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Desenvolvimento de Relacionamentos Sociais Relacionamentos com os pais Relacionamentos com o grupo de iguais TM) Como Bowlby e Ainsworth caracterizam vin- 118 Quals sioas cracterstcas das interaces en- culos afetivos,apegos e modelos funcionals. tre grupos de iguais de bebée e pré-e:colares? internos? 119 Como os relacionamentos com 0 grupo de 112. Que fatoresinfluenciam 0 apego dos paisa Jiguais mudam durante os anos escolares? seufiho? TIO Quas so as earacteristicase as consequin- 113, Como o apego da crianga aos pais muda du- cis das variagbes na condicéo social? rantea fase de bebé,a primeira infanciaea yy) Qual &aimportéicia do grupo de iguase dos meninice? relacionamento¥roménticos na adolescéncia? TMA Quas sioas carctersticas dos relciona- 719. Quais slo as caracteristicas dos relaciona- mentos entre pal filho na adolescéncia? panier eae Tae Variagbes na qualidade dos apegos ‘Comportamento com o grupo de iguais 11S De que forma o comportamento de bebés TUB O que é comportamento pré-social e quan ‘com apego seguro ou inseguro difere? do ele aparece? 11S Como 0 temperamento do bes influencia © pamper THE que aspectos meninos e meninas de dife- processo do apego’ rentes idades ciferem na exibicio de agressi- 117 Em que grauas classficagées de apego so vidade? estavels e quai sio suas consequénciasa 115 O que é trago de agressvidade e como ele longo prazo? clfere de formas tipicas de agressvidade re- lacionadas &idade? urante o final da década de 1980, uma tragica saga comegou a se desenrolar no Sudo. No decorrer dos 10 anos seguintes, forcas apoiadas pelo governo empenhadas em impor a lei islamica 4 toda a populacao expulsou milhdes de familias cristas e animistas de seus lares. Essas familias desesperadas rumaram ppara as fronteiras quenianas e etfopes na esperanca de encontrar refiigio. Infe- lizmente, dezenas de milhares de refugiados morreram, e suas mortes deixaram muitas criangas sem pais. Essas criangas, algumas de apenas 4 anos, sabiam que enfrentariam a morte se voltassem para casa. Na falta de adultos para apoié-las, elas s¢ uniram, as mais velhas protegendo as mais novas, ¢ iniciaram a marcha. Mal sa- iam elas que passariam anos caminhando no hostil deserto africano oriental, uma terra mortalmente quente e seca com mais de duas vezes o tamanho do estado do ‘Texas. Muitas morreram de fome ou de doenga, causada por 4gua imprépria para consumo ou por comida contaminada ou envenenada. A noite, bandos de hienas : A CRIANGA EM Desenvouvimento 307 famintas as vezes atacavam os grupos. Em algumas ocasides, até cinco criangas de uum grupo eram mortas por esses predadores. Os sobreviventes aterrorizados nada podiam fazer a nao ser subir em drvores e esperar. Milagrosamente, milhares dessas criancas, referidas como os “Meninos Perdi- dos”, apesar do fato de muitas serem meninas, conseguiram chegar aos campos de refugiados no Quénia e na Etiépia. L4, funciondrios de organizagoes humanitirias as alimentaram, trataram seus ferimentos e montaram escolas provisérias para educé-las. Finalmente, 6rgdos humanitérios internacionais ajudaram muitas das criangas a se fixarem nos Estados Unidos. Muitas delas foram bem-sucedidas na escola, formaram-se em universidades e estabeleceram carreiras e familias préprias, demonstrando poucos sinais do grau de miséria e privagdo que tinham sofrido no inicio de suas vidas (Geltman et al., 2005). £ provavel que nenhum dos Meninos Perdidos teria sobrevivido sozinho. Indubitavelmente, a capacidade das criancas mais velhas de fornecer protecdo sustento para os menores foi vital a sua sobrevivéncia fisica. Entretanto, cientistas do desenvolvimento atribuem a resiliéncia intelectual e psicossocial que os Me- ninos Perdidos exibiram mais tarde na vida aos intensos vinculos que eles desen- volveram uns com os outros durante sua provacdo (Geltman et al., 2005). Esses vinculos ajudaram as criancas a compensar emocionalmente a perda de seus pais. Portanto, a historia dos Meninos Perdidos serve como lembrete de que as ligagdes socioemocionais podem ser tao importantes para o desenvolvimento quanto 0 cuidado fisico. Neste capitulo, vocé sera introduzido as importantes ideias e descobertas de John Bowlby, de Mary Ainsworth e de outros cien- tistas do desenvolvimento em relago aos vinculos emocionais entre bebés ¢ seus cuidadores. Em seguida discutiremos o impacto desses primeiros relaciona- mentos sobre aqueles que se desenvolvem posterior mente durante a vida. Um exame dos relacionamen- tos de iguais, juntamente com padres positivos ¢ negativos de interacdo de iguais, finaliza nossa discus- sio sobre relacionamentos sociais, Relacionamentos com os pais © relacionamento entre pai e flho tem estado no centro de ‘muita teorizacio e pesquisa na psicologia do desenvolvimento Para entender os principais achados de pesquisa, voc® necessi-.__ Nest relconamentoo fib et pesado a su pl mis (os emox tade um conhecimento bisico do fundamento tedrico sobre 0 Se Anoyort oreacaraento do pl som su iho siz velo qual a maioria dos estudos de pesquisa se basearam. epee Teoria do apego Como Bowlby e Ainsworth caracterizam ‘A influéncia te6rica mais forte em estudos de relacionamentos entre bebé-pai é | Vinculos afetivos, apegos e modelos a teoria do apego, particularmente o trabalho de John Bowlby e Mary Ainsworth | funcionais internos? (Ainsworth e Bowlby, 1991). O pensamento de Bowlby tinha raizes no pensa- mento psicanalitico, particularmente na énfase na importincia do primeiro relacionamento centre mac ¢ filho. A essa base te6rica ele acrescentou importantes conceitos evolutivos e eto- 308 _HevennBer & Denise Bovo Vineule afetive Um lace de duragorelativarnente longa na qual a parceira é Important como um inivi+ duo nico e no ¢intercam- biével com nenhum outro” (Ainsworth, 188, p. 71}. apego Um subtipo de vincu- loafetivo na qual a presence do parceiroadiciona una sensagio especial de segu- ranga, uma “base segura par oindividuo, ‘comportamentos de apego ‘Acolecéo de comporta- ‘menos (provavelmente) Instintivos de uma pessoa em relacio a outra que ocasiona ‘cumantém proximidade e cuidado, tal como 0 sorriso do bebe: comportamentos querefletem um apego.. ‘modelo funcional interno ‘Aplcado arelacionamentos socials, uma construcio cognitiva das operacoes dos relacionamentos, tis como cexpectatvas de spcio ou afeicéo,fdedignidade, etc (Os elacionamentos mals primitivs podem formar o padeo para essa construgio cognitiva logicos. Em sua visio, “a propenso a formar vinculos emocionais fortes com individuos em particular [é] um componente basico da natureza humana, jé presente de forma germinal no recém-nascido” (Bowlby, 1988a, p. 3). Tal relacionamento tem valor de sobrevivéncia porque garante que o bebé recebera sustentacao. O relacionamento € construido e mantido por um re- pert6rio entrelacado de comportamentos instintivos que criam e mantém a proximidade entre pai filho. Por exemplo, as criangas nascem com um repertério de comportamentos inatos,tais como chorar, sorri e fazer contato visual, que induzem cuidados dos outros. Da mesma forma, hi formas universais nas quais os pais, particularmente as mies, respondem a esses comporta- ‘mentos — por exemplo, pegar os bebés no colo quando eles choram ou falar com eles com uma ‘vor aguda. Vinculos afetivos e apego Nos trabalhos de Bowlby e de Ainsworth, esse padro mituo de resposta é fundamental para o desenvolvimento de vinculos afetivos e apego. Ainsworth define ‘Vinculo afetivo como “um laco de duragao relativamente longa no qual o parceiro é importante como um individuo tinico e nao ¢ intercambidvel com nenhum outro. Em um vinculo afetivo, ha uum desejo de manter proximidade com o parceiro” (1989, p.711). Um apego ¢ uma subvariedade de vinculo afetivo no qual o senso de seguranca de uma pessoa est ligado 20 relacionamento, Quando voct estd apegado, sente (ou espera sentir) uma sensacao especial de seguranca ¢ con- forto na presenca do outro, € pode usi-lo como uma base segura para dali explorar 0 resto do mundo. . ‘Nesses termos, o relacionamento da crianca com o pai é um apego, masoo relacionamento do pai com a crianga geralmente nao é, visto que o pai presumivelmente nao sente uma maior sen: sacdo de seguranga na presenga do bebe ou o utiliza como uma base segura. Um relacionamento com 0 parceiro adulto ou com um amigo muito intimo, entretanto, é um apego no sentido que Ainsworth