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Agamarter, em 1968, Mario Ferreira daw a See Ee < ABEDORIA DAS JEI1S ETERNAS 4 centeng de tViog publicidad i pens GS wat oboe mas allows, 28 La ery he tim exumne objetivo petimlee siewam?” cme. do pensancieg metallic ele XX. Denure elas, destaeam-se dean qualquer exagero, come nificd deste porte setia comiidérad Patriménio nacional c hayeria equipes técnigas, sob estiptndio eho Estado, esforgando-se para organizatoc manuscritos, edied-los, estudiclos e discut-loy sob om qualquee pals sério, um legad todos os aspectos. Mario Ferngira é,afinal. de pleno dircita, o Philowphus brasfiensti ‘sua obra testemunha a eclos#o, tardia mat espléndida, de uma conseidneia filosdfica integral neste pais ¢ mafea, assim, 6 verdadeifo ingresso do Brasil na histéria do mundo, j4 mio na condigao de Oulvinte, mas na de orador ¢ mestre .. Olave de Carvalho ae série Ferreiva do: Santos (1907-1968), nascew em Tres, Estado de Sto Paulo, tendo passado sua infcia ¢ aolexcéncia mm Pelotas, Rio Grande do Sul. Licenciou-se em Direito Gltncias Soviais pela Universidade de Porto Alegre Viideu-se pars Sto Pusu, onde fondo dias editorai a pblicesto« divmilgate de mas obras: Editora gos Editora Maver) vitor ¢ pensador exereordinariemense fecundb, wblicon, em menos de quinze anes, a colecto tncielopdedia de Cibncias Filosifcas ¢ Sociais, que orange 45 volumes, parce de cardter reovévico « parte tdrice-criticos, Em 1957, publicow Filosofia ‘que evtabelece 0 seu mode de filesofar. Mario erreina das Santos considers a Fidoofia coma citncia A S abedoria das L ets E ternas Deeg eee ta] Set Ferneira pos Santos A Sabedoria das Leis Etern: Encielopédia das Ciencias Filoséficas Senn IH: Marnesis Mocs 1c) ~ Tomo IV SUMARIO INTRODUGAO Mario Ferreira dos Santos ... ‘A Encielopédia ¢ sua realizagio.. O texto desta edigao .. Estructura da Enciclapédia das Ciencias Filoséficas. ASABEDORIA DAS LEIS ETERNAS 1. ALei de Unidade e a Lei de Oposigio. [O Tema DEstAS LiGdES) [Dismingoes} 1 [Lei da Unidade] 2 [A piapa Inperernanvapa] .. [0 Aro ea Portncaa].. 2 [Lei da Oposigao] Il. As demais leis da Década 3 [Lei da Relacio] .. 4 [Lei de Reciprocidade, ou Lei do Quaternério) 5 [Lei da Forma, ou Lei do Quindrio} 6 [Lei de Harmonia, ou Lei do Senério} 7 [Lei de Evolugio, ou Lei Setendria) 8 [Lei de Superagio, ou Lei do Octondtio} 9 [Lei da Integragio, ou Lei Nondria) 10 {Lei da Unidade Transcendente, ou Lei Dendria] {Conclusdo das Leis da Década) . IIL, Leis Diddicas ¢ Parte I das Leis Triédicas 13 [Unidade, Relagio} 14 [Unidade, Reciprocidade] 15 (Unidade, Formal 17 [Unidade, Evolugio] 18 (Unidade, Assungio] [Conclusio das Leis Bindrias] {Leis Terndtias: Parte 1 ~ Nora sobre as Tensées} . 123 Unidade, Oposigéo, Relagio « 124 Unidade, Oposigdo, Reciprocidade . [Comentarios as duas leis anteriores) ......0-:. IV, Leis Tridieas (Parte II) 125 Unidade, Oposisio, Forma . 126 Unidade, Oposigia, Harmonia 127 Unidade, Oposigio, Evoluga 128 Unidade, Oposigio, Assungac V. Leis Triddicas (Parte Hl). 129 Unidade, Oposigio, Universalidade .. 134 Unidade, Relagio, Reciprocidade 135 Unidade, Relagio, Form: 136 Unidade, Relagio, Harmonia ... 137 Unidade, Relagio, Evolugio 138 Unidade, Relagio, Assungio ,, 139 Unidade, Relagio, Universalidade 145 Unidade, Reciprocidade, Forma... 146 Unidade, Reciprocidade, Harmon 147 Unidade, Reciprocidade, Evolugo dlc, Reciprocidade, Assungii cdc, Reciprocidade, Universalidade .. 156 Unidade, Forma, Harmonia... . 157 Unidade, Forma, Evolugio 158 Unidade, Forma, Transformagio . 159 Unidade, Forma, Universalidade 167 Unidade, Harmonia, Evolugio ..... 168 Unidade, Harmonia, Transformagio 169 Unidade, Harmonia, Universalidade 178 Unidade, Evolugio, Transformagac 179 Unidade, Evolugio, Universalidade 0. 189 Unidade, ‘Transformagio, Universalidade .. {Leis que partem da oposigao] . 234 Oposigao, Relasio, Reciprocidadk 235 Oposigio, Relagio, Ordem .. 236 Oposigio, Relacio, Harmonia 237 Oposigio, Relagio, Evolugio 238 Opasigdo, Relagio, Transformagio . 239 Opasisio, Relagio, Universalidade.. 245 Opasigio, Reciprocidade, Forma... ML. Leis Triddicas (Parte 1V) soo [Escorasrica # mrracontsMo) 246 Oposigio, Reciprocidade, Harmonia... 247 Oponigio, Reciprocidade, Evolugio. 248 Oposigio, Reciprocidade, Assungao .. 249 Oposigio, Reciprocidade, Universalidade Césmi 256 Oposigio, Korma, Harmonia. 257 Oposicdo, Forma, EvalUgl0 sss 258 Oposigio, Forma, Assungio 259 Oposigho, Forma, Univertalidade Céumica [Excunso: O Prosuxta Do Mat] 458 Reciprocidade, Forma, Assungio 459 Reciprocidade, Forma, Universalidade Césmica.. 467 Reciprocidade, Harmonia, Evolugio 468 Reciprocidade, Harmonia, Assunga 469 Reciprocidade, Harmonia, Universalidade Césmica.. 478 Reciprocidade, Evolugio, Transformagio..... 479 Reciprocidade, Evolugio, Universalidade Césmica 489 Reciprocidade, Transformagio, Universalidade Césmica [Leis da Forma) . . 267 Oposigio, Harmonia, Evolugio 268 Oposi¢io, Harmonia, Assungio [SusstaNca & Onewsy .. 269 Oposicio, Harmonia, Universalidade Césmica 278 Oposigio, Evolusio, Assungio 279 Oposisio, Evolusio, Universalidade Césmica 289 Oposigao, Assungio, Universalidade Césn 345 Relacio, Recipracidade, Forma .. 346 Relacio, Reciprocidade, Harmonia .... 347 Relagio, Reciprocidade, Evolugio ... 348 Relacia, Reciprocidade, Transformagio 349 Relacio, Reciprocidade, Universalidade Cés 356 Relagio, Forma, Harmor 357 Relasio, Forma, Evolugio 358 Relagio, Forma, Transformasio-Assungio 359 Relagio, Forma, Universalidade Césmica 367 Relagéo, Harmonia, Evolugio . 368 Relagio, Harmonia, Transformacio 369 Relagio, Harmonia, Universalidade Césmica 378 Relacio, Evolusio, Transformagio 379 Relagio, Evolugio, Universalidade Césmica 389 Relagio, Transformacio, Universalidade Cés 1569 Formna, Harmonia, Universlidade Césmica. {578 Forma, Evolugio, Transformasao ... ‘579 Forma, Evolucio, Universalidade Césmica “589 Forma, Transformagio, Universalidade Césmica | [Leis da Harmonia] Evolugio, Transformagio Harmonia, Transformagio, Universalidade Césmica Evolugio, Transformacio, Universalidade Césmica . VII. Parte V das Leis Triddicas ¢ Conclusio 456 Reciprocidade, Forma, Harmonia 457 Reciprocidade, Forma, Evolugio .. Mianio Ferreira pos SaNTos (1907-1968) INTRODUGAO Guia Breve para o Estudioso da Obra Filoséfica de Mdrio Ferreine dos Santor ‘of quanto tempo ainda conseguiré a alianga entre @ displicéncia, a inépeia ¢ 0 invejoso desdém manter t estendida a rede desombras que, desde a morte do maior dos nossas fildsofos, caiu sobre a sua obra luminosa? Por quanto: tempo ainda du I abs speranga de que esse reinado esteja perto do fim, apresento rio reinado dos momos filosdficos, cujo ruidoso, carnat a 0 discurso da mais alta inteligéncia? aqui a obra magnifica que descnterrei dos inéditos legados por Mario Ferreira dos Santos, ¢ & qual dei, atendendo a honroso pedide da filha do autor, a preparagao textual melhor que pude, faendi a acompanhar desta Iniradugdo para gisiamento do leitor Nas paginas que se seguem, no intento um resumo ou anilise do pensamento filosdfico de Mario Ferreira dos Santos, mavéria P: biogrifico do autor, um esquema da estructura da obra ciclica em 1 estudo de maior folego, mas delineio apenas um ripido perfi icias Filosdficas — © que este livro se insere ~ a Enciclopédtia dies Cit um breve relato dos trabalhos editoriais desenvolvidos para a pu blicagto destas Leis Feernas. Bem sei que discernir numa monta nha de textos os lincamentos de uma estrutura interna global é jd interpretar, ¢ muito. E pelo menos remover o principal obsticulo no caminho de uma interpretagao, sobretudo no caso de uma obra de dimensoes oceitnicas, em que mesmo leitores habilitados iio souberam enxetgar sendo um caos movente ¢ inabarcdvel. Mas, se aqui entro na inyestigagio dessa estrutura, nio é bem na posicio de intérprete filosdfico, ao menos por enquanto, ¢ sim apenas na de introdutor propriamente dito, para que no se perca 0 leitor ‘entre as colunatas ¢ corredores do maior templo filoséfico jd erigido ‘em lingua portuguesa. Estas paginas tém, portanto, um sentido cexclusivamente pritico e utilicitio, sem a ambigéo de ser um estu- do filoséfico, que nfo obstante elas preparam e anunciam, no in- tuito sincero de que a promessa bem-intencionada nio se substitua 20 cumprimento do dever. ‘MARIO FERREIRA DOS Santos! Mario [Dias] Ferreira dos Santos nasceu em Tieté, Estado de ‘Sao Paulo, no dia 3 de janciro de 1907, as 13h20, filho de Francis- eo Dias Ferreira dos Santos ¢ de Maria do Carmo Santos. Seu pai, portugués de nascimento, descendia de uma familia de advogados ¢ juristas, mas seguiu carreira de artista e se notabilizou como um dos pioneitos do cinema, tendo produzido ¢ dirigido dezenas de filmes, incluindo O Crime dos Banhados, reconhecido como 9 primeiro longa-metragem da filmografia mundial. Mirio, quando menino, participou como ator de alguns filmes do pai. Casado com uma senhora muito catélica, Francisco Santos era ateu emagom, Mario contaria.a seus filhos que o contraste entre as erengas do pai ¢ da mac foi um dos primeiros motivos de espanto " Para estas notas biogrificas, baseci-me amplamente em trabalho inéivo de Nadia Santos Nunes Galvio, Mario Fermin dot Soma: Biogafa (original Aatilografaco, $5p.), c também em informagbes que me foram eransmitidas por Yolanda Lhuillier dos Santos. re que despertaram filosdfica, Ape- sar de suas conviegbes, ‘era grande admiradot da educagio jesuitica, motivo pelo qual, apés instalar-se com a fume lia em Pelotas, Rio Grande do Sul, matriculou o filho no Gindsio Gonzaga (hoje em dia dirigido por padres maristas). Mario Ferreira dos Santos sempre se considerou devedor dos jesultas, dos quais recebeu as primciras nogbes de filosofia ¢ a for magio religiosa a que permaneceria ficl, apesar de crises temport- rias, até o dltimo dia. Deveu a eles algo mais: sentindo despertar em si o que supds ser uma vocagio clerical, foi orientado pelos mestres a que buscasse noutra diregio o rumo da sua vida, Em 1925, ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre, estreando como advogade em 1928, com sucesso, antes mesmo de formar-se. No ano mesmo em que se bacharelou em Direito ¢ Cién- cias Sociais, 1930, abandonou a profissio para trabalhar na em- presa de produgdes cinematograficas de seu pai. Simultaneamente, dirigia 0 jornal gaticho.A Opiniao Priblica. Como jornalista, apoiou ativamente a Revolugio de 1930, mas nao tardou a criticar certos atos do novo governo revaluciandrio, sendo por isto preso ¢ obri- gado a afastar-se da diregdo do jornal, Ainda em Porto Alegre, trabalhou no Didrio de Noticias, no Correio do Povo c em algumas revistas. Como comentarista politi co, escreveu mais de uma centena de artigos sobre a I Guerra Mundial, alguns deles depois reunidos em livros. De 1943 a 1944, fez varias tradugées para a Editora Globo, entre as quais Os Pensamentos, de Blaise Pascal, Didrio fntimo, de Amicl, A Fisiologia do Casamenta, de Balzac, ¢ Vansade de Poténcia, de Nictesche, Nietzsche foi uma influéncia marcante na formagio do nosso fildsofo, que depois traduziu ainda ~ sempre dirctamente do original yo alemio = Aurone, Além do Bem ¢ do Male Assim Falava Zaratustra, este tiltimo acompanhado de comentérios minuciosos que, anali- sando o simbolismo da obra, constituem até hoje um dos mai valiosos itens na bibliografia dos estudos nietzschianos, Ainda so- bre Nietzsche, Mario Ferreira escreveu um longo ensaio, O Ho- mem Que Nascen Péstume, no qual, tomando a palavra em nome do fildsofo-poeta, 0 defende contra seus detratores. Datam desse periodo varios outros ensaios de tema filoséfico — mas de tratamento antes literério ~, em que vemos pouco a pouco delinear-se alguns dos temas bisicos da preocupacio do autor. Encontrando dificuldade para publicd-los, Mario Ferreira tornou-se seu préprio editor, obtendo nordvel sucesso de livraria com obras publicadas sob uma estonteante variedade de pscudd- nimos. Daf por diante, ele nao deixaria mais a atividade edito- rial, fundando varias empresas; as principais foram a Livraria ¢ Editora Logos S.A. ¢ a Editora Matese Ltda., ambas de Sao Pau- lo, pelas quais publicou — imprimindo-os em grifica prépria — nndo apenas 0s seus livros, mas uma infinidade de tradugoes de obras cldssicas, bem como enciclopédias, d de toda sorte. ionfrios ¢ antologias Na década de 1950, mudou-se para a capital paulista, onde, enquanto prosseguia sua atividade editorial, dirigia quacro ci- nemas, 20 mesmo tempo que dava cursos e conferéncias, escre- via para jornais e revistas ¢ ainda ia redigindo, em velocidade erescente com o decorrer das anos, a sua obra filoséfica. Hor mem de atividade vulcinica — ripico colérico da tipologia de Le Senne —e dotado de genio empresarial, Mario foi o intradutor, no Brasil, do sistema de livros a crédito, vendidos de porta em porta, Fez enorme sucesso, ainda aumentado pela repercussio i de seu Curso de Ona ado por politicos, empresitios ¢ intel que, publicado em li- vro, vendeu nada menos que onze edigbes. Nos intervalos, di- rigia um Curso de Filosofia por Correspondéncia, corrigindo pessoalmente as ligdes enviadas por centenas de alunos ¢ ainda encontrando tempo para atuar como conselheiro de pessoas aflitas que recorriam freqiientemente ao auxilio de sua sabedo= ria. Esta ultima atividade