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i | ia [a bo Ea uc Ke 4 Claude Lépine Os dois reis do Danxome Varfola e monarquia na Africa Ocidental 1650-1800 SaTEAPESP 2000 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADEDEFILOSOFIAECIENCIAS Copyright® ciaude Lépine Direor ‘Anidnio Geraldo de Aguiar j VieeDieors Ata Nobrega Zane } Consetho Baitosa: raaisco Luiz Corsi (Presidents) Dagoberto Bais Arena Bdevaldo Donized dos Santos ‘Matis Boniee Qui Gonzales MusaiacaGonpabesDakssixo fg Pci VA. de Conta Santos, 3 ‘Vanda Maria Siiveira Reis Fantin { & 2 Vande Geni Martine 28 gs finily aise vient bad Einoragio Blednics Arte Fin Edevado Donizet dos Santor Eason Reardo Peixoto Walter Clayton de Olvera Produgio Grier: Alipio Prado © Unesp-Marilis-Publicagées, 2000 ‘Av. Hygino Mazzi Fho, 737 (CEP 17505-900-Mariia SP ‘el. (0) 421-1208 email publica@maciliauncsp br “Todos 0s diteitos reservados. & vedada, nos termot da lei a reproducio total ou parcial este livro sem a expresea autorizacio dos editores. 196d Lépine, Claude "Os dois es do Dancome: varilee monarquia na Ain Octal: 1690-009" / Claude Lepine = Marla: Unexp- Marla Pubieasses; ‘Se Paulo SFABESP, 2000. 1719p. ;2lem. Incl biblogeia Indice ISBN 85-86738-093 1. Antropologia. 2 Sociologia. 3. Mitologi. 4. Varila ~ sapeeto suciais T Abror Il ito CDD-301.956 SUMARIO ‘Apresentagao Introdugdo Cartrutol As Onicexs 1 Avariola 208 Aja 3 Sakpata Cartreco I O munno Aj No stcuLo XVIL LAsociedade nu 7 7 2 Deuses e antepassados. 30homem 44 crise politica do século XVI... Cariruvo TIT As Eripeaas ‘LA paisagem epidemol6gica... 2Actisedemortalidade. 3 A variola como categoria cultural Cariruto LV. Os po1s nets po Danxome 10 Agassouvi 2 Sakpata SA guerra Conctusio 187 ANExo 205 RereniNcias BIeLi0cRAHICAS ... 2a Marase musta aces: 1 Localizagio da Replica Popular do Beni nnnnerenns Stee 1 As migrasdes dos Yoruba e dos Ajé sae D8 13 Migcasdes antigas dos Ajé-Yortbs .. 8 : 30 | Migragdes de Sapa eoeenoensnnnnne 5 Mapa do poveamento atual da frea Aji-Tado ee 6 Localizagio dos sub-gr4p08 YORUBA su 17 0s Estados tricionals: 1) na época da chegada dos europeus, 2) antes da Conquista colonial 8 Oreino do Darwome e seus vizinhos depois do Tratado de 1720, 9 As feitorins européias em Ouidah em 1731 10 Figucagéo imaginéria de Tozifon, rei de Allada, por volta de 1650... 11 Figuragio imaginéria de Agad)é, rei de Danxome 12, Disseminaglo da variola na Attica oe 18 Cabaga para afastar Sakpata sescwsom 1 Trabalho mégico para curara variola ee 15, Planta do palécio dos eis do Darsoane 116 Ori do Danxome conduzindo o desfile das amazonas, 19, A diceita do palanque, homens brigam por um presente atirado pelo re. st 32 ‘NOTAS SOBRE A ORTOGRAFIA E A TRANSCRIGAO FONETICA DE NOMES GEOGRAFICOSE DE ETNIAS, EDE TERMOS DAS LINGUAS AFRICANAS [Boconttamos nos documentos ¢ autores utlizados, as mais diversas maneiras de eanscrever os nomes geogrificos¢ 05 aomes de etnias. rocuramos seguir ostografinem so atualeente na replica do Benin francofone) ena Nigia(anglofone), Dentro deste expirita adotamos o nome de Danxome para desigaar 0 antigo sino, come preferdo pelos aficanos, co de Daorné, que evoca 2 época da colonizapio ances, Quant queso de transis Fondtes de reemos do fongbe, rina aqui também ‘a mmioc snagoia spesae da exietncia de um alfabetofonthic internacional, secomendado pelos lingists, Com efi, exisemn nest lingua mimerosos sons desconecidos mas linguas europe ‘onde no hisnais para eles. Toroa-s assim necessirio acrescentar uma moltiplicidade de soais 0 alfabeto comm para transcrevé-lo,prtica que s5é observada em trabathos de linge, FPora desta rea, cata autor procara simplifiaro satema de tranectiglo e adapt a linger quecccters Diane destasdifcldades, realvemnos adotar, parostemnos daslinguas mativas, lo mesmo etitério que para of termos geogeicos, sto €, adotar #ortografia da maiora dos autores afrieanos ati, e seguir o crtéios adocados pelo Coléquio Cientifico Aja Ewe de 197T,erecomendados pela Universidade Nacional do Benin. [Nas ctapbes, cespeitamos a ortograiaescolhids pelo ator ‘epronuncia-setch .gpronuncia-se gh (como em “guetta") bh éaspirado;pronuncia-ce quate como q jipronaneia-se dj spronuncia-te ch ‘x pronuncia-se aproximadamente como q ‘w prommciase a cepronuncia-seé ‘spromuncia-seé co promancia sed jo pronanciased ‘As demais lets do alfabeto tém aproximadamente o mesmo valor que em porragués. Osaceatosindicam as tonalidades: a: tonalidade alta a rtonslidade ria itonaldadebaixa aa simplifcar, sprimimos os snaisindicando a8 tonalidades intermedirins ccagulesindicando a nasalzasio. No caso da lingua yoruba nfo hé tanta variagSes na eanserigao fonédiea ema orografia. Baseamo-nos na ortografia de Abraham (Diesionary of Modern Yori, Londtes, 1973), com algumassirmpliicagies: ‘ogi aber ‘yoga fechada vogal bere, ‘vo fecha som dora gh) b> explostva pronuncia-sedj Esepirado cexplosivs, promuncia se kp pronunci-te ch pronunciase! ate pronuncia sew AAs demais letras do alfabexo tém aproximmadamente © mesmuo valor que em portagaés. (Os acentos indicam as tonaidedes € possuem © mesmo valor que pare 0 onghe. APRESENTAGAO (© presente livo resulta de urn trabalho elaborado e apresentado ema 1996 para 0 concurso de Livre-Docéncia na discipline Teoria Antopoligica do rtamento de Sociologia © Antropologia da Faculdade de Filotofia ¢ Ciéncias da Universidade Bstadual Paulista “fio de Mesquita Filho”, Campus de Mala. A pesquisa cujos resultados estio aqul sintedaados enquadrase num conjunto de tabalhos que eu dediquei, no decorter de duas décadas, a mundo do candombléedo pensamento religioso aftcano tradicional. Lavestigneisucessivamente, entre outros