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Consideragdes sobre Oo suicidio elatério divulgado em 2014 pela Organizacao Mundial de Satide (OMS) chama a atengio da sociedade € dos governos para o suici agora considerado um gran- de problema de satide piblica, dada a ineficécia de seus meios de prevengio. Conforme se depreende de tal relatério, 0 suicidio se tor- nou uma epidemia de propor- Ges globais, causando a mor- te de mais de 800.000 pessoas somente em 2012, a maioria das quais - 75 % - vivendo em paises emergentes € pobres, ndo, como as vezes se costuma ; na Holanda, na Suiga € nos paises escandinavos. A li- deranga, em termosde niimeros imagina Evandro Noleto Bezerra enoletod@gmall.com absolutos, ¢ da India, seguida da China, dos Estados Unidos, da Riissia, do Japio, da Coreia do Sul, do Paquistao e do Brasil. Tais cifras revelam a ocorrén- cia de um suicidio a cada qua- renta segundos, niimero que seria bem maior, se levarmos em conta as falhas metodolég! cas em sua coleta, bem como a parcial ou total auséncia desse tipo de informagio em algumas regides do mundo, Como vemos, nosso pai ocupa posigio de destaque dentre os que contribuem para tdo lamentavel estatistica, com quase doze mil casos confirma- dos em 2012 Sobre as causas, 0 relatério afirma que em paises desenvol- vidos a pratica do suicidio tem relagdo com transtornos men- tais, decorrentes, _principal- mente, da depressio e do abuso de Alcool, enquanto nas nagdes ‘menos favorecidas essas causas resultariam da pressio e do es- tresse suscitados por problemas socioeconémicos. © suicidio nao escolhe sexo, raga, crenga nem faixa etéria, sendo deveras preocupante o ni mero de criangas e adolescentes que se matam para fugir dos pro- blemas deste mundo, nao sendo raro 0 autocidio de pessoas ido- sas, deprimidas e solitérias, mui- tas das quais jé ultrapassaram a oitava década de existéncia. A psiquiatria convencional procura explicar a ideagao, 0 Agosto de 2015 | Reformador u 47 planejamento e o ato suicidas como decorrentes de desequi- Iibrios neuroquimicos, com énfase especial sobre os neuro- transmissores serotonina e no- radrenalina, cuja redugio tem sido associada a0 comporta- mento agressivo e ao suicidio, além de fatores ambientais, socioeconémicos, genéticos familiares, imbricados e com- plexos, na base desse lamenté~ vel distiirbio. E inegavel a presenga de tais, componentes no ato suicida, Porém, justamente por igno- rar 0 ser pensante ~ 0 Espirito imortal -, confunde 0 efeito com a causa, atribuindo a um desarranjo fisiolégico a respon- sabilidade por uma insensatez que decorre do livre-arbitrio equivocado do Espirito que pratica, A ndo ser assim, estaria- mos fugindo a responsabilida- de que nos compete, tributan- do ao corpo a origem de todas as nossas mazelas, quando 0 doente é nossa alma. Ais, por que uns se matam € outros nao, mesmo quando submetidos aos mesmos estres- sores ambientais, aos mesmos fatores genéticos e socioecond- micos, aos mesmos desequili- brios neuroquimicos? Em ou- tras palavras, como explicar 0 fato de algumas pessoas resi tirem com mais facilidade as adversidades da vida, e outras sucumbirem prontamente? Di- 10 os mais apressados tratar-se de mera questao de resiliéncia... Mas, entio, a selegio natural, € somente ela, como defendem os s ortodoxos, teria favorecido as_primeiras, em detrimento das tiltimas? cientistas ma A Doutrina Espirita é muito mais racional em suas explica ‘ges. Embora reconhecendo fa- tores atenuantes em certas mo- dalidades de suicidio, conforme as circunstancias, sempre atribui ao Espirito imortal, e ndo ao cor po perecivel, a responsabilidade de seus atos, como ser pensante que 6 dotado de livre-arbitrio, cabendo-lhe, por conseguinte, arcar com as consequéncias das ‘agées praticadas. Segundo os Espiritos reve- ladores, 0 desgosto pela vida, que se apodera de certos in- dividuos sem motivos que 0 justifiquem, se deve ao “efeito da ociosidade, da falta de fé e, muitas vezes, da saciedade’? Independentemente do moti- vo, nao cabe ao homem o di- reito de dispor da propria vida, que s6 a Deus pertence.