inspirou-lhe dois livros que ainda estio entre os mais interessantes no género auto-ajuda: Curse de Integragdo Pessoal ¢ Convite & Psicologia Pratica, De 1952 em diante, entregou-se com paixio avassaladora & construcio de sua obra filosdfica magna: a Enciclopédia das Cién= cias Filoséficas, cinco devenas de volumes cuja maior parte che- gou a ser publicada em vida do autor, restando porém inéditos alguns textos fundamentais, dos quais @ presente volume inicia a publicagio ordenada. Mario Ferreira dos Santos jamais ocupou um cargo puiblico ou uma citedra universitaria. Nem procurou fazé-lo, ele que pau- tou sua vida por uma independéncia feroz e que mostrou sua capacidade de vencer sozinho obsticulas ante os quais tremeram geragdes inteiras, Sua dinica passagem pelo corpo docente de uma universidade deu-se no ultimo ano de sua vida, quando, por in- rador ¢ amigo, o filésofo letoniano radicado no Brasil pe. Stanislavs Ladusiins, s.j.. Mario consentiu em dar algumas aulas na Faculdade de Filosofia N, S*, Medianeita, dos padres jesuitas, encerrando, portanto, sua vida de estudioso, tal come a iniciara, entre as soldados de Cristo. As aulas duraram sisténcia de um adi apenas umas poucas semanas. Mirio jd estava muito mal de sati- de, com graves problemas cardiacos, agravadas pelo excesso de pe, der militar que dominava o Brasil; ¢ a diregio da escola, preven- do o pior, mandou instalar, ao lado da sala de aula, um balio de io para alguma emergéncia. Métio nio morreu na citedra, mas em casa, cercado de seus ‘entes queridos~ sua esposa Yolanda, suas filhas Yolanda e Nadiejda, seus genros Fernando e Wilmar: os tinicos verdadeiros aliados & colaboradores que tivera numa vida de baralhase construges. Sen= indo aproximar-se 0 instante derradeito, o fildsofo pediu que os familiares o erguessem. Morrer deitado, afirmou, era indigne de um homem. Morreu de pé, recitando as palavras do Pai-Nosso. A ENCICIOPEDIA E SUA REALIZAGAO. Se Mario Ferreira dos Santos tivesse morrido na primeira meta- de da década de 1950, sua biografia jé teria mostrado um homem notdvel pela criatividade, pela multiplicidade dos talentos, pela atua- ‘sio puiblica de jornalista, editor ¢ educador. Mas ocorreu que, es- condida sob essa variedade de ocupag6es, se desenrolava uma biografia interior de riqueza ainda maior. Pouco nos dizem a respeito os documentos. O desenvolvimento intelectual ¢ espiritual de Mario Ferteira € um mistério} pois os escritos publicados até 1952 s6 de maneira parcial e obscura re- fletem as inquictagées mais graves que 0 agitavam por dentro € ‘05 vastos planos cuja realizagio ji se preparava, talver, em seu subconsciente, Sabe-se, ¢ claro, que durante todo esse periodo cle nao cessou de estudar as grandes obras de filosofia, de tomar notas, de mandar buscar no exterior os livros raros de que neces- sitava, ¢ mesmo de encomendar eépias de velhos félios em biblio- tecas, como, por: fildsofos portugueses do Renascimento, aos qi ‘0 primeiro graride pensas dor, depois de Leibniz, a devotar longo estudo ¢ profunda admic ragio. Essa acividade interior foi gerando secretamente, por dentro do ensaista, do tradutor-comentarista de Nietzsche, do jornalista € editor brilhante, um novo homem: um fildsofo no sentido mais pleno da palavra. Na verdade, o filésofo brasileiro. Mas os escti« tos publicados até o principio da década de 1950, se anunciam (05 temas ¢ problemas fundamentais de que o filésofo iria ocupar- se, nem de longe deixam transparecer a profundidade, a enverga- dura ea solidez dos pensamentos que germinavam na alma de Mario Ferreira dos Santos. Inteiramente desproporcional com 0 anterior, o nove homem surge pronto, como se vinde do nada, € explode numa seqiincia de dez obras geniais, publicadas entre 1952 © 1957: Filosofia e Cosmovisio, Logica ¢ Dialética, Pricolo- gia, Teoria do Conhecimento, Ontologia, Tratado de Simbdlica, Fi- losofia da Crise, O Homem Perante 0 Infinite, Noologia Geral ¢ sobretudo a obra maior desse perlodo: Filosofia Concreta, em txés tomos. Publicadas, nao; disparadas, & razio de um volume cada quatro meses, O estado das edigdes reflete o improviso da produ- do, incapaz de acompanhar a tempestade de incuigbes fulguran- tes que se sucediam, cada ver mais ricas abrangentes, no interior de uma inteligéncia que parecia querer abragar com um 36 olhar a totalidade do real, O inacabamento desses livros, 0 descuida com a revisio, os freqiientes hiatos na exposigao ¢ as stibitas mu- dangas de assunto podem ter repelido muitos leitores, num pais ‘onde © esnobismo das capas clegantes © das edigées bem euidadinhas ainda ¢ uma conditie sine qua non para que um livro seja respeitado até mesmo pelos intelectuais. Mas af estd contido, sob uma forma litendria descuidada e opaca, nao sé um pensa- mento maravilhosamente ordenado, mas uma filosofia total, or- inica, sistémica — enciclopédica no sentido etimoldgico do termo: ‘um ensinamento abrangente, de estrutura perfeitamente circular ‘ou esférica. Porque ¢ evidente que esses der livros foram concebi- dos todos de uma ver, como capitulos de uma exposigio seguida, destinada a abranger de maneira global ¢ pela ordem légica os temas basicos da indagagio filoséfica. Pela ordem, sim, porque a desordem ali ¢ s6 do pormenor estilistico: a estrutura, tanto da série como de cada livro, é limpida. Mas no ¢ s6 do exame dos livros que se conclui a unidade do conjunto. Os familiares do autor contam que, dando uma confe- réncia em Sio Paulo, Mério repentinamente se calou €, aps al- guns minutos de constrangimento geral, pediu aos ouvintes que 0 desculpassem: acabara de ter uma idéia ¢ precisava registré-la no papel antes que escapasse. Foi para casa ¢ redigiu na mesma noite a série de teses principais da das, progridem como numa demonstragio, matematica, dos prin- cipios auto-evidentes até as mais remotas conseqiéncias para os virios dominios da filosofia, Mais tarde Mario acrescentou demons- tragBes — cruzando varios métodos légicos e dialéticos ~, comentd- tos, escélios etc. Basta examinar os nove titulos restantes da Primteira Série da Enciclopédia para verificar que cles ndo fazem sendo dar recheio & armadura ento esbogada, realizar em detalhe o progra- ma da Filosofia Concreta, desdobrando, num confronto dialético com miiltiplas correntes de pensamento, cenriquecendo, com uma ilocofia Conereta, Estas teses, numera- variedade de exames segundo as perspectivas de diferentes discipli- nas filoséficas, @ esquema que, no ultimo livro da série, serd apre- sentado numa sintese geometricamente ordenada. se de apresentar uma filosofia nova, original até i audécia, ao mesmo tempo que arraigada no solo arcaico do pitagorismo; ede fazé-la dialogar com as correntes principais do, pensamento con« temporiineo, as quais ela se opunha dialeticamente, a0 mesmo tempo que se oferecia como sintese abrangente dos seus momen- 108 positives. De outro lado, falava a vocagio do educador, que queria ensinar a todos, ser didético, espalhar livros de filosofia por todo o Brasil, ser compreendido até pelo mais humilde ope- ririo do centro anarquista, onde suas conferéncias the haviam conquistado sdlidas ¢ duradouras amizades. A mistura impossivel nio deu certo, Oscilando entre 0 didatismo vao, nos trechos em que coloca os problemas cldssicas da filosofia, e a obscuridade inevitavel, naqueles em que apresen- ta suas respostas de uma ousadia e de uma grandeza sem par, Mario nos deixou uma obra hibrida ¢ hesiante, que constitui, a meu ver, a pior introduce possivel ao seu pensamento. Isto niio desmerece, é claro, os elevados méritos do livro, sobretudo das suas partes finais, em que Mdrio, como que num stibito arran- que, num acesso de urgéncia, abandona toda preocupagio didi- tica e informativa para nos entregar, em paginas de extrema densidade, 0 nticleo vivo do seu pensamento, © resultado, po- rém, € que o leitor versado em filosofia é repelido pelo didatismo das primeiras paginas, ¢ o leigo pela obscuridade das iltimas, de modo que, faltando a este a pacigneia caquelea humildade, ambos deixam de tirar proveito da leitura, segundo volume padece da mesmo defeito, mas atenuado, porque entre a primeira parte ~ um manual de légica cldssica ~ € pn. a segunda— uma apresentagio resumida do novo método dialético concebido pelo autor, a decadialérica —, um capitulo intermedid- tio sobre as varias dialéticas havidas na Histéria faz as vezes de ponte, produzindo um efeita de greduagdo erescente da dificuldade, que era provavelmente 0 que 0 Mirio quisera fazer, sem sucesso, no primeiro volume. Do terceiro em diante, a argumentagio toma impulso, as novas perspectivas abertas pelo métado decadialético vio surgindo com progressio deslumbrante, a filosofia de Mario Ferreira dos Santos vai tomando corpo até perfazer-se com uma summa de demonstra gio geométrica nos trés volumes da Filosofia Conereta. ‘A meio caminho, Mario tem uma recaida no didatismo, mas € uma recaida providencial. © Traade de Simbélica, sexto volume da série, tratando de um assunto bastante desconhecide no Brasil de entio, mesmo pelo leitor culto, interrompe a exposigio da filo- sofia pessoal de Mério, para dar os princfpios fundamentais de uma ciéncia do simbolismo resumidos das obras dos bons tratadistas, como Mathila Ghyka, Mircea Eliade, René Guénon e ‘outros. Acontece que, entre esses princ{pios, surgem as interpreta- ges simbélicas dos mimeros de | a 10 segundo o pitagorismo, as quais, no confronto com outros simbolos, de ordem plastica, ad- squirem uma clarcza maior do que se fossem apresentadas no abs-_ trato-e sem esse suporte sensivel. E acontece também que toda a metodologia, toda a dialécica ¢ toda a ontologia de Mirio Ferreira se baseiam, em tltima andlise, num aprofundamento do sentido dos ntimeros no pitagorismo. Este livro, aparentemente © menos filosdfico da série, acaba por funcionar, quase que sem querer, como a mais didstica das introdugdes ao pensamento de Mario Ferreira dos Santos, ¢ seré recomendavel que o leitor faga por ele seu primeto conto comma i dibs, Io the dart uma base sensivel ¢ imaginativa ondeapoiar-se para escalar as abstragées que oclevario, nos volumes seguintes, a alturas quase irrespirdveis, que lids j4 se anunciavam na Teoria do Conhecimento (vol. 1v) © na Ontologia (vol, v), Carlo Beraldo, no longo verbete que consagroua Mario Ferreira nna Enciclopedia Filosofica do Centro i Studi Filosofici di Gallanate? definiu a filosofia do mestre brasileiro como uma sintese = “ao ‘mesmo tempo tradicional e pessoal” — de pitagorismo ¢ tomismo, ‘A definicao é incompleta, mas verdadeira no essencial, e constitui ‘uma boa via de acesso para a compreensio dessa filosofia. O ponto de partida de Mario Ferreira ¢ uma reinterpretagio completa do pitagorismo, em parte com base nos textos remanes- ccentes da escola pitagdrica, em parte fundando-se na idéia de re- compor idealmente essa filosofia, tomando como hipétese a sua “eoeréncia intrinseca”, isto ¢, a conjetura historicamente verossi- mil de que Pitégoras, ou a escola pitagérica, nao poderia deixar de perceber as conseqiiéncias légicas imediatas —¢ mesmo algumas nio tio imediatas — dos principios que havia postulado, Mas essa reconstrugio nao tem necessariamente, segundo: Mé- rio, um sentido histérico, ¢ sim doutrinal ¢ légico. Se ela nao nos dé o pitagorismo historicamente auténtico, dé-nos aauténtica filo- sofia de Mario Ferreira, antes inspirada do que calcada em Pitdgoras. Esta filosofia se ergue por etapas — nao no sentido cronolégico, mas lgico -, que vio ampliando ¢ aprofundando 0 sentido de uma intuigio origindria, até reconstruir, tomando-a como centro, © edificio inteiro das ciéncias filoséficas. As ctapas sfio quatro: Firenze: G. C. Sansoni Editvore, 2ed. 1969. av Primeira etapa ~ Mario compreende a Década Sagrada dos pitagéricos inicialmente como um sistema de categorias lbgi- cas, Desde 0 primeiro desses pontos de vista, ele constréi um novo método dialético — a decadialética — que, abordando uma questo desde dez pontos de vista interligados, oferece um con- trapeso ico ao abstratismo da légica formal. Para decadialética, rodo o ente (ou todo problema) deve ser enfocado, Sucessiva e rotativamente, como unidade, como oposi¢do (interna), como relagio (entre 03 opostos), como proporgéo (entre as relagies internas) como forma (sintese concreta dos quatro aspectos anteriores), Isto perfaz o exame da sua constituigdo interna, Mas em seguida 0 objeto deve ser visto em sua harmonia (com o meio circundante), em seus aspectos de rup- tura ¢ crise, que o separam abissalmente do meio € 0 sujcitama mutagGes, em seu potencial de superagdo ou assungao (pelo qual, perdida a sua harmonia intrinseca, se integra numa harmonia imediatamente superior), na wnidade superior da forma abrangente (que retine os oito aspectos anteriores ¢ os integra no tedo césmico) e, finalmente, em sua insergdo final{stica na unidade sranscendente do real, no Ser supracésmico, no Supre- mo Bem de que falava Platdo. Ha uma segunda maneira de aplicar a decadialética. Aqui-os, dez aspectos tornam-se dez campos, cada um definido por uma oposigio bisica: 1 Sujcito x objero 2 Atualidade x virtualidade 3. Possibilidades reais x possibilidades nao-reais 4. Intensidade x extensidade Sea Ml 5 Acualizagbes ws atualizagGes (e virtualizagbes) 6 Razio x intuigio (oposig6es no sujeito) 7 Conhecimento x desconhecimento (oposigé glo ¢ feita, ainda, em certa analogia com o pensamento pitagérico, 70 dogor de um ente é a sua “lei de proporcionalidade intrinseca", a nue da ‘sua forma esscncial”, que expressasinteticamente todo o carp de possibile des de manifestagio desse ente, © arithmes arkhe do mesmo ente &, assim, 0 rnimero que, por suas propriedades inteinsecas, coresponde estrururalmente a esse logos segundo uma analogia de atribuigio intrinseca (ou. analogia de proporcionalidade), Por exemplo, a um ente cuja forma essencial tenha wma estrutura sendria corresponderi o arithmos arhe 6. Tanto o logor quanto sua esfera das possbilidades ( das combinagées de possibilidades, ou, como dia Leibniz, das compossbilidades), Para que esse ente possa manifestar-se nuh tuniverso real, xem de haver, num plano mais baixo que © do puro arithmos darkhe, também uma lei sendria, que governe ¢ delimive a sua manifestagho ar- sim como o niimero 6 governa ¢ delimita a sua esséncia. O conceito de “lege! deum ente" encontra-se em A Sabedaria des Principies,p.68-91) 0 de arihrnes ark, 00 Pitdgoras¢ 0 Tema do Nimero, p.72-82. ) Lembre-se que todas a¢ frases entre colchetes «/ou em tipos menores slo intervengbes do editor. 