temas, os modelos psicolégicos que os érist fornecem aos adeptos, 28 modalidades do transe rligiso e as intexpretagées diversas que recebeu por parte dos cintistassociis em gesal, a relagio entre a doenga ¢ a eproduio das casas de culto edo seu sistema de poder. Complete este trabalho com uma pesquisa sefecente as representagdes populares da doensa entre os Yorabi e 4 medicina tradicional da Nigéia.O material que resultou desta tina investigagio pds em rlevoo importante papel desempenhado pelo 6rist Sapénnd no sistema de interpretagées da etilogia de diversas doengas: a varfla em primeleo lugae, mas também de muitas outes, inclusive de disticbios do comportemento que, diferentemente dos Yoribé, nés isolamos de outros sintomas de doenca, notadamente sintomas onginicos, € que ‘chamamos vulgarmente de loucura. ‘Minha pesquisa sobre vasiola veio enxertar-se como um rebento sobe «este estudio, vindo a cruzaese, por outro lado, com reflexdeslgadas a outa trabalho desenvolvido junto a0 Grupo Académico Penvamento elie das rciededestadonas. (© Grupo procurava identfcar no pensamento tradicional afrcano ¢ no candomblé avatars da antiga figura do trekster ¢ reconsttur suas metamorfoces. Havin no Grupo um consenio em tomne de uma hipétese de trabalho relativa a origem natureza das divindades das rligides tadicionais afticanas, segundo qual todas clas seriam wansformagies de arcaicas entidades-uickster. Sbpdand, ou Sakpata para os danxomeanos, fo sera excerfo, Mas o material que consegul arrolax ern tomo de Saepata ado me permitix ver nele um ticks. Finalmente o livro é fruto do desejo de descobrit o que se esconde sob as apaténcias daqueles que Sfo rejeitados em fancio dos valores domioantes, Sakpata, o deus da-variola, é tio desfigurado ¢ tio pavorosamente feio que precisa issimalar seu rosto sob om capuz de palha; tio terrivel que nfo se deve nem pronunciar seu nome; suas festas foram proibidas na cidade de Abomey, capital do reino do Danxome, ¢ 0 culto do seu equivalente yoriba, Soponna, foi proscrito da [Nigétia em fins do século passado, Por que caminhos um povo poderia engendrar a concepedo de um deus tio repulsive? Resolvi, pois, verificar se Sakpata nfo passava realmente de uma divinizagio direta da doenga, investigar as origens do seu culto e se tinha mesmo se desenvolvido cot as epidemias de varfola, Descobei, entio, sob a horrenda figara de Sakpata, outra entidade: © magnifico ¢ generoso Rei da Terra, antepassado divinizado dos primeitos cls que ocuparam 0 Golfo do Benin, ¢ que acsbou, no decorter da Histéria por te metamorfosear na Variole & qual referem-se cronistas, viajantes ¢ etndlogos de fins do século XIX e infcio do século XX. Espero que este liveo possa trazer alguma contribuigio A intexpretario do significado do deus da variola nos caltos afro-brasleiros, Desejo expressar aqui meus agradecimentos Aqueles que fizeram com, qu pudesse conclu 0 trabalhor & Faculdade de Filosofia © Ciéncias da UNESR, Campus de Mari, onde encontee candigdes de realizar meu tabalho, eaoscolegss, professores e fanciondtios que sempre estiveram dispostos « me auiliar em que fosse preciso; em especial sos companheizos de tsbalho do Departamento de Sociologia © Antropologia. ‘Agradeso ainda a Fundacio para 0 Deseavolvimento da Unesp, FUNDUNESP, que me propicion os meios de realizar na Franga a pesquisa documenta, _Agradeso em particular a Fundagéo de Amparo a Pesquisa do Estado de Sio Paulo (FAPESP), que me proporcionou em 1983 a possibilidade de cumprir tum estigio junto 20 Laboratoire de Sociologie et de Géographic Afficaines do ‘CNRS, em Pats, contribuindo de modo decisive para minka formagio, ¢ que agora concedewme um auxilio visbilizando 2 publicagio do presente trabalho (processo n° 1998/1292-2). Nao posso esquecer as bibliotecétias tdo prestativas e carinhosas da Societé des Sciences d'Outre-Mer, de Maison des Sciences de Homme, da Societé de Pathologie Exotique, du Musée de "Homme, em Pari Finalmente exprimo meus agradecimentos as amigas Liana Trindade, Silvia Carvalho, Ethel Kosminsky, pela atencio e pelas discusses que contribuiram para o desenvolvimento do projeto, 20 Edevaldo Santos, responsive pela editoracio, 2 Maria Luzinete Euclides pela adequagio do texto as nocmas. Claude Lépine Inmropucso, [A doenga é um dos primeitos dados da experitncta humana. Bla embra 20 thomem que toda existenca 6 prectia, que a vida é um desafio proviséxio & morte, que nosso ‘corpo se mantém ao prego de uma lta incessante contr as forgas que tendem adeste-lo (Gendrail, 1980, p 2). A doensa parece ter sido uma preocupario de todas as sociedades eat sepresentagdes da doenga fazem paste integrante da maior dos sistemas religiosos. “Pela cextensio e unversalidade dos desastees que cla provocs, adoensa, oxginica ou mental estkn0 ‘enago das preocupagSes migico-teligiosas das religibesarcaicas"(Heusch, 1971, p.248). M'Bokola, num artigo rico de sugestbes, laments 0 fato da doengs, apesar de sas evidentes relages com questBee fi amplamentediscuidas como os contarosextsioces, as ‘ocas comercinis,o eub-povoamenta ter euscitado at agora pouco iteresse por parte dos Listorindares da Aftcs, As epdemins rm particular, lém de ouasrepareusse sobre ademografia 2 cconomia “so freqientemente scompanhadas pela subversio, provséra ou definitva, das snutotidades estabelecidas.” (M'Bokolo, 1984, p. 155-86) Entretanto, nem sempre €0 catar“a questio que se colocs- continua 9 autor- saber porque ae epideminslevaram a um questionamento da svtoridade politics em certos lugaces,e porque sto no ocozzeu nos Estados da Attica Ocidental edo Sudo Central”. ‘Uma das pioncs doeasas contgiosts que a humankade tenha