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Esta obra contém as recomendagdes ¢ as técnicas fuunda- mentais para a elaboragaio de um trabalho cientifico na area juridica. Dirigido aos alunos e orientadores, este livro discorre didaticamente ¢ em tom bem-humorado sobre: Ciéncia e conhecimento Pesquisa em Direito Escotha do tema Projeto de pesquisa Péenivas de pesquisa Pesquisa eletrénica e na iniernet Redayao cientifica Reuras de apresentagio Rekicionamento com o orientudar Avaliagde do wabatho cientitice Exemplos de erros mais comuns em cada fase da pesquisa juridica A RT s9a7 i Hng3s7 31088977 des wont sess fof be wae dot es On Fen plc yo desing G ameinn the f fig aha Those ye len pects, Yu. fe i OC i cp ak de WA es < Q a 2 5 Welber Oliveira Barral Professor de Direito Internacional na Universidade Federal de Santa Catarina, desde 1992. Doutor em Direito Internacional (USP), Visiting scholar da Georgetown, University, Fellow do Instituto Suigo de Direito Comparado. ~ Ganhador do Prémio Moinho Santista (Juventude) de Relagdes Internacionais. —B autor de varias obras de Direito Internacional Econémico e de Metodologia da Pesquisa, como: © Dumping © 0 Comércio Internacional (Forense, 2001). © 0 Brasil © a OMC (Jurua, 2002). © Negociagdes Comerciais Multilaterais (Boiteux, 2003), © Direito e Desenvolvimento (Singular, 2005). WELBER BARRAL Professor da Universidade Federal de Santa Catazina Pesquisador (CNPq) METODOLOGIA DA PESQUISA JURIDICA 3* EDIGAO Belo Horizonte 2007 Professor « 2 BARRAL, ic Federal de Santa Catarina dor (CNPq) OBJETIVO DE’ RIOR-ASSOBES ITECA LOGIA DA JURIDICA ICAO ‘orizonte 7 RSSOGAGAS OBJETIVO DE ENSING SUPERIOR-ASSOBES: Seek Copyright © 2007 by Editora Del Rey Lda. Nenhuma parte desie lie paderé ser reproduzida, seiam queis forem fr moon mpragaoy, gomo amiss, por extio, do Edo. frorenvs no Gres Printed in Boe! —EOTORA beL REV ASS wormdalreyontine.com.br foo Amorts, 612 — Funciondrios Ester Adjuntor Ricardo A, Molhsiros Fiuzo Bee ee ce CaF S6140.070 Elona Amat: Wonesko Dini See By S273 tees Sao se0 9770 {Stoveddteyonine com tleyntn com br Foe Boni, 549 Bale Visa Nice Sou Bie ety Sioa Sdn Asoo Caparo Tndade BOE Sebi sanor Mone AlgitDato' acne raspaidsreronine com Sr Seige $e Conon res (m memorr) coterie ls ise Gentine Coordenosae Editor Eiee ste Fone Bde Consto oats Sake cea Po ungromagon ena aslo Rargraco Awad Femenda Gorsege Jayme Homes vicher Gusnese SER tte Soppoio ote Rdgard Penna brim Perro lane Soares abel Abr acho Der ‘estondes Vladoree rise toes. Fokiono Cowalne Plo Selgado Rouge de Caro Por cove Seats Somtgs Epes Comicagbo Eola Con e209 "Niclodologia do’ pesquso ivridica / Welber Baral. ~ Bolo Honesnie: Daley 2007 2100. I56N078-95-7008.97-7 1 Droit Metedcogis. 2. Redagsoforense. 9 Oroto~pesauso. Tita cou: s4001.8 Cotologecto na fonte por Omnia Silo Guimorses Para Cynara Barral, CRB 14/071 in memoriam. SUMARIO er Prefacio .. Preficio 4 3* edicao 1 4 MonoGraFiA yuRDICA 1. O que é uma monografia 2. A monografia ¢ o ensino juridico 7 3. A favor da monografia.. 4. A administragio da monografia: algumas SUQESTBES creer 5. A construgio de uma tradigio de pesquisa 2 créNcia r CONHECIMENTO 1. Caracteristicas do conhecimento cientifico 2. A postura do pesquisado: 3. A construgio de uma teoria . 3 4 ESCOLHA DO TEMA.. 1. O tema juridico, 2. Critérios para o tema 3. Critérios para o autor 4. Critérios priticos 4 0 pRojETO DE PESQUISA 1. As tazdes do projeto .. Se 19 19 26 29 35 35 37 43 45 47 47 2. Os elementos do projeto 3. Avaliagio do projeto.. 4, Exemplo de projeto de pesquisa 5. Os erros mais comuns no projeto .. 5 TE&cNIcAs DE PESQUISA 1. A Biblioteca 2, Busca de referéncias bibliograficas... 3. Os fichamentos .. 4. Tipos de fichamentos .. 5. Pesquisa na internet... 6. Pesquisa eletrdnica no Brasil .. 7, Pesquisa em Direito Internacional ¢ Direito Comparade -.r 8. Eros mais comuns da pesquisa .. 6 REDAGAo crenririca. 1. Citagdes 2. Notas de rodapé 3. Argumentagio 4, Bstilistic: 5. Uma visio irénica da pesquisa 6. Revisio .. 7. Pligio .. 8. Erros mais comuns na redagio 7 REGRAS DE APRESENTAGAO. 1, Estrutura de trabalhos académicos 2. Numeracio dos titalos 50 70 7 86 91 95 95 97 99 102 104 108 116 119 120 126 130 134 142 144 148 149 153 153 159 bee 3, Elementos graficos. 4, Referéncias bibliograficas .. 5. Exros mais comuns na formatagio 8 RELACOES INSTITUCIONAIS 1. O coordenador de pesquisa (ou de monografia) 2. O otientadot: um guia de sobrevivéncia .. 3. O papel do orientador 4. O co-orientador: esse desconhecido 5. A banca examinadora .. 6. Os etros mais comuns na defesa do trabalho 9 AVALIAGKO DO TRABALHO CIENTIFICO .. 1, Fundamentos da avaliagio 2. Critétios de avaliagio .. 3. Nota resultante ... REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.... 160 162 168 171 171 172 175 181 182 184 187 187 187 189 191 PREFACIO SEE EEE Mudangas substanciais vém ocorrendo, nos uiltimos anos, nos cursos de Direito no Brasil. H4 um lado ne- gativo, materializado na multiplicagio intermindvel desses cursos, com a absorcio de alunos pouco prepa- rados, submetidos a professores menos ainda. Mas ha um reflexo positivo: a concorréncia incentiva a busca de qualificacio, os alunos tomam consciéncia da ne- cessidade do estudo sério, aumentam as exigéncias para acesso aos cursos de pés-graduacio, valoriza-se a for magio académica sélida. Nesse cenario, os estudantes de Direito sao submeti- dos 4 exigéncia de claboracio de um trabalho cientifi- co, seja para conclusio do curso de graduagio, seja para completar cursos de pés-graduagao. A disciplina que visa A capacitaco para pesquisar e redigir trabalhos cientificos é a Metodologia da Pesqui- sa Juridica, e é a esse tema que se dedica esta obra. Faz-se necessatio aqui um esclarecimento, buscando desmanchar um dos mitos desta matéria: estudar Meto- dologia é sobretudo estudar técnicas que facilitam a pesquisa e melhoram seus resultados; estudar Metodo- logia nao é ficar decorando as infames regras da ABNT. Esssas regras siio explicadas e organizadas neste livro e devem sempre ser consultadas. Mas é certo que decorar normas que podem ser con- sultadas nio € © mais relevante. Relevante é (a) com- preender a funcio da pesquisa no mundo juridico, (b) aprender seus objetivos € possibilidades, (c) desenvol- ver disciplina prépria para estudo, (d) manter coeréncia com os métodos utilizados, (¢) transmitir eficazmente os conhecimentos adquiridos ou desenvolvidos e () conseguir dar contribuicao efetiva para a area de conhe- cimento sobre a qual verse o trabalho de pesquisa. Como se vé, hé algo muito mais relevante que ficar discutin- do se “depois do nome da cidade vem dois pontos ou virgula”. Esse ultimo problema, que alguns julgam fan- damental para a ciéncia contemporinea, pode muito bem ser resolvido com consulta as regras de formatacio, constante no Capitulo 7. Este livro pretende, portanto, ajudar o leitor a de- senvolver habilidades de pesquisa, que tém importin- cia nfo apenas agora, diante do desafio da folha em branco que exige uma tese, mas também no futuro, na pritica profissional. A atividade de operador juridico continuaré demandando maior grau de sofisticagio in- telectual ¢ de especializacio, para os quais © trabalho cientifico € uma excelente experiéncia. Um amigo do autor, que é juiz, sempre diz que se podem reconhecer os advogados que fizeram trabalhos cientificos na gra- duagGo por duas caracteristicas: a primeira é que suas petigdes sio mais elaboradas, claras ¢ fundamentadas; a segunda é que tém notas de rodapé. Este livro se preocupari mais com a primeira carac~ teristica: como fundamentar um raciocinio cientifico na 4rea de Direito. Para isso, pretende-se acabar com ou- tro mito do meio juridico, o de que um trabalho sézio deve necessariamente set mal-humorado e pomposo. Este livro é propositadamente coloquial, até porque, deriva de anotagdes dos cursos que o autor ministrou sobre 0 assunto, por este pais afora, e de sua experién- lemons: cia como coordenador de monografias na Faculdade de Direito da UFSC. E, portanto, um trabalho de carater pragmitico, que se preocupa menos com o estado do debate sobre epistemologia do Direito, e mais com téc- nicas efetivas para incrementar a atividade do pesqui- sador iniciante. O Autor i macarse PREFACIO A 3° EDIGAO SS _ oe A excelente aceitagio desta obra por estudantes e ptofessores levou a impressio desta terceira edicao, agora pela prestigiosa editora Del Rey. O texto foi atua- lizado com as novas normas da ABNT, de maio de 2006, © mudancas pontuais buscam deixar o texto ainda mais claro pata o pesquisador iniciante. Viarias dessas mudangas decorreram de sugestdes de leitores © amigos. Um agradecimento particular, nesse sentido, deve set dirigido 4 professora Carolina Munhoz (UFSC) pela leitura atenta do texto preliminar. O Autor 1 A MONOGRAFIA JURIDICA S| 1. O QUE E UMA MONOGRAFIA A primeira tarefa de qualquer obra didética é definir 0 seu objeto. Bem, aqui nos deparamos com o primeiro problema, diante da enorme variacio terminolégica quan- do se fala de Metodologia da Pesquisa Juridica. Isso pode ser explicado — e os pardgrafos abaixo discutem essa idéia — pela pouca tradi¢o da matéria. Em conseqiién- cia, alguns termos sao utilizados com diferentes signifi cados em varios cursos de Direito neste pafs. Busquemos algum entendimento sobre os concei- tos fundamentais. Em primeiro lugar, o termo “mo- nografia” é, literalmente, o exame de um tnico tema (mono + graphos). Pot isso, qualquer trabalho que se proponha a examinar um tema especifico, esgotando a sua anilise, seria subsumivel no conceito genérico de monogtafia. Nesse primeiro sentido, “um trabalho mo- nografico” se opde a “um trabalho genérico”. Entretanto, h4 ainda um conceito menos lato, no qual “monografia” é sindnimo de um trabalho final para con- clusio de curso, no qual seu autor se dedica a pesquisa bibliografica sobre determinado assunto. Esse é 0 sig- nificado mais utilizado entre os educadores da érea de Direito. Nesse sentido, a“monografia” se distingue tanto de outras atividades académicas (como “relatérios de estagio”, “relatérios de audiéncia”) como de outros tra- balhos de concluséo de mestrado ou de doutorado. 2 yeni BaRRAL Portanto, ¢ — repita-se — embora nao haja perfeita uniformidade entre as ptiticas regionais, os cursos de Direito no Brasil vem adotando as seguintes definigées: (@ relatério de estigio: é a descri¢io de atividades pata-académicas, previamente indicadas ov autori- zadas pelo tespectivo curso; (©) relatdrio de audiéncia: é a descricio e/ou andli- se de audiéncias judiciais assistidas/acompanhadas pelo alunos (© artigo (também denominado de paper): trabalho escrito, geralmente de conclusio de disciplina, so- bre tema indicado pelo professor, com 10-20 pagi- nas, de pesquisa ou revisdo bibliografica ou resolu. go de problema; @ monografia (também denominado Trabalho de Conelusio de Curso ou TCC)’: elaborado pelo aluno, como exigéncia para 0 curso de graduacio. ou pés- graduacio Jato sensu (especislizasio); geralmente, abrange 50-100 paginas; (©) dissertagio (também denominada tese de mes- trado): trabalho de conelusio do curso de mestrado, absange 100-200 paginas; (@ tese: trabalho de conclustio do doutorado, geralmen- te contém mais de 200 paginas, e do qual se exige uma contribuigio original para a rea de conhecimento? A. NBR 14724, que estabelece principios gerais para a elaboracio de trabalhos académicos, apresenta as definicdes de tese, dissertacio e outros trabalhos aca- démicos.> 1 Neste livso, os termos “monografia” ¢ “TCC” serio usados indistintamente. 2 tezmo “tese” também pode abranger mais de um signicado: G@) em sentido lato, é a defesa de uma idéis, de um ponto de vista; (b) em sentido estito, é 0 trabalho académico de conclusio de doutorado. > Cf ABNT, NBR 14724, p. 2. AMONOGRAFIAJURIDICA 3 (2) Monografia Documento que representa o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto esco Ihido, que deve ser obrigatoriamente emanado de dis- ciplina, médulo, estudo independente, curso, progra- (b) Dissertagio Documento que representa o resultado de um tra- balho experimental ou exposigio de um estado cien- tifico retrospectivo, de tema tinico ¢ bem delimitado em sua extensio, com o objetivo de reunis, analisar € interpretar informagées. Deve evidenciar 0 conheci- mento de literatura existente sobre o assunto ea ca- pacidade de sistematizar do candidato. E. feito sob a coordenasio de um orientador (doutor), visando 4 obtengao do titulo de mestre. (©) Tese Documento que representa 0 resultado de um tra- balho experimental ou exposicio de um tema tnico © bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigagio original, constituindo-se em real contribui- fo para a especialidade em questio. E. feito sob a coordenagio de um orientador (doutos), visando obtengio do titulo de doutor, ow sis Sobre as definigdes acima, podem-se fazer intime- ras observagées. A primeira delas é que o mimero de paginas é menos relevante do que 0 contetido efetivo do trabalho. Algumas universidades sequer delimitam © mimero de paginas, ¢ as paginas indicadas aqui men- cionam apenas a praxe académica corrente. Certamente, € muito mais proveitoso um trabalho curto, mas que con- tribua realmente para a evolugao do tema, do que aque- les longos e embolorados tratados, com capftulos absolu- tamente intiteis sobre 0 histérico do instituto estudado, 4 ‘erst BARRAL ou com descrigdes minuciosas ¢ enfadonhas sobre aque- Ja regra jurisdicional no direito interno do Casaquistio. ‘Uma segunda observacio & que todos os trabalhos in- dicados ~ artigo, monografia, dissertacao, tese ~ so traba- thos cientificos, no sentido de que devem trazer contribui- io a0 conhecimento do tema que propdem. A distingio entre esses trabalhos se refere menos a0 niimero de pagi- nas, € mais ao grau de profundidade analitica que devern conter, por refletirem 0 amadurecimento intelectual do aluno. Tanto assim que da tese de doutorado se exige uma contribuigo original para o tema proposto. Outra distingio, de carter formal, é 0 momento aca- démico em que cada um desses trabalhos é exigido. No caso da monografia, as Diretrizes Curriculares do Cur~ so de Direito do Ministétio da Educagio (MEC) exi- gem a elaboracio, pelo aluno formando, de um traba- Iho de conclusio de curso (monografia) em qualquer frea do conhecimento juridico. A norma pretendeu incluir uma nova exigéncia nos curriculos juridicos, e 20 mesmo tempo acompanhar tendéncia identificivel em outros cursos, onde a exigéncia de um trabalho in- dividual de conclustio de curso 6, ha muito, requisito indispensavel para a graduagio. O mesmo requisito, a monografia, é exigivel dos cur- sos de pés-graduagio dato sensu (especializagio). A di- ferenca é que aqui no se exige a defesa do trabalho pe- ‘ Diretsizes Curriculares do Curso de Direito/2000: “(XT) DA -MONOGRAFIA FINAL. Para conclusio do curso ¢ obrigatoria a realizacio de monografia final individual, sustentada perante banca examinadora, com tema e orientador escolhidos pelo aluno. ‘A instituigio deve regulamentar os critérios ¢ procedimentos exigiveis para o projeto, orientacio, a elaboragio e a defesa da monografia final, podendo admitir a orientacio e a participagio na banca de profissional nio docente.” i it | AMONOGRAFIA JURIDICA rante banca. Tais cursos de especializacio, geralmente voltados para a capacitacdo profissional, tem duracio média de um ano (¢ carga horaria minima de 360 horas- aula).5 Os cursos de mestrado so (ou deveriam set) voltados para a capacitagio didética de futuros professores das faculdades de Direito. O curso deve conter no minimo 450 horas-aula, em média dois anos de estudos, que se conclui com uma defesa de dissertacio, perante uma banca com trés doutores. Para ter validade nacional, o programa depende da aprova¢io do Conselho Nacional de Educagio (CNB), fundamentada no relatério de ava- liagio da Comissio de Acompanhamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), érgio do MEC, que também os avalia (numa escala de 2 a7). Os cursos e programas devem propor 4teas de concentragio, para as quais os temas de suas pesquisas se voltam. Por fim, os cursos de doutorado, destinados funda- mentalmente a capacitar para a pesquisa cientifica, ¢ que abrangem 900 horas de curso ou pesquisa, ie, qua- tro anos de curso, sio concluidos com a defesa de uma tese, perante uma banca composta por cinco doutores. Outro trabalho académico ¢ produzido nos denomi- nados concursos de livre docéncia, ainda existentes em algumas universidades paulistas, e que abrangem a com- binagio de provas e apresentacio de trabalho original sobre disciplina pré-selecionada. Ainda, existe 0 deno- minado pés-doutorado, que na realidade nao constitui titulo académico, e que se refere a um estigio docente, Consetho Nacional de Educagio, Resolugao n. 1/2001, art. 1. A lista dos cursos de mestrado e doutorado autorizados no Brasil, e suas respectivas avaliagdes, podem ser obtidas em: . o_ geralmente numa universidade estrangeira, onde o pesqui- sador deve desenvolver um trabalho também original. Para terminar os esclarecimentos sobre a terminolo- gia dos trabalhos académicos, ha que se observar que nao ha perfeita equivaléncia entre os graus ¢ titulos obtidos no Brasil ¢ no estrangeiro. Isso vem gerando problemas ¢ desentendimentos para a revalidagio des- ses titulos no pafs.’ Assim, se nos paises latinos po- dem-se descobrir algumas semelhangas, a terminologia € totalmente diversa nos paises anglo-saxdes: ali, 0 Master of Laws (LLM) é 0 curso de pés-graduagao na 4tea de Direito, enquanto 0 Doctor of Juridical Science (SJ.D) equivaleria 20 nosso doutorado em Direito. O Philosophy Doctor (PhD) é 0 doutorado na area de huma- nidades, enquanto 0 Master of Sciences (MSc) se refere & pés-graduagio em ciéncias. Por fim, o Master of Business Administration (MIBA) & a p6s-graduagio em Adminis- traglo (¢ equivale no Brasil a curso de especializacio). 2. A MONOGRAFIA E O ENSINO JURiDICO Colocadas as distingSes terminolégicas fundamen- tais, devem-se registrar algumas palavras sobre a exi géncia da monogtafia nos cursos de graduacio. A implementacio, e sobretudo 0 cumprimento, dessa exi- géncia nio constitui um proceso facil: varios cursos de Direito manifestam a inexisténcia de infra-estrutura para implementé-la; os discentes do novo curriculo se rebelam contra a exigéncia, e acabam por conseguir “re- gras de transi¢io”, com menores exigéncias quanto a0 trabalho a ser apresentado; os docentes demonstram 7 Conselho Nacional de Educagio, Resolugio 3/85. { b p ANONOGRAFTAJURIDICA antipatia pela exigéncia e pelo trabalho extra de orien- tagfio, pelo qual nem sempre so remunerados condig- namente. Essas reagdes nfo sio isoladas, e podem ser identificadas a partir de problemas comuns 4s facul- dades de direito ou da pouca tradi¢io em pesquisa nesse ramo de conhecimento.* Para compreender tais dificuldades, e ajudar a supera- las, podemos apontar duas caracteristicas relevantes na histéria do ensino jurfdico no Brasil. Como premissa, aceita-se a assertiva genérica de que a elaboracao de um trabalho cientifico demanda uma postura critica de seu autor, uma postura de revisio da literatura existen- te, de conttibui¢io tinica ¢ individual para a evolugio de um determinado ramo do conhecimento humano. A formacio juridica tradicional, no Brasil, no con- tribui para a capacitagio do aluno, no sentido de torn: lo apto a atender a esses requisitos. O primeiro fator histérico que dificulta tal capacitagZo € 0 tecnicismo, reforcado pelas diretrizes curriculares do regime mili- tar. Em outras palavras, o ensino juridico no Brasil, ao longo do regime militar, foi sendo paulatinamente ca- racterizado pela dissociacio das ciéncias humanas, ¢ transformado num programa de estudos da legislacio, tna formagio de técnicos para a aplicacdo de normas do regime, a quem nio interessava estudiosos do direito que aplicassem ftmulas cientificas pata criticar a of- dem vigente. Esse tecnicismo ainda persiste em parte considerdvel das faculdades no pais, que deveriam, sob ‘A exigéncia da monografia no curso jusidico & recente, ea literatura sobre 0 assunto é bastante escassa. Por isso, as idéias apresentadas aqui baseiam-se, em muito, na experiéacia pritica do autor como coordenador de monografia no Curso de Dieito da Universidade Federal de Santa Catarina e no acompanhamento do tema em outras universidades. 8 ‘erie BARRA esse prisma, ser considerados “cursos de Legislagio”, © niio “de Direito”? As reformas curriculares, apés a democratizacaio do pais, tentaram minorar esse tecnicismo, justamente por meio da exigéncia de maior densidade na formagio de cigncias humanas. A realidade, entretanto, imp&e varios fatores impeditives de uma maior valorizacio da for- magio interdisciplinar. Em primeiro lugar, as disciplinas correlatas sao oferecidas no inicio do curso de Direito, quando os alunos, em sua maioria sem experiéncia de curso superior, desdenham esses estudos, em prol de dis ciplinas técnico-juridicas. Em segundo lugar, essas disci plinas sio oferecidas por professores alheios a0 mundo juridico, muitas vezes de outros departamentos da mes- ma universidade, professores que tém dificuldade em ligar as disciplinas pela qual sio responsaveis (Es mia, Sociologia, etc.), com os problemas especificos do Direito. Em conseqiiéncia, perde-se excelente opor- tunidade de formagao do aluno e prepatagio na utili- zagio de métodos cientificos ou interdisciplinares na anilise de problemas jutidicos. Uma terceira dificuldade, para superar 0 tecnicismo, se refere A capacitagio docente. A observacio do con- junto de docentes das faculdades de Direito demonstra (sem que haja estatisticas definitivas) que esses docen- tes foram, em sua maioria, formados ao longo da dé- cada de 1970 ¢ até meados da década de 1980. Ou no- > Esta limitagdo foi claramente percebida por um observador cestzangeiro: “Bragilian legal education bas been overbelmingsy formalistic. Almost exclusive emphasis bas been placed upon elassical extgesis of the formal legal tzct, Little effort bas buen devoted to escamination of bow “particular rales function in practice. Legal study bat been focused on understanding rules of law: and bas ignored the conduct of the persons affected by these rule” Rosenn, 1984, p. 23. sored | A MONOGRAFIAJURIDICA 2 seja, a maior parte dos docentes dos cursos do pais foi influenciada pelo curriculo juridico mais tecnicista, ca~ racterfstico do final do regime militar. Uma pequena parcela desses docentes empreendeu estudos de pés- graduacao, que complementassem ou criticassem sua ptdptia formagio universitéria. Destarte, apenas pou- co provavel proceso coletivo de formagao, ou mais provavelmente a substituicZo natural desses docentes, € que dara espaco nas faculdades para uma nova men- talidade de ensino. Se 0 tecnicismo € uma heranga do regime militar com fortes raizes nas faculdades de Direito, pode-se apon- tar uma segunda caracteristica igualmente perniciosa para a consolidagio de uma tradicZo de pesquisa cien- tifica no diteito brasileiro. Trata-se do processo de mercantilizacao das faculdades privadas de Direito, que se multiplicaram ao longo dos ltimos anos, ofertando um mimero crescente de vagas. A metcantilizacao do ensino juridico implica — no que se refere 4 monografia— a impossibilidade de verificagio de um contetido cien- tifico valido. Em outras palavras, o mimero excessivo de alunos impede o atendimento pelos professores orientadores, ¢ ao mesmo tempo compromete a forma- so de bancas de avaliagao, que muitas vezes devem Jer dezenas de trabalhos por semestre. A conseqiiéncia € que a monografia se tora um requisito meramente formal, sem que qualquer das partes cnvolvidas (alu- nos, professores, instituigdo) lhe conceda maior se- riedade do que a de um incémodo requisito formal. Hii ainda uma dificuldade extra, especifica do conhe- cimento jutidico: a auséncia de uma tradiciio de pes- quisa juridica no Brasil. Essa auséncia pode ser explicada a partir da propria evolucio do ensino juridico, caracte- rizada pela valorizagio do bachatelismo sem a contra- 10 WELDER BARRAL partida do reconhecimento académico. Ou seja, no meio juridico, a graduacio em diteito representava status so- cial suficiente, garantia do tratamento de “doutor”, sem necessidade nem reconhecimento de maiores conquis- tas académicas. E sintomatico, nesse sentido, que os bacharéis em Direito no Brasil, apesar de seu enorme niimero, apresentem uma porcentagem reduzida de pés- graduados, quando comparados com outros ramos do conhecimento. Por isso, uma patcela considerével dos docentes sem- pre teve apenas 0 curso de graduagio, inexistindo dedi- cago ou incentivo 4 pesquisa académica. Esses do- centes acabam por reproduzir 0 conhecimento acritico ¢ tecnicista, mencionado anteriormente. Embora 0 qua- dro venha se modificando, impulsionado por exi- géncias do MEC, a mercantilizagio do ensino vem conseguindo impedir que a capacitacao didatica dos professores seja anterior A sua entrada em sala de aula. Esse quadro cria uma realidade bizarra: na maioria dos cursos de Diteito no pais, os professores orientadores de monografia nunca elaboraram, eles mesmos, uma monografia. Em sua maioria, desconhecem postulados cientificos e regras de avaliacio do trabalho realizado. O resultado é que acabam repetindo modelos equivo- cados (“uma citagio é pligio, varias citagdes é uma mo- nografia”) ou restringindo-se ao acabrunhamento da mediveridade Entretanto, a auséncia de pesquisa juridica no Brasil também pode ser explicada por outros fatores. Um de- les € 0 fetiche do argumento de autoridade, que pode ser ligado a tradicao tecnicista. Outra explicagao se refere tradigZo conceitual do bacharelismo, que valoriza 0 escolasticismo tomista (os fundamentalistas da natu- xeza juridica), € € incapaz de utilizar instrumental teé- AMONOGRAFIA JURIDICA vy rico das ciéncias humanas para produzir pesquisa juri- dica aplicada.'° Deve-se apontar ainda a deficiente for- magio metodolégica dos alunos ao longo do curso, a auséncia de disciplinas dedicadas 4 metodologia e a epis- temologia juridicas; tais disciplinas, quando existem, sio reduzidas 4 traumatizante repetigio das segras da ABNT, © pouco contribuem para a capacitacio discente na uti- lizacio ¢ critica dos métodos cientificos aplicados a0 conhecimento juridico. 3. A FAVOR DA MONOGRAFIA Com tantas dificuldades, por que insistir na exi cia da monografia no final do curso de Direito? Por que no reconhecer a incapacidade da maioria dos cursos em garantir trabalhos que possam ser caracterizados com minima dose de cientificidade? Uma tesposta simples ¢ direta seria: porque a ma qualidade ou falta de estrutura desses cursos nfo justi- fica rebaixar, ainda mais, o nivel do ensino juridico no Brasil. Porque a elaboracio de um trabalho cientifico constitui uma experiéncia didatica tinica, e — bem con- duzido — pode significar uma contribuigo original para © conhecimento juridico. Porque o fim da monografia representaria um raciocinio equivocado: afinal, se a es- cola ruim, deve-se melhorar a escola, e nao reduzir os padroes minimos de exigéncia. Cada uma dessas assertivas deve ser discutida e apro- fundada. Primeiro, quando se menciona “padzées mini: Cappelletti (1994, p. 135) identifica a origem desta tradigio conccitualista do ensino juridico, nos paises do Civil Law, no método de ensino adotado a partir da criagio da faculdade de dircito na Universidade de Bolonka, Rn HERE RARRAL mos de exigéncia”, deve-se recordar que a elaboracao de um trabalho cientifico é exigéncia cortiqueira nos demais cursos de graduacio no Brasil, ¢ nos cursos de Direito no exterior. Mais ainda, na medida em que se torna possivel 0 acesso direto de graduados aos cursos de doutorado, sem exigéncia de que hajam cursado anteriormente o mestrado, possibilita-se a existéncia de doutorandos em Direito que, se nfio houver 4 exigéncia da monografia," nunca terZio realizado um trabalho cientifico na vida. Outro argumento a favor da monografia se refere a seu valor didético, e & contribuic&o que pode represen tar para o Direito como ramo de conhecimento. Como técnica didatica, a monografia representa uma experién- cia valiosa para o aluno, em termos de formacio de uma consciéncia ctitica, dedicagao ¢ honestidade aca- démicas, uso de técnicas de pesquisa. Para a sociedade, o trabalho representa a revisio da literatura jé produzida e a possibilidade de uma contri- buic&o original para iluminar um determinado tema, ¢ eventualmente até uma f6rmula prescritiva para seu tratamento futuro. Alguns refutarao que um mimero muito pequeno de monogtafias poder materializar essa possivel contribuigio, até em razio da inexperiéncia de seus autores. Ora, a ciéncia no evolui as carreiras, € sempre serio necessitias, em qualquer ramo do conhe- cimento cientifico, longas horas de reflexo ¢ milhares de paginas cscritas, antes que sc alcance qualquer cvo- lugo cientifica digna desse nome. Assim, acreditamos que a exigéncia da monografia para a graduacio em Direito representa um fator rele- 1 Mantidas as atuais tendéncias na pés-graduagio no Brasil ¢ as atuais diretrizes da CAPES, seri possivel 0 acesso direto a0 doutorado apés 0 curso de graduagio, como no modelo europen, AMONOGRAFIA JURIDICA vante para a evolugo da pesquisa nesse ramo de conhe- cimento. A exigéncia poder ter reflexos positivos tanto na utilizagio de novos métodos de pesquisa, preparacio académica dos alunos e capacitagZo para estudos futu- ros. Embora constitua um lento proceso, a exigéncia tera efeitos relevantes na futura geracio de juristas. Ao mes- mo tempo, as pesquisas resultantes poderio representar ceiticas fandadas e contribuigées efetivas para a melhora do funcionamento da Justica € do sistema jutidico. A oposigao & monografia decorre de problemas admi- nistrativos € transitérios, inerentes a qualquer proceso de mudanga. A minoragiio desses problemas pode ser aleangada com alocacio de recursos humanos € mate- tiais para a condugio da pesquisa, a0 mesmo tempo em que se faz necessfria a urgente preparacio do quadro de docentes. De outro lado, é fato que as dificuldades enfrentadas pelos cursos de Direito nessa matéria parecem condu- zie & regulamentacao das monografias como atividade optativa de final de curso de graduacio. Se assim for, haverd a vantagem de somente os alunos realmente in- teressados em sua evolucio académica é que se inscre- vero para elaborar uma monografia. Para os demais, haverd a perda de uma excelente oportunidade de bus- car essa evolugio. 4. A ADMINISTRAGAO DA MONOGRAFIA: ALGUMAS SUGESTOES © Curso de Direito da UFSC implantou a exigéncia da monografia a partir do curticulo de 1992 (as primei- ras monografias foram defendidas em 1996). Ao longo desse perfodo, algumas mudancas regimentais foram rea- lizadas no sentido de adaptar a realidade a elaboragio do trabalho. Um fator positivo nesse sentido foi a cria- cao da Coordenadoria de Monografia, que regulamenta ¢ administra os aspectos praticos relacionados aos de- mais envolvidos no processo (professores € alunos). A essa Coordenadoria deve ser assegurado um grau de autonomia compativel, de forma que possa adaptar-se rapidamente as condigdes de cada semestre. Uma fangao relevante da Coordenadoria é de regula- mentar ¢ fiscalizar o papel do professor orientador. Uma ptemissa que deve ser difundida (embora muitas vezes resistida pelos professores mais tradicionais) refere-se 4 limitacdo do nimero de orientandos e do campo de pesquisa de cada orientador. E isso porque, de um lado, a multiplicidade de temas e a evolugao rapida do conhe- cimento jutidico impedem a continuidade da existén- cia do “clinico juridico geral”, com conhecimento su- perficial sobre todos os assuntos. Mais cfetivo, ¢ mais honesto, sera limitar a orientacio de cada professor a seu ramo especffico de conhecimento, normalmente a disciplina que leciona. Ao mesmo tempo, sera impra- ticavel para qualquer professor acompanhar e ler aten- tamente os trabalhos que orienta, se esses forem em mimero excessivo. A Coordenadoria deve atentar para que o limite de orientandos por professor seja respei- tado."? No que se refere ainda 4 qualificagio docente, a ne- cessidade de reciclagem dos otientadores tem-se mos- trado premente, em qualquer instituigio que adote a exigéncia da monografia. Conforme se observou, uma parcela consideravel dos professores de Direito nao tem qualificagao académica para a orientacio. E, mesmo entre aqueles que seguiram um curso de pés-gradua- 12 Na UFSC, este limite é de cinco orientandos por professor. sero _ AMONOGRAFTAJURIDICA 1s so, encontram-se poucos com conhecimentos apro- fundados de metodologia, ou com informagio sobre as modernas técnicas de pesquisa.!? ‘Uma sugestio para minorar esse problema, com alto grau de eficiéncia, é a realizacio de seminério (ou aorkshop) obrigatério para todos os professores do cur- so. Nesse encontro, que pode ser organizado com re- cursos humanos da prépria instituicio (com professo- xes de Biblioteconomia, bibliotecarios, coordenadores de monogtafia de outros cursos com maior experién- cia), deve-se discutit sobretudo as regras de apresenta~ 40 © métodos de avaliagio dos trabalhos de conclusio de curso." Os encontros exercem a relevante fancao de uniformizar esses critérios entre os professores do curso, evitando disparidades gritantes na administragio ¢ avaliagdo dos trabalhos. Ao mesmo tempo, os profes- sores poderio reproduzir para seus orientandos as réc- nicas mais modernas de pesquisa, transmitidas pelos especialistas da instituigao. Ao mesmo tempo, faz-se necessiria a promogio de evento similar com 0 corpo discente. Ha que se reco- nhecer que a disciplina de Metodologia Cientifica, in- cluida normalmente nos primeiros periodos do curso de Direito, contribui pouco para a elaboragio da mono- grafia de final do curso. E isso deve-se niio apenas a0 lapso temporal, de quatro anos, entre uma atividade outra, mas também a imaturidade intelectual dos alu- 33” A alusio aqui no € apenas as normas de apresentacio de trabalhos © novas regras da ABNT, mas também aos mecanismos de pesquisa por meio de bancos de dados ede recursos de informatica, ‘A sugestio é de que, neste encontro, os professores recebam 0 Regulamenco de Monografia do Curso, com as especificagoes necessérias, eas regras da ABNT que lhe sio apliciveis. Sobre o assunto, veja-se Oliveira (1999), nos nas primeiras fases ¢ a0 distanciamento entre as nicas genéricas de pesquisa € alguns aspectos especifi- cos da pesquisa juridica. Embora a solucio ideal para esse problema seja a incluso de uma disciplina préptia, isso nem sempre é possfvel, diante das pressdes de carga horéria para camprimento do currfculo minimo. Assim, sugere-se a promocio de, pelo menos, um seminitio obri- gatério de metodologia juridica também pata os alunos que iniciam a elaboragio da monografia. ‘Transposta essa primeira fase — de uniformizacio e esclarecimento interna corporis — 0 coordenador de mono- grafia poderi empreender uma segunda etapa, que se refere A participagao da comunidade juridica local nas bancas de avaliagio das monografias. O convite par ticipagao de profissionais (advogados, juizes ¢ demais operadores jutidicos) para a avaliagio do trabalho ser- ve: @) pata a socializagio do conhecimento produzido; Gi) para influenciar 0 meio juridico local, sobretudo quando o trabalho comporta uma anélise prescritiva; Gi) para submeter 4 uma avaliagao externa, com fortes componentes pragmiticos. Essa estratégia, entretanto, compotta seus riscos, uma vez que o aluno nao poderd ser prejudicado pelo even- tual despreparo académico de seus avaliadores. Nesse sentido, 0 cuidado deve ser no sentido de: (@) claborar um cadastro de profissionais que tenham curso de pés- graduagao; (b) convidar esses profissionais para atuar em bancas sobre temas de sua especializagio; (¢) infor- mar 0s membros convidados quanto aos critérios a se- rem seguidos na avaliagio do trabalho. ‘Ainda sobre a composicao da banca, sugere-se tam- bém 0 aproveitamento de docentes de outros departa- mentos, em areas correlatas. Esses docentes, normal- acerca mente ligados as ciéncias humanas, poderio realizar uma contribuigao relevante na andlise do trabalho.'