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Bee crm ete cere eC ic gasU sos RSS Tyee Ra csclas) us Alun utc We ue earn acc RE uta Bee od CSUN au tS Nils Per cca Ree CIC Rc ie Pade ut Dee Ru CL UIC peer ete Wi rR ua POR U Reuse SUS Siti h Pes uo acces 4! oe Primer ch nes Fie kets Cai cuore ie tse) Eu eso ee aoa Byrn ete meta Tica ae Ea GS GMa le die ek (sticks, Pec EO euuc Wn Mile diecast ti Tid Ne cue acne Sue ticie TIO eo oetat ha iat una tal ele Ulta AU RES WL TaS ue OBR Rice a Sse FILOSOFIA ANALITICA Danilo Marconde: ee 30 PASSO-A-PASSO olacta ras Danilo Marcondes CIENCIAS SOCIAIS PASSO-A-PASSO Diregio: Celso Castro FILOSOFIA PASSO-A-PASSO Diresio: Denis L. Rosenfield PSICANALISE PASSO-A-PASSO Diregao: Marco Antonio Coutinho Jorge i Filosofia analitica Ver lista de titulas no final do volume fim itl nero Para Maria Inés ¢ Danilo Copyright © 2004, Danilo Marcos Copyright esta ediyao © 2004 Jonge Zaha Ealitor Ltd ur México 31 sobreloy W981 144 Rio de Fanci, eles (21) 2240-0226 ] fax: (21 2 femal: jo@eaharcom.br site: worw zahar.com.br Tados os drcitos reservados, rtorizada desta publicayao, no todo A reprodugio nao- joao de direitos autorats. (Lei 9.610/98) Compesigi cletrnica TopTextos Edigdes Graficas Ltda, Impressio: Geogrifica Editora Capa: Sérgio Campante C1P-Brasi,Catalogagio-na-fonte Sindicato Nacional dos Euitores de Livros, RL Marcondes, Danilo, 1918- M269 Filosofia analitca | Danilo Marcondes. — Rio de fa neo: Jorge Zahar Ed, 2004 Filosofia Passo-a-passo) Inca bibliograia ISDN 85-7110-798-X, 1. Anilise (Filosofia). 1 Titulo. I Série. cpp 101 4.1323 cpu 10. Sumario Introdugao Consideragoes historicas A concepgao de andlise na filosofta analitic 0 problema da anilise A contribuigdo de Frege a filosofia analitica A teoria das descrigdes de Bertrand Russell ‘A analise segundo G.E. Moore Austin ¢ a Escola de Oxford ‘A concepgao de anilise em Wittgenstein Duas concepsdes de analise Conclusao Selegao de textos Principais representantes da filosofia analitica Referencias ¢ fontes Leituras recomendadas Sobre o autor Introdugao “Filosofia analitica” é uma expresso que pode ser enten- dida pelo menos de dois modos. Em um sentido m amplo, significa uma maneira de se fazer filosofia recor- rendo-se ao método analitico para o tratamento das ques- t6es filoséficas. Em um sentido mais especifico ¢ histori- camente determinado, a filosofia analitica € uma corrente filos6fica que adota o método analitico e surge ao final do século XIX, desenvolvendo-se ao longo do século xx até os tempos atuais, caracterizando-se assim como uma das principais correntes do pensamento contempordnco. Mas, mesmo neste sentido mais especifico, a filosofia analitica inclui também diferentes tendéncias, desde as suas origens no contexto da critica ao idcalismo entio dominante até as varias linhas do pensamento contemporaneo. O método analitico pode se desdobrar, por sua vez, em diferentes modos de se interpretar 0 que vem a ser “andlise” em um sentido filos6fico. Se nos perguntarmos, portanto, o que significa fi- losofia analitica ¢ como podemos entender a nosao de “andlise”, veremos que no ha uma resposta Gnica a estas questdes, No presente livro procurarei mostrar alguns dos Danilo Marcondes dilise € discutir sentidos mais importantes da nogao de + contribuigdo dos mais influentes filosofos do que pode- mos considerar a “tradigao analitica” na f sofia contem- pordnea, cia antiga como busca de resposta A filosofia surge na Gi expecifica a um sentimento de necessidade de se compreen ndo de nossa experiencia, “Compreender der melhor 0 mi ignifica compreender a realidade di melhor” s srentetente de como o fazemos ¢ de forma mais satisfatoria, dados certos objetivos praticos e tebricos. Isso acarreta um senti- mento de que o mundo de nossa experiéncia nao é transpa- rente, nao se revela a nds espontaneamente. Compreendé-lo melhor significa, assim, analisd-lo, Analisar, por sua ver, equivale a decompor, separar certos conceitos basicos, para entio defini-los. Esses conceitos basicos servirio de ponto de partida para a definigo ¢ a compreensio dos demais. Definir consiste em estabelecer 0 significado de certos con- ceitos basicos e, na tradi¢ao analitica contemporanea, conceitos sao entendidos como entidades lingifsticas, dai o apelo a linguagem na anilise filoséfica, ¢ dai a filosofia analitica ser confundida com frequéncia com a filosofia da Jinguagem. Veremos que estas sao bastante diferentes, em- bora possam ter muito em comum. As definicdes,enquanto resultados da anilisefilos6fica, nao sao imutdveis, jf que a necessidade de compreender melhor € recorrente, € ja que aquilo que consideramos satisfat6rio—assim como os objetivos em relagao aos quais, julgamos algo satisfatorio — é relativo e varia dependendo das circunstancias. Filosofia analitica 9 Consideragées historias A filosofia analitica contemporainea, na medida em que de- fine sua tarefa como a andlise dos conceitos, visando desse modo clucidar os problemas filosétficos, tem demonstrado muito pouco interesse pela formagao historica da tradigao filoséfica. A anslise do conceito como parte da tentativa de solugéo de um problema filoséfico nao depende de uma compreensao da historia do conceito, de suas origens € evoluugao, mas sim, na concepgao tipicamente analitica, ape- nas da determinagao da definigao desse conceito da forma mais clara e precisa possivel. Porém, mais recentemente, alguns filésofos analiticos, como por exemplo Michael Dummett, tém tido a preocu- pagao de entender melhor a formagao da propria tradigao analitica, sua origem, sua ruptura com a tradigao filos6fica anterior e seus varios desenvolvimentos ou desdobramen- tos mais recentes. Dummett divide a tradigao filosofica em trés grandes perfodos. © primeiro, que vai da filosofia antiga (séc. VII a.C,) até o final do pensamento medieval (séc. XIV), € mar- cado pelo interesse central pela ontologia, ou seja, pela questdo sobre o Ser, sobre no que consiste a realidade, qual sua natureza tiltima, sua esséncia. O segundo caracteriza-se por uma ruptura radical com primeiro ¢ marca 0 surgi mento da filosofia moderna (séc. XVI-XVII), tendo como questdo central a epistemologia, a investigagao sobre 0 co- nhecimento. A resposta a questéo sobre o Ser depende, segundo esta nova visto, da resposta sobre algo mais funda- Danilo Marcondes. conheci- 9 conhecimento do Ser, a natureza de ossibilidade. O terceiro periodo marca Ido ment mento € sta p ruptura, por sua ve7, da filosofia contempordnea (F sée. XIX — inicio do séc. XX) com a filosofia mode nova ruptura introduz agora a questao ligico-Tingiistica, ou \dependen- Essa seja, o conhecimento nao pode ser entendido temente de sta formulagao ¢ expresso em uma linguagem ‘A questao primordial passa a ser assim a anslise da lingua- gem, da qual dependerd todo o desenvalvimento posterior da filosofia. A filosofia analitica surge nesse momento, vin- do responder diretamente a essa necessidad Embora a filosofia analitica adote a anélise como pro- cedimento basico, 0 recurso ao método analitico jéé encon- trado na tradigao filosofica desde a sua origem. Platio por exemplo empreende uma andlise conceitual em sua busca da definigao do “sofista” no didlogo homénimo, quando pela diairesis (divisao, separagdo, decomposigao) busca os varios elementos que entram na definigao de um conceito © as varias distingbes que podem ser feitas a partir da consideragio de um conceito geral. A discussao por Arist6- teles da causalidade nos Segundos analiticos e na Fisica, mostrando que 0 conceito de “causa” pode ser entendido de quatro modos diferentes — formal, material, eficiente e final —, consiste em uma anilise do conceito de causa, da {qual resultam essas distingdes, permitindo assim uma defi- nigdo mais precisa e desfazendo equivocos. Kant em sua discusso da representagio, igualmente mostra que a compreensio de um conceito depende de sua definico, e que para defini-lo é preciso analisé-lo, ou seja, Filosofia analitica " decompé-lo em seus elementos constitutivos. Como resul- tado da anilise nossa compreensio do conceito muda, en- ‘quanto © conceito em si permanece inalterado: “Quando distinguimos 0 conc o de virtude em seus constituintes, 1n6s 0 tornamos mais distinto pela anilise. Ao torné-lo mais, distinto, contudo, nao acrescentamos nada ao conceito, mas apenas o clarificamos.” Portanto, mesmo antes da centralidade que a filosofia analitica atribui a anélise conceitual, fda encontramos como parte fundamental da investigagao filosética. A concepgao de anilise na filosofia analitica A filosofia analitica surge ao final do século x1x, sobretudo com George Edward Moore e Bertrand Russell, como uma dupla reagao as correntes entao dominantes na Gra-Bre- tanha: 0 idealismo absoluto de inspiragao hegeliana de Francis Herbert Bradley, TLH. Green ¢ Bernard Bosanquet dentre outros; ¢ 0 empirismo psicologista influenciado principalmente por John Stuart Mill. Um movimento se- melhante, denominado por Alberto Coffa de “tradiga0 semantica’, surge na Alemanha nas tltimas décadas do século x1x, sendo que a obra de fil6sofos, lagicos e tedricos da ciéncia como Bernhard Bolzano, Gottlob Frege e Ernst Mach, apesar das diferengas te6ricas entre eles, pode ser considerada em grande parte uma reagdo & filosofia trans cendental de origem kantiana, sobretudo no que diz res- peito & questao da fundamentagio da ciéncia. Podemos 2 Danilo Marcondes dizer que, de certa forma, essas duas novas concepgdes de Filosofia vao se encontrar no positivismo logico do de Viena, a partir dos anos 1920, representado p mente por Rudolf Carnap ¢ Moritz Schlick. O positiv no ¢ pela preocupagio com a fundamen légico caracteriza tagdo da ciéncia em uma linguagem légica ¢ em bases empiricas, eliminando os elementos metafisicos (como es- (como idéias ¢ repre- séncias ¢ formas) ¢ psicoldgico sentagdes’ mentais), considerados inverificaveis, ou seja, fora do alcance do teste empirico, adotado como critério de validade das teorias cientificas. Em termos gerais, a filosofia analitica pode ser carac- terizada por ter como idéia basica a concepgio de que a filosofia deve realizar-se pela anélise da linguagem. Sua questo central seria entio, pelo menos em um primeiro momento, “Como uma proposigdo tem significado”. & nesse sentido que, nessa concepgao de filosofia, o problema da linguagem ocupa um lugar central. Em seu livro sobre Leibniz, de 1900, Russell faz uma afirmagdo ilustrativa desta concepgao: “Que toda filosofia s6lida deva comesar com uma andlise da proposigao é uma verdade demasiado evidente, talver, para necessitar ser pro- vada” As razes subjacentes a esta afirmacao, aparentemen- te um tanto dogmatica, merecem ser examinadas, jd que sto, bastante representativas dessa nova forma de se conceber a filosofia. De fato, essa citagao contém muitos elementos signifi- cativos. Em primeiro lugar a idéia de “uma filosofia sélida” (sound philosophy), que se contrapde as tradigdes entdo Filosofia analitica 13 dominantes que constituiam a unsound philosophy, uma filosofia pouco confiivel — por exemplo, as correntes idea- listas mencionadas anteriormente. Em seguida, temos a visio de que a filosofia deve comegar com uma anilise da proposicao, sendo que o “deve” encerra precisamente uma prescrigdo, um reconhecimento de que nao é isso que a filosofia tem feito até entao, mas que agora precisa fazé-Lo. A concepsio de que isso é uma verdade “demasiado eviden- te” ¢ igualmente significativa, porque representa uma atitu: de tipica dos primérdios da filosofia analitica, em que € maior a preocupagao em estabelecer um nove modelo de filosofia do que em elaborar uma critica interna das teorias anteriores ou refuté-las. Na verdade, podemos distinguir na tradigao analitica tal como se constituiu historicamente uma multiplicidade de concepgbes de anilise, nem todas excludentes. Temos anélise como tradugdo de uma linguagem imprecisa para ‘uma linguagem logica isenta de equivocos e ambiguidades; como redugao de algo desconhecido ou obscuro a algo conhecido € mais claro; como decomposicio de um com- plexo em seus elementos simples constituintes; como elu- cidagao ou clarificagao de algo confuso ou obscuro. Temos anilise do conceito, andlise da proposigdo ¢ anilise do dis- curso. Duas grandes vertentes podem, contudo, ser identifi cadas. A primeira, que constitui o que podemos chamar de semantica classica, se desenvolve a partir de Frege, Russell (destacando-se a teoria das deserigoes definidas ¢ 6 atomismo légico) e Wittgenstein (com o Tractatus logico- Danilo Marcondes philosophicus, 1921), caracterizando estes dois sltimos, juntamente com Moore, a chamada Escola Analitica de -ambridge. Podemos incluir ainda nessa trad mo logico do Circulo de Viena, que foi de inicio ciado. por Wittgenstein. A segunda » © posi- ti fortemente influ grande vertente parte também da influéncia de Moore, de Gilbert Ryle, do “segundo” Wittgenstein e de John Lang- shaw Austin, incluindo a Escola de Oxford, também co- nhecida como “filosofia da linguagem ordindria’, caracte- rizando a assim chamada “virada lingatstica” (linguistic turn). £ claro que a distingdo entre essas duas correntes nao deve ser considerada em termos absolutos, jé que ambas interagem de diversas formas; além disso, trata-se de uma caracterizagao hist6rica reconstrutiva endo de uma identificagao oriunda diretamente desses fildsofos. Ha, contudo, justificativas suficientes para essa distingao, ¢ na verdade essas correntes mantém concepgGes bastante di- ferentes quanto ao que seja fazer Filosofia. Um traco comum a semantica classica €a preocupagao com a questio da fundamentacéo da ciéncia, sendo sua solugao basica o recurso & légica. Devemos entender, con- tudo, “I6gica” em um sentido amplo, nao apenas como teoria das linguagens formais ou como estudo das formas de inferéncia valida, mas como englobando problemas como a natureza da proposigio e a constituigao do signifi- cado, isto é, a seméntica, examinando assim a relagao entre a linguagem ¢ a realidade, questio fundamental para a justificagao da possibilidade do conhecimento cientifico ¢ da validade de uma determinada teoria cientifica. Filosofia analitica 15 O problema da analise A nogio de analise ocupa um lugar central na filosofia desde ‘© pensamento antigo. Como vimos anteriormente,a discus- sio na filosofia grega da possibilidade do conhecimento € da definigao da essencia do real tem como um de seus aspectos centrais 0 conceito deandlise, Veremos aqui breve- mente como varias das questoes que se originam na discus- sao clissica do conceito de andlise permanecem ainda na filosofia anali sa. Interesea nos, ,aobretudo, explicitar otra tamento que a filosofia analitica dé a algumas dessas ques- tes. Na concepsao tradicional, conhecer a realidade consis- teem examins-la em suas partes constitutivas, estabelecen- do de que modo a natureza das partes ou elementos que a compdem ¢ a forma como se articulam contribuem para a constituigao da natureza do todo. O processo de conheci: ‘mento caracteriza-se assim, ao menos em parte, como um processo de anélise no sentido de decomposigio de um ‘complexo em suas partes simples constitutivas. Esse proces- so chega a seu limite precisamente quando determinamos as partes simples, aquelas que nao poder ais ser decom- postas e, portanto, conhecidas. © conhecimento teria por base assim algo que nao pode ser conhecido, ji que nao pode mais ser submetido a anilise. Temos af o chamado “parado- xo do Teeteto”, uma vez que uma de suas primeiras formu- lagoes se encontra nesse didlogo de Plato. Definir algo consiste precisamente em formular uma proposicao em que se atribuem a um sujeito certas proprie- 16 Danilo Marcondes dades ou qualidades, ou seja, certos predicados que Ihe sido inerentes e essenciais e que podem ser determinados através da andlise, Por exemplo: “O ser humano é um animal racional”, “Todo niimeto par é multiplo de 2”. O acesso a0 simples, o constituinte tiltimo da