as perceived by the human eye. Note that the old English unit, foot-candl, ‘equals one lumen per square foot. It makes no sense fo talk about about illuminance just in lumens because I Itamen ‘per square metre (I es) equals about 1/10 lumens per square foot (1/10 foot-candles). (Thomson, G. 1986, p. 20), 52 tipo de equipamento j é mais especifico de cientistas da conservagio ou conservadores. No entanto, j se recomenda, de imediato, a adogdo de filtros que absorvam a radiaggo ultravioleta proveniente de toda fonte de iluminagdo natural externa (que sempre é excedente a taxa minima mencionada). Qualidade do ar, ventilacao, temperatura e umidade relativa Nem sempre a opgdo pela climatizagdo é a Gnica saida para resolver os problemas de conservaglio de um acervo, Sabemos que muitas instituigdes optam, de antemio, pela climatizagdo do ar sem um estudo prévio das reais necessidades de seu acervo e, principalmente, uma avaliagio critica das condigdes econdmicas de manutengdo de um equipamento desse porte em funcionamento constante. Verifica-se, inclusive, uma dificuldade de muitos administradores em entender 0 que significa climatizar 0 ambiente de museu. Existem outras altemnativas e alguns pesquisadores tém trabalhado com a hipétese de preservagao de acervos em ambientes tropicais e ‘com poucos recursos financeiros ‘Uma das opedes para a renovago do ar & a instalago de circuladores (unidades de ventilagdo estéril) com filtros para diminuir a entrada de poeira (caso da Reserva Técnica do MAEJUSP). Quanto mais quente ¢ amido for o ambiente, maior deverd ser a circulagio de ar {isso também. 6 valido para a climatizagio). O material particulado traz um alto potencial de degradagao, incluindo materiais sensiveis a acidos ¢ particulas de sais, altamente corrosivas para os metais ¢ prejudiciais a uma série imensa de objetos. A poeira depositada sobre os artefatos pode estar contaminada com esporos de microorganismos que, com taxas elevadas de umidade relativa, favorecem o aparecimento de fungos (Souza, 1994). As edificagdes feitas com concreto recente apresentam questées que foram abordadas por Thomson. Ele cita pesquisa de Toishi sobre os perigos de se colocar obras de arte ‘em obras de concreto recente. O conereto e cimento novos liberam um pé muito fino, composto de particulas na escala de 0,01 micron, que sto capazes de atravessar os filtros comuns de ar. Essas particulas, ainda de acordo com Toishi (cit), sdo alcalinas o suficiente para causar danos as. ‘mais resistentes camadas de pintura a leo, seda, tintas e pigmentos. Alcalinidade desse tipo, continua Toishi, pode ser reduzida no interior de edificagdes de concreto recente através da aplicago de um agente selador e uma posterior camada de tinta ou verniz. Se isso nio for feito, deve-se passar mais de dois anos antes de a alcalinidade atingir um nivel seguro para 0 uso do espago com finalidades de guarda de acervo. ‘Um dos meios utilizados para se eliminar a poeira em certas indistrias de precistio — onde qualquer particula colocaria em risco 0 proprio produto fabricado ~ é 0 uso da pressio 53 positiva. Este processo consiste em se elevar a pressio interna do ambiente um pouco acima da pressiio externa, isso impede a penetragio do ar nao tratado (pois no caso de qualquer orificio ou vazamento, o ar estard sempre sendo pressionado de dentro para fora do ambiente, 0 mesmo se aplicando no caso da Reserva Técnica) e, conseqientemente, de micro particulas no local, mas requer, também, todo um complexo aparato (como antecdmara e porta dupla para entrar no local) € servigo executado por especialistas (cilculos precisos de engenheiros especializados), com alto custo de manutengo, semelhante ao custo de uma climatizagdo. Em alguns museus mais sofisticados, além das particulas indesejaveis, ha preocupagdo com a filtragem de gases atmosféricos poluentes, altamente prejudiciais para os objetos, como 0s vapores Acidos orginicos € inorginicos (Thomson 1978, 1986). No entanto, reconhecemos as nossas limitagdes