® 5. A CONSTRUCAO DE UMA TRADICAO DE PESQUISA Preenchidas as condicdes administrativas para acom- panhamento da monografia, podem ser elaboradas ain- da algumas sugestdes, que se referem A tentativa de criar, na respectiva instituigio, uma tradicio de pes- quisa juridica. Como premissa, aceita-se que essa tradigo é uma construgio Ardua, dependente de longevo proceso de tentativa e erto, como ocorte com qualquer outro ramo. do conhecimento cientifico. Nessa éptica, nao se jus- tifica o desespero de alguns professores com a grande quantidade de material ruim, e praticamente inaprovei- tavel, que muitas vezes é denominado de monografia juridica. Evidentemente, a instituigio nao pode recompensar nem avalizar esse material. Nesse sentido, uma suges- to se refere a elaboragio de um modelo de ficha de avaliagéo, em forma de check-list, a sex previamente divulgada aos membros da banca e aos alunos do cur- so." Embota essa ficha nao elimine o carter subjetivo, que € inerente 4 avaliago de qualquer texto, ela serve Bvidentemente, este aproveitamento seri pouco factivel em temas ‘muito técnicos (p.ex., de Direito Processual). Sera recomendével, entretanto, a participagio de professores de Ciéncia Politica, Sociologia, Servico Social, Economia, c até de Medicina, na maioria das bancas de avaliagio. . Um modslo desta ficha (conforme utilizada na UFSC), encon- tase na tlkima parte deste livro. iB WELBER BARRAL como indicativo dos critérios bisicos que deverio ser preenchidos pelos autores. Outra sugestio se refere & necessidade de divulga- do dos trabalhos produzidos. Dessa forma, sugere-se que: (a) seja adotada a obrigatoriedade de depésito pelo aluno, apés a defesa, de vias encadernadas do trabalho, que deverio ficar disponiveis na biblioteca universita- tia; (b) seja divulgada entre os alunos uma listagem dos trabalhos jé aprovados, com indicagio de — pelo menos — autor, orientador e titulo; (¢) seja criada uma base de dados que possa ser consultada pelo publico extern — a inclusio no site da instituigio € uma forma répida e barata para essa base de dados."” Fissa sistemtica de ampla divulgacao apresenta uma série de vantagens. A primeira delas é revelar a socie- dade 0 tipo de conhecimento que esta sendo produzido nna instituicao. A segunda, demonstrar ao aluno que seu trabalho sera conhecido além dos limites da banca de avaliaglio. Uma terceira, ¢ pragmética, vantagem, € que a divulgacio cofbe o plagio, uma vez que o aluno sabe- x4 que seu trabalho seré posteriormente examinado pela comunidade académica. Ainda nesse sentido, importa valorizar os bons tra- balhos aptesentados. Isso pode ser feito com a publica- do dos melhores trabalhos pela prdptia institui¢io, ou indicagio para publicagio externa, ou ainda, incluso de verses condensadas na revista juridica do curso. Essa valorizagio serve também como conttibuigio aos curti- culos dos autores, para divulgar bons modelos de traba- Iho, € como incentivo aos demais alunos. A listagem das monografias do CCJ/UPSC encontra-se em: ‘Sheep: //werw.ecj.ufse.br>. ee 2 CIENCIA E CONHECIMENTO er 1, CARACTERISTICAS DO CONHECIMENTO CIENTIFICO ‘Tudo 0 que foi dito anteriormente est voltado a ela- boragio de um trabalho cientifico que produza conhe- cimento cientifico. Este capitulo se destina justamente a discutir estes termos, diferenciando-os de outras for- mas de comunicacio humana. A distingao primeira, e Sbvia, € entre conhecimento cientifico e ficc0. Um conto e um romance podem ser muito mais prazerosos leitura, mas no abrangem uma caracteristica fundamental do conhecimento cientifico, que deve ser a base sobre a realidade. Isso niio quer dizer que a ficgio no possa ser objeto de estudo cientifico, mesmo em Direito. Pode-se imagi- nar isso numa tese sobre Os fundamentos do Direito Romano na obra de Plutarco, numa monografia a res- peito de os principios do Direito Medieval na ficgio de J.R. Tolkien ou na dissertagio O Direito de Fami- lia em Machado de Assis. Outra distingZo sempre lembrada é entre conheci- mento cientifico religiio. A base da ciéncia é a da verificabilidade de seus enunciados, 0 que nao é possi- vel quanto 4 religiio, que se baseia em dogmas de fé. Ao contratio da cortelagio possivel entre ciéncia e ficcdo, a combinacao entre ciéncia e religiio tem pou- cas possibilidades de ser implementada, E isso porque a distingao aqui nao é apenas no que se refere & visio da realidade, mas a propria validade da realidade, a par- tir de duas linguagens totalmente distintas: enquanto uma se baseia em enunciados extraidos de andlise fatica, a outra esté construida sobre enunciados inquestio- niveis ¢ indemonstraveis. Em regra, as tentativas de mesclar o conhecimento cientifico ¢ 0 religioso sempre trazem resultados insatisfatérios para ambos. Os exem- plos nao sio poucos: a quase torrefacio de Galileu Galilei, quando ousou afirmar que a Terra nio era o centro do universo; a medig&o por Carbono 14 do Santo Sudatio (que demonstrou que datava da Idade Média); a hipétese de que a Revelacao de Fatima foi arquitetada pela ditadura de Salazar, em Portugal. Nesses ¢ em varios outros casos, a andlise cientifica dos fenémenos religio- sos apenas produziu frustragGes ¢ intolerancia. Outra distingdo, também importante, que deve ser realizada é entre conhecimento e informagio. Essa dis- tingiio parece no ser percebida por alguns autores, al- guns até respeitados, ¢ que atulham suas obras de dados interminaveis ¢ imiteis. Isso — esse conjunto de dados — € apenas informacio. O conhecimento, por sua vez, pressupde a organizagio dessa informacio, buscando torné-la apta a produzir determinado resultado, de modo a darlhe serventia na formulagio ¢ demonstragio de uma determinada hipétese. © mundo contemporineo tornou-se 4gil em produ- zir informacio. A tecnologia da informagio revolucio- nou as relagdes humanas, ¢ minimizou a relevincia do espago. Mas juntar dados infinitos pode ser o trabalho de um computador, nfo é necessitio um curso superior ‘nem mesmo um ser humano para essa colheita de no- ticias. Alids, um capitulo posterior deste livro se dedica justamente a facilitar 0 acesso informagio pelo pes- (CBNCIA BcONBCMAENTO 2 quisador. Mas conhecimento supera a mera coleta de informagio. No caso do conhecimento cientifico, pres- supée sua organizacio, sistematizagio, critica e andlise de validade. E isso porque se pode falar também em outros tipos de conhecimento, como o conhecimento popular e 0 conhecimento técnico. Facamos essa distingao, que — embora seja criticada por muitos como sendo clitista — tem enorme relevancia didética. © conhecimento popular se caracteriza por: (a) falta de sistematizacio; (b) alheamento quanto as causas do fenémeno; (c) transmissio geralmente pela tra , a partir da expetiéncia subjetiva; (d) despreocupacio em verificar a falibilidade do conhecimento. Assim, por exemplo, quando sua tia-avé Ihe dé mamio para a pri- sfio-de-ventre, a eficicia do ato relaciona-se 20 conhe- cimento popular que cla carrega, ¢ no a seus estudos sobre as propriedades terapéuticas da Carica papaya. Quanto ao conhecimento técnico, esse pode ser ca- racterizado por (a) grau médio de sistematizagio; (b) preocupacio imediata em resolver problemas (pragma- tismo); (¢) carater acritico; () geralmente relacionado com capacitagao profissional. Assim, © contabilista que organiza © pagamento de seus tributos, buscando evi- tar que vocé empobrega diante da voracidade fiscal; ou © advogado que tedige uma peticao, para tentar con- vencer © juiz de que seu miserando cliente banquciro no pode pagar pensio 4 ex-mulher; sio exemplos de utilizagio de conhecimento técnico, que os capacita a organizar as informacées obtidas. E 0 conhecimento cientifico? Para distingui-lo do conhecimento popular ¢ do técnico, pode-se dizer que ‘© conhecimento cientifico traz como caracteristicas: (a) sistematizaco de produgio e de transmissio; (b) veri- ficabilidade; (©) validade contingente; (d) antidogma- tismo; (¢) racionalidade; ¢ (f) faticidade. Cada uma dessas caracteristicas merece ser discuti- da. Em primeiro lugar, o conhecimento cientifico é sis- tematico. Ou seja, para ser produzido, deve basear-se num método aceito pela comunidade cientifica, e ser passivel de transmissio e difusio através de meios re- gulares de registro. Assim, seré conhecimento cientifi- Co a tentativa de construcio de um modelo tedrico so- bre 0 grau de reincidéncia criminal, a partir da an: dos processos da 1*, Vara de Execucdes Penais de Sao Paulo, expresso posteriormente num relatério de pes~ quisa. Mas nao ha nada de cientifico na previsio astro- légica dos crimes em 2020, que sera transmitido por telepatia aos juizes locais. se Em segundo lugar, o conhecimento cientifico deve ser verificavel. Em outras palavras, 0 enunciado afir- mado pelo cientista deve se confirmar, se aplicado a outra situagio nas mesmas condigdes. Para que o enun- ciado “a agua ferve a 100° a0 nivel do mar” seja cienti- ficamente valido, a experiéncia deve se repetir em qual- quer situagio semelhante. O mesmo deve ocorrer em enunciados claborados em temas de ciéncias sociais: 0 pesquisador deve indicar as condigdes para que o enun- ciado seja vilido, apontando também as principais ca- racteristicas ¢ excecdes. Eo que se denomina de “con- digdes normais de temperatura e pressio” em Quimica ou de ceteris paribus em Economia. ‘Ainda assim, diz-se ser contingente o conhecimen- to cientifico. A contingéncia aqui esté justamente rela~ cionada com a modificacio das condigdes estruturais em que 0 enunciado foi validado, o que é profunda- mente relevante nas pesquisas em Ciéncias Sociais em geral. Um exemplo hist6rico ilustraré tal contingéncia civcaaroonmmemmnro 8 do conhecimento cientifico: alguns séculos antes de Cristo, Polomen, a partit da observacao da sombra em diferentes cidades, calculou a distincia da curvatura da Terra, Naquelas condi¢des histéricas, e sem qual- quer aparato técnico, o astrénomo asseverou que: a Tetra era redonda, e tinha X mil quilémetros de curvatura. Esse enunciado foi vélido por muito tempo, até que a evolucao cientifica e dos transportes provou que a Ter- ra é, na realidade, achatada nos pélos, € por isso os célculos de Ptolomeu eram excessivos. Mas seu enunciado era falso? Nao. Era falseével, ou seja, valido como enunciado cientifico num determi- nado momento histérico, contingente porque dependia da evolucio cientifica e dos métodos de verificagio disposigio do cientista. Outros exemplos podem ser enumerados. O niimero de particulas que compéem o 4tomo, por exemplo. Por muito tempo, a crenga era de que o tomo se compu- nha de prétons, elétrons e néutrons. Sobre esse enuncia- do, houve enorme evolugio técnica, inclusive com a construgio de armas e energia atémicas. Mais recente- mente, 2 evolugio cientifica comprovou a existéncia de outras particulas, 0 que levou a afirmar a falseabi- lidade ~ € nfo a falsidade — do enunciado anterior. A contingéncia do conhecimento cientifico também pode ser percebida nas Ciéncias Sociais ¢ no Direito. “Yome-se por exemplo a obra de Lombroso, o autor italia- no que enunciava © caréter criminoso a partir de tracos fisicos. Posteriormente, demonstrou-se que os enuncia- dos nfo eram verificéveis, diante do nimero de exce- ges as descrigdes de Lombtoso. Mas seu trabalho foi importante, na Hist6ria do Direito Penal, para a com- pteensio posterior dos distitbios psicolégicos para a inimputabilidade penal (se bem que, olhando alguns de nossos parlamentares, pode ser que Lombroso tivesse alguma razio). ‘A nogiio da contingéncia ¢ da falseabilidade do conhe- cimento cientifico é uma evolugio recente da Episte- mologia. Antetiormente, 0 Iuminismo acteditava em Icis imutaveis da natureza, cabendo ao cientista “des- cobrir” tais leis. Hoje, cré-se que a construgio de enun- ciados cientificos é uma tarefa interminavel, que se sustenta sobre a validade temporal da aceitabilidade pela comunidade cientifica. Dai o fato de alguns inclu- sive discordarem da “evolugio” na ciéncia, pois existi- ria somente a “validaclio de novos enunciados que po- dem ser futuramente falseados”. Sem ingressar em polémicas epistemolégicas, fale- mos de outra caracteristica do conhecimento cientifi- co, 0 antidogmatismo. Ou seja, o enunciado cientifico deve ser sempre questionado, uma vez que ele pode ser geneticamente falseavel (ug., a teoria lombrosiana) ou ser falseavel em situacdes particulares (ug., a velocida- de da luz é alterfvel no vacuo). Além de antidogmético, 0 conhecimento cientifico deve ser racional, no sentido de haver coeréncia entre 0s ptessupostos admitidos pelo pesquisador e os enun- ciados que ele construir. Ou seja, o trabalho deve levar racionalmente @ conclusio apresentada. Caso contra- rio, faltar-lhe-4 esse requisito de racionalidade, mere- cendo 0 catimbo de inepto, pois “da narzacio dos fatos no decorre logicamente a conclusio.”! Por fim, 0 conhecimento cientifico deve ter uma base fatica. Isso nio quer dizer que ele deva ser sempre empitico, nem que deva se basear sobre estudos de caso. Deve ser fitico no sentido de ser demonstravel a partir © Ciiigo de Procsso Civil, at. 295, parigeafo tinico, 1, cornea ENC Rcontmen ETO 25 de métodos aceitéveis pela comunidade cientifica. Isto é, mesmo que se trate de um trabalho tedrico a respeito de O Conceito de Sociedade Civil na Obra de Kant, 0 método aceitavel serd o exame da bibliografia e ou- tras fontes sobre 0 assunto, que serio indicadas se- gundo regras pré-estabelecidas, e que poderio ser con- firmadas por outro pesquisador, mas nao sera fatica a recordacio de uma conversa amiga com Kant, numa regressio a vidas passadas. De tudo 0 que se disse, hé ainda que se observar que ninguém é cientista por todas as horas do dia. Imagine © quotidiano de Luis Borborema, um imaginario quintanista de Direito: ele desperta pela manhi, e vai a missa das sete; de 14 ao estigio, onde redige algumas peticdes; @ tarde, tem suas aulas; ao entardecer, pes- quisa para sua monografia e, num intervalo do café, observa um vOo de andorinhas, e se recorda do avd, que sempre dizia que isso prenunciava temporal. Parou 4s dez da noite, porque estava cansado e também para assistir na televisio a mais uma tragicomédia com a Selegio Brasileira de futebol. Nesse quotidiano, Luis vivenciou tanto a experiéncia religiosa (a missa), exer- ceu seu conhecimento técnico (petigées), recordou co- nhecimento popular (premtincio do temporal), ¢ se de- dicou ao trabalho cientifico (a pesquisa da monografia). Nessa ultima, devem-se relevar as caracteristicas de cientificidade; na redacio de peticao, o que se espera é competéncia técnica; no mais, nfo se exige dele que seja nem tedlogo, nem meteorologista. E que tipo de conhecimento é utilizado ao assistir A Selegao Brasilei- ra? Aqui ha divergéncia entre aqueles que asseveram ser uma atividade técnica — pois todo brasileiro seria um estrategista nato — ou uma atividade religiosa — pois continuar acreditando em nossa Selecio parece cada vex mais uma questio de fé. wo SWELBER BARRA 2. A POSTURA DO PESQUISADOR, Do que se disse anteriormente sobre conhecimento cientifico, pode-se estabelecer, de forma cortelata, a postura que se espera do pesquisador, Ou seja, as re- gras de comportamento que devem guiar aquele que se dedica a uma pesquisa cientifica. A primeira dessas caracteristicas seri a organizagao e disciplina. Nao se produz ciéncia com lampejos de genialidade. Relatos como os da magi de Newton tém muito de lendério, e de qualquer forma tepresentam apenas a culminincia de longo periodo de reflexio. Daf dizer-se que a ciéncia, ao contrério da arte, baseia-se em 1% de inspiracio e 99% de transpiragaio. Dai a ne- cessidade de preparacio, planejamento, horatios, rotina, dedicagao — ao invés de esperar que a musa apareca. Convenga-se de que a musa é também um personagem lendatio, que ela no substituir’ a disciplina. Da mesma forma, a organizacio do trabalho reali- zado, de arquivos e documentos. Afinal, o trabalho cientifico deve transmitir o conhecimento produzido, de forma sistemética. Ainda existe uma imagem ro- mintica do pesquisador em Ciéncias Sociais, imagi- nado num quarto enfumagado de cigarro, com papéis, pelo chio e colados 4 parede, acostado num sofa com cara de aborrecido, refletindo sobre as genialidades revolucionarias que cscrevera (talver Sartre tenha per- petuado essa imagem). Pois bem, prepare-se para as més noticias: cigatro provoca cncer, sofa da problemas na coluna, carranquice traz rugas, e ciéncia no se faz sem organizacio. 'A segunda postura que se espera do pesquisador é 0 interesse pela prova, a demonstragio de como se pro- duziu aquele conhecimento ¢ de como ele pode ser verificavel. Essa postura se relaciona inclusive ao cara- ter de faticidade da ciéncia. Espera-se portanto 0 senso de realidade, o fandamento de cada argumento apre- sentado no trabalho. Essa postura € bastante ausente em algumas pesquisas juridicas, na qual prevalece 0 “achismo”, a opiniio sem fundamento nem explicagio daquele autor, que muitas vezes se acredita inspirado por iluminagao divina. Da mesma forma, o pesquisa- dor deve ser avesso a todos os dogmas: em ciéncia, todo enunciado é perquirivel, toda tradicaio deve ser arrosta- da, todo conhecimento é questiondvel. E como isso nos falta na area de Direitol O carater formalista do meio juridico, o apego a tradi- Ges situalisticas, 0 conservadorismo intelectual, sio ca racteristicas que criam dogmas, e que permitem a perpe- tuagio de assertivas inquestionadas sobre a natureza do conhecimento na matéria. Observe como este caréter formalista se manifesta no texto dos juristas, na remis- siio As vezes initil a tribunos mortos em realidade social distinta, na propria mengZo a “doutrina” (uma palavra de sentido quase religioso) enquanto outras areas de co- nhecimento se referem 4 “literatura sobre o tema”. Tais caracteristicas acabam por vituperar outra pos- tura que se espera do pesquisador, o espirito critico. Com efeito, se 0 conhecimento anterior nio pudesse ser questionado, ainda estariamos acreditando viver num planeta quadrado no centro do universo, ou julgando os animais pelos crimes que cometessem. O espirito critico se manifesta na autonomia intelectual, na per- sistente busca de novas idéias ¢ abordagens sobre o tema, na aversfo 4 subserviéncia intelectual. Como se disse acima, na capacidade de questionar os dogmas. Mas ao lado dessa postura, devem-se indicar outras, diretamente relacionadas com a prépria ética do pes- 28 yen nARRAL _ quisador. A primeira delas € a honestidade intelec- tual, manifestada sobretudo pelo reconhecimento dos prdprios limites e pelo reconhecimento do trabalho alheio. Essa postura é necessitia a0 longo de todo o trabalho, ¢ revela-se no quotidiano da pesquisa: na re- lago com colegas, nas referéncias as idéias alheias, na limitagao exeqiivel do objeto pesquisado, na utiliza io de fontes que tenham sido efetivamente consulta das, no tratamento adequado dos dados obtidos. Quem desdenha essas regras € desonesto com a comunidade cientifica ¢ consigo mesmo, submete-se a0 risco do des- crédito e perde a oportunidade de auto-aperfeicoar-se. A honestidade deve acompanhar também a humil- dade intelectual. O cientista deve, antes de tudo, re- conhecer que a contribuigao que pode dar aquela érea de conhecimento € mintiscula, embora televante, ¢ que valeré num determinado contexto histético, justamen- te em raz de sua contingéncia. No futuro, provavel- mente se demonstrar4 que o enunciado era falsedvel, mas o nome do pesquisador continuaré a ser respeitado como alguém que contribuiu efetivamente para aquela evolugio, Parafraseando Chaplin, “cientistas, no séis deuses; homens é que séis”. Daf a necesséria humil- dade, a caracteristica essencial de saber reconhecer er- ros, saber mudar de idéia, saber considerar outros argu- mentos para rever o enunciado. Dai também serem tio pemiciosos 4 ciéncia aqueles que se apegam a imutabili- dade dos enunciados que criaram. Contudo ~ a ressalva importante — humildade niio significa autocomiseracio. Ao contratio, 0 cientista deve ter orgulhe de seu trabalho, deve defendé-lo, sem arro- gincia mas consciente da honestidade de sua pesquisa. ‘Nada ha pior que aquelas ctiaturas auto-piedosas que iniciam sua monografia dizendo que “esta é uma pe- Goéncia conBCNEENTO 29 quena contribuigao, coitadinho de mim, no tenho muita condigao intelectual para esgotar o tema.” Ora, entio no deveria sequer ter apresentado a monografia. Ao ver coisas assim, 0 impeto de todo avaliador é inter- romper a leitura, reprovar seu autor logo na introducio, € mandé-lo a0 infcio da faculdade, a ver se aprende 20 menos a ter orgulho do trabalho que fizer. Pot fim, espeta-se do pesquisador uma constante postura ética em relaclo aos procedimentos e resulta- dos alcangados. Aqui nfo nos referimos apenas & ho- nestidade intelectual, mas também a0 compromisso com a comunidade cientifica e com a sociedade. Exemplos disso esto no impedimento em divulgar dados obtidos confidencialmente, ou de nomes de partes em proces- sos sob segredo de justiga. Um exemplo em sentido contrétio j ocorreu na UFSC: uma aluna elaborou ex- celente trabalho, demonstrando que a norma ambiental especifica era elidida por uma grande empresa, de cuja diretoria era membro um dirigente publico. Apés a de- fesa, a aluna cofretamente encaminhou o trabalho 20 Ministério Pablico. 3. A CONSTRUGAO DE UMA TEORIA © trabalho cientifico culmina com a elaboracio de um enunciado, ou seja, uma afirmacio, metodologi- camente demonstrada, que se aplica a determinado objeto de anilise. O enunciado baseia-se numa teoria © leva A construgio de outra teoria, entendida aqui com © significado de afirmagio explicativa de um dado fe- némeno. Obviamente, o fenémeno pode ser compreendido de formas distintas, e dai a existéncia de varias teorias. Assim, existem teorias econémicas distintas pata expli- car as causas da inflagao; existem diversas teorias psi- colégicas que busca explicar a aversiio humana ao conflito; existem teorias ctiminolégicas sobte 0 efeito do aumento de pena no indice de criminalidade. ‘Talvez. esas teorias sejam todas vilidas (no sentindo de demonstriveis), mas dentro de condigdes estruturais ou sociais distintas. A tarefa do pesquisador sera a de cons- truir um modelo teérico, buscando incluir os elementos fundamentais que lhe garantam validade, ou de testar a validade de um modelo teérico previamente construido, buscando demonstrar suas excegGes ou omissées. Quando se fala em modelo tedrico, alguns juristas comesam a ter faniquitos: “nfo Ihes apetece a teoria, sao seres praticos, mais preocupados com o Direito do foro”. Para esses iludidos, algumas palavras gentis sio reservadas. Em primeiro lugar, j4 foi apresentada, neste livro, uma distingGo entre © trabalho técnico, relaciona- do a pratica judiciéria, e o trabalho cientifico, mais preo- cupado com a compreensio, construgio e transmissio do conhecimento. Em segundo lugar, o pesquisador que se diz eminentemente pritico ignora o fato de que toda pragmitica contém inexoravelmente uma teoria, que Ihe serve de fundamento e explicacio. Por isso, quando dizemos menosprezar a teoria em favor da pritica, 0 que em realidade fazemos € rechagar as teorias explicitas. que podem ser analisadas e debati- das, e preferindo as teorias implicitas, que no nos obrigam a manter um pensamento coerente, nem ‘nos sujcitam as exiticas de terceiros? O que se pode fazer é uma classificagao entre a cién- cia bisica e ciéncia aplicada. No primeiro caso, estaria 2 Guibourg, 1995, p. 2 CHENCA B CONEECIMETO. 31 a constru¢ao de modelos teéricos em abstrato, sem a preocupacio de que possam ter uma utilizacio imedia- ta, embora sirvam a compreender a totalidade do fend- meno. E 0 caso da Fisica Quantica ou da Matematica Pura. Na segunda classificagdo, estariam as pesquisas cientificas direcionadas a0 exame imediato da validade do modelo teérico em situagdes particulares, como € 0 caso das pesquisas em Biologia terapéutica ou de En- genharia. Essa classificagio, muitas vezes criticada, é mais visi- vel nas 4reas de Ciéncias Exatas. E isso porque as Cién- cias Sociais abrangem determinadas particularidades, que tomam mais complexo 0 procedimento da pesquisa, ¢ que devem ser reconhecidas pelo cientista social. A primeira dessas particularidades € que, ao contra- tio do bidlogo que examina uma ameba ou do astréno- mo que observa Andrémeda, o cientista social faz. par- te do objeto pesquisado. A pesquisa, por isso, reflete, as vezes inconscientemente, muito de seus valores, de seus interesses. Uma segunda particularidade é a dificuldade em classificar a pesquisa social em basica ou aplicada. Por vezes, trabalhos predominantemente te6ricos ganham repercussio inesperada, extravasam 0 campo de sua apli- cagio e influenciam a criaco de novos enunciados. Cita-se, como exemplo, a teoria evolucionista de Darwin. Sua pesquisa se concentrou na evolugio bio- légica das espécies, a partir do que elaborou seus enun- ciados. Entretanto, tais idéias influenciaram muitos economistas do século XIX, ¢ parcela consideravel das obras do liberalismo econémico partia de enunciados darwinistas, malgrado a impertinéncia contextual. Mais ainda, o impacto das idéias e enunciados cien- tificos pode inclusive escapar ao intento de seu autor, ¢ ASSOCi OBJETIVO DE] ENSINO SUPERIOR-ASSOBES BIBLIOTEC Aiheconcansr0 32 wen anna trazer resultados indesejados. Ocorreu com Einstein, um pacifista, quando seus modelos de fisica foram utili- zados na construgio da bomba atémica; com Gobineau, cujos estudos anatémicos serviram as ideologias racis- tas; com Kelsen, cuja Teoria Pura do Direito foi apro- ptiada como justificagio teérica para o totalitariemo. ‘Tais fatores devem ser considerados pelo pesquisa- dor, ao refletir sobre o conhecimento cientifico que pre- tende ctiar. Observa-se, contudo, que nfo h4 pesquisa va. O tempo despendido em pesquisar, por mais abs- trato que seja o tema, serve no minimo para aprimorar a capacidade intelectual do pesquisador. Na melhor das hipéteses, servird também para contribuir para aquela frea de conhecimento, e quic4 modifici-la. Assim, uma teotia é util “quando ajuda a compreender corretamen- te 0 passado ¢ © presente, a reduzir as incertezas do futuro ou a escolher caminhos que nao sao fundamen- talmente contraditados pelos fatos.”? Nota-se, porém, que, mesmo em ciéncias sociais, uma teotia nao deve obrigatoriamente ter uma utilidade ime- diata, Uma tese sobre A posse no Direito Romano dificilmente influenciaré as decisé6es do Senado Fede- ral, mas esse trabalho pode ter enorme relevancia para a compreenstio do passado e pata a formagio intelec- tual de seu autor. Reconhece-se também a existéncia de trabalhos ino- -vadores, que se poderiam denominar de metacientificos, © que questionam as préprias bases epistemol6gicas da ciéncia contempordnea: é 0 que ocorre por exemplo com. tabalhos sobre holismo ou sobre psicandlise. Sem ques- tionar a seriedade desses trabalhos, pode-se entretanto notar que eles abrangem dois graus de dificuldade. Em > Odell, 2000, p. 9. primeiro lugar, sua metodologia € tio inovadora que inexistem critérios aceitos pela comunidade cientifica para avalizar sua validade (afinal, eles questionam jus- tamente a possibilidade de existéncia desses critérios). Uma segunda dificuldade é que esses trabalhos no sio compreendidos, ou sic compreendidos por uma paré- quia de iniciados, ¢ por isso seu impacto na comunida- de cientifica é bastante pifio. Ainda sobre © tema da utilidade da teoria, podem-se fazer algumas observagbes especificas sobre as publica- oes na rea de Direito, 0 que ilustraria 0 que foi dito anteriormente. Destarte, um quadro didatico, abrangen- do trés niveis de conhecimento juridico, seria o seguinte: CONCEITO | DEFINIGAO | EXEMPLO conhecimento destinado a infor- | manuais,coletineas técnico mar; sistematiza- | de jurisprudéncia, do, mas acritico; | comentarios dele, sem profundida- | conjuntos de mo- de teérica delos conhecimento | buscaconstruirou | monografias (Jato cientifico validar um enun- | sensi), teses, relat6- ciado a partir de | rios de pesquisa metodologia cien- tifica fconhecimento | questionam ava | teses, trabalhos metacientifico | lidade dos enun- | interdisciplinares ciados cientificos atualmente aceitos Quadro I — Niveis de conhecimento juridico A classificagio do quadro, bastante singela, preten- de demonstrar o seguinte: (a) parcela considerével das publicacées juridicas no Brasil tém cardter técnico, des- tinam-se a informar e a facilitar 0 quotidiano; (b) nao se faz aqui uma critica aos trabalhos técnicos, cles tém sua utilidade e seu objetivo, mas no se pode imaginar que sejam trabalhos cientificos; (6) tampouco se critica os trabalhos metacientificos, que detém relevancia como forma de inovagio de conceitos; entretanto, sua compreensio e seu impacto na comunidade cientifica so bastante reduzidos. 3 A ESCOLHA DO TEMA << 1. OTEMAJURIDICO Uma vez discutidos os princfpios basilares da pes quisa cientifica, ingressamos numa questio mais prag- mitica: a da escolha de um tema para a pesquisa. Este capitulo aborda os principais critérios no momento de escolher © tema, considerando as exigéncias académi- cas, a situacio de seu autor ¢ as dificuldades priticas que podem ocorrer. “Antes, entretanto, deve-se dedicar algumas linhas 203, clementos caracterizadores de um trabalho juridico. Por redundante que seja a frase, do graduando ou pés-gra- duando em Direito, o que se espera é um trabalho juri- dico. A obviedade nos leva a perguntar, contudo, o que caracterizaria um trabalho como sendo “juridico”. Desse angulo, a frase nao parece tio ébvia. E por uma tazio simples: a enorme dificuldade em se concei- tuar 0 que seja 0 Direito. A resposta (novamente) Sb- via sera que “o Direito é um conjunto de normas”. Essa definigfo nao é apenas um lugar-comum, mas também equivocada, A reducio do fenédmeno juridico 4 norma faz parte do senso comum tedrico dos jutistas, ou seja, “as condicées implicitas de producio, citculagZo e con- sumo das verdades nas diferentes priticas de enunciagio ¢ escritura do Direito”" + Warat, 1994, p. 13. 36. wEsneK BARRAL Esse reducionismo faz também com que a maioria das pesquisas na 4rea de Direito se concentrem em sua definigio normativa. Em outras palavras, os debates se concentram na relagfo entre as normas, em ques- tées de inconstitucionalidade, validade formal, etc. Nao que essas pesquisas sejam imiteis, clas so sim traba- thos cientificos. Mas o pesquisador deve reconhecer que seu trabalho estard centrado na definigao normativa do Direito, e que a metodologia utilizada sera a pesquisa bibliogrifica. Kelsen, muitas vezes citado e poucas ve- zes compreendido, é um exemplo do reconhecimento expresso da restri¢o 4 andlise normativa do Direito” © que se pretende dizer aqui é que um trabalho cien- tifico na area de Direito pode ser fundamentado em outro conceito do fendmeno juridico, além da manifes- tacio normativa. Afinal, Direito no é um conceito univoco, e sim anélogo. Para ilustrar tais idéias, vale recordar a ligo, sim- ples mas didatica, de Franco Montoro, a propésito do conceito de Direito.? Etimologicamente, 0 conceito de Direito vem tanto do que € correto (rectum) como do que € justo (jus). Isso pode levar @ utilizago de um tetmo que concomitantemente significa: (a) norma; (b) justiga; (c) fato social; (d) direito subjetivo; (¢) discipli- na de estudo. O conceito vinculado justiga induz a anilise & Filosofia do Direito; 0 Direito como fato social sera estudado pela Histéria do Dircito, pela Sociologia do Direito, pela Andlise Econémica do Dircito; como diteito subjetivo, sera o anverso da norma garantidora de privilégios individuais, e estudado a partir da verifi- cago pragmitica da eficicia normativa; como discipli- 2 Kelsen, 1985, p. 30. 2 Montoro, 1993, p. 33-41 — | i k f E na, o Direito sera estudado pela Metodologia Juridica ¢ péla Metodologia do Ensino. E dai? Bem, 0 enfoque ao qual se dirija o tema deter- minara também a metodologia aplicdvel 4 pesquisa. Conforme se asseverou, a maior parcela da pesquisa juridica é dedicada 4 andlise normativa, baseada quase que exclusivamente em pesquisa bibliografica. Isso no seré possivel se 0 conceito central adotado nao for nor- mativo. Assim, uma pesquisa do Direito como fato so- cial pode implicar em pesquisa de campo, em uso de questionarios e estatisticas. Um trabalho sobre o ensi- no do Direito ~ ng, A capacidade cognitiva do estu- dante de Direito a partir do uso de casos em Direito Penal — ou sobre criminologia — como A validade do exame de balistica para qualificago do crime de homicidio — pode depender de pesquisa de laboratério. Apesar da ampla admissibilidade de estudos interdis- ciplinares como fator positivo para a evolugio do conhe- cimento da rea, deve-se advertir que o tema escolhido deve envolver um fenédmeno juridico. Nao se quer di- zer com isso que um trabalho de Filosofia ou de Psico- Jogia realizados por um jurista no possam ser excelen- tes, mas, sim, que existe uma exigéncia formal de que 0 tema seja direcionado a um problema juridico. E dentro de um problema jusidico, deve-se identifi- car de que “direito” estamos falando. Contra um argu- mento de inconstitucionalidade niio se pode apresentar um argumento de justiga ou de fato social. Essa linha de raciocinio leva, conforme se veré adiante, a uma fa- Vicia da argumentacio. CRITERIOS PARA O TEMA E que critérios devem ser considerados pata a esco- Iha do tema? O primeiro deles € que o tema deve set 38 swe BAR a tGo especifico quanto possivel. O autor do tema deve ser, nas palavras de Umberto Eco, “a maior autotidade viva sobre © assunto.”