e Bowlby dao ao termo. Naturalmente, os adultos no sicstéo dependentes de seus, parceiros ou amigos quanto as criancas sao de seus pais. Contudo, hé um certo tipo de seguranca ue um adulto obtém de estar em tal relacionamento; saber que se pode contar com a aceitagéo € 0 apoio de um parceiro roméntico ou de um amigo intimo nao importa 0 que aconteca é se- rmelhante em muitos aspectos& funcao de base segura que os relacionamentos de apego exercem para as criangas. Visto que os vinculos afetivos e os apegos sio estados internos, os desenvolvimentalistas néo podem observé-los diretamente. Antes, eles deduzem sua existencia por observar comporta- ‘mentos de apego, todos aqueles comportamentos que permitem que uma crianga ou um adulto alcance e mantenha proximidade fisica com outra pessoa a quem ela estd apegada, os quais po- deriam incluir sorri, fazer contato visual, chamar a outra pessoa do outro lado do quarto, tocar, seurar-se ou chorar. B importante deixar claro que nao ha correspondéncia de um-para-um entre o niimero de diferentes comportamentos de apego que uma crianga (ou um adulto) demonstra em qualquer ‘ocasido e a forga do apego subjacente. Os comportamentos de apego sao evocados principalmen- te quando o individuo necessita de cuidado, apoio ou conforto. Um bebé necessita de uma bos quantidade de tempo; uma crianga mais velha provavelmente apresentaria comportamentos de apego apenas quando estivesse com medo, cansada ou sob estresse. £ o padrao desses comporta ‘mentos, ndo @ frequéncia, que revela alguma coisa sobre a forca ou a qualidade do apego ou do vinculo afetivo. Para entender o primeiro relacionamento entre o pai ¢0 filho, os desenvolvimen- talistas examinam ambos os lados da equagdo — o desenvolvimento do apego do pai a crianga eo apego da crianga 20 pai. Modelos funcionais internos De acordo com Bowlby, uma ver que um apego com outra pessoa tenha sido estabelecido, a crianga comeca a construir uma representa¢io mental do rela- cionamento que se torna um conjunto de expectativas para futuras interagOes com a mesma pes- s0a. Bowlby criou 0 termo modelo funcional interno para descrever essa representagdo mental « sugeriu que ele inclui elementos como a confianga das criancas (ou falta dela) de que a figura de apego estar disponivel ou seré confiavel, a expectativa de rejeicao ou afeigéo e a conviccio de que a figura de apego ¢ realmente uma base segura para exploracéo. O modelo interno comeca a ser formado no final do primeiro ano de vida e se torna cada vez mais elaborado e mais bem estabelecido durante os primeiros 4 ou 5 anos. Aos 5 anos, a maioria das criancas tem modelos in ALCRIANGA EM Desenvowvimenro 309 ternos claros da mae (ou de outro cuidadoz), um modelo do selfe um modelo de relacionamentos (Schermerhorn, Cummings e Davies, 2008). Uma ver. formados, esses modelos formam e explicam experiéncias e meméria e aten¢io afetivas. As criangas percebem ¢ lembram experiéncias que se ajustam a seus modelos e deixar. passar ou esquecem experiéncias que nao combinam com eles. Mais importante, o modelo afeta ‘o comportamento da crianga: ela tende a recriar, em cada novo relacionamento, o padro com 0 ‘qual ela esté familiarizada, Alan Sroufe da um exemplo que pode tornar essa questo mais clara: — (© que € rejeicdo para uma crianga € benigno para outra. O que é empolgante para uma segunda crianga € confuso ou ambiguo para outra. Por exemplo, uma crianca se aproxima de outra e « convida para brincar. Reeitada, a crianga vai emborae fica amuada em um canto. Uma segunda crianga recebendo a ‘mesma reasao negativa procura outro companheiro e, om sucess, inicia uma brincadeira. Sas expe- rincias de rei sto imensamente diferentes Cada uma recebe a confirmagio de modelos Funcionais internos bastante diferentes. (1988, p. 23) Em certo sentido, esses modelos internos nao sdo diferentes dos roteiros sociais que a crianga pré-escolar desenvolve em outras dreas (Bretherton, 1993). Fles contém expectativas por sequén- cias de comportamento, regras para comportamento com vitios individuos e interpretagbes de agdes de outros; eles ajudam a moldar ao que a crianga presta atencdo e o que ela lembra (Kirsh e Cassidy, 1997). ° apego dos pais ao filho Se ler qualquer revista popular, vocé provavelmente encontraré artigos procla- | paisa seu filho? mando que as mécs (ou os pais) devem ter contato imediato com seu bebé recém- = nascido se quiserem se tornar adequadamente apegadas @ ele. Como voce vers, a formagio de ‘um relacionamento de apego com um filho é muito mais complexa para ser completamente de- pendente de uma tnica e primeira experiencia. © desenvolvimento da habilidade de interagdo © que é essencial na formagio de um primeiro vinculo é a oportunidade para o pai e 0 bebé desenvolverem um padrao miituo © entrelagado de comportamentos de apego, uma “danga” suave de interagao. O bebé sinaliza suas necessidades chorando ou sorrindo; ele olha para seus pais quando eles olham para ele. s pais, por sua vez, entram nessa danca interativa com seu préprio repertério de comporta- ‘mentos de cuidados. Eles pegam o bebé no colo quando ele chora, aguardam ¢ respondem a seus sinais de fome ou de alguma outra necessidade, ¢ assim por diante. Alguns pesquisadores « te6ricos descreveram isso como o desenvolvimento de sincronia (Feldman, 20075 Isabella, Belsky e von Eye, 1989). ‘Uma das coisas mais intrigantes sobre esse processo é que todos os seres humanos parece saber como fazer essa danga particular ~ e a fazem de formas muito semelhantes. Na presenca de um bebezinho, a maioria dos adultos automaticamente exibe um padrao caracteristico de comportamentos interativos, incluindo sorri, erguer as sobrancelhas e arregalar os olhos. Os adultos também usam a voz de formas especiais com bebés, como voce lembrara da discussao de manhés, no Capitulo 8, Pais do mundo inteiro usam o padrao agudo ¢ ritmado caracteristico do manhés; eles também usam padrdes de entonacéo semelhantes. Por exemplo, em um estudo de interagbes mae-bebé, Hanus ¢ Mechthild Papousek (1991) constataram que maes chinesas, alemas e americanas tendem todas a usar uma inflexio de vor. crescente quando querem que ‘© bebé “revere” ou contribua para a interagdo, e uma entonacio decrescente quando querem acalmar 0 bebé. Contudo, ainda que as pessoas apresentem esses comportamentos com muitos bebés, elas Zo formam um vinculo com cada bebé a quem elas se dirigem dessa forma em um restaurante ou em um supermercado, Para um adulto, o ingrediente critico para a formagdo de um vinculo parece sera oportunidade de desenvolver sincronia real—de praticar a danca até que os parceiros acompanhem 6 comando um do outro suave e prazerosamente. Isso leva tempo ¢ muitos enseios, alguns pais (e bebés) tornam-se mais habeis nisso do que outros. Em geral, quanto mais suave «e mais previsivel o processo se torna, mais satisfatério ele parece ser para os pais e mais forte se torna seu vinculo com o bebe. 310__Heten Bee & Denise Bove Vinculos de pai-filho A maioria das pesquisas sobre as quais vocé leu até agora envolvey estudos de maes. Contudo, muitos dos mesmos principios parecem se aplicar também aos pais (Lewis e Lamb, 2003). Em particular, os pais parecem dirigir 0 mesmo repertério de comporta. ‘mentos de apego em relacio a seus bebés (Figueiredo, Costa, Pacheco e Pais, 2007). Nas primeiras semanas de vida de um bebé, 0 pai toca, fala e abraca o bebé da mesma forma que as mes fazem; tanto as maes quanto 0s pais apresentam as mesmas respostas fisiolégicas quando interagem com, seu novo bebé, incluindo aumento da taxa cardiaca e da pressio sanguinea (Corter ¢ Fleming, 1995). ‘Ap6s as primeiras semanas de vida, entretanto, sinais de alguma especializaco de compor- tamentos parentais com os bebés tornam-se evidentes (Brown, McBride, Shin e Bost, 2007). Es. tudos nos Estados Unidos mostram que os pais passam mais tempo brincando com um bebé, usando mais brincadeiras fisicas. As mes passam mais tempo no cuidado de rotina,¢ elas falam e sorriem mais para seus bebés (Parke, 1995; Walker, Messinger, Fogel e Karns, 1992). Iso no significe que os pais tenham um vinculo afetivo mais fraco; significa que 0s comportamentos que eles apresentam em relagio ao bebé sio tipicamente um pouco diferentes dos que as maes apresentam. Contudo, aos 6 meses, os bebés tém @ mesma probabilidade de mostrar sinais de apego a seus pais quanto a suas maes (Feldman, 2003), Esses sinais incluem