realidade, nao pode, con- tudo, dar-se através da anslise nem de uma definigao que se formule discursivamente. Esse acesso deve ser direto, ime- dato, intuitivo, jé que o simples, por sa natureza. ndo pode ser analisado nem definido. A definigao (logos) formula-se ‘em uma proposigao que é um complexo (synthesis), arti- culando dois elementos (sujeito e predicado), como nos exemplos acima; portanto, nao se pode expressar em uma proposigao o simples (asyntheton), De acordo com esta concepsao tradicional, o pensamento discursivo, a lingua- gem, nao é pois, adequado a expressio do simples. O dis- curso é sempre incapaz de chegar a definicao da esséncia da realidade; a definigao discursiva € sempre composta de palavras que remetem a outras palavras. Como uma filosofia que se pretende definir pelo mé- todo de andlise e se caracteriza por recorrer a consideraga0 dese método pretende superar esse tipo de problema? Se analisar é traduzir uma proposisao por outra ou reduzi-la 4 outras, isso ndo nos levaria a uma circularidade ou a uma regressio ao infinito? CH, Lanford dé a seguinte formulagao para o “para- doxo da andlise”: “Se a expressdo verbal representando 0 analysandum (aquilo que esta sendo analisado], tem o mes- mo significado que a expresséo verbal representando 0 analysans (0 resultado da andlise], a andlise estabelece uma Filosofia analitica Ww simples identidade ¢ € trivial; mas se as duas expressdes verbais nao tem o mesmo significado, a anilise € incorreta.” Duas idéias distintas, embora de certa forma comple- mentares, podem ser identificadas a esse propésito. Em primeiro lugar, dentro de uma perspectiva da filosofia da linguagem, isto é, de uma investigacio filos6fica da natureza da linguagem e, sobretudo, de seu papel no conhecimento da realidade, a andlise & vista coma o pracedimento que revela a natureza da linguagem, determinando como se dé a relagéo entre os signos lingiisticos ea realidade e exami- nando a estrutura da linguagem, isto é, como os signos simples se relacionam entre si para formar signos mais complexos. Em segundo lugar, do ponto de vista de uma filosofia que concebe a andlise da linguagem como método filoséfico, como procedimento através do qual a reflexio filoséfica se desenvolve, essa andlise tem por objetivo dar um tratamento as questées filoséficas em seus diferentes aspec- tos, produzir um esclarecimento filoséfico sobre perple- xidades geradas nos diferentes campos da experiéncia hu- mana. Nao se trata, neste segundo sentidu, de astalisar a linguagem com o objetivo de estabelecer a sua natureza, como meio de formular uma teoria da linguagem, mas sim de, através da andlise da linguagem, produzir um esclareci- mento de problemas filosoficos. As duas posigdes nao se se da lin- guagem como método de esclarecimento pressupoe até certo ponto também uma concepgao de linguagem, dessa excluem mutuamente, na medida em que a andl linguagem a ser analisada, podendo tal concepgao receber tum tratamento te6rico mais elaborado, como de fato ocorre nna maior parte das correntes da filosofia analitica. 18 Danilo Marcondes ‘A contribuigao de Frege a filosofia analitica -Tomemos em primeito lugar a tradigao semantica em suas Tinhas gerais. Vamos seguir aqui a interpretagao de Alberto Coffa, mencionada anteriormente, quanto ao surgimento dessa tradicao no século XIX, a partir da reagdo a Kant ¢ a0 antismo por parte de filésofos e tedricos da ciéncia como Bernard Bolzano ¢ posteriormente o proprio Frege. Na verdade, essa relayao entre a teoria kantiana do ‘canheci- 10 semantica, especial- mento co desenvolvimento da tradi mente no caso de Frege, tem dois aspectos. Por um lado, ‘uma ruptura coma teoria kantiana, em seu cardter subjeti- vista (ainda que transcendental) ¢ em seu apelo a intuigéo pura na constituigio do conhecimento, Por outrolado, uma influencia positiva dessa teoria, na Critica da razio pura, da primavzia do juizo sobre o conceito na formulacao da teoria do significado de Frege. Examinemos melhor esses dois aspectos. Comecemos com Frege, ja que a maioria de seus intér- pretes na tradigZo analitica, ais como Michael Dummett © proprio Alberto Coffa, 0 considera um das principais inspiradores dessa tradigao e um dos filésofos cuja obra marca surgimento da filosofia analitica da linguagem. Frege pode ser considerado um dos maiores légicos do periodo contemporaneo, sendo o criador do que hoje co- nhecemos como cilculo proposicional e célculo dos predi- cados, o primeiro grande desenvolvimento na légica desde ateoria do silogismo de Aristoteles,e base da assim chamada légica-matematica que se desenvolve no século XX. Frege foi também um importante filosofo da matemitica, e seu pro- Filosofia analitica 19 grama de fundamentagao da matemstica na logica, o logi- cismo, te\ de influéncia no inicio do s éculo xx. Vamos procurar examinar, contudo, sua contribuigio especifica- mente a filosofia da linguagem, sobretudo sua discussie do problema do significado, que constitui um dos principais pontos de partida para o desenvolvimento da teoria seman- tica. Veremos, entdo, em que medida Frege pode ser visto como um dos iniciadores da filosofia da linguagem de wadigao analitica. Encontramos no periodo de Frege (segunda metade do século XIX) uma tentativa por parte de alguns pensadores de defender a autonomia da légica em relagao a psicologia € a uma epistemologia, baseada na anilise da produgao do conhecimento pelo sujeito, numa linha de discussao inau- gurada por Leibniz e desenvolvida por Bernhard Bolzano. Frege sofre mais diretamente a influéncia de H. Lotze em cuja obra Légica (1874) encontramos a caracterizagao de um lugar intermediério entre ambas as posigoes domi- nantes: 1) o subjetivismo psicologista, segundo o qual a légica é resultado da constituigao de nossas mentes; e 2) 0 objetivismo realista (metafisico), segundo o qual as formas légicas possuem uma realidade auténomaem um mundo de entidades abstratas. Essa discussio desenvolve-se em parte tendo como ano de fundo a tese de Kant contra a concepgao de Leibniz de fundamentagio da matemética na légica apenas. Encon- tramos, assim, no século xx duas grandes correntes: a kantiana, que propde a fundamentagao da matemética na 20 Danilo Marcondes intuicdo pura; ¢ a empirista, representada por John Stuart Mill, que propoe a fundamentagdo da matematica na expe rigncia, Lotze se propde a retomar 0 projeto de Leibniz, porémaceitandoa posigao de Kant de quehé na matemstica :ntendida como forma pura da sen- uma base na intuigao, sibilidade que nos permite perceber objetos no espago ¢ no tempo. ‘A partir dessa discussau surge entio a necessidade de se distinguir entre um objeto de conhecimento ¢ seu reco- hecimento. Frege formula essa distingao em termos da diferenga entre atos de assergao subjetivos e o contetido objetivo asserido, este sim objeto de investigagao do logico, que corresponderia&distingao tradicional entre a idéia ou representayio (Vorstellung), que tem wma natureza mental, e seu contetido (Inthalt), devendo-se distinguir: 1) estados mentais subjetivoss 2) a realidade atual; 3) idéias objetivamente vilidas (Reich der Inhalte, “o dominia das contetides”), como conceitos, que pertence- m ao dominio da légica. A tarefa filos6fica passaria a se caracterizar pela inves- tigagao do pensamento (Gedanke), no sentido proprio de Frege, como algo de objetivo e atemporal e nao como algo de psicolégico ¢ subjetivo. © pensamento seria algo de impessoal, isto 6, para entender a sentenga matemitica “243=5", basta reconhecer o pensamento que ela expressa, io € necessario saber quem a asseriu e em que circuns- tancias. Filosofia analitica a ‘Temos agora como prinefpio da investigagao filoséfica a anilise conceitual de definigoes, isto 6, a anilise do sig- nificado € nao de processos mentais, subjetivos. A questo da justificagao, da fundamentagao da ciéncia, s6 pode ser resolvida apds termos clareza sobre as expresses (con- citos) que investigamos, A andlise do significado, por