* Esse é um ponto sobre o qual os autores de metodo- logia sempre insistem, ¢ que se adota aqui como critério primeiro a set observado pelo pesquisador. Essa insis- téncia tem sua razio. Um tema mal delimitado eliminar4 qualquer possibilidade de conttibuicio inovadora 4 4rea de conhecimento. Com um tema muito amplo, o pes- quisador fara, no maximo, a revistio bibliografica do tema, ou seja, um “fichamentio”: uma listagem abor- recida de “fulano disse, beltrano falou” que nao trara novidade matéria, nem desenvolvera qualquer habili- dade intelectual do pesquisador (além da capacidade de utilizar as teclas copiar-colar do processador de texto). Outras razes praticas aconselham também a maior delimitacao do tema. Um tema amplo possibilita maio- res omiss6es, seja quanto A revistio bibliografica, seja sobre os problemas relacionados ao fendmeno que no foram analisados. Um tema especifico dara mais segu- ranca ao pesquisador, que conhecer4 todas as facetas do problema. E,— sejamos sinceros e pragméticos — um tema bem delimitado, que possa ser esgotado pelo pes- quisador, sera muito mais facilmente defensével peran- te uma banca examinadora. A banca ideal é aquela que sabe menos do tema do que 0 avaliando. Além de especifico, o tema escolhido também deve ser acessfvel. Em outras palavras, as fontes devem ser manejiveis pelo pesquisador. Pode ser que as fontes nao estejam disponiveis, por uma determinada situa- Go administrativa: Alguém que se disponha, por exem- plo, a realizar uma pesquisa sobre As negociagdes + Beo, 1995, p. 34. fronteirigas realizadas pelo Brasil no século XIX cevta- mente escolheu um tema nfo acessivel, pois tal docu- mentagao é confidencial ainda hoje. Em situacio igualmente dificil estara quem pretender realizar uma pesquisa sobre processo em segredo de justica. ‘Ao mesmo tempo, o tema dever ser acessivel 4 con- digio particular do pesquisador. Imagine que nosso co- lega Lufs Borborema resolva fazer uma pesquisa origi- nal, sobre O Direito de Familia entre os ianomamis. Um tema sobre 0 qual nfo hé literatura disponivel, ¢ para o qual se exige evidentemente trabalho de campo. ‘Ter, nosso gabola pesquisador, disponibilidade para permanecer seis meses numa reserva indigena? Conhece cle os principios para pesquisa antropolégica? Fala iano- mimi? Diante da negativa a essas condicées, o tema € obviamente inacessivel. ‘A questo de conhecimento do idioma estrangeiro, em alguns casos, é essencial para permitir a escolha do tema. Ha algum tempo, um aluno encasquetou em reali- zar um trabalho sobre © novo cédigo civil htingaro. Seu Projeto era no minimo original: demonstrar que a parte de contratos no direito htingaro enfrentou diversos pro- lemas decorrentes da transicao para o capitalismo. Ao final, 0 projeto indicava como tais premissas poderiam se tepetir no novo cédigo civil brasileiro. A idéia era sem duvida interessante. O problema era que 0 aluno nao falava nada de hingaro (um idioma impenetrivel) € so- mente tinha um artigo em inglés sobre o assunto. Ora, 0 tema nio lhe seria acessfvel, pois nao tetia acesso as fon- tes primarias e mais importantes sobre o problema. Isso nao quer dizer que sempre se deve saber idio- mas estrangeiros para realizar uma pesquisa sétia, e sim que esse conhecimento dependera do tema escolhido. Como regras, podem-se dizer que: (a) no se pode fazer uma pesquisa sobre tema cujas fontes primarias este- jam em idioma estrangeiro (xg, normas estrangeiras tratados internacionais, num trabalho de Direito Com- parado); (b) se a pesquisa for sobre a obra de um autor estrangeiro, deve-se ler no original; (c) algumas disci- plinas dependem mais da literatura estrangeira na revi- so bibliogsifica (ng., Direito Internacional e Filosofia do Direito). E a recomendagio é: se 0 pesquisador j4 tem conhe- cimento instrumental daquele idioma, a pesquisa po- dera ser uma excelente oportunidade para aprimord-lo € aprender termos técnico-juridicos. Se nio conhece © idioma, melhor mudar de tema; ninguém aprende uma lingua estrangeira no curso de uma pesquisa. Relacionado & questo das fontes acessiveis, esti a necessidade de que o tema seja exeqiifvel no prazo estipulado. Um erro comum a pesquisadores iniciantes é imaginar que fad um trabalho tevolucionirio para a ciéncia juridica, e que — com sua genialidade — isso pode ser feito em quinze dias. Tal pretensio também é uma lenda. Uma monografia passével depende de pelo me- nos oito meses de reflexdo, enquanto uma tese deman- da no minimo dois anos. Esse € 0 prazo minimo que se deve reservar para o trabalho, que exige tempo para coligir fontes, ler a bibliografia, refletir, escrever, revi- sar, corrigir. Os prazos mencionados sio indicativos, ¢ dependem evidentemente da disciplina do pesquisador. © autor deste livro j4 viu casos de excelentes mono- grafias redigidas em dois meses, sobre material previa- mente pesquisado, como também (pelo menos um caso) de tese de doutorado que levou oito anos, e foi tepro- vada na banca examinadora, Nesse sentido, 0 aluno deve averiguar o prazo esti- pulado por sua instituicio. Em regra, esses prazos sto pre eT nem de quatro anos para o doutorado (incluindo créditos de aulas obtigatérias), dois para o mestrado (incluindo cré- ditos), e seis meses para a especializagio e para a gra- duacio. Sobretudo nesses tiltimos casos, serd um prazo tertivelmente curto, se 0 aluno nfo tiver previamente escolhido seu tema ¢ iniciado a pesquisa do material. E aqui também a necessidade de um tema delimitado, que possa ser esgotado no prazo disponivel. Para evitar 0 atropelo, algumas recomendagées po- dem ser feitas 20 aluno: (a) na medida do posstvel, apro- veite as férias escolares anteriores a0 perfodo da reda- cdo, para elaborar o projeto ¢ pesquisar fontes; (b) se a instituicio permitir, nao deixe a elaboracio da mono- grafia para o ultimo semestre, quando sua atengio es- tard dividida por outras questdes relevantissimas como encontrar emprego, passar na prova da OAB, estudar para as provas finais € escolher a roupa de formatura; (© ptincipalmente, nfo ceda 4 tentacio de mudar de tema ao longo da pesquisa. Lembre-se: ao longo de uma pesquisa, o bem mais precioso é tempo. Por outro lado, a escolha do tema também deve con- siderar exigéncias institucionais. Em outras palavras, © curso freqiientado pelo pesquisador pode ter suas li- nhas de pesquisa, dentro das quais devem se encaixar os trabalhos ali realizados. Esse direcionamento te- mitico é comum na pés-graduacio ou quando a pes- quisa se realiza dentro de um institato, Por isso, 0 aluno deve certificar-se de escolher curso voltado para suas preocupagées ou de que o tema escolhido sera admiti- do dentro das linhas de pesquisa da instituigao. Em resumo, os critérios mais importantes relaciona- dos ao tema sio: (a) especificidade; (b) fontes acess veis; (6) exeqiiibilidade no prazo dispontvel; (d) atendi- mento as exigéncias institucionais. Mas existem também outros critérios que podem ser mencionados, embora niio revestidos de tanta impor- tincia, Em primeiro lugar, 0 tema deve ser necessatia- mente atual ¢ controverso? Bem, necessério nio é, embora 0 procedimento ¢ as conseqiiéncias sejam dis tintos. Um tema histérico pode inclusive ter enorme televincia para esclarecer um problema corrente. Aliés, diga-se de passagem que a Histéria do Direito é a grande disciplina negligenciada nas faculdades bra- sileiras,> e sobre a qual existem enormes possibilidades de pesquisa. O conhecimento das experiéncias passa~ das contribui para entender a atualidade ¢ também para evitar a repeticio de tantos erros, como ocorre na pri- tica legislativa brasileira. Entretanto, ha algumas dificuldades num tema his- t6rico. O primeiro deles é 0 acesso a fontes. O Brasil trata pouco filialmente seu passado, € os arquivos com as fontes necessérias so muitas vezes inacessiveis ou desorganizados. O outro problema € a divulgagio pos- terior do trabalho, por ser muito mais facil publicar uma pesquisa sobre um tema atual e premente. O pesquisa- dor, desta forma, deve considerar tais dificuldades, 20 escolher um tema histérico. Contudo, a opsio inversa — a escolha de um tema do momento — também traz seus riscos e dificuldades. Ima- gine um trabalho crftico a um determinado projeto de lei. O trabalho é atual, o tema € controverso, existe enor- me interesse coletivo sobre seus resultados, mas infeliz- mente, um més antes da conclusao da monografia, o pro- jeto de lei inicial é totalmente modificado e aprovado. A pesquisa realizada perden sua cientificidade? Obviamen- 5 BxcegGes 4 assertiva, dignas de nota, sio os trabalhos de Wolkmer (1997) ¢ de Tucci e Azevedo (1996). S UEEEEEEEEEEEEEEEEREEREEEEEEEEEtaeeiemeEeeeeeema te que nao, mas ela se transformou num trabalho hist6ri- co, e.as pretensdes de seu autor — de publici_la ¢ influen- clar © processo legislative — sogobraram. Algumas recomendagdes podem ser feitas também para se identificar temas atuais: conversas com 0 oricn- tador e outros pesquisadores, participaciio em congres- sos na area de interesse, assisténcia a defesas de ou- tros trabalhos, descobrir temas de interesse regional, leitusa de periédicos atualizados. Cada uma dessas ex- periéncias pode ser aproveitada pelo pesquisador pata informar-se sobre o estado do tema a que pretende se dedicar. 3. CRITERIOS PARA O AUTOR Nos parigrafos anteriores, foram mencionados al- guns critérios a serem considerados no que se refere ao tema em si, no sentido de condicao de acessibili- dade da questio proposta. Mas além desses, alguns critérios devem ser recordados no que se refere condicio do pesquisador, e que serao igualmente re- evantes para 0 sucesso do trabalho. Esses critérios se- tio: a aptidao para o tema, o interesse pessoal ¢ a matu- ridade intelectual Por aptiddo, deve-se entender a facilidade de apren- dizado de um determinado ramo de conhecimento. Esse fenémeno é inerente a todo ser humano. Provavelmen- te, 0s alunos de Direito tinham, no segundo grau, maior aptidao para ciéncias sociais do que para exatas ou bio- logicas. Também durante o curso, a alguns apetece mais 0 Direito Péblico que o Civil ou o Penal. Sera mais facil a0 pesquisador dedicar-se a uma area de conheci- mento pata a qual tenha aptidao, para a qual demonstre facilidade de aprendizado e entusiasmo para conhecer mais; ou seja, “no ha tese sem tesio”, na formula de um autor de Metodologia.® Na descoberta de sua aptidio temftica, o aluno deve tomar cuidado para no ser enganado pela simpatia a pessoas, € nfio a temas. Nao é incomum que a escolha do tcma scja direcionada pelo fato de um professor pré- ximo se dedicar a uma disciplina detestével ao aluno, ou por ter sido aquela a area escolhida pelo grupo de amigos. Evite a todo custo esse engano, pois redundara em frustragio trabalho mediocre. Dedique-se ao tema que realmente lhe provoque entusiasmo. ‘Ao lado da aptidio, 0 aluno deve se esforgar para conjugar © tema escolhido com o interesse pessoal. Esse interesse pode se manifestar na pratica profissio- nal pretendida pelo aluno — assim, a pesquisa em Direito ‘Tributdrio, por exemplo, sera um excelente embasa- mento teérico para quem pretender advogar futuramente nessa area. Ou ainda, porque a pratica atual permite acesso a fontes utilizéveis na pesquisa, como por exem- plo © estagiério do departamento juridico que elabora monografia sobre os contratos tipicos daquele tipo de negécio, ou sobre um determinado problema na vara de familia onde estagia. Essa pritica é recomendavel, como forma de facilitar a pesquisa e 0 cumprimento do exiguo prazo para a pesquisa. Entretanto, deve-se ter 0 cuidado ético em conseguir autorizagio para manejar as fontes do local de trabalho, c restringir os dados con- siderados confidenciais. Por fim, o trabalho no se desenvolveri com facili- dade se 0 pesquisador nao tiver maturidade intelec- tual para enfrentar o tema proposto. Essa maturidade © Beaud, 1996, passin. | I | se adquire com 0 tempo € com milhares de horas de leitura ¢ anélise. Nao hé atalhos nem fSrmulas magi. cas, De nada adianta um diploma de doutorado adqui- rido, a pregos médicos, nas tiltimas férias de verao; tampouco funcionar4 cochilar sobre os livros, numa tentativa de alquimia bibliogréfica. Adquirir maturida- de intelectual depende de tempo, estudo e disciplina. Por isso, 0 pesquisador deve saber reconhecer seus limites e 0 momento em que se encontra em sua evolu- So intelectual. Um exemplo ilustrara a assertiva: hé alguns semestres, uma aluna de graduacio apresentou um excelente projeto, sobre a caracterizagio do crime na obra de Michel Foucault, sobre quem ela havia lido um artigo. Ora, Foucault é um autor dificil, com obras extremamente densas, que demandam prévias leituras, para conhecer termos e conceitos ctiados pelo préptio autor. E isso no era possivel no prazo que a aluna ti- nha A disposicfo, e que nao Ihe permitiria desenvolver a maturidade necessaria A compreensao do tema. 4, CRITERIOS PRATICOS Outros critérios ainda podem ser mencionados, alu- sivos a questdes priticas enfrentadas pelo pesquisador. Assim, na escolha do tema, deve-se atentar pata a dis- ponibilidade de orientador. Ou seja, haver alguém na instituigao que conhega algo sobre o tema, ¢ que possa auxiliar o aluno em sua pesquisa. Ainda, como critério, deve-se planejar como o tema escolhido pode ser compatibilizado com as disciplinas cursadas; com as disciplinas eletivas (nos cursos de p6s-graduacio) e com as disciplinas optativas (nos cur- sos de graduacio). E isso porque a pesquisa seré mais ficil se 0 aluno se dedicar & tematica ao longo do curso, sem desviar sua atengio para 4teas de conhecimento diversas. Nos cursos de mestrado, uma sugestio € que © aluno planeje antecipadamente as disciplinas segun- do a pesquisa proposta, e direcione os trabalhos ¢ papers cxigidos para a temética de seu projeto de pesquisa ‘Um ctitério sempre importante é 0 do vil metal, ou seja, a demanda financeira da pesquisa proposta. Um trabalho que exija viagens constantes, caras pesquisas de campo, bibliografia distante, pode ser inviabilizada pelas limitagées financeiras do pesquisador. Nesse senti- do, o pesquisador pode buscar mecanismos de financia- mento pot meio de instituigées puiblicas (com recursos cada vez, mais minguados)’ ou privadas, como organiza- ‘ges profissionais ou empresas que tenham interesse no resultado da pesquisa. Algumas instituigdes também ofe- recem prémios a pesquisas em determinados temas, que podem servir como um incentivo financeiro. 7 No Brasil, o CNPq condensa boa parte desses recursos. Disponivel em: © 4. O PROJETO DE PESQUISA —_—__ EEE 1. AS RAZOES DO PROJETO Em varias instituigdes de ensino, é comum exigir-se dos alunos, para a matricula na disciplina relativa a trabalho de pesquisa, que apresentem previamente um projeto. A mesma exigéncia é feita em programas de financiamento a pesquisa cientifica, ¢ é habitual que professores pecam para “ver o rascunho do projeto”, antes de aceitar a orientagao. Nos cursos de pés-gradua- io, muitas vezes esses projetos devem inclusive ser defendidos perante uma banca, 0 que se denomina em regra de “qualificagio”. Mas afinal, o que é 0 projeto de pesquisa, e qual sua razio, além de ser um aborrecimento a mais para o combalido estudante de Direito neste vale de lagrimas que se tornou a faculdade? Bem, lamirias 4 parte, 0 projeto é uma parte fundamental da pesquisa, ¢ serve como um balizador das pretenses do estudante. Uma metéfora nos permite vislumbrar essa relevin- cia. Imagine-se proprietério de um terreno de 400 metros quadrados, numa vizinhanga de classe média de sua cidade. Os direitos autorais recebidos pela venda de sua monografia permitem pensar na construgio de uma casa naquele terreno. Qual a estrutura da casa? Quais sio os limites de seu terreno? Qual a disponibilidade de tempo ¢ de capital? Quais so as exigéncias normativas 48 [WELBER BARRAL da prefeitura local? Qual é 0 estilo da casa? ‘Todas essas respostas deverdo constar no projeto que vocé encomen- dasa ao engenheiro ou arquiteto responsavel pela obra. Pode ser que, no decorrer da obra, resolva-se modifi- car uma porta aqui, uma cor acol4, mas os itens funda- mentais jé devem ter sido respondidos pelo projeto: (a) no se pode construir uma casa acima de 350m? naquele terreno; (b) deve haver uma estrutura apta a sustentar a construgio; (©) 2 qualidade do material influira na longevidade da obra; invencionices € “gambiarras” pro- vocarao curtos-circuitos; (d) uma casa, meio colonial, meio modemosa, ficar4 ridicula; () a obra podera ser embargada se niio obedecer 4s posturas municipais; (f) vocé deverd terminé-la em seis meses, ou ficard sem teto. Ao longo dessas respostas, 0 projeto cumpre suas prin- cipais fangdes: conhecimento, planejamento e previ- sibilidade. A metéfora é perfeitamente aplicdvel ao projeto de pesquisa. Nele, o autor deve responder: (a) 0 que pre- tende estudar; (b) aonde quer chegar; (c) por que esse estudo é relevante; (d) 0 que se sabe hoje sobre 0 as- sunto; (¢) como pretende realizar a pesquisa. As res- postas a tais questionamentos compéem o projeto de pesquisa, e sio fundamentais para estabelecer o alicer- ce A atividade fatura. Esso porque, em primeiro lugar, o projeto serve para esclarecer, ao proprio pesquisador, a viabilidade de sua obra. Assim, a prépria elaboragio do projeto é um aprendizado, que adianta as dificuldades a serem enfren- tadas € 0 estado do conhecimento do tema. 5 extrema- mente. comum que © pesquisador iniciante modifique sua hipétese, ou delimite mais o tema, apés a conclusio do projeto de pesquisa, — omoperoperssqusa Além disso, como se ver, 0 projeto serve para adian- tar 0 trabalho de pesquisa, sobretudo no que se refere a0 levantamento bibliografico. Um projeto bem feito é cingtienta por cento do trabalho de pesquisa. Pata o otientador, analisar 0 projeto € essencial para avetiguar se 0 aluno sabe delimitar o tema, se a proposta é vidvel, se o aluno demonstra habilidade de redacio © de metodologia. Os professores mais exigentes nunca dio resposta a um pedido de orientagio, sem ter em mios pelo menos uma versio inicial do projeto do aluno. Para a instituigio, a exigéncia de apresentagio de um projeto — e de sua aprovacao formal por um coordena- dor de pesquisa ou por uma banca de qualificacio - serve também como garantia. Nesse caso, a garantia sera de que o aluno delimitou um tema dentro d: linhas de pesquisa do curso (sobretudo na pés-gradua- 40), de que cle atentou para 0 conhecimento ja pro- duzido na instituicao sobre 0 tema, de que 0 projeto pteenche os requisitos formais ¢ normativos exigidos para a continuidade da pesquisa. Assim, o aluno deve ter em mente a utilidade do pro- jeto, ¢ as conseqiiéncias de sua mé elaboragio. Da mes- ma forma que a construgao da casa, o projeto deve antecipar um empreendimento compativel como espaco ¢ tempo disponiveis, ¢ com os recursos de seu propo- nente. Além disso, deve claramente asseverar 0 con- teiido teérico a ser construido, dentro da metodologia a ser indicada. O projeto deve convencer qualquer ob- servador de que a proposta é valida, interessante e rea- lizavel. Com esse objetivo, pode-se passar aos elemen- tos formais do projeto. Alguinas caracteristicas inerentes a qualquer projeto devem ser ressaltadas. A. primeira delas é a coerénci exige-se um encadeamento légico entre o tema escolhi- do, os objetivos pezseguidos e a forma de execucio do projeto. Outra caracteristica fundamental é a adaptabilidade: 0 trabalho acaba sofrendo modificagSes, em relagio ao que era 0 projeto original, sobretudo quanto ao titulo, a orga- nizagio dos capftulos ¢ as hipéteses secundarias — modifi- cages que nfo comprometem a linha basica do projeto, ¢ que devem ser discutidas com © orientadot. Mas essas modificagSes devem servir para melhor adaptar 0 tra- balho as condigées de sua exeqiiibilidade, ¢ nao para alteri-lo totalmente. Assim, da mesma forma que cus- ta uma fortuna reestruturar a construgao da casa de- pois de fincados os alicerces, ser também extremamen- te custoso ¢ improdutivo querer modificar totalmente © tema, estando adiantada a pesquisa. 2. OS ELEMENTOS DO PROJETO Recentemente a ABNT publicou norma especifica sobre a claboragao de projeto de pesquisa, a NBR 15287, de dezembro de 2005. © projeto estrutura-se em trés partes: (j) pré-textual; @) textual; (ii) pés-textual. Os itens designados com [F] séo facultativos. Estrutura | Elemento Capa [F] Lombada [F] Folha de Rosto Lista de Iustragdes [F] Lista de Tabelas [F] Pré-textual QPROJETO DE PESQUISA SI Lista de abreviaturas e sighas Lista de simbolos [F] Sumario Referéncias Bibliograficas Glossatio [F] Apéndice [F] | Anexo [F] indice [F] Pos- Cada um desses elementos merece ser discutido com mais vagat. Um exemplo de projeto se encontra abaixo, ¢ ilustra as indicagées realizadas aqui, 241 Capa Apresenta as informagées transcritas na seguinte or dem: nome da entidade para a qual deve ser submetido, quando solicitado; nome do autor; titulo; subtitulo (se houver, deve ser evidenciada a subordinagio ao titulo, precedido de dois-pontos, ou distinguido tipografica- mente); local da entidade; ano de depésito (entrega). 2.2 Folha de rosto ‘Trata-se fachada do trabalho, a folha inicial de apre- sentago. Em regra, contém no topo as indicagdes fun- damentais da instituigio € do curso. Ao centro, a indi- casio “projeto de monografia”: (ou de dissertacio, ou 2 _—_VELBERBARRAL de tese) com 0 titulo provisério. Abaixo, o nome do alu- no, seguido pelo do orientador ¢, por fim, local ¢ data. 2.3. Sumario i a indicagao dos principais elementos do projeto, com as paginas respectivas. Se 0 projeto contiver me- nos de vinte paginas, o sumario é desnecessario. No sumirio, niio crie sees com uma tinica subdivi- sio (se € “di-visio”, deve ter pelo menos dois itens). 2.4 Objeto (tema, problema ¢ hipéteses) Nesse item, responde-se 20 questionamento sobre 0 que trata a pesquisa. O pesquisador deve indicar clara- mente qual € 0 foco de sua atencio, € quais os limites de suas pretensdes. Para maior clareza, esse item é subdividido em: tema, problema ¢ hipétese. Saber diferenciar esses trés conceitos é 0 mesmo que conseguir aplicar os conhe- cimentos tedricos sobre ciéncia, discutidos em capf- tulo anterior. Muitas pesquisas sio fadadas ao fracas- s0 justamente pela incapacidade de seus autores em conseguir indicar a hipétese que responde ao proble- ma que se insere num determinado tema. Por isso, detenhamo-nos um pouco mais nessa ques- to, esmiucando cada um desses conceitos, que podem ser visualizados didaticamente! na seguinte escal ciéncia > area > curso > disciplina > tema > proble- ma >< hipétese 1 Reconhegasse que este quadro é simplério, ¢ no considera a intersclagzo cognitiva entre areas da ciéncia nem a interdisciplinariedade inerente as cigneias humanas. Mas seu objetivo — como alids de todo este livro ~ € facilitar 0 trabalho do pesquisador iniciante, sem se deter em questdes epistemologicas. PROFETO DE PESQUISA Ou seja, na ciéncia, podem ser identificadas grandes Areas (sociais, exatas, biolégicas), que foram divididas em cursos (Direito, Economia, Psicologia), que foram a seu turno subdivididos em disciplinas (Penal, Civil, Comercial). Dentro de uma dessas disciplinas, 0 pes- quisador deve indicar um tema. Aqui comegam as agruras do pesquisador. No qua- dro apresentado, um tema é a delimitagio de uma dis- ciplina. Conforme se discutiu em outro capitulo, quan- ‘to mais delimitado for o tema, mais facilmente ser4 exe- qiiivel pelo pesquisador, e maior a possibilidade de que ele faca alguma contribuigao significativa para 0 conhe- cimento daquela disciplina. Ora, um pesquisador iniciante tem enormes dificulda- des nessa delimitagio. Seu impeto é de tentar fazer um trabalho sobre os titulos de crédito (o que nio é uma monogtafia, € sim uma biblioteca), ao invés de a vali- dade dos contratos de factoring apés a Resolugao n, X do Banco Central, esse sim um tema delimitado. A dificuldade em delimitar o tema é explic4vel (mas niio justificdvel) pelo temor do pesquisador iniciante em encontrar-se diante de um assunto sobre 0 qual hé pouca bibliografia. Nove entre dez estudantes de Direito tremem diante da informagao de que a monografia de- ‘verd conter cingtienta paginas, e procuram escapar desse temor na escolha de um tema vastissimo, sobre 0 qual juntario de forma pretensamente organizada um con- junto intitil de citagdes, e 20 que dato ilusoriamente 0 nome de monografia. Este livro lhes traz. ao menos esta boa nova: nfo existe tal quimera de tema excessivamente delimitado. Quanto mais delimitado, mais produtivo seri o procedimento de pesquisa e maior a contribuicio do autor ao assunto. Ini- 54. [WELDER BARRAL, cie seu projeto a partir de um tema delimitado, sobre 0 qual vocé possa se tomar “a maior autoridade viva”, € uum novo mundo — de conhecimento, auto-perfei¢io, po- der ¢ gléria académica — 0 espera. Entretanto 0 caminho para esse paraiso apresenta ou- tras dificuldades. Nao basta delimitar o tema, mas deve- se identificar um problema especifico que ser4 analisa- do no trabalho. Problematizar o tema é outra dificul- dade do pesquisador iniciante, mas passo importante na indicagio do direcionamento a set dado a toda a pes- quisa. A problematizagio se relaciona com 0 foco do trabalho, no que se refere Aquele tema. E a pergunta que pretende ser respondida ao final do trabalho cientifico. Um exemplo esclareceré 0 conceito, Na monografia proposta acima, o tema se refere 4 validade dos contra~ tos de facoring, apés uma imaginéria norma do Banco Central (BACEN) que condiciona a validade desses con- tratos ao prévio registro no BACEN. Esse é 0 nosso tema. Quanto a0 problema, sua elaboragio responder 4 ques- tio “e dai?”. Em outras palavras, 0 problema sera a especificagio do trabalho, ¢ direcionari 0 enfoque a ser dado ao tema proposto. Continuemos com o exemplo. Um problema poderia ser: () “A legalidade da Resolugéo n. X do BACEN, que torna invalidos os créditos decorrentes de contratos de factoring emitidos anteriormente @ vigéncia da norma”; ou @ “A competéncia do BACEN em emitir normas que afetam os contratos fealizados por empresas de factoring’; ov ainda, (ii) “O efeito do principio do ato juridico perfeito sobre a norma do BACEN que exige te- gistro de contratos de factoring com execugio futura”. Observa-se que 0 mesmo tema pode abranger pro- plemas distintos. Mais ainda, cada um desses proble- mas leva a uma abordagem diferenciada. No problema @, © trabalho enfocara as normas de Direito Comer- omomropsrscusa SS cial, € como esses podem se sobrepor as regras admi- nistrativas do BACEN. No problema (i), a anilise se centraré num questionamento de competéncia admi- nistrativa para emitir regras sobre factoring. Por fim, 0 problema (iii) obrigaré o autor a ingressar na questio constitucional do ato juridico perfeito e da execucio da norma no tempo. Em qualquer desses casos, se 0 pesquisador niio de- limitar claramente o problema — 0 enfoque de seu tra- balho — ele teré enormes dificuldades em organizar a pesquisa € a redacio. Nesse caso, mesmo havendo par- tido de um tema bem delimitado, o trabalho seri de dificil consecugio, € © resultado final do trabalho sera desorganizado ¢ frustrante. Alguns pesquisadores preferem, inclusive para dar maior clareza, formular o problema em forma de questionamento, encerrando a frase com um ponto de interrogagio. O trabalho pretender4, portanto, res- ponder Aquele questionamento proposto. Repita-se: com a formulagiio do problema, deve-se esclarecer para quem avalia 0 projeto (¢ para o préprio pesquisador) qual é 0 foco central do trabalho, o que se sabera quan- do a pesquisa for concluida. _ Da mesma forma que ninguém é ideologicamente isento, tampouco existe isen¢io do pesquisador quan- do formula o problema. Ele pensa ter a resposta sobre © problema proposto. Essa resposta proviséria é a hit Pétese, que também deve ser inclufda como parte do objeto do projeto. A hipétese é “a tese propriamente dita, a hipétese geral e a idéia central que o trabalho se propde a demonstrar.”? 2 Severino, 1986, p. 202. Aqui se deve distinguir claramente entre o papel do pesquisador e © do operador juridico. Muitos trabalhos tém escasso valor cientifico justamente porque seus autores incorporaram inexoravelmente 0 personagem advogado, contaminando seu trabalho como pesquisa- dor. Ora, o papel do operador jurfdico (sobretudo do advogado, mas também do promotor e do juiz) ¢ fun- damentar juridicamente uma determinada opiniio, é fazer prevalecer um determinado ponto de vista. Aliés, seu cliente Ihe paga para que faca isso. Esse no € 0 papel do pesquisador, que deve propor uma hipétese inicial, mas que, ao final do trabalho, deve saber descrever se a hipétese se confirma ou nfo se confirma, e porque isso ocorte. Nada ha de pior que uum pesquisador renitente, que deseja a todo custo pro- var uma hipotese frustrada, de tal forma apegado a cla que negligencia, ou omite, todas as evidéncias em sen- tido diverso. Pelo contritio, pode-se afirmar (com alguma dose de leviandade), que em geral as hipéteses nao se con- firmam. E isso se explica porque, quando elabora o projeto, o pesquisador tem um conhecimento superfi- cial da matéria, um conhecimento advindo do senso comum, de leituras superficiais ¢ de manuais, sem que possa identificar conhecimento especifico sobre o tema. Por isso, é usual que os trabalhos cientificos sérios concluam diferentemente da hipétese vislum- brada no projeto, ou que o pesquisador identifique varidveis ¢ condicées de validade distintas das que previa a0 inicio do trabalho. Essa é a postura do ver- dadeiro pesquisador. Para ilustrar, voltemos ao exemplo do tetna propos- to hé pouco. Seu autor resolve se concenttar no pro- blema da competéncia administrativa do BACEN para ___omoserone rescus 2 emitir regras sobre factoring. A hipotese da qual ele parte é de que: © BACEN nio tem competéncia para emitir regras sobre factoring, uma vez que a Constituigio, as nor mas federais e suas normas constitutivas se referem & competéncia sobre temas financeiros, o que nio é caracterizado no contrato de factoring Essa é a hipétese. Pois bem, apés um arduo periodo de estudos, 0 pesquisador conclui justamente 0 contré- sio, do cabimento das regras emitidas pelo BACEN. Ele wa ertado? Nao, sua hipétese é que nao se confir- mou, € seu papel como cientista é reconhecer as condi- gGes de invalidade da hipétese. Esse € 0 papel do cien- tista; defender o contrario é papel do advogado da empresas de factoring. Na elaboracio da hipétese, pode-se também identi- ficar algumas hip6teses secundarias, que devem neces- satiamente set uma subdivisio da hipétese basica (se no for uma subdivisio, € porque vocé est pretenden- do incluir outro problema em sua monografia; deixe disso, concentre-se num tinico problema). As hipéteses secundérias sero, assim, elementos que compéem uma hipétese maior: no exemplo dado, as hipétese secundé tias seriam relativas a: (a) incompatibilidade da norma do BACEN com as normas constitucionais; (b) incom- patibilidade com leis federais; (c) incompatibilidade com normas administrativas. E interessante notar que uma hipétese secundaria pode se confirmar, e outra nao. No exemplo dado: pode ser que nfo se identifique incom- patibilidade com o texto constitucional, mas sim com alguma norma administrativa. Nesse caso, a hipétese basica se confirmatia, mas condicionada a determina- das condicées especificas. Também na formulagio do objeto, costuma-se reco- mendar a identificagio de varidveis. Essa identificagio 58. WELDER mARRAL & mais facilmente visualizada em outras 4reas da cién- cia, como por exemplo, em Matemitica, as variéveis de uma equacio, ou os elementos de uma pesquisa biol6- gica sobre os efeitos do cloreto de sédio sobre o Trypanosoma cruzi, onde as variéveis serio (1) 0 cloreto de sédio (2) 0 protozoatio. Em ciéncias sociais, visualizat essas variéveis é um processo mais complexo, muitas vezes multiplicado pelo enorme mimero de variveis inserido numa pesquisa, além de sua propria variagio terminol6gica. De fato, as ciéncias sociais néo dispdem de uma linguagem univoca (como a equacio matemitica) ¢ abrangem termos multissignificantes. Assim, podem-se encontrar signifi- cados distintos para o conceito de Estado, embora al- guns poucos iluminados consigam até discutir sobre 0 sentido ideolégico do Trypanosoma ornzi. Por isso, a identificagio de variéveis num projeto de pesquisa em ciéncias sociais, se sua incluso for exigida, deve receber cuidados no sentido de identificar os prin- cipais elementos componentes do problema. Se for o caso, deve-se especificar 0 significado em que a varid- vel esti sendo adotada naquela pesquisa. E se se che- gar a uma dezena de variaveis, é um sinal de amplitude irrealizavel do problema. 2.5 Objetivo ‘Uma vez estipulado 0 qué ser4 estudado no trabalho, deve-se ainda esclarecer no projeto o objetivo do tra- balho, ou seja, o que se pretende com a proposta apre- sentada. ‘A definicao do objetivo, desta forma, seri muito pro- xima da definicio do objeto do projeto. De fato, se tra- tarem de temas muito distintos, sera porque 0 autor se perdeu, ¢ esté misturando problemas diferentes no mes- —___omoyero ns mo projeto. Mas, no projeto, a fungiio do objetivo é justamente repetir onde o autor pretende chegar. Por isso, € comum que se determine, como objetivo: conceituar, posicionar, esclarecer, um determinado pro- blema. Na hipétese apresentada anteriormente, por exem- plo, 0 objetivo seria: “afirmar a existéncia de incons- titucionalidade na Resolugio X do Banco Central, que exige a aprovagio prévia dos contratos de factoring” Da mesma forma que uma hipétese pode set subdi- vidida, também pode haver objetivos especificos iden- tificaveis no projeto. O autor do projeto pode indicar esses objetivos especificos, mesmo que em forma de t6picos. Uma técnica, para facilitar essa indicacio, é a seguin- te: procure imaginar como sera dividida a pesquisa, € quais serio os capftulos e segdes principais — a cada um deles correspondera um objetivo especifico. Assim, seri objetivo especifico: (a) apresentar 0 hist6tico do insti- tuto X; (b) demonstrar a compatibilidade entre a regra Y ¢ a Constituicao Federal; (©) analisar os efeitos civis da proposta de mudanga da Lei W 2.6 Justificativa Nesse item, deve-se fundamentar todos os motivos de ordem teérica e pritica que indiquem a relevancia do tema para seu autor. Pode-se apresentar nao somen- te justificativas de interesse pessoal, mas principalmente a importancia cientifica e social do problema, a contri- buicio efetiva que se poder realizar, a atualidade do tema, Em outras palavras, deve-se responder & questo “por qué?”. Por que o tema é realmente significante? Por que o autor do projeto se interessou por ele? Por que 0 trabalho pode apresentar contribuicio original 4 area de conhecimento? Em outras palavras, 0 autor do projeto deve sobre- tudo convencer o leitor da pertinéncia do tema ¢ da pesquisa propostos. Esse item, alias, sera tio mais rele~ vante se acaso houver uma entidade patrocinando a pesquisa. Aqui, uma dica: hé algumas paginas, foi dito que o projeto bem elaborado é uma parte substancial da pes- quisa, € que do projeto tudo se aproveita. Essa assertiva é visivel aqui, pois uma boa justificativa do projeto poder servir, no faruro, como parte da introdugio da monografia. 2.7 Revisao Bibliogréfica ‘Uma parte sempre exigida do projeto, e nem sempre compteendida, é a denominada revisio bibliogréfica. Eose item no deve ser uma lista pasmaceira de autores ¢ livros que abordaram o tema, mas sim a desctigio do estado-da-arte, ou seja, do conhecimento atual sobre o problema. Esclarece-se num exemplo: imagine uma pesquisa so- bre o genoma humano que propende a um determinado cancer. A revisdo bibliografica do projeto corresponden- te condensara os conhecimentos sobre o assunto, obti- dos até a atualidade. O autor do projeto, em sintese, de- monstrara, na revisio bibliogrifica: “o que se sabe, antes dessa pesquisa, é isso; ¢ 0 que a pesquisa buscar demonstrar € x.” Na revisio, portanto, constara a descri- so dos conceitos fandamentais relacionados ao tema proposto. Em ciéncias humanas — e a depender da estrutura proposta para o conjunto do trabalho — a revistio pode- 14 abranger: histérico do instituto estudado, significado dos conceitos fundamentais, base tedrica, defini¢io de ©-mRoyETO DE PESQUISA termos € excegdes, literatura especifica sobre o proble- ma, principais divergéncias na literatura (ow na juris- prudéncia).