rir e se contorcer com prazer em acessos curtos ¢ intensos enquanto interagem com seus pais. Em contraste, os sinais de apego as maes tém mais probabili- dade de incluir sorrisos lentos, graduais. Nao é uma questdo de gostar mais de um pai do que do outro. Os bebés demonstram esses sinais de que os aspectos espectficos de intera- 640 sincronica sio diferentes para maes e para pais. Entretanto, ndo deveriamos concluir apressadamente que essa diferenca de sexo i de algum modo inata; antes, ela parece se basear em padrdes cufturais. Pesquisadores na HB Inglaterra ena India encontraram niveis mais altos de brincadettafisica pelos pais do que © pai de Ryan, como a maiora tem plas mes, mas outros pesquisadores na Suécia, em Israel, na Itilia,na China e na Malé- mato mais probabidade de bincar sia ndo encontraram (Parke e Buriel, 1998). Achados como ess ilustram primorosamente Som elt strendo-o para cima do.que 4 ytiidade da pesquisa intercultural para identificar padroes de comportamento que si0 influenciados por expectativas culturais variadas ou treinamento. erie cee ‘Como o apego da crianca aos pais muda durante a fase de bebe, a primeira infan- ciaeameninice? O apego da crianga ao pai Como o vinculo do pai com o bebé, o apego do bebé surge gradualmente. Bowlby (1969) sugere trés fases no desenvolvimento do apego do bebé; estas sio apresen- tadas na Figura 11.1. Uma vez formado, o relacionamento de apego muda um pouco a medida queaa crianca cresce. Fase! Fase Fase3 Crientagio Foco em Comporamento io focada_ uma ou ‘debase segura mals gus TT —, Referenclaento social dobro ‘Arsedade de sepuragio ‘Mado de esrarthor ie . a ® Fy dade do bebé em meses Figural © apego no contexto do desenvolvimento Este eaquema mosta como 3s vd lnhas de deverwohimento do apega sa tacidae A CRIANGA EM DesenvOLVIMENTO Fase I: Orientacéo e sinalizagao no focada Bowlby acreditava que um bebe inicia a vida com tum conjunto de padrées de comportamento inatos que o orientam na dire¢io dos outros e sinalizam suas necessidades. Mary Ainsworth os descreveu como comportamentos promotores de proximsdade: ‘les aproximam as pessoas. No repertério do recém-nascido, esses comportamentos incluem chorar, fazer contato visual, apegar-se, abracare responder aos esforgos dos cuidadores sendo acalmados. Neste estgio, hé pouca evidéncia de que o bebe esteja apegado aos pais. Ndo obstante, as rai- es do apego estdo estabelecidas. O bebe esté construindo expectativas e esquemias sobre padres de interacdo com os pais, bem como desenvolvendo a capacidade de discriminar mamie e papai de outros em muitos contextos. Fase 2:,Foco em uma ou mais figuras Aos 3 meses, 0 ‘bebé comeca a usar seus comportamentos de apego um pouco mais restritamente. Ele pode sorrir mais para as pessoas que cuidam dele regularmente e pode nao sorrir facilmente para um estranho. O bebé ainda nao tem um apego completo, con- tudo. A crianga ainda favorece um niimero de pessoas com seus comportamentos promotores de proximidade, e nenhu- ‘ma pessoa tornou-se ainda a “base segura”. As criancas nesta fase ndo apresentam ansiedade especial ao serem separadas de seus pais nem medo de estranhos. Fase 3: Comportamento de base segura _Apenas aos 6 meses, aproximadamente, de acordo com Bowlby, 0 bebéfor- an ‘ma um apego genuino ~ em torno da mesma época em que cle desenvolve algum entendimento preliminar de que objetos ‘pessoas continuuam a existir quando estdo fora de vista (per- 148 alguns meses, este bebé provavelmente sé Ceiraria ser pego no colo por quslquer pessoa sem nenhuma ansiedad® agora de repente ele tem redo de estranhos. Or pal fequentemente feam confusos com esse ‘Compertamento, as ele éabsolitamente normal, manéncia do objeto). Pela primeira vez, 0 bebe usa a pessoa “mais importante” como uma base segura a partir da qual ex- plora o mundo a sua volta ~ um dos sinais fundamentais de {que um apego existe. Visto que 0s bebés de 6 a 7 meses comegam a ser capazes de se movimentar ‘pelo mundo mais livremente arrastando-se e engatinhando, ele pode se mover na direglo do cui- dador, bem como induzir 0 cuidador a vir até ele, Portanto, os comportamentos de apego mudam de sinais de “venha c4” (promotor de proximidade) para 0 que Ainsworth chama de comporta- ‘mentos de busca de proximsidade, que poderiam ser concebidos como comportamentos de “vé I” ‘Uma vez que a crianga tenha desenvolvido um apego claro, diversos comportamentos rela- cionados também aparecem. Um desses ¢ 0 referenciamento social, sobre 0 qual voce leu no Ca- pitulo 5. A crianga de 10 meses usa sua capacidade de discriminar entre virias expressées faci para orientar seu comportamento de base segura. Ele comeca a observar a expressio facial da ‘mame e do papai antes de decidir se aventurar em alguma situaglo nova. Aproximadamente na ‘mesma idade ot um pouco mais cedo, os bebés também costumam demonstrar medo de estra- thos e ansiedade de separacao. Medo de estranhos e ansiedade de separacéo © medo de estranhos e a ansiedade de separagio sio duas formas de sofrimento raras antes dos 5 ou 6 meses; eles aparecem em algum ‘momento entre os 6 € 05 9 meses, aumentam em frequéncia em torno dos 12 a0s 16 meses, € diminuem apés aproximadamente os 24 meses. Os achados de pesquisa nao sto inteiramente consistentes, mas parece que o medo de estranhos normalmente aparece primeiro, em torno do ‘mesmo periodo em que os bebés apresentam reacOes medrosas em outras situagBes. A ansiedade de separacio comea um pouco mais tarde, mas continua a ser visvel por um periodo mais lon- go, um padrio esquematizado na Figura 11.1 Esses aumentos no medo de estranhos ¢ na ansiedade de separacio foram observados em criangas de intimeras culturas diferentes e em criancas criadas tanto em casa quanto em creches nos Estados Unidos, o que sugere que alguma escala evolutiva basica relacionada a idade ests por baixo desse padrao (Kagan e Herschkowitz, 2005; Kagan, Kearsley ¢ Zelazo, 1978). Virtualmente todas as criangas apresentam ao menos formas leves desses dois tipos de sofrimento, embora a intensidade da reacao varie amplamente. Alguns bebés protestam brevemente; outros sio virtual- 312_He.en Bee & Denise Bovo ‘mente inconsoléveis. Um pouco dessa variagao sem dlivida reflete diferencas temperamentais bi. sicas na inibigdo comportamental (Kagan et al, 1994). O temor aumentado também pode ser uma resposta a alguma revolucio ou algum estresse na vida da crianca, tal como uma mudanca recente ‘ou uma mudanca na rotina didria, Seja qual for a origem dessas variages no temor, 0 padrag ceventualmente diminui na maioria das criancas pequenas tipicamente na metade do segundo ano, ‘Apego amie e pai A partir dos 7 ou 8 meses, quando apegos fortes sio observados pela pri- ‘eira vez, os bebés preferem o pai ou a mae a um estranho. E quando tanto o pai quanto a mae ‘estio dispontveis, um bebé sorrird para ou se aproximara de um ou de ambos, exceto quando le estiver com medo ou sob estresse. Quando isso acontece, ‘especialmente entre as idades de 8 e 24 meses, a crianca tipi ‘camente volta-se para a mae em ver do pai (Lamb, Bornstein Teti, 2002). ‘Como se poderia esperar, forga do apego da crianga ao pai nessa idade parece estar relacionada a quantidade de tem- po que o pai tem passado com ela, Em um estudo anterior, por exemplo, Gail Ross verificou que podia prever 0 apego de uum bebé ao pai sabendo quantas fraldas o pai trocava em uma semana tipica. Quanto mais fraldas, mais forte o apego (Cal- era, 2004; Ross, Kagan, Zelazo e Kotelchulk, 1975). Mas mui- ‘0 tempo com o pai nao parece ser 0 tinico elemento, visto que ‘Michael Lamb e colaboradores (1983) verificaram que bebés ‘cujos pais tinham sido os principais cuidadores por pelo um més no primeiro ano de vida nao obstante eram mais forte- ‘mente apegados a suas mies do ques seus pais. Para o pai ser ‘Visto qu criangas em idade escolar ficam mais tempo longe deca pas- __CONsistentemente preferido & mie seria preciso provavelmente undo cada ver mals tempo com o grupo de igual, tentador supor ue ‘les soja mencs fertemanteapogads a seus pas Mas ess suponigSo & ‘errada, As erangas dessa idade anda dependiem de seus pas pan terern lumabase segura ‘cuidado paterno em tempo integral. Na medida em que essa ‘opGio torna-se cada vex. mais comum, serd possivel estudar ‘esses pares de pai-filho para verificar se os bebes desenvolvern ‘uma preferéncia pelo p: Culturas com cuidado compartilhado do bebé Vocé pode