conhecido, fcizmentohojceradicads avails, pode sx tomads como exemple "No sei do Congo, 0 inicio do sfealo XVI, visas epidemias de varolaacompantadas de outs catisofes provocaramum movimento geral de rebeio controle oapateciento de um movimento mesiinico.” (Bokolo 1984, p. 183-4) 1A seaponta tes exten na concepyio do poder police ¢ em paris das epee cd doen nets concepsfa Por exemple wares no Daomé tara eteementetgede ns concepts lions cosmos cer oistnmento de rplagoe de vingangs de Spats. Toda cara para cra ou evar ava scaeetava 4 vngang iments sa forma do rao de Hevios. Ns Afica Ocidentl oe eequentemente considera responsive pla prospecdade do pais; cpidemias seca, inandegdese outa eatitofes coleivas significa que orl nf teve forg sufiieate para impedi-las: Dapper fi escreviaem 1686 que “quando as coisas nto vio como cles querem, a culpa é faalmente do ei". Seno Danxomea vatioa rao Jnstramento de vingansa de um vodin, Sakata, nfo havia motivo paraiasurge-se conta rei (MBokolo 198, p. 184) (© seino do Danxome deixou-nos 4 imagem de uma nagio bem organizada, {govesnada por um rei absoluto que centralizava em suas milos todos os poderes politicos, juriieos miares, ede umm povo dsciplnado e até “abjetamentesubmisso a seu rei" (Noxtis 1968; Law 1987). De acordo com o ponto de vista tradicional o Danzome dstinguia-se dos ‘outos teinos aticanos por teu cecitermiltasista pelo nivel excepeional de centalizagzo de seu _governe, plo cariter deepético dos ees e pla frequénci dos saesificios humanos cealizados pela Corte de Abomey. Akinjoghin (1967) em particolas num trabalho importante, eprofundow ros anos 60 esta visio de Daaxome e conchin que os seis do Danxome haviam realizado wna verdadelrarevolusio politico-ideoligia.Teriam rjetado a ordem tradicional, o principio ds legiimidade Fundada na ascendléncia ca dependéncia em reac « Allads, que decors deste principio. Apropriacem.sede todas terras do sea ino assim como das teas conquistadas & instnraram um Estado fandado em bases teritoriais. A organizago social baseada nos lagos do percateseo tea sido substtuda por uma dependéncia dre dos sicitos em eels 2018 Cada cidado teria paseado a ses propeiedede” e“eseravo” dose. Esta interpretagio da histésia do Danxome parece-nos iimpregaada de etnocentismos projeta sobre a Aftics concetos forjados a pari da realidade s6cio-potica caroptin, De fato ela tem sido contestads, Foi sepesidamenteatacada, em particular po: Robin Lew (1968, 1969, 1989), numa série de artigos em que sustenta pelo contriio que os res do ‘Danxome procuraram manter-s iis &otdem tradicional. eglestad (1977) &da mesma opinito cites Akinjogbin porignorar a dimensto cligiosa do homem afrcano, animist do sécul5 ‘XVIII. Coquery-Videovitch (1964) pense igualmente que © poder dos ris do Danxome era muito mais tedrico do qucefetivo e que a monarquia danxomeana,longe de ser uma monacguia sbsaluta, ce fandava nos principios tradicionas da reciprocidade eda redistibaigo. Os ddadice dansomeanoe teriam sido ealmente os escravos submiseos de um sei absoluto? Existem indlciosdiscordantes que nos fazem desconfiar desta versio, Resdlvemos portanto, investgar a seguinte questio: quais ceiam sido as repercussdes das epdemias de vaeola sobre a histxis es insttugSes do ceino do Danxome desde sun origem até fins do século XVII Procuramos em primeico lngat apreender a nstareza do sistema rocial do ‘Dancome no petiodo considesado e reconstruc a concepso da tociedade e da monanquis, 08 valores, as represeatagies do wniverto, da pessoa humana e da doensa que esta sociedade produsis, Porouto lad investigamos a ocorréacia de epidemias de variola naquele pas fticano no periodo de 1650. 1800; analisamos as poucs informagSes que encontrames sobre st assunto;tentamosestabelecer na medida do passive uma cronologis, defini area tings, svalac as posseeis consequéncias demogrificas Em seguida procuramos montar uma seqiéncia exonoligica dos principale ‘eventos da histéra do Danxome, incluindo as epidemias que s uadicio local ew histsia dot ‘ewropeus segistrarume rintepretara sucessio dos fatos do ponto de vista da propria popalasio aftcanada epoca Resolvemoslimitara iavestigegio2o pesfodo de 16501800 porque a parirdo stculo XIX o tifico de escravos foi sendo subsiuido pelo comécio de 6leo de palma, eas gues ce caprera pelo sitema escravagisapraticado em plantagdes onde milkares de eseavos ‘eabalhavam as eras do sei soba vigilinca de funcioniris do govern Trtava-te portanto da cemergtncia de um nowo modo de produgia, ea andlise deste peiodo constinsca outro trabalho, (© antigo eino do Danxome comresponde/ seg sul da ama! Repiblia Popular do Benin, standa no Golfe do Benin, aa Aftics Ocideatal. Consteuiu-se oa primeira metade do século XVI, fandado por um grupo de Ajé que saiam de Allada ¢ instalaram-se no planalto de Abomey. Léencontraram uma sociedade de linhagens que vivia daagrculeura om ive de auto-subsiséncis, dividida em mindsculos seinos governados por ris on chefee da terra, que eram os descendentes dos fundadores das primeira comunidades. A tradi diz que simigrantes comprare dos chefes locas o lote de terra que foi embrito do futuro seino do Danzome, pelo prego de 200 bizios. ‘Mas, sapidement, gragas 4 sua superioridade numérica, os Als conquistaam ordas as tess da regio, liinaram of chefes locas « proclamatam-se Reirds Trt. novo tino do Danxome assim criado expandiv-te no século suite as custas de napbes wzinhas, eas e poderosas, que jd peaticavam 0 comércio ¢ 0 teifico de exeravos com os europeus, holandeses, porragueses,francetes eingleses. Os mals importantes esses renos,o8 de Allada ede Ovida, que haviam se desenvelvido na regio litorinea ¢ tinham acesso 20 Adlintico, tinham se otginado, também de migragbes Ajé, poner mals anigas (© processo de acomodasio dos invasores com as sociedades de linhagens _autéctones havia resaltado na superposigo de dois sistemas soins, Havia em primeico lugar stig sociedade rural rgida pelos velhoschefesteadicionais, «em segundo loge, 0palécio sitwado na cidade onde o 1, descendent dos invasores, controls ocomécio, eobrando taxas sob as mercadoras que passavam pelo mercado, Mas, além desta fonteextade recursos, 0 ci seal dispunha, como qualquer outro grapo de descendénci, de teras que gerantiam oua sobrevivéacia. Do posto de vista politico estes dois sistemas artculavam-se dentro de um modelo mito difandido aa Aftca Ocidentl, que fo chamado de sistema duaiss, O modelo ‘ogo calor k it ‘Acorigem do deus da variola levanta slgamas divides. Suns variantes team apateeido panlelamente em popalagcs distinnas ¢ dispersas na regio, mas que tnham 0 ncemo passado colcual teria seagido da mesma mancics divinizando a varia quando cla sparecea? Verger (1957, p. 248) propée, sem decidir, dns hipéteses diferentes: uatar-se-a de ‘uaa mera dvindade que os Bj evacam em suas migeages do leste para o orste,e depois do ‘oeste para o lets que mudou de nomie ao camino? Ou setiam duas eatidades, uma vindo do leste (SBpdna’) ¢ outta do este (Bsruku) que acabaram sinererizando nos poatos de cencontro? Tentamos dar alguns passos na clucidacio desta intcicada questio © pareceu-nos ‘ratarce de duss divindades complementaes, elementos de um sistema religiosoastociado a antiga sociedad delinhagens: um des Ctiador ienificado com Tecen-Mie, ¢ uma divindade sepresentando ot ancestent dos primeiros gropos humans [Ae conteiso do que supde MPBokolo (1983) exstem nas tradigbes ansmitidas por Le Hésisé (1911), Maupol (1961), Herskovits (1938), no testernanho dos enropeus que conheceram 0 Danxome do séealo XVI, indicios de que os ris do Danxome encontraram, ‘uma forte opasigio por parte dos saceadotes de Salpata os quai liderssam movimentos popalaesderebelifo, ant que os ris fram cbrigads wits vence a expolstos do pat Para reencontras os motivos desta oposigo as possiveis estratéyias de que se alam os sakpstanon, cas consequtacias de ss insubordinasio, havia um camino: tentar recorstuirosigificado de Sakpatae da vatiola no mundo oj de fins do sfculo XVITe no século XVII, “Sabemos que a dozaga desempenha importante fungSes de controle social nas sociedudes que nfo dispem de insttigBesjuidiase polities expecializadas, Assim &que, na ancga sociedade de linhagens do mundo aj ¢ até mais tarde no Danxome, os vodn ¢ 08 tobwiyo eastigavam aqueles que tenagrediam a es do cl enviando-Ihes doensas. A doensa, consis uma sangio da conduta social dos individuos; ela era colocada servigo da preseoapio dds ordem instiaida, No caso da doenga epidémica, porém, esta fungi parece invertr-se. A pena representa una condenasfo da onlem toca ca ¢ una forga de subversto, de dessa daordem estabelecida, eaté uma ameasa de esting do corpo cocil. A epde mia, 20 vs de contibairpara a teprodusto da ordem social adest6. |A perspectiva que adotames, propramence antropoldgica, peemitia perceber que Sakpats, que simbolizava ov antepastados dos antigos chefes da terra, passou a repeesentar sondern tadicional e« posiso de todos oe chefes da sociedade de linhagens que se sendin peejudicades pela politica centralizadosa dos seis do Danxome. Sakpata correspondia as necestidades de reprssentagio simbélica da sociedade de inhagens. © Dansome eva uma sociedade dividida, As epidemias de varia foram inteprotadas como sinal da condenacio pelos deuses e pelos antepassados, de uma dinastia de usurpadores, de um governe que tna ‘excluldo os chee legiimos e ofendido suas divindades. Finalmente, procutamos compreender a sucessio dos princpais eventos da bistésia do Danxome do petiodo de 1650 1800 lu da concepeio da monarquia edo pods, a egtimidade, da doenga eda vasfla em particular, que aquelasociedade havis eaborado. A monarquia de Abomey, que populasio rural no acttou como legis, foi obtigads aimpor- secada vez mais pela forga, pelaostentasio ¢ pela generosidade, que depeadiam das guesras de ‘captor deescravose do tcitico (presente trabllo pertence& fea de Antropologia Socal ou Btnologa: én estado monogefico que focaliza uma saciedade daplamente outs, no tempo e110 expago, © procura alisa as celages entre as fousas atantesn0 seio do seu sistema de poder: de uma lado as foryas centtalizadoras representadas pela monarquia de Abomey ede outro as Forgas representando a tendéncia segmentiria a sociedade de linhagens, ideradas pelos sacerdotes chuefes da terra, Tem por objetivo integraca varola, enquanto representagio, a este sistema de Jorsas.A vatiola foi instrumentoeolgico uilizado pelos stores conservadores da cocedade para devestabilizar a autoridade da monarqul. Uslizamos para caracterizar a sociedade danxomeans do pesiodo considerado 0 conceito de sociedade de linhagens. [Bau sociedace cepousa notn sistema econdmico de semi-subsisténcia,termo «que, com Monejannagai (1977, p. 134 preferimos 20 de auto-subsisténcia,considerando que tnaviano mundo rural um ativo comércio c um sistema de feiras onde podiam sexenconteados produtosvindos até de outtasrepies da Africa, Nas sociedades de linhagent os ms jovent ) pesquisasigadasd Btnologia tradicional ou Btnografiaclissca, e que sitaam a Medicina na totalidade sociale culeual do grupo (Leighton). | ' (Quanto. seginds, cla se define como o estado das diferentes solgSesclaborades pelas sociedadcs para controlar a seqigncia do inforcno. Bla est contrada oa idéia de um ‘corpus de representasese prices, e participa de uma