> Por tudo isso, a revisio bibliogréfica deve conter 0 numero de paginas necessirio para esclarecer 0 conheci- mento atual sobre o problema proposto. E aqui uma dica: uma revisio bibliografica bem feita poderé ser uma parte considerivel do Capftulo 1 da monografia. Sobretudo num trabalho com estrutura dedutiva, 0 Ca- pitulo 1 costuma ser o capitulo introdutétio aos prin- cipais conceitos relacionados ao tema. Portanto, para ganhar tempo c ter mais seguranca no que se tefere A limitagio do tema, faga a revisio bibliografica imagi- nando sua utilizacao fatura. 2.8 Metodologia Se 0 projeto deve apresentar respostas para a forma de consecugio da pesquisa, na metodologia deve-se responder “como”. Como o projeto seré implementado? Como sera a estrutura do raciocinio? Como seri esco- Ihido o procedimento a ser adotado? Descrever a metodologia, dessa forma, ser especifi- car as operacées a setem realizadas e a forma como serio interpretados os resultados dessas operagdes, con- siderando-se o problema proposto. Ao mesmo tempo, a metodologia néo deve ser somente uma lista de meios para a pesquisa, mas também uma explicacio de como esses meios so preferiveis a outros.* Aqui, pode-se fazer uma distingao. Em primeiro lu- gar, hd o método de abordagem, que pode ser dedutivo * Baseado em Mauch e Birch (1988, p. 97). * SSRN, 2001 (no qual uma proposicio teérica geral € aplicada a um caso particular), indutivo (no qual se busca uma regra geral a partir da andlise de um caso particular), dialético (onde se busca uma conclusio a partir da contraposigio entre uma tese ¢ uma antitese) ou comparativo (na qual duas situacées so arrostadas, buscando-se as simili- tudes e distingdes). Observa-se, entretanto, que o método de abordagem se refere a estratura geral da pesquisa, 4 estrutura dos capitulos. Isso nao impede que, num trabalho com abor- dagem dedutiva — ng., na monogtafia 0 conceito de paralelismo consciente no Direito da Concorrén- cia e sua aplicag’o no mercado siderargico de Pedro Leopoldo (MG) — possa haver, em alguns mo- mentos ou capitulos, abordagens indutivas ou compa- rativas. O método de abordagem, portanto, se refere & légica do trabalho proposto, ¢ nao as centenas de ope- rages légicas realizadas ao longo do trabalho. Essa observac&o € pertinente sobretudo na area de Direito. Afinal, o direito brasileiro (como os demais des- cendentes do Direito Romano), bascia-se numa opera- io de insercio do fato numa definicio normativamente acordada. Ou seja, a interpretagdo de normas juridicas no Brasil se realiza fundamentalmente por uma légica dedutiva. Mesmo assim, pode-se propot, para a estrutu- 1a geral do trabalho, uma abordagem indutiva ou dialética. ‘Ainda nessa parte do projeto, deve-se especificar o método de procedimento a ser utilizado. Fundamental- mente, tais métodos serio: (a) pesquisa em laboratério; (b) pesquisa de campo; (c) pesquisa bibliogrifica. Te- mas juridicos, via de regra, se concentram em pesqui- sas bibliograficas, mas no ser4 impossfvel imaginar uma pesquisa em laboratério, mesmo envolvendo temas ju- xidicos (por exemplo, sobre validade do exame de DNA myst ve resus na investigacio de paternidade, sobre a preciso do exame de balistica na determinagao de determinado tipo de ctime, ou sobre as reagées psicolégicas dos advoga- dos numa audiéncia). Da mesma forma, vém crescendo nos tltimos anos ‘as pesquisas juridicas que envolvem trabalho de cam- po, que podem se materializar em entrevistas, pesquisa de mercado, aplicacio de questionario e estudo de caso. O pesquisador deve atentar, entretanto, para as regras ¢ técnicas aplicaveis a cada um desses procedimentos.> Assim, por exemplo, a realizaco de entrevistas deve estar justificada pelo objetivo geral da pesquisa, reco mendando-se ao pesquisador que clabore previamente as questdes; a entrevista deve configurar uma coleta metédica de dados, ¢ nao um palavrério de comadres. Da mesma forma, a aplicagio de um questiondrio deve conter claramente as informacées buscadas, deve abran- ger um universo relevante, sem induzir as respostas. Co- nhecimentos de Fstatistica serio essenciais aqui, in- clusive para definir 0 desvio-padrio.’ 2.9 Proposta de sumario Ura patte essencial do projeto é a proposta de como se dividira faturamente © trabalho. A proposta de su- 5 Para uma explicasio de técnicas de pesquisa de campo, veja-se Lakatos e Marconi (1991). Hi alguns anos, o autor desse trabalho orientow uma monografia sobre a posicio do judiciirio, baseado na aplicagio de um ques- tiondrio (Krammes, 1999). © questiondtio foi aplicado por correio cletrdnico, ¢ julgou-se necessério acrescentar outros dados, como a dade dos juizes. E isso porgue: (=) forma de aplicago do questionsrio. fazia temer que apenas juizes mais jovens responderiam (0 que de fato ocorteu), © que obrigava a alargar o desvio-padrao; (b) por outro lado, garantia a validade dos resultados por maior periodo, considerando-se o tempo até a aposentadoria daqueles juizes. 64 Wee BARRA mitio é 0 fio no labitinto, € a garantia de que o pesqui dor nao se perder em temas correlatos, nem se estenderi demasiadamente em problemas secundirios 4 pesquisa’ Portanto, a estrutura imaginada para o trabalho deve constar da proposta de sumério. Ou seja, os principais ca- pitulos e suas principais sedes. Algumas recomendagies sio aplicaveis aqui. Em primeiro lugar, deve haver um equilibrio entre os capitulos; deve-se imaginar uma divi- so equanime do trabalho proposto, de forma a nfo haver grandes disparidades entre o tamanho dos capitulos (para efeitos da organizacio do sumitio, imagine que um capi- tulo deve ter no miximo o dobro de paginas de outro). Em segundo lugar, deve haver uma légica na disposic#o do trabalho. Ou seja, a estrutura proposta deve conduzir & compreensio do problema e 4 conclusio quanto a hips- tese aventada. Assim, por exemplo, a seguinte estrutura: 7 Introdugio 2 24 2.2. 2.3 3 34 3.2 4 4A. 42. 5 Conclusio Embora no seja uma exigéncia da ABNT, para a apresentagao do projeto, a proposta de sumirio demonstrou ser um recurso imprescindivel na claboragao de uma monografia. (0 pRoyeTO DE PESQUISA, Num trabalho dedutivo, uma monografia podetia ter a seguinte divisio, bastante generalizante: 1. Introdugio (gpresentacao do trabalho, justificativa da escolba do tema) 2. Bxposicao do tema (apresentagao do tema para 0 keitor) 2.1. Origem, histézico 2.2. Fundamento normativo, principais caracteristicas 3. © problema (qprofundamento na questdo especifica proposta, com| apresentagdo da premissa que serd testadd) 3.1 Relagio do problema em relagio a0 tema 3.2 Base tedrica de explicagéo do problema 3.2.1 Teorias aceitas 3.2.2 Outras teorias 3.2.3 Teoria adotada neste trabalho 3.3 Hipétese proposta no trabalho 4, Teste da hipétese (aplicagao do método de pesquisa especfcd) 4.1 Situagio estudada 4.2 Aplicagio da hipétese 4.2.1 Procedimento ¢ resultados 4.2.2 Excegdes 5. Conclusio (a hipétese se confirma?) Assim, espera-se da proposta de sumério que seja, além de equilibrada, também ldgica, harménica e com- preensivel. Isso nfo quer dizer que a proposta de suma- rio seja imutivel. Ao contririo, é muito comum, ao longo da pesquisa, que uma secio seja dividida em duas, por se estender mais que o previsto, ou que um capitulo seja agregado a outro, por resultar muito curto. O su- mirio deve, portanto, ser adaptado & medida que a re- G_ vernon nana _ dagio do trabalho evolui. Mas o autor deve atentar pata nio perder a légica da abordagem, nem incluir temas ow problemas cozrelatos. Lembre-se: uma vez. concluido © ptojeto, é possivel a especificagio do problema, mas nao a mudanca de tema, sob pena de enorme perda de tempo (e muitas vezes do proprio diploma perseguido, pois algumas instituicdes estipulam prazos perempté- rios, sobretudo na pés-graduaciio). Por isso, a sugestio que se faz € que o pesquisador cole a parede, no seu local de trabalho, a proposta de sumério com a data de sua atualizacio. Isso servira para mostrar- Ihe em que momento se encontra na tedagio do trabalho, ¢ também para evitar que se perca no emaranhado de no- vas informagGes geralmente obtidas ao longo da pesquisa. 2.40 Cronograma Uma definicio cinica de cronograma seria “o calen- datio que nunca é seguido pelo aluno.” E, de fato, os estudantes de Direito sao como os brasileiros em geral, que acteditam compulsivamente em solugGes de ilti- ma hora, auxiliados por uma prorrogacio, pot ilumina- Ses geniais ou pela providéncia divina. © objetivo do cronograma é justamente prever uma divisio razoavel do tempo para a pesquisa, que scja realista em relago aos recursos do aluno e a disponibi- lidade da instituigio e do orientador. Dessa forma, 0 cronograma deve prever as ctapas a serem realizadas, com os prazos requeridos. Em regra, isso € feito num. quadro, onde sejam refletidos os meses em que cada uma dessas etapas ocorrera. ‘Além de impor disciplina 20 pesquisador e demons- trar a exeqiiibilidade do projeto no prazo indicado, o cronograma serve também para organizar a ordem de realizagaio de cada etapa. Assim dito, pode parecer um ‘0 Pnojs10 DE PESQUISA exagero de organizacZo, mas vocé verificari que, du- rante uma pesquisa, 0 tempo é um elemento precioso. Orienta-se também que nfo se acumulem muitas ativi- dades para os tiltimos meses da pesquisa, pois se deve dar algum crédito ao imprevisto, reservando um prazo de se- guranca. Afinal, em nossas vidas sempre h4 acidentes, enfermidades, viagens do orientador, impresoras deso- bedientes, e outras situacSes que podem demandar pro- porsao irrazoavel do escasso tempo disponfvel. Uma tltima observacio quanto A necessidade de um cronograma sealista: 0 cronograma — como, alias, todo 0 projeto — é um compromisso formal entre o aluno € 0 orientador, entre esses ¢ a instituicio. Uma vez nao cumpridas as etapas do cronograma aprovado, sujeita-se 0 aluno & reprovagao ou A exclusio do progra- ma, eximindo-se 0 orientador € a instituigo de qualquer responsabilidade. Um exemplo de cronograma conteria as seguintes etapas: Cronograma Meses Correspondentes Nov./Dez. [..] Nov. Sclegio de orientador Revisio do projeto pelo orientador Aprovasio do projeto pelo orientado Aprovacio pelo Curso Blaboracio do 1° capitulo ‘Leitura do 1° cap. p/ orientador Inicio da pesquisa de campo Revisio do 1° capitulo Apresentagio de relatério Elaboragao do 2° capitulo Bfetivacio da pesquisa de campo Leitura do 2° cap. p/ orientador Revist0 do 2° capfealo Anilise da pesquisa de campo Elaboragao do 3° capitulo Leitara da 3° cap. p/ orientador Revisio do 3° capitulo Elaboragio da conctusio Elaboragio da Introdugo Teitura final pelo orientador Revisio metodolégica Revisio final Apresentaglo para banca Defesa do trabalho Corregio dos comentarios da banca Impressio e depésito No exempio apresentado, a pesquisa foi dividida 20 longo de um ano, considerando-se um més de fétias (janeiro) e dois meses pouco produtivos (dezembro e julho). Também foi prevista a defesa antecipada do tra- balho (em setembro), o que é ideal, j4 que os tltimos meses do curso sao tradicionalmente comprometidos com preocupacdes quanto A diivida se existe vida apés a universidade. 2.11 Levantamento bibliografico inicial Nesse item, devem ser relacionados todos os docu- mentos ¢ obras ja obtidos pelo pesquisador, bem como as listadas para fatura consulta. Evidentemente, essa listagem sera completada, nas Referéncias Bibliografi- cas da versio final do trabalho, por outras fontes docu- mentais que © pesquisador tenha utilizado. Da mesma forma, pode ser que um livro inicialmente listado seja ou niio se refita ao tema da pesquisa, caso em que 0 PROJETO DE Pi serd retirado posteriormente, nas Referéncias Biblio- graficas. Uma sugestio que, apés a aprovagio do projeto, seja ctiado pelo pesquisador um arquivo Refbibldec, no qual constar4 o levantamento bibliogrifico inicial, e que seri constantemente atualizado ao longo da pesquisa. Esse arquivo sera util, posteriormente, no momento de elaboracio das referéncias bibliograficas finais da monogtafia. 212 Orgamento Caso a pesquisa esteja sendo financiada por alguma instituigo, € comum exigir-se no projeto uma previsio dos custos decorrentes. O orcamento deve abranger todos os custos da pesquisa, e que geralmente so: ORGAMENTO — Aquisigio de livros RS = Copins xerax/ Conmut RS — Viagem de estudos RS — Material de expediente/papelaria. R$ — Aplicagio de questionstio RS — Correio/internet RS — Tradutor RS — Revisor RS ~ Impressio RS — Encadernagio RS 2.13 Anexos ‘Também opcionais, podem ser inclufdos como anexos apenas os documentos essenciais para a compreensio do projeto. Sio exemplos: fontes primérias de dificil ob- tengao, modelos ¢ tabelas acerca da teoria proposta, modelo de questionario ou de entrevista a ser aplicado. 3. AVALIACAO DO PROJETO Uma vez aptesentado 0 projeto, sera ele avaliado aprovado pelo orientador ¢ pela instituigao. Conforme se mencionou, essa aprovacio geta efeitos juridicos, comprometendo as partes com © tema escolhido (que passa a compor o patriménio intelectual do autor) com os prazos de consecucio do trabalho. Como critérios minimos para a aprovagdo do projeto de pesquisa, sugerem-se: CRITERIOS MINIMOS PARA APROVACAO DO PRO- JETO @ titulo claro e conciso (©) problema relevante e especifico (© hipéteses claramente indicadas @ limitagdes elaras do wabalho © tevisio bibliografica completa ¢ atualizada ( definigio dos termos centrais (variaveis) @ metodologia detalhada (1) proposta de sumario onganizada e légica @ cronograma realista @ levantamento bibliogrifico completo () correo gramatical ‘oPROVETO DE PESQUISA Se 0 projeto nao contém no minimo esses requisitos, ‘© melhor que fard o orientador (ou a banca de qualifi- cacao) € nfo aprové-lo, pois a consecugao do trabalho estar inevitavelmente comprometida desde seu inicio. Quanto as demais regras de apresentagio grifica do projeto, sao basicamente as mesmas da ABNT 14724, apresentadas em capitulo posterior. |. EXEMPLO DE PROJETO DE PESQUISA © texto abaixo exemplificaré um projeto de pesqui- sa, contendo os elementos mencionados acima.* UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA —UFSC CENTRO DE CIENCIAS JURIDICAS ~CC) DEPARTAMENTO DE DIREITO — DIR PROJETO DE MONOGRAFIA Salvaguardas transitérias para produtos téxteis no ambito do Mercosul Gilvan Damiani Brogini Académico De. Welber Bacral| Orientador Flotiandpolis, agosto de 1999. Esta uma versio adaptada do projeto apresentado inicialmente ‘em 1999 e defendido no ano seguinte. O resultado desta mono- grafia foi publicado como livro (Brogini, 2000). 1, APRESENTAGAO 1.1 Académico: Gilvan Damiani Brogini [Matricula: 9520523-3 [Endereso, correio eletrénico, telefones} 1.2 Orientador: Prof, Dr. Welber Barral [Endereco, correio eletrdnico, telefones} 1.3 Area de concentragi Direito Internacional Econémico 1.4 Entidade envolvida: Departamento de Direito Centro de Ciencias Juridicas Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1.5 Duragao: 11 meses Inicio: Agosto de 1999 Téemino: Junho de 2000 2. OBJETO 2. Tema: Legislacio sobre Salvaguardas. 2.2 Delimitagaio do tema: |Anilise da aplicabilidade de salvaguardas transitérias para pro- [dutos téxteis no ambito do Mercosul. 2.3 Hipétese basica: ‘A aplicagio de salvaguardas para produtos téxteis é incompa. tivel com 0 ordenamento do Mercosul, 0 PROYETO DE PESQUISA 2.4 Hipéteses secundarias: — A Decisio CMC 17/96, norma comum do Mercosul so- bre salvaguardas, traca principios gerais sobre a matéria, os quais tém aplicagio sobre produtos téxteis; — © Acordo sobre Téxteis € Vestudrio da OMC (ATV) tem aplic intetior do Mercosuls eubsididria em relagio & importacio de téxteis no — A Resolugio n. 70/87 do Conselho de Representantes da ALADI foi tacitamente revogada, no contexto do Mercosul, pelo Tratado de Assungio; — A exclusio das importagées originarias do interior do ‘Mercosul, na aplicagio de salvaguardas, encontra respaldo no art. XXIV do GATT 1994, configurando excesio a cléusula da nacio mais favorecida. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetive geral: [Demonstrar que a aplicagio de salvaguardas transitésias para produtos téxteis é incompativel com as normas do Mercosul 3.2 Objetivos especificos: — Elencar os tragos distintivos entre salvaguardas comuns ¢ salvaguardas transitérias para produtos téxteis, individualizando estas tiltimas; — Examinar a compatibilidade entre os ordenamentos do ‘Mercosul ¢ da ALADI, em matéria de salvaguardas; — Analisar 05 acordos firmados no ambito da OMC sobre a matétia, especificamente 0 Acordo sobre Salvaguardas e 0 Acordo sobre Téxteis e Vesturio; — Mostrar que a nfo-aplicagio de salvaguardas no interior do Mercosul é amparada pelo art. XXIV do GATT 1994; — Avaliar as repercussdes da decisio do painel da OMC sobre Salvaguardas aplicadas pela Argentina no setor de cal- Jcados; cco = Examinar 0 atual quadro do Mercosul em matéria de jintegracao comercial, especialmente no tocante as medidas de salvaguarda. 4, JUSTIFICATIVA (Os seguintes argumentos podem ser invocados para justifi- ‘car a escolha do tema: a) Atualidade do tema: tendo em vista a recente crise envol- ‘vendo Brasil e Argentina, motivada justamente pela aplicacao de salvaguardas por parte da Argentina conta o Brasil, o tema se insere no contexto politico ¢ econémico da atualidade; ) Ineditismo do trabalho: a legislagao sobre salvaguardas é| bastante recente nos paises do Mercosul e, por esse motivo, pouco ou quase nada foi escrito a respeito. Além disso, acres- cente-se que sobre salvaguardas para produtos téxteis a escas- sez de bibliografia é ainda maior, ©) Interesse do autor: 0 tema proposto se enquadra no contexto da pesquisa desenvolvida pelo autor durante 0 periodo, fem que foi bolsista de iniciaco cientifica, quando estudou os, mecanismos de defesa comercial; ¢) Relevincia do tema: 0 trabalho proposto, alcangando qua- lidade ¢ profundidade necessérias, poderé contribuir para al definigio de politicas piblicas quanto ao tema, que se tornara relevante nos anos préximos. Tal certeza se baseia na utilizagio crescente de salvaguardas no ambito do Mercosul e pela neces: sidade do estudo quanto & compatibilidade entre estas normas ¢ a legislagio regional (ALADI e multilateral (OMQ); ©) Pertinéncia do tema: 0 tema proposto seri objeto de| anilises e ctiticas no futuro préximo, no ambito do Mercosul. Com efeito, 0 processo de consolidacdo normativa do Mercosul exige novo marco te6rico; o trabalho proposto podera desenvolver contribuigio efetiva para este debate. 5, REVISAO BIBLIOGRAFICA. Para Araminta Mercadante, salvaguarda “designa a ado- fo de medidas de emergéncia para proteger a indiistria nacio- nal, a fim de que nenhum dado possa prejudicé-la, em decor- réncia do aumento consideravel das importagdes ¢ desde que ‘ais medidas estejam conforme a legislacio vigente”” O argu- ‘mento para sua existéncia alude 4 necessidade de contornar situa- (qOes emergenciais, provocadas pela invasio de importagSes, em. decorréncia da reducio de barreisas tarifirias. As medidas de salvaguarda servem, neste contexto, para conceder um prazo para 0 ajustamento das inckistrias mais seriamente afetadas pelo aumento na importagio de produtos concorsentes? Entretanto, nem todos os produtos importados sujeitam-se as mesmas regras em matéria de salvaguardas. Como xegra| geral, esto sujeitos 4 disciplina do Acordo sobre Salvaguar- das da Organizacio Mundial do Comércio (ASOMQ), repro- duzido nas legislagdes nacionais da maioria de seus pafses mem- bros. No caso dos produtos téxteis e de vestuério, que em sua maioria no foram incorporados a0 GATT 1994, o trata mento é distinto. Para estes produtos foi estabelecido um re- gime de excegio para adequagio do setor as novas regras do comércio internacional. Durante este periodo tansitério, que se estenderé até 0 121° més da entrada em vigor do Ato Constitutivo da OMC, o setor seri regulado pelo Acordo so. bre Téatcis © Vestuisio (ATV) daquels instieuigio, 0 qual pre- vé a adosio de salvaguardas transit6rias em seu artigo 6*> ‘As salvaguardas transit6xias para produtos téxteis possuem, assim, disciplina propria e se constituem em excesio a0 ASOMC. O ambito de sua aplicacio é, portanto, restrito. So mente podem ser objeto de salvaguardas transit6rias os pro- dutos que no estejam incorporados a0 GATT 1994 e para 05 quais o pais reservou direito de recorrer a tais medidas. Nilo estio compreendidos nesta lista: () tecidos de fabticagio artesanal; (i) produtos téxteis proprios do folelore tradicional; (ii) produtos téxteis que historicamente sio objeto do comér- cio internacional; (iv) produtos fabricados com seda pura; () produtos cujas exportagdes estejam sujeitas a outras cestsi- ges previstas no ATV + Mercadante, 1994, p. 179. * Barral, 1999, p. 134. > Dessa forma, 0 periodo de vigéneia de uma medida de salvaguarda twansitGria para produtos téxteis niio poder excedet 0 1° dia do 121° de vigéncia do Ato Constitutive da OMC. Cf. ATY, art. 9 ATY, art. 6.1, ¢ Anexo. Os requisitos para sua aplicagio envolvem necessariamente @ o aumento no volume total de importacdes; (i) 0 prejuizo ou 6 ameaca de prejuizo a indiistzia doméstica; e (il) 0 nexo causal ete eles. Aqui também teside um fator importante, ja que na demonstragio do nexo causal qualquer fator allcio ao aumento ‘no total das importagées niio justia a aplicagio das medidas fem questo’ Além disso, deve-se levar em conta os efeitos do aumento das importagGes sobre a industria doméstica, de forma niio necessariamente sgida, mas abrangente.* ‘Uma importante distingo entre salvaguardas para téxtcis ¢ sal: ‘vaguatdas para demais produtos diz respeito aqueles paises que serio atingidos pela medida. Ao contrisio do que ocorte quando Ga aplicacio de medidas de salvaguarda em outros setores, no de téxteis as medidas no sio opostas “ao produto imporado inde-} pendentemente de sua origem”, mas sim de forma seletiva: pais a pais, nfo incidindo aqui o principio da nao-seletividade. Analisa-se 5 crescimento das importacdes de cada pais envolvido, apuran- Jdo-se se 0 aumento € subseandal e repentin, mesmo que ni0 seja real e esteja apenas na iminéncia de ocorrer, e sempre com base fem dados teals, nfo em alegacSes, conjecturas ou possibilidades” Um vez sendo determinada a existénca de prjuizo ov amea- a de prejuizo pelo pais importador, uma eventual medida de Sieaguarda somente poders ser splcada demo de 90 das @ partir da notificaglo ao pais exportador de que existe prejuizo 08 fameaca teal de prejuizo grave.’ Ainda assim, ha obrigatoriedade de celebragio de consultas entre estes paises antes da aplicagzo ide qualquer medida definitiva. O pedido de consultas deve estar instruido, entre outros, com os requisitos de aplicacto da medida © com a indicagio do nivel especifico através do qual 0 pais importador pretende restringir as importagdes. O pais exporta- dor, por sua vez, deve responder prontamente ao pedido, para que as consultas scjam realizadas o mais rapidamente possivel’ ATY, art. 6.2. ATY, art. 6.3. ATY, art. 6.4. ATY, art. 665. ATV, art. 6.7. As consultas devem ser conclufdas dentro de 60 Gias apés o recebimento do pedido. Nao ha obrigatoriedade, porém, na realizagio de um acordo restritivo voluntario entre ‘oPROVETO DE PESQUISA Existe ainda a possibilidade da adogio de medidas de salva- guarda provis6rias, caso se constate que a circunstincia pela qual atravessa 2 indkistria nacional seja exepional critica © se ‘verifique também que qualquer demora possa tornar irreparivel © prejuizo aquela indiistria. Se uma medida de salvaguarda é aplicada nestas condigées, nfio ha celebragio prévia de consul tas, mas o pais importador deve solicitar ao pafs exportador sua realizagio dentro de cinco dias a partir da adocio da medida."® De qualquer forma, nenhuma medida de salvaguarda transité- tia, provis6ria ou definitiva, podera exceder 0 perfodo de trés anos. Cessa também a medida se, neste interim, ocorrer a integragio do produto importado ao GATT 1994.!* No caso do Mercosul, a primeira norma a tratar da tematica sobre salvaguardas foi inscrida no Tratado de Assungio. As- sim, 0 anexo IV daquele Tratado estipula que os Estados po- derio aplicar medidas de salvaguarda, em casos excepcionais, até 31 de dezembro de 1994," na forma de restrigées quan- titativas. Antes de sua aplicacio, porém, devem ser celebra- das, obrigatoriamente, consultas para negociago de coras com © pais exportador, para que nao se interrompam as correntes de comércio geradas no interior do bloco."® Toda medida apli- cada teré duragio maxima de dois anos, sendo que “em ne- hum caso a aplicagio de cliusulas de salvaguarda poder estender-se além de 31 de dezembro de 1994”.!* O Tratado de Assungio deixa claro, ao reiterar esta limitacio nos art. 1° 5°, que no pode haver medida de salvaguarda em vigor no Ambito do Mercosul a partir de 1° de janeiro de 1995. Estas normas, entretanto, nio contemplam as excegdes para produ- tos téxteis, e por uma questio légica, a que o ATV foi concluido apenas em abril de 1994 — trés anos apés a assinatura do ‘Tratado de Assuncio. A questo de salvaguardas para o setor téxtil ficou em aberto mesmo apés 2 entrada em vigor do ATV. Contudo, esta ques- 10 ATV, art. 6.11 ATV, art. 6.12. 82 Anexo IV a Tratado de Assungio, art. 1°, Anexo TV a0 Tratado de Assunsio, att. 4° as partes (ATV, art. 6.8), Anexo IV a0 Tratado de Assunsio, art. 5° tho no se mostrou relevant, uma vez que nao houve conti to entze os paises membros sobre a matéria, Em dezembro de 1996 foi aprovado, através da Decisio n. 17/96 do Con- selho Mercado Comum, o Regulamento Relativo 4 Aplicagio ide Salvaguardas as Importagoes de Paises Nao-Membros do /Mereosul (ASM), que se bascou no ASOMG, também con- cluido em abril de 1994, O tinico dispositivo no ASM que trata da matéria é 0 att. 82, que estipula: “Nos casos de pro- dutos agricolas e produtos téxteis, aplicar-se-Ao, no que cou- ber, as disposigdes do Acordo sobre Agricultura e do Acordo sobre Téxteis ¢ Vestuitio, da OMC.” Recentemente, esta questo foi levantada no ambito do Mercosul. Através da Resolugéo n. 861, de 16 de julho de! 1999, a Asgentina estabeleces medida de salvaguarda contra produtos téxteis (tecidos de algodao e suas mesclas) originatios| do Brasil, consubstanciada na fixacio de cotas anuais para a importagio destes produtos. Tal medida foi aplicada de for ‘ma provisétia (a0 houve, portanto, celebracio de consultas), apés aquele pais ter constatado a existéncia de dano grave & sua industria ¢ circunstincias excepeionais e criticas. A Argen- tina aplicou a medida com base no art. 6° do ATY, jé referido antetiormente, ¢ aio Ievou em consideracio uma norma se- quer do Mercosul. Segundo a linha de argumentacio daquele pais, ndo ha re- gras disciplinando a matéria no Mercosul e, por esta r2zi0, niio pode haver violagao dos compromissos assumnidos em seu ambito pelo pais. A Argentina ressalta que 0 ASM trata apenas das Salvaguardas do att. XIX do GATT 1994, contempladas pelo| ASOMC, e que o art, 82 do ASM remete ao ATV a questio das salvaguardas para téxteis no interior do bloco, numa clara demonstracio da existéncia de um vazio legislativo sobre a ‘matéria, Desta forma, estes produtos estariam sujeitos a5 re- gras do ATV ¢ ao principio da ndo-seletividade, ¢ excluir 0 Brasil da aplicagio destas medidas configuraria violagio ao prin- cipio da nio-discriminagio da OMC. “Tal atitude foi imediatamente questionada pelo Brasil, que vé ai uma nitida demonstracio de protecionismo e destespei- to as regras comuns do bloco. Para o pais, 0 Tratado de As- sungio é explicito a0 proibie a adogio de salvaguardas contra importagdes de paises membros ¢ a aplicagio do ATV se faz ___omoymonereseuss 79 subsidiariamente no caso de salvaguardas extrazona."* © ASM reitera o principio do Tratado de Assungio'” ¢ apenas remete a0 ATV os casos omissos em relagio & matéria. Ademais, a ‘exclusio dos sécios da aplicagio de salvaguardas encontra respaldo no art. XXIV do GATT 1994. A controvérsia, porém, assume maiores implicagdes. A Ar igentina, a0 buscar a excepcionalidade para os produtos téx- teis, questiona a propria condi¢o de Uniao Aduaneira do Mercosul. © Brasil insiste em que ndo ha incompatibilidade entre as regras do bloco € as da OMC, e mostra receio em relagio a0 futuro do Mercosul caso seu principal parceiro comercial no bloco continue a impor restrigées unilaterais Ha que se ter em mente, além disso, 0 atual contexto eco. némico da Argentina, que atravessa um momento delicado, Com a desvalorizacio do real em relagio ao délar e com a desgravacio tarifiria de certos produtos brasileiros, que atin- giram tarifa zero no inicio deste ano (veja-se 0 caso dos calea- dos), 0 aumento das importagdes foi inevitivel. Ao mesmo tempo, os produtos argentinos ficaram mais caros no Brasil, 0 principal mercado consumidor de seus produtos. Esta conjuntura fez com que 0 governo argentino fosse pressionado por sua indiistria a tomar medidas de protesao, sob pena de agravar ainda mais 0 quadro econdmico-social do pais. A adogio de salvaguardas foi uma das respostas do pais aos anscios da indstria doméstica. No entanto, ao serem direcionadas contra importagdes do Brasil, ainda que com fandamento em norma multilateral (ATV), colocaram em divida a estrutura do Mercosul, abrindo uma crise politico- diplomatica entze os dois paises. © imperativo argentino de protecio 4 sua indiistria, po- rém, tem se sobreposto aos interesses do Mercosul. Numa atitude que corrobora esta tese, dez dias apés a aplicacéo de salvaguardas transit6rias contra os téxteis brasileiros, em 26 de julho de 1999 a Argentina publicou a Resolugio n. 911, © CE GAZETA MERCANTIL, 1999, p. A-2. 7 ASM, art. 99: “Quando forem aplicadas medidas de salvaguarda (), excluir-se-fo das mesmas as importagées origindrias dos Estados-Partes.” que permite e regula a adocio de salvaguardas contra produ tos (note-se: no somente os téxteis) que entrem no pais origi- narios de qualquer pais membro da Associacio Latino Ameri- cana de Integracio (ALADD), inclusive dos parceiros do Mercosul, que afete a indtistria doméstica. A decisio bascia-se na Resolugio n. 70/87 do Comité de Representantes da JALADI, a qual estabelece o Regime Regional de Salvaguar- das. Segundo a resolucio, os paises membros da ALADI po- dem aplicar cléusulas de salvaguarda, com cardter transitorio ¢ em forma nio-discriminatéria [As repercussdes desta nova medida argentina ainda pairam sobre o bloco. O que se sabe € que, num primeiro momento, 2 Argentina quer estender a aplicagio de salvaguardas para os calcados brasileiros, medida que no encontra respaldo algum no ATV nem no ASM. De qualquer forma, traz 4 tona, entre outros questionamentos, discussio sobre a supremacia das normas do Tratado de Assuncio que, pensava-se, havia revo- Jgado para Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai as normas da JALADI em relagia 2 temas comerciais. 6. METODOLOGIA JA metodologia utilizari 0 método dedutivo. Serd feito um estudo comparativo entre a normatizagio do Mercosul, ALADI e OMC, onde se pretende apontar similaridades ¢ diferencas entre clas no que diz respeito as medidas de salva- guarda, 6.1 Proposta de sumério: 1, Introdugio 2. Legislagio sobre Salvaguardas 2.1 Salvaguardas como medidas de defesa comercial 2.2 Blementos conceituais 2.3 Tragos caracteristicos 3, Salvaguardas em Relagio a Produtos Téxteis 3.1 Salvaguardas como excecdes transitérias 3.2 Fundamentos caracteristicas ‘© PROVETO DE PESQUISA 3.3 Normatizasio internacional 4, Salvaguardas para Téxteis no Mexcosul 4.1 Legislagio aplicivel 4.2. Compatibilidade das normas 43 Anilise exitica Conclusio . Referéncias Bibliograficas . Anexos aaa 2 Cronograma 1 200 ‘Atiadess [eso fot [out [mow Fl je [er [oe [ma [me Tevantinento |X |X x) x ‘lingice Testa © x [x ]e |x ]e]x] = [= shane ‘helo ¥[e|e, = prove Teaco fat ¥ on exp iit x cop % Tmirodorioe = oneluato, entrega de x nomena Seteen ¥ onogmfia conntoscom |= [= [= ]=]=]=|=] = |e] TX ‘onenasor 7. LEVANTAMENTO BIBLIOGRAFICO INICIAL_ BARRAL, Welber. Solugio de controvérsias no North American Free Trade Agreement (NAFTA). In: MERCA-| DANTE, Acaminta; MAGALHAES, José Carlos de. Solugio fe prevengio de litigios internacionais, Sio Paulo: Capes, 1998. p. 241-264. . Dumping ¢ comércio internacional. Rio ‘de Jancizo: Forense, 1999. ‘Subsidios e Medidas Compensatérias na OMC. In: CASELLA, Paulo Borba; MERCADANTE, Araminta de [Azevedo (orgs). Guerra comercial ou integrago mundial pelo comércio? Sio Paulo: LTr, 1998. p. 371-382. . Tratamiento de las practicas desleales en los procesos de integracién. 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Apés a conchisio do projeto, retorne a essa lista, ¢ veja se voce cometcu algum desses etros: Na Apresentagio: — titulo do orientador: 0 titulo correto é Dr. e MSc., para aqueles que de fato houverem conquistados esses titulos; — titulo do trabalho longo demais: o titulo pro- posto deve tefletir o problema a ser estudado; mas nem sempre um titulo longo especifica um problema, ¢ pode sim agregar novas variaveis a serem analisadas; — titulo que foge ao assunto: o titulo deve refletir a delimitagio do tema, nfo sendo geral nem especifico demais. Na definigio do problema: — problema vago: © problema deve ser tio especi- fico quanto possivel; nfio existe “tema muito delimita- do”, mas, sim, 0 contririo; — hipéteses destoantes do problema: as hipéte ses secundirias devem ser inferiveis da hipstese princi- pal, ¢ no devem se referir a quest5es novas. Na Justificath — justificativa “politica”: a justificativa deve con- vencer 6 leitor da relevancia cientifica do trabalho, ¢ no ser mera exposicao de interesses politicos do autor. Na Revisio Bibliografica: — revisiio curta demais: a revisio bibliogniifica deve conter uma exposico ampla sobre 0 instituto estudado; & omojropersqusa 8 — revisio apenas de conceitos classicos quanto ao tema: a revisio bibliografica deve informar o leitor sobre 0 estado-da-arte do problema proposto; — revisdo bibliografica que apresenta apenas o ponto de vista do autor: a revisio bibliografica deve apresentar o estado-da-arte, o grau atual de conheci- mento sobre o problema, com os argumentos favoré- veis ¢ contratios 4 hipétese apresentada pelo autor; — falta de indicagfo de fonte: toda afirmagao deve estar fundamentada ou deve decorrer do raciocinio ex- posto pelo autor. Na Metodologia: — falta de especificagao do método a ser utiliza- do: diga como vai demonstrat sua hipétese. Na Proposta de Sumario: — auséncia de proposta de sumario: pecado capi- tal; a proposta de sumério é um dos principais itens do projeto, ¢ deve ser constantemente atualizado; — sumério desconjuntado: a proposta de sumério deve ser um esqueleto do trabalho, deve prever uma divisaio equilibrada dos futuros capitulos; — proposta de sumério se inicia com temas correlatos ou amplos demais: a proposta de sumatio deve direcionar para o tratamento do problema, ¢ nao retornar as origens do Direito no Capitulo 1; — capitulos com uma unica subdivisao: refazer proposta de sumério, incorporando o item em outro capitulo; — cronograma nio realista: 0 cronograma propos- to nfo deve ser apenas para constar, mas deve refletir a evolugio real qui spera do trabalho. No Levantamento Bibliogréfico: — listagem fora de ordem alfabética: no Word, pode-se usar 0 recurso Tabela-Classificar; — teferéncias nao padronizadas: consultar regras da ABNT, sobretudo para artigos em revistas. 