estar imaginando se os pa- dives de apego variam quando um bebé tem mais de um cuidador primario (Tronick, 2007) Bm um estudo cléssico, Edward Tronick e colaboradores (1992) estudaram um grupo pigmeu chamado Efe, que habitam as florestas do Zaire. Eles vivem em pequenos grupos de talvez 20 individuos em campos, cada um consistindo de diversas familias extensas. Os bebés nessas co- ‘munidades s4o cuidados coletivamente nos primeiros meses e anos de vida. Eles so carregados € segurados por todas as mulheres adultase interagem regularmente com muitos adultos diferen- tes, Eles podem mesmo ser amamentados por outras mulheres, embora normalmente durmam_ ‘com suas maes. ‘Tronick e colaboradores relatam duas coisas de particular interesse sobre o primeiro apego neste grupo. Primeiro, os bebés Efe parecem usar virtualmente qualquer adulto ou crianca mais velha em seu mundo como uma base segura; isso sugere que eles podem néo ter um tinico apego central, Segundo, a partir dos 6 meses, aproximadamente, o bebé Efe nao obstante parece insistir ‘em ficar mais com sua mde e a preferi-le a outras mulheres, embora as outras continuem a judar « cuidar da crianca. Portanto, mesmo em uma organizacao de criagdo extremamente comunal algum sinal de um apego central é evidente, embora possa ser menos dominante. Apegos na primeira infancia Em torno dos 2 ou 3 anos, embora apego da crianga a mae € ao pai permaneca poderoso, a maioria dos comportamentos de apego torna-se menos conti- nuamente visives. As criancas dessa idade so suficientemente avancadas cognitivamente para entender a mae se ela explicar por que est saindo e disser que voltaré, para que a ansiedade de se- paragio delas diminua, Elas podem até mesmo usar uma fotografia de suas maes como uma “base segura” para exploracao em uma situagao estranha (Passman e Longeway, 1982), que reflete outro avango cognitivo. Aos 3 ou 4 anos, uma crianca também pode usar planos compartilhados ofere- «idos pelos pais (“Eu estarei em casa depois da sua sesta”) para diminuir sua possivel ansiedade de A CRIANGA Ex Desenvouimento 313 separacdo (Crittenden, 1992). Os comportamentos de apego naturalmente néo desapareceram completamente, Criangas Ge 2anos ainda querem sentar no colo da mamae ou do papais clas ainda tém a probabilidade de buscar alguma proximidade ‘quando a mie retorna apés um periodo de auséncia, Mas em situagdes ndo assustadoras ou nao estressantes, ctiancas pe- ‘quenas e pré-escolares sio capazes de se afastar cada vez mais ‘de sua base segura sem sofrimento aparente. ‘Bowlby se referiu a essa nova forma de apego como uma parceria de objetivo corrigido (Bowlby, 1969). O objetivo do Debé, para colocar de forma mais simples, € sempre ter a fi- gura de apego 20 alcance da visio ou do toque. O objetivo da crianga pré-escolar também é estar “em contato” com 0 pai, mas 0 “contato” nfo mais requer presengafisicaconstante. A = . 7 crianga pré-escolar nao apenas entende que sua mae conti- or os adolescentes team mais confitos com os pals do que a5 Sharda exists quando cla nao ester ali la também entende. “meer cena mee fore spapescom es ‘agora que 0 relacionamento continua a existit mesmo quan- do os parceiros esto separados. Isso permite que a crianca equena ou em idade pré-escolar modifique (“corrija”) seu objetivo de contato com sua figura de apego iniciando um planejamento colaborativo: concordando sobre quando e como os dois. * estardo juntos, por exemplo, ou o que a crianga fard se fcar assustada ou ansiosa, ou quem seré a pessoa de seguranca substtuta. ‘Apegos na meninice No ensino fundamental, comportamentos de apego manifestos tas como agarramento e choro so ainda menos visiveis, portanto € fécil esquecer o fato de que as criangas dessa idade ainda estio fortemente apegadas a seus pais. A crianga do ensino fundamental pode assumir a responsabilidade priméria por manter contato com o pai (Kerns, 1996), mas ela quer saber que mama e papai estar ld quando ela precisa deles. Essa necessidade é mais provvel de parecer quando a crianga enfrenta alguma situagao estressante, talvez o primeiro dia de escola, uma doenca ou revolugéo na familia, ou a morte de um animal de estimagdo, Visto que menos experitncias sio novas ¢ potencialmenteestressantes para 2 crianca de 7 ou 8 anos do que para os pré-escolares, hd muito menos comportamento de base segura Sbvio e menos afeigfo declarada ex- pressada pela crianca para com o pai (Maccoby, 1984). Essas mudangas, entretanto, ndo significa ‘que o apego da crianga ao pai enfraqueceu. Na verdade, separagies prolongadas dos pais podem ser cextremamente estressantes para criancas em idade escolar (Smith, Lalonde e Johnson, 2004). cine ‘Quals s80 as caracteristicas dos relacio- rnamentos entre pais efitho na adoles- Relacionamentos entre pai e filho na adolescéncia ‘Na adolescéncia, a forma dos comportamentos de apego muda um pouco, porque 0s adolescentes tém duas tarefas aparentemente contradit6rias em seus relacio- namentos com seus pais: estabelecer autonomia em relacio aos pais e manter seu senso de relacdo (apego) com eles. A presso por autonomia se mostra no conflito crescente entre 0 pai e o adolescente; a manutencao de conexées € vista na continuidade do forte apego da crianca 20 pai. ‘Aumentos no conflito © aumento no conflito com os pais quando as criangas entram na adolescéncia foi repetidamente documentado (Steinberg e Silk, 2002). Na maioria das familias,ha|~ tum aumento nas brigas e nos confltos leves sobre problemas cotidianos como tarefas ou direitos pareria de objetivo corrgi pessozis — se o adolescente tem permissio para usar um estilo de cabelo bizarro ou determinadas 0 Termo wsaclo por Bowlby roupas ou se e quando o adolescente deve reslizartarefas domésticas. Os adolescentes eseus pais aa cescrever aforna do também interrompem uns aos outros mais frequentementee tornam-se mais impacientes uns Peet canines no qua com 0s outros. Eles também podem discutir sobre a idade em que privilégios como namorat —¢sdoisparceos através da pais generalizado entre os relacionamentos e, portanto, mai resistente & mudanca. Naquele onto, a crianga tende a impor seu modelo funcional a novos relacionamentos, incluindo rela- | | | : cionamentos com professores e colegas, Portanto, uma crianga pode “recuperar-se” de um apego ini- cialmente inseguro ou perder um apego seguro. A consisténcia com o passar do tempo é mais tipica, tanto porque 0s relacionamentos das criancas tendem a ser razoavelmente estiveis para os primeiros anos, quanto porque uma ver que o modelo interno é claramente formado, ele tende a se perpetuar. | Consequéncias de longo prazo do apego seguro e inseguro _O sistema de classificagao de ‘Ainsworth revelou-se extremamente tit para prever uma variedade bastante ampla de outros com- portamentos em eriangas pequenas e mais velhas. Dezenas de estudos (Carlson, Sampson e Sroufe, 2003 Diener, Isabella, Behunin e Wong, 2008) mostram que, comparado a criancas classificadas ‘como inseguramente apegadas, criancas seguramente apegadas @ suas mies na fase de bebé so ‘mais sociéveis no futuro, mais positivas em seu comportamento com amigos eirmaos, menos“ade- rentes” e dependentes dos professores, menos agressivas e disruptivas, mais empéticas e mais emo- cionalmente maduras em suas abordagens a ambientes escolares e outros ambientes fora de casa. Na adolescéncia, aqueles que foram classificados como seguramente apegados na inféncia ow {que sio classificados como seguros com base em entrevistas recentes tém mais amigos intimos (Bauminger, Finzi-Dottan, Chason e Har-Even, 2008). Aqueles com apegos inseguros — particu- larmente aqueles com apegos evitantes ~ nao apenas tém menos amizades positivas e apoiadoras na adolescéncia, mas também tém mais probabilidade de tornarem-se sexuelmente ativos cedo de praticarem sexo mais arriscado (Carlson, Sroufe ¢ Egeland, 2004; O'Beimne e Moore, 1995). ‘Uma demonstracio particularmente clara de algumas dessas ligacbes vem de um estudo longi- tudinal de Alan Sroute e colaboradores (Sroufe, Egeland, Carlson e Collins, 2005). Esses pesquisa- dores avaliaram a seguranga do apego de um grupo de varias centenas de bebes e acompanharam as criancas durante a infancia e a adolescéncia, as testando ¢ observando-as em intervalos regulates. Algumas de suas observacées foram de participantes convidados a frequentar um acampamento de verio especialmente planejado durante o inicio da adolescéncia. Os