referentes a este quesito nas atuais circunstincias, mas devemos trabalhar com a hip6tese de, algum dia, este tipo de controle vir a ser instalado. Vale a pena frisar que quanto mais estivel (em relagdo a umidade relativa do ar, & temperatura e a seguranga) for o espago interno, mais facil e econdmico sera 0 monitoramento € 0 controle daquelas varidveis que interferem na degradagio dos acervos. Este controle deve ser precedido por um monitoramento ambiental para se saber as reais necessidades do local (por, no ‘minimo, um ano, para avaliagéo do comportamento da edificagdo durante todas as estagdes, conforme mencionado anteriormente). Mais uma vez, recomenda-se que nunca sejam instalados equipamentos que ndo possam ser mantidos em bom funcionamento pela instituiglo. Para um controle localizado da umidade relativa do at, pode ser que seja apenas necessirio trabalhar com aparethos desumidificadores ou umidificadores: ‘© Desumidificadores: como 0 proprio nome indica, sto usados para remover 0 excesso de umidade relativa do ar. Esses aparelhos possuem dispositivos chamados umidostatos que, @ semethanga do termostato nos reftigeradores, regulam suas atuagdes, mantendo uma faixa de estabilidade de umidade relativa pré-ajustada, dentro da capacidade de atuago do equipamento (cada tipo de equipamento é fabricado para trabalhar em uma determinada dimenso de espago, geralmente especificado em metros cibicos). Quando a umidade relativa do ar ultrapassa a faixa pré-determinada, ele é automaticamente ligado, Uma das desvantagens dos desumidificadores é que eles produzem calor quando estiio em atividade e aquecem 0 ambiente, forgando um pouco mais o funcionamento do sistema de refrigeragio do ar. A agua removida do ar pode ser armazenada em recipientes (que precisam ser trocados periodicamente, caso contririo podem causar inundagées) ou ser drenada para 34 fora do edificio através de um sistema de escoamento previamente instalado € conectado ao aparelho. © Umidificadores: também o nome indica que se trata de aparelhos que exercem a fungdo de umidificar o ar de um determinado ambiente. Como os desumidificadores, eles so fabricados para atender a uma determinada dimensio de ambiente. Podem ser equipados com umidostatos ou nio. Quando nao possuem este dispositive, existe 0 risco muito grande de se esquecer 0 equipamento ligado e haver uma saturagao indesejada da umidade do ar de um ambiente. Existem dois tipos de umidificadores: um produz égua por evaporagio, também podendo causar aquecimento do ambiente © outro, chamado de umidificador ultra-s6nico, produz vapor de agua através de vibragao ultra-s6nica, sem aquecimento do ambiente; no entanto, este ailtimo modelo deve ser suprido com Agua destilada ou deionizada, pois 0s sais minerais podem entrar em suspenso ¢ se depositar nos objetos, podendo causar danos nao previstos. Observagdo importante: os imstrumentos de medicdo de temperatura ¢ umidade relativa (termohigrémetros, termohigrégrafos ou Data-logger) nio devem ficar préximos a tais equipamentos para nao haver distorgdes no monitoramento. Cuidados especiais Caso haja uma pequena colegio que necessite de cuidados diferenciais em relagdo a ‘maioria do acervo, seria apropriado reservar um espaco separado para tal controle. Dependendo da quantidade e dimensio dessa colegao, convém separar uma sala ou isolar uma Area dentro da Reserva Técnica para esse fim. Esses cuidados diferenciais podem ser em relagéo: * a0 risco ¢ perigo que determinados objetos podem apresentar ao conviver em ambientes com outros objetos com exigéncias distintas; * a0 perigo em potencial que determinados objetos podem trazer para 0 espago fisico da Reserva Técnica, para a edificagdo ou para 0 meio ambiente; * a quem lida com eles no cotidiano: os conservadores, técnicos, pesquisadores, funcionaios ete.; Existem mobilidrios especiais com possibilidade de isolamento hermético e controle climatolégico (ou até mesmo reftigeradores ou freezers podem ser empregados). Esses 5S A importiincia dos planos