5.1 Apresentagio de relatérios Durante a execugio do projeto de pesq mum que se exija a entrega de relatorios periédicos, gue demonstrem o momento da evolugio da pesquisa. Via de regra, esses relatéxios sao trimestrais ou semes- trais, a depender do prazo para entrega do trabalho &- nal. Sobretudo em trabalhos de pesquisa bibliogrifica, os alunos devem entregar, como parte do relatétio, os capitulos que forem sendo escritos, Nao ha qualquer problema nisso, mas € importante que o formato do relatétio demonstre claramente a evolugao da pesquisa € como 0 aluno tem se dedicado a ela. Como regra geral, o relatério deve refletir 0 que foi realizado até entfo. Sua estrutura deve conter os se- guintes elementos: 1, APRESENTACAO, 2. RESUMO. 3. INTRODUCAO 3.1 Revisio Bibliografica 3.2 Objedvos 4. METODOLOGIA 5. DISCUSSAO 6. CONCLUSOES 7. RESULTADOS 8. BIBLIOGRAFIA ___ornoysroperesqusa 8D 5.2 Apresentagiio Na Apresentacio do Relatério, incluem-se os princi. pais dados indicadores da pesquisa: 1.1 ‘Titulo do rela- tério; 1.2 Autor; 1.3 Orsientador; 1.4 Area de concen- tracio; 1.5 Entidade envolvida; 1.6 Orgio financiador; 1.7 Petfodo da pesquisa. 5.3 Resumo Essa parte deve conter, em 200 palavras, os principais dados € objetivos do projeto de pesquisa. O resumo deve set claro e objetivo, pois o aluno deve ter em mente que 0 relatétio muitas vezes é examinado por um coordenador de pesquisa do curso, que nfio necessariamente conhece com profundidade o tema do projeto. Ainda, algumas institui- Ges publicam os relatérios para sua comunidade académi- ca. Destatte, 0 resumo deve ser acessivel a esse puiblico. 5.4 Introdugao ~ Revisfio Bibliogréfica: O aluno deve apresentar nesse item a revisio das prin- cipais obras consultadas durante 0 periodo a que se refe- re 0 relatério, identificando os conceitos fundamentais ¢ sua relevincia para o resultado final da pesquisa. — Objetivos: O aluno deve, aqui, rememorar os objetivos do pro- jeto de pesquisa, identificando se algum desses objcti- vos j4 foi alcancado na fase atual em que se encontra a execugio do projeto. 5.5 Metodologia Nesse item, deve-se identificar a metodologia utili- zada até entio. Se pesquisa bibliogrifica, se houve pes- quisa de campo, etc. 5.6 Discussio O aluno deve demonstrar aqui como a revisio biblio- gréfica e a metodologia escolhida foram relevantes para essa fase da pesquisa. Nesse item, é importante também que o aluno entre- gue uma versio atualizada da proposta de sumério. Como se disse anteriormente, 2 proposta de sumario evolui ¢ modifica-se ao longo da pesquisa, ¢ € extrema- mente relevante que essas modificagdes sejam discuti- das com 0 orientador. 5.7 Conclusdes Nessa parte, deve-se condensar as principais conclu- sdes do trabalho realizado até entio. Essa parte sera selevante no futuro para a conclusao geral do trabalho. 5.8 Resultados Nesse item, devem constar os resultados académicos eventualmente obtidos, além da claboracio dos capitu- los respectivos. Assim, devem ser listados 0s possiveis artigos publicados pelo aluno, apresentacio em congres- sos, discussdes em grupos de pesquisa, etc. 5.9 Bibliografia utilizada As obras efetivamente lidas e consultadas pelo autor do projeto de pesquisa devem constar dessa tiltima parte. 5 TECNICAS DE PESQUISA KGa Antes de mencionar algumas questdes especificas no que se refere aos cuidados ¢ procedimentos a serem adotados durante a execugao da pesquisa, € necessaria uma diferenciacao conceitual quanto as fontes a serem buscadas. Fonte deve ser compreendida aqui como a informagio essencial para a construgao do conhecimen- to sobte © objeto pesquisado. Em metodologia, é comum a diferenciagao entre fon tes primérias ¢ fontes secunditias. Fonte primaria é 0 ‘objeto em anilise. Assim, numa pesquisa de laboraté- rio, as fontes primérias serio os resultados obtidos a partir da experiéncia quimica. Numa pesquisa antropo- l6gica, serio os relatétios relativos ao comportamento do grupo social observado. Mas a pesquisa juridica fundamentalmente se efetiva pot meio de fontes bibliogrificas. Assim, num tema rela- tivo & constitucionalidade de uma dada norma, as fontes primarias serao a Constituicao Federal e a Lei n. X. Numa monografia sobre o conceito de garantismo na obra de Sérgio Cademartori, as fontes primérias serio as obras daquele autor. Numa pesquisa de campo sobre discrimi- nagio de género nas varas de familia, serio os processos judiciais examinados. Fontes secundérias, por sua vez, sero os comentarios ou anilises sobre a fonte primatia. E a literatura sobre o tema, os estudos publicados, palestras e conferéncias onde © autor colheu opinides sobre 0 objeto de sua pesquisa. A primeira conseqiiéncia dessa divisdo conceitual é que nio é admissivel, numa pesquisa séria, 0 embasa- mento argumentativo sobre fontes secundarias. Em coutras palavras, o autor da pesquisa deve examinat, ini cial e prioritariamente, a fonte priméria. A partir dessa anilise, € que o pesquisador deve contrastar 0 conheci- mento obtido com as fontes secundarias. Nesse processo, alguns cuidados sio recomendaveis. Em primeiro lugar, nao é admissivel basear-se em fontes secundarias para asseverar a existéncia de um dado pri- mario. Um exemplo simples esclarecera essa afirmaci comum o pesquisador iniciante esctever que “segundo Fulano, o Estatuto da Crianga ¢ do Adolescente deter- mina X”. Ora, a norma em questo é a fonte priméria do trabalho; 0 pesquisador deve examind-la ¢ interpreté-la ele mesmo. Ao socorrer-se de argumento de autoridade, na realidade enfraquece seu papel de intérprete. E isso nao é admissivel numa pesquisa cientifica. © segundo cuidado é 0 de esgotar a fonte priméria. Ou seja, ler cuidadosamente 0 seu contetido, buscando a interpretagao que seja cientificamente embasada, ¢ nijo apenas aquela que satisfaca a hipdtese propostas pelo projeto. Por exemplo, se a pesquisa se refere @ in- terpretacio do Tribunal de Justiga de Santa Catarina quanto aos direitos da companheira, € importante exa- minar integralmente os acérdaos, inclusive os votos vencidos, ¢ no restringir-se A ementa. © terceito cuidado: manual nao é fonte primaria; manual raramente sequer é fonte secundaria, Por ma~ nual, entendem-se os livros didaticos, utilizados ao lon- go do curso e que contém uma abordagem inicial ¢ su- petficial sobre os temas discutidos em cada disciplina. E usual que, 20 ler o manual, o aluno tenha seu interes- se despertado por um determinado tema ou problema. -Teauicas pe PEQUNSA, 93 Entretanto, qualquer pesquisador sabe que a descricio no manual reflete 0 senso comum entre os juristas, niio atentando para excegdes e especificidades, que serio demonstradas por qualquer estudo mais aprofundado sobre o tema. Por isso, é extremamente perigoso (€ niio chique) citar manuais, mesmo como fontes secundérias. Isso leva a outro questionamento: quantas fontes, ptimérias ¢ secundérias, devem ser consultadas? A res- posta é: todas. Todas as publicagdes referentes ao pro- blema escolhido devem ser analisadas. Algum leitor de pouca fé logo dir que isso é impossfvel. E a resposta seta: nfo, vocé é que nao delimitou bem o seu tema. Claro que, por exemplo, vocé nao conseguird obter, e nem ler, toda a bibliografia brasileira referente @ tutela antecipada. Mas sobre “a tutela antecipada no proces- so de execucio contra a fazenda publica”, que é a deli- mitagZo do seu tema, sobre isso sim, vocé devera ler tudo 0 que jé se publicou. Logo abaixo, veremos como obter essa bibliografia integral sobre um tema. Outro cuidado, durante toda a pesquisa, refere-se & confiabilidade dos dados obtidos. Esses dados devem set confiaveis, provir de fontes identificaveis, e de- vem ser completos. E comum o pesquisador iniciante coletar dados parciais, e depois meter-se num emara- nhado de informagées contraditérias, ou perder horas pteciosas a catar a cidade daquela abominavel editora, que ele nfo anotou no momento devido. De fato, tomar notas exige determinagio ¢ pacién- cia. Todo pesquisador iniciante confia excessivamente em sua meméria: ele sempre acha que vai se lembrar de onde tirou aquela citagio, onde viu aquele livro, ou em que sitio da internet se pode encontrar esse artigo. Essa confianga excessiva é geralmente frustrada pelos fatos; © volume de informacao durante a realizagao de uma pesquisa é imenso, mais do que pode comportar uma mente humana mediana. E, embora todos saibam que 0s estudiosos de Direito esto acima da mente humana normal (ou pelo menos patecem crer nisso), no é pos- sivel identificar de meméria sequet as fontes para um capitulo da monografia. Sera importante, entio, em primeiro lugar, manter um método coerente e constante de pesquisa: utilizar a mesma forma de anotacio, as mesmas siglas, seguir uma ordem na pesquisa bibliografica e na pesquisa de biblio- tecas, ete. Uma recomendagio especial se refere a coleta ¢ armazenamento de dados por meio cletrénico. Em ou- tras palavras, o seu cindido computador nfo € um ser confiavel. Ele tera algum problema durante a consecu- Glo da pesquisa — estatisticas mostram que todo com- putador doméstico tem um problema grave por ano. Por isso, tome cuidado em gravat semanalmente uma cépia de seguranca de todos os dados obtidos eletronicamen- te ¢, obviamente, dos capitulos redigidos. Lembre-se da Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, ela vai dat errado. E normalmente as vésperas da data de entrega do trabalho. Feitas essas recomendagées gerais, examinemos ago- ra trés elementos bisicos da pesquisa bibliogréfica: a biblioteca, os fichamentos e a pesquisa pela internet. Este livro nio se dedica 4 pesquisa de campo ¢ a pes- quisa do laboratério, pouco usuais na area de Direito. Caso 0 leitor necessite desses métodos de pesquisa, recomenda-se a leitura de bibliografia especializada sobre 0 assunto.! 1 Vejarse, neste particular, Lakatos ¢ Marconi (1991) ¢ Severino (1986) eemtens De 1. A BIBLIOTECA ‘Durante os primeiros anos escolares, era comum a pro- fessora pedir uma pesquisa sobre determinado assunto. O procedimento adotado pelo aluno, em regra, era ir A casa de algum amigo que tivesse uma enciclopédia, daquelas expostas na sala de jantar, ¢ dali copiar — sem indicar qualquer referéncia, nataralmente — as informagées soli- citadas pela professora. A isso chamévamos pesquisa. Guardadas as devidas proporgées, ainda hé muitos estudiosos que adotam procedimentos semelhantes. Com um tema em mente, vao para a biblioteca mais proxima e que lhes parece mais completa, vo a estante relativa Aquele tema, ¢ ali vao catando os livros que thes parecem mais pertinentes. Esse procedimento niio pode ser chamado de pesquisa. Poderia entretanto ser chamado de esperanga inabalavel na préptia sorte. Pois as obras conseguidas nem sempre serio as mais com- pletas, nem as mais atualizadas, nem as que terdo maior relevancia para o desenvolvimento da pesquisa. Isso nos leva & regra de ouro no que se refere a pesqui- sa em bibliotecas: primeiro, procure a referéncia; de- pois é que vocé ira procurar a publicagao. Ou seja, nunca v4 2 uma biblioteca sem saber exatamente 0 que esta procurando. Fazer isso € auto-enganar-se, é tentar preencher as vazias tardes de sébado com visitas biblio- teca, 20 invés de enfrentar a nefanda pagina em branco. A pergunta entio deve ser: como encontrar as refe- réncias bibliogréficas? 2. BUSCA DE REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS © método mais tradicional para buscar bibliografia sobre um tema especifico so as denominadas obras de referéncia. Sao publicagdes periddicas que trazem re- sumos de ttabalhos publicados em cada area de conhe- cimento. Essas obras normalmente sio separadas no setor de referéncia das bibliotecas. ‘Arualmente, a busca de referéncias se tornou mais facilitada pelos meios eletrOnicos. Sio exemplos de meios cletrénicos de pesquisa os bancos de dados. ‘Muitas bibliotecas adquirem arquivos eletrdnicos com sistemas de busca por palavras-chaves, normalmente em CD-ROM; consulte sua biblioteca quanto a essa disponibilidade. Algumas bibliotecas disponibilizam, por meio cletrénico, 0 catélogo de seu acervo. Mesmo em bibliotecas que sejam bastante completas, nao se deve limitar a pesquisa apenas ao catélogo de uma tni- ca biblioteca. (O PRODASEN € 0 banco de dados do Senado Fede- ral, o mais completo do pais. Para acessi-lo, é necessiria ‘uma senha, que é detida por funcionatios das bibliotecas de érgios publicos. Consulte a bibliotecaria de sua uni- versidade quanto & possibilidade de acesso local. Pode ocorter que a referéncia obtida num catélogo eletrénico nfo esteja disponivel nas bibliotecas locais a que vocé tem acesso. Para isso, foi criado o COMUT, um sistema de intercambio entre bibliotecas, para fins de empréstimo de livros ou cépias de artigos de perid- dicos Existem também empresas especializadas na obten- do de cépias de artigos publicados em qualquer lugar do mundo. Evidentemente, isso tem um custo, que deve ser calculado na claboragio do projeto. Por fim, algumas recomendagées quanto 4 pesquisa em bibliotecas. Primeiro, pega ajuda; o pessoal da biblio- teca é, em geral, extremamente solicito na ajuda 4 pes- -TCMICAS DE PESQUISA quisa. Segundo, siga as regras € nunca banque 0 esper- tinho; aquele livro que vocé escondeu na secio de Botani- ca, com 0 intuito de tomar emprestado no futuro, nunca mais sera encontrado, nem por vocé nem por outros olha- res curiosos. Terceito, caidado com as obras emprestadas. ‘Trata-se de patriménio piblico ou alheio, e que serve no apenas para vocé. Quarto, respeite os direitos autorais. A nova lei brasileira é mais rigorosa sobre 0 assunto, ¢ “a cépia feita por terceiro ou a copia integral da obra no se beneficiam da isencao legal, estando sujeitos nao s6 a pré- via autorizac’io como ao pagamento dos direitos autorais.”® 3. OS FICHAMENTOS Una das indicacées mais tradicionais no que se refe- re as técnicas de pesquisa é o fichamento. Livros de ‘Metodologia mais antigos indicavam inclusive o tama- nho das fichas, como deveriam ser condicionadas, di- cas para manté-las, etc. ‘A verdade é que, apés 0 advento da maquina xemx © do computador, o fichamento perdeu muito de sua uti- lidade ou glamour como instrumento para desenvolver a pesquisa cientifica. A regra atual é: utilize 0 método de registro que Ihe for mais conveniente, desde que cle seja eficiente ¢ coerente. ‘A Lei n. 9.610, de 19.2.98 determina, em seu art. 46, que: “Nao constitui ofensa aos direitos autorais: II ~ a reprodugio, em um 56 exemplar de pequenos trechos, pata uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de luero; II ~a citagio em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicasio, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, critica ou polémica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando- se o nome do autor € a origem da obra.” 3 Silveira, 1998, p. 68. Assim, o que se recomenda quanto as fontes primérias é que elas estejam sempre disponiveis. A legislagio especifica, a obra examinada, a jurisprudéncia, depen- dendo de cada caso, deve estar sobre a mesa de traba- Iho, devidamente organizada conforme a rotina ado- tada pelo pesquisador. E pertinente o uso da palavra “rotina”, € necessaria uma padronizacao de habitos no que se refere ao processo de pesquisa. E essa rotina, seja quanto ao espaco, 20 horiirio da pesquisa, de cole- tar dados, depende das preferéncias e da disponibilida- de do pesquisador. Por isso, 20 aluno é dificil indicar regras imutaveis para a pesquisa. Algumas dicas, porém, podem ser titei — mantenha um sistema tinico de registro: pode ser um caderno de anotagdes, que o acompanhara a bi- blioteca, ou quando vocé pesquisar em banco de da- dos, ou quando navegar pela internet; —tenha sempre um disquete/cd/pendrive a sua disposigao, que sirva como suporte provisério de ar- quivos encontrados aleatoriamente; quando chegar em casa, passe esses arquivos para seu computador; — divida o material copiado em pastas, seguindo © sumirio de seu trabalho; ao longo da pesquisa, ha um aciimulo interminavel de papéis, xerocépias, anotagées etc. A medida que esse material for coletado, coloque na pasta relativa Aquele capitulo, sob pena de vocé nfio encontrar quando efetivamente necessitar dele. Q mes- mo vale para os fichamentos feitos no computador: sal- ve-os numa pasta especifica, fazendo sempre referén- cia a0 tipo de fichamento ¢ ao autor/obra, sob pena de perder tempo precioso buscando um arquivo perdido num mar de inutilidades; — ndo tenha preguiga de fazer as anotagées fun- damentais de cada material pesquisado; além das TECNICAS DE PRSQUISA referéncias bibliograficas, anote também onde vocé obteve aquele material, em que biblioteca, em que sitio da internet ou em que base de dados. — aprenda a fazer anotagées no texto: sublinhe as partes mais importantes, anote 4 margem do livro; isso ajuda a fixar as idéias ¢ a desenvolver sua avaliacio do material lido — a nao ser evidentemente que o livro nfio seja seu; ~ faga anotagées nas fichas: caso vocé opte por fazer um resumo dos livros lidos, coloque entre aspas as transcrigées literais do autor, indicando a pagina tes- pectiva ao final de cada citac&o; indique suas observa- des entre colchetes. 4, ‘TIPOS DE FICHAMENTOS O fichamento continua sendo um recurso valioso para a pesquisa, pois permite condensar tépicos importantes para o trabalho, Além disso, costuma ser exigido principal- mente nas fases iniciais dos cursos de Direito, tanto como. forma de avaliagZio como meio de verificar 0 cumprimen- to por parte do aluno de exigéncias de leituras prévias. No entanto, existem diversos tipos de fichamento, dependendo do objetivo que se busca alcangar. Alguns elementos sio comuns a todos eles: i) 0 cabegalho, que contém o titulo do fichamento, a referéncia bibliografi- ca completa, ¢ no caso de ser um trabalho de sala, a identificag’o do autor do fichamento; ii) 0 corpo do fichamento (no qual se desenvolve o contetido da obra fichada), no qual podem ocorrer variagdes, dependendo do objetivo do fichamento. Antes de passar para o objetivo e a forma dos tipos de fichamento mais utilizados, é importante ressaltar 100 \WwaLne mARRAL que seu trabalho ficaré muito mais facil se, a0 fazer 208 fichamento, vocé adotat um padrio tinico, respeitando sempre as normas da ABNT (as mesmas exigidas para © TCC, a dissertacao ou tese). Isso porque um ficha- mento bem feito pode cotresponder a um tépico im- portante de sua pesquisa, podendo ser recortado/cola- do (fangao do word) no corpo do texto, lembrando sem- pre de indicar a autoria. — ficha de citagZio: aqui, o objetivo é transcrever literalmente trechos significativos da obra estudada, seja ela um livro ou um artigo, por exemplo. Nesse caso, a citacio é feita entre aspas, devendo-se sempre indicar a pagina da obra da qual foi retirada (lembre-se que essas citagdes podem ser titeis para vocé ao longo de seu trabalho, ¢ quanto mais bem feito for o fichamento, menos trabalho vocé tert mais tarde para encontrar as informagées que procura). No caso de vocé suprimir trechos ou palavras no meio da citagio, isso deve ser indicado por meio de reticéncias entre colchetes: [.... Cabegalho Ficha de citagio Tira Referéncia: BARRAL, Welber (Org). Direito e Desenvolvi- mento: anélise da ordem juridica brasileira sob a tical do desenvolvimento. Sio Paulo: Singular, 2005. |Aluna: Carolina Munhoz izeito e Desenvolvimento “ © que é desenvolvimento? Trata-se de uma palavra de sen- tido vago, 4 qual niio raramente se agregam diversos adjeti- vos, como “infantil” ou “regional”, como conotagées no ape- nas distintas, mas muitas vezes contraditérias.” (p. 31) — ficha resumo: nesse tipo de fichamento, utilizam-se parifrases, ou seja, sinteses pessoais das principais idéias “FACRICAS DE PESRA contidas na obra fichada (0 famoso “escreva com suas préprias palavras”). E importante ressaltar a necessi- dade de conservar sempre o sentido original dado pelo autor. Em todo caso, nada impede que nesse tipo de fichamento sejam inseridas algumas citagdes, que se entenda sejam representativas do pensamento que se quer retratar. Cabegalho Ficha Resumo Titulo: Direito e Desenvolvimento Referéncia: BARRAL, Welber (Org). Direito ¢ Desenvolvi- mento: andlise da ordem juridica brasileira sob a tica do desenvolvimento. Si0 Paulo: Singular, 2005, Aluna: Carolina Munhoz © autor inicia 0 livro questionande © conteéde do termo desenvolvimento, principal problema que o livro busca ana- lisar. Ressalta que esse termo tem a si atribufdos diversos adjetivos. — resenha critica: a idéia aqui é que o autor do fichamento, 20 mesmo tempo em que faz um resumo das principais idéias contidas na obra fichada/rese- nhada, oferece uma opiniao pessoal sobre o tema es- tudado. O posicionamento pessoal pode permear o re- sumo, ou pode vit consolidado no final do texto. Cabecalho Resenha Critica Titulo: Direito e Desenvolvimento [Referéncia: BARRAL, Welber (Org). Direito ¢ Desenvolvi- ‘mento: andlise da ordem juridica brasileira sob a ética do desenvolvimento. Sio Paulo: Singular, 2005. Aluna: Carolina Munhoz |A idéia central do livro é discutir a nogo de desenvolvimen- to, analisando a ordem juridica brasileira a partir da ética do desenvolvimento. Ao propor esta abordagem, o objetivo dos autores é verificar nfo apenas de que forma o dircito influen-| cia © processo de desenvolvimento, mas também constatar| como 0 direito brasileiro influencia 0 processo de desenvolvi- mento nacional. 5. PESQUISA NA INTERNET ‘A internet foi uma evolugio fascinante no que se re- fere transmissao de informagées. Por isso, a pesquisa em materiais obtidos pela internet tem sido muito mais rica em informacées atualizadas e que setiam inacessi- veis ha alguns anos. Algumas éreas de pesquisa, como € 0 caso do Direito Internacional, foram beneficiadas pelo possibilidade de obter, muito mais imediatamen- te, documentos ¢ informagies. ‘Mas a internet também tem seus riscos, ¢ nfio é uma panacéia que resolva todos os problemas da pesquisa. O primeiro risco da internet é a perda de tempo, nave~ gando em sitios eletrénicos (ou sifei) de questionavel utilidade ou credibilidade. A internet se parece com uma imensa biblioteca desorganizada, onde muitas vezes tropesar com uma fonte importante se da mais por sor te do que pelo método de pesquisa. O segundo tisco é que as informagées da internet estio constantemente em mudanga, sendo acrescidas e modificadas a depen- der de cada provedor. Por isso, corre-se 0 perigo de que a informacio nio esteja mais disponivel no futuro. O terceiro risco € quanto 4 credibilidade da informacio obtida; como qualquer um pode criar um sitio virtual, qualquer coisa pode ser colocada na internet, por mais fantasiosa que seja. SDE PESQUISA Para diminuir esses riscos, algumas recomendagdes podem ser valiosas: — nunca dependa somente de informagées da internet: sobretudo no que se refere As fontes primérias, confitme 2 informagio; — grave ou imprima sempre as informagoes € arquivos obtidos: eles podem nfo estar mais disponi- veis amanhi; se a informagao for muito importante para sua pesquisa, imprima uma cépia ¢ guarde na pasta res- pectiva; — procure dados em sitios oficiais: sobretudo quan- do se basear em estatisticas ou dados sociais, prefira informagao de organismos internacionais ou governa- mentais; — desenvolva uma rotina para pesquisar na internet: anote previamente as palavras-chaves que sero buscadas, liste os mecanismos de busca que vocé queira utilizar, marque como “favoritos” os que vocé julga como mais importantes; — tenha o equipamento e programas necessarios para o nivel de pesquisa que pretende realizar: tem-se tornado usual a obtencio de arquivos em formato Acrobat (PDF), e alguns érgios como o STJ divulgam seus documentos em formato Image; esteja seguro de que vocé tem os programas necessarios para ler esses arquivos; —tenha sempre um antivirus atualizado: nunca se sabe 0 que citcula pela internet, e vocé nfo vai que- ser que algum virus ensandecido apague todo contetdo do disco tigido de seu computador. — participe de listas de discussio: uma boa for- ma de intercimbio de idéias e atualizagio de infor- magées € participar de listas de discussio virtuais; ape- nas assegure-se de que é uma lista voltada para a matéria que vocé estuda, pata nao ser vitima de informagdes irrelevantes © correspondéncia indesejada (spam). As segdes a seguir trazem indicagdes de sitios cle- trOnicos sobre pesquisa jurfdica. A primeira parte se dedica 4 pesquisa no Brasil, enquanto a segunda pat- te traz enderegos mais conhecidos de Direito Inter- nacional e de Direito Comparado. Uma lista de sitios cletrénicos sempre é artiscada, pois se modificam com muita facilidade, ¢ outros os substituem, com dados mais completos ou mecanismos mais faceis de serem utilizados (que se denomina normalmente em infor- matiqués de wser-friendh)). De qualquer forma, espe- ra-se que a lista abaixo possa auxiliar 0 pesquisador iniciante. 6. PESQUISA ELETRONICA NO BRASIL 6.1 Programas de busca Os programas de busca sio onde tradicionalmente se comeca a navegar pela internet. O pesquisador deve, entretanto, ter 0 cuidado de sempre colocar a mesma palavra-chave em todos os programas, para nfio perder resultados. Outro cuidado é tentar palavras-chaves tio especificas quanto possivel, para evitar resultados indesejados. Os mais populates sio: Google (www.google.com.br) Altavista (www.altavista.com-br) Yahoo (www.yahoo.com.br) www Cade (www.cade.com.br) “TAENICAS DE PRSQUISA 6.2 Portais juridicos Algum sitios eletrénicos tentam organizar 0 conjun- to disponivel de informacées. No Brasil, os portais ju- tidicos mais conhecidos sao: vee » A Editora Del Rey € es- pecializada em publicagdes para comunidade juridica com obras € assuntos que abrangem todas as areas do direito. A Editora Saraiva construiu um bom portal, com acesso a artigos e jurisprudéncia. © é um portal especializado em Direito Tributitio. O sitio é um bom local para iniciar a pesquisa sobre eventos da vida académica. O concentra informa- des sobre esse ramo do Direito. 6.3. Bases de dados Senado Federal : a biblioteca do Senado é uma excelente fonte de pesquisa, em li- ros € periédicos jutidicos; busca por palavra-chave. Universidade de Sio Paulo — Bibliotecas : é a excelente base de dados das bibliotecas da USP. Procura por livros e por periédicos. Biblioteca do Congreso dos EUA : contém imensa catalogacio de obras, inclusive brasileiras. Os sitios das instituigdes de fomento a pesquisa con- tém listagens de publicagSes € pesquisadores no Brasil, por area de conhecimento e palavras-chaves. O mais com- pleto € o Programa Lattes, do CNPq . A CAPES vem desenvolven- do mecanismos de acesso a periédicos brasileitos © ¢s- trangeiros, nas varias reas de conhecimento. O LibDex organiza os catélo- gos de bibliotecas do mundo, de acordo com sua locali- zacho geogrifica. UnCoverWeb . ‘Trata-se de uma empresa que fornece artigos de periddicos de todo do mundo. Procura por referéncias em 25.000 periddicos, publicados desde 1988. 6.4 Instituigdes puiblicas Os érgios governamentais esto continuamente sofis- ticando suas paginas de acesso, ¢ maioria oferece a legisla- do aplicivel e processos administrativos. O endetego ele- trénico sempre é identificado por : Ministério da Justiga contém uma boa base de legislagéo. Ministério da Educagio Mi Agencia Nacional do Petréleo istério do Desenvolvimento 6.5 Legislagao em vigor ‘Além do Senado , tima base de dados importante esta no Palacio do Planalto . a Os projetos de legislagio, com debates parlamentares in- clusive, podem ser encontrados no . 6.6 Jurisprudéncia Para pesquisar jutisprudéncia, bons mecanismos de busca podem ser encontrados nos sitios oficiais dos tri- bunais federais ¢ estaduais. Para jurisprudéncia fede- ral, consulte: Supremo Tribunal Federal: Superior Tribunal de Justica: Conselho da Justica Federal: ‘Tribunal de Contas da Unido: Os tibunais estaduais esto investindo bastante na reformulacio de seus sitios ¢ em programas de busca de jurisprudéncia. Os sitios normalmente so designa- dos por www.tj.sigladoestado.goubr: Tribunal de Justica de Minas Gerais: ‘Tribunal de Algada de Minas Gerais: Tribunal de Justica de Santa Catarina: ‘Tribunal de Justiga do Rio Grande do Sul: 6.7 Listas de discussio Procure no ou , por palavras-chaves, 05 grupos de discusso que se relacionam com o tema de sua pesquisa. PESQUISA EM DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO COMPARADO 7 Programas de busca © Google traz maiores néime- ros de resultados por pesquisa. O MetaCrawler combina simultaneamente varios programas de busca. Northern Light é bastante til para pesquisa em sitios internacionais. Uma dica: alguns sitios de noticias, como 0 Google News ou 0 Yahoo, permitem que vocé selecione al- guns termos de pesquisa, que lhe sero notificados imediatamente, se houver publicagio de noticia sobre © assunto nos jornais associados. E uma maneira de saber imediatamente de novidades sobre 0 tema pes- quisado. 7.2 Programas de busca em Direito Lawcrawler é um bom pto- grama de busca de sitios relacionados ao Direito. Legal Engine contém links para uma multiplicadade de informag6es juridicas. © portal é destinado a Direito Internacional, Relagdes Internacionais ¢ Politica E: Law on SOSIG (Social Science Information Gateway) contém fontes primérias e se- cundirias de direito internacional, organizacées profis sionais ¢ sitios de pesquisa. masse rguisa 109 Hicros Gamos é um diret6rio com informagoes bastante completas sobre Direito, estudo de Direito ¢ faculdades em todo 0 mundo. Em espanhol, é um portal bas- tante completo. Droitorg contém informagSes 6o- bre o direito francés. 7.3. Guias gerais © Instituto de Relagdes Internacionais (IRI/UFSC) , contém uma listagem de sitios or- ganizagées internacionais. O € 0 mais atualizado sitio bra- sileiro sobre Relagdes Internacionais. Em ha boas fontes de material bibliografico ¢ noticias sobre Direito Internacional no Brasil, que também podem ser encontradas em . “International Law In Brief” é um informativo se- manal de atualiza¢ao sobre Direito Internacional: “What's Online in International Law” é uma coluna periddica da American Society of International Law Newsletter: ). Universidade Cornell: A Faculdade de Direito daquela prestigiosa universidade contém informagées ¢ guias de Direito Internacional e Com- parado. International Legal Studies Research Guides (Harvard Law School Library): é um bom sitio de referéncia. 110 WEAER RARRAL LLRX International/Foreign Resource Page contém Jinks para peridi- cos de Direito Internacional. ‘A Universidade de Chicago traz bons guias de pesquisa. International Law Dictionary & Directory contém defini- GGes © dinks pata organizacoes internacionais. International Law Pathfinder (www.nku.edu/ ~farnish/internatlawhtml) Descrigio de fontes primé- tias de Direito Internacional. Public International Law (wwwlawecel/uwa.edu.au/ intlaw) Francis Auburn, da University of Western Australia, com numerosos dks para sitios internacionais. ‘The Project on International Courts and Tribunals @ICT) inclui Jinks pata tribu- nais internacionais. 7.4 Bases de dados A Tarlton Law Library contém uma base de dados com mais de 750 periédicos estadunidenses ¢ estrangeiros. University Law Review Project proporciona a busca de artigos na integra na internet. USC Law School ~ Electronic Legal Journals Collection contém listagem de periédicos em Direi- to Internacional, alguns deles com acesso integral aos artigos publicados. Biblioteca da Comissio de Comércio Internacional dos BUA , contém bibliografia sobre esse tema desde 1970. “Tecp1cns DEPESQUISA 11 RAVE contém referéncias sobre artigos ¢ ju- tisprudéncia de Dircito Internacional ¢ de Direito Co- munitario. © Project DIANA or- ganiza fontes e referéncias sobre Direitos Humanos. Hieros Gamos traz a lista de periédicos juridicos totalmente disponiveis cle- tronicamente. Um outra colegio de revistas de Direito Internaci nal esté em The Constitution Finder traz, textos de constituicdes de todo o mundo, em inglés. ‘The International Constitutional Law Project , da Univer- sidade de Wuerzburg, contém tradugdes de constitui- Ges estrangeitas ¢ comentitios. 7.5 Artigos sobre pesquisa na internet LOUIS-JACQUES, Lyonette. How not to waste time on the internet: efficient use of the internet for legal research. WEIGMAN, Stefanie. Researching non-U.S. treaties. . HOFFMAN, Marci. Researching U.S. Treaties and Agreements. . 7.6 Tratados e convengoes ‘The United Nations Treaty Series é o sitio oficial da Organizacio das Nacées Unidas, com indicaco dos Estados que ratificaram 0 qué? ‘The Multilaterals Project: é um sitio bastante completo da Universidade Tufts, inclusive com tratados histéricos. ‘Treaties and International Agreements . Preparado pela Biblioteca da Universidade de Berkeley, contém um guia com tratados em que os EUA sio partes. ‘The Australian Treaties Library . Esse site australiano contém 0 texto integral de quase todo os tratados multilaterais. ‘Treaties in Force: Publicagio anual do Departamen- to de Estado dos EUA: . 7.7 Status de tratados internacionais Além de conseguir 0 texto integral dos tratados in- ternacionais, 0 pesquisador muitas vezes tem de en- frentar 0 problema de saber quais os Estados que dele so partes. Um bom sitio informative sobre o assunto é 0 da Organizagao dos Estados Americanos , que também traz os tratados de Ambito regional. sitio oficial do Mercosul também atualiza as informagées sobre ratificagio de acordos tegionais. 7.8 Organizagées internacionais O World Factbook traz informagées sobre organiza- des internacionais, incluindo lista de siglas: . miiewrcas PESQUISA © Centro de Documentacao da Universidade de Michigan contém links para as organizagées internacionais. 7.9 Unido Européia Os tratados constitutivos da Uniao Buropéia podem ser encontrados em: . EUROPA é 0 melhor sitio para encontrar documentos e informagées sobre 0 proceso de integraco europeu, Documentos sobre o Conselho da Europa podem ser encontrados em: . 7.10 Direito Internacional Privado A Base de Dados do Departamento de Estado dos EUA inclui informagées sobre as ne- gociagSes em curso sobre Direito Internacional Privado. O sitio oficial da Comissio das Nagdes Unidas sobre Diteito do Comércio Internacional (UNCITRAL) trazinformagées relevantes sobre.o tema. A tradicional Camara de Comércio Internacional de Paris (CCI) deve ser visitada. 7.41 Arbitragem Internacional Sobre atbitragem internacional, uma listagem bastante completa esté em . ADRWorld.com, cobre tam- bém a evolucao recente da arbitragem internacional. O Instituto T.M.C. Asser , da Holanda, traz a integra das conven- Bes sobre arbitragem ¢ algumas normas estrangeiras sobre 0 tema. International ADR inclui links para laudos, jurisprudéncia ¢ fon- tes complementates. O sitio traz bibliografia comen- tada sobre atbitragem. 