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Tanto as duas palestras quanto o trabalho dos grupos e a discussão na Plenária deram a
dimensão dos desafios para a Campanha Nacional 2011, mas também apontaram
caminhos para fazer a luta em relação a temas fundamentais para a categoria.
2 – Ficou clara a insuficiência dos debates sobre a questão do papel do Estado, que na
ótica de muitos analistas estaria perdendo relevância com base na ideia de Estado
Mínimo, sem ser mais o centro do sistema, dando lugar às corporações. Na economia,
havia a discussão sobre isso, com temas como autogestão, autogoverno, autorregulação.
Entre as forças de esquerda, isso apareceu como se a promessa neoliberal significasse a
desmontagem do Estado. Nos EUA, as linhas de crédito para segurar os avanços da
crise apareciam diariamente, para salvar uma série de empreendimentos, com recursos
públicos. “O governo dos EUA não teve dúvidas em relação a salvar o mercado. O mais
relevante é que eles conseguiram isso. Todos os países queriam dólares. Ora, que
mercado fraco é esse?”, ironizou o palestrante. Então houve um equívoco nas análises
de que o neoliberalismo significava Estado Mínimo.
3 – Outra lição foi a capacidade que os bancos têm de se defender e como conseguem se
blindar rapidamente para evitar perdas. A discussão sobre a regulamentação do setor nos
EUA foi esquecida, abafada. Isso não é novidade, mas o peculiar nisso é que o setor
conseguiu criar um discurso, uma mensagem política falaciosa, de que a ideia de salvar
bancos é necessária porque não salvá-los é levar a sociedade à ruína, como foi o
discurso sobre o PROER no Brasil. “Uma crise bancária, no contexto deste discurso,
remete aos anos 30, ao fascismo, aos caos em países como a Argentina, mas o governo
poderia, em vez do que fez, entre outras coisas, preservar o sistema de crédito e estatizar
os bancos, ou exigir garantias de seu patrimônio”, exemplificou. Os banqueiros fazem
forte articulação política para manter-se como estão e esse é um problema para a qual
são necessárias respostas.
Outro quadro é o encarecimento dos preços dos alimentos, com produção em queda,
em virtude de problemas climáticos, como o milho e o trigo. Além disso, a agricultura
moderna não se destina a alimentar seres humanos, e sim animais para abate e para a
produção de biocombustível. “A alta do preço dos alimentos, então, é resultado de
determinadas escolhas”, enfatizou. O Brasil, nesse quadro, se beneficia hoje com a alta
de preços das commodities, significando 71% das nossas exportações. “Exportamos
matéria-prima, mas recuamos na exportação de produtos industrializados”. Aumenta-se
a arrecadação, há superávit primário, mas então quais são as dificuldades do governo
hoje? É que se está, avaliou ele, em um período de inflação por excesso de demanda, e
há desafios como mexer no câmbio, com as implicações que isso teria, como o possível
processo de desindustrialização do país. Transfere-se, por isso, a produção industrial
para outros países. Além disso, seria importante investir, mas isso leva tempo. Por outro
lado, se houver freada no crédito, aumenta-se a taxa de juros, o que leva à falta de
incentivo aos investimentos. Outro problema, apontou ele, é que as faixas salariais não
mostram aumento da renda dos trabalhadores. A produtividade do trabalhador cresce,
mas o salário diminui. “Está havendo um massacre nos locais de trabalho, com
acidentes e mortes, muitas vezes acidentes com invalidez permanente”.
No cenário atual se fomenta a ideia de que a população está crescendo na classe
média, mas os números usados, com parâmetros diferentes, não refletem a realidade.
Até 1999, disse o palestrante, o movimento sindical combativo não aceitava vincular o
crescimento das empresas ao bem-estar dos trabalhadores. A condição básica era: o
capital cresce, o trabalhador “se ferra”. E se cobra produtividade, com todas as
implicações disso para a saúde, e a lógica da PLR, avaliou ele, aprofunda essa cobrança.
“Temos hoje um trabalhador que se nega a lutar por conquistas históricas, que segue o
que manda a empresa, em nome dessa lógica, como o escravo com orgulho das
correntes que o prendem, na lógica da servidão voluntária”.