de emergéncia Muitas das situagdes de emergéncia so perfeitamente previsiveis. Por isso mesmo, ‘esse tépico tem sido recentemente incluido na lista das prioridades dentro dos planos de agio da conservagao preventiva (Ono, R.; Braga, G.B.; Lustosa, D.C., 2000). principio de um bom plano de emergéncia é 0 diagnéstico da instituigao, conforme jé mencionado anteriormente. Torna-se necessario, em um primeiro momento, a definigdo de alguns termos aqui aplicados, de acordo com a publicagdo de Valerie Dorge (Dorge & Jones, 1999): © “Desastre: um acontecimento que resulta em uma perda significativa, dano ou destruigio. Uma emergéncia pode se tornar um desastre se ages imediatas no forem tomadas para proteger as equipes de trabalho, os visitantes € as colegoes, O desastre, neste contexto, poderia também ser definido como uma situacio em que alteragdes intensas nas pessoas, nos bens, nos servigos ¢ no ambiente, causadas por um fator natural ou pela atividade humana, excedem a capacidade de resposta de uma comunidade afetada”; ‘© “Emergéncia: um acontecimento nao previsto ou uma série de eventos que exigem uma agio imediata”; © “Ameagas: fendmenos de causas naturais ou humanas que podem ocorrer dentro ou nas proximidades de uma instituigao. Esses fenémenos podem ameagar a vida humana ou o patriménio, causando danos fisicos ¢ perdas econémiicas”; © Riscos: A possi para as propriedades ou bens através das ameagas identificadas”; lidade de ocorréncia de danos ou perdas de vida, ou prejuizos ‘+ “Prevengdo: atividades, como identificagio ¢ climinagio de riscos, que focalizam a prevencio da ocorréncia de uma emengéncia ou a reducio dos prejuizos para as pessoas, colegdes € propriedades em caso de acontecimento de siruagdes de emergéncia”; © “Vulnerabilidade: A extensio de uma regido geogrifica, de uma comunidade, servigos, colegbes ¢ as estruturas que podem ser danificadas ou interrompidas pelo impacto de uma ameaga”. ‘A atividade da conservagdo preventiva nestes casos, como o proprio nome indica, é tentar prever as possibilidades de desastres (ou emergéncias) e todas as agdes para minimizar os 60 riscos, assim como também a administragao de uma situagio de emergéncia de modo a evitar ou reduzir os danos ao patriménio cultural envolvido. Geralmente, em instituigdes piblicas, sio grandes as dificuldades politicas com a hierarquia e burocracia do Governo e do préprio museu, quando esse assunto geralmente no esti incluido entre as prioridades. Causa espanto na comunidade cultural interacional o fato de a administrago piblica vir terceirizando toda a seguranga das suas instituig&es aps 0 horério de expediente (em algumas, até mesmo durante o horirio de expediente). Essa seguranga terceirizada geralmente no tem acesso ao interior dos prédios e, na maioria das vezes, nem sabe (e nem tem consciéneia do valor do patriménio cultural) 0 que eles esto protegendo. Sio inameros 0s sinistros que ocorrem durante esses periodos quando nfo hi ninguém compromissado com 0 patriménio sob seus cuidados. Os governos, muitas vezes pela sua burocracia ou caréncia de uma administragio consciente (nos aspectos culturais), tém Jificuldades de tratar as instituigdes museolégicas com acervo sob sua guarda de modo diferente das demais instituigBes. As comunicagées ¢ alertas dos conservadores so sempre vistos como alarmistas e pessimistas em um pais onde, segundo a maioria, nfo ha possibilidades de ocorrer ‘grandes tragédias. Curiosamente, no ano de 2001, quase todo o segundo andar da Escola de ‘Comunicagdes ¢ Artes da USP, na Cidade Universitiria, foi destruido por um grande incéndio, com perdas culturais irreparaveis que quase chegou a atingir a Biblioteca daquela Instituigao. “Uma das perdas mais marcantes no Brasil, de tepercussio mundial, ocorreu no Museu de Arte Modema do Rio de Janeiro, em 9 de julho de 1978. Um incéndio destruiu 90% da colegio do Museu, que inclufa aproximadamente 1000 obras de arte, além de pinturas emprestadas para uma exibigo especial (Retrospectiva de Torres