modalidade de conheclmento das formas de oxpaninagio coletiva [A maioria dot trabalhos que podem ser encaizados numa ou noatra dessas dua categoria adota uma shordagem fencioaalisa ou estrauralista, sto €rineeénicn, A bison das docngas, por aua vex, Focalza a docnga propsiameate dit ¢ eventualmeate seus efeitos sobre ademogzafia, » economia, os costumes, mas nfo a evolucio de wma determinada sociedad em Fangio de suns relagdes com uma doengs particular, ou um cosjunro de docagas. A discipting aque talver mais se aproximasia desta temitca seria 2 Demogsafia, uma das primes que se preocupou em estadar a incidéncia ds doenga nas sociedades afticanas, com os tabalhos de Kuceynsk, a dScada de 40, Para pensar o fenémeno “vasiola” utlizamos conceitos emprestador da Antropologia Médica, em particular os de “disease” ¢ de “illness”, que devemos a Fabceps ‘onioe (1972) ¢ que permitem distingue niveis diferentes da realidade, confundidos nalingua portgueta sum nico vocibalo: ode “doengs”, Assim éque sbordamos o fendmeno vatiola” Ae dois pontos de vita dieintos mas inceigados. No primeito eles doenga aparece como fenémeno biolégico exterior A tociedade, possuindo seu desenvolvimento proprio, mas suscetivel de produsiefitos ao nivel da demogeafiae da economia (MBokola,p. 161). Num segundo momento. docaga éanalisda enquanto representa coletia isto é. 17). Mi cle aabou seadospleado a um acto grupo efrotingsiitico que inclni: Ans, 18, ss, Sake, Rah onlin Aver, Epos, Hab, tbo, O78, 12, 982, Onad, Ow, Owe (Basonr 1963, 8). 16 =i (1981, p. 253), a qual tesa deslocado populagses que se empucreram umas ds outias até 0 orgs. Algunt destes movimentos de populagdes teriam atravestado a conflutncia do Nigece do Bense, dando oxigem aos extabeecitnentos dos Ipala na regio de [dah, Parte da migragio ‘eri ocupado o pals Bid de onde um movimento posterior ia parte part stl engendeando ‘oramo [doko (Biobske, 1958). Ainda no primeito milénio, oawo grupo, os And, tri sido de 16.1 par esabelecerse na egito de Atakpame (Verges, 1981, p.258). ‘Uma migeasio posterior, conhecida como 2 de Odiduw, teria ccortido por volta do ano 1000, Possivelmente passou por Bida ¢estabelecen-ce em IICTR onde 0 grupo liderado por Odiduwa esraagou as forgas de Oba realizou-s através de migragSes subsidiias, que fcaram conhecidas como a divisio do seino lyse dos Igbo A penctasio do interior de Odadiuoi entre seus netos, Assim vriagn ido fandados, na versio de Jolson (1957),'08 seinos de Ow ‘Kézo, Bénin, 1g, Sabé, Popo © Oyé. Neste procesto de expansio, teriam sido ocupadas as 1egides que vao fazer o objeto do nosso estado:o litoral entre o ro Volta © o rio Oueme, onde devia estender-se0 seino de Olu Popo; aegito de Porto Novo onde se instalaram of Iie (em Ohoro:Akeon); 0 planalto de Allada, onde estas antigas populasOes vieam mais tarde a see chamadis de Aiea! 0 planalo de Abomey onde se estabeleceram os Idsst, 05 Isa, 0s Efon, 03 Igede (que dizer ter vindo de IE-If e que veneram um enorme sochedo representando seus antepassados, qu ele pretendem ter trazido ded). As poplagdes de origem yor fixadas ‘no planalea de Abomey constitulam, ao século KIV, 0 teino do Dasma Esta expansio dos Yordbé,entresanc, parece terencontrao bastante cesistncia por parte dos primelnos Rabitantes, maitos dos qusis deviam ser descendentes das migragdes TVW repel Veger (1981, p. 25253), tmbén Awol, 1979, p. 25-6, Ee him stor obser cm Ugh fo pove de 16 provunciaIgbs) aa rito dels, que existe ura eraiada tng ‘Sunde gua poo de Ugho veto dee Ii, eapulopoo gerzeizo OcbdnWhe ses banda de aventeros, ‘Sin fer dos Igbo ons co inasores sindn & sememoraea em I-Ie carentecerimonas snus 5 Segundo Akijogbin (1971) os motives da sero a pitir de IIL seria mencionans em veios cfd onde soning gue glo jf extavaeaperpovoudn egos a popula sia Ge fome proves por wine longa seen Urn babslaw®, conultade, rugosa a migra, que tra ecorido dem modo Cnanizado.O» princpss trim oe sounido nm pra pracipal para decidir que rumo cada vm dels eu “A pave Aied design, de modo ger 8 2m fof auecines: soos dos dra. ph B96 signfcan tora (tera habitaga, em opseigao ib, que dsigna 2 tera no sentido enstop6nlo} * Sera, posivelmeate, 0 rixa de que Leo Africanus ouvi far, (Leo Afticans: Cosmogonis ell ‘Afric, puleedo por Ramasio, 1850. 7 i (ie rs do Dewan antctiores, Os mitos fazem constantes seferéncias a guerras€[utas, como por excmplo 08 exper, 1981). staques dos gb conta 16-18 (Awola, 18 Cua onda migrtiia que deve tr ocortidoapresimadamente na nes époce pe siasio de Odd ou tlvez im pouco antes teva sad da regio nupe edo Kwara, atrmetado oo, quo toda vindo de Mina ou da Mecs, Tea reusado Converter se 20 islanismo, reado obrigndo a ear. Biss om Busta una tadiuo segundo «quel ‘ccontrovam zo no grapo que scompantara Kiss, os asepassados de outas dint, etre os guait ‘ot fate vis do OyS. (Lombard, 1957, p. 468) Entetanto ob mitos que se refrem 3 orgem cretal ‘Geo ca Nabi) dor Yor sto barante raptor. Ar serdasconbecs foam dstris em F530 ‘de tober pee prison sce scontecimente reiaindae. (Lav, 1973). A bisa segundo gal ‘os ovis wri vindo do Egito ov da Nebin consia do relsto €o Cap. Claperton: Travels and ‘ficoveries in Northern and Central Mfc: 1822-1824" ese baila 0 wiamerve do Suto Balo, de Sokote a Mw Or brs te Doe [Numa primeita fase, a dat migragSes lendéris, um movimento de leste para este 0: tsi levado da rogifo do Korara até Tado, estendendo-se num perfodo que vai, de odo nnito aproximativo, do eécslo VII.20 século XII. Na segunds fase, a das migragbes histricas,reriam refluida do oeste para o lest, do século XIII até @ XVIL.Hste esquema, cevidentementesimplifica muito a seaidade, porque