sua vez, depende de um modelo de como a linguagem é cons truida ¢ funciona — da caracterizagdo de sua estrutura, portanto, £ dessa forma que passamos a ter aqui uma primazia da investigagao légica da linguagem, na linha do projeto de Leibniz, Isso influenciaré uma determinada con- cepgao da importanci de uma linguagem ligica, cientifica, que encontramos no Circulo de Viena, sobretudo em Ru- dolf Carnap. Frege vai concentrar-se no problema do significado das sentengas.a partir da consideragio da relagio entre a lingua- gem e a realidade, Para isso, estabelece uma distingio fun- damental entre o sentido (Sinn) ea referéncia ou denotagdo (Bedeutung), sendo que de um ponto de vista epistemol6- gico podemos nos perguntar qual a contribuigio dessas nogées para o conhecimento. De acordo com essa distingao, temos que a referencia € 0 objeto designado ele proprio, enquanto o sentido é 0 modo de designar 0 objeto, ou seja, de determinar a refe- réncia, portanto 0 modo pelo qual 0 objeto se apresenta. ‘Assim, “Venus”, “a Estrela da Manha” ¢ “a Estrela da Tarde’, tém o mesmo referente, porém diferentes sentidos. Duas expressdes podem, portanto, ser idénticas quanto a referén- cia e ter sentidos diferentes. O sentido de uma expresso ¢ Danilo Marcondes a mancira pela qual sua referéncia é determinada, é 0 que sabemos quando entendemos uma expresso. Esta pode ter sentido e nao ter referencia, por exemplo: “O corpo celeste mais distante da Terra’; “O maior nimero primo”. Para Frege, o sentido nao & uma idéia subjetiva, mas tem valor objetivo, Podemos fazer, seguindo Frege, uma comparagio com 0 telescépio na qual teriamos: 1) 0 objeto — por exemplo a Lua (referéncia)s 2) a percepgao subjetiva do objeto por nosso érgio visual (a idéia ou representagao); 3) a propria imagem do objeto (a Lua) no telescépio (sentido). Sentengas também possuem sentido ¢ referéncia. No caso de assergées ou sentengas declarativas temos que a referéncia da sentenca nao se altera se substituimos expres s6es lingiisticas por outras com a mesma referencia, mas sentidos diferentes. Por exemplo: “Machado de Assis foi o fundador da Academia Brasileira de Letras” e “O autor de Quincas Borba foi o fundador da Academia Brasileira de Letras”, Porém, alguém que néo soubesse que Machado de Assis escreveu Quincas Borba acharia que se tratam de duas sentencas diferentes, Portanto, nao é o “pensamento” (0 contetido da sentenga na acepgao de Frege, e ndo 0 que se passa em nossa mente) que é sua referéncia, mas sim 0 seu sentido. Uma sentenga expressa um “pensamento” (contet- do proposicional) que é o que se mantém na tradugao, e é nisto que consiste seu sentido, porém nao sua referéncia. Em “A Estrela da Manha ¢ iluminada pelo Sol” e “A Estrela da ‘Tarde ¢ iluminada pelo Sol’; 0 “pensamento” muda, mas a Filosofia analitica 2B cia & mesma, trata-se do mesmo astro no céu. Qual a referencia de uma sentenca? Para Frege, consiste no Ver- dadeiro € no Falso, isto é, em sua conexdo com a realidade, as circunstancias em que sao verdadeiras ou falsas, Esta é tuma das teses de Frege mais discutidas por seus criticos, que dirao que, se a referéncia de uma sentenga é 0 Verdadeiro ou o Falso, todas as sentengas verdadeiras tem a mesma referéncia — o que de certa forma se da, ja que se referem 3 realidade, Frege enfatiza ainda a necessidade de fazermos algu- mas distingdes entre conceito e objeto relevantes para a consideragao do significado de sentengas. Por exemplo, a sentenga “A Estrela da Manha é Vénus” nao é realmente predicativa, diferentemente de “A Estrela da Manha é um planeta’, mas deve ser parafraseada da seguinte maneira: as expresses “A Estrela da Manha” e “Vénus” referem-se a0 mesmo objeto. O mesmo ocorre com “Todos os mamiferos tém sangue quente’, em que “mamiferos” é um predicado assim como “sangue quente”. A paréfrase desta sentenga nos daria o seguinte resultado: certos objetus séo ni tém sangue quente. Isto mostra a importancia, segundo Frege, de se distinguir a forma logica da sentenga de sua forma gramatical, ¢ portanto a necessidade de uma andlise logica da linguagem, tal como nas parifrases realizadas — ‘© que sera a preocupasao fundamental da filosofia analitica da linguagem nas primeiras décadas do século xX com Russell e Wittgenstein (no Tractatus). ferus Considerando-se o campo da filosofia de forma mais ampla, as investigagdes de Frege ocupam af um lugar bas- 2 Danilo Marcondes tante circunscrito — as dreas da logica ¢ filosofia da mate- atica, Contudo, sua contribuigao ao desenvolvimento da filosofia analitica ¢ da filosofia da linguagem, que comega a se constituir nesse perfodo, ultrapassa em muito o aleance inicial dessas areas. Nao ha, porém, em Frege uma teoria geral do conheci- mento, Seu propésito é, a0 contrario, fundamentar a mate- matica como ciéncia, recorrendo para isso a Logica. O fun- dacionismo de Frege deve set entendido, portanto, como, concepgao segundo a qual a logica seria a “filosofia primei 1a’, no sentido de Dummett visto anteriormente, os princi pios légicos sendo pressupostos do conhecimento. Em sua Conceitografia, de 1879, Frege se pergunta se as proposigdes da aritmética se baseiam, em dltima anélise, nas leis da logica ou em fatos da experiencia, propondo-se a defender a primeira alternativa. Estabelece, entao, a necessidade de se afastar da linguagem comum para construir uma “lingua- ‘gem formal simbilica do puro pensamento” Esse projeto 0 leva a reformular a propria légica, no sentido de aproximé- la dos métodos da matematica, Na concepgao de Frege, a logica diz respeito as leis do pensamento em um sentido normativo e nao-psicolégico, subjetivo. As leis da légica sio asleis mais gerais do pensamento e nao parte de uma ciéncia specifica. Em um texto publicado em seus escritos péstu- mos, Frege assim se expressa a esse respeito: “Comecei com ‘a matemitica, O que me parecia mais necessdrio cra dar a essa ciéncia uma melhor fundamentasao .. As imperfeigoes logicas da linguagem impediam tais investigagdes. Tentei superar esses obsticulos com minha conceitografia. Dessa forma fui levado da matematica a logica” Filosofia analitica 25 A Conceitografia de Frege toma como ponto de partida, portanto, a concepgio de que as proposiges com significa- do tém um contetido conccitual objetivo, e de que esse contetido nao é adequadamente representado pela lingua- gem comum, devendo ser possivel construir uma notagao em que 0 contetido conceitual de qualquer proposigao pos- sa ser expresso de forma mais clara e adequada. & precisa- mente este o sentido do subtitulo da Conceitografia: “Uma linguager furmalizada do puro pensamento”. A tarefa filo s6fica pode ser vista, entao, como a determinagio desse contetido objetivo a partir da critica de sua expressio na linguagem comum e de sua tradugao para uma linguagem Logica formal e depurada das imperfeigdes da linguagem ‘comum. Encontramos nessa proposta a concepsao segundo a qual a anélise filos6fica se dé através de um processo de tradugdo de uma linguagem para outra mais perfeita, em que os problemas da anterior sao resolvidos. £ fundamental para 0 desenvolvimento da visio de linguagem na filosofia analitica a concepgao de Frege de que 0 filsofo deve concentrar sua atengao no pensamento — entendido como contetido objetivo de uma proposigao € no enquanto processo mental, subjetivo e psicol6gico. Ea partir dessa concepgdo que se desenvolve a nogao de andlise légica como descrisio semantica da sentenga capaz de dis- tinguir na linguagem os elementos que refletem a estrutura do pensamento dos que nao a refletem. A anilise da propo- sigdo corresponde a uma anélise do pensamento, @ uma decomposigao da proposigao em uma parte que correspon- de ao nome préprio, cuja fungao é referir aos objetos, ¢ em Danilo Marcondes outra que caracteriza 0 predicado ou conceito, Nao temos, contudo, segundo Frege, um conhecimento direto de um objeto; quando sabemos algo sobre um objeto, o que sabe~ mos ¢ uma proposigio sobre ele. E por isso