Garcia). Em apenas 30 minutos 0 incéndio causou uma perda estimada em 50 milhdes de délares, em valores da época. O edificio, de arquitenura moderna [todo de concreto] € que no possuia sistema de deteccio ¢ alarme automitico ou de chuveiros autométicos, foi completamente recuperado, porém o seu acervo nunca voltou a set 0 mesmo ¢ a lembranca da tragédia permanece na meméria da cidade ¢ do mundo” (Ono, R; Braga, G.B; Lustosa, D.C. 2000) “Em 1988, um incéndio no bairco histérico do Chiado, em Lisboa, destruiu 18 cedificios datados de 1755, numa frea conhecida como “Baixa Pombalina”, por ter sido reconstruida pelo Marqués de Pombal, apés um grande terremoto que assolou Lisboa no século XVII. A falta de compartimentagio corta-fogo nos edificios, aliada & grande ‘quantidade de material combustivel existente nos seus intetiores ¢ & dificuldade de 61 acesso dos bombeiros pelas ruas estreitas do bairro, tomadas por veiculos, permitiu o desenvolvimento do incéndio em grandes proposes” (idem). “Temos, ainda, como exemplo mais recente em nosso pais, um incéndio na Tgreja Nossa Senhora do Carmo da cidade de Mariana, tombada pelo IEPHLA — Instituto Estadual do Pattiménio Histérico ¢ Artistico de Minas Gerais, que desteuiu boa parte do piso de madeira, dois altares laterais e todo o telhado. A igreja, concluida em 1784 e que tinha acabado de passar por um processo de restauragio de 4 anos, se destaca dentre as construgées coloniais mineiras pela peculiaridade de sua arquitetura. Muitos objetos de arte ¢ imagens datadas do século XVIII foram resgatados pelos moradores no incéndio ocortido em 20 de janeito de 1999, e © edificio esti sendo recuperado. No entanto, a preciosa pintura barroca do forco foi perdida para sempre. O posto de bombeiros mais préximo se localizava na cidade vizinha de Ouro Preto, levando a uma considerivel demora no atendimento da ocorténcia” (idem). De acordo com artigo publicado por Ono, Braga e Lustosa (Ono, R; Braga, G1 Lustosa, D.C.; 2000) selecionamos e ressaltamos alguns pontos a seguir™: Um plano de emergéncia tem como objetivo identificar a vulnerabilidade de um edificio ou patriménio cultural a situagSes de emergéncia, antecipar_scus efeitos potenciais (sobre os edificios, colegSes ¢ comunidade), indicar como preveni-los, atribuir esponsabilidades e propor um plano de agiio e de recuperagio em caso de emergéncias, E certo que qualquer tipo de edificagio deveria possuir um plano para as varias emergéncias que possam ocorrer, como uma emergéncia médica, um transbordo ou vazamento de Agua, um vazamento de gis ou mesmo um incéndio. Planos de emergncia sio muito comuns, por exemplo, em areas susceptivels a terremotos ou furacdes, onde o fenémeno natural pode gerar muiltiplos efeitos secundérios como 0 rompimento de tubulagdes de Agua ¢ gis, queda no fomnecimento de enengia elétrica, interrupgao das vias publicas e de meios de comunicacio, etc. No entanto, estes planos ‘do sio to freqiientes como se desejaria em paises em desenvolvimento. © plano de emergéncia para casos de incéndio em edificios hist6ricos ou que abrigam acervos histérico-culturais exerce um papel importante na protecio do patrimébnio, pois, além de um programa de prevengio contra incéndios, o plano precisa contar com programa de salvamento recuperagio do patriménio. Nao devemos Qs trechos entre [ ] em negrito sto comentirios atusis ¢ nilo constam originalmente na publicagio 62 ‘esquecer que a prioridade em uma emergéncia é sempre a vida humana, Quando lidamos com conservadores € restauradores muito envolvidos emocionalmente com as colegies pelas quais sio_responsiveis, devemos frisar bastante este fato. Muitos conservadores seriam capazes de colocar suas préptias vidas em risco para salvar um de bem cultural. Sto muitas as perdas humanas com este tipo de reacio he enfrentar 0 perigo (sem avaliar ou conhecer os riscos) para salvar algum objeto (principalmente aqueles objetos carregados de valores. sentimentais e simbélicos). Portanto, é fundamental em um plano de emergéncia