houve, prorevelmente da antigtidade até fo presente, numerosas eigragdes subsidicas em todas as ditegSes. Adwitremes que o= povos que ocupatam o territbio do antigo seino do Danxome exam de origem yordb, eque sinhem da regio nupe © das margens do Niger. Admitiremos ainda que o grupo do qual se cvginazam as daastis jf, hibam pexmanecid por algam tempo na regio de Oe (0 Oko). CObservainos,em segundo luge, que as principaiscausas das migragdes dos six ‘rib embora haem algans casos referéncia a guerras, parecem ser de natareea demogréfica politica. Fram geralmente deslocamentos de grupos impoctantes: familias extensas, lis, ds _yezes aleias etnias interes que sempre conseguiram mpor-se aos prieizeskabitantes ragas ‘go seu mimeso. A expanso dos povos aid yori pode ter sido wm aspecto do processo de segmentagio habitual i sociedades de inhagens. Quand a linhagem se torna grande demas, cesolve divides: freqientementeenviacacadores explorarem a floresta para escolher um sitio propicio a0 novo estabelecimenta, No caso dos cheese das familias reais intervém além do ‘mais as disprtes pla sucestio, No se da linhagem real, 0 icmao mais elho é normalmente o hherdeto legitioo; mas freqientemente os mais novos néo se conformam em permancces ‘numa posigio subosdinsda eafestam ou matam ori on emigram para fandar um novo rein. Mas no lugar escolhido os imigrantes ttm gue ce submeter a0 chefe loca, © Aico que pode ceder thes uma pare doteretéxo dos antepassados. Ox imigrantesinstalam- se,prosperam, o grupo cresce, logo pastam a pec mais terms, mais sinda so chefe local at pe este timo ee negue a dicta, objetando: “Dag apouco vocts wio querer constuir suas ‘cataa sobee minha bacigal”, ow “Se coatiauatem assim, daquiapouco vocts vio queer istalar- eno meu nas, Esta recusa & ussda como pretexto pelos estrangeiros para massacrar os autdeiones eoubar-thes suas tetras.O seino do Dansome, como atesam aumerosastadig6es, constrain-se «partic deste processo espolitivo (Cornevin, 1981, p.99-5) ‘Com sesultado desis sucessivos movimentos migrarios, «regio da Costa os Exeravos compreendi, por volta de 1680 um coojunto de pequenos seiaos aparentados, deorigem sj 1 sino dos Hou (ws), eambém chamato Popo, gc devi extends ansgnmente So (vere no Voit. época considera, ocupava a aguas do tral. Suns pons cidade ram Houelagan (Grande Popo) Hosea Peseno Pope): 2 reno dos Hoveda, (Xi) fanado no ini do séclo XVI por Haholo qu instloua capital aaldia de Sah (ae As eades mas importates do eno de Ona en Of (Ors) esjo nome foi mmadado ao fin do séclo XVI pare Jaquin (Ekin), que oF ffancetes chamavam de “Pett Adie"; Gleave (Glens, Greil 10 nor dos Houeds, 20 plana bavi sino de Allg” 0» Anagé de Okoro Porto Nova) ou Aine, sebmedidos por Té Agbinin que fundow a oonove eine de Hoghono por volts de 1650 5 no plato de Aborey, esta aacenda 0 fico reno do Danxome, is conta dos antigo hbitanes: Gee igs); asta (Ise) Fam (Efe) eo (2 6 sina mencionaremos oe Ewe ej éxodo pate Noe deve situarse por valde 1610. 0 nome d ena hove (xe) ma procaca fon, crespede pa os Ewe FRU e 8 PEdé por 03 Gen, Os holandesestranacroveram Fide; os fagleses Whydeh; os frances: Ouidah, 0 portuguese: ‘jude Baal (1984, p14) Or Bis sfo os Hovela ua peemnca dos Gen. "alles, (Ares, pra faces) ctumavase anigamence Ada » Tome: pals de Aa, deus terra os vgs abies Aled 23 it 3 SAKPATA Passaremos agom ao estudo da possivel origem do devs da variols, partindo da cobservasio de localizacio dos seus priacipais centros de clto, eapolando-nos principalmente com Verges, 0 pesquisador que, sem divide, melhor conhece a seligizo dos Yoruba © Dixomeanos © que, aléin de suns prOprias pesquisas, ainda resume 25 contebuigdes dos sutores qu investiga o assunto antes dele, Petcoctendo 0 maps aproximadamente de este para oeste, encontramos o seyuinte teagado Iga ‘Obi. © povo Iga cafe Tere 02 Antepassados io os bis. (Boston, 1971) tee os Ig (eegito de Tah), a divindade da viola ¢ Ie (et € Aig, ou tee mesmo que Akos pata op Akoko (Ogos, Bstado de Kwara, Nig), o deus da vaca € Iya Okeks, a Grande Mi. A lepa &atebulds & dvindade da Term, Ye provavelmente a mesma gue Ip, Alpe). (Gilles 1576, p 372) ght o deus de vail, ents oF Ighd, € Ojuks. Or Igbé cultuem trim uma dvindade da Tecra 0 mul, e anger americana, fol rapidamentesdotado pelos dantomcans,¢ alaptow-se felines, de inci nas egies oe lagass, no Lior Afulneae estendve também nos vals € nos panalts. ” i "Exinem ent os dannomeanos ders forms de solidaiedade ede associgio, ‘va das mais importantes sendo o donkpe, na origem uma associagio de homens jovens, 00 céasse de dade, que era esponsivel pelo sepulsamento dos mortos. Mas evolu eacabou por cencattegase de outrastrefas constngio de casas limpeza de caminhos, tabalhos aglcolas {importantes Em caso de necessidade um pai de familia podia chamar a associaglo que, cm pouco tempo, derrubava uma dea de orett, ou plantava um campo extensa. Aquele que se beneficiava dos servigos dos membros d associagio foxnecia apenas o aimenta. © erabalho er. realizado na alegria,rtmalo por cantos, animmado por desafios. O donkpe acabou gaahando forsa polities, influenciando os velhos chefes de aldeia* ‘Ouuea forma de asociagio eno sly, associasto espontinea de agticultores que 4¢ prestam secvigos rotativamente. Quem recebia 2 ajuda do grupo devia reuibuit por um trabalho equivalents. Os aolu acabatara por ve transformar em grupos de lazer que se ceoniam apés o trabalho, umn dis sim um dia nfo, para teinarcantos e toques de trabores [A csiagio de gado ere pouco desenvolvida; os danxomeanos apenas possefamy ceabuas,ovelas, porcoe, galithes. A carne era um lnxoe 46 era consumida nas grandes