que, nessa concepgio, 0 juizo, que se expressa proposicionalmente, tem precedéncia sobre 0 conceito. Frege rompe assim com a Logica tradicional que via a proposigao ou juizo como resultado da uniao entre conceitos com sentidos previa- mo sujeito e o predica- mente determinados, que constit do. Diz Frege também nos Escritos péstumos: “Nao parto dos conceitos, unindo-os entio para formar um pensamento ou juizo; chego as partes de um pensamento analisando este pensamento.” A anilise € vista, assim, como um recurso logico que decompée a unidade originéria do juizo para ‘examinar a contribuicio das partes que 0 compéem a de- terminagao de scu significado. Mas, precisamente, a propo- sigao se decompée apenas por anélise, como resultado do exame légico, constituindo-se por natureza como uma uni- dade formal. A teoria das descricées de Bertrand Russell Qualquer discussio da obra de Russell requer um cuidado especial, j4 que poucos filésofos reformularam seu pensa- mento tanto quanto ele. f, pois, sempre importante ter em mente 0 periodo e a obra em questo. Vou me limitar aqui praticamente & teoria das descrigdes, formulada em seu artigo “Da denotacao” (1905), que pode ser considerada um Filosofia analitica 2 dos paradigmas de analise na tradigao analitica da fase que caracterizei como semintica classica. A teoria das descriges de Russell parte da concepsao de que a forma gramatical das sentengas nao representa sua forma logica, sendo necessétio por isso submeter essas sen- tengas.a uma anilise légica que revele ou torne explicita essa forma légica. Descrigdes definidas so expresses que, ape- sar de se assemelharem a nomes proprios, designando indi- viduos, nao sao realmente nomes proprios. Atraves do mé- todo de andlise, sentengas que contém descrigées definidas podem ser reduzidas a sentengas em que essas descrigdes no mais ocorrem. Porém, por que seria necessdrio supor a climinagao das descriges definidas? O problema surge quando consideramos expresses que ndo possuem uma referéncia ou denotagao. As sentengas que contém essas expresses aparentemente violam o principio l6gico do terceiro excluido, que estabelece que uma sentenga s6 pode ser verdadeira ou falsa, nao havendo uma terceira possibili- dade. Ora, essas sentengas, por nao se referirem a nenhum objeto existente, no seriam nem verdadeiras, nem falsas.O. exemplo classico éa analise a que Kussell submeteasentenga S: “O atual rei de Franga é careca.” Uma vez que no existe um rei de Franga, a sentenga nao pode ser considerada verdadeira. Porém, tampouco ¢ falsa, pois nto podemos dizer que o atual rei da Franga nao é careca. Também nao podemos consideré-la sem sentido, uma vez.que pode per- feitamente ser compreendida. A anilise l6gica vird, entdo, para solucionar esse impasse e resolver o problema ontol6- ‘gico da existéncia de entidades correspondentes as deseri- Danilo Marcondes bmetermos essa sentenga a anilise, ges definidas. Se s temos como conclusio que na verdade $ engloba trés outras sentengas, a saber §1) Existe um objeto X tal que X tem a propriedade P (ser o atual rei de Franga) §2) Nao existe um objeto Y#X tal que Y tema proprie- dade P. $3) X tem a propriedade Q (ser careca), ‘A climinagao da expressio deseritiva se dd a0 se trac viva sentenga em que cla ocorre em uma sentenga declara- tiva oxistencial (S1),em que algo tema propriedade contida na descrigio, Ora, vemos assim imediatamente onde se encontra o problema. A sentenga SI € falsa, conseqiiente- mente $3 também o serd, jé que $3 supée SI ‘Uma das conseqiténcias do método de anélise encon- trado na teoria das descrigdes € que apenas objetos existen- tes podem ter propriedades. A existéncia nao é por sua vez, um predicado, uma propriedade, mas um operador l6gico. Portanto, os predicados supGem a existéncia de um objeto do qual possam ser predicados, S6 posso afirmar uma qua- lidade de algo que existe, ea existéncia nao é ela propria uma qualidade, mas um pressuposto para que algo tenha qua- lidade. © método de anélise resolve assim 0 problema da aparente transgressao do principio do terceiro exclutdo. ‘Todas as trés sentengas em que S se decompde tém valores deverdade determinados. Portanto, através da anélise logica da linguagem podem-se encontrar os elementos que cons- tituem as situagdes expressas na linguagem. A fungao da Filosofia analitica 23 andlise légica da linguagem é determinar os componentes Liltimos que constituem um fato na realidade. Logo, supde um isomorfismo entre a légica e a realidade, a sentenga eo fato, através da correspondencia entre os elementos de um ede outro. Esse é 0 seu pressuposto ontoldgico basico. No ambito da teoria das descrigées a concepgio de anilise formulada por Russell é, portanto, a de um método de decomposigao da sentenga através do qual seus elemen- tos sdo identificados, estabelecendo-se a relagao destes com ‘05 elementos correspondentes em um fato no real, descrito pela sentenga. A anélise revela assim a verdadeia forma Jogica da sentenga, indicando como suas partes se articulam (no caso das sentengas S1, $2 e $3) para formar 0 todo (a sentenga S). Isso significa que o método deanilise é também um procedimento de tradugio de uma linguagem menos perfeita (a linguagem comum) — em que a forma grama- tical oculta a forma légica (a estrutura comum a sentenca e a0 fato) — para a linguagem logica — que exibe a forma logica de modo direto ¢ explicito, dissipando possiveis di- vidas € mal-entendidos. Esse método supe, portanto, tal como em Frege, a existéncia de uma linguagem l6gica em que a relagio com a realidade possa ser expressa de maneira mais clara e correta, evitando equivocos ¢confusdes. Inclui- se também no projeto fundacionista— na medida em que a andlise logica fornece critérios para se justificar a determi- nagio da relagio verdadeira, correta, entre a linguagem ea realidade —, contribuindo assim para a fundamentagao da ciéncia e para a eliminagao de problemas tipicos da metafi- sica especulativa, como a existéncia do nao-ser ou do nada. 30 Danilo Marcondes Com efeito, Russell mantém essa concepgao do papel da analise mesmo cm obras posteriores. Por exemplo, em Nosso conhecimento do mundo externa (191 4), diz: “Todo problema filosofico, quando submetido danlise ejustitiea- «io necessirias, revela-se nao ser realmente um problema filoséfico, ou ser, no sentido em que usamos a palavra, wm problema logico.” ‘A analise segundo G.E. Moore Embora Moore tenha negado explicitamente, repetidas ve- ‘fo analitico, ou ter se dedicado zes, ter sido um fil analise lingaistica, pode ser considerado juntamente com Russell um dos iniciadores da filosofia analitica, sendo de- cisiva sua influéncia no desenvolvimento dessa tradigao. De fato,a respeito da rea¢ao contra o idealismo que menciona- ‘mos anteriormente, diz Russell: “Foi por volta de 1889 que Moore e eu nos rebelamos contra Kant ¢ Hegel. Moore foi © lider, mas eu segui seus passos de perto.” “Analise” € 0 texto de Moore que melhor nos esclarece acerca da posigao desse fildsofo, texto em que ele pretende claborar e definir mais claramente sua concepgao filoséfica de método analitico. Nese texto encontramosa seguinte afirmagao: “Quan- do me referi 8 andlise de algo, aquilo a que me referi como “objeto de anilise foi sempre uma idéia, conceito ou propo- sigdo, e nao uma expressio verbal.” £ nesse sentido, portan- to, que Moore nega, explicitamente, ter se dedicado A andlise Filosofia analitica 31 stica, Logo adiante, contudo, deixa claro 0 que enten- de por “anilise de expresses verbais": “Hla um sentido em que expresses verbais podem ser ‘analisadas’ se a expressao verbal ~- Considere- €um pequeno Y.... Pode-se perfei- tamente dizer que se esti fazendo u na analise dessa expres- sao quando se diz sobre el ‘ontém a letra.x, a palavra 6a palavra wm, a palavra pequeno ea letra y; e comega com x, é vem em seguida, depois wm, depois pequeno e depais y Quando me referi a “fazer uma analise’ nunca tive esse tipo de coisa em mente” Fica