conselheiros avaliaram cada crianga em uma variedade de caracteristicas, eos observadores anotaramn com que frequéncia as criangas passavam 0 tempo juntas ou com os conselheiros. Naturalmente, nem os conselheitos nem os observadores sabiam qual tinha sido a classificagao de apego inicial das criancas. Aquelas com histérico de apego seguro na infincia foram classficadas como tendo mais autoconfianga ‘competéncia social. Blas obedeciam mais prontamente aos pedidos dos conselheiros, expressavam. ‘mais emogles positivas etinham maior senso de sua capacidade de realizar coisas. Criangas seguras criavam mais amizades, especialmente com outras criancas seguramente apegadas, e participavam de mais atividades complexas quando brincando em grapos. Ao contrério, a maioria das criangas ‘com hist6rico de apego inseguro mostravam algum tipo de padrio de comportamento desviante, tal como isolamento dos colegas, comportamento bizarro, passividade, hiperatividade ou agressivi- dade. Apenas poucas das criangas seguramente apegadas mostraram algum desses padrdes. Qualidade do apego na idade adulta Estudos Jongitudinais mostram que os efeitos do estado do apego persistem até a idade adulta (Jones, 2008; Tideman, Nilsson, Smith e Stjernqvist, 2002). Adultos que eram seguramente apegados quando bebés percebem seus relacionamentos com suas maes diferentemente dos adultos que eram inseguramente apegados. A seguranga do apego na infancia pode até mesmo chegar aos relacionamentos rominticos na idade adulta. Al- guns estudos mostram que homens e mulheres que eram seguramente apegaclos a seus pais sf0 ‘mais sensiveis as necessidades de seus companheiros (Mikulincer e Shaver, 2005). (Os modelos internos de apego dos adultos afetam a forma como eles se comportam com seus préprios filhos. Para avaliaro grau com que eles 0 fazem, a psicbloga Mary Main e colaboradores desenvolveram uma entrevista padronizada de estado do apego para uso com adultos (Main, Hesse e Goldwyn, 2008; Main, Kaplan e Cassidy, 1985). Bes verificaram que o modelo funcional interno de apego de um adulto pode ser classficedo como um de trés tipos: © Seguro/auténomo/equilibrado, Esses individuos valorizam relagdes de apego ¢ consideram suas primeiras experiéncias influentes, mas sio objetivos ma descri¢do tanto de qualidades ‘boas quanto de qualidades ruins. Bes alam coerentemente sobre suas primeiras experiéncias ‘ete pensamentos sobre o que motivou o comportamento de seus pais. © Desapegado ou evitativo, Bsses adultos minimizam a importancia ou os efeitos das primeiras experigncias familiares. Eles podem idealizar seus pas, talvez mesmo negando a existéncia de experiéncias negativas da infancia, Eles enfatizam suas prOprias forgas pessoais, A CRIANGA EM DESENVOLYIMENTO 9 319 ; aa 320___HeLew Bet & Denise Boro + Preocupade ou desorientado, Esses adultos frequentemente falam sobre paternagem inconsis. tente ou de papel invertido. Eles ainda estdo monopolizados por seus relacionamentos com, seus pais, lutando ativamente para agradé-los ou apresentando muita raiva deles. Eles so | confusos ¢ ambivalentes, mas, ainda assim, empenhados. (Quando os modelos de apego dos adultos estio relacionados seguranga do apego exibida por | seus filhos, o padrao esperado surge poderosamente: adultos com modelos de apego seguro a seus préprios pais tém muito mais probabilidade de ter bebés ou filhos pequenos com apegos seguros Aqueles adultos com modelos rejeitadores tgim mais probabilidade de ter bebés com apegos evitan- tes; aqueles com apegos preocupados tém mais probabilidade de ter bebés com apegos ambivalen- tes. Entre 20 estudos,o achado tipico éo de que trés quartos dos pares de mae-bebé compartilhama ‘mesma categoria de apego (van I}zendoor, 1995, 1997). Diane Benoit encontrou uma consisténcia ‘marcada através de trés geragdes: avés, maes jovens e bebés (Benoit e Parker, 1994), | ‘A semelhanca entre geracbes parece ser resultado do proprio comportamento de cada mie em relacio a seu filho, que varia em fungio de seu préprio modelo funcional interno de apego | (Steele, Hodges. Kaniuk, Hillman ¢ Henderson, 2003). Maes seguramente apegadas sio mais res- | ponsivas e sensiveis em seu comportamento com seus bebés ou filhos pequenos. Ao contrério, es com apegos rejeitadores ou preocupados exibem comportamentos que podem interferir n0 desenvolvimento de apego seguro em seus filhos. Quando Emma Adam e colaboradores (2004) observaram interagdes entre mas ¢ filhos de 2 anos em uma variedade de situagées, constataram | {que maes preocupadas tendiam a exibir mais raiva, intromissao (agoes qué interferiam nas metas da crianca) e emogées negativas em interagées com seus flhos do que mies na categoria segura, Além disso, mes rejeitadoras tinham menos probabilidade do que mies seguras de exibir emo- ‘es positivas quando interagindo com seus filhos pequenos. Crowell e Feldman (1988) também observaram que maes com modelos funcionais internos rejeitadores ou preocupados interpretavam 0 comportamento do filho Muito diferentemente de mies seguras: uma mie rejeitadora observou sua filha chorando através da janela de observacao e disse “Olha, ela ndo se preocupa em ser deixada’. Na reunifo, ela disse para a crianca “Por que voc# estava chorando? Eu néo sai” (1991, p. 604). Portanto, o préprio modelo interno da mae nao apenas afeta sen comportamento real, mas também afeta o significado que ela atribui ao compor- tamento do filho, ambos os quais afetarao 0 modelo de apego em desenvolvimento da crian¢a. Relacionamentos com o grupo de iguais Visto que a maioria das teorias de desenvolvimento social e da personalidade tem enfatizado fortemente a centralidade das interacoes de pai e filho, muitos psicélogos consideravam os rela- cionamentos com iguais muito menos importantes, até recentemente. Essa visio esté agora mu- dando & medida que se torna evidente que os relacionamentos com o grupo de iguais tem um papel tnico e significativo no desenvolvimento de uma crianca (Chen, He, Chang e Liu, 2008). Ou seja, boa paternagem é mais efetiva quando as criances se associam com iguais que exibem competéncia social. Inversamente, iguais antissociais podem arruinar os efeitos potencialmente positivos da boa paternagem. Portanto, os desenvolvimentalistas nao pensam mais em relacio- namentos parentais e de iguais como conjuntos de influéncias independentes. Naturalmente, as criangas tém relacionamentos com os pais antes de desenvolvé-los com o grupo de iguais. Nesta se¢4o, discutiremos como os relacionamentos de iguais mudam com o passar dos anos da infaincia e adolescéncia, Relacionamentos entre iguais na infancia e nos Ges entre grupos de iguaisde bebése | anos pré-escolares pré-escolares? Quais As criangas comegam a mostrar algum interesse positive por outros bebés pela pri meira ver aos 6 meses. Se vocé colocar dois bebés dessa idade no chao um de frente para o outro, eles se tocardo, puxardo 0 cabelo ¢ tentardo pegar na roupa um do outro. Aos 10 meses, ‘esses comportamentos sio ainda mais evidentes. Dos 14 aos 18 meses, duas ou mais criangas podem brincar juntas com brinquedos ~ ocasionalmente cooperando, mas com maior frequencia simples mente brincando lado a lado com diferentes brinquedos, um padrdo que Mildred Parten (1932) des- creveu pela primeira vez como brincadeira em paralelo. Bebés dessa idade expressam interesse uns nos outros, olhando fixo ou fazendo ruidos uns para os outros. Apenas em torno dos 18 meses, entre- tanto, é que as criangas mostram evidéncia de brincadeira coordenada, tal como quando uma crianga, persegue ou imita a agao da outra com algum brinquedo. Aos 3 ou 4 anos as criangas parecem prefe- rirbrincar com seus iguais em vez de sozinhas, e sua brincadeira conjunta é muito mais cooperative € coordenada, incluinde virias formas de brincadeira de faz de conta. (0s primeiros sinais de preferéncias de companheiros ou amizades também aparecem na crianga pequena e nos anos pré-escolares (Hay, Payne e Chadwick, 2004). Algumas criangas mos- tram sinais de preferénciasespecificas de companheitos jé aos 18 meses; 20s 3 ou 4 anos, mais da ‘metade das criancas tem pelo menos uma amizade miitua, e muitas ja desenvolveram um relacio- namento de “melhor amigo” duradouro (Sebanc, Kearns, Hernadez e Galvin, 2007). Certamente essas primeiras “amizades” nao sio to profundas ow intimas quanto equelas centre pares de criangas mais velhas ou adolescentes. Amigos pequenos poucas vezes