ocasies, “A-caya teptesentava& principal fonte de carne e era uma atividade importante, integrada 20 sistema econtmico. Os capadores constiniam verdadezn inhagens de especiaisa,os Asogba Gheto. A casa incialmentedestinada ao consumo da aldeia, acabou entrando no sistema de mercado, criando wm creuto de trocas entre as comunidades rss, entze o campo ea cidade. ‘Visios propos tnios patcavam ativamente pesca: Kéd, Tofi, Hoves, Queme..A prodagion cera muito grande, ‘A sociedade danxomenns, seguado Herskovits (1967, « , p. 164-91), ext constitutda, no século XVII por trinta © nove es, aero este que incl os grupos de descendéncia dos reinos anexados. (Os els (ako) so conjuntos de individuos que acredicam ser descendeates de tam antepassede mitico comtum, otobwiyS. Este antepassado, fundador do ei, égeralmente tide por st filho de algum animal cobrenatural com uma mulher do ii. Os membros do lt ‘observam um certo nimero de proibigéesalimentares, i did, queincluem oanimal tem. cosobjetos cle associados. © fundador- tobwiyd di ao clio seu nome, O chefe do ei, que T Sequeds Wendjaagn (197, p. 222-4), 0 danke chegou a represectr a Forea sbcio-econdmica capes ce impr limites 20 pode dos ges da Danome- Mellssoux (1986, p. 214), pelo contitio fpetsa gue ev nsiugao acabou ge tomando um insiamsente de exploragio dos eamponeses pela ‘nari, pls 0 donepe patos dover prestagso de servigcee corsa 38 ‘610 mesmo tempo o sea supreme sacerdate, &o representante vivo da tohwriyé etem o poder de fazer comparecer os antepassidos. Ble € 0 depositisio das terrs ¢ dos bens. Deve ser consultado pasa os casamentos,¢ os dotes passam por suas mos, O el funcionava como unidade de gesio c como wnidede polities. (Os membros do dla vivem dispersos pelo teritrig dividides em Iinhagens,¢ ‘esas, em familias extensas. A linhagem (hens), ox eub-cli, £0 gropo patlinear dos descendentes de um antepaesado comm é 0 grupo locaizado, constitudo pelos membros do eld que abitam a sctma aldeia, Os membros da linhagem devem obediéncia so chef s vlhas tas, irmis do chefe, observam priticassitunis comune ¢ pattcipam das grandes ceriménias da fama, FFreqentementeoutrasinhagens associate a0 henu, na qualidade de dependents, vivendo mm teceas que o chefe thes conceden, Sto linhagens que descendem de filhas da familia, de pareates distantes, de membros adotivos, de profisionsis ou de sacerdotes que prestam sexvigos tligiosos. © conjunto do heau ede seus depeadentes €0 hem-daho. ‘As linhagens, por sua ves, dividem-se em famflias extensas (xwedo), que ‘temontam aun antepatsado de ets a cinco geragbes passadas. A fafa extensa €a unidade doméstcs, que corresponde a uimaresidéncia comurn. Lé encontrase a casado fundador eo se timulo; ao redor erguem-e a8 cates dos avs, dos pais, das mies, Mais adiantefcam as Tongo do perlodo Ge 1650-1750 aproximadareate; as este Proceso pressuple GBs OF Drncpioe de orpnizagso peeaxstim, 3 i Constatamos por outto lado que © mimero de Gbonugan Dako € sete, que é precisamente, 20 Golfo do Beni, oni simbélicosstociado realeza. sto significa que ‘0 tei€ par, ou melhor 0 palo aposto do corpo dos Ministros.* ‘Vemos que 0 compo dos Ministos do sistema de dois pares de pélos opostos: dirita/esquetda,inteior/extesior. Por outeo lado 0 reiopZe-se 0 corpo dos Ministros como um todo porque sua pessostranscende estas oposigees ceredacem sia ditcita ea esquerda, ointetir o exterior Desta Forma a pessoa do rei pode sex do Datsome ext estuturade por umn ‘sex como um temo médio que sintiva 0s opostose permite pateacpara uma nova oposiio: rei/ Corpo dos Minstros; unidade/mulplicidade. A pessoa do ei representa a unidade da nagio em oposcio A mulipicidade das classes, das etnias, das fangs sociis,Resacontamas aqua mesma légica que asaliames num trabalho anterior referente ao candomblé Kém de Salvador Lépine, 1979). |A dinimica destas operagies mentais condus & clsboragio de sistemas de dasificasdo dos homens eds coins que caractetiatno que LeviStrauss cham de ‘pensamnento sclvagem”. Bacontramos ao Danzome esbogo deum sistema dest tipo (Manpoil, 1961, p. 65) pale Tato Ou Kis Save Ai Ar) Kew Ha os) oviente: —o2st= sone lene sal aie spat ros dake sobodo simbolo: homer reas cbaga espada cor vermelbo pret cvstanho rane animals avede raping ave derapina—_leepatdo suco ids elemento: fogo,mat ogo, mas vere ‘Quanto 40 principio da duplicagio dos serese das anges, ele parece ser uma decoxttncia da liga bi te pensat as dferengas. Na verdade 0s uplos nfo so uma reprodugio Wéatiea do otigina um par de gimeos, am dos dais € do sexo masculino, sia que p contro do sexo fenizino; os um dos dois € considerado como mais velho que o outro, Nun Tm Oya va Sina tn dows mins, ses da dla esis do eoqutda O nmeco do rei era st, que sigacn que ele ea dul: ore & iia, oc Besquerds, (Ple»-Maci, 1964, p. 191) 34 mand jie el VIE par de fangdes; uma éintecna a0 palici, a outs extecna,¢ ttslar da primeira é considerado como a mi do segundo, Porteato estes pares de duplos sto pare de opostos, (© segando tipo de organizagio do conbecimento evidenciado por Mercier consiste em refeiros fatos as instmugdes, a introduszo dos vodua, por exemplo,a um quadeo temporal constinuido pelos scessivosseinados. Seria “tempo dinitico”,proximo de nossa concepgio do tempo bisttico (Mercier, 1959, p. 315). Assim & que Saepata data de Aga, Mav-Lisea data de Teghesson ets Enfim, como asinalou Palau Mari existe ente os termes deum mesmo nivel de realidad mas pertencendo a compartimentos diferentes, una hirarquia: a dvcitaé superior A csquerda, 0 Fancioniio “mie” é supesior 20 “filha” ete. Bstahiccarquia € identifica com lordem das geragdes. A hieraqhizasio coincide coma temporaldade