claro assim que Moore esta entendendo “andlise de uma expressio verbal” como decomposigio dessa ex- pressao complexa em seus elementos simples constituintes, indicando-se a ordenagao sequencial dos mesmos. Eviden- temente, uma anélise desse tipo, estritamente lingiistica, nao tem relevncia filosofica; principalmente porque nio envolve diretamente nenhuma determinagio ou esclareci mento do significado da expressio. Moore rejeita, portanto, uma interpretagdo da nogao de andlise como se aplicando estritamente a entidades lin- gllisticas. De fato, afirma que, “em meu uso, tanto 0 analy sandum quanto o analysans devem ser conceitos ou propo- sigdes endo meramente expressdes verbais”. Essa advertén- cia equivale a dizer que, como veremos mais adiante em Wittgenstein e em Austin, a anslise linguistica nao é um fim em si mesmo, mas o método através do qual conceitos si0 analisados ¢ 0 significado das expressdes, determinados, produzindo-se assim o esclarecimento. Danilo Marcondes Para Moore, fazer a andlise de um conceito, o analysan- dum, equivale a indicar um novo conccito, 0 analysans, tal que: 1, Ninguém possa saber que o analysandiam se aplica a um objeto sem que saiba que o analysans também se aplica esse mesmo objeto, 2. Ninguém pode verificar que o analysandum se aplica sem verificar que 0 analysans também se aplica. 3. Qualquer expresso que expresse 0 analysandun deve ser sinénima de uma expressdo que expresse 0 ana- Iysans. Como exemplo, podemos tomar os conceitos: * mao” e “filho dos mesmos pais” Moore acrescenta: 4. Tanto 0 analysandum quanto o analysans devem ser conceitos ¢, sea anlise for correta, devem em algum sentido r- ser 0 mesmo conceito, 5. A expresséo usada para 0 analysandum deve ser diferente da usada para o analysans, Vemos assim que a analise de um conceito nao € pro- priamente, nesta concep¢ao, sua decomposigao em elemen- tos constitutivos simples, mas sim a explicitagio de seu significado, através de outra expresso equivalente que 0 torne mais claro, possibilitando um melhor entendimento de seu sentido ¢ uma melhor determinagao do objeto a que se aplica, Embora diga que um conceito ndo é uma expresso verbal, como vimos acima, Moore nao esclaréce qual & finalmente sua concepgao da natureza do conceito. Fica claro, contudo, que o conceito certamente nao é uma enti- Filosofia analitica 33 dade mental 4 qu 1 chegamos por introspecgio, nem algo a que temos acesso através de algum tipo de intuigdo ou “visto de esséncias’, o que nos traria de volta ao idealismo rejeitado por Moore. Ao contrario, apesar de o conceito nao se confundir com a expressio verbal, é necessério usar expresses verbaisna analise, eo conceito se expressa através de uma expressao verbal (ver condigéo 3). 0 conceito deve assim ser entendido, de certa forma, como 0 contetido signi tivo das expressdes verbais, ou seja, aquilo que os termos “irmao” e “filho do mesmo pai” tém em comum, 0 que faz com que sejam, em certo sentido, expresses do “mesmo conceito” (condigao 1). ‘Como resultado da anilise conceitual deve ficar claro, portanto, que 0 conceit (analysans) em termos do qual 0 filésofo produz o esclarecimento do conceito analisado (analysandum) deve referir-seao mesmo objeto. Além disso, ambos os conceitos devem ser intersubstituiveis na sentenga sem alteragao da referéncia, Isso é 0 que Moore quer dizer quando afirma que devem ser sindnimos. £ por isso, decerta forma, que é dito que, embora as expresses lingitisticas sejaun diferentes, Uata-se du mesmo conceito. E é essa a razio pela qual Moore afirma nio fazer uma anilise ingis- tica, mas sim conceitual, £ claro que a anélise nao é lin- gilistica se entendemos “lingistica” como se referindo a ‘expresses verbais de uma lingua natural como 0 portugues ‘ou o inglés, porém pode ser considerada lingtistica se en- tendemos os conceitos como entidades lingiiisticas, isto é logicas, e ndo como representagdes mentais ou entidades metafisicas como formas ou esséncias. 4 Danilo Marcondes Austin e a Escola de Oxford ‘A tradigao analitica da chamada Escola de Oxford tem como seus principais representantes Alfred Jules Ayer, John Wis- dom, Gilbert Ryle e John 1. Austin, cujos primeiros traba- Ihos foram publicados a partir da década de 1930. Podem-se incluir ainda, mais tarde (anos 50), Peter F, Strawson, Stuart Hampshire, John O. Urmson e Richard Hare, dentre outros. Sein diivida, esses filésofos sofreram também a influencia de Russell e de Moore, uma vez que suas idéias eram nessa época bastante discutidas na Gri-Bretanha, mas 0 pens mento dos filosofos de Oxford desenvolveu-se na realidade numa linha bastante representativa da filosofia que se fazia nessa universidade desde as primeiras décadas do século XX. E esse tipo de andlise, nessa tradigao, sobretudo na linha de interesse por questées éticas, que permitiu uma aproximagao com a andlise conceitual empreendida por Moore e expressa em seu Principia ethica, bem como em sua defesa de uma “filosofia do senso comum”, Nesse sentido, a filosofia de Moore esta mais proxima do pensamento que se desenvolve em Oxford do que a de Russell, ou mesmo a do positivismo légico do Circulo de Viena. Sob varios aspectos, Austin pode ser considerado 0 mais representativo dos filésofos da linguagem ordinéria, como 0 demonstram a maior parte de seus artigos reunidos nos Philosophical Papers (1970) e © testemunho de varios filosofos que foram seus contemporaneos ¢ com ele traba- Iharam em Oxford. Esses trabalhos ilustram em sua maioria a aplicagao do método de anilise da linguagem a varios Filosofia analitica 35 problemas filoséticos tradicionais, sobretudo na teoria do conhecimento (“Other minds”), teoria do significado (“The meaning of a word", “How to talk”) e ética (“A plea for excuses’, “Three ways of spilling ink”) Para Austin, grande parte dos problemas filos6ficos origina-se de mal-entendidos terminologicos ¢ de falta de clareza quanto a definigao dos conceitos empregados. Essa 6, na verdade, uma idéia que percorre os varios ramos da tradigio analitica, desde Prege, que meucivma us equivocos que surgem das imperfeigdes da linguagem, passando por Russell com sua discussio das descrigdes definidas que examinamos anteriormente e pela posigdo critica quanto & metafisica especulativa encontrada no Circulo de Viena, defendida na filosofia britanica por Ayer. Devemos, portan- to, segundo Austin, prestar atengio & linguagem que usa- mos. “As palavias sio nossas ferramentas” O ponto de partida € assim a anilise da linguagem na tentativa de produzir um esclarecimento do significado das expressdes, envolvidas na caracterizagio de um problema filoséfico. Uma adverténcia, contudo, é necessaria quanto a caracter zagio da filosofia da linguagem ordindria. Diz Austin: “Quando examinamos 0 que devemos dizer e quando de- vemos fazé-lo, que palavras devemos usar, em que situaga0, nao estamos examinando simplesmente palavras (ou seus ‘significados, seja Ia 0 que isso for), mas, sobretudo, a reali- dade sobre a qual falamos ao usar essas palavras; usamos uma consciéncia mais agugada das palavras para agusar nossa percepgio ... dos fendmenos.” Danilo Marcondes A anilise filoséfica ndo é, portanto, uma anélise lin- gilistica apenas, mas uma anélise que se faz através da linguagem, Nao se separa a linguagem da realidade sobrea qual essa linguagem fala como duas naturezas distintas: a0 contrério, ao se examina linguagem jé se esta necessaria- mente examinando esta realidade e nao se tem como anali- si-la diretamente, independentemente da linguagem. O uso 0 no real € nao uma da linguayem € uma forma de simples maneira de descrever a realidade que se observa. Ao se examinar 0 uso da linguagem esté-se examinando a propria experiencia do real. ‘Afinalidade do método nao é, contudo, produzir uma nova linguagem mais perfeita ou mais rigorosa, como nas propostas de Frege, de Russell ou mesmo do positivismo Jégico. A linguagem ordinéria € 0 horizonte iltimo onde a experiéncia se constitui. Isso nao