ignoram ofertas para interacdo uns dos outros. Contudo, esses pares mostram sinais inconfundiveis de que seu relacionamento é mais do que meramente uma fantasia passageira. Eles exibem mais afeto miituo, mais reciprocidade, mais interacées prolongadas, mais comportamento positivo e menos negativo, mais perdao e mais apoio em uma situagao nova do que acontece com pares no amigos dessa mesma idade. Quando discutem, eles tém mais probabilidade de tentar apaziguar (Dunn, 1993; Hartup, Laursen, Stewart e Eastenson, 1988; Newcomb e Bagwell, 1995). HE muitas raz6es para acreditar que a brincadeira precoce com um amigo é uma drea alta- ‘mente importante para as criangas praticarem uma série de habilidades sociais (Sebanc, 2003). ‘Como diz John Gottman, a fim de brincar cooperativamente, os amigos “devem coordenar seus esforgos com toda a virtuosidade de um quarteto de jazz perfeito” (1986, p. 3). Frequentemente, cles devem subjagar seus pr6prios desejos no interesse da brincadeira conjunta, o que requer al- gama consciéncia dos sentimentos edesejos do outro, bem como uma capacidade de modular as préprias emogGes. Voce ja sabe que essas habilidades cognitivas e de controle surgem durante os anos pré-escolares: 0 que a pesquisa sobre amizades revela € que a brincadeira com iguais, espe- cialmente com amigos, pode ser um ingrediente crucial nesse desenvolvimento. Relacionamentos entre iguais na idade escolar A CRIANGA EM Desenvouvimento 321 ‘es3 anos, a maicrn das crlan- ‘as realmente bine unto de forma coordenads, 20 invés de sinplesmente bina ade aldo. iia ‘Como os relacionamentos com o gru- Durante as tltimas décadas, os relacionamentos entre iguais tornaram-se cada_| po de iguais mudam durante os anos -vez mais importantes para criangas em idade escolar. Gradualmente, quantida- | escolares? de de tempo que elas passam interagindo na escola, em ambientes de cuidados apésa escola e por meio de comunicacao eletrénica veio a ultrapassar a quantidade de tempo que clas passam em outras atividades (Neufeld e Maté, 2005). Como resultado, surgiram controvér- sias em relacio ao grau com que essa mudanca para um tempo aumentado com o grupo e tempo diminuido com os pais é benéfica ou prejudicial para 2s criances. Por exemplo, opsicblogo clinico Gordon Neufeld (Neufeld e Maté, 2005) afirmou que passar mais tempo com os pais do que com ‘o grupo é essencial para a saiide mental das criancas. Em comparagao, a pesquisadora Judith Rich Harris sugeriu precisamente 0 oposto (1998). Amizades Embora muitas coisas tenham mudado, um aspecto dos relacionamentos entre iguais de criancas em idade escolar permaneceu inalterado com o passar dos anos. Comparadas, a pré-escolares, criancas em idade escolar desenvolvem uma cole;io maior de amizades recipro- ‘cas ~ pares nos quais cada crianga nomeia a outra como amigo(a) ou como “melhor amigo(a)”. Thomas Berndt, em diversos estudos (Berndt e Hoyle, 1985), verificou que a maioria das criangas de 1 série tém apenas uma amizade reciproca, Esse niimero aumenta gradualmente durante 0 ensino fundamental, de modo que, na 8 série, a crianga média tem duas ou trés amizades reci- procas. Se os pesquisadores simplesmente pedissem que as criangas nomeassem seus amigos—ig- norando a questao de se a amizade € reciproca—os ntimeros seriam ainda mais altos. Criangas de 2 série nomeiam aproximadamente quatro amigos cada, e criangas de 7* série nomeiam cerca de sete (Reisman e Shorr, 1978). Estudos entre culturas mostram que 08 relacionamentos de melhor ‘amigo e a crenga de que ter um melhor amigo é importante sio aspectos universais do desenvol- vimento social de criangas em idade escolar (Schraf ¢ Hertz-Lazarowitz, 2003). brincadeira em paralelo For ‘a de brincadeia vista em ‘cancas pequenas na qual clas brincam ao lado urna da ‘outa, mas ndo em conjunt. amizade reciproca Uma amizade na qual cada par- ceo identifia 0 outro ‘como amigo; também, uma qualidade da amizade em ciangas de idade escolr, cuando aamizade é pela primeira ver percebida como endo baseada em confianca reciproce 322 Heten Bre & Denise Bovo Criangas dessa variaclo etiia também se comportam diferentemente com amigos do que se comportam com estranhos, assim como criangas pré-escolaes. Elas so mais abertas e mais | apoiadoras com os amigos, sorrindo e olbando tumas para as outras,rindo e tocando umas 3s | outras mais do que ndo amigos; elas falam mais com amigos e cooperam ¢ ajudam mais umas as | ooutras. Pares de amigos sio também mais bem sucedidos do que pares de néo amigos para resol- ver problemas ou realizar alguma tarefa juntos (Newcomb e Bagwell, 1995). Contudo, criangas em dade escolar também s4o mais criticas dos amigos e tém mais conflites com eles do que com estranhos (Hartup, 1996). Ao mesmo tempo, quando esses conflitos com amigos ocorrem, as criancas ficam mais preocupadas em resolvé-los do que em desavengas com nao amigos. Portan- to, as amizades constituem uma arena na qual as criangas podem aprender a lidar com contflitos (Newcomb e Bagwell, 1995). Diferengas de sexo na qualidade da amizade Como voct aprendew no Capitulo 10,a preferén- cia das ciancas por companheiros de brincadeira do mesmo sexo surge cedo na vida. Durante 0 en- sino fundamental, essa preferéncia aumenta. Na 3" série, quase todos os elacionamentos das criangas cenvolvem outras do mesmo sexo (Maccoby, 2002). As diferencas de género nos padrées de interagio contribuem para e sio reforgadas pelo fendmeno de agregagao de género na meninice. ‘Waldrop ¢ Halverson (1975) se referem a relacionamentos de meninos como extensivas e a relacionamentos de meninas como intensivas. Os grupos de amizade dos meninos séo maiores ¢ ‘mais receptivos a novos membros do que os das meninas. Os amigos meainos brincam mais fora de casa e percorrem uma area maior em sua brincadeira. As amigas meninas tém mais probabili- dade de brincar em pares ou em grupos menores, ¢ passam mais tempo brincando dentro de casa, perto de casa ou da escola (Benenson, 1994; Gottman, 1986). ‘Curiosamente, a capacidade de regular as emogGes est associada a diferencas de sexo nos pa- drdes de amizade (Dunsmore, Noguchi, Garner, Casey e Bhullar, 2008). Entre as meninas, aquelas ‘mais capazes de lidar com suas emogdes tém um maior niimero de amigas. Para os meninos, a associacZo € 0 oposto: a habilidade em lidar com as emog6es est ligada a ter menos amigos. Esses achados ajudam a explicar as diferecas de sexo nas interacdes sociais entre criancas em idade esco- ler. Comparado com os de meninas, grupos ¢ amizades de meninos parecem ser focadas em com peticio e dominancia, padroes nos quais as exibigbes abertas de emogaes so frequentemente des- ‘vantagem (Maccoby, 1995). Em contraste, a capacidade de dominar as emoges€ fundamental para interagdes entre meninas, que tipicamente enfatizam concordancia, obediéncia e autorrevelacao, ‘Nenhuma dessas diferengas observadas deve obscurecer o fato de que as interacdes de amigos do sexo masculino e do sexo feminino tém muitas caracteristicas em comum. Por exemplo, as tro- ‘as colaborativas e cooperativas s2o as formas mais comuns de comunicagéo tanto nas amizades ‘entre meninos quanto entre meninas nessas idades. Nem devemos necessariamente concluir que as amizades dos meninos sio menos importantes para eles do que s4o as amizades das meninas. Contudo, parece claro que hi diferengas na forma e no estilo que podem muito bem ter implica- ‘bes permanentes para os padrdes de amizades durante a vida. Condigao social sequencias das variagéesnacondicio | Um aspecto importante das diferencas individuais nos relacionamentos entre social? iguais €0 grau com que o grupo gosta de uma determinada crianga. Tipicamente, essa varidvel € chamada de condigio social. Os psic6logos sabem muito sobre criangas nas trés categorias sociais tradicionais ~ popular, negligenciada e rejeitada. Criangas populares sao aquelas mais frequentemente descritas como queridas e que slo escolhidas como companheiras de brincadeira pelo grupo de iguais. Criangas negligenciadas raramente séo anti- patizadas ou descritas pelo grupo de iguais como queridas, ¢ criangas rejeitadas sio ativamente antipatizadas e evitadas pelo grupo de iguais. Criangas populares e criancas negligenciadas Algumas das caracteristicas que diferenciam as populares de outras sao coisas fora do controle de uma crianca. Em particular, criancas atraen- tes ecriangas fisicamente maiores tém mais probabilidade de ser