linear. A sobrevivtaca ea continsidade de uma sociedace agricola delinhagens como « sociedade sé do século XVII depend de produso da terrae da producto de homens para fae a terra produait, Os mais velhos, porque podem dlspor des mullaeres de sua familia, filhas, acs, sobrinhas.. dominam a geragfo dos homens mais novos, que dependem deles para obter esposa. A desiguldade dos sexoscondiciona a designaldade ds gerages Balandir, 1974, p.56-7, 83,89). Os homens importantes, aqueles que tem poder, sio aqueles que fazem as allangas¢ distuibuem as mulleres. A posse de mutes mulheres € simbolo de poder, muito mais que de satsfagho eStica;significa produgio de forca de eibalho, cepresentada por uma prole numerose riqueza, garantia de continsidade do grupo, O grau de pode de um homem se mede pelo nivel de produgio que ele comtola nests dass reas. (© chamade principio de eenioridede exprime 0 papel dominanteexercido pelos, mas velhos, Nasociedade ele dene hierarqua social, regula todas as relagdes no seio dos ‘grupos de descendénciae fora deles, determina as zeges de etquete. Do ponto de vista afticano (Gow, 1977,p. 225) cle exprimea ondem natucal da geracdesedftrencs o estado de cultura do estado de natureza, onde pais ¢filhos sioiguaise onde as geragdes se confundem. O chefe “natura” de um grapo de descendénca deve seroindviduo mascalino mais vena que representa ‘coms autoridade. Os africanos de modo geral peasam que os mais velhos possuem uma longs experiéncia das zelagSes humanas, smploe conhecimentos ¢ uma profunda sabedoda Supde-se que, menos eavolvidos com ambigdes pessoais eles jam exclosivamente preocupados com os interesses do seu grapo de pareatesco como um todo, incuindo os mottos eas geracdes futures, Responsiveis pelo culto dos antepassados da fami, adguiiram 55 Ww trex do Dzone maior faitndade com o sobrenaturalexeeberam dos Antepassados poderes extsordincios, ‘Os mais velhos so responsiveis pla repreducdo dos costumes; é wea obsigao fazer observar sas nommas estabeleides pelos antigo, astegurse a continuldade ea peosperidade dalinhagem, Sto icbtcos por excelénci; arbuer-Ines discecaimento, abnegacto,eqtidade, sangue-fiio. Por outro lado o principio de senionidade também define a ierarquin entre as linhagensresnidas numa mesma aldeia.O grupo de deseendéncia de maior status, aquele que foxnece os chefes, 6 mais antigo, isto éaquele que est estabelecd hi mais tempo no lugae, ‘A ordem hierirquicn dos ancestsis segue 0 modelo genesligio: 0 primelto ‘Antepassado tem precedéacia porque est na origem de muita vidas; os antepassados mais recentes ver depois porque gerarim uma numeross descendéncia¢ por fim vem oppai de Ego. _Entretantopercebemos que term “senioridade” encobre visas modalidades de eplicago, Sperber, partir da anise do principio de seioridade numa sociedade da Espa, istingue o primoginito (0 mais velho dos iemios), 0 primogénito social (0 filho de um primogénito, © membro de uma linhagem osiueda de um primogénito), ¢ « senioridade metafcca(obeino mais aongo de uma cidade, porexcmplo) Sperber, 1974). Balandies fla de “senioridade absolut” ede “senioridade elatira" A primeira design a senioridade doicmio mss velho em relasd0 40 mais novo, que &defnitiva;2 segunda se referesenioridade do pai «em relagio aa iho, que nfo € absolut, jf qu ofilho, coma morce do pa, tek acesso i posigio este imo, “Estes doe princpios esto presentes na sociedade, implicados por soa narareza pelo fito da sociedad exiatr somente em fanglo da ordenagio ehierarquizaglo de diferengas, ‘Mas esta hierarquizasio & portadors de tenses” Balandies, 1974, p. 74-5). Se em outeas snonarquis afticanasarensto pui-fiho parece predomina,no aso da monarquin dansomesna cla se manifesa principalmente entre 0 itmio mais velo © o mio mais nove. (Os valotes mais importantes que 4 sociedade ajé desenvelvex parecem0s ser spego a terra aos antepastacoe,quelevaram & elaboragio dos aspectos Fundamentsis de sux religto cde sua concepsio do univers, do homem, da sociedade (Os danxomeanos sto um povo de agricutozesvisceralmente apegados ters ‘onde se ixaam ede que dependem para vives. A tera tem um cater sagrado que se evela em inimeros gestos da vida cotidians:entertam-se os pedagos de unhas ou de eabelos depeis 56 © mun no eas 0 de cost-los do mesmo modo que seentetra a placenta doe recém-nascidos antes de bebe, & costume jogar um gole de bebida no chio; é proibide copolardiretamente sobre a err; em segundo sgutsauoreso ego de Mobi wl sido evado por Tghessur mas € porque eles adtam 3 dm Ge 1732 pura s morte de Ags. 176 0 dis ido Doone (Os sacerdotes de Salpata uniram-se aos de Loko, divindade importante entre ot Howeda, aos das divindades das éguas (‘ohoscex) (Maupoil, 1961, p. 62), e urea visias conspitagdes com o objetiva de derrubaro re. Sakpata ers am devs popular seus sacerdotes tinham 0 spoio das populagdes ecm incorporadas e dos chefee de teva. © povo Djetovi em pancicular, sin amaletoseeabalhos mégicos pata dsigic a rsiva de seas vodun contzs ote do Danzome (Herskovits, 1967) Agsié mandou vender e exile numerozos sacendates eadeptos de Saipata naquelaépocs. No proprio Dansome havia muitos descontentes. 0 Mehu,em decosstacia de suas fungdes, estiva préwimo aos principes ¢ devia ter 0 apoto de alguns dele. Segundo Alknjogbin visio chefes que pretendiam fizee comércio de exeravoe fara frastados quando Agel decidn fzer do trifico um monopSio do re.” A variola continuava assolando 0 Golfo do Benia. # mencionada em Ouidah ern 1734, e novamente em 1738, 1740 Isto ado sigaifiea que oo estvesse presente em outrat cidades; & mesmo provivel, considerando-

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