significa, contudo, que nao possa ser crticada, reformulada ou alteradas segundo Aus- tin, “certamentea linguagem ordinéria nao pode ter nenhu- ‘ma pretensau de ser a palavra final .... A superstiglo, 0 erro ea fantasia de diversos tipos incorporam-se & linguagem ordinatia”, portanto “ela pode em princfpio ser corrigida € melhorada ... . Lembrem-se apenas de que ¢ a primeira palavre’, isto é, 0 ponto de partida, ‘Uma vez que a andlise tem como seu objeto a lingua- gem ordinaria e como finalidade a caracterizagao dos ele- mentos envolvidos em seu uso para assim explicitar 0 sig- nificado dos termos ¢ esclarecer os problemas filoséficos a cles associados, esse tipo de anilise ¢ sempre provisorio, Filosofia analitica 37 nunca definitivo, final, completo. Os problemas podem ser retomados, novos usos levados em con ideragdo, novas re- laces podem ser estabelecidas. Nao é possivel entao elimi- nar todos os problemas de uma vez por todas. A andlise € sempre parcial ¢ deve proceder “piecemeal” (isto 6, minu- ciosamente, detalhadamente), sem a pretensio de um resul- tado definitivo, Um dos mais ilustrativos exemplos da andlise em- preendida por Austin esta no artigo supramencionado, “A plea for excuses”. Tomando 0 problema ético clissico da responsabilidade na agdo, Austin evita a discussio genérica de teorias éticas ou a consideracdo de conceitos muito amplos como responsabilidade, aso, vontade ete., defini- dos genericamente e fazendo parte de uma teoria ética que por sua vez se inclui em um sistema filoséfico global. Ao contrétio, ele parte principalmente da anilise de expresses adverbiais como “deliberadamente’, “involuntariamente’, “acidentalmente’, “inadvertidamente” e outras congéneres, exatamente na medida em que sao, enquanto advérbios, modificadores da asao, As condigées de emprego desces termos revelam assim em que circunstancias se admite ou nao que o falante possa usé-los para justificar seu ato, desculpé-lo ou eximir-se de responsabilidade. A finalidade da anilise nao 6, portanto, definir de forma genérica € abstrata o que é a responsabilidade, mas esclarecer como € por qué imputamos a responsabilidade de um ato a alguém e de que forma o autor do ato assume ou nao essa respon- sabilidade. Isso pode nos ser revelado pelos casos em que desculpas sao aceitaveis ou nao. A anilise, ao nos revelar as at Danilo Marcondes condigdes em que esse uso se da, nos esclarece sobre como entendemos ¢ definimos esses conceitos valorativos. ‘A concepcao de andlise em Wittgenstein Embora haja uma distingao jé consagrada na filosofia ana- litica entre o “primeiro” Wittgenstein, representado pelo ‘Tractatus logico-philosophicus, ¢ 0 “segundo’, representado pelos escritos posteriores a 1929, sobretudo pelas Investiga~ aes filosdficas,a maior parte dos intérpretes atualmente tem encontrado muitos pontos de contato entre as duas fases de seu pensamento. Notadamente quanto a sua concepgao da tarefa terapéutica da filosofia, do método filoséfico do papel da anélise em produzir esclarecimentos e desfazer problemas filosoficos tradicionais, bem como formas errd- neas de se compreender a linguagem. Por outro lado, é © proprio Wittgenstein que se refere negativamente a visio logica do “autor do Tractatus” nas Investigagdes como uma ‘visao da qual (cria se afastado. Encontramos no Tractatus, como uma de suas idéias centrais, a concepgao, comum também a Frege e a Russell, de que a forma gramatical e a forma légica da linguagem ‘nao coincidem. Problemas metafisicos tradicionais como os da possibilidade de dizer 0 falso, da existéncia do nao-ser etc, originam-se na verdade de uma ma compreensio da linguagem, do desconhecimento de sua forma l6gica autén- tica e da maneira pela qual se relaciona com o real. Segundo. © Tractatus:“A linguagem disfarga (verkleidet) 0 pensamen- Filosofia analitica 39 to. A tal ponto que da forma exterior da roupagem nao & possivel inferir a forma do pensamento subjacente, jé que a forma exterior da roupagem nao foi feita para revelar a forma do corpo, mas com uma finalidade inteiramente diferente. ... A maior parte das proposicoes e questdes en- contradas em obras filos6ficas nao ¢ falsa, mas sem sentido. Conseqiientemente, nao podemos dar qualquer resposta a ‘questdes desse tipo, mas apenas indicar que sao sem sentido. A maior parte das proposigies e questées dos flésofos surge de nosso fracasso em compreender a logica de nossa lin- guagem.” A tarefa da filosofia ¢, portanto, realizar uma anilise da linguagem que revele sua verdadeira forma ea relacio desta com os fatos. “Toda filosofia é uma critica da linguagem Foi Russell que nos prestou o servigo de mostrar quea forma logica aparente da proposigio nio é necessariamente sua forma real.” £ desse modo, portanto, que se define a filoso- fia: “A filosofia tem por objetivo a elucidagao légica dos pensamentos. A filosofia nao ¢ um corpo de doutrina, mas uma atividade: Uma obra filoséfica consiste essencialmente de elucidagdes. A filosofia nao resulta em ‘proposigdes fi- los6ficas, mas sim na elucidaggo de proposigdes. Sem a filosofia os pensamentos sio, por assim dizer, nebulosos ¢ indistintos; sua tarefa € torné-los claros e bem delimitados.” © Tractatus mantém assim uma concepgao de filosofia como elucidagao realizada através da linguagem. Mas 0 que significa precisamente, neste caso, “andlise”? Wittgenstein concebe a anilise como decomposigao de um complexo — 4 proposigio — em seus elementos constituintes simples. Danilo Marcondes as clementares que consistem de nomes em con s deve nos lev, “£ obvio que a aniilise das proposica proposigoes binagao imediata” (© procedimento de analise esti assim diretamente li- ado a clucidagao da forma pela qual a linguagem se refere - realidade, tal qual em Russell, De fato, a concepgao Kigico- ma do atomismo ontologica do Tractatus € bastante pro Jagico de Russell, desenvolvido na mesma €yuca (cere de 1918),e reflete, ao menos em parte, as diseussdes ocorridas do Tractatus entre os dois fildsofos. A concepgio anal liga-se também, assim como as de Frege, de Russell ¢ do positivismo ligico,ao projeto de fundamentagao da ciéncia ‘A totalidade das proposigdes verdadeiras, que dizem como ‘9 mundo 6 constitu precisamente a ciéncia natural, 0 conhecimento possivel sobre 0 real. ‘A formulagao mais clara e sintética deste projeto pode ser encontrada no iltimo texto do primeiro Wittgenstein, a conferéncia “Some remarks on logical form” (1929), bas- tante proxima das teses de Russell e da proposta da Concei- tografia de Frege: “A proposta consiste em expressar em um ismo apropriado aquilo que na linguagem ordinaria simbo gera infindaveis mal-entendidos. sto é, mos casos em que a Tinguagem ordinéria oculta a estrutura lgica, em que per- mite a formagao de pseudo-proposigdes, em que usa um termo em uma infinidade de significados diferentes; deve- mos substitui-la por um simbolismo que dé uma imagem clara da estrutura légica, exclua as pseudo-proposigbes ¢ empregue 0s termos sem ambigiiidade” Filosofia analitica 41 A concepgiio de método filoséfico ¢ de anilise da lin- nm cncontrada no “segundo” Wittgenstein, notada mente em suas Investigagdes filoséficas, é bem mais proxima da proposta da Escola de Oxford. Ebem possivel que ambas as propostas de uma filosofia voltada para 0 uso comum da linguagem, pelo menosem um primeiro momento, tenham se desenvolvido paralelamente, De qualquer forma, as con- cepsdes wittgensteinianas de significado come uso ede jogo de linguagem vieram somar- da linguagem ordinaria, favorecendo seu desenvolvimento nas décadas de 1950 ¢ 1960. Nas Investigagdes filoséficas temos uma concepgao de linguagem radicalmente diferente da encontrada no Tracta~ tus. A linguagem nao é mais considerada tomando como base a forma légica da proposigio, a partir da qual se determina sua relagdo com o real, isto é sua verdade ou falsidade, Podemos dizer que, até certo ponto, nas Investi- ‘gagdes a nogao de linguagem se dissolve, pulveriza-se em uma multiplicidade