4A pascagem do estudo das “possibilidades puras® ao das “leis que efetivamente regem 0 set” corresponde, portanto, em termos guénonianos, & descida do plano da “metafisica® a0 da “oncologia geral” (“metafisica” no sentido aristotélice), Seos arishm arkhai séo os *principios pures’, asleis sia os “prin= cipios de manifezagio” desses principios puros. + © contetido das “aulas anteriores” a que 0 A, se refere ~ di 184 85¢~ etd reunido, pela ordem, em A Sabederia ds Principis (Sio Paulo: Matese, 1967), ‘A Sabedoria de Unidade (id, 1968) © A Sabedori do Sere do Nada, 2. (ida, 1968). © presente volume —v, 1v, portanto, da série —compée-se das aulas 85 42.90%, As alas suibseq Gentes, da 91! até aproximadamente a 130+(a numeragio dos originals ¢ tinubcante), compdem os volumes V a X da série Matheris. Quanto 4205 “n0ss08 livros", os principals precursores das Leis Kiernas foram Filsofia Conercta (Ska Paulo: Logos, 1957; reed. aumentada em rés volumes, 1960) ¢ Piidgoras¢0 Tema do Niimere (Sho Paulo: Matese, 1960), yg, Foi com base na Década Sagrada dos pitagéricos que “reconstrul- mos” estas Icis, ds quais chamamos, por este motivo, leis pitagdricas.* Esta atribuigéo néo tem necessariamente um sentido histérico, isto ¢, niio implica quea formulagio que damos as leis tenha sido de fato aquela que vigorou dentro da escola pitagérica; mas cremos que ela ésteja perfeitamente coerenciada com a concepgio secreta que os pitagéricos tinham da Marhesis megiste. Como em filosofia s¢ aceitamos, naturalmente, uma dnica au- toridade, que ¢ a demonstragio, cabe-nos no s6 apresentar as leis, mas demonstrd-las:€ no somente demonstrar que sie vdlidas, mas também que sio as leis fundamentais de todo ser. [Mas) para tal demonstragio podemos valer-nos, parcialmente, de teses, de argu- mentos, de posculados ja expostos em outras obras de nossa auto- ria; ¢86 apresentaremos argumentos demonstrativos quando forem novos, portanto necessirios, Ao dizermos que nossa atribuicao das leis a Pirdgoras nao tem um sentido histérico, queremos dizer que tem um sentido légico edoutrinario, Estas leis sio perfeitamente cocrentes com 0 pen- samento de Pitdgoras e; segundo o que jé dissemas em nosso Pitdgoras ¢ 0 Tema do Niimero, representam aquilo a que ele teria chegado (se € que efetivamente nao chegou) se prolongasse oerentementte as conseqiiéncias e aplicagdes do seu pensamento, m concordancia com os prineipios que havia postulado. Presumivelmente, verossimilmente, podemos dizer que estas leis deveriam ter sido de fato as leis pitagéricas. Nacuralmente, uma demonstragao histérica seria imposstvel, porque as obras sobre a 0 sentido da atribuigo destas leis ao pitagorismo estd exposto em Pitdgonase @ Tema do Numero, p.21-8 da segunda edigio. fre etc dn pg than ne que foram escritas, “NOs ha suposigio de que, tendo sido escritas, no chegaram até nds, a nfo ser através de fragmen- tos na obra dispersa de autores pitagéricos categorizados.’ Fun- dando-nos, assim, em textos universalmente accitos pelos pitagéricos, tinhamos neles os clementos de base para esta “reconstrugao” das leis, pelo menos nos seus aspectos onvoldgicos: mos seus aspectos matéticos." Dada a cocréncia que as leis apre= sentam [com] essa doutrina expressa nos textos, podemos supor que a demonstracio da sua validez, tal como a apresentamos, deve ser similar aquela que era conhecida pelos iniciados pitagéricos de tercciro grau, ¢ que eles também teriam chegado As mesmas conclusées a que chegamos, pelo desenrolar dos pen- samentos segundo as leis dialéticas da conseqiiéncia. De qualquer modo, a questo da validade histérica nio ¢ a que nos interessa em primeira instincia. © que interessa é que, pitagéricas ou nio, estas leis so validas. Se, na andlise que se segue, vamos usar de argumentos extratdos dos textos pitagéri- cos, procuraremas, por outro lado, reforgar esses argumentos segundo enfoques que séo préprios a0 nosso modo de conside- tar as coisas, 7 Alguns dos fragmentos mais significativos sto transcritos em Pitdgonas ¢ 0 Tema do Nimero, por exemplo os de Filolau, Arquitas ¢ Jimblico, também os Versos Aureosde Pitigoras, dos quaiso A. fez wm extenso Comentdnio, que estamos preparando para edicio. que, na nossu classificagio, se situa encre as ieulas da Série Il das Obras de Masio Ferreira dos Santos. * *Pelo menos”, isto 4, sem descer As suas aplicagées nos dominios das ciémclas filoséficas especiais. [Disnincors] Antes de mais nada, niio se deve, quando se fala de pitagorismo, confundir os ntimeros matemiticos, os arithmoi mathematikei, que pertencem a triada inferior, com os avithmno’ arkhai, que sio da triada superior.” Estes tiltimos correspondem as “formas”, no sentido pla- ténico, as “idéias exemplares”, no sentido de Sto. Agostinho, aos panadeigmata do neopitagorisma ¢ do neoplatonismo, isto é, as idéi- as universais, cideticamente (¢ nao 86 noeticamente) consideradas,"” Outra distingao que devemos ter em mente ¢ aquela, jé menciona- da, que ha entre as duas manciras ~ ou niveis ~ em que podemos encarar os légoi, ou principios. De um lado, podemos consideri-los enquanto formas arquetfpicas, idéias exemplares, arithmai arkhai, paracleigmata— ou ainda, na terminologia escolistica, puna posibilia, possibilidades puras ~ ¢, de outro lado, enquanto leis ou normas reais ¢ efetivas, que imperam ¢ regem sobre as coisas existentes. Nes- te tiltimo caso, as /dgoi io normas no somente pelo seu contetido noemético, mas pela fungio que efetivamente desempenham."' das leis neste sentido cfetivo que descjamos falar, A “wiada superioe”abrange: 14, os arith ark ou niimeros arquetipicos que cxpressam os suptemos principios (objeto dos és primciras tomas da sie Mathes ‘megise); 2, a estruturas do ser real (gs leis estudadas no presente volume}; 3%, as formas (arthnno’cidevika) dos ents reais em particular. Seu estudo corresponde respoctivamente; na termainologia de Gueénon, &“metaisica’ &“ontologia geal”, “onvologia especial". A“tracainferioe” comprcende, também em ondem descen- dente: 1,5 metas matemiticas; as formas geométricas; 3, as coisas sensf- vis, Abrange, portano, 0 dominio da “cosmalogia’, Cf. Pldgoncs p.75-9 é,consideradas como realidades arquetipicas, estruturas objetivas do real, © nilo 36 como esquemas cognitivas. "©" Bideticamente ¢ no s6 noeticamente’, ~~ Estas leis, que regen todas as coisas, constitulam aquilo que os pitagéricos denominayam a "Tétrada Sagrada” (ou “Quaterndrio Sagrado”), também chamada de “Década Sagrada” porque a soma dos quatro primeiros nuimeros (1 +2+3+4 4) dé 10, Ao conjunto de dex leis, eles denominavam “Mie de Todas as Coisas", en- tendendo com isto que elas constitufam a matriz, a fonte, que, a0 reger, se repete e, ao repetir-se, faz repetir, produ a repeti- 40, fax surgir as coisas semelhantes ¢ também as coisas que, sendo dessemelhantes de umas, so semelhantes a outras, Estas leis, sendo dez, podem ser entio denominadas a Lei do Uni & Lei do Dois, a Lei do Trés {e assim por diante até completar), finalmente, a Década. 1 [Lei da Unidade) ‘A Lei do Um seria, conseqiientemente, a Lei da Unidade, Ora, © principio de todas as coisas tem necessariamente de ser algo de positivo: se as coisas existentes sio positivas, scu principio tem de ser positivo. O principio positive, o principio que se afirma, que dé testemunho de sie que se pasitiva a si mesmo, é precisamente o que se chama Ser. O principio de todas as coisas positivas € 0 Set. nada nao pode ser principio de nada, Ora, a unidade, como ja dissemos anteriormente,"? caracteriza-se por ser indivisa in se ¢ di- visa ab aio (isto é, distinta de qualquer outro). "Da abordagem puramente principial, apresentada nos trés volumes antetio res, passa, neste, a6 nivel da manifestagdo, O presente liveo ests, prortanto, na fronteira entre a ontologia ¢ a cosmologia, "CEA Sabedoria da Unidade, cap. Ul (p.25-31), Portanto, a unidade é a lei da integral, Eom toda e qualquer forma dotada cle existéncia, seu ser é um, Tudo aquilo que seja ser, tudo aquilo que possamos admitir como presenga ou adséncia,"! tem de ser uma unidade, A unidade e 0 ser portanto, sdo mutuamente con- verstveis. Onde ha unidade, ha ser; onde ha ser, ha unidade, A primeira Ici ¢ simbolizada pelo mimero 1. ©. um é a primeira lei que rege todas as coisas. Por ser um, o ser é imperiosamente regido pela lei da unidade. $6 0 nada nao € unitério, porque o nada no é, Ha, por certo, uma hierarquia do ser, uma hierarquia de graus intensistas — ou graus de intensidade' — do ser; cada ser parti- cipa da unidade segundo o seu préprio grau de intensidade, © qual, por sua ver, é comproporcionado & natureza de cada ser. Mas, qualquer que seja o seu grau de intensidade, todas as coi- sas sie unidade(s): num grau intensista maior ou menor, mas sempre unidade|s]. A lei de unidade preside a todas os se- res, 08 quais participam assim, segundo suas respectivas inten- sidades, da Unidade Suprema do Ser. " Adiéncia = “Termo proposto por Sudte2, provinde do verbo latino adian, no sentido de ser aqui, estar aqui, para substituir ‘presenga’ quando se refere a0 ser 423¢, isto presen’ indicar antes uma relagio, um ser ante outta’, como se da cam o ser ab eli, 0 ser contingente. Deus tem adséncia, © nds, presen” (Di- ciomdrio, A, p.89). "Sobre os cancsitos oposios ¢ complementares de exensidade ¢ intewidde, Fileiofa © Cocmotisie,p.154-63, Os conccitos foram apresentados originalmen- te por Ostwald ¢ Lupasco, Correspondem, em parte, a guantidade e qualidade. Lupasco (cit, pai) associa ao coneeita de extensidade 0s de: identidade, hhomogencidade, materialdade,cspacialidade, simultancidade, permanéncia ete; ao de invensidade, os de: nioidentidade, heterogencidade, sucessbo, desapareci- mento, desenvolvimento, anlisc. a ‘A maxima unidade eileen dn simples si dedo ser, do Ser Supreme que ¢ apenas ser, sem defi quanto ha depende deste Ser Supremo. Dele provém todas as uini- dades; todos os seres participam deste Um, participam da grande lei da integral, da Lei Suprema do Um, que rege todas as coisas. Tudo quanto é finito é unitariamente © que é, ¢ tende a tornar-se parte integrante de uma unidade. Nada se dé que no seja unitariamente (segundo graus intensistas maiores ou menores, niio importa). Esta lei é0 agos supremo, éa lei primeira de todas as leis: Tudo quanto éfinito é unitariamente 0 que é¢ tende a tornar-se parte integrante de uma unidade. Ora, o mimero aritmético 1, 0 arithmos mathematikol 1, sime boliza a unidade, por isto pode também simbolizar tudo aquilo quanto existe, pode simbolizar todos os entes naquilo que tm de unitdrio. © 1 simboliza todas as coisas enquanto unitariamente consideradas. Fundando-nos em textos genuinamente pitagéricos, verificamos que, segundo cles, o Ser Supremo Um, que ¢ absolu- tamente simples, cuja esséncia e existéncia se identificam, que uma pura forma, que € um puro /agos, é, na terminologia pitagérica, o “Pai”. Este “Pai”, que ¢ o Um considerado em si mesmo, gera um “segundo um", que é 0 um considerado en- quanto operagio, enquanto operatio. Gera-o por uma procession in intra, Desta geragio in intra surge entio 0 Um Criador, que é precisamente o denominado “Filho”, [A DIADA INDETERMINADA] Encontramos no Cris Filho surgem como simbolo da mais estreita das correlagdes, pois o raw ianismo a mesma concepgo: 0 Pai ¢ 0 Filho ¢ filho do Pai, 0 Pai é pai do Filho, de modo que a afirma- slo de um é a afirmagio do outro. Em linguagem filoséfica, o primeiro Um, que €0 Hen Prote,! € cxistencialmente ¢ essencialmente ele mesmo, imutivel ¢ eterno: 0 Ser enquanto Ser ¢ absolutamente ser, imutivel e eterno. Mas este Ser é ativo, ele atua, ele realiza, ele opera. Este operar é um segun- do papel do mesmo Ser. O operat, porém, implica escalha, implica preferéncia ¢ preterigio [entre possibilidades], implica, partanto, intelecgio, intelecto. Desta mancira, o Hen Prote, 0 Primeiro Um, € pura Vontade, € Querer, é Onipoténcia, ao passe que o Segundo Um, que realiza aquilo que a poréncia do Primeiro Um pode, é intelecto. E este Segundo Um, 0 Hen Déuteron, © Hen gerado do Ser Supremo, quem tem a fungéo criadora.!