populares. Entretanto, ser muito diferente de seus pares também pode fazer uma crianga ser negligenciada ou rejeitada. Por exem- plo, criangas timidas geralmente tém menos amigos (Fordham e Stevenson-Hinde, 1999). Similar- mente, criangas altamente negativas sio frequentemente rejeitadas, assim como aquelas que tém. dificuldade para controlar suas emogoes (Aranha, 1997; Maszk, Fisenberg e Guthrie, 1999). Entretanto, o comportamento social das criangas parece ser mais importante do que aparéncias ou temperament. A maioria dos estudos mostra que criancas populares comportam-se de formas positivas, apoiadoras, néo punitivas e no agressivas em relagéo & maioria das outras criangas. Elas, cexplicam coisas, levam os desejos dos companhieiros de brinquedo em consideracio, revezam-se nas conversas e sao capazes de regular a expressio de suas emosdes fortes. Além disso, criangas popula- 1es sio geralmente boas em avaliar corretamente os sentimentos dos outros (Underwood, 1997). _maioria também & boa em olharas situagoes do ponto de vista dos outros (Fitzgerald e White, 2003). Entretanto, 0 grau com que @ popularidade representa bom ajustamento depende do contexto do grupo no qual ela ocorre. Adolescentes populares com pares que aprovam e valorizam compor- tamento inadequado ~ matar aula, por exemplo - tém probabilidade de exibir esse tipo de compor- tamento (Allen, Porter, McFarland, Marsh e McElhaney, 2005). Nesses casos, a popularidade pode funcionar contra arealizaio de resultados evolutivos positives. Criangas negligenciadas compartilham muitas caracteristicas de criangas que séo populares. Elas frequentemente vo muito bem na escola, mas sio mais propensas a depressao e solido do que as criancas populares (Cillessen, van Ijzendoorn, van Lieshout e Hartup, 1992; Rubin, Hymel, Mills € Rose-Krasnor, 1991; Wentzel e Asher, 1995). Isso € especialmente verdadeiro para meni- nas, que parecem valorizar a popularidade mais do que os me- ninos (Oldenburg e Kerns, 1997). A negligéncia dos pares pode estar associada a depressio porque estudos recentes de imagem. cerebral mostram que a negligéncia dos pares estimula as mes- ‘mas dreas do eérebro que a dor fisica (Bisenberger, 2003). Além | disso, algumas criangas negligenciadas tem expectativas irreali tas sobre a capacidade dos adultos de “consertar” suas situagio (Galanaki, 2004). Blas podem pensar “Por que a professora nao {Jaz eles serem meus amigos”. Tal pensamento pode levar a sen- timentos de desesperanca. ‘Nao obstante, muitas criangas e adolescentes negligenciados, nio estdo nem um pouco preocupados com sua falta depopulari- f= dade (McElhaney, Antonishak e Allen, 2008). Muitas dessas crian- «as sio timidas e preferem atividades solitrias; portanto, sua con- ACRIANGA EM DesenvowvimenTo 323 digdo de negligenciadas pode simplesmente ser em funcio de suas Ngunascriangaspreferematvdades slits eno sofrem pla falta préprias personalidades. Entretanto, a condicao de negligenciada 4 "C#80. em Brvpo+ de gua. de uma crianga pode mudar, sugerindo que ela € uma fungi tan- to do contexto social como da personalidade desta. De fato, criangas negligenciadas frequentemente ppassam para a categoria popular quando se tornam parte de um novo grupo. Criangas rejeitadas Ha dois tipos de criancas reeitadas. As criangas retraidas/rejeitadas per- cebem que nao sio estimadas por scus pares (Harrist, Zaia, Bates, Dodge ¢ Pettit, 1997). Apés repetidas tentativas de obter a aceitacio de seus pares, essas criancas desistem e tornam-se sO- e Radke-Yarrow, 1982; Zahn-Waxler, Radke-Yarrow, Wagner e Chapman, 1992). Conforme sa lientado no Capitulo 6, criangas dessa idade estéo apenas comegando a entender que os outros sentem de forma diferente delas, mas elas obviamente entendem o suficiente sobre as emogOes 4dos outros para responder de formas sustentadoras e simpaticas quando veem outras criangas ou adultos machucados ou tristes. Apés esses primeiros anos, os pesquisadores observaram intimeras tendéncias. Uma delas € © aparecimento da reciprocidade pr6-social nos tiltimos anos da pré-cscola. Por exemplo, uma crianca de 4 ou 5 anos tem mais probabilidade de se oferecer para dividir um brinquedo com uma crianca que anteriormente ofereceu um brinquedo a ela (Fujisawa, Kutsukake e Hasegawa, 2008). Criancas mais velhas ¢ adolescentes tm mais probabilidade do que criancas pré-escolares de fornecer asssténcia fisica verbal a alguém necessitado (Eisenberg, 1992). Entretanto, nem todos 0s comportamentos pré-sociais mostram esse padréo de aumento com a idade. Confortar outra crianca, por exemplo, parece ser mais comum entre criancas na pré-escolae primeiras séries do ensino fundamental do que entre criancas mais velhas (Eisenberg, 1988, 1990). (Os desenvolvimentalistas também sabem que as criangas variam muito na quantidade de- monstrada de comportamento altruista, € que criangas pequenas que mostram relativamente _ ¢®mportamento pré- mais empatia e altruismo também sao aquelas que regulam bem suas proprias emogdes. Elas de- eee monstram emocGes positivas facilmente e emogdes negativas com menor frequéncia (Bisenberg Mee sano tunel © et al, 1996). Elas também séo mais populares com seus pares (Mayeux e Cillissen, 2003). Essas fens, dinheino ou tempo, variagdes nos niveis de empatia ou altruismo das criangas parecem estar relacionadas a tipos es- sem beneficio proprio Sbvio; pecificos de criagao de filhos (ver Ciéncia do desenvolvimento no mundo real). altruismo. Agressividade Se vocé j observou criangas em pares ou em grupos, sabe que nem tudo é dogura ¢ claridade na terra dos jovens. As criangas apoiam e divide com seus amigos, ¢ demonstram comportamentos afetuosos e prestativos umes para com as outras, ‘mas elas também provocam, brigam, gritam, crticam e discutem por objetos ou territério. Os pes- quisadores que estudaram esse lado mais negativo das interacdes examinaram principalmente a agressividade, que pode ser definida como comportamento aparentemente visando ferir alguma Em que aspectos meninos e meninas de diferentes idades diferem na exibicéo de agressividade? aeressividade Compor- trante que ea prepiicar oo otra pessoa ou um objeto. fer outa pessoa ou cbt 330__Hete Bee & Denise Bovo CIENCIA DO DESENVOLVIMENTO NO MUNDO Criando filhos prestativos e altruistas Marisol 8 anos, subiv em um banquro da coznha quel permitu lcangar baleo, Lentamente des- eju uma istr para blo daca pare ua ran Ge tie, tendo o cuidado de no derramar nada. Seu pai ick, parou do seu lado pronto pare judar se sua fka precise. "Muito ber ele disse quan- doo final da mistura au dentro datgea. “Agora azescentamos 05 ovos” Com iss, Rick dgente- ‘mente mostrou @ Marisol como quebrar umn ovo. Rick pensou cnsig meso que 0 bolo estar ter- mira um pouco mais ceda se ele prépoo fies se, sem Marisol Mas ele estava decid agudarsua filha a aprender as habildades necessras para ser um mero contrite defi Ruiz. Ensnarcrlangasa ser prestatvas pode conse tempo. Audé-las a aprender a ser altristas ~ ou Sela a querer dar os outros mesmo quando no hrecompensaenvoida pode sr anda mas dif iL Entretant,a pesquisa sobre o desenvolvimento de comportamento pré-social pode forecer ins _ghts ao proceso (senberge Fabes 1998: + Explore a capacidade para empatia da crian- ‘-_Seseu filo feriraluémslenteasconse- uincas dagueleferimento para outa peso: “Quando voc bate em Suzan, di rie um clima familiar amoreso ¢ caloro 50. Quando os pais exresam afeto e amor repuarmente em lao seus fos as ran ‘2 tem mais probabildade de ser generosas alts, Forneca rogns ou dretrzes sobre comporta- mento prestativo. Instrucbes dete promo vem compartamento présocat “Eu gostaria que voc judas Kesha com seu quebarabe- «" euPor faves, reparta seu dace com jhe Deja as crangs fazerem coins els, como estas crancas da série esto fazendo a recolher mate- ral reciclivel, una manela de promover comportamento alu. Formosa atibuiges pré-socis. Aiba as ages pesatias ou akrustas de seu fiho 30 seu carter nema: "Voc®@ um cana muito coltas tes, Ate bua a els tarfas dameésticas regulars como ajuda acorinhar ou impr, cider dos bichos de estimacio ou cuidar dos ios menses ‘Medele comportamento cortés e genero- 0, Estabelecgregras no seri sufcente seo comportamento dos préprios pas no estivr de acordo com o que eles Gem! As criancas (e-0s adultos) tém simplesmente mais proba bilidade de ser gneross ou corteses 52 vem outas pesoas - especialmente auras pessoas e atordade, como os pais sendo geneross ecorteses Quenteponvtes 1. Camo pase professes poderiam modelar ge erosidade? 