* Quando © suicida tem por fim escapar das misérias ¢ de- cepcoes deste mundo, mais gra- ve ainda é 0 seu ato, porquanto, quem assim procede, nao teve coragem de suportar as agruras da existéncia, justamente por nao saber tirar proveito das tri- bulagdes do dia a dia, que nao passam de provas ou expiagdes, verdadeiras oportunidades de redengio que o Pai, em sua in- finita Misericérdia, concede aos nossos Espiritos endividados. Segundo os Espiritos supe- tiores, o sacrificio da vida seria meritério tio sé quando tivesse por meta salvar a vida de outrem ou fosse itil aos semelhantes, exceges que dificilmente moti- vario os que querem suicidar-se, preocupados que esto consigo mesmos e com os problemas pessoais que os afligem. Isso € sublime [..] e, em tal caso, 0 sacrificio da vida nao constituisuicidio, Deus, po- rém, se opde a todo sacrificio imiitil endo pode vé-lo com prazer, se estiver_manchado pelo orgulho. © sacrificio sé € merit6rio quando feito com desinteresse. [..]* Sejam quais forem, porém, as razdes invocadas para con- sumé-lo, ¢ em que pesem fato- res atenuantes admissiveis em alguns casos, 0 suicida jamais escaparé das consequéncias de seu ato, embora sejam elas muito diversas. ] Nao ha penas fixadas e, fem todos 08 casos, so sem- pre relativas as causas que 0 produziram. Ha, porém, uma consequéncia & qual o suicida nao pode escapar: 0 desaponta- ‘mento. Ademais, a sorte nao é a mesma para todos; depende das circunstincias. Alguns ex- piam sua falta imediatamente, outros em nova existéncia, que seré pior do que aquela cujo curso interromperam.* Segundo Allan Kardec, a propaga¢io das ideias materia- listas é 0 veneno que inocula a ideia do suicidio na maioria das pessoas que se matam, as- sumindo, os que se fazem seus defensores, terrivel responsabi- lidade, como sucede, por exem- plo, com os que advogam o suicidio assistido, embora com suposta intengio de piedade. [..] Com o Espiritismo a di- vida jé nao & possivel, modifi cando-se, portanto, a visio que se tem da vida, O crente sabe que a existéncia se protonga indefinidamente para além do timulo, mas em condigées muito diversas. Dai a paciéncia € a resignagdo que o afastam muito naturalmente de pensar no suicidio; dai, numa palavra, a coragem moral.’ Enfim, sabe o espirita que o suicidio, “s6 Ihe trazendo de- cepgées, € contrario aos seus proprios interesses”? dele fu- gindo por conta de sua absoluta ineficacia, Finalmente, convém nao es- quecer 0 suicidio indireto, ou nao premeditado, em que o in- dividuo, pelos desregramentos a que se permite, embora sem a menor intengao de se matar, atenta contra sua organizagio fisica e psiquica, pelos meios mais diversos como: 0 Alcool, © tabaco, as drogas ilicitas, os ex- cessos alimentares, a auséncia de autodominio, a inadvertén- cia no trato com os semelhan- tes, a irritacao, a célera, a impa- ciéncia etc. Tais “ingredientes” so téo fatais quanto o enfor- camento, 0 tiro de revélver, 0 envenenamento _premeditado, © afogamento proposital, a pre- cipitagao das alturas, s6 dife- indo entre si pela rapidez com que a morte se verifica, Que 0 diga o Espirito André Luiz, em Nosso lar, cuja leitura é um pe- rene convite as nossas reflexdes e valiosa adverténcia a nds ou- tros, os que ainda perambula- mos na Terra. WA * Exame.obril.com.br/mundo/noti- cias/a-cada-t-segundos-umo-pes- ‘s00-se-suicida-diz-onu * KARDEC, Allan. 0 Livro dos espiri- tos. 6 ed. 2. imp. Trad. Evandro No- Leto Bezerra, Brasilia, 204. 9, 943 9 8, ‘ 4.46. © 9 854, . 4.987. 7 ___ Devangetho segundo o espi- ‘itisme. 2. e6. 2. imp. Trad. Evandro Noleto Bezerra, Brasil, 2014, cop. ¥, i. 1. it.17, ‘gosto de 2015 | Reformador 13 459

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