*Este segundo Hen & * Sobre 0 Hen Prote..A Sabedorie da Unidade, cap. 1, ¢ Pitdgones, p.67 ss * Em outros termos, o Hen Prove, que é a onipoténcia, é o principio do Hen ‘Déuteron, 0 qual, por sua ver, €0 principio de manifestagio dos entes particu- lares. Para cvitar confusdes quanto a este ponto, René Guénon prefere chamar 20 Hen Prote “Nao-Ser", c somente ao Hen Déuteron Set”. Mas, como-a nogio de" Nio Ser” pode ser confundida crroneamente com o"nada", Frithjof Schuon sugere a denominagio “Supra-Ser”. Qualquer que seja0 caso, pode-se comprcen- der que o Arithmes arkhai "Um" aio é cm si mesmo um niimero propriamente dito (uma vez que ele s6 pode ser mimero quando considerado diferenciadamente em relagio aos demais niimeros, que dele procedem), As~ sim, esta pré-unidade suprema éfreqlentemente simbolizala como 2ef0, nio no sentido de que seja um "nada", mas no de indicar que transcende a ide. © Principio Supremo éassim o Um Nao Numérico, ou "Zero". respeito, René Guénon, “Remarques sur la production des nombres”, Melenges, Paris: Gallimard, 1976, p.58 ss., © também Ananda K. ‘Coomaraswamy, “Kha et autres mots significant ‘réro' dans leur rupports avec la métuphysique de espace”, em Le Temps er -Eternit, wead, Gérard Leconte, Paris: Dervy-Livres, 1976, p.117 ss aque propriamente val dar urgimento ao que se chama a “Diada Indeterminada’, © Hei Dyas Aeriitar dos pitagdricos. Ele é 0 Um- diddico, é o “Filho”, 0 Criador, que € © Ser enquanto opera, en quanto cria. Mas nfo se separa abissalmente do outro, porque wm €0 outro, [apenas operand] numa segunda fungio. ‘Ora, por que chamar a diada de “indeterminada”? A diada é indeterminada porque a determinagio implica uma determina- bilidade. Ora, nossa mente é, por natureza, abstrativa, tem a ten- déncia de separar em conceitos distintos aquilo que na realidade se di identicamente [isto é, unido, ou como unidadel. Ora, esta diada indeterminada caracteriza-se por um poder de determinar ilimitadamente, por uma capacidade indeterminada de determi- aslo; ¢, por sua vez, o determinar implica, necessariamente, que algo seja determinado, Para haver uma indererminada determi- nagio € necessdrio haver uma deverminabilidade indererminada, isto €, algo que possa receber ilimitadamente determinagées. Quer dizer, ao poder ative tem de corresponder um poder passivos a uma poréncia ativa, uma poténcia passiva; entio, traduzindo tudo isto cm linguagem [aristotdlica}, reduzimo-lo a estes termos: 0 ato pode sempre determinar, ¢ a poténcia € sempre determinada; mas uma determinagao absoluta & impossivel, porque seria um ato, ¢ haveria entao contradigio in adjectis, pois 0 infinito é 0 poder sem fim de detcrminar, ¢, se tudo fosse jé determinado, 0 determinado teria alcangado-o limite da sua determinagio; ade- mais, um ser determinante, enquante tal, se atualizado plena- mente no ato determinado, alcangaria o [ilimitado] quantitative em ato, 0 que é absurdo. Portanto, @ ato de determinar implica um limite, 0 limite da determinagio, ¢ ele limita a coisa detert nada ou determindvel, Mas aquilo que esta determinado ¢ ilimitadamente 0 que esti determinado; 0 que recebeu uma determinagio é, enquanto tal, ilimitadamente ele mesmo, mas limitado pelo que niio ¢ ele; ¢ € também limitado no que ele é, pois o é até onde ¢ o que ¢, na medida em que ¢ 0 que é. Deste modo, a acéo criadora realiza 0 ilimitado que é, enquanto cle mesmo, ilimitadamente cle mesmo, mas que ¢ limitado por si mesmo na medida em que s6 é 0 que até onde €0 que é, ¢ limitado pelo que nao é ele, que éaquilo que ainda he € possivel ser. © determinado no ¢ limitado pelo nada, porque o nada nio limita, no tem capacidade de limitar;€ limita- do pela propria forma da coisa criada, ¢ a limitagao consiste nas possibilidades de determinagGes que ainda nio se atualizaram. Assim, mostramos, em Pitégoras ¢ 0 Tema do Numero, que a Dfada Indeterminada potencialmente infinita tudo quanto pode ser determinado; é, simultaneamente, o infinito potencial de determinar ¢ 0 infinito potencial de ser determinado. Neste caso, 0 ato formativo pode determinar sem fim tudo quanto pode deter- minar, ¢ a poténcia material, que ¢ passiva, pode ser determinada sem fim em tudo quanto pade ser determinada. Estamos em face de um infinito potencial-quantitativo ¢ no de um infinito quan- titative-atual, porque este, sabemos, ¢ absurdo, Ora, a Diada Indeterminada nao tem limites em si; ela indeterminada ilimi- tada enquanto tal, mas limitadora e deter minadora em seu atuar. Estes dois aspectos nfo sio independentes, pois sio criados pelo Hen, pelo Um, dele dependem, nia tendo, por isto, a absoluta simplicidade do Ser Supremo nem possuindo esta Diada a infinitude [dele], que é eterna, A diada nao tem infinitude arual, mas apenas uma infinitude potencial; infinitude potencial que é dada pelo poder, pela poréncia infinita, ativa, de determinar sem limite final. Encontramos da “criagio ab deterno” dos pir yada niio tem prin- cipio no tempo, uma vez que 0 tempo ji implicaria determinagio ‘© coisas determinadas, ©: tempo comeca quando o ato formativo modela a poténcia materidvel. O tempo refere-se as coisas determi- hnadas limitativamente, Deste modo, a Diada, que nao é eterna | pois mio € durivel toza simul, contém relagoes das mais diversas. O Hen, este, nio é temporal, porque o tempo s6 se pode dar na suces- so das coisas determinadas por aquela Diada gerada; {o Hen] per- fence, portanto, a uma duracio que € tora simul, a0 passo que & Diada Indeterminada nao é simultinea nas suas determinagées, mas nela se di uma sucesso, de maneira que a duragio desta diada éeviterna, cla se dd através de uma sucessio, enquanto o Hen Prote ¢ 0 Hen Déuteron sio ambos eternos. [0 Arto £4 Portnca] Tanto 0 ato formative quanto a poténcia materidvel so positividades e nio meros nadas. Se se distinguem formalmente, distinguem-se também na realizagio do ente determinado, Sio duas positividades, sio duas posigées, sto dois aspectos téticos, que se colocam um ante 0 outro, isto é uma posigio ob outra posigio; dé-se, portanto, [entre elas] uma o-posigde, Ambas sio. positivas, mas sio correlativas, porque a capacidade de ser determinado é a capacidade de ser determinado [pelo] ato determinante; ¢ 0 ato determinante ¢ © ato de ser da capacidade de determinagio. De ‘maneira que, nesta concepgio, forma ¢ matéria, como se chama- fo na filosofia aristotélica, sio correlativas, ¢ nio se dio proptia- ‘mente separadas, neste sentido: a forma ¢ a forma que determina, par Melhor seria usar a expressio: ato ¢ poténcia, O ato 0 ao da poténcia; a poténcia é a poténcia do ato, Q ato é que determina; é a capacidade determinante da capacidade determindvel da poténcia. O ato determinant a que se nio ob-pusesse a possibilidade de ser determinado perderia 0 seu poder. De forma que a Diada, enquanto ela mesma, & uma espécie de substincia universal, 0 que sub-esta em todas as coisas, porque é dela que surgem todas as coisas. Na linguagem aristocélica, a “matéria” € a “subscincia primeira’, & a ousia prote, ¢ a forma seria a “substincia segunda’, a onsia déutera. © ser finite entao seria a composigdo destas duas positividades. Esta também € a tese pitagérica, com a distingio de quea substin- cia é uma s6, uma mesma realidade com uma ciplice capacidade de determinar — seu aspecto atual — e de ser determinada, que é 0 aspecto passive. Deste modo, tudo quanto hd de finito é produto desta oposi- 6f0, € esta ¢ a razdo por que, na classificagéo das leis pitagéricas, a lei da oposicao vem em segundo lugat 4 lei da unidade; ela decorre da lei da unidade, porque a oposigio implica duas unidades: a unidade determinante ¢ a unidade decerminada; e daf surge entio a idéia de categoria. A primeira categoria pitagérica é a substéncia, mas a substancia neste sentido, de ser simultaneamente o que nela se opbe, [istox, de ser] as duas positividades queso o fato formativo € 4 poténcia materidvel, que surgem em qualquer ser finito. Ora, vemos que esta concepsao € perfeitamente adequada ao pensamento fundamental do aristotelisma, como também ao pen- samento fundamental da escolistica e de vada filosofia bem orien- tada. As dificuldades que podem surgir, filosoficamente, e queserio. tesolvidas na parte concreta da Matese, dizem respeito & distingio que se deve estabclecer entre ato ¢ poténcia, se uma distingao real, sk Ns emp as ne pitagdrica em que nilo entre ato € poténcia, porque © ato finito, que pertence ao contexto beta” a poréncia, que s6 Pertence ao contexto beta tio seu sentido passivo, sto insepariveis constituem a mesma realidade sob dois aspectos formais diferen- tes, com funcionalidade diferente, dal por que os escotistas, por exemplo, afirmam este aspecto correlative ¢ admitem que @ ato correspondent ao contexto beta — nao o ato do contexte aff = é nada mais que 0 ato da poténcia e a poréneia nada mais € que a poténcia do ato, Esta discussio tera de clarear-se mais adiante. De antemiio, ja sabemos que est, para a nossa concepgio matética, perfeitamente clarcada, porque no contexto beta, que ¢ 0 contexto das coisas tb alia, das coisas finitas, o ato nio pode ser um ato separade total mente da poténcia. Este ato tem de ser um ato de certo modo potencial, em sentido também passive, porque do contritio seria ato puro ¢ ato puro 36 pode dar-se no conceito affix que ¢ 0 con- texto de ser a se, A posigio dos escotistas, aqui, incvitavelmente, teri de ressaltar como mais justa ¢ mais segura do que a tomista ~ “tomista” no sentido dos tomistas [como escola, isto é, dos epigonos], no de S. Tomas [em particular}, pois oportunamente ‘mostraremos que S. Toms, o pensamente lepitimo de 8. "Tomis, aceitaria a solugdo escotista, ‘Temos assim perfcitamente estabelecidas as duas primeitas leis, a lei do unt, queéa lei da unidade, ¢ a leé da oposigdto, que rege todas 0 comrexto do absolutamente simples, na Matese, chama-se context alfa © contexto da relativamiente simples € do composto de qualquer espécie € 0 ccontexto beta” (A Subedoria des Principio, p.158). yon as coisas, incluindo as coisas do contexto alfa, porque, como esta- belecemos, [entre] 0 Hen Prote eo Hen Dénteron, entre os dois uns, © um primeiro ¢ o um segundo, existe uma oposigio, s6 que esta oposigio € apenas transcendental, no € uma oposisio tal como a que se dé no contexto beta, em que os limites podem ser determi- nados fisicamente, a0 passo que li [no contexto aff] a determina- fo é apenas de papéis, porque 0 “Pai”, como gerador, ¢ 0 “Filho”, como gerado, isto é, a Vontade, que corresponde & Onipotén © “Fitho", que corresponde ao Entendimento, 4 Intelecgao, estes dois distinguem-se, mas, no fundo, a infinita Onipoténcia implica necessariamente um infinite Entendimento, a Onissapiéncia, que We implica necessariamente 0 outro [isto é, Onipoténcia}, forma{ndo] ambos a mesma natureza, embora com papéis diferentes. 2 [A Lei da Oposigio] Ora, tudo quanto ¢ finito é produto desta oposigio entre o ato determinante ¢ a poténcia determindvel. Esta lei, este dogos da oposigo, ¢ simbolizado pelo mimero 2. Todas as coisas de con- texto beta, todas as coisas finitas, sio compostas de duas-ordens de ser, no minimo. Encontramos sempre uma alternincia, en- contramos sempre uma oposicio, encontramos sempre uma or- denagio dos elementos que a compem, que constituem a sua tectdnica. Todos os entes do contexto beta possuem uma duplicidade tectOnica, a sua estrutura forma-se duplicemente, sob muitos aspectos. Ha sempre diadas opositivas, que sio [expressas] através de todos os pares de contrdrios, que constituem polarida- des, ndo s6 de todo filosofar, como de todas as mais primérias classificagbes ¢ divisbes humanas. Nao € possivel estudarmos qualquer ente sem te, sob seu aspec= to de unidade, e, dualistico, isto é sob © aspecto das oposigées, que constituem a sua tecténica ou que Fegem 0 seu modo de ser. Assim, temos a oposicio entre o prinel- pio ativo-passivo do determinante ¢ 0 passivo-ativo do deters minado, donde surge toda a heterogeneidade dos seres finitos. A determinagio estabelece o limitada ¢ o ilimitével, pois vodas as coisas sio formalmente ilimitadas, mas matcrialmente limitadas, ‘Todas as coisas podem ser visualizadas do Angulo da sua unidade, como do angule da sua dualidade; todas as coisas podem set olha- das como um feixe de oposigées de contrérios, como afirma 0 Pitagorismo. Nenhum conhecimento nosso é perfeito sobre al- guma coisa se nfo a estudamos sob o aspecto da sua unidade sob 0 aspecto dos opostos, que sio classificados diadicamente, ¢ que constituem o scu proprio ser. As duas leis fundamentais so, Portanto: a lei da unidade ¢ a lei da oposicto. Os opostas sio imprescindiveis, sio necessdrios, so mais do que necessdrios no _ contexto beta, sio “absolutos". O diddico rege todas as coisas ¢ a0 mesmo tempo transcende tadas as coisas finitas. A oposicao fundamental que se manifesta em todos os seres 9 principio de todos os entes finitos. Por isto a oposigao apresen- ta-sc como fundamental no pitagorismo. Os opostos estio frente a frente, um ¢ referide ao outro, correlativos ambos, pois o ato formativo é 0 ato formativo da poténcia materidvel, como a po téncia materidvel é a poténcia materigvel do ato formative, Pat- tanto, ambos