7.12 Direito Internacional Econémico © Guia sobre Fontes de Direito do Comércio Inter- nacional pode ser encontrado em . ‘Jeanne Rehberg reuniu um guia de fontes em . sitio traz as decisées da OMG, com estatisticas ¢ resumos. Lex Mercatoria contém tratados, leis-modelos € outros documentos relevantes. Juris International é um bom sf- tio para pesquisar sobre contratos internacionais. OEA Foreign Trade Information System traz acordos comerciais e re- gionais, além de decisdes de tribunais internacionais. © Fundo Monetario Internacional contém uma excelente base de estatisticas ¢ estudos sobre a Economia Internacional. O sitio oficial do Banco Mundial traz estudos ¢ dados sobre o desenvolvimento mundial. DE PESOUISA 115 A Organizagio Mundial do Comércio tem um sitio bastante atualizado, com pos- sibilidade de busca de documentos oficiais apresenta- dos pelos Estados Membros. A Conferéncia das Nagdes Unidas para 0 Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) traz estudos interessantes para os paises em desenvol- vimento. O sitio oficial do NAFTA, com os tratados em vigor € decisées arbitrais, pode ser encontrado em . Sobre 0 Mercosul e seus documentos principais, veja- se . Uma fonte nio oficial est em . 7.13 Outros paises Cornell Legal Research Encyclopedia: Countries traz informagdes pelo nome da cada pais. A Universidade de Saarland traz fontes juridicas de paises europeus < www.jura.uni-sb.de/english/ euro.html>. A Universidade de Aberdeen criou um sitio sobre direito romano . © Interamerican Database é uma base de dados, com consulta paga, sobre 0 direito de paises americanos. LLRX website < wwwllrx.com/resources4,htm> traz dados sobre os paises de ttadi¢io romania. Global Legal Information Network (GLIN) , patrocinado pela Biblioteca do Congresso dos EUA, traz resumo da legislagao de 35 paises. 16 WELMeR BARRA Argentina: um bom sitio para comegar é 0 da Associagio de Advogados de Buenos Aires . A Infoleg trax legislagio do Boletim Oficial. Veja-se ainda 0 Sistema Argentino de Informatica Juridica . Informacio sobre jurisprudéncia pode ser encontrada em . 7.14 Listas de discussi0 ‘A Lista Metcosul (pode-se inscrever em ) vincula grande parte dos estudiosos de Direito Internacional no Brasil. ‘A Law Lists contém uma listagem das listas de discus- so atualmente ativas. 715 Blogs Uma novidade no mundo virtual é a crescente rele- vancia de paginas pessoais, conhecidos por weblogs ou blogs. Essas paginas se iniciaram como diarios abertos a0 piblico, mas ganharam nototiedade por se especia- lizarem cada vez mais em noticias (ou newsblogs) ¢ em matérias especializadas, como direito (ou blawgs). Uma sugestio € sempre manter, na indicago de Favoritos de seu navegador, uma lista de paginas a serem verifi- cadas semanalmente, ¢ que possam trazer noticias ou dicas sobre o tema que est sendo pesquisado. 8. ERROS MAIS COMUNS DA PESQUISA Na biblioteca: — itudir-se que ir encontrar toda a bibliografia necessatia em uma tnica biblioteca: a pesquisa € siowcasperesquisa AAT um processo longo, que pressupde a selegio e conhe- cimento de uma literatura especifica; por isso, no se iluda de que a visita a uma tinica biblioteca poder4 re- solver todos os seus problemas; — procurar aleatoriamente em livros e revistas: isso seri. um outro engano, com impactos negatives para sua disponibilidade fatura de tempo; ~— deixar de anotar em que bases de dados cada referéncia bibliografica foi encontrada: esse erro normalmente & provocado pelo excesso de confianga na propria meméria. Na leitura e fichamento: — ler aleatoriamente as obras coletadas: meto- dologia é seja coerente com os objetivos buscados pela pesquisa; portanto, organize a leitura na ordem em que estiver escrevendo os capitulos, néio adiantando tentar ler ma- terial intitil no momento; sobretudo a construco de uma rotina que — tentar ler tudo antes de se comegar a escre- ver: a parte da redac3o é sem davida a mais dificil da pesquisa, portanto enfrente-a o mais cedo possivel; além disso, vocé no se lembrara de tudo © que leu desde 0 comego da pesquisa; por isso, v4 escrevendo desde 0 inicio, capitulo a capitulo; — nfo conseguir esgotar a bibliografia sobre o assunto: como se disse acima, sobre 0 tema especifi- co pesquisado espera-se que 0 pesquisador leia ab- solutamente tudo; nada mais intitil do que uma cole- tanea superficial de referéncias biograficas obtidas em manuais. Na internet: — enganar-se ¢ pensar que vai se lembrar futu- ramente dos sitios visitados: sem comentarios; 118 _ wa BER HARE — ~ no anotar 0 enderego de onde foi retirado um. determinado arquivo: vocé provavelmente nao mais encontraré disponivel na internet, quando voltar para buscé-lo, depois de longas horas petdidas noite adentro. 6 REDAGAO CIENTIFICA ——__$§__ O objetivo do presente capitulo é apresentar as re- gras gerais no que refere ao proceso de redagio do tra- balho cientifico. Apés algumas recomendagdes gerais, © capitulo abordara 0 uso de citagdes, de rodapés, 2 construcio argumentativa, as falécias da argumentacao, regras de estilistica e regras para se evitar o pligio. ‘A primeira coisa que se pode dizer da redagao cienti- fica € que ela deve ser precisa ¢ informativa. Ou seja, deve ser completa quanto 4 informagio transmitida, tem de ser objetiva, e 0 conhecimento construfdo deve ser baseado numa operagao légica, fundamentada em ar- gamentos demonstrados. Embora a elegincia na reda~ Go seja bem-vinda, o que mais interessa no texto cien- tifico é a objetividade. Por isso, substantivos e verbos so mais titeis do que adjetivos ¢ advérbios. A sistemitica de redagio deve seguir a conveniéncia de cada pesquisador. Cada pessoa possui um horitio, uma mania para cada atividade humana, Entretanto, nfo use isso como desculpa para postergar 0 inicio da redacio. Em outas palavras, se vocé produz melhor pela manbi ou pela madrugada, adapte-se a esse horirio, mas no espere seus adordveis sobrinhos irem para 0 exército como des- culpa pata comegar a escrever. Além do que, somente pes- soas geniais ou transtomadas mentalmente & que conse- .guem faciocinar e escrever enquanto o vizinho ensaia com sua banda de rack progressivo. Escrever demanda tempo € tranqiiilidade. Busque preencher essas condicdes. 20 SYELBER BARKAL Portanto, no fique esperando inspiracio. Como se sugeriu alhures, redija capitulo a capitulo, como forma de se obrigar a cumprir 0 cronograma proposto. Nesse sentido, 0 método mais eficaz é — prepare o plano do que vai escrever: rascunhe uum esquema das idéias que serio apresentadas, na or dem em que sero apresentadas em cada capitulo; — elabore inicialmente a sua andlise sobre as fon- tes primatias: € comum o pesquisador iniciante achar que deve ler tudo antes de comegar a escrever 0 capitu- lo, Nao faga isso. Elabore sua propria andlise a partir das fontes primérias, escreva uma primeira versio, © 6 depois leia as fontes secundarias. A vantagem desse método é que vocé jé tem uma visio critica do proble- ma, ¢ selecionaré nas fontes secundirias apenas o que for de fato inovador ou desconhecido; — escreva tudo o que the vier, mas revise cuidado- samente © tascunho. 1. CITACOES Em todo 0 trabalho cientifico, € comum o uso de citagdes. Uma citagio pode ser definida como a trans- crigdo de um dado. Portanto, a idéia de um autor é uma citagio; o artigo de uma lei € citagdo; a transcrigio de uma estatistica do IBGE é uma citacio. Fundamental- mente, as citagdes servem para esclarecer ¢ confirmar uma determinada informacio. Serviré para esclarecer quando a citagio, seja pela clareza do texto, seja pela informaco que contém, explica uma determinada idéia, Serviré para confirmar quando o dado contido na cita- Gio corrobora uma afirmacio feita pelo pesquisador. © grande risco aqui é confundir uma citagio que confirma com um argumento de autoridade. O argu- —_________Bapacho ening 324 mento de autoridade é uma das falécias mais comuns no meio juridico. Afirma-se que tal coisa é assim por- que uma autoridade o disse. Isso & argumento de auto- ridade. Atente para isto: a citagio de um autor ou de uma jurisprudéncia prova que aquele autor ou aquele tribunal afirmaram X, mas nio que X é verdadeizo. Um segundo tisco na citagio é obliterar a fonte. A regra é que o pesquisador deve identificar claramente qual € a origem daquela citacio. Isso pode ser feito em rodapé, como se ver na se¢io seguinte. Mas o impor tante € identificar quais so as idéias do pesquisador e quais foram importadas por meio de citagbes. E isso porque nem toda citacio é uma transcrigio literal. As transcricées literais deve ser indicadas en- tre aspas (ou em recuo, se acima de 4 linhas). Mas a citagio também pode ser feita por pardfrase, quando © pesquisador explica, em suas préprias palavras, as idéias contidas em publicacio alheia. Da mesma for- ma, nesse tipo de citacio deve-se indicar a fonte ou autoria, sob pena de se incorrer em pligio. Ainda sobre citagio, algumas recomendacées podem ser feitas: — evitar citagao de citagdo de fonte primaria: ci tagio de citagdo é aquela obtida em obra que citou ter- ceira obra (normalmente, indica-se a citagio de citacio com 0 uso do apud); — traduza fielmente citagdes estrangeiras: no cor- po do texto, deve constar o texto em portugués; se no houver indicacio do tradutor, presume-se que tenha sido realizado pelo pesquisador; também por isso, é impor- tante a fidelidade ao texto original. ~ comentérios ou complementos @ citacio devem ser feitos entre colchetes, quando inseridos no texto da citacao. 122. ‘Ainda no caso de citagZo indireta, deve-se atentar para o fato de que a reestruturagio das sentengas do autor citado pode significar modificagio das idéias ori- ginais daquele autor. Se isso acontecer, ou nfo se esti diante de citagZo ou se deve formular adverténcia em nota de rodapé. ‘A quantidade de linhas da citagio determina a for- ma como ela sera colocada no texto." Citagdes curtas | Devem ser feitas no corpo do texto, entre aspas duplas quando literal, e sem as Transcrigao * pas, quando indireta. Quando, no texto’ com até trés linbas. citado, © autor tenha utilizado aspas da- plas, na transcri¢do as aspas duplas se- rio substituidas por aspas simples. Citagdeslongas | Devem ser destacadas com recuo de ftransctigao com | 4 em da margem esquerda, com letra menor (Times New Roman 11), sem al utilizagfio de aspas, com espaco simples entre as linhas ¢ sem recuo na primeira linha. No caso de o autor citado ter uti lizado aspas duplas, elas devem ser man- tidas na transctigio. quatro linhas ou * Existe limite ao tamanho das transcrigdes? ‘A NBR niio traga limites ao tamanho das citagdes. Prevalece a regra do bom senso. Citages muito exten- sas, porém, podem revelar aspectos negativos no tra- balho académico como, ug, auséncia de contribuicio pessoal do autor. * — Existe limite & quantidade de citagdes? “Trabalhos com citages variadas podem significar a preocupacio do autor com a amplitude das fontes © ABNT, NBR 10520. REDACAO CIDVTIFICA pesquisadas. Todo trabalho cientifico demanda uma boa revisio bibliografica. Mas isso nio significa que o autor do trabalho deva transformélo em uma seqiiéncia in- termindvel de citagdes sobre as mesmas coisas, cita- cées sobre informacées Sbvias € notérias ou citagdes desnecessérias. Deve prevalecer 0 bom senso. As cita- c6es sfo instrumentais do trabalho de pesquisa. Quanto a citagdes em Iingua estrangeira, repita-se que as citagdes no corpo do texto devem ser sempre em portugués. Caso nio haja indicagio do tradutor, presu- me-se que o autor do trabalho tenha feito a tradugio. Ja as citages nos rodapés nfo necessitam de tradugio. 1.1 Sistema de citagiio recomendado As citagdes devem ser acompanhadas da indicagio do documento em que se obteve a informacio citada. Utilizam-se usualmente dois sistemas de citaco, o sis- tema autor-data — em que a indicacio bibliografica é feita no corpo do texto —e o sistema numérico, em que sio usadas as notas de rodapé. Apés a tiltima revisio feita pela ABNT nas normas da NBR 10520, em agosto de 2002, recomenda-se a utilizag&io do sistema autor-data para as citacdes — di- retas ou indiretas — em notas de rodapé. [Autor-data |— No sistema autor-data, a indicagio da fonte contém os ele-| mentos essenciais para sua identificagio e é feita: @ Pelo (@) sobrenome do autor (ou nome da entidade res-| ponsével), seguido (b) do ano de publicago e (¢) da pagina da Gitagio, separados por. virgula® ? As referéncias completas devem constar no final do trabalho. Ex: * Bonavides, 2001, p. 98 2 Revista Dialética de Diteito Tsibutisio, 2000, p. 120. > Reccit Federal, 2002, p. 12. A legislagio deve ser indicada pelo n. da nova: Ex: Led n, 8894/94, art 15. Gi) Pelo @ sobrenome de cada autor, separado por ponto-c- virgula, seguido da virgula, do () ano de publicagao ¢ (c) da| pagina da citacdo, quando a fonte citada tiver até trés autores, Se houver mais de txés autores, indica-se 0 sobrenome do| Jprimeiro deles, seguido da expressio ef af, Ex. } Coetio; Noronha, 1991, p. 45. 5 Silva etal, 1998, p12. 0 monocratica, (iii) Quando a citagio for de acérdio, deci ou simula, pela (a) sigla do érgio prolator da decisio (ou da Siimula), seguido do (b) ano de publicagio, acrescido de letras miniisculas, em ordem alfabética, logo aps a data ¢ sem es: pago (a mesma identificagio deverd ser feita ao final, nas| eferéncias bibliograficas) ¢ (©) da pagina [se houver]. Bx. 6 ST}, 20016, p. 13. JSC, 20024, p. 14. (iv) Sc houver dois autores com 0 mesmo sobrenome, acrescen- ‘tam-se as iniciais de seus prenomes; se, mesmo assim, persistit a] icoincidéncia, os prenomes devem ser colocados por extenso. Ex: §Gongalves, M. VR, 1999, p 89. » Gongalves, V. E. R, 1998, p. 77. * Barbosa, Cassio, 1965, p. 234 + narhosa, Celso, 1965, p14. ___tepacocmwrinca DS Ci) As Gagbes de diversos docamentos de um mesmo au- tor, publicadas em anos diferentes e mencionadas simultane- amente, tém suas datas separadas por ponto e virgula, Ex.: % Wolkames, 1995, p. 230; 1998, p. 20; 2001, p. 94. (ii) As citagies de diversos documentos de diversos autores, ‘mencionados simultaneamente, devem ser separadas por ponto- je-virgula, em ordem alfabética, Ex: Cartion, 1998, p. 12; Russomano, 1998, p. 40; Santiago, 2000, p. 29; Sissekind, 2002, p. 30. 1.2 Elementos auxiliares na transcrigZo Sao elementos auxiliares na transcrigo: | Transerigao Aspas duplas ¢ Quando a transcricio tiver| literal ‘Aspas tes linhas ou menos deve ser simples | feita entre aspas duplas Quando, no texto citado, stor tenha utilizado aspas duplas, na transcricio serio| as aspas duplas substicuidas [por arpas simples. Supressoes bl "As partes supsimidas na eh tagio devem ser substiruidas por colchetes ¢ reticéncias, (@ As citagdes de diversos documentos de um mesmo autor,| publicadas no mesmo ano, sto acrescidas de letras minéscu- las, em ordem alfabética, logo apés a data © sem espaco. A mesma identificagio deverd ser feita ao final, nas referéncias| bibliogsificas. Ex.: © Dworkin, 20012, p. 161 § Dworkin, 2001b, p. 564 ‘Acréscimos ou | [] ‘Aeréscimos e comentisios de- Comentarios ‘vem ter feitos entre colchetes Destaque (Gifousd) ‘Destaques ou énfases devem set feitos com a utlizacio de | negrito sobre o textoa serdes- tacado, Nesse e250, a expres- sho (grifow-se) sexi colocada zo final da ctacio. Tali ‘Recomenda-se a utllizagio do itdlico apenas para expresses ‘e/ou palavras em outros idio- | mas. Expressoes latinas usuais | Gi idem, ibidem, ete.) nao demandam 0 uso de itilico, 126 WEL BARRA 2. NOTAS DE RODAPE Outro recurso usualmente utilizado na redagio cien- tifica séo as notas de rodapé, que incluem informagGes complementares ao final de cada pagina. As regras metodolégicas também permitem que essas notas se- jam incluidas ao final do trabalho, mas isso no é reco- mendavel, pois dificilmente o leitor as buscaré. Além disso, 0s modernos processadores de texto facilitam a incluso e a numeracdo de notas de rodapé. No Word, isso se faz pelo comando editar-inserir nota. O maior ou menor uso de notas de rodapé tem certo grau de dependéncia com o estilo de cada pesquisador. Uma tegra entretanto é fundamental: no rodapé devem vir apenas informades complementates; se se tratar de argumento ou citagio essencial para a compreensio do trabalho, ele deve ser inserido no corpo do texto. Vocé deve partir do pressuposto de que, se 0 leitor no se detiver no rodapé, cle ainda assim compreendera a ‘ordem légica do trabalho. Fandamentalmente, as notas de rodapé servem para: ~ indicar fontes das citagées: inserindo a referén- cia da bibliografia utilizada; ~ incluir referéncias bibliograficas de reforgo: além da referéncia bibliogrifica especifica da citacio, 0 pesquisador pode querer indicar ao leitor onde esse en- contrara outra bibliografia relacionada com aquele as- sunto especifico. xc: Sobre o assunto, vej-se também Morera (2001, p. 32), Santos J. (2000, p. 430) ¢ Casto (1999, p. 22). Em sentido contririo, vejase Percirs, José (1986, p. 2). Deve-se atentar, contudo, para que o rodapé no se transforme numa demonstragio imitil de erudicio. REDAGAO CIENTIRCA 127 —incluir versio original do texto estrangeiro: con- forme se mencionou acima, no corpo do texto deve-se escrever cm vernéculo, mas o pesquisador pode querer que seu leitor compare o texto que traduziu e a versio original, que sera entiio inclufda em rodapé. — indicar remissdes internas: em rodapé, 0 pes- quisador poderd indicar que aquele assunto especifico seré mais bem estudado alhures. Ex. " Sobre esse problema, veja-se a segio 3.2 desta dissertagio. Dica: inclua sempre 0 capitulo ou segio, € no o m mero da pagina, que certamente mudaré na versio im- pressa da monografia. No corpo do texto, utiliza-se a chamada de rodapé, 0 mimero sobrescrito que remete a0 nimero respectivo ao final da pagina. As chamadas de rodapé devem ser numeradas continuamente por todo 0 trabalho, em al- garismos aribicos. Recorde-se de colocar a chamada de rodapé no final do texto a que ela se refere, e nfio de- pois do nome do autor. + A ABNT? recomenda que nio se utilize o sistema de chamada de rodapé para citagdes, quando houver rodapés utilizados com outros propésitos. Dessa for- ma, a indicacao da fonte da citagio deveria ser feita no corpo do texto. Exemplo: “0 texto do primeiro Cédigo Civil brasileiro ocasionow intenso debate centre Rui Barbora © Cidvis Bevilacqua (MEIRELLES, 19640, p. 32)” O uso de referéncias no corpo do texto, na area de Direito, € uma peniténcia. Em nossa 4rea, a profusio de fontes ¢ referéncias toma o texto ilegivel e horroro- so. Além disso, a matéria exige um grande niimero de NBR 10520. 128_ VRE BARRE notas explicativas ¢ remissGes internas. Por isso, mal- grado a ABNTT, este livro recomenda o sistema numérico de chamadas de rodapé, mesmo quando notas expli- cativas também constem em rodapé. * Ainda, a ABNT secomenda que a ptimeira citagio de uma obra contenha a referéncia completa cm rodapé. Novamente, este livro sugere que se ignore essa reco- mendacio. Afinal, o grande mimero de obras citadas num trabalho jutidico — normalmente fundamentado em pes- quisa bibliogréfica — criaria um carnaval entre citagdes completas ¢ resumidas. Por isso, recomendamos que, em rodapé, conste somente os dados basicos para a identifi- cago da obra [Autor, Ano, p. x}, cuja identificagao com- pleta deverd estar nas Referencias Bibliograficas. + Outra discordincia com a ABNT: a NBR 10520 recomenda que 0 sobrenome dos autores seja grafado em maidsculas, na indicacio de fonte das citagées. Ao contritio, e para evitar a apresentacio carregada do tex- to, recomendamos que os nomes de todos os autores sejam escritos em mimisculas, seja em rodapé, seja no corpo do texto. * Na citagio, deve-se incluir a chamada de rodapé apés as aspas ¢ 0 ponto final (quando esse for parte da citacao): Ex fo] em 2002." Na redagao cientifica, utilizam-se determinadas si- glas e abreviaturas, sobretudo em rodapé, para a indi cago bibliografica. O quadro seguinte explica as mais utilizadas: aepachocmnrincn ‘ea. (ou ¢.) are aproximadamente, serve para indicar uma| data préxima Gh comparar tine (aR FORRES ‘coord, coordenador eg campl gratia por Exempla, deve ser precedido © sequido por virgula ‘esp. especialmente (spp 20) —~=~S~S~S ‘et al. ef alii ¢ outros ‘et pas. of passin © aqui e al et seq, & sequens © vemuintes (39 et 8eq) Ta den to limo autor ciado Thid. Thidon ima obra cada — Tid a sto &, precedido € seguido por virgula in em (asado para designar umn capitulo de obra coletiva) infra abaixo Tpsis litteris nessas exatas letras oc. eit. loao dala ao local Rado ‘Op. Git. opus alatum ta Obra cada ip. pagina ou paginas (use “p. 35-30", © no pp) [passim aqui e ali em, por toda @ obra ‘Sd. sem indicagao de data ‘Se. sem indicagio de editor SL. sine leo (Gem indicagio de local da publicacioy Sie conforme eitagio original, apesar de errada jete. Ef cetera FSeja-se: indica bibliografia nesse sentido Contzi Indica posicionamento em sentido conuiiio | ‘Ainda sobre siglas, observa-se que: — deve ser inchuido o texto inicialmente por extenso, incluindo a sigla entre parénteses. No resto do texto, deve-se utilizar somente a sigla. Ex: “[u] 10 estado inicalmente elaborado pela Superintendéncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)” — se houver um grande mimero de siglas do trabalho (mais de quinze), recomenda-se a elaboracio de uma lista de siglas, que sera incluida no inicio do trabalho. —nfio se deve usar pontos na sigla (OMS e nio OMS). 3. ARGUMENTACAO ‘Ao elaborar 0 trabalho cientifico, o pesquisador cons- truira uma argumentagio, que devera ser embasada no raciacinio construido a0 longo do texto. A argumenta- Gio cientifica difere do argumento técnico (uma peticao, por exemplo) no sentido de que 0 pesquisador deve seguir padres mais rigidos para evitar falécias da argu- mentacio e também deverd refutar as oposigSes a sua argumentagio. Nesse sentido, o documento cientifico deve ser claro, acessivel para a audiéncia pretendida, ordenado em suas idéias. Ao claborar sua argumenta- cdo, a principal tarefa do pesquisador sera fugir das fa- lacias que so comuns na linguagem técnica ¢ na lin- guagem coloquial. ‘A identificagio ¢ refutagao de falacias normalmen- te estudada em Légica. No meio juridico, as falacias mais comuns so: a) falcia de autoridade (ou magister dixil: Certamente, é a falicia mais comum no meio jutidi- co. Ocorte quando uma afitmacao é baseada actitica € REDACKO CIENTIRICA unicamente na opiniéio de uma autotidade. Na pesquisa cientifica, ha autores ¢ nao autoridades. Repita-se: citar uma obra demonstra o que aquele autor disse, mas nZio a pertinéncia nem a veracidade do que foi afirmado. O mesmo pode ser dito de decisdes jutisprudenciais, © aqui € necessaria uma diferenciagio entre a tarefa do pesquisador ea tarefa do operador juridico. Quando apre- senta uma apelagio, o advogado cita decisdes de tribu- nais supetiores. Além de apresentar um argumento de autoridade, ele também est apresentando uma argu- mento técnico: “se esse Tribunal nfo decidir como in- teressa a meu cliente, poderei reverter essa decisio nos tribunais superiores”. Nao se discute aqui a perti néncia cientifica da decisao dos tribunais superiores, apenas 0 posicionamento favordvel ao cliente. Na pesquisa cientifica, a abordagem é evidentemen- te distinta. Citar uma stimula do STF prova a existén- cia do posicionamento jurisprudencial naquele senti- do, mas nao a correcio cientifica desse posicionamento. © trabalho cientifico inclusive pode ter por objeto jus- tamente uma critica esse posicionamento do STF. Assim, o que se espera do pesquisador é 0 diélogo com suas fontes secundérias, a revisio critica de con- ceitos de posicionamento, ¢ nfo a macaquice subser- viente a supostas autoridades. b) falacia da forga (argumentum ad bacubuny: Aqui, uma parte nfo discute a veracidade de uma opiniao, mas ameaga destruir 0 emissor com seu poder. ©) falécia da ignorincia (argumentum ad ignorantian’: © emissor argumenta que algo é 0 verdadeiro por- que ninguém provou sua falsidade, ou que algo é falso porque ninguém provou sua veracidade. A falécia esté justamente no fato de que quem alega é que deve provar. d) falacia de popularidade (argumentum as populuni: Aqui, 0 emissor apela para a opiniio popular para fundamentar uma determinada conclusio. Exemplo: “a misica sertaneja é de bom gosto porque é a preferida pelo povo” (Bem, em Roma © povo adorava ver cris- tos serem deglutidos por ledes). ©) falicia de piedade (argumentum ad misericordiam): © emissor apela para 0 sentido emocional do desti- natatio, malgrado os fatos apresentados. No meio juri- dico, é muito comum no tribunal do jtiri e entre alunos com prazo para entregar monografia. £) falicia de causagio: Pretender que o fato é conseqiiéncia de um outro, sem demonstrar a relago causal (“Quando as mulheres nio votavam, havia menos cortupgio no Congreso”). g) falacia de acidente: Generalizar uma afirmagio a partir de um fato isola- do (“Todo empregado quer trabalhar menos, como é 0 caso do nosso zelador”). h) falsa dicotomia: Dividir 0 posicionamento em apenas duas alternati- vas antagénicas (“ou vocé apéia a reforma do judicié- sio ou quer favorecer 0 ctime organizado”). 1) ataques ao emissor (argumentum ad homineni: Aqui, nio se discute a pertinéncia do argumento, ¢ sim 0 carter de seu emissor (“Esta acusagao de corrup- REDACKO CIENTIFIA Gio nfo pode ser levada a sério, porque © acusador é um péssimo pai de familia”). j) falécia de retribuigio (tu quogue): Desmerecer 0 argumento porque o emissor também praticou a acio questionada (“o Ministra quer aumen- tar a idade de aposentadoria, mas ele também se apo- sentou jovem”). ky) falicia do jogador: Acreditar que se ocorreu pouco no passado, devera ocorrer mais no futuro, ou vice-versa (“A companhia aérea BAM sera segura na préxima década, pois teve treze acidentes nos iiltimos anos, ¢ cada companhia aérea tem em média dois acidentes por década”). }) falicia de pragmatismo: Afirmar que algo € verdadeiro em razio de suas con- seqiiéncias (“Este tributo é constitucional, pois caso contrétio haverd dgfcit na balanga comercial”) m) falsa analogia: Comparar dois termos que nfo tém a mesma subs- tancia, Um caso especial de falsa analogia se refere a0 uso da palavra “direito” que, conforme se mencionou em outro capitulo, um conceito andlogo, que pode significar norma, justica, ciéncia, 0 fato social ow direi- to subjetivo. Dai nao ser pertinente contestar uma ar- gumentacio normativa utilizando-se, por exemplo, do direito como justica. Exemplo: “Deputado, Vossa Exceléncia acha direi- to seu salétio equivaler a cem salérios mfnimos?” [ditei- to como justica] — “sim, meu querido eleitor, € direito porque acumulei qiiingiiénios, biénios e férias-prémio” [dircito como direito subjetivo). 4. ESTILISTICA ‘Uma parte bastante interessante na redacao do tra- balho cientifico é a identificagio do estilo da redacio. Obviamente, questées de estilo sio dependentes de pteferéncias pessoais e de fatores subjetivos de cada autor. Alguns estilos so inconfundiveis, e representam a marca dos grandes escritores. Da mesma forma, 0 estilo do texto também varia em relagio @ audiéncia a que se destina. Mais ou menos formal, mais ou menos coloquial, sio caracteristicas a serem determinadas considerando-se quem ter acesso faruro ao texto. Portanto, niio se pretende aqui determinar regras in- flexfveis quanto ao estilo a set utilizado na redacio do trabalho cientifico, ¢ sim apresentar algumas recomen- dagées, considerando-se a audiéncia pretendida ¢ os objetivos do texto cientifico. Em ptimeiro lugar, qual é a audiéncia? Isso determi- nara o nivel de linguagem a ser utilizado, Um exemplo ilustraré 0 que se menciona como nivel de linguagem: nosso hipotético Luis Borborema, aluno de Direito, acorda pela manhi, di instruges ao jardinciro de seu edificio, encontra-se com o gerente do seu banco, parti- cipa de um audiéncia no férum local, e assiste aulas 20 final do dia. Em cada uma dessas atividades, automati- camente, cle ajusta seu nivel de linguagem ao inter- locutor: direto ¢ coloquial (jardinciro), negociador ¢ objetivo (gerente do bance), formal e solene (audién- cia judicial) ¢ técnico e didatico (aula). Na linguagem REDACAO GHRTIRCA 135 falada, a adaptacao do nivel de linguagem € realizada com maior facilidade ¢ de forma inconsciente. Essa operagio se torna mais dificil na linguagem e crita. As pessoas tém maior dificuldade em identificar ‘© nivel de linguagem apropriado, justamente porque descuidam da audiéncia pretendide. Nao é incomum, sobretudo de juristas, receber correspondéncia pessoal com alto grau de formalismo. Assim, 0 pesquisador deve imaginar que sua audién- cia seri composta de juristas com conhecimento gené rico sobre © tema abordado em seu trabalho. Ou seja, no sio leigos, nem especialistas. Em decorréncia, a linguagem utilizada deverd evitar conceitos basicos ¢, 20 mesmo tempo, explicar a terminologia especifica do trabalho. Um exemplo esclareceri o que se afirma no parigrafo anterior: imagine que sua monografia versa sobre as alte- ragdes no Cédigo Florestal Brasileiro e seus impactos para a floresta tropical. Na mesma semana, vocé deve concluir a monografia, ao mesmo tempo em que vai mandat um artigo sobre o assunto para o jomal local, apresentar um paper no Congresso Brasileiro de Direito Florestal. No caso do artigo para 0 jornal, trata-se de um texto curto, de 40 linhas, destinado ao piiblico geral. Vocé ter que ser superficial, simples ¢ apresentar bastante objetivamente suas idéias. No caso do congresso, trata-se de uma reunifio de especialistas, para quem sio total- mente dispensaveis conceitos basicos da matéria, e vocé devera apresentar diretamente a tese proposta. Contudo, é para o terceiro grupo que se destina sua monogtafia. Serio juristas, de quem vocé nao deve pre- sumir conhecimentos particulares sobre o tema. Vocé apresentar4 a origem da legislaco, seus principais con- ceitos, os fundamentos para as idéias que vocé susten- ta, para, ao final, apresentar sua hipétese, com maior didatismo e clareza. Uma vez identificada a sua audiéncia, importa tam- bém recapitular os objetivos do texto cientifico, para a definigéo do estilo a ser utilizado. Seu trabalho se des- tina fundamentalmente a transmitir conhecimento. Com este objetivo em mente, pode-se afirmar que o texto deve concentrar-se em ser claro, objetivo ¢ didatico. Para isso, a primeira providéncia é omitir palavras des- necessirias. Lembre-se: concentre-se em substantivos € verbos, a insisténcia em adjetivos e advérbios carac- teriza a pompa oratéria, De fato, a principal critica a que se pode fazer a0 estilo dos pesquisadores da frea de Direito é a afetagio retérica. Compreende-se como afetagao retérica 0 dis- curso grandilogiiente, adjctivado, rico em efeitos sono- ros e geralmente pobre na elaboracio de idéias subs- tanciais. E 0 individuo que ;¢ uma monografia como: c fosse um discurso de formatura. Nada contra arrou- bos oratétios, mas eles tém seu momento devido. Extra- polélo para o texto cientifico, que deveria ser conciso e claro, é nfo tet consciéncia da audiéncia nem dos objetivos do texto. Por isso, concentre-se na clateza de idéias, explique bem a hipétese central do texto, elimine palavras ambi- guas. Acostume-se a pedir a um colega que leia seu texto. Muitas vezes, o que parece Sbvio para nés — € para nosso orientador — é incompreensivel para outros olhos. Oferega-se também para ler 0 texto de seu cole- ga: por vezes, aprendemos muito com erros alheios. Para evitar cacofonia € trazer maior clateza ao texto, habitue-se a ler em voz alta. Faca isso sobretudo com a introdug&o e com a conclusio do trabalho. enacho cmcrimca 137 Escreva todas as idéias que lhe vierem, mas como rascunho. Revise, revise, revise. Se vocé tem dificul- dades ortogrificas, mande o ptimeiro capitulo, assim que estiver pronto, para um revisor profissional, ¢ estu- de as corregdes que ele fizer. Isso evitaré a repeticiio de erros gramaticais futuros. ‘Tenha sempre 4 mao um bom diciondrio de portu- gués. Nosso idioma, por mais sonoro que seja, guarda muitas armadilhas em sua ortografia. Ainda sobre estilistica, outras recomendagdes espe- cificas podem ser feitas: — use © verbo sempre no impessoal, e por varias razdes: deixa o texto mais elegante, cria maior isengio entre © pesquisador € 0 texto, evita a variago entre singular e plural; prefira portanto a forma “pretende- se”, “conclui-se”, “este trabalho tem por objeto”, etc. Se for necessério mencionar sua pessoa, e escreva “o autor deste trabalho”. Algum génio loquaz podera observar que o presente livro nfo esté escrito no impessoal. E um bom exemplo de objetivo do texto. Este livro pretende ser coloquial, acessivel, ¢ cativar um leitor normalmente reticente leitura de Metodologia. Dai o uso de “vocé, nés”, de ironia e coloquialismos. Mas esse nfio é o mesmo obje- tivo do texto cientifico. — defina os termos centrais de seu trabalho, dei- xando claro desde o inicio para o leitor a que instituto ou fendmeno vocé se refere, ¢ em qual significado esse instituto deve ser compreendido. — use conetivos interfrésicos, que dio maior flui- dez & leitura. Exemplos: > adi¢io (ug, ao lado disso, além disso, em adi- clo, assim que); comparacio (em contraste, no mesmo senti- do, ao invés de, da mesma forma, de outro lado, neste sentido, similarmente, de forma oposta, ao mesmo tempo, subseqiientemente, entiio); % contradigio (mas, ao invés de, contudo, ape- sar disto, e mesmo se, diferentemente, em con- traste); exemplo (por exemplo, nomeadamente, espe- cificamente, para ilustrat); + énfase (de fato, claro, até, alias, especialmen- te importante, frequentemente, mesmo quan- do, obviamente, neste contexto); » explicagio (em outras palavras, exposto em outra forma, ou seja, essencialmente); + excec&o (mas, contudo, entretanto, apesar de, de outro lado); > generalizacio (em regra, usualmente, em gran- de parte, geralmente, ordinariamente, usual- mente, adicionalmente, novamente, também, tanto quanto, ao lado, ainda mais); » condensagao (brevemente, em balango, assim, destarte, por essa razio, como se observou an- teriormente); conseqiiéncia (portanto, em razio disto, assim, como resultado, por essa razZio, desta forma); concluséo (como resultado, portanto, entéo, consequentemente, em conclusio, no final, numa anilise final, em conjunto, em suma). — prefira frases curtas: frases longas dificultam a lei- tura, e exigem formas gramaticais mais elaboradas; como regra geral, prefira frases com menos de quatro linhas. REDAGKO CHINA, 139 —utilize a terminologia oficial: consulte a fonte pri- miatia, e utilize exatamente os termos constantes nela. Assim, por exemplo, se num tratado internacional consta “Estado Membro”, use este termo (e no “Estado Par- te” ou “Estado Signatirio”, que podem significar situa- Ses distintas). Uma parcela relevante do trabalho do operador juridico é de caracterizar ¢ denominar corre- tamente um instituto — e faz muita diferenga se é um “homicfdio” ou um “infanticidio”, por mais que se as- semelherm para 0 leigo. ~ atente para o sexismo ¢ 0 politicamente incor- reto: ainda nao ha no Brasil a obsessao politicamente correta de alguns paises angléfonos, mas observe se sua instituigdo tem alguma regra sobre essa matéria, Algu- mas instituigées, por exemplo, recomendam utilizar “direitos humanos” ao invés de “direitos do homem” na “afro-descendentes” ao invés de “negros”. Mesmo que tais regras nao existam em sua instituigdo, atente para que seu texto nao ofenda suscetibilidades étnicas ou teligiosas alheias. Ultima recomendagio: leia grandes autores, inclu- sive de literatura. Ii fato comprovado que quem Jé pou- co, fala e escreve miseravelmente, Quando comegar a escrever seu trabalho, leia algo de Machado de Assis. Perceba 0 uso exato ¢ clegante nas palavras de quem melhor se utilizou do portugués falado no Brasil. Vocé também pode fazer um exercicio. Descreva 0 que chama a sua atengio, € 0 que Ihe causa repulsa, quando lé um texto cientifico. Vocé tera um pardmetro de recursos de redaco a serem adotados e de exageros estilisticos a serem evitados. Se essas sio as recomendagées gerais, pode-se tam- bém listar algumas recomendagées quanto 20 que nio deve set utilizada na redacio: 140 ELDER BARRA ~ evite reticéncias e pontos de exclamagio: sio re- cursos perfeitamente cabfveis no texto literirio, mas que fogem 4 inteligibilidade requerida do texto cientifico. — nfio escreva ironias: normalmente, numa itonia se diz algo pretendendo mencionat 0 contririo; se € bas- tantc perceptivel na linguagem falada, a ironia pode contudo tornar o texto ambiguo, sobretudo se lido mui- to rapidamente, — evite neologismos e vanguardismos: utilize vo- cabulirio acessivel 4 sua audiéncia, resistindo a tenta- cio de externar seu lado artistico no que deve ser tam- bém um trabalho formal. Nao invente palavras novas, nao invente moda. Para vocé, a regta & “quod non est in Aurelius, non est in mundus? — fuja do anglicismo: prefira sempre 0 vernaculo quando houver palavras correspondentes. Quem fala “performance” no lugar de “desempenho” deve ter latio no ouvido. As excecées sao as palavras estrangeiras in- corpotadas a0 vocabulério juridico (habeas corpus, data -venia) e as palavtas incorporadas ou para as quais nao haja traducio (clausula de hardship, de shopping center, dumping). Nesses exemplos, as iiltimas palavras nao foram esctitas em itilico porque j4 foram incorporadas ao vernaculo. — evite obscuridade académica: alguns pesquisa- dores parecem acreditar que quanto mais complicado escrevem, mais profundo parecer4. Assim o texto sé sera acessivel aos iniciados. Essa conduta afronta o prin- cipal objetivo do texto cientifico, que ¢ a transmisséo do conhecimento. Quem no consegue transmitir cla- xamente uma idéia, para uma audiéncia conhecedora dos termos basicos da matéria, ou mio sabe do que esta falando, ou se esconde no texto hermético para evitar que seus eros sejam pereebidos. REDAGKO CIENTIFICA — fuja do jargao académico e do jargao juridico: ha algum tempo, o autor deste livro participou de um congresso em Sio Paulo, onde uma das palestrantes abusava de jargdes ¢ linguagem hermética; ela falava da “clivagem entre o concteto do cotidiano ¢ a leitura maximalista da realidade desejada, em sua dimensio de assimetria entre a alteridade e 0 discurso legitimatério da subordinacio” ou coisa parecida. Evidentemente, este € 0 texto do académico presungoso, cujas idéias — se € que existem — jamais atingirio sua audiéncia. ‘Ao lado do jargio académico, hé 0 jargio jurfdico, que se manifesta em expresses como data venia, “dian- te do exposto”. Gaste essas expressdes em peticdes € recursos; climine-as na monografia. — evite lugares-comuns e expressdes ideologi- zadas: lugares-comuns sao frases feitas, que nfo acres- centam qualquer idéia nova ao texto. Sao exemplos: “a evolucio do direito recente est4 caracterizada pela globalizacio”, ou “o direito é o tesultado da luta de classes”. E dai? — suprima elogios infundados: isso é muito comum nos textos juridicos, ¢ € uma decorréncia da afetagio retérica que tenta seforcar o argumento de autoridade. Se isso é admissivel no discurso de formatura, deve ser totalmente suprimido no texto cientifico. Nenhum au- tor é “saudoso”, “inclito”, nem “venerando”. O argu- mento cientifico deve ser valido independentemente de seu emissor. Isso leva a outra assertiva, no momento da pesquisa. Engana-se quem julga que deve fazer pesquisa somen- te baseada em supostos grandes nomes da ciéncia juridi- ca. Repita-se: que interessa em ciéncia é o argumento € sua fundamentacao. Se um argumento relevante esti na monografia de seu colega do semestre pasado, vocé deve cité-lo. — suprima alcunhas njo técnicas: da mesma forma c pelas mesmas razdes acima, nfio invente sin6nimos para termos técnicos. Quem assinou a Carta Magna foi o rei inglés Jodo Sem Terra (0 Brasil tem € Constituigao), quem tem Suprema Corte sio 0s Estados Unidos (0 Brasil tem Supremo Tribunal Federal). Chamar o Cédi- go de Processo Civil de “Pergaminho Adjetivo” é equi- vocado e ridiculo. Use o termo técnico aplicavel. Se sua intengio € evitar a repeticao do termo, use a sigla correspondente (CF/88, STF, CPO). 