2. Por que vce cha que mca fair amoroso ceclerso promove cmpertament ars? agressio instrumental CComportamento agressive visando alcancar um objet- vo tal como obter um brin- ‘quedo de outracranga. agressio hostil Compor- ‘tamento agressvo verbal visando fei os sentimentos, de outa pessoa Agressio instrumental e hostil Toda crianga demonstra pelo menos alguma agressividade, mas a forma e a frequéncia da agressividade mudam durante a infincia. Quando criangas de 2 (ou 3 anos estio perturbadas ou frustradas, elas tém mais probabilidade de atirar coisas ou bater ‘umas nas outras. Em geral, criancas dessa idade comportam-se agressivamente a fim de alcancar tum objetivo, tal como pegar um brinquedo de uma outra crian¢a. Esse tipo de agressividade € conhecido como agressio instrumental. Uma vez alcancado o objetivo, agressividade para. ‘A medida que suas habilidades verbais melhoram, as criangas mudam de agressio fisica pa- tente para maior uso de agresséo verbal, tal como insultos ou nomes feios. O propésito da agres- sao também muda. Entre pré-escolares mais velhos, a agressio hostil, cujo objetivo é ferir os sentimentos de outra pessoa mais do que causar dano fisico, torna-se mais comum. No ensino fundamental e durante a adolescéncia, a agressio fisica torna-se ainda menos comum, eas crian- ‘as aprendem as regras culturais sobre quando éaceitivel exibir raiva ou agressividade eo quanto se pode exibir. Na maioria das culturas, isso significa que a raiva é cada vez mais disfarcada e a agressividade é cada vez mais controlada com 0 aumento da idade (Underwood, Coie e Herbs- ‘man, 1992). : A CRIANGA EM DESENVoLViMENTO i sante 40 padrio geral de diminuigao da agresso fisica com a ida- de € que em pares ou grupos de meninos, pelo menos nos Estados indo comportamento agressivo Unidos, a agressio fisica parece permanecer tanto relativamente alta quanto constante durante a infincia. De fato,em cada idade, os Comportamento Menines "—Meninas meninos demonstram mais agressio fisica e mais assertividade do Emaucomoutes 28 96 ue as meninas, tanto dentro de pares de amizades como em geral (Coie Dodge, 1958) Abela 13 most algunsdadosaftmente %@/anet specs) “ representativos de um estudo cuidadoso feito no Canada (Offord, Meteseemmultas bias 309 98 Boyle ¢ Racine, 1991), no qual pais e professores completaram lis-_Desréiasprépras clas ny 4 tas de verificacao descrevendo o comportamento de cada criang2. pests a¢colaedos autos “abel 11.3 lita apenas a informacaofommecda pelos professes, staascotssosau = = mas as avaliagdes dos pais produziram achados paralelos. £ claro "95? fer pessoas BI 40 que os meninos foram deseritos como muito mais agressivos em forte Oo eta 89h bea 23,p.39. quase todas as medidas de agressividade fisica ‘As consequéncias sociais do comportamento agressivo também variam com o género. Para as meninas, a agressividade parece levar consistentemente a rejeicao dos pares. Entre os meni- nos, entretanto, a agressividade pode resultar em popularidade ou em rejeicao (Rodkin, Farmer, Pearl e Van Acker, 2000; Xie, Cairns e Cairns, 1999). De fato, a agressividade parece ser uma ca- racteristica razoavelmente comum entre meninos affo-americanos populares. Além disso, inde- = pendente de sua popularidade geral, os amigos intimos de meninos agressivos também tendem. a ser agressivos. Também, a agressividade parece preceder esses relacionamentos. Em outras palavras, meninos que sio agressivos buscam outros meninos iguais a cles como amigos (Ha- nish, Martin, Fabes e Barcelo, 2008). Contudo, o relacionamento nao parece tornar qualquer ® membro de um par de amizade agressivo mais agressivo (Poulin e Boivin, 2000)..A pesquisa também sugere que as criangas tém atitudes mais positivas em relacao a pares agressivos cujos atos so vistos como principalmente de natureza vingativa e em relaglo aqueles que apresen- tam comportamentos pré-sociais e agressivos (Coie e Cillessen, 1993; Newcomb, Bukowski Pattee, 1993; Poulin e Boivin, 1999). A aprovacao social pode nao aumentar a agressividade dos meninos, mas parece ajudar a manté-Ia, porque intervengGes para reduzir comportamento agressivo constumam ter pouco efeito sobre meninos agressivos populares (Phillips, Schwean. € Saklofske, 1997). Além disso, o comportamento de meninos agressivos est frequentemente ligado a disponibilidade de pares socialmente fracos e passivos para servir como vitimas (ver Reflexio sobre a pesquisa). Agressio relacional Os achados de estudos examinando diferencas de sexo na agressividade foram tao claros e tdo consistentes que a maioria dos psic6logos concluiu que os meninos si simplesmente “mais agressivos” em todos os possiveis sentidos. Mas essa conclusto pode estar er- rada ou, ao menos, ser enganadora, Antes, parece que as meninas expressam agressividade de uma forma diferente, usando o que foi rotulado como agressio relacional em ver. de agressao fisica ou palavras ofensivas (Putallaz et al., 2007). A agressio fisicafere outras pessoas através de dor fisica ‘ou ameaca de dano; a agressdo relacional busca prejudicar a autoestima ou os relacionamentos de outra pessoa, tal como através de fofoca cruel, expressdes faciais de desdém, banimento ou ameaga de exclusio (“Eu néo vou convidé-la para minha festa de aniversério se voc fizer isso”). Outra diferenga importante entre agressao hostile relacional é que os atos de agressio hostil tm ‘mais probabilidade de chamar a atengio dos adultos, especialmente quando eles envolvem bater ‘ou ontras ages que podem causar dano fisico. Consequentemente, eles podem ocorrer menos frequentemente do que atos de agressio relacional. Em contraste, as criancas podem cometer agressio relacional de formas que néo sio percebidas pelos adultos — tal como mandar bilhetes, contendo afirmagbes depreciativas sobre colegas ou sutilmente se fastar de alguém que &alvo de agressao durante o recreio, Como resultado, algumas criancas podem se tornar vitimas habituais de agressio relacional. ‘As meninas tém muito mais probabilidade de usar agressao relacional do que os meninos, especialmente em relacao a outras meninas, uma diferenca que comeca ja nos anos pré-es- colares e torna-se muito marcada na 4" ou 5* série. Por exemplo, em um estudo de quase 500 criangas da 3" a 6" série, Nicki Crick verificou que 17,4% das meninas, mas apenas 2% dos 331 rencas de sexo na agressividade Uma excecio interes- Tabela 3. Porcentagem de meninos e meninas de 4a Tanos avaliados por seus professores como agressio relacional Ages- ‘fo visando prejudicara autoestia ou 05 relaiona- mentos de outra pesto tal ameacas de ostracism, fofo- cacruel ou expressbesfaciais de descém, 332_Heveh Bee & Denise Bove | REFLEXAO SOBRE A PESQU! Valentées (bullies) e vit A primeira wa, as iterates agesvs ee cian 25 paderam parce etoarelente simples. uma aga fre outa Etecant, apes mostaque, durante aennice, asinterages ages toma -se cada ver maiscoplons ay, aye eChadvick, 2004) Amida queascriangas ese, dastendem a asi pops consstentes nas inteagBesagess- ‘as perpetrador, vita, sistent do perptadr, espectaor reforador, espectador no partcpan- te, defersor da vita, e assim por dant ndieou € Metalidou, 2004, Os tragos de personalidde das ciancas em agum gau deterninam os paps que fas assume, Por exemplo, rang tindas geo mente ocupam o papel de espectador nfo partic pant, enquanto ciangas erocoralenteinstive’s ‘ém mas prbabiidae de atuar como asstentes do perpetadr ou como espectadoreseferadores {Tar Greenman Scheider eFregso, 203). Atébem recentement, fant a pesquisa quanto as inten «es veand rede aagresividade focavase nos perpetradores habitus ou valentes (bles). En tretanto, a maira dos desenvlvimentltas ago acrcita que mudaro comportamento de ciangas {que sfovtmas habitats de agresio pode ser tio importante quanto intercom as pris cians agsivas Green 200), A Estudos mestram que certa caracteritics sio encontadas ente vas habiuas em uma ample varied de contextos cultura (eae al, 2004, Entre merines, a vitenas so em geal ficamente rmenores ou mals fracos que seus pues Sejam me- ins ou menias, as vtias rramente afm se com seus pares, no dando sugestées par atvda- des recreates nem tendo atitudes pro-socis. Em ver dso, elas se submetem a todas as sugestOes que 0s outros dio. Outra crangas no gostam

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