constituem um hipokéimenon no sentido grego, & subsisténcia diltima da substancia universal. Chegamos, assim, as duas primeiras leis. Ora, da referéncia que se forma entre um ¢ outro destes propostos, deste reliatum, deste yg. estar um ab aliuel, deste referir-se necessitio de wm ab allguad, “a outro”, é que surge a relagio que necessariamente se forma desta prdpria oposigio, porque estes entes opastos sio analogados por um termo comum, Estes entes do contexto beta sio opostos que constituem a mesma realidade, dai entito surgir a terceira let, que é a [ei dat relagto, também chamada lei da série, que examinaremos ra proxima aula, Tl. As DeMats Lats bx DBCADA 3 [Lei da Relagaio} Tx] neontramos em sepuida a chal lei da série ou lei da E relagéo. Vimos no capitulo anterior que 0§ opostos sia + relativos, sio imprescindiveis um ao outro no mundo do contexte beta, porque a poténcia materidvel cem sempre uma for ma, 0 que exige o ato formative, a determinagia, pois o determinance sé determinante quando ha o determindvel a ser determinado, A lei da relagdo ¢, pois, fundamental nos seres criadas, nos seres do contexte beta, pois estes nio podem existir, nao podem dar-se, ‘sem a correlagio entre os opostos; ¢ é desta correlagio que surge © ‘ente finito, perque este, para usarmos as expresses aristovélicas, ‘tem uma forma ¢ uma matéria, ‘Mas ¢ preciso distinguir entre a relagdo enquanto lei ¢ as outras relagdes acidentais que o ente possa depois manter com outros en- tes, ou que, na sua acidéncia, possam manter os acidentes uns com os outros, A relagio a que nos referimos ¢ uma relagio principial,! pois sem cla 0 ser nao surge; ela &, conseqiientemente, uma neces- sidade do ser, © uma necessidade absoluta. Ela constieui propria: mente uma categoria ¢ a0 mesmo tempo uma lei. E. uma categoria *Principial” significa tudo aquito que se refere x0 dominio dos principios, em contradistingio.a ardem da manifestagio ow da con: porque se dé nas coisas podemos classficd-las segundo 0 seu as- pecto relativo,” como uma classificagdo tiltima, Mas é também uma Ici, que rege as coisas do contexto beta, (Também no contexto alfit hi relagoes de cariter transcendental, embora noutras condigbes, diferentes, distintas do modo de regéncia dos entes que constituem ‘© contexto beta.) Nao poderiamos conhecer bem nenhum ser se nao 0 conside- rissemos pelo lado da sua unidade, pelo lado das suas oposigdes pelo lado das suas correlagées, das relagbes que se formam entre os copostos. E preciso conbecer também as relagBes que brotam, que principiam junto com o surgimento desse ser, porque todo ser diddico, que é um ser do contexto bera, que é um ser finito, é um ser que comega a ser simultancamente com a sua unidade, com a suia oposigao € com as suas relagbes. Nas relagées que se formam entre os opostos principais, surgem © desequilibrio e o equilibrio, porque hd uma matéria semiformada e graus de proporcionalidade que caracterizam 0 modo de ser espe- cifico da coisa quanto 4 sua perfeigao especifica. O equilibria eo desequilibrio surgem também come categorias, subordinadas, na- turalmente, & oposigio; sio subcategorias, [tal como] Plato flava do mdcran ¢ do micron, que cram subcategotias da oposigao por- que © grande se refere 4 maxima determinagao ¢ 4 maxima deverminabilidade, e 0 micron, © pequeno, 3 minima devermina- gio ¢ 4 minima determinabilidade; quer dizer, o ser de minima determinabilidade sera conseqiientemente o ser de maxima deter- * Isto 6, segundo os vitios tipos de relasées possiveis entte as opastos que a compiiem, As leis como categoria ficario mais esclarecidas adiante, nos pars- sgrafios referentes is leis 6 9. - minagio, ¢, porunds/OMGA Ree lene estavam sempre juntos, em relagio inversa. B por esta rarsio que Platio falava no grande © no pequeno da dfada indeterminada, que é diada menor, a diada que vem depois do Hew Prote, & 0 Hen Dénteron que &0 segundo, © Hen Dyas Aoristos, 4 {ci de Reciprocidade, ou Lei do Quaternério] Ora, nas relagdes dentro do ser do contexto beta, os opestos sia simultaneamente ativose passives, mais ou menos ativos ou passi= vos, de forma que a parte ativa de um atua sobre a parte passiva da ‘outro € vice-versa. Existe entre eles uma interatuagao, de que ¢ simbolo o Yin-Vang chinés, Este € um simbolo de interatuagio, porque o Yang nio € puramente ativo, nem o in puramente passie vo; 0 Yang & predominantemente ativo-passivo € 0 autro ¢ predo= minantemente passivo-ativo. A interatuagio que se di em todo ser finito revela-nos que hd uma atuagio eficiente, mas com- preporcionada & natureza nio s6 daquilo que eficiente mas tam- bém da cficacidade que possua aquele que sofre a determinasio, A capacidade de dererminar de um esti conseqiientemente pro- porcionada & capacidade de ser determinado do outro. Uma parte deste sofrea ago, ¢ naturalmente uma parte, de certo modo, resis- te. Toda determinagio de um ente do contexto beta mostra uma resisténcia, © barro, como matéria do tijolo, oferece uma resistén- cia, exerce também uma agio delimitante sobre a forma que a cau sa eficiente busca imprimir nela, Entao, surge aqui a quarta lei fundamental, a lei da interatuagio, que ¢ a lei da reciprocidade, Os ‘opostos analogados, nas suas relagdes, mais do que interatuam; reci- procam-se. A lei do quaterndtio simboliza, em muitas concepges uk an 2 religiosas, a ondem césmica, enquanto vista do Angulo material. “Todas as coisas materiais séo regidas por estas quatro leis: do um, do dois, do trés ¢ do quatro; entio, estas quatro leis vio constituir as leis fundamentais de toda a ordem césmica material, Esta é uma das definiges, ou, melhor dizendo, um dos contetidos simbélicos que se procura dar A tétrada de que falavam os pitagéricos. Esta lei da reciprocidade observa-se em todos as entes na sua oposigio intrinseca, na opasigia que se forma entre os opostos analogados que interatuam ¢ também nas oposicbes extrinsecas e nas interatuages extrinsecas. De maneira que todas as coisas po- dem ser vistas unitariamente em si, diadicamente nas suas oposi- bes, ternariamente na sua sétie (nas suas relagdes e também como. comego, meio e fim) e quaternariamente como resultado da reci- procidade dos opostos, os quais se interatuam proporcionadamente 4 sua capacidade determinante ea sua capacidade determindvel. A lei da reciprocidade rege a evolugao primaria e fundamental dos entes finitos, rege a dinamicidade dos seres finitos. Ea chamada “ei da evolugio fundamental”, para os pitagéricos. 5 [Lei da Forma, ou Lei do Quinirio] Esse interatuar dos opostos nao ocorre apenas ne momento em ‘que o ser principia, mas também vai decorrer por todo 0 processo de sua duracio, E.o que vai caracterizar aquilo que Hericlito sentiu no devir das coisas: 0 pdlemos, a luta constante entre os opostos, que se determinam mutuamente de modo diverso, [a qual] vai gerar a heterogencidade intrinseca do ser singular, do ser finito, Entretanto, *Y, adiante, n.29. esta reciprocidade dentro de uma lei de proporcionalidade inti "A maneira de disporemsse as partes no seu atuar ¢ na. portanto a mancira de disporeme Ses opostos, é 0 que vai constituira lei da proporcionalidade intrin~ seca, ou a lei da forma concreta, da forma que se d4 na coisa, in re, Esta é a lei do cinco, a lei da forma. Todas as coisas que consticuem, uma unidade, que tém o¢ seus opostos, que mantém as suas relagtes etém a reciprocidade entre estes opostos, todas elas tém uma forma, tém uma lei (um egos) de proporcionalidade intrinseca. Esta & tectonicamente constituida, na sua estrutura, da forma como a coisa é disposta, segundo o modo de ser da sua forma, Onticamente, a coisa é composta do que a constitu, dos opostos que a eonstituem, mas a forma revela-nos a disposigio do logos desta coisa, das suas proporgées intrinsecas, De maneira que a reciprocidade dos opostos se dé dentro dos limites estabelecidos por esta lei, que ¢ a forma ‘concreta, a forma én se, porque, se ela nfo fosse comproporcionadaa sia forma, entao a coisa sofrcria ou realizaria per se 0 que é despro porcionado & sua natureza, a qual ¢ o principio da sua agdo ¢ tam- bém da sua paixio, o seu principio ativo e também passive. Uma coisa, para ser devidamente compreendida, exige também ser quinariamente considerada, isto ¢, ser enfocada segundo a lei de proporcionalidade incrinseca que a rege, pois as suas possibilidades ¢ seu atuar so comproporcionados a sua forma concreta. Assim, temos que a forma ¢ um arithmds eidétikos in re, simbox lizado pelo cinco, pela estrela de cinco pontas, que também é 0 simbolo do homem, ¢ ¢ 0 simbolo de homem porque ¢ ¢ homem aquele ente que é capaz de captar estas formas, ¢0 ser que intencio- nalmente as alcanga, de modo comproporcionado & sua prépria esquemitica humana, ak Conhecer tum set formalmente, conhecer a reciprocidade que decorre da interatuagio dos seus opostos relacionados, que vio cons- tituir também a sua substincia, ¢ ter dele uma visio quindria, [Lei de Harmonia, ou Lei do Sendrio) ‘Todo ser finito, por sta vez, constitui uma unidade, constitu uma totalidade, constitui um arishmds plethos, que € 0 arithmds da stiatotalidade, Esta totalidade tem uma coesio, 0 poder que coacta, que coerencia as suas partes, que coerencia os elementos ‘constitutives das suas estruturas diadicamente opostas.* Como totalidade, ha nele uma fungio principal, que ¢ aquela que pertence ao toda, & qual se subordinam as fungdes subsididrias dos opostos, que as analogam ao Aipokeimenon® deste ser, As fun- bes subsididrias subordinam-se & fungio principal, a qual obedece ao interesse da roralidade. Quando © funcionar de todas as partes com as respectivas subsidisrias se subordina a normal dada pela tota- lidade, temos entio 0 que os pitagéricos chamavam de harmonia. s,¢€simbo- Aharmonia é a sexta lei que rege todos os entes fini lizada pelo hexagrama. A ci da harmonia nao é 0 resultado de uma simetria dos opos- tos, mas sim a subordinagio das fungées subsididrias das opostos “ O tema da coagéo, que mancém juntas as partes, anuncia aqui o conceito de ‘tensiie, que Foi objeto de uma das principais obras do autor, a Teoria Geral das Tensdes, inédivo cujo manuses std sendo preparado para edicio, Algo deste une (cap. ITI, logo apdso enunciada da li 18). V. I, p.129-38, eA Sabedoria du Unidad, cap, IV. » Hipokéimenon = “subseraco material” analogados a uma y todo segundo o interesse desta totalidade, que te ter graus de intensidade maior ow menor.A harmonia queobservamos numa célula, num. ser vivo, é muito maior do que a harmonia que podemos obser~ var num artefato. Nio 56-06 entes enquante tomados unitariamente constituem conjuntos harmdnicos, mas também, enquanto unidades, podem: ser elementos componentes de totalidades, de séries, de sisternas, fem suma: de estruturas maiores, As quais se subordinam. A lei da harmonia impera assim em todas as coisas, ¢, quando uma coisa rompe esta lei, tal rompimento é apenas aparente, porque prop) mente, a0 romper-se a harmonia de um conjunto, a unidade passa a integrar-se na harmonia de outro conjunto, Assim, a lei da har- monia que rege 0 universo do contexto beta prociama que as fun- ges subsididrias dos elementos componentes ordenados no conjunto das oposigies funcionam obedientes a uma normal dada pela totalidade A qual pertencem. Como, naturalmente, nas coisas finitas, nas coisas do contexto beta, ha graus de ser, hd também graus de harmonia. A desarmonia, entio, nao rompe, nao quebra a ei da harmonia universal, quebra apenas uma harmonia determi- nada, passando aquele elemento a atuar numa outra harmonia. 7 [Lei de Evolugao, ou Lei Setendria} A harmonia implica, assim, também a desarmonia, porque esta uma harmonia nova em oposigio a outta harmonia; de maneira 6 Sobre graus de intensidadee graus de extensidade, vb. Filbwofia ¢ Cosmovine, parte II (*Cosmovisio"), cap. IL, aa que 08 aspectos harménicos podem opor-se, ¢ a desarmonia que surge estd nesta oposigio, Nas muragies substanciai gies de toda espécie, vamos abscrvar que cm todas os casos clas obedecem, de certo modo, a Ici da harmonia; ¢, ao romper-se esta ia, (9s seres que a romperamlintegram-se em uma nova Assim, hd verdadeiros saltos especificos, saltos qualita- tivos que se dio na passagem de um estado harménico para outro estado harmOnico, Esta passagem é simbolizada pela lei do 7, que éa lei da evolugao césmica.” nas muta- [Assim como] temos de ver cada coisa concretamente pelo seu aspecto unitirio, pela oposigio intrinseca e extrinseca, pelas rela- gées (série), pela interatuagio ¢ pela forma, temos também de concebé-la dentro da harmonia a qual pertence, e depois também ”0 terme “evolugio” no € usado pelo autor nem no sentido darwiniano (com todas as suas implicagies idcolégicas no sentido de crenga num supas- ta "progeesso indefinida”), nem, muito menos, ne sentido do evalucionarisme pseudo-espiritual posto em moda pelas correntes ocultistas, Come ele pré- prio esclarece, “no se trata de evolugio no sentido axiolégico”, isto é, de passagem de wi “pioe” para um “melhor”, e sim de passagem de uma “ante rioridade” para uma “posterioridade", Por sua vee, “anterior” ¢ "posterion” fifo tém aqui um sentido temporal, mas ligico, ontolégico c matético, Se- gundoo A., “anterioridade” © “posterioridade”, implicando uma ‘priorida- dd” hierdrquica, sio leis matéticas, leis universais independentes de toda ¢ qualquer manifestagio c, « frei’, da manifestagao temporal. plo, A Sabveloria des Principles, p.29-30. B preciso dizer isto para cortar pela fai qualquer tentativa de explorar uma terminologia mais ou menos casual do autor em favor de teses que cle repudiatia total cvolucionismo-cm particular, Ferreira demonstrou, em Neodagia Geral, aim- possibilidade de explicara emergéncia das capacidades abserativas de tetccito ‘rau no homem pela evolugdo animal, e, a respeito de Teilhard de Chardin disse que era filosoficamente “chocho" (eonferéncia indica. - Por excm: jente, No tocante ao pelas suas possibilidadles de romper esta harmonia ¢ de eonstituin, entio, um elemento de uma nova forma, 8 [Lei de Superagao, ou Lei do Octondrio} Mas esta evolugio, também ela, se da arravés de graus, através de mutagées, contidas dentro das possibilidades da natureza das coisas, Quer : nas suas relagdes, na sua interatuagio com outras, a coisa vai softer mutages, que sio-correspondentes, con- tudo, a sua forma. Este desenvolvimento que se contém ainda dentro da sua forma é a sua evolugio normal, porque se trata de modificagées comproporcionadas ainda a sua forma. Mas, quan do se dé o rompimento da sua harmonia e ela passa a possuit outra forma, isto é, quando se dé a sua corrupgio e ela passa a constituir o elemento de uma nova estrutura, de uma nova hare monia ¢ com outra forma, entia [se di] o fendmeno da assungiloy da superagao, ou da lei da evoiucao superior, que & simbolizada pelo mimero 8, a lei do actonério. 