5. UMA VISAO IRONICA DA PESQUISA © texto abaixo foi elaborado pelo historiador José Murilo de Carvalho, e tidiculariza 0 texto afetado dos académicos.' E um bom exemplo de como o exibi cionismo de jargées € de citagdes de autoridade so uti- lizados para tentar esconder a auséncia de contetido. Como escrever a tese certa € vencer: [José Miusilo de Carvalho “Ter que fazer uma tese de doutoramento na incerteza de como seri recebica © na inseguranga quanto 20 furico da carrira & experiéncia ttaumitica, Quando pastel por ea, gostaria de ter do alguma ajuda. E town sjuda que oferege heje, apée 30 anoe de carteirn « wm hipotdico | doutorando, ou doutoranda, sobretudo das areas de humanidades ¢ cién- cias sociais. Ela no vai gatantir éxito, mas pode ajudar a descobrir 0 caminho das pedras. ois pontos importantes na feitura da tese ou na redacio de teabalhos Carvalho, 1999, p. B3. © Autor agradece 20 professor José Mutilo de Carvalho pela autorizagio para utilizar a presente crdnica [REDAGKO CHENTINICA | posteriores: as citagdes ¢ 0 vocabulisio. Vocé sert identificado, classifica Go e avaliado de acordo com os autores que citar € a terminologia que lsat, Se citar os autores ¢ usar os termos corretos estaré a meio eaminho do clube. Caso contro, card de fora espera de uma eventual madan ‘sade cinone, que pode vi tarde demais. Comeso com os autores. A regra tho Brasil foie continua sendo: cite sempre ¢ abundantemente para mos- ttar erudigio, Mas, stengio, nfo cite qualquer um. F preciso identificar ‘os autores do momento. Eles serio sempre ostangeiros: No momentos 4 preferéncia é para franceses, alemescingleses, nesta ordem. Cito algans, | lembrando que a ista€ Quida. Ente os franceses, estio no alto Ricoeus, | Lacan, Desrida, Deleuze, Chartier, Lefort. Foucault e Bourdiew ainda podem ser citados com proveito. Quem se lembrar de Althusser ¢ Poulantzas, no entanto, est Se for pars citar um mands, 36.0 velho Gramsci, que resiste bravamen ‘vinte anos atrasado, cheirard a naftalina tc, 04 0 noste-americano F. Jameson. Entze 06 alemées, Nietzsche voltou com forge. Auerbach ¢ Benjamin, na teoria lteritia, e Norbert Elias, em sociologia ¢ histéria, so citacdo obrigatéria. Socidlogos e cientistas poli ticos nfo devem esquecer Habermas. Deatre os ingleses, Hobsbawr, P. Burke e Giddens dario boa impressio, Autores norte-americanos estio fem alta, Bsn cigncia politica, sdo indispensiveis, R. Dabl ainda é aposta| segura, Rorty ¢ Rawls continuam no topo. Em antropologia, C. Geertz Pega muito bem, o mesmo para R. Darnton e H. White em historia. Nao pperea tempo com latino-americanos (00 africanos, astticos, etc). Vocé ‘conseguiri apenas parecer um tanto exético. Da Peninsula ibérica, s6 ‘Boaventura de S. Santos e para a turma de direito. Brasileiros nio ajudasio ‘muito, mas também nilo causario estrago se bem escolhidos. Um autor Drusleiro, no entanto, nunca poderi faltar: seu orientador ou orientadora, Ignoti-lo € pecado capital. Voc’ poders ser aprovado na defesa da tese mas rio teri sea apoio para negociar a publicagio dela e muito menos a orelha sssinada por ele. Se 0 orientador aio publicou nada, no desanime. Men- cione uma aula, uma conferéncia, qualquer coisa. (© vocabulitio é a outra peca chave. Uma palavra correta ¢ voeé seri Jogo bem visto, Uma palavra errada e voo8 seri esndbade. Como no caso dos autores, no entanto, é preciso descobrir os termos do dia. No mo- ‘mento, nio importa qual seja 0 tema de sua tese, procure encaixar em seu texto uma ou mais das seguintes palavras: olhar (as pessoas no véer, copinam, comentam, analisam, elas tém wm olhas); descentear (descentre sobretudo 0 Estado e o sujeito); desconsteuie (desconstrua tudo); resgate (Gesgate também tudo 0 que for possivel, histéria, meméria, cultura, deus ¢ 0 diabo, mesmo que seja para desconstruir depois); polissémico (nada ‘de ‘mono’); outro, diferenga, alteridade (é a diferenga erudita), multi culturalismo (isto € bisico: tudo € diferenga, fragmente tudo, se no | conseguir juntar depois, melhor); discuss, fala, escita, diego (0 auto- 144. WER BARRAL es tebricos produzem discuss, historadoresfazem eserta, poets tn | iccto):imaginasio (edo €imaginado,inclasve imaginag),cordiane | oct rar sucesso se escolher como objeto de estado alg aspect nave |do cosiiano, por exemplo a histxia da deplagi feminina}y etn © | gener (essences par Gear bem com afrobrailezose mulheres), povoe (Gempre no plaral,“os povos da forest”, “oe povos dara” no singular Cau de mode ema o populism dos anos 60, x8 Broa snide Sia (pewonifique ta cdadanin fez isso ou aqulo,eevindleow etc) ata tain efeto, tenes combina das on mais destas palais, Respate 4 Giferenga. Melhor sind: sexgate 0 elhar do ovto. Ana a peregio: descons ua, com aowo ols, os dseursos negadore co mulcultaraimo, Bassim por diane, Como no caso dos autores, ceraspalavras comprometm. Vact pte- cesk dined ae falas erm laste social, modo de producto infz-esrutar, amponts,burguesa,naionalismo. Em bisa, se mencionas desig, fat vende, pode cncomeadar a sma, ‘Além dos autores € do vocabulisi, & preciso ainda aprender escre- wer como um inlet] seademico (aot que académico mio se fefere mais 2 Academia Brasra de Leuns, mas a wniversdade). Sobresido, | nao deixe que seu estilo se confunda com o de jornalistas ov outros Icigos Voed deve tansmiar a imprestio de profundkade, isto & 080 pode ser entendldo por qualquer nor. Hi tts regrs sions que form To com a ajuda do editor ST. Wiliamson, Pameirs: aunca use uma palavea curt se poder substan por outra maior alo ‘rie? mas ‘iismo Segunda: nea use 96 una palavia se poder usar dose o| mais‘ provivel deve ser substiuldo por‘ evidencla disponive sugere | to ser improvivel. Tesla: nunca diga de mancica simples 0 que pode | ter dio de mancin comple. Voo® alo pasarh de um mero jornalita se | disse ‘os mendigos dever tr seus drt sespetador. Mas evelers tum auifatico censta socal e esrever ‘0 discuso muliclsua, como ser desconsrator da excusio, posta o respate da cidadania dos povos da mu. Boa sorte, 6. REVISAO 61 Questdes para a revisio Como j se afirmou, a fase de revisio é fandamental para dar maior coeréncia ¢ inteligibilidade ao texto. Deixe __ BEDACAOCENTIFICA tas transcorrer uma semana entre a redacao e a revisio do texto, ¢ verifique se os seguintes itens foram atendidos: — 0 texto tem unidade € coeréncia: Existe uma ordem légica na exposigio das idéias? Ha uma fluidez de idéias, que leve naturalmente 4 conclusio preten- dida? Ha correlacao entre este capitulo ¢ os capitulos anterior e posterior? E necessatio mudar a ordem de alguma secio? HA remiss6es internas, dizendo que aquele problema ser4 tratado em momento poste- rior? ~ 0 texto é completo e objetivo: Foram abordados todos os detalhes relacionados diretamente ao proble- ma? Hé alguma omissio relevante? Foram recapitula- das as principais oposigdes encontradas na literatura especifica? Foram climinadas as informagdes desneces- sarias e alheias a0 problema? Foram tetiradas as expres- sdes retdticas e dispensdveis? ~ as idéias sao claras e ininteligiveis: O texto € compreensivel para alguém nfo iniciado na maté- ria? H4 alguma obscuridade na explicagio do pro- blema? — 0s termos centrais foram definidos: Qual é exa- tamente 0 objeto de sua pesquisa? Como esta monografia entende este instituto? Qual a diferenga de institutos juridicos similares? Quais sio as variéveis dependentes deste instituto, e como se relacionam? — a parte gramatical esta correta: Foi revisada a ortografia? Ha erros de concordancia verbal? Nao hou- ve variagio entre presente € pretérito dos verbos? ~—a parte de formatagiio e metodologia est4 cor- reta: As citagdes esto formatadas corretamente? Ha correta indicagio de fontes e de referéncias biblio- graficas? 146 WELBER BARRAL. 6.2 Exemplo de revisao Os textos abaixo sio exemplos de correspondéncia remetida a orientandos, e que exemplificam os equivo- cos mais comuns na revistio do texto cientifico. O tom propositadamente severo se destina a convencer os orientandos de que, sem dedicacio ¢ disciplina, nio é possivel a conclusio de um trabalho cientifico de qua- lidade. Os dois casos tiveram finais felizes: os alunos apresentaram © trabalho no ptazo ¢ teceberam boas avaliagées Prezado Aluno, “Mandlei-the 0 texto corrigide pelo corzeio, com multas corresGes, ‘Vou ser muito, muito sincero. Sem que vocé pare tudo € se dedique setiamente a dissertagio, acho muito difiel que voct conclua um traba~ Jno com o minimo de qualidade, no prazo que Ihe reste. ‘A claboracio de uma distertagio ainda precisa ser comegada: falta rmnita pesquisa de Heeratars, falta pesquisa de jurisprudéacia, falta até /vetifcar se as fontes primécias citadas ainda estio em vigor. Caso voc’ esteja disposto @ isto, pego que vocé leia com atengio 0 texto que Ihe remeto anexo, ¢ que considere a proposta de sumirio que Ihe mando, Sugito que vocé conteate também um pesquisador/estagiiio para ajudi-lo, além de um revisor de ortografia. Estou sendo bastante sincero ¢ diteto, Por isso, deixo-0 & vontade para mudar de orientador, se vocé no concordat com minhas ponder ‘$6es, o1 julgue que pode continuar nessa linha de trabalho, Neste caso, serei que desist da orientagio. Aguardo noticias, Professor Barsal : __ | [sea — “Mandei-the o texto cortigido, com visias observages, pelo correio. O que farei aqui € dar algumas sugestBes gerais, apontar erros mais comuns que voce cometes, ¢ indicar alternativas REDACKO CIENTHFICA 147 Anise Gee Como ne dse em correpondéncaaneros,o testo gue voc reme- cco tm Conaesrinimas para ser aprescntade come tabalho de trent: A fla Se ebjto dace, om enor mainaoligin eo propio ‘Emunho, imped suc aqple voto pudese ter sprowado Poe eal cher banca com minime de seidade Os problemas so: (@ woct faa de muitas coiss diferentes, «sem qualquer conenio| cout umn cpt ¢ outer a direragio deve tex uma extra dds, Sie se sla onde comepon e sone voce quer chgae (nando abao Sogevco de sums, onde vocésprovetan ta pate do gue fe) (0 ocd jana vein tages, muta dels ser cago com o ext semi anand e oct scum o sagomente de storage lembies “imtcugfo apes provac que o aur alse tas NAO prova gu oe ele disse esta correto; * (© pio ainda, voct resume suas cagBes a autores de mane, sem pesquisa balhorepetion sobre otra, sem andi rie profan | [Sse jucapmadénca sobre ossuneo (pesjuls rapicumenteo acevo ce | iiotec do Senado e ca USP corseupe/ fc enone! diversas seeténcme de tabalhoe satios + rou fey Incusve toe de domordol Vu istagam abe crowed Oe prt deses esbalbon (@) mes pares intereoter, sobre a IegiasSoerpecicn dese te woul nfo sprofundn, nem anaina sinpleementesepete © ex Iga Conpure cm ous noua, ali d lgune conics © voe’ acresce conceitos 20 longo do texto, sem definiclos, ¢ utili- zando conotacio diverss; © explique no inicio de cada capitulo como © capitulo vai ser dividi do, € potque aqueles temas a serem abordados sio importantes para 0 tema do trabalho; (@) 0s capftulos I ¢ II sio totalmente desnecessticios pata a compreen- So do tema; se vocé quer uma base te6rica, procure-a na questio das tendéncias atuais relasivas 20 problema especifico: ¢ isto nada tem a ver ‘com a origem do instituto no direito romano. ‘Problemas de forma: @) referéncias em rodapé totalmente desconjuntadas; Ieia as normas: ‘da ABNT sobre o assunto; () parigrafos muito curtos, € que no abrangem uma idéla; a cada’ pparigrafo deve corresponder uma idéia completa, © tire 08 clogios descabidos (“insigne”, “mestze” e quejandos) aos autores citados; dissertagio no € peticio; | size também 0 jaro jusiico (isto posto”, “dante do exposto”) | © nio use “patio”; é retSrico, use “brasileiro” ou “nacional” (use verbo no impessoal ~ TODOS 08 verbos: @ indique fortes de todas as citagSes, mesmo que em “epud"; (@) se palavras de ligagZo (conetivos interfisicos) no inicio das frases | (Cineste sentido”, “desta forma”, “destare”, “por outro lado”, @ quando vocé diz que “vitios autores se posicionam”, voc tem que Gemonstrar que aurores, onde, referéncis, © tomar cuidado com isto, pois pode leva a argumento de sutoridade; @ cite as fontes primirias (normas, arts) em todas as afirmagdes que voc’ fizer rferindo-se a clas; se neceseisio, por clareza, coloque 0 texto da norma em rodapés (® nio dé espagos desnecessirios entre segSes dos capitulos; quanto aos ‘capltulos, divida-os por quebra de pégina (CTRL+ALT+ENTER); 0) existem algumas frases muito longas, e sem sentido; (@) apés usar a primeira vez a sigla entre parénteses (exemplo: apenas a sigla; () use itilico apenas para palavras estrangeiras: (©) © coreto € Lei n. 8.884 © Decreto-Lei n. 89.707 (¢ niio “lei 8884”), Estes problemas ja haviam sido observados anteriormente a vocé. Por| favor, cortija-os, antes de me remeter novamente qualquer outro texto. | Professor Batral CDO), use PLAGIO Pligio é a cépia de idéias ou textos alheios como se fossem préprios. O plagio é uma infracio gravissima 4 ética e s normas académicas e deve ser punido com a anulagio da nota ou titulo obtido com a apresentagio do trabalho em an: e. Para se evitar pligio, as seguintes regras devem ser seguidas: (@) cite as fontes de todas as citagdes e transcrigdes de texto ou documentos; 2 REDAGAO CIENTINCA (b) cite as fontes de idéias ou fatos que tenham sido paraftaseados ou resumidos; © cite as fontes para informagées que podem ser de conhecimento piblico, mas que eram desconhecidas anteriormente pelo autor; @ cite as fontes que adicionam informagio relevan- te a0 problema pesquisado ou 20 argumento proposto; (© cite as fontes da jurisprudéncia ou da legislagdo invocadas.> Observe, entretanto, que no hé necessidade de ci- tar fontes de fatos notérios ou nao diretamente vincu- lados com 0 problema abordado. O autor deste livro jé viu uma dissertagio sobre histéria do direito processual brasileiro em que, na primeira pagina, havia uma longa nota de rodapé fundamentando a data de descobrimen- to do Brasil. Isso é evidentemente um exagero. Outra situacio dificil ocorre quando o pesquisador elabora um argumento, ¢ posteriormente descobre que © mesmo argumento foi utilizado por um autor que ele nio havia lido. Sugere-se eno que seja colocada em rodapé a observagio pertinente. Ex: ® No mesmo sentido, posiciona-se Santos (2001, p. 30-35), 8. ERROS MAIS COMUNS NA REDAGAO Nas citagées —variagao na forma de citagZo: use uma tinica for- ma, e niio fique utilizando aleatoriamente itélico, as- pas, negrito; — utilizagdo indiscriminada de itélico: o itdlico deve ser utilizado para palavras estrangeira 5 Mirow, 2002. grifar, use negrito ou sublinhado, com a observacio (gri- fou-se) ao final; —utilizagio indiscriminada de aspas: as aspas ser- vem para () delimitar citagZo no corpo do paragrafos Gi) destacar neologismo ou uso metaférico; (iii) nao “abragar” nomes préprios; server para — descuidar no uso de id. e op. cit: essas expres- sdes facilitam a indicagdo de fontes, mas sio pouco confiaveis. Muitas vezes, vocé pode incluit posterior- mente uma citaglo antes do id. (¢ assim indicar equi vocadamente a fonte), ou o autor pesquisado teve mais de uma obra citada em seu trabalho (€ portanto nao se pode utilizar o op. cit). Além disso, 2 ABNT recomen- da que somente se deva utilizar “id”, “ibid.”, ¢ “op. cit.” na mesma pagina da citago a que se referem.‘ E isso nem sempre € previsivel — ou é sempre imprevisivel — nos atuais editores de texto. Na estilistica: — uso de jargiio forense (“isto posto”, “diante do exposto”); —uso de palavras antigas ¢ desnecessérias (“suso mencionado”, “doutra banda”): use vocabulério mais atual ¢ acessivel ao leitor; por isso, no use “hodierno”, “patrio”, “novel”, a nfo ser que vocé tenha mais de setenta anos de idade ou seja orador na formatura; = uso de terminologia técnica em sentido fi- gurado ex.: “o relacionamento entre os cénjuges faliu”: climinar (pois a faléncia sé cabe 4 empresa comercial); — frases muito longas: evitar; frase com mais de trés linhas & suspeita; ABNT, NBR 10520. —_____mctocmerines tS —uso de expressies retéricas (ex.: “direito patrio”) use sinénimos conforme pertinéncia (brasileiro, nacio- nal, doméstico); — variagdo nos tempos verbais: atente pata o tem- po verbal correto na frase, cuidado com variagio indis- ctiminada entre pretérito pre Pontuagio ¢ gramética: — nfo saber usar crase e virgula: estudar gramitica; ~ nao utilizar hifen entre palavras que compdem substantivo: em portugués, as palavras que compéem substantivo so ligadas por hifen (ex.: “nio-diserimina- a0”); ente, — iniciar frase com pronome reflexivo: estudar préclise e meséclise; — escrever “lei 8884”: 0 correto é “Lei n. 8.884”, “Deercto-Lei n. 1.616”; ~ ficar repetindo integra da sigla: depois que co- locar por extenso, com sigla entre parénteses, pode-se utilizar somente a sigla; — nfo use ponto em ano nem numero entre pa- rénteses: quem usa “1.875” e “(5) cinco” é seu avé; mesmo assim, em cheques; — no use “Do...” em titulos: sé livros oitocentistas ¢ advogados com mentalidade oitocentista é que usam titulos assim; — nao use “através” com sentido de “por meio de”, “por”: atravesse a sala ¢ consulte uma gramitica. ‘Terminologia: — variagdio de termos como se fossem sindnimos (Estado Membro, Estado-Membro, Pais-Membro): use uma forma, de preferéncia aquela utilizada no texto legal; — tradugiio literal de termos estrangeiros: a tra- ducio literal nem sempre representa o significado da palayra utilizada; assim, domestic law “direito interno”, € nao “lei doméstica”. Fundamentagio: — no deixar claro quando as idéias so suas ou de outros autores: mesmo que por negligéncia, isso podera ser considerado pligio. — fazer afirmagiio sem identificar qual o funda- mento legal: identificar norma pertinente, preferen- cialmente em rodapé, ou entre parénteses no corpo do texto. Argumentacio: _ tratar de varios temas no mesmo pardgrafo: cada parigrafo deve conter, e esgotar, uma idéia. 7 REGRAS DE APRESENTAGAO HE 1 ESTRUTURA DE TRABALHOS ACADEMICOS Segundo a NBR 14724, o trabalho estrutura-se em trés partes: ()) pré-textual; (ii) textual; (ii) pés-textual. Os itens designados com [F] sio facultativos. Estrutura [Elemento Capa a Folha de Rosto Errata [F] Folha de Aprovagio [Obrigatoria apenas na versio definitival | Pré-textual |DedicatSria F] [Agradecimentos FT [Epigrate TFT [Resumo [Resamo em [ngua estangeln [Lista de Wlusteagoes [FJ Lista de abreviaturas ¢ sighs F]——=d ‘Sumario ~ 154 __wouner nannat [" textual Alguns comentitios podem set elaborados sobre cada um desses itens. 11 Capa ‘Nela devem constar: (a) nome do autor; (b) titulo; (© subtitulo, se houver; (@) mimero de volumes; (€) ci- dade da instituicio onde deve ser apresentado; (6) més ano de depésito ou da entrega. A maioria das institui- g6es exige que o aluno entregue no minimo dois exem- plares encadernados em negro do trabalho defendido. 12 Folha de rosto @ nome do autor; (6) titulo; (¢) subtitulo, se houver; (a) némero de volumes; (¢) natureza do trabalho (monografia, tese, dissertacio, entre outros), objetivo (aprovacio em disciplina, grau pretendido, entre outros), instituicio a que € submetido e area de concentragios (© nome do orientador e, se houver, do co-orientador; @ cidade da instituicio onde deve set apresentado; (h) més e ano de depésito ou da entrega. 13 Errata ¥ia lista de erros e corregées, geralmente entregue em papel avulso ¢ encartado ao trabalho. Deve ter a estrutura do seguinte exemplo: Folha — Linha Onde sel Leia-se | 25 10 Cada Nada —_____REGRASDEAMRESETAGHO 1.4 Fotha de aprovagio Ea folha que ser assinada pelos membros da banca de avaliagio, com indicagio da nota recebida pelo tra- balho. Nela constam: (a) autor; (b) titulo por extenso ¢ subtitulo; (c) natureza, objetivo, nome da instituicio a que foi submetido ¢ drea de concentracio; (d) local ¢ data da aprovacio, com nota obtida; (¢) nome, titulagio ¢ instituigao dos membros da banca examinadora; (f) local para assinatura dos membros da banca. 15 Dedicatéria Homenagem prestada pelo autor do trabalho. E um item facultativo, mas se utilizada, deve ser limitada e sébria, Se vocé comecar a dedicé-la da professora de ptimério até a atual namorada, a dedicatéria perde o sentido. Ou vocé perde a namorada. Deve ser incluido abaixo, no canto direito da pagina. 1.6 Agradecimentos Ditigidos aqueles que contribuiram de maneixa rele- vante 4 claboragio do trabalho. Também é facultative. O titulo “Agradecimentos” deve ser colocado no inicio da pagina, centralizado, seguido do parigrafo de agra- decimentos. 1.7 Epigeafe Citagio, seguida de indicagio de autoria, relaciona- da com a matéria tratada no corpo do trabalho. Deve ser incluida abaixo, no canto direito da pagina, Permi- te-se também a inclusio de epigrafes no inicio de cada capitulo; mas tome cuidado para nfo parecer algo rocambolesco. 1.8 Resumo Ea apresentagio concisa dos pontos relevantes do trabalho, néo devendo ultrapassar 250 palavras em monografias ¢ dissertagdes, € 500 palavras em teses. Deve ser seguido, logo abaixo, de cinco palaveas-chave representativas do contetido do trabalho. ‘No resumo, apresente: a) assunto e objetivo; b) fon- tes de pesquisa; c) método utilizado; d) resultados ¢ conclus6es. Utilize linguagem objetiva. Destaque a con- tibuic¢ao do trabalho para a compreensio do proble- ma. Afinal, o resumo tem também a fungio de interes- sat o leitor pela pesquisa. Evite 0 uso de parigrafos, de frases negativas ¢ de simbolos pouco conhecidos.' 1.9 Resumo em lingua estrangeira Versio do resumo em idioma de divulgagao interna- cional (Em inglés: Absiract. Em castelhano: Resumen. Em francés: Réswmé), Deve seguir-se de cinco palavras-cha- ve representativas do contetido do trabalho no mesmo idioma. Em geral, a monografia dispensa resumo em lin- ‘gua estrangeira; a dissertacio deve conter um Abstract, a tese deve conter um Abstract ¢ um Resumen ov Résumé. 1.10 Lista de ilustragées Deve ser elaborada de acordo com a ordem apresen- tada das ilustragSes, que serio numeradas em algaris- mos romanos. Exemplo: Figura I — Ceescimento da demanda judicial na Comarca de Montes Claros (MG) 111 Lista de siglas Deve ser apresentada de acordo com a ordem alfa- bética da sigla. Exemplo: + ABNT, NBR 6028 _REGRAS DE APRESENTACKO. k DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNOCS - Departamento Nacional de Olbras contra a Seca 1.12 Sumario Enumeragio das principais segdes (capitalos), subsegdes € outras partes do trabalho, acompanhadas do respecti- vo mimero de pégina. Nao devem ser inclufdos os itens. 1.13 Parte textual O desenvolvimento deve ser dividido em sees (ca- pitulos), subsegdes ¢ itens. 114 Referéncias bibliograficas Indicacio padronizada de fontes utilizadas, em or- dem alfabética, conforme NBR 6023. 115 Glossario Consiste em uma lista em ordem alfabética de pala -vtas ou expresses técnicas de uso restrito ou de senti- do obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas das res- pectivas definigdes. 1.16 Anexos Consiste em textos, documentos, mapas ou grificos que servem de fundamentagio, comprovagio ou ilus- tragiio. Sao identificados por letras maiisculas, traves- so € os respectivos titulos. Exemplo: ANEXO B — Tabela de corresio monetiria e dedugées do Imposto de Renda de 1996 a 2000 Vocé 86 deve se utilizar de documentos anexos quan- do forem realmente relevantes para a compreensio do trabalho. Assim, pode-se anexar uma legislagio muni- cipal ou um tratado internacional, se forem as fontes ptimérias do trabalho e porque o leitor dificilmente tera acesso a elas. Mas seria um exagero (e uma visivel ten- tativa de dar volume ao trabalho) colocar em anexo 0 Cédigo de Defesa do Consumidor. Muitas vezes, 0s anexos so compostos de mapas © de documentos. Por isso, nfo é necessério pagi- <6 né-los, Além do anexo, pode constat no trabalho também um apéndice. A diferenca é que o apéndice € um docu- mento elaborado pelo proprio autor, com o objetivo de complementar ou exemplificar sua argumentagio. 1.18 Introdugao Na introdugio, apresente o trabalho ao leitor. E> plique a delimitacio do tema, indique os objetivos que serfio buscados, aluda 4 divisio dos capitulos ¢ © que sera tratado em cada um deles. Deixe para clabo- rat a introdugio quando o trabalho estiver concluido, so porque inevitavelmente haverd alguma modifica io dos objetivos ou hipéteses iniciais. 1.19 Desenvolvimento Quanto ao desenvolvimento do trabalho, tente criar uma divisio equilibrada dos capitulos. Cada capitulo deve se dedicar a um aspecto claramente identificével do pro- blema. Como recomendagio, evite que um capitulo fi- que do dobro de tamanho de outro. Se for 0 caso, divi- da-o em partes menores. Ao mesmo tempo, evite 2 mul- tiplicidade de pequenos capitulos, que fazem perder a evolugo da andlise do problema. Dificilmente um tra- balho com menos de 100 paginas tera mais que quatro ‘ou cinco capitulos de desenvolvimento. Na conclusio, condense as principais idéias abor- dadas ao longo de seu trabalho. Vocé niio deve act centar dados novos nessa parte. Alguns autores de _ GRAS DE AMRESERTAGAO 59 Metodologia distinguem entre “conclusio” e “conside- tages finais”. Nessa ultima, o pesquisador apresenta os resultados de um trabalho panorémico, apresentan- do a organizagio do problema, mas sem chegar a um posicionamento definitive. Na “concluso”, por outro lado, ha um posicionamento de afirmaciio ou negativa da hipétese inicialmente apresentada no trabalho. 2. NUMERAGAO DOS TITULOS A numeragio dos titulos comega a partir da estratu- ra textual do trabalho, da seguinte maneira: Tnuedueio - i 2a Desenvolvimento 2, 222 5 ‘Conclusao (ou - ~ Consideragées Finais) 4 Referéncias bibliograficas| 5 - Anexos Anexos A __ [Anezos 8 Figueas tuseagdes | Figur 1 ‘Tabelas. “abel 1 ‘Tabela 2 160 ‘WEsnen baat 3, ELEMENTOS GRAFICOS Papel Branco. Formato Ad (21,00em x 29,7em). Fonte Deve-se ular a fonte Times New Roman, rmanko 12 para o texto ¢ tamanbo 10 para nos dle rodapé. O tamanho 11 ser utlizado para ciuagies destacadas (was de ts linhas). | Margem @ Supedor e Esquerda: Sem.) Infedor e Dir reita: 2em, “Expacejamento @ Batre linha @ Entre parigrafos: no deixar espagos. (Gi) Tinalo de capfeulo (segiio): deve ser iniciado em nova pagina, seis espagos apés a margem supe flor. O ritulo deve ser em neggito ¢ maiisculas. ‘eepago duplo. iv) Titulo de subsesio: deve ser separado do ‘texto por tum espago anterior ¢ um espago pos- terior. © titulo deve ser em negrito. (Titolo de iter: deve sex separado do texto anterior por um espaco, ¢ sem separagio do tex: to posterior. (# Primeiea linha (margem de parigrafo):1,5em. (ei) Notas de rodapé: espaco 1 (simples), separa- da do corpo do texto por um Bete a parti da ‘margem esquerda, No texto da nota de rodapé, 0 cespago entre linhas é simples, nto hd espago entre | ‘pardgrafos, nem espacamento na primeira linha Indicativos de segio (capitulo) Dever ser precedidos de um indicativo numéri- 0, alinhado & esquerda e separado por um espa- {g0 de caractere, sem ponto. Titulos sem indica- 40 numérica (eumécio, resumo, tabelas) deve ser centralizados, em maiisculas € em negrito. Numeragao Deve-se adotar numeragio progressiva das se- ‘gBes. Os titulos de capitulos devem iniciar em folhas distintas. Recomenda-se, por isso, que seja desativado no editor de texto'o mecanismo de “controle de linhas 6:f%s ou viivas” (No Word: Formatar-Parigrafo-Quebsas de linha). Ver abai- xo tabela para recomendagio de numeragio dos titulos. REGRAS DE APRESENTACKO _ 161 Paginagio ‘Abreviaturas © siglas | Mustragdes Deve ser feita em algarismo aribicos, no canto superior direito da folhs, a 2cm da borda supe- or ¢ a 2em da borda diseita. Todas as folhas devem ser contadas ¢ numeradas a parti da In- tzoducio. Antes da parte textual, devem ser nu meradas em algarismos romanos mindsculos? Nao é necessério paginar anexos. A numeraglo mantém-sc na forms seqencial, independente: mente do niimero de volumes, apéndices ow ane- x08. A folha de rosto, apesar de contada, no deve ser sumerada. ‘Quando aparecerem pela primeira ver no texto,| deve-se usar 0 aome por extenso, seguide da abreviatura ou da sigla, entre parénteses. Apés| ceste procedimento, deve-se usar direramente a abrevintura ou a sigla ( Figuras, esquemas, fluxogramas, grificos, mapas, organogramas: qualquer que seja seu tipo, sua identificacio aparcee na parte inferior pre- ccedida da palavea designativa (ex: Figurs, Grafi- 0, Mapa, etc), seguida de seu alimero de order de ocorréacia no texto em algarismo aribico, do espectivo titulo e/ou legenda explicativa ¢ da| Fonte, se necessivia. Legendas devem ser breves | ceclaras de forma a dispensar 2 consulta 20 texto. (@ Tabelas: a indicasio do titulo aparece na par te superior, & esquerda, precedido da palavra “Tabela e de seu niimero de ordem em algarismo aribico. A fonte das informagées contidas em. tuma tabela deve aparecer em nota de rodapé, com chamada de rodapé no titulo da tabela Quando 0 texto reproduz tabela de outro docu mento, deve-se obter prévia autorizagaio do av. tor, Quando uma tabela no couber em uma folhs, deve continua na folha seguinte, cepetin- do-se 0 titulo ¢ 0 cabesalho, Pata aumerar em romano, no Word, utilize Inserir-Nimeros de Paginas-Formatar. 4, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Referéncias bibliograficas so indicagdes completas de todas as fontes utilizadas. Essas referéncias devem constar no fim do texto, em monografias, dissertages € teses, e devem anteceder 0 texto, em fichas, resumos ou resenhas. As recomendagSes que se seguem foram elaboradas com base na NBR 6023, de agosto de 2001, revista em agosto de 2002. ‘As referéncias alinham-se 4 margem esquerda do texto, com espago simples entre linhas e duplo (12 pontos) entre cada referéncia. O recurso empregado para destacar o titulo deve ser o negrito. Os titulos das obras citadas sio datilografados/ digitados em letras mintisculas, exceto quando se trata de nome préprio, ou de disciplina. Ex. O direito e a vida do direito (cegra geral); Direito Administrativo II (nome de disciplina). 