o estabelecimento bem preciso de prioridades ¢ atribuigdes de responsabilidade. No exercicio que praticamos [em um. workshop em Santiago do Chile, em 2000} com atribuigdes de diversos papéis hipotéticos, Wilbue Faulk [Director of Security — The J. Paul Getty Museum] sempre perguntava who is in charge of... (quem é responsivel por..) se referindo aos diversos niveis de responsabilidade e até que ponto uma pessoa interage com a outra. © acervo pode ser salvo de um incéndio através de uma ripida acio de combate a0 Fogo, no entanto, deve haver um plano que também minimize os efeitos causados pelo proprio ato de supressio do incéndio ou de outros fatores gerados pela emergéncia, A gua utilizada para o combate, por exemplo, pode trazer outros danos, caso no seja contida rapidamente. Além disso, o local pode softer atos de vandalismo saque, caso seu acesso fique vulnerivel ou seu acervo nao seja rapidamente removido para um_ local seguro. A documentagio de todas as alterages relacionadas a uma colecio é fundamental (0 que aconteceu, onde, quando, com 0 qué, de onde saiu, para onde foi). Um inventirio bem feito dos bens culturais se revela imprescindivel nestes momentos. © ato do combate ao fogo em si pode gerar grandes perdas caso 0 bombeiro niio conhega 0 edificio € seu contetido. Enquanto os conservadores do patriménio sio os ‘que melhor conhecem suas colegbes € os cuidados para sua conservacio e recuperacio, ‘0s responsiveis pela seguranca patsimonial do edificio devem conhecer a integridade e a vulnerabilidade do edificio, do acervo € dos sistemas instalados. Por outro lado, os bombeiros so aqueles que tém maior experiéncia em assuntos como técnicas de combate ao fogo e salvamento de pessoas em caso de incéndio, porém, geralmente possuem poucas informagdes sobre os edificios que vio adentrar ¢ 0 tipo de material que vio encontrar pela frente. Dai a importincia de um plano de emergéncia e da integracio entre entidades responsiveis pela protegio do patsiménio histérico-cultural — as entidades 63 ‘mantenedoras e 0s Srgios piblicos, dentre eles o departamento de edificagdes [a Defesa Civil] ¢ 0 compo de bombeios. Além destes personagens acima citados, as virias pessoas que exercem fungbes de importincia dentro do edificio também devem estar envolvidas no plano de emergéncia, pois responsabilidades devem ser atribuidas distribuidas, de modo que o plano tenha feito como uma orquestra afinada (cada um saiba seu papel e esteja pronto para atuar conforme suas atribuigées). A claboragio e execugao de um Plano de Emergéncia devem contar com 0 apoio de toda linha hierirquica e administrativa para que seja efetiva [na verdade, sem 0 empenho da administragio de uma instituicéo, nio hi como desenvolver implementar um plano de emergéncias adequado]. Pode-se levar alguns anos até que toda a estrutura esteja montada € funcionando, pois envolve desde a avaliagio das condicdes de seguranca contra incéndio (NFPA 909), & andlise de risco a desastres do local, @ formagio dos virios grupos de agio € até A realizagio de treinamentos petiddlicos ¢ simulagdes anuais, no s6 envolvendo todos os funciondtios, mas também © compo de bombeitos € a comunidade local (voluntitios). Em resumo, a criagdo de um plano de emergéncia deve contemplar as seguintes fases (Dorge & Jones, 1999) 1. Definir a filosofia de muscu / edificio histérico / sitio arqueolégico quanto as eventuais situagdes de emergéncia 2. Decidir os responsaveis pela coordenacio em situagdes de emergéncia 3. Definit as areas de responsabilidade (coordenador, Areas administrativa, de seguranca, do edificio, do acervo etc.) 4, Decidic a estratégia para o desenvolvimento do plano 5. Programat ¢ realizar o treinamento de pessoal 6. Prever suprimentos e equipamentos necessitios para enfrentar uma emergéncia 7, Realizat exercicios simulados de evacuagio, primeiros socorros e eventos / incidentes inesperados. Ressaltamos a importincia de se ter inventirio dos bens culturais manter cépias esses inventitrios fora do local onde esses bens estiio. Em caso de perda do material e do proprio. inventério e documentagéo, fica quase impossivel avaliar a extensfio desses danos e perdas. 64 Também 0 inventério ou lista de materiais que estio dentro de um edificio, principalmente laboratérios de conservagio e restauro, deveria estar também disponivel fora do edificio. Em um caso de emergéncia, os bombeiros deveriam saber que tipo de material hi dentro de um determinado espago antes de entrarem naquele local. As surpresas devem sempre ser evitadas. Até por que cada tipo de material pode exigir um modo diferente de tratamento por parte dos bombeiros ou em uma situagdo de emergéncia. E muito importante a avaliagdo de estudos de casos. Como nas simulagées, permite 0 exercicio do pensamento para sabermos 0 grau de preparagio em que nos encontramos para enfrentar uma situago na vida real. Também permite estabelecer uma vinculagao pessoal através de uma visiio externa sobre um determinado assunto. A antecipagao € 0 segredo do sucesso em situagées de emergéncia. Por isso, é bom colecionar artigos, fotografias e material didatico. A énfase no poder das imagens 6 um bom recurso para 0 uso didatico. ‘Também vale mencionar sobre a relevincia do treinamento, capacitagio ea motivagao como um dos fatores mais importantes, Por isso, na maioria das vezes, & necessario ‘um empenho da diregdo para congregar todos os servigos e setores da instituigdo. Dificilmente se consegue uma motivagio e comprometimento de todos se a diregio administragdo nfo estiverem conscientes da importincia da implementagao do planejamento para situagdes de ‘emergéncia. As publicagdes que tratam desse assunto enfatizam a importincia da lista com niimeros de telefones importantes: instituigdes para emergéncias, funciondrios (incluindo 0 tempo que cada um levaria para chegar a instituigao em caso de emergéncia). Também no se deve esquecer qual € a relevancia da comunicagdo: a relagio com os meios de comunicagio, em ‘especial com a imprensa, A imprensa pode ser utilizada para o bem e para o mal As informagdes podem ajudar ou atrapalhar em um processo de emergéncia. Em caso de uma emergéncia até quem vai falar (¢ o que deve ser mencionado) com a imprensa deve estar planejado previamente. Em caso de roubo, de acordo com Wilbur Faulk (in: Schultz, A. W., 1992) deve-se tomar as seguintes medidas: ‘* Notificar imediatamente as agéncias locais de seguranga e policia. A instituicio deve saber previamente a quem recorrer em sua cidade no caso de um roubo de objeto cultural; © Nio deixar ninguém intervie na area onde ocorreu crime até a policia ou investigadores chegarem; 65 © A instituigao deve estar preparada para fornecer informagoes detalhadas sobre 0 ‘que exatamente foi roubado. Fotografias toda a documentacio anterior sobre o objeto deverio contribuir para que as pessoas encarregadas da investigacio possam conduzir e obter mais sucesso nas investigacdes; ‘* Notificar imediatamente a empresa seguradora [que poderé conduzit uma investigagio & parte}; ‘* Osagentes policiais ou investigadores podem favorecer a publicacio imediata da noticia do roubo na esperanca de obter novas informagies que possam ajudar a esclarecer 0s fatos e solucionar © crime. A instituigio deve estar preparada para tomar a dificil decisio baseada na probabilidade de recuperacio do objeto, nas consideragdes sobre a companhia seguradora, os sentimentos sobre privacidade pessoal etes ‘© Existem agéncias internacionais com relatérios na Intemet sobre objetos culturais roubados. Essas agéncias devem ser contatadas imediatamente, com fornecimento da descrigio e Fotografias do objeto desaparecido. Conforme vimos nesses tépicos apresentados, 0 papel dos conservadores ¢ 0 envolvimento dos responsiveis pelas instituiges que mantém acervos sio primordiais para 0 sucesso na implantag&o e manuteng&o de planos de emergéncia, os quais devem ser especificos ‘em fungio do tipo de acervo a ser protegido e das circunstincias particulares de cada instituigo,

You might also like