9 [Lei da Integragao, ou Lei Nondria) ‘Todas as evolugdes tendem a chegar aos scus limites ¢ a passar para uma forma evolutiva outra, superior, niio em sentido axiolégico, mas no sentido de “posterior”, logicamente, ontologicamente ¢ mareticamente. Esta lei encontramos simboli- zada nas religides, pela idéia da ressurreicio, pela idéia da salvagio do ser que éentio retirado do ciclo da evolusia, isto €, o ser segue oseu fadirio-e depots, entio, [se salva], salta deste estdgio para um estdgio superior, para 6 qual tendem todas as coisas, em ditegiio a — ne } | | | | uma integragio posterior no ‘Todo, no grande ‘Todo, integragio cesta que é simbolizada pela lei unitiva de todos os seres césmicos, aque & alei da integrasito universal, a lei da coeréncia final de sodas as coisas que constituem 0 contexto beta. A lei que determina este movimento em diregio & integragie no Todo, é a lei do 9, ou lei nonéria. 10 [Lei da Unidade ‘Transcendente, ou Lei Dendrial ‘Todas as coisas integradas no ‘Todo seguem a diregio do Bem que thes é transcendente, em diregio & unidade transcendental, & Unidade que esta acima de todas as coisas, que € a fonte, a origem de todasas coisas, que ¢ 0 Ser Supremo, que por sua vez é a Lei das leis, 0 Loges dos logoi, a lei da Unidade Transcendental, a lei que rege todas as coisas na sua aspiragio ao Bem Supremo. (Canelusiio das Leis da Década) ‘Todas estas leis séo simultineas no seu atuar sabre todas as coisas, quer delas tomemos ou no consciéncia, quer as compre- endamos ou nao; tudo no universo € regido por estas leis. Estas dez leis sio simultineas porque provém do contexto alfa, ¢ atuarn sobre o contexto beta. As coisas do contexto aifia esto sujeitas somente até a lei da harmonia, Elas nao sofrem uma evolugao, porque nao sofrem mutagées intrinsecas nem agbes extrinsecas. Nio dio saltos especificos, portanto no conhecem a lei do sete, niio sio regidas pela lei do sete, nem pela de oito, nem pela do nove. Elas so transcendentais a estas leis, As coisas do comtexto beta sio regidas pelas dex leis. foi Se fizemos tanta dev leis, de falar tanto sobre clas, & para que elas se para sempre, com aquelas palavras dos pitagdricos: “Que a’Tétrada Sagrada se grave na vossa mente como se fosse marca de fogo", porque destas dez leis surgem todas as outras leis, as leis bindrias, as leis terndrias, as leis quaterndrias, que passaremos daqui por diante a estudar, iP ft fay 8 II]. Lets Didpicas & Parte | pas Lets ‘TRiADICAS as duas aulas anteriores, estudamos as dea. leis funda- N mentais que atribuimos ao pitagorismo. A prova robusta apodictica da validade destas leis para todas as coisas no contexto beta ¢ algo que jé fizemos ao longo de nossos traba- Ihos, e que julgamos ser suficiente, porque chegamos por ela a verdadciros juizas de necessidade, encontramos as razbes, niio 56 propter quid como também guia das referidas leis, Necessariamen- te, toda coisa finita esta submetidaa uma lei da unidade, a uma lei da oposigao, a uma lei da relagio, a uma lei da reciprocidade, uma Iei da forma, a uma da harmonia, a uma lei da evolugio, a uma Iei da assungdo, a uma lei da integragao no Todo, ¢, finalmen- te, a uma lei da década ou Lei da Unidade Transcendente. Agora, vamos estudar as leis diddicas, isto é, a presenga destas dex Icis nas suas combinagdes, que dio: um-dois, um-trés, um-quatro, um-cinco etc; dois-trés, dois-quatro, dois-cinco etc.; trés-quatro, erés-cinco etc.; quatro-cinco, quatro-sels etc.; cineo- seis, cinco-sete etc. scis-sete, scis-oito, seis-nove; sete-oito, sete- to-nove, Depois passaremos as leis triddicas: um-dlois-trés, um-dois-quatro, um-dois-cinco, ¢ assim sucessivamente. nove; Estas leis, & primeira vista, pareceriam de dificil memorizagio, mas, desde que tenhamos perfeitamente claras as dez. leis funda- mentais, € facil fazer as combinagées. A lei do um-dois € a lei da unidade-c-oposigio, é a lei que diz; "No contexto beta, toda unidade é constituida de uma oposigio”, ou entio: “O opasto é fundamental & unidade no contexto beta”, ou ainda: “Onde hou- ver tum ente do contexto beta, hi unidade ¢ oposigio”, Assim, podemos prosseguir, dando as leis 0s titulos dos nime- ros na seqiiéncia cardinal: 13, 14, 15 etc. 13 [Unidade, Relagto] A Ici um-trés enuncia-se: Toda unidade do contexto beta tem relagics intrinsecas entre seus elementos (relagdes que implicam os ‘opostos, assim como, na seqiiéncia dos ntimeros, 0 dois esta impli- cado entre o um € 0 trés). Esta lei significa que toda unidade pode ser vista triadicamente, santo nas relagies entre os opostos que constituem a sua estrutura, como também nas relagdes extrinsecas que acaso mantenha, Um ente do contexto afi: também mantém relagées, também é regide pela Ici um-dois © pela lei um-trés, mas a reciprocidade, a interatuagao (lei 4) jd nao se refere ao contexto alfa, porque os opostos constituintes da unidade neste plano nao interatuam, a0 passo que, no contexto beta, sim, 14 [Unidade, Reciprocidade] Em toda unidade do contexto beta encontra~ mos uma reciprocidade (dos opostos ¢ das telagies). Ou: A unida- dedo ser do contexto beta é produto também da reciprocidade que surge das relagdes dos apostos constituintes da sua estrucura. Enuncia-se assi Avantagem do conhecimento destas leis ¢ que 4 nos anunciam com antecedéncia o caminho da nossa investigagio. Se queremos. et investigar alguma coisa do contexto beta, devemos procurar ne- las a presenga destas leis, porque todas estas leis bindrias sio atu- ais neste contexto. 45 [Unidade, Forma} A forma de uma unidade do contexto bera é a lei de proporcionalidade intrinseca da recipracidade entre os opostos constituintes da sua tecténica ou das estruttras que constituem a sua tectdnica.' 417 [Unidade, Evotugio) Toda unidade do contexto beta tem um desenvolvimento evolutive comproporcionado i harmonizagao da sua forma, ¢ esta, conseqiientemente, a influéneia da reciprocidade nas relagdes en- tre 0s opostos constituintes da sua estrutura, 18 WUnidade, Assungito] ‘Toda unidade do contesto deta esté sujeita a sofrer uma muta- fo formal, passando do ciclo evolutivo da sua forma para 0 cielo evolutivo de uma outra forma, da qual passard a constituir parte, [Conclusato das Leis Bindvias] E assim por diante, As leis bindrias sio todas elas ficeis; se traba- Ihamos, por exemplo, com a lei dois-tés, jd sabemos que entre os posts se dio relagdecs: coma Ici dois-quatro, que entre 0s apostos redio ne , que entre os opostos que mantém de reciprocidade, regidas pela lei de proporcionalidade intrinseca, se forma conseqientemente uma harmonia, isto ¢, que estes opostos esto analogados pela nor- mal das suas fungées, esto subordinados & normal da fungio que segue o interesse da toralidade. O enunciado destas leis revela-se imediatamente a nés, Assim, podemos prosseguir, per exemplo, com a Lei 45, ou lei quatro- cinco, cujo enunciade &: A reciprocidade ¢ regida por uma forma, BE. podemos passar ao cinco-seis, a0 cinco-sete, 20 oito-nove e assim sucessivamente. Estas leis permitem varios enunciados concordan= tes entre si, porque cada uma pode manifestar{-se] de muitas ma- neiras nas coisas; € pela observagio dos fendmenos discernimos estas maneiras. {Leis Terndrias: Parte I — Nota sobre as Tensdes} O que vai mais interessar estudar sio as lels terndrias, mas, para compreendé-las ~ ¢ também as leis quaterndrias que delas decor- rem — precisamos dar uma nog que nio pertence propriamente matéria deste curso, ¢ sim a um estuda especial-analitico em sepa- rado, que é a nogio de femufo, da qual tratamos extensivamente na nossa Teoria Geral das Tensées.® A censio- revela-se na coeréncia de uma unidade, Toda unidade do contexto beta revela uma coeréncia, | *Empregase na Matesc © terme tectinica para indicar a construgio de wma ‘coisa, Assim, a forma ¢ a matéria arisvovélicas consticuem a tecnica da coisa” (Diciondrio, 1, IY, p.1 320). * Manuscrito inédito, que forma o vol. IX da série Mathes. V. fatrodyo do Editor: ¢ esta coeréncia é a tensiio,’ Em toda unidade finita, os elementos constituintes das estruturas que formam a sua tectOnica estio coactamente subordinados is normais que ji examinamos, e esta coagio é a tensio, A tensio, embora seja sempre 0 que é pode prefixar-se, pode acentuar-se em intensidade ou extensidade’ conforme o vetor que ‘assuma, ou seja: para dentro de si (intensa), ou distanciando-se de si (extensa). Masa tensio, em si, ni ¢ fn nem ex, ela éo que cla é: € um ato, um esforgo que coacta, que co-acta varios elementos intrinsecas, subordinando-se & normal* dada pela forma, que é a Ici de proporcionalidade intrinseca que jé estudamos. Coeréncia vem de Aweres, de onde vera também “heranga”. A tensio manifesta-se na coagio com que as partes subordinadas & normal co-erent* a totalidade. Hd tenséo sempre que uma forma se estabelece, subordinando elementos diversos a uma normal da unidade, Coeréncia e coesdo sio termos sindnimos, porém pode- mos estabelecer uma distingio, porque a palavra “coeréncia” enfatiza 2 .e esta coeréncia #. tensa frase infelia, que nao expressa.o verdadeito pen- samento do autor, A tensio nio se consttui da coeréncia coma tal, que é pura forma légica, mas da coagao, da forca coesiva que, nos entes reas, mantém a forma da sua coeréncia AV 19, +0 Diciondria de Mio Ferreira nfo raz a definigio do s. normal (mas 36 do correspondente adj,). O termo € usado cm geometria analitica para designar a perpendicular a uma curva ou superficie. No contexto, designa, por extensiodo seu significado geometrico a linha de possibilidades logicamente coercntes com a forma (ou proporcionalidade intrinseca) do ente. Se tomarmes esta forma.come ‘uma curva ou superficie, aquela linha de possibilidades seré a sa norma. ® Lax, coher, estdo um gradado no ousro", de here, estar grodado, estar unio”, © funcionamento ae © portanto enfatiza a ordem —lembrem-se da que estudamos sobre o conceito de ordem, na parte sintétiea’—, ao passo que “coesio” indica, an- tes, 0 grau de ineréncia que coacta estes elementos na solider da totalidade. A coeréncia indica a seqiiéncia harmdnica; a cocsio, a solidez da estructura. Toda tensio € gradativa ¢, portanto, escalar. Finalmente, é preciso ter em vista que, em alguns casos, a ten- slo que produz a unidade da coisa existe apenas na nossa mente, um dado meramente de razio, ou um ser subjetivamente estruturado; em outros casos, a tensio se dé na c entéo temos a unidade da coisa em si mesma, unidade én re, Estas mesma, € regras fundamentais da tcoria das tenses vio-nos auxiliar agora na compreensio das leis terndrias que passaremos a estudar, ¢ que oft recem possibilidades muito maiores de enunciados diversos do que encontramos nas leis bindrias. 123 Unidade, Oposigéo, Relagdo As relagécs imanentes de uma unidade surgem das oposigies dos elementos intrinsecas, ou seja: Os opostos, constituintesde uma uni« dade, mantém relagées diretas entre si (estamos sempre falande no contexto beta). Segunda incerpretagio: Uma unidade composta de opostos ele mentares no ¢ uma unidade absolutamente simples, « as relagées decorrentes nao sto meramente transcendentais, E uma conclusio que se tira normalmente desta lei. °'V. A Sabedoria da Unidade, cap. XXV. ak “Terceira: Toda unidade em que seus elementos sio opostos ¢ se inter-relacionam direramente no uma unidade absolutamente simples, nio pertence ao contexto alfa. Quarta: Numa unidade absolutamente simples, as relagoes dos ‘opostos s6 podem ser transcendentais ¢ nunca reaisefisicas, porque aqui jf estamos trabalhando com a dialética dos chamados lugares; ou scja: No t6pico das oposigées, nem tudo 0 que predicamos do eon- texto alfa pode ser predicado no contexco beta, dadas as condighes de um e de outro, O que predicamos do contexto aff, se pertence predicagio do contexto deta, serd sempre de mado transcendental ¢ ‘nunca de modo que se assemelhe ou se univoque com as caracteristi- cas do contexto lta; serio sempre analogias que formamos, serd uma predicagdo de cariter simbélico, As predicages préprias do cantexto beta, [quando] aplicadas a0 contexto aife, serio sempre simbdlicas; hunca poderio set univocas, porque, do contritio, univocarfamos dois contextos que nao se podem reduzir um ao outro. De maneira que, numa unidade qualquet, a relagao dos opostos 0 fundamento da sua ordem. Lembrem-se da orden, O grau de coeréncia de uma unidade € comproporcionado ao correlacionamento de seus opostas intrinsecos. A ordem ¢ 0 correlacionamento dos elementos intrinsecos em ‘oposigfo, de que se Forma uma unidade. Sempre que opostos fun- cionam analogamente a algo, hd uma ordem ¢, conseqiientemen- te, uma norma, Hi, pois, uma normal, & qual o todo obedece, ou seja, 0 scu funcionar dé-se segundo que estabelece a norm: vai surgir jd. como uma lei quaterndria, a lei 1236, porque esta lei jé decorre da presenga da harmonia, [do mesmo modo que,] quando. dizemos [que] o grau de coeréncia de uma unidade ¢ proporcional a0 cortelacionamento dos seus opostos intrinsccos, jd estamos chegando a lei 1235, porque jd chegamos,entio, quacernariamente, 4 forma. Quer diner, [partido] da unidade, [da] oposigao, [da] relagio, [etc.],vamos chegar a essas outras leis [i.e., as leis quaternérias}, das quais nfio vamos tratar porque elas podem ser deduzidas muito facilmente dos princfpios que jd enunciamos, ‘Vamos ver outro enunciada: Onde hd relacdo, hd série. A série implica trés termos, pelo menos, ¢ na relagio hi os referentes © a razao da referéncia. Onde hd relagio, hd analogia, porque, para que dois termos mantenham uma proportia, € mister que seja su plantado qualquer abismo diacritico;* eles nio podem estar abissalmente separados. Entre dois relacionantes, hd uma crise su= perivel, portanto, ¢ apenas uma crise superdvel, © fundamento da relagio é uma norma, uma normal onde hi ordem, hé uma normal; onde hd uma normal, hd ordem. A relagiio fem sempre uma normal, portanto uma ordem. Os conceitos de ordem ¢ de normal implicam o de relacda, E, finalmente, os termos relacionam-se objetivamente nas referencias entre si ¢ subjetiva- mente no homem, segundo o fundamento da analogia eidética, Assim, hd tantos fundamentos quantas so posstveis as maneiras de tomar as referencias. Todos estes enunciados decorrem da lei 123: unidade, oposicio, telagio, 124 Unidade, Opasi¢ao, Reciprocidade Esta lei pode ter vérios enunciados: ela pode ser tomada sob virias aspectos, ¢ estes vao revelar'a regéncia desta lei * Sobre 0 conceit de abismo diacritico, Filosofia ds Cove, p.55-9. [Primeira interpretagao:] Numa unidade do contexto beta, os ‘opostos interatuam-se entre si, [Segunda:] A interatuagiio dos opostos inteinsecos de uma uni- dade revela a classe de sua cocréncia. ‘Outra: Onde ha interatuagio, hi opostes constituintes de uma unidade, ou: Onde ha interatuagio, os opostos que exercem entre tes de uma unidade que os si um atuar eum padecer sio con: cocrencia. Onde hé reciprocidade, hi atuagio ¢ padecimento mie tuos, obedientes a uma ordem. Os opostos intrinsecos de uma unidade nao sio indiferentes centres, porque nio hi um abismo entre eles. Quando um ser atua sobre outro, é que hd entre eles uma unidade que os inere. A uni- dade finita existencia-se através da interatuagio dos seus opostos, Na unidade finita a interatuagio das opostes nao é identificadora univoca, mas andloga. Esta éa diferenga da unidade finita para a unidade infinita. O interatuar implica dualidade ativa € passiva, porque exige que mutuamente um atue sobre 0 outro, € mutua- mente um sofra a agio do outro. ‘Onde ha interatuagio, ha analogi suplantamente do abismo diacritico, © atuado necessariamente se analoga a0 atuante. Diz-se que duas coisas se analogam quando A interatuagio implica o clas, de certo modo, possuem © mesmo fagos, ou participam do mesmo logos. Para que um ser atue sobre outro € mister que haja entre ambos algo em comum; do contririo, ndo havendo nada em comum, haveria um abismo diacritico, o que impediria qualquer miirua atuagio. Por sua ver, onde hi atuagio deve haver, além do Jogos comum, algo em que ambos também se diversifiquem, por que do contrério cles seriam os mesmos, idénticos a si mesmos, ¢ ndo seriam, conseqiientemente, duais. Portanto, entre atuante ¢ atuado nao pode hayer uma identificagio toral, absoluca univocidade, (Comentdrios ts duas leis anteriores} [Antes de prosseguir com a enumeragio] necessitamos fazer alguns comentarios sobre estas duas leis, 123 ¢ 124, que so importantes porque nos abrem as portas para a compreensio das leis subseqtentes, ‘Todo atuar implica 0 exercer um ato sobre algo que o sofre. Seo que softe nao fosse outro que nao 0 que age, entio seria 0 mesmo, ¢, neste caso, o agir seria apenas o agir sem resultado, porque mes- ‘mo para um ser atuar sobre si mesmo é mister que de certo modo. se desclabre, seja passive ¢ ative, Ativo para atuar ¢ passivo para softer. © agente age, e @ agir do agente produz uma ago no atua- do; este, necessariamente, outro que mio o primeiro, mas, por outro lado, a diversidade entre ambos nao pode scr absoluta, pois, do contririo, um ndo poderia softer a agao do outro. Assim, hd entre eles 0 que os analoga, e a analogia entre ambos implica um lade e de diversidade, e hd também 0 que os diferencia, o que os verte para courro dagos, submetido a outro aspecto. Ora, um ser atuado é ne- cessariamente finito, dependente, porque do contririo no [pode- ria sofrer] uma nova determinagio. A determinagio que recebe nfo a tinha actualmente, mas tinha apenas aptidio para sofrésla, 0 que implica uma deficiéncia acual, Um ser absolutamente em ato nao pode sofrer determinagdes, porque nada lhe falta, nao ¢ defi- ciente, O ser absolutamente em ato no softe determinagdes de fundamento comum, uma sintese, uma sintese de mest nenhuma espécie, O ser atua, portanto, proporcionadamente ao seti ato, © ser absolutamente em ato é 0 scr absolutamente atuan- te; € neste caso, toda atuagio que houver terd, de certo modo, origem nele, porque nada se faz sem a presenga deste ser suma- mente ativo. © atuante vem a sua presenga junto ao atuado en- quanto age; como ser atuante ele pode agit enquanto &, Q ser finito, de duragio limitada, atua enquanto é atuante, mas 0 ser absoluta- mente simples, que acua, sempre tem a sua presenga constante. Un ser atuante deficiente ¢ um ser que nio atua tudo quanto é atuado, mas apenas 0 que pode atuar, segundo a sua atualidade. Ora, um ser absolutamente em ato atuari ilimitadamente. Como a presenga do atuante é proporcionada ao ato que é, @atuar de ser absoltstamente em ato ¢ ilimitado, ¢, como seu ato € infinite, seu atuar é também infinito. Conseqiientemente, stia presenga ¢ infi- fodo ser que atua deficientemente ¢ um misto de ato ¢ de nita. poténcia passiva, porque scu atuar é determinado, ¢, onde hd 0 determinado, ha determinacio, ¢, onde hi determinagao, ha passi- vidadle, Conseqilentemente,’ o Hen Denteron, como eriador, atua ilimitadamente, mas as deficiéncias se dio nos atos criados, que sfo atos finitos, que sio atos que nio estio na sua totalidade, por- que, se o Ser Supremo, ao criar, criasse um ato absolutamente puto, nio criaria nada, apenas estaria afirmando a si mesmo. A criagio implica necessariamente 0 outro, o allés (alter) de que falavam os pitagéricos, Estes comentirios sobre © ato finito ¢ infinito, o ato puro ¢ 0 ato mista, o ato hibrido, o ato limitado, o ato misto de poténcia passiva, facilitam-nos a compreensio das leis que passare~ mos daqui por diante a estudar, porque parte delas rege o contexto alfa, mas na sua totalidade elas regem 0 contexto beta. ° Suprimi aqui as palavras: “sé o ser finito pode atuar” — evidentemenre am erro de transerigio, IV. Lets TrrApicas (Parre I) s leis sio simultincas. Embora no contexte beh predomine aparentemente a stcessio, na verdad > predominam as leis, pela sua simultaneidade. As lei regem simultaneamente, desde todo 0 tempo, 0 ser. 125 Unidade, Opesigio, Forma A forma é a lei de proporcionalidade intrinseca dos opoite analogados imanentes a uma unidade. Segundo enunciado: A forma, como lei de proporcionalidad intrinseca, revela a oposigao que é imanente & unidade. ‘Terceiro: A forma revela o invariante (Jags) ¢ 0 variante (arishma, que constituem uma opasigio imanente a unidade. (Qu ainda: Onde ha forma, no contexto beta, hi unidade de ele mentos opostos. Os opostos analogados, imanentes a uma wnidlad: revelam entre si uma proportio, que € a lei da sua coeréncia, Portante onde hé forma, hi uma cocréncia, No ser finito — ou ser do context beta -, a forma evidencia a coeréncia dos analogados increntes 0 imanentes & sua estrutura. Ja no contexto aff, na Ser Enfinito, ¢ ‘opostos inerentes, por serem univecos, portanco idénticos, sua for écxistencializagio da sua unidade simples, No ser do contexto:beta, opostos eoerenciados sio necessariamente anddoges. Tem de haver e1 tre eles uma analogia para que se dé a oposigio, em sentido concren Hi uma forma onde hd uma unidade; onde ha uma unidade, hé forma. Nao se pade conceber um ser que ao mesmo tempo seja uma unidade € nfo possua pelo menos uma forma, quer seja uma forma ~ no sentido aristotélico — substancial ou acidental; pelo menos tem de ser a forma de sua prépria acidentalidade. Nenhum set hd que nao tenha uma forma. Ora, em tudo quanto hi, hi unidade, porque fora da unidade mio ha ser. “Nada” equivale 4 negagio da unidade. Dizer “unidade” é dizer “ente”, € dizer “ser”. De todo ser do qual se predica unidade pode- se predicar um qitid sit, um “o que &”, pode-se dizer 0 que ele é. Isto equivale a dizer que ele tem uma forma pela qual é 0 que é nJo ¢ outta coisa. Dizer que uma unidade tem uma forma ¢ dizer que cla € outta que nfo outra. Que ela tem uma qitididade. Toda forma exclui as que Ihe sio outras. ‘Os opostos podem ser classificados em: “oposigdes que se dio centre ente ¢ ente” e “oposigdes entre ente € nio-ente”. Entre ente € nao-ente temos contradigdo; por exemplo, a oposigio entre homem endo-homem, Ea contradigdo privativa: visto-cegueira, Entre ente ente temos, pri & oposigito contrdria: bem-mal; segundo, temas. oposiciio correlative: pai-filho. Ora, os opostos constituidos de ente ¢ ndo-ente ndo podem analogar-se, porque no tém com que se analogar, enquanto os opastos constituidos de ente ¢ ente sio opostos andlogos, porque o que € positive num lado é positive do outro, ¢ fatalmente deve haver um género, préximo ou remoro, no qual se analoguem, De maneira que, entre os opostos constitutivas de uma unidade, que io conseqiientemente reais — estamos aqui falando do que (diz respeito a onticidade das c ~, oposicio tem de ser entre ens ens. Os opostos analogados sio 4 sempre deste tipo. m 126 Unidade, Oposigle, Harmonia Esta lei pade rer varios enunciados, Os que estamos dando ago ra no sio codos os enunciados possiveis. Além destes, poderiamos ter um mimero imenso de outros, bastando empregar as leis de conversio € outras, que a Iégica nos ensina, Damos aqui apenas aqueles que sio os mais imediatamente expressivos. Por exemplo, este: A harmonia implien a oposigto ma umidade Nilo ¢ possivel conceber que haja uma harmonizagie entre termos que nao constituam unidade, Portanto, a harmonia implica oposi- sao na unidade. Outro enunciado: A lei que coerencia as partes opostas € analogadas de uma unidade revela a presenga de uma ordem, que & anormal da totalidade, ea esta se subordinam os elementos intrin- secos componentes da tectinica das coisas. Conseqiientemente, pode-se estabelecer a lei da harmonia assim: “A harmonia é alei de subordinagio das opostos analogados de uma unidade, que obe- dece a uma normal dada pela unidade como totalidade, de modo que o proceder das partes ¢ obediente ao intercsse do todo.” [sto nao implica que as partes nao possuam, também, um interesse proprio, ¢ niio Ihe obedegam, Esta questo ja foi examinada ao estudarmos code ¢ as partes, na parte sintética deste curso.! ‘Mas este interesse, de certo modo, virtualiza, para atualizar-se de uma outra mancira no interesse da nova cotalidade. Assim, por exemplo, procedemos dentro da ordem social, segundo o interesse das varias toralidades das quais fizemos parte, sem que deixemos deatender ao nosso interesse de individuos. to.6, nos tésprimeiros volumes, exp, A Sabedaria des Prinepio, caps. I, Ve IX. Outro enunciado: A harmonia implica analogia dos opostos imanentes a uma unidade, Mais outro: Onde hd uma forma, ha uma harmonia; onde ha harmonia, hd forma, ‘Outro ainda: Como os posteriores implicam necessariamente osanteriores aritmolégicos, também os anteriores implicam neces- sariamente os posteriores; 0 que os diferencia, porém, é 0 grau de imtensidade da oposicio, da relagio, da reciprocidade, da forma da harmonia, Falamos em grau porque em todo contexte beta hi gradatividade, As formas s6 nao sio gradativas enquanto examina- das do Angulo do contexto alfiz. Mais um cnunciado: A proporgia que seja maior a coesio da coeréncia dos elementos intrinsecos de uma unidade, isto é & proporgio que o relacionamento da interatuacao da reciprocida- deobedega mais rigidamente i normal da totalidade, entao a har- monia serd mais perfeita. A harmonia, como ji vimos, nia é apenas a simetria dos opostos, como se concebia, por exemplo, no pen- samento egipcio. No pitagorismo, a oposigio dos opostos analogados jé ¢ mais dinimica, como @ vemos na prépria arte grega. Ela implica, portanto, muito mais que a simples simetria, que é mera harmonia sob fundamento quantitativo, tomado da maneira mais elementar, Mais um enunciado: Como todas as coisas se cocrenciam com outras, intrinsecas a uma totalidade préxima ou remota, ha sem- pre harmonia [entre elas), Mais um: A harmonia implica necessa- funcional do multiplo. riamente ordem, ¢ esta implica anal A harmonia nos seres finitos implica ora di ingGes reais-reais (reais na nossa mente ¢ reais também na coisa), ora distingdes cuja realidade h4 que precisar. A harmonia no ser infinito implica distingdes tomadas apenas transcendentalmente, ou melhor; dis- tingGcs reais-formais, reais A nossa mente, mas formais na sua cons- tituigio, © nio reais no sentido fisico, [pois neste caso] haveria multiplicidade na constituigio. A desarmonia € captada onde os elementos submetides a uma normal sfo tomados enquanto suub- metidos a outra normal. O desarménico é, portanto, telativo, de- pendede uma referencia extrinscca normal considerada. Também podemos dizer que aquilo que ¢ desarménico segundo uma not- mal é harménico segundo outra normal. A normal é 0 que di 0 médulo da harmonia Mais um enunci talidade, que é a unidade; segundo: opastos analogados que, por serem tais, tém uma normal que é 0 seu logos analogante; terceito: Na harmonia ha, pois, primeiro: uma to- uma normal dada pela totalidade, pelo Jagos do ser unitario; quar- to: subordinagio funcional dos opostos ao fagos analogante que hes € proj enquanto partes; quinto: suberdinagio funcional de todas as partes que constituem a unidade do logos 4 normal da totalidade e, conseqlientemente, a uma ordem do todo. Mais outro: Onde ha uma forma, ha uma harmonia dos opos- tos. Sendo a forma o que da a normal da toralidade do ente uma uunidade de muktiplicidade, os opostos da unidade sendo analogados, ‘© que 05 analoga ¢ a nermal dos opostos subardinados & norma dada pela forma da totalidade. Esta subordinagio, esta coordena- io e este funcionamento da toralidade segundo as normais que & modulam [so] 0 que constitui a harmonia dinamicamente consi- derada. A desarmonia é, conseqiientemente, relativa 4 ordem. Se tomada uma ordem estranha A imanéncia da unidade conside- rada, apresenta-se a desarmonia, Assim, um fato, um determinado aspecto da unidade ou um conjunto de unidades, considerados fora da ordem da imanéncia da totalidade que os inelui, contrariam esta totalidade, © a nova totalidade é entio desarménica. Por exem- plo, 05 méveis que estio nesta sala estio ordenados ¢ harmonizados para o funcionamento da nossa aula, mas, para se ftzet a limpeza da sala, cles tetiam de ser ordenados numa ourra ordem, que seria en- tio desarménica em relagio & ordem da aula, assim como a ordem da aula ¢ desarménica em relagéo & ordem da limpeza. Outro enunciado: Onde se nota uma desarmonia, sabe-se logo que se est considerando algo fora da imanéncia da roralidade 4 qual pertence. Este é um ponto importante. As disposigdes prévias corruptivas da unidade, nfo atualizadas nesta mesma harmonia segundo a sua ordem, sto fatores de desarmonia, cuja atualizagio, cuja tendéncia a atualizar-se é rambém uma tendéncia a corrom- per a forma dominante, Por isto é que se pode falar de corrupgoes de cardter intrinseco, do seguinte mode: Potencialmente, como disposi es prévias corruptivas das partes que tém o seu interesse proprio que colide com o interesse da toralidade; ¢ atualmente, quando este interesse proprio, por qualquer motivo, por auxilios, digamos, extrinsecos, ou por redugio do grau de intensidade da cocréncia, da tensio do todo, pode atuar de modo a efetivar a dade, hd assungio de uma nova forma, Outro enunciade: O ciclo cevolutivo de uma forma ¢ encerrado quando, tornanda-se suscep tivel de uma transformagio, esta realiza-se pelo rompimento da tensio da unidade, que pode ser por causas, por farores intrinsecos ¢ por fitores extrinsecos. Outro: Para que haja um salto evolutivo para outra forma, numa conjuntura, é mister que a oposigio entre as formas componentes das unidades das mesmas [seja] de eal modo [que provoque] o rompimento da tensio uniéria. Este também € um tema muito importante. 259 Oposisito, Forma, Universalidade Césmica A universalidade césmica inclui imanentemente a oposigio de todas as formas possivcis. Outro enunciado: A oposigio entre as for= mas, por mais contraditérias que sejam, nao rompe a unidade de tudo no todo. Contraditdria, aqui, deve-se substiruir por contritia, fo] que seria mais consentineo. Outro: A universalidade eésmica nfo ¢ jamais ofendida pelas oposigbes entre as formas, mesmo quan= do estas provocam a corrupgio de uma ¢ o surgimento de outra. {Excurso: O Prostena po Mat Antes de prosseguirmos no estudo das leis, desejamos.chamar a atengio dos senhores para um ponto importante. O conhecimen- to destas leis nos facilita, como jé dissemos, compreender o proble- ma dos chamados fatores destrutivos, da destruigio, ¢ conseqilentemente, também o problema do mal, que € de dificil compreensio dentro das outras posigées filoséficas. Aqui torna-se perfeitamente claro 0 problema do mal ¢ sua solucie, © mal foi sempre uma queda de harmonia. Toda forma, por exemplo, toda unidade, tem os seus opostos, sua reciprocidade, a sua série, a sua forma etc.; este ser sofrerd, apresentard aspectos maléficos na que- bra da harmonia, isto ¢, toda vez que a harmonia for ofendida, De maneira que a tendéncia a harmonia. Quando, no catecismo pitagérico, fazia-se uma série de perguntas~ “Qual éa lei que rege o bem?” “E a harmonia.” *O que devernos Procurar em todo 9 nosso modo de viver?” ‘A harmonia”—e repetia-se aquela “harmonia” cons- tantemente, parecia tratar-se de uma ingenuidade: mas, para al- Buém com um pensamento especulativo feito, 0 catecismo pitagérico tem razia em chamar a atengao para a harmonia, por- que € precisamente na queda da harmonia que se da todo o deslize que € maléfico para nés, como para qualquer ser: toda quebra da harmonia que corresponda a qualquer termo, Poderemas comen- {ar vérios outros Angulos desta matéria ao fim da aula. Agora va- mos prosseguir no exame das leis. 267 Oposicito, Harmonia, Evolucice A harmonia, nas oposigdes intrinsecas de uma unidade, pro- move a ciclo da evolugio. Outro enunciado: A oposig#o harmé- Rica ¢ conservativa do ser em evolugio, Enquanto a evolugao [se Processa] harmonicamente, ela conserva. Outro: A evalugio é © cumprimento harménico das oposigées em suas diversas fases, u seja, © cumptimento harménico do funcionar das oposigdes em suas diversas fases, 268 Oped, Ho aoe A harmOnica oposigda dos elementos inteinsecos determina aevolugdo normal do ser, O rompimento da harmonia nas opo: sigdes inerinsceas pe em risco a evolugio do ente ¢ @ torna vel 4 assungie por outra forma, A assungio realizacse Soi . das oposigics intrinsecas é rompido quando 0 ciclo harm ua rensio, Quer dizer, a harménica oposigio dos elemens ems tosintrinsecos determina a evolugio normal de um ser, enquanto predominar @ harmonia nesta oposigio dos elementos | inerinse- cos, como jé estudamos. Qualquer perturbagio, ou seja, quale quer quebra na sua tensio, vai tornando este ser suscetivel de ser assumido por outra forma, [SunstANcIA & Ores] Ested um aspecto importante: Os elementos sio sempre com: ponentes de uma toralidade © nunca podem permanecer fora de uma rotalidade, ow integram uma ou passam a integrar outra. Em outras palavras, nos instantes em que cles permanecem fora de uma rotalidade, sio. instantineos! Assim, por exemplo, no nosso sistema solar hd uma tenslo, sem diivida alguma, a cién- ‘a o comprova, E um exemplo provado, experimental, em que nds encontrames uma unidade que funciona segundo 0 interet- se da rodo € consticui uma perfeita substincia, Nossa sistema solar € uma substincia, uma entidade per se. Uma entidade que tem perseidade é esséncia da substincia que nio se pode ae a ndo ser que Se modifique completamente o conceito de subs- taneia, que € formade de entidades em ato, o que vem a provar ae que ¢ possivel a formagdo de unum per se, constituido de ele- mentos em ato. Este sistema solar nao estd isolado do restante «os ourros sistemas, Vamos admitir que se desse um rompimen- to neste sistema por qualquer motivo, por exemplo uma inter- vengio de qualquer outro poder deste universo, que rompesse a tensio do sistema solar; digamos que a Terra escapasse da atra- $0, Qs elementos componentes do nosso sistema solar perderiam a sua adesio, perderiam as suas relages numérieas de atragao entre sie ficariam livres, subitamente livres, haveria 0 rompi- mento. Os elementos que sobrassem iriam fatalmente organizar Novas totalidades ou integrariam uma nova totalidade, © que se nota na natureza é que hi uma tendéncia, um buscar, uma espé- cie de ordi, de anelo, uma espécie de impcto & constituigio de hovas tenses. Todos tendem a formar parte de uma nova ten sio, quer dizer, a singularidade nao pretende tornar-se absoluta a ponto de desligar-se totalmente dos outros. Hi uma tendéncia solidéria em toda a ordem c6smica, ¢ isto prova que existe, por- tanto, uma lei de solidariedade eésmica, que é a lei de tudo no todo, que € a ona lei, de que j4 falamos. Poderemos tecet mais comentiios sobre este assuinto mais adiante. Agora vamos pros- seguir no estudo das leis. 269 Oposigéo, Harmonia, Universalidade Césmica Na universalidade edsmica ha sempre harmonia entre os opos- tas especificos. Outro cnunciado: As opesigdes harmonicas sio ne- cessariamente presentes na universalidade césmica, porque os ‘opostos contraditérios, alids contrdrios, que destroem as tensbes singulares, obedecem, por sua ver, a uma lei de harmonia universal. ‘Outro: A harmonia da wail cca é dada pela lei de tudo no todo, ¢ independe das oposighes especificas entre os opos- tos. Aqui, as oposighes especificas silo as opasigdes consideradas na sua especificidade entre os diversos opostos, porque dois opastos podem se opor ainda, segundo varios aspectos. 278 Oposigdo, Evolugia, Assusrgio © ciclo das opasigdes evolutivas completado, favorecea suscepslo 2 uma nova forma. Claro, esgotando-se as possibilidades de uma entidade, cla perde a sua rario de ser e transforma-se. Outro enun= dado: A assungio de uma nova forma se dé quando a evolugio aleanga uma oposigdo que rompea unidade tensional de uma uni- dade. Outro: Todo ser evolutivo, através de suas oposigSes imanentes, prepara-se para ser assumido por uma nova forma, des- de que a oposigao seja apenas dos prinelpios do ser e no de ele- mento formal ¢ materialmente diverso. 279 Oposicao, Evolusiio, Universalidade Césmica A oposigio evolutiva dos ences dé-se dentro da ordem da uni= versalidade césmica, ou seja, os seres evolvem em suas oposigies, mas dentro de uma ordem da universalidade eésmica. Tudo, no fundo, obedece a uma lei universal, 289 Oposigito, Assungito, Universalidacle Césmica ‘Toda oposigio entre as formas que assumem anteriores elemen- tos processa-se dentro da ordem da universalidade césmica. a 0 exame das leis que partem da relagio, Na- rF40 que avangamos, as leis vao-se tormando em mimero cada vez menor, dentro de cada ordem, Porque jd es- Gio contidas nas anteriores, 345 Relagito, Reciprocidade, Forma As telagdes de reciprocidade se do na ambio da forma, Outro enunciado: As relagées de reciprocidade cont um cardter de poténcias cornu relasdo proporcionada & forma, segundo esta proporcionalidade c adequasdo ¢ bendfica, do contritio (se malfica), rompimento da tensio, rérias A forma tém ptivas. Outro: A reciprocidade é uma € causadora do 346 Relagao, Reciprocidade, Harmonia Nem todas as relagées de reciprocidade na unidade sio har- mOnicas; as nio harménicas sio precisamente aquelas que nio funcionam segundo 2 normal dada pela toralidade tensional, Outro enunciado: Hé, na reciprocidade, relagées que correspondem ao interesse dlas partes componentes intrinsecas dle uma unidade; estas sio precisamente harménicas, Aharmonis sstd na relagao de reciprocidade que se processa adequadamente a0 interesse do todo tensional. Quando hi este rompimento, mega a haver o rompimento da harmonia, €, conseqiientemente, Poe-se emt riseo a tensio, a que a tornard, entio, suscetivel de ser assumida por uma nova forma, 347 Relagao, As telagées de reciprocidade reallzam 0 ciclo volute da nic dade tensional. Outro enunciado: As telagdes de reciprocidade que niio [estejam adequadas] ao ciclo evolutivo da forma de tensio da unidade tm um papel corruptivo acidental, caso Bis [destruam} a fensio, Outro: A evolugio de uma unidade tensional procesre-te dentro das relabes de reciprocidade dos opostosconstiuintes de sua imanéncia, que podem apressar, retardar o scu término ou alcangé-lo, antes de completar os estégios possiveis, que estio ime plicitos nas possibilidades do variante da sua forma. 348 Relagio, Reciprocidade, Transformagito As relagbes de reciprocidade que sio corruptivas preparam, mais cedo ou mais tarde, 0 advento da assungio de uma nova forma, pela

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