4.1 Monografias ou obras isoladas Documento | Modelo de Apresentacao. Livro | SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. ‘Titulo do documento em negrito. n. edi- Gio [se no for a 1"). Local da Publicagio: Editora, ano. THUROW, Lester C. The | farure of capitalism. New York: William | Matsow & Ca., 1996. Capitulo de |SOBRENOME DO AUTOR DO CAPI Livro? | TULO, Prenome. Titulo do capitulo. In: SOBRENOME DO ORGANIZADOR DO LIVRO, Prenome (Org). Titulo do Aplica-se, também, a volume, fragmento ou outras partes de uma obra, com autor ¢/ou titulo préprio. documento em negrito. Local da Publi- cagio: Editora, ano. p. x-y. WOLKMER, Antonio Carlos. Sociedade liberal ¢ a tradi- io do Bacharelismo Juridico. In: BORGES. FILHO, Nilson. Direito, estado, politica © sociedade em transformagio. Porto, Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1995. p. 49-77. Dissertagao, | SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. ‘Tese, TCC | Titulo do documento em negrito. Dis- sertagio (Mestrado em X). Faculdade de. Y. Universidade de Z. Local, ano. PRAZERES, Tatiana Lacerda. A regu- lamentagao de barreiras técnicas na Organizagi0 Mundial do Comércio (Mestrado em Direito). Centro de Cién- cias Juridicas. Universidade Federal de San- ta Catarina, Florianépolis, 2002 Dicionario SOBRENOME DO EDITOR, Prenome. ‘Titulo do dicionario em negrito. Local I da Publicacio: Editora, ano. Manual | ESTADO. Orgio/entidade responsivel | pelo manual. Titulo do manual em: negrito. Local, ano. ESTADO DE SAO PAULO. Secretaria da Fazenda. Manual do ICMS. Florianépolis, 1989. Observagées: — escteva 0 nome da cidade por extenso: “Rio de Ja- neiro” (€ no “RJ”); — no rodapé, a citacio de paginas é “p.” (€ nao pp); — identifique a editora, mas nfo se deve actescer “Ltda.” nem “Companhia”; Ex.: Rio de Janeiro: Fo- rense, 2000. [e nio “Companhia Editora Forense Ltda.”} = Designagées de filiago (FILHO, JUNIOR, NETO, SOBRINHO) devem acompanhat © sobrenome. Ex.: ATHAYDE BISNETO, Aristides. — Em sobrenomes castelhanos, 0 nome paterno apa- rece antes. Ex.: RUIZ DIAS, Roberto. 4.2. Periédicos {Documento Modelo de Apresentagao ‘Artigo de | SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Revista | Titulo do aztigo. Nome da Revista em| Institucional | negrito — Revista da Faculdade X, Local da Publicacio, n. xx, p. xy. Més [se hou- vet}, Ano. Artigo de SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Revista —_| ‘Titulo do artigo. Nome da Revista em. negeito, Local da Pablicagto, & 8. % P sry. més ano, VERONESE, Josiane P. Os meios de comunicasio de massa: uma nova| forma de controle social. Revista de In- formagio Legislativa, Brasilia, ano 28, 12, p. 445-456, ovt-dez. 1991 ‘Artigo de | (j) Artigo assinade SOBRENOME DO Jornal Diario. | AUTOR, Prenome. Titulo do artigo. Nome do Jornal em negrito, Local da Publicaso, v. x, n. x, p.x-y: més ano. (il) ‘Artigo no assinado TITULO do artigo com primeira palavra em maidscula. Nome do Jornal em negrito, Local da Publicacio, vx, n. x, p. x7 dia més ano. ‘Anigo de | SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Revista em | Titulo do artigo. Nome da Revista em meio eletrénico | negrito, Local. dia més ano [se houves]. Disponivel em: . Acesso em: dia més ‘Antigo de Jornal em meio eletrnico 4.3. Eventos — Deve-se utilizar 0 més abreviado. Ex.: out. 1998 (exceto para maio). RUGHAS DBAFRESENEAGAO 165 SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. ‘Titulo do artigo. Nome do Jornal em negrito, Local. dia més ano. Disponivel em: . Acesso em: dia més ano. Anais de Congresso publicado em Anais Documento | Modelo de Apresentagao ‘Trabalho | SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. NOME DO EVENTO. a, do Evento. ‘Ano. Local do Evento, Anais... Local: Edi tora, ano. p. x ‘Titulo do trabalho. In: NOME DO EVEN- TO. n. do Evento. Ano. Local do Evento. Anais... Local: Editora, ano. p. x-y. ‘Anais eletrénicos NOME DO EVENTO. Ano. Local do Evento. Anais eletrdnicos... Local, Entida- de Responsavel. Ano. Disponivel em: . Acesso em: dia més ano. ‘Trabalho publicado | em Anais eletronicos “SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Titulo do Trabalho. In: NOME DO. EVENTO. Ano, Local do Evento. Anais cletrénicos... Local, Entidade Responsavel. Ano. Disponivel em: < utps//wscss, endexeco-cletrdnico-completo>. Acesso em dia més ano. 4.4 Documentos juridicos Documento Legislagao | Modelo de Apresentagao “@ Constivuigio ESTADO. Ato normativo, Capital: 6rgi0 ou poder, ano. BRASIL. Constituigao da Republica Federativa do Brasil, Brasilia: Senado Federal, 1988. (i) Emenda constitucional STADO. Constituisio (ano de promul- gacio). Emenda Constitucional n. X, de [aia] de [més] de [ano], Fonte, Cidade, v Be, nee, p. xyes x./mes y. Ano. BRASIL. Constituis2o (1988). Emenda Constitucional n, 20, de 15 de dezembro de 1998, Lex: Coletinen de Legialacio ¢ Jurisprudéncia: legislagao federal e ‘marginilia, Sio Paulo, v. 75, a. 3, p- 176- 182, out./dez. 1998, Gi) Legistagao infraconstitucional ENTE COMPETENTE. Ato normativo 1. X, de [dia] de [més] de fano} Fonte, Cidade, ¥ x. n. x. pj: Ano. SAO PAULO (Estado). Decreto n. 42.822, de 20 de janeiro de 1988. Lex: Coletinea de Legislagio Jarisprudéncia, Sao Paulo. & 62. 0. 3. p. 217-220. 1988. Gv) Cédigo ESTADO. Cédigo X. Organizagio e/ou coordenagio dos textos, notas ¢ indices. Edigio. Local: Editora, ano. BRASIL. Cédigo Civil. Organizasio coordenagio dos textos, notas remissivas ¢ indices por Juarez de Oliveira. 51. ed. Sao Paulo: Saraiva, 2000. —___Recmaspeammesentacho 167. Decisdes Judi @ Acérdio © dechsbes] monocraticas* ENTE FEDERATIVO. Or- f0 Prolator da decisto Tipo Ge Recurso a artes eo. Solvdas [se house) Relator Des. X. Cidade. [Daal de feed de fo}, Fonte BRASIL. Supremo ‘Teibunal Federal Reeurso Exwaordi nario n. 167359/SP. Recor- ent: Iasduto Nacional do Seguro Social. Reeorrido: Manoel Mendonca de Siva Relators Minott Nesi ds Silveira, Braslia, 22 de no, vembeo de 1994, Disponivel em: feesso one 11 now S02 Gi) Stila ENTE FEDERATIVO. Or- #0 prolator da simula. Si: tela, a. Foate- BRASIL Supremo Tabunal Federal la a 14 | Sismulas, Sto Paslor Asso- cing dos Advopaos do Bre. | si, 1994. p16 ‘A transcrigo da ementa (ou da stimula), bem como de outros clementos identificadores da decisio, ndo ¢ obrgesria, as recomendivel seo autor do trabalho cientfico quiser idendifieat S documento com maior precio. © texto ds Gmeata neces ttre o ngio prolatr da decisive o Spode recurso Jd ocontete dh sinmula incerese entre o niinero da simula e's fone de onde foi retirada, + O mais importante nas referéncias bibliografi- cas é manter a uniformidade: nio ha regras que pre- vejam todas as situagdes possiveis de apresentacio de documentos. Por isso, sempre hé algumas divergéncias entre os autores de Metodologia; cada um tem indica- Ses distintas sobre algumas particularidades na reda- Go, que se basciam mais em preferéncias do que em tegras existentes da ABN'T. Mas uma regta é fundamen- tal: mantenha a coeréncia ¢ uniformidade; faga cita- ges e referéncia sempre da mesma forma, Se nlio hou- ver uma regra expressa para o tipo de documento que vocé esta utilizando, aplique as regras gerais para obras isoladas ou para periédicos. + Como deve ser feita a referéncia quando a in- formagao é obtida em meio eletrénico? A internet transformou-se em instrumento importante para pes- quisa nas mais diversas areas. Tornou-se constante, as- sim, a obtencdo de informagées em meios cletrénicos (como, ng., home-pages ou revistas eletrOnicas). Nestes casos, a referéncia permanece como se se estivesse li- dando com um meio convencional (nao eletrénico), apenas inserindo no final os seguintes dados: Disponi- vel em: . Acesso em: dia més [abreviado] ano. Quanto a numerasio de paginas, se 0 arquivo encon- trado na internet niio tiver paginas fixas (a exemplo dos arquivos PDF), aio deveri haver indicacio de paginas. 5. ERROS MAIS COMUNS NA FORMATACAO — referenciar obras estrangeiras para parecer um trabalho denso: vocé nao conseguira enganar ninguém ¢ vai se meter em confusio; somente coloque referén- REGHAS DE APRESENTACAO 169 cias bibliogrificas que vocé tenha realmente lido e con- sultado; nao faca referéncia de obras estrangeiras, se vocé niio leu (se for 0 caso, coloque apud para demons- tar que é uma seferéncia indireta); — deixar “lixo” (espacos desnecessarios) entre pala- vras, que criario problema na impressio — evitar dar dois toques na barra de espaco; para cortigit, no Word: Editar-Substituir (espago-espaco) por (espaco); — utilizagio de muitas subdivisées no texto — use no maximo a terceira casa (ex.: 2.2.1); a partir dai, use alfabeto, se necessario. 8 RELAGOES INSTITUCIONAIS ———____———— ee 1. COORDENADOR DE PESQUISA (OU DE MONOGRAFIA) Durante todo o trabalho cientifico, a tradigio acadé- mica é a da existéncia de professores que se envolvem € que teoricamente auxiliam o trabalho do aluno. Den- tre estes professores, é proeminente a figura do orien- tador. Mas as instituiges de ensino € pesquisa também costumam manter um coordenador de pesquisa (ou coor- denador de monografia), ¢ € possivel ainda a existéncia de co-orientador. Algumas palavras podem ser ditas sobre essas figuras. O coordenador de pesquisa (ou de monografia, a depender da instituigio), é responsavel fundamen- talmente pelos problemas administrativos que ve- nham a surgir relativamente a aptesentagio de tra- balhos de pesquisa. Via de regra, € 0 coordenador de pesquisa que designa o calendario para as defesas, propde os componentes das bancas respectivas, in- dica orientadores para os alunos que nao os tiverem, ¢ resolve fatos imprevistos, que sao inevitaveis quan- do ha grande ntimero de alunos. A depender da estru- tura administrativa de cada curso de graduagio ou de programa de pés-graduacio, a figura do coorde- nador de pesquisa pode ter enorme relevancia na defi- nico das linhas de pesquisa as quais os alunos de- vem se submeter. 2. © ORIENTADOR: UM GUIA DE SOBREVIVENCIA A figura mais presente na vida do pesquisador é a do otientador. Hé alguns equivocos quanto a0 papel do orientador. Muitos pesquisadores iniciantes tém uma imagem roméntica do orientador, vendo nele a mio segura, que o encaminhard pelos caminhos tortuosos da vida académica. Essa imagem no corresponde & realidade atual, onde a massificagio do ensino exige mnuitas vezes que umn professor tenha mais de dez orien- tandos de graduacao e pés-graduacio por ano, Em al- gumas instituigdes mais conservadoras, ainda se vé um comportamento paternal dos orientadores, que em contrapartida tém poder de pater familias sobre seus rientandos, a quem premiam ou castigam por raz5es obs- curas © as vezes passionais. Estes sio personagens em extingio. A massificacio do ensino tende a promover a impessoalidade e os critérios meritocriticos, ¢ 20 aluno lambio o orientador acaba simplesmente dedicando me- nos tempo, deixando-o relegado & bisonha ignorincia. Portanto, nao crie expectativas exageradas quanto a0 seu orientador. Ele nao é pai nem mie, no é necessaria- mente amigo, quase nunca é especialista na matéria, ¢ nao é um ombro no qual se possa chorar suas m4goas. O orientador é simplesmente um leitor privilegiado, aquele que tem © contato inicial com seu texto, © que Ihe fax: recomendagdes quanto ao prosseguimento da pesqui- sa. O bom otientador é aquele que se dedica principal- mente a revisat 0 projeto, que auxilia vocé a encontrar um tema que seja acessivel ¢ bem delimitado. Porque quem tem de encontrar o tema é vocé, o trabalho Muitos dos conflitos surgidos entre alunos e profes- sores, € testemunhados pelo autor deste livro, tiveram seu. RELAGOMES INSTFTUCIONAS 173 origem na incompreensao quanto a esta regra basica: a relago entre orientador e orientando é uma relagio ptofissional. Nao se deve esperar que o orientador vi além disso. Deve-se esperar que 0 orientando apresen- te um projeto coerente e execute-o no prazo acordado. ‘Tampouco espere que © ofientador saiba tudo sobre © assunto. Vocé vera que, ao término da pesquisa, pou- ca gente no mundo entender do tema como vocé. Isso no quer dizer que 0 orientador nao possa set também um coordenador de um grupo de pesquisa. Tem se tor- nado cada vez mais freqiiente, inclusive na area de cién- cias sociais, a criagdo de grupos de pesquisa, onde cada pesquisador envolvido concentra-se num problema es- pectfico. Feitas essas consideragdes gerais, quais sio alguns ctitérios para escolha do orientador? Vamos a um guia bisico de sobrevivéncia. © otientador deve ser professor do curso: em re- gra, as instituigées nao aceitam que professores nao vinculados formalmente possam orientar seus alunos. O professor deve aceitar a orientagao do aluno: dificilmente os professores mais disputados poderio ser obrigados a orientar alguém. Por isso, vocé deve contati- lo previamente, e certificar-se do interesse dele em otientar voce. © professor deve ter vagas para orientagio: as ins- tituigdes normalmente limitam mimero de orientandos que cada professor pode ter (em geral so dez). Veri- fique na secretaria do curso se 0 orientador que vocé descja tem vagas disponiveis. O professor deve ter conhecimento do assunto: ele nfio necessariamente seri um especialista, mas deve conhecer pelo menos da area em que vocé pretende se aprofundar. Pesquise a atuagio do professor como o orientador: converse com os orientandos dele, verifique na biblio- teca os trabalhos que ele jé orientou, veja a qualidade de suas publicacées. Certifique-se de que no é uma pessoa intoleravel: por mais profissional que seja a relacio, € importante a socializagao académica, o padrao ético ¢ a humildade cientifica. Se 0 sujeito é um estrupicio, sera extrema- mente desgastante conviver com ele durante o ano de pesquisa (por isso, alguém ja disse que se pode fazer um trabalho cientifico “com o orientador, sem o orien- tador, ou apesar do orientador”). ‘Ao longo da pesquisa, espera-se que sua relagio com © ofientador seja profissional ¢ respeitosa. Em alguns casos, a situagao torna-se insustentivel, e necessaria a troca de oricntador. Verifique as normas da institui- &o quanto a essa possibilidade, e converse com 0 coor- denador de monografia sobre o assunto. De qualquer forma, ha sempre aquelas frases que vale a pena evitar. Sao as frases mais odiadas pelos orien- tadores: Guia das frases medonhas | “Bem que © senhor poderia sugerir um tema par ‘minha pesquisa.” “Bstou pensando em mudar de tema.” “Como é que se fax referéncia de livro mesmo?” “Pois é, procurei o senhor em sua sala mas nio en- contrei.” “Nao, no recebi seu recado, meu itmio é meio ton. to” “Acho que vou precisar de um prazozinho a mais.” RELAQOES INSTITUCIONAIS 175 “Sei que teria que entregar a monografia ontem, ‘mas minha avé passou mal.” “Professor, seré que daria para mudar a data da banca, pois minha tia que mora em Roraima quer ‘vir assistir.” “Acho que aquele membro da banca me persegue.” “Meu orientador nio me disse que 0 trabalho esta- va tio ruim.” 3. O PAPEL DO ORIENTADOR Embora o trabalho cientifico seja um trabalho sob a responsabilidade de seu autor, é inegavel que o orien: tador pode exercer um papel relevante, sobretudo auxi- liando o otientando a no incorrer nos mesmos erros que 0 orientador cometeu quando iniciou sua carreira académica. Proporcionar um clima de respeito mituo e de profis- sionalismo é essencial para permitir a pesquisa cientifi- ca. Com este objetivo, algumas recomendagdes podem ser recordadas 20s orientadores. Esta segio, portanto, se destina basicamente aos professores. Antes de aceitar a orientagio, pega um rascunho do projeto. Ainda que em seus primérdios, é importante notar se o aluno tem idéia do que pretende estudar, ¢ se este tema se encaixa na linha de pesquisa atualmente desenvolvida pelo orientador. Deixe claro desde 0 inicio as regras do jogo: qual sera sua contribuigio e o que se espera do orientando. Nao tergiverse sobre responsabilidades, nem deixe fra- ses subentendidas. De preferéncia, remeta a0 orien- tando, por escrito, as suas expectativas, bem como as avaliagGes periddicas que faz dele. Guarde a cor- F respondéncia eletrénica mantida 20 longo da orienta- cdo. Recorde-se que a orientacio envolve responsabili- dades administrativas, que podem ser graves, no caso de perda de um prazo ou de constatagio de plagio. Na carta da pagina 179, hé um exemplo de correspondéncia que 0 autor deste livro remete a seus pretendentes a orientandos. Nao aceite o orientando se vocé ja esta sobre- carregado. Por simpatia, por ser um bom aluno, pelo tema interessante, os professores mais dedicados ten- dem a aceitar novas orientacées mesmo quando dis- poem de pouco tempo. Nao faca isso. Sera uma frustra- do reciptoca, derivada do simples fato de que existe uma limitaco fisica 4 dedicagio académica. ‘Trate 0 orientando com urbanidade e respeito. Como qualquer relacao profissional, seja objetivo ¢ di- reto quanto aos propésitos c direcionamentos que de- vem ser adotados. Se o sujeito € uma toupeita, recuse- © como orientando; mas nfo o humilhe. Proteja a liberdade intelectual. Se 0 orientador tem divergéncias ideolégicas graves com 0 trabalho do orien- tando, talvez seja melhor sugerir-Ihe que procure um outro professor. Se accitar a orientagio, respeite as hi- péteses propostas pelo trabalho, ainda que as refutan- do em bases cientificas. ‘Na academia, n&io é admissfvel preconceito quan- to A pessoa do aluno — seja por origem, sexo, orientacio sexual, idade ow limitago fisica. Se vocé, ainda assim, nio consegue climinar algum tipo de preconceito, no aceite a orientacio. ‘Nao oriente parentes ou pessoas préximas. Além de prejudicar a isengio quanto & avaliacio do trabalho, isso pode induzir & suspei¢o da comunidade académi- ca, prejudicando injustamente 0 otientando. tesco msrrrucionns ATT Apés a aceitaciio pelo orientador, o contato pode se estender por bastante tempo, as vezes por anos. O otientador deve compreender que suas responsabilida- des também se estendem, e podem incluir, a depender do grau de dedicagio e da vocagao do orientando, a parte de socializagSo académica. Nesse sentido, deve- se incentivar 0 orientando a publicar seus resultados, apresentar trabalhos em congressos, ¢ externar suas pOteses para a comunidade académica, desde que, é ébvio, tenham qualidade. Durante a orientag’o, 0 comportamento do orien: tador influencia indelevelmente a conduta do orientan- do. Por isso também a necessidade de manter padrées éticos elevados. Isso inclui obedecer a0 cronograma proposto & exigir igual dedicagao do aluno, Cumpra os prazos, com- pareca as reunides que agendar com cle. Entregue as revis6es nas datas combinadas. Se vocé criticar o trabalho de outros autores, faca-o em bases sélidas e com fundamentos cientificos. Nao protagonize o buffio de fofocas e maledicéncias da aca- demia. Nao seja egoista com livros ¢ fontes bibliografi- cas. Conhecimento é como dinheiro; se no circula, no gera mais conhecimentos. Dé acesso a seus livros, di tribua fontes de pesquisa que sejam relevantes. Mas tome cuidado de anotar a quem foi emprestado o qué. Sabemos quantos livros se perdem em razao de “es- quecimento” alheio. Reconhega fontes e créditos a citagdes ou idéias que consribuem para a evolugio do trabalho cieittifi- co. Valorize o direito autoral, ¢ ensine seu orientando a fazé-lo. Cumpra com as normas da instituig&io no que se refere a0 acompanhamento, registro, apresentagio de rclatérios e cumprimento de calendario. Caso vocé precise se licenciar ou se afastar da institui- ao, avise com antecedéncia razoavel aos orientandos, a fim de que possam se programar para este imprevisto. Impega relacionamento mais intimo com o orien- tando. Como ditia Janio Quadros, “excesso de intimida- de provoca mal-entendidos e filhos.” Qualquer dessas conseqiiéncias evidentemente prejudicaré a evolugio do trabalho cientifico, além de fazer questionar o grau de profissionalismo do orientador. Quando assinar uma carta de recomendagaio ou apresentar um relatério relativo ao orientando ou a seu trabalho, seja auténtico ¢ objetivo. Nao desperdice elo- gios sem fandamento, pois isso compromete o seu pré- prio nome como académico como orientador. Por fim, algumas recomendagées finais para a banca de avaliagao. A primeira recomendagio € nio criar expectativas exageradas do orientando quanto & quali- dade do trabalho. Muitos alunos conseguem se superar ao elaborar o trabalho cientifico, mas essa superagio nfo quer dizer que o trabalho revolucionou 0 conheci- mento sobre o tema. Portanto, diga que uma porcaria é uma potcatia. Usar de eufemismos induziré o aluno em etro, € a tet expectativa de uma avaliacio melhor do que 0 trabalho merece. ‘Uma situagio delicada é quando o aluno pensa que um membro da banca tem alguma predisposicao contra ele. Em getal, o membro da banca sequer lembra de conhecer 0 aluno, mas pode haver casos em que isso seja verdade. Seja criterioso, mas informe ao coordena- dor de pesquisa sobre a situagio, ¢ questione quanto 4 possibilidade de troca do membro da banca. [RELAGONS ISTITUCIONAIS 179 Se o orientador for membro da banca, deve com- portar-se com imparcialidade ¢ permitit que o alu- no assuma a defesa do trabalho. Nao tome as dores, nem tente pressionar os demais membros da banca a concluir contrariamente & avaliag&o que fizerem. Apren- da com as observacées, € considere-as na préxima orientagio. Carta ao pretendente a orientando Prezado Aluno, Recebi seu projeto, que julgo bastante interessante € pertinente. Espero poder encontré-lo na semana que ‘vem, para podermos discutir alguns aspectos im- | portantes, sobretudo no que se refere 4 delimitaga0 do tema ¢ a proposta de sumirio, Antes, entretanto, gostaria de esclarecer minha com- Preenso quanto a0 papel que julgo pertinente como orientador, ¢ as expectativas que tenho de seu tra- balho. SEMINARIO DE METODOLOGIA Todos os anos, fago uma revisio coletiva com os orientandos, sobre regras e dtividas mais comuns so- bre metodologia. Pretendo fazé-lo em fevereiro pro- ximo. A presenga ¢ compulséria. REUNIOES MENSAIS ‘Todos os meses, fago pelo menos ums reuniio com todos os orientandas, onde cada um deve fazer sma pequena apresentacao (10-15 minutos) da evolucio de seu trabalho, e das diividas de mérito ¢ de metodo- logia que estio surgindo. A presenca é obrigat6ria. O horario sera acordado no inicio do semestre. PRAZOS Um fato relevante em sua vida, ¢ na minha, é que 0 prazos sejam cumpridos. O prazo final para voce defender seu trabalho é marco do ano que vem. Devo estar fora do pais em janeiro. Portanto, espe- £0 que todos os meus orientandos estejam com os trabalhos ja depositados (embora nao necessariamen- te defendidas) em dezembro de Relatérios trimestrais devem ser entregues nos prazos estipulados pela Secretaria do Curso. Por favor, infor- me-se sobre 0 calendério de entrega dos relatérios. Espero recebé-los duas semanas antes de cada prazo, para que possa revisi-los ¢ assina-los. PRORROGAGOES Nio existem no meu vocabulério. Se precisar de Prorrogacio, arrume outro orientador. ENTREGA DE CAPITULOS — entregue os capitulos & medida que forem ficando prontos; nio deixe para entregar tudo de iiltima hora, ois sempre ha actimulo de trabalho; —calcule pelo menos dez dias para que eu possa ler © capitulo entregue; ~se tiver dificuldades de gramética e ortografia, man- de a0 revisor de portugués antes de me entregar, para que eu possa me concentrar apenas no mérito do tabalho; — 0 arquivo com cada capitulo pode ser remetido para meu correio eletrénico da faculdade; para cor- ‘igir, uso o recurso Ferramenta-Controlar AlteracSes do Word. Por favor, obtenha este editor de texto; — quando me mandar cada capitulo, por favor re- meta também a atual estrutura do sumitio, para que eu possa acompanhar a cvolucio do trabalho e even- tuais mudangas. SUBSTITUIGAO DE ORIENTADOR ‘A relagio com o orientadot & uma relagio profissio- nal; portanto, nao haveri nenhum constrangimento aso, 20 longo do ano, voce queira trocar de orientador @ reciproca é verdadeira). [RELAGOES INSTETUCIONAIS 181 TRABALHO REALIZADO Espera-se que © trabalho final seja de excelente qua- lidade, € que possa ser indicado para publicacio. Neste caso, comprometo-me a buscar recursos para formar uma banca com nomes seconhecidos no meio académico. Caso voce concorde com essas regras, por favor tclefone para agendarmos uma reuniio na semana que vem. Atenciosamente, Prof. W. Barral 4.1 O Co-orientador: esse desconhecido Algumas instituigdes permitem que o aluno seja orien- tado também por um co-orientador, que normalmente é um profissional ou professor de outra instituicao. Como primeiro requisito para ter um co-orientador, 0 aluno deve informar ao coordenador de monografia ¢ inserir 0 nome do co-orientador em seu projeto. Deve também ter 0 cuidado de informar e conseguir a autori- zagio de seu orientador. No meio académico, 0 jogo de vaidades nao é pe- queno, e uma gafe imperdofvel é convidar para co-orien- tador algum inimigo de seu orientador, ou alguém que tenha com ele diferengas tedricas irreconciliaveis, Veri- fique isso antes, sob pena de padecer no limbo acadé- mico pelo resto de sua existéncia. Verifique também se sua institui¢o profbe a atu: so do co-orientador na banca de avaliagio. Em mi tos casos, sendo um especialista na matéria, mais vale- 14 té-lo como avaliador do que como co-orientador. Observe também que muitos professores no acei- tam ser co-orientadores, e isso é explicavel: temem con- 182, flito com 0 otientador quanto ao direcionamento, ¢ jul gam-se sobrecarregados com seus préprios orientandos. 5. A BANCA EXAMINADORA usual, em trabalhos de conclusio um percurso, a exigéncia de apresentagio perante uma banca exami- nadora, que atesta e avalia a qualidade do trabalho. A submissio 4 banca € uma exigéncia normativa para os cursos de graduagio, de mestrado ¢ de doutorado em Direito. A razio para existéncia da banca é a oportuni- dade, para o aluno, de demonstrat seu conhecimentos sobre a matéria ¢ estabelecer um didlogo a propésito de suas idéias. Pretende-se que a banca examinadora nao seja nem uma maquinacdo malévola para humilhar o aluno, nem uma reunio de compadres para elogiar 0 afi- Thado. Em alguns casos, uma dessas situaces acaba ocorrendo, 0 que desvirtua todo © propésito de apre- sentacao do trabalho 4 comunidade cientifica. Diz-se que, perante a banca, o aluno “defendera” o seu trabalho. A idéia é que ele sustente, com argumen- tos cientificamente vilidos, as hipéteses apresentadas. ‘Ao mesmo tempo, que retruque os questionamentos € duvidas apresentadas pela banca. O procedimento adotado no momento da defesa do trabalho cientifico varia de acordo com a instituicao. Geralmente, a banca é composta por ttés membros, para avaliar trabalhos de graduacio ou de mesttado, ¢ por cinco membros, na defesa de tese de doutorado. No Brasil, em geral o orientador participa da banca de ava- Tiago, contrariamente ao que ocorre em alguns paises europeus. As sessdes sio piblicas € acessiveis a0 resto RELAGOES INSTYTUCIONAIS _ 83 da comunidade académica. Um bom exercicio é assistit a algumas bancas de defesa antes da apresentacio de seu proprio trabalho; vocé veri o quanto se pode apren- der com erros alheios. Na maioria das instituigdes, apés a abertura dos tra balhos pelo presidente da banca, o aluno tem algum tempo (normalmente trinta minutos) para apresentar seu trabalho. Este tempo é muito curto. Concentre-se nos aspectos principais do trabalho ¢ em sua efetiva contribuico para o conhecimento da matéria e para a sustentagiio da hipétese. Recomenda-se que a apresen- taco siga a seguinte ordem: (a) razes para escolha do tema; (b) sistematica de divisio do trabalho; (c) metodo- logia da pesquisa utilizada; (d) discussio do problema especifico ¢ hipétese apresentada; (e) conclusées. Ensaie em casa, para verificar se voc nfo esté ultra- passando 0 perfodo que Ihe ser4 permitido falar na ban- ca. Como regra, seu ensaio deve alcancar 80% do tem- po permitido. Se vocé pretende utilizar algum recurso visual, nio exagere em seu entusiasmo midistico. Utilize transpa- réncias objetivas, com tépicos e sem frases longas. A banca deve prestar atengio em sua apresentagio, ¢ no ficar lendo longas definicdes na parede. Caso vocé pre- tenda utilizar um aparelho de projegio, esteja seguro de que cle funciona antes da apresentago. Lembre-se que aparelhos eletrénicos empacam reiteradamente, € justamente nesses momentos em que deveriam demons- trar alguma utilidade. Apés a apresentacio pelo aluno, cada membro da banca tem um tempo para fazer sua argiligdo. Anote as observacées do membro da banca, e depois verbere suas consideracdes sobre elas, concordando no que for ne- cessario mudar no trabalho, sustentando sua posigio no que for pertinente, e respondendo as indagagées for- muladas. Aja com objetividade ¢ cortesia; nfo exagere em loas e salamaleques, nem seja agressivo contra o membro da banca. ‘Tome cuidado de verificar se o membro da banca — ¢, Sbvio, o seu orientador — publicaram trabalhos so- bre o tema que vocé pesquisou. Verifique qual o posicionamento deles sobre o assunto, ¢ antecipe even- tuais oposigées a hipétese de seu trabalho. Nao se es- queca também de incluir estes trabalhos nas referén- cias bibliograficas. Poucas coisas alegram mais a um académico do que certificar-se que alguém leu suas publicacées. Lembre-se de verificar as questdes mundanas que esto relacionadas com a defesa do trabalho cientifico, as quais podem interferir em sua elevagio espiritual: 0 auditério est reservado? A banca confirmou presen- ca? Vocé reservou 0 retroprojetor ou o datashow? Voce esta levando material para anotagGes? Quiio formal é a defesa, ¢ vocé estard trajado compativelmente? 6. OS ERROS MAIS COMUNS NA DEFESA DO TRABALHO Na exposicio oral: — perder tempo com detalhes do trabalho: o tem- po para exposicao é muito curto; portanto, concentre- se em expor a ordenagao do trabalho ¢ suas principal contribuicao; — usar recursos visuais excessivos: se utilizar retroprojetor ou datashow, projete o sumatio, ou organo- grama ou tépicos; nao preencha de conceitos e infor- mages complexas. _ROLAGOES INSTITUCIONAIS 185 Na argiticfio oral: —levar as eriticas para o lado pessoal: 0 membro da banca est4 avaliando o seu trabalho; portanto, aja de forma impessoal e profissional, aceitando ou defenden- do-se das criticas, e no atacando a banca; ~—interromper membro da banca: a ordem da defe- sa é que cada qual fale a seu tempo; anote as questdes apontadas, ¢ xesponda-as quando the for dada a pala- vra pelo presidente da banca; defender-se com alegagao de problemas pes- a avaliacao é do trabalho e de sua validade cien- tifica, ¢ a Ciéncia nada tem a ver com eventuais proble- mas pessoais; soais — justificar posigdes adotadas por meio de casuismos: 0 relato de experiéncias pes quando documentada metodologicamente, nlio & pro- va cientifica do trabalho. oais, a no ser 9 AVALIAGAO DO TRABALHO CIENTIFICO —___——_ ae 1. FUNDAMENTOS DA AVALIACAO Julgar sempre € dificil, e € inevitével que certo grau de subjetivismo afete nosso discernimento. Em um tribu- nal do jari, por exemplo, pode-se questionar quio mais influentes so os fatores extra-juridicos (preconceitos, valores morais dos jurados, situagio social do réu), do que os elementos fiticos ligados ao suposto crime. Da mesma forma, na avaliagio do trabalho académi- co, é impossivel garantir total isen¢ao dos membros da banca. A experiéncia demonstra, contudo, que a varia- io de notas se da muito mais em tazio do comporta- mento perene dos professores do que em razao de um aluno especifico. Ou seja, alguns professores sio me- nos exigentes, ¢ isso macula todas as bancas que com- poem, independentemente do trabalho sob avaliacao. De outro lado, uma banca composta por académicos severos redundaré numa nota mais baixa, ainda que o trabalho seja qualitativamente melhor. Além do grau de rigor, a avaliagao evidentemente sera afetada pela orientacao ideolégica do membro da banca. 2. CRITERIOS DE AVALIAGAO Para tentar diminuir o grau de subjetivismo que afe- ta 0 momento da avaliagio do trabalho cientifico, é re- comendavel que a instituigio forneca parametros, em tens separados, cuja soma redundara na nota final. A lista de paraimetros abaixo é utilizada no Curso de Direi- to da UFSC, onde cada membro da banca de avaliacio recebe uma ficha com estes critérios, juntamente com 0 trabalho a ser avaliado, Cada um dos critérios tem peso igual a dez, e a soma total deveri equivaler a 100: Forma: 1) Apresentagao do texto: linguagem apropriada e técnica; corregio ortografica e gramatical; clateza da redagio; 2) Apresentagio do trabalho: apresentacio de ci- tages ¢ rodapés conforme ABNT; referéncias biblio- graficas completas; margens, recuos, tamanho de letra, n. de paginas segundo regras da instituicao. Peequica: 3) Interesse do tema: importincia do tema na drea envolvida; enfoque original; 4) Profundidade da pesquisa: tema bem delimita- do; esgotamento do problema proposto; 5) Fundamentagao: contextualizacio do problema; embasamento tedrico preciso; 6) Bibliografia: revisio bibliografica completa e atual; anilise critica dos demais trabalhos apresenta- dos sobre 0 tema, na institui¢io; pesquisa (se pertinen- te) de bibliografia estrangeira; 7) Cientificidade da anilise: clareza do método utilizado; identificagio clara das fontes utilizadas e ci- tadas; coeréncia entre argumentos ¢ resultados apre- sentados Defesa e argitigao: 8) Fluéncia: postura; recursos didaticos utilizados; clareza da exposigio; AVALIAGAO BO TRABALHO CHENFIFICO 9) Tempo: capacidade de expor o trabalho realizado no prazo de 30 minutos; 10) Independéncia intelectual: capacidade de ex- plicar falhas e responder as questdes apresentadas pela banca. 3. NOTA RESULTANTE Como conseqiiéncia da aplicagio desses parimetros, a nota sera resultado da média das notas individuais atribufdas por cada membro da banca: 0,0 — 5,9: trabalho reprovado, nfo atinge condigées minimas para avaliacio; 6,0 — 6,9: trabalho regular, atinge condigdes mini- mas para aprowagio; 7,0 — 7,9: bom trabalho monogrifico, com aspectos que o destacam; 8,0 — 8,9: trabalho muito bom, que poder ser publi- cado apés modificages; 9,0 — 9,5: trabalho excelente, com caracteristicas ino- vadoras € contribuicio efetiva para a rea de conheci- mento; aprovado com distingao. 9,6 — 10,0: trabalho excepcional, sem necessidade de muitas modificagdes, e que recebe o aval integral dos membros da banca para que seja publicado; aprovado com distingao e louvor. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, ——————— AMBONI, Nério, ANDRADE, Ana Liicia de. Manual para elabo- ragio e apresentagio de trabalhos académicos. Florianépolis: ESAG, 1991 ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 10520: Informagio e documentagao— referéncias ~elaboracio, Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2002 "ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 14724: Informagio e documentagio ~ trabalhos académicos ~ apre- sentagio. Rio de Janciro: ABNT, ago. 2002. ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR (6023; Informasio ¢ documentacio —apresentacio de citagao em do- cumentos. Rio de Janciro: ABNT, ago. 2002. ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 15287; Informago e documentacio ~ Projeto de pesquisa apresen- tagio. Rio de Janeiro: ABNT, dez. 2005, ASTIVERA, Armando. Metodologia de pesquisa cientifica. Tr- dugio de Matia Helena Guedes ¢ Beatriz. Marques Magalhies. Porto “Alegre: Globo, 1974, BEAUD, Michel. Arte da tese: como preparare redigir uma tese de mestrado, uma monografia ou qualquer como trabalho universititio. ‘Tradugio: Gléria de Carvalho Lins. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. BORDENAVE, }.D. Estratégias de ensino e aprendizagem. 5, ced. Petrdpolis: Vozes, 1985. BRASIL. 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