de “jogos de linguagem’, que se defi- nem como “um todo, consistido de linguagemt © das ativi dades a que esta esta interligada’: O § 23 ilustra bem isso: “Quantos tipos de sentengas existem? Assergdes, questes € ordei as idéias centrais da filosofia 2 Ha incontaveis tipos de uso do que chamamos ‘simbolos, ‘palavras;‘sentengas’ E essa multiplicidade nao é algo fixo, determinado de uma vez por todas, mas novas formas de linguagem, novos jogos de linguagem, como poderiamos dizer, surgem € outros tornam-se obsoletos ¢ sio esquecidos,.. f interessante comparar a multiplicidade de instrumentos da linguagem eas formas como sio usados Danilo Marcondes ca multiplicidade de tipos de palaveas e sentengas com 0 que os logicos tem dito sobre a estrutura da linguagem (inclusive © autor do Tractatus).” ssa mudanga na concepgio de linguagem reflete-se também na concepgao da tarefa da filosofia da qual é corre lata. nao é um corpo douttinario, mas uma atividade de elucida- jaencontramos no Tractatusa visio de que filosolia gio, temas agora essa posigao de certa forma radicalizada [A investigacao filosofica se caracteriza como uma terapeu- tica, um meio de “ensinar 4 mosca 0 caminho para fora da garrafa E necessdrio examinar a linguagem a partir de seu uso, considerando os jogos de linguagem, suas regras, seu con- texto — “os problemas filoséficos surgem quando a linguia- gem sai de férias"s “as confusdes de que nos ocupamos surgem quando a linguagem é como um motor funcionan- do a-toa, ¢ ndo quando esta fazendo seu trabalho”. Os problemas filoséfices se originam assim em grande parte de ‘uma consideragao erronea, equivocada, da linguagem e de seu modo de funcionar. Aanilise filosofica nao € vista mais como um método de decomposigao de um complexo em seus elementos cons- tituintes, concepgdo que Wittgenstein critica em varias pas- sagens das Investigagoes (§ 60, 61, 63 € 64). Com efeito, ele nunca se propde explicitamente a realizar uma anélise da linguagem nas Investigagdes filosdficas. A tarefa filoséfica & um proceso de clarificagaio do sentido de nossa experiéncia através do exame do uso da linguagem, do estabelecimento das regras que tornam esse uso possivel, do contexto em que Filosofia analitica 23 esse uso se di, “Queremos compreender algo que ja esté plenamente nossa vista, Pois isso é o que em certo sentido mos compreender.... Nossa investigagio nio esti para os fendmenos, mas sim para as possibilidades de fendmenos.” nao paree volt A investigagao filosofica é portanto, gramatical, no sentido que Wittgenstein dé a “gramatica” — 0 conjunto de regras de uso que explica o significado do termo nos dife- rentes jogos de linguagem de que participa, O esclarecimen- to € produzido assim por uma Ubersicht, isto 6 uma visto geral do uso, estabelecendo-se as diferentes formas de uso, levando-se em conta os elementos do contexto, determi- nando-se relagdes etc. Porém, nenhuma anélise, nenhuma investigagdo desse tipo tem por objetivo estabelecer ou de- finir o significado de um termo de forma definitiva, Uma das conseqiiéncias da visio de linguagem das Investigagdes, a partir da introdugao das nogdes de jogo de linguagem ¢ de uso, é a indeterminagao do significado. Os resultados da anilise sao sempre provisbrios e parciais. Nao existe sequer um Unico método filoséfico, mas sim diferentes métudos, como diferentes terapias, dependendo dos tipos de proble- mas a serem analisados. Duas concepgées de analise A luz das diferentes teorias examinadas acima, algumas distingdes podem ser feitas a propésito da nogao de analise no contexto da tradigao analitica. Embora, como geralmen- Danilo Marcondes, tcocorre, em cada filésofo ou mesmo em cada teoria encon- tremos uma maneira propria de conceber a anélise, em linhas gerais podemos distinguir duas concepgdes. A primeita — a mais origindria, a idéia de andl propriamente dita, encontrada na sema pode ser caracterizada, sobretudo, a partir da teo descriges de Bertrand Russell. Essa teoria pode ser vista realmente como incluindo um método de andlise em seu sentido mais basico— a decomposigdo de um complexo em seus elementos constituintes simples. A idéia de analise como decomposigao pode ser acrescentada a idéia, também encontrada na teoria das descrigdes de Russell, de anzlise como elucidagao, procedimento de clarificagao capaz de desfazer equivocos, mal-entendidos e ilusdes da metafisica especulativa — como a questo da existéncia do nada ou do nao-ser. A andlise como clucidagao ¢ realizada, assim, atra- vyés da anslise como decomposi¢ao. Por sua vez, a decom- posigdo, a0 gerar novas sentengas que eliminam as fontes de equivocos nas sentengas anteriores, caracteriza-se também como um procedimento de tradugdo de uma linguagem para outra, ‘A concepgao mais proxima da de Russell € a do Trac- tatus. Encontra-se ai, também, a nogio de decomposicao de um complexo em suas partes simples, a necessidade de se chegara sentengas at6micas ou moleculares, a consideracao da relacdo entre sentengas € fatos, nomes ¢ objetos, ¢a idéia de que a filosofia tem por tarefa produzir elucidagoes, des- fazer mal-entendidos. Que o proceso de elucidar seja rea- lizado através da andlise como decomposi¢ao nao é, contu- Filosofia analitica 45 do, tao evidente em Wittgenstein, embora seja a andlise que vai mostrar fi gem eo real almente como se dé a relagio entre a lingua- Frege nao pode ser considerado, como vimos acima, a rigor, um filésofo analitico no mesmo sentido de Russell, jé que cle nao chega a dar 4 nogao de anilise da proposigao um papel central. Em Frege, a andlise parece estar mais ligada & definigao de um conceito (por exemplo, a definigia de atimero nos Fundamentos da aritmética), como na acepsao classica. Apesar disso, com sua Conceitografia Frege contri- buiu para o desenvolvimento da concepgao de andlise como tradugao de uma linguagem imperfeita, a linguagem co- mum, para uma linguagem légica, em que essas imperfei- 4Ges seriam eliminadas e a forma logica se tornar transpa- rente, através, sobretudo, de uma notagao adequada. Esse procedimento de tradugao é essencial para a produgio do esclarecimento, Abre caminho também, por sua vez, para a fundamentagao da ciéncia, fornecendo-the uma linguagem apropriada. A posigao de Moore é, de certa forma, mais ambivalen- te, Em seu texto “Reply to my critics” ele caracteriza a nosao de anélise como decomposicao, negando ter-lhe dado im- portancia em suas discussées filos6ficas. Nos Principia ethi- ca, contudo, encontramos um procedimento de anilise que pode ser entendido como definigio, como andlise conceitual, visando determinar o sentido de um conceito. Na medida em que a definigao € um procedimento de explicitagao do contetido do conceito e, portanto, de seus elementos cons- tituintes, envolve também, de certo modo, uma forma de Danilo Marcondes decomposigao, Nao encontramos em Moore, contudo, uma, preocupagio fundacionista como em Russell, em Frege ¢ também no Tractatus de Wittgenstein. Talver devido a seu interesse mais voltado para 0 “senso comum’ a necessidade de fundamentagao da ciéncia no aparece como questio central © conceito de anilise envolve, assim, nos primérdios da ilosofia analitica um procedimento de decomposigao de tam complexo, a proposigao, visando estabelecer seus cle= entos constituintes ¢ explicitar sua forma légica,¢ assim xclarecer dificuldades envolvidas na maneira de se const- dderar sua relacao com a realidade. Na medida em que @ proposigdo pode ser formulada de maneira mais explicitae Tigorosa em uma Tinguagem Togica, @ andlise constitulse também como tradugao. ‘Uma segunda concepgao de analise & encontrada na mais explicitamente em filosofia da linguagem ordinér Austin ena Escola de Oxford. Tata-se,contudo, de “andlise” ‘em um sentido bastante diferente do primeiro, sob virios aspectos. Na visto dus filésofos de Oxford a andlise nao € entendida como decomposigao de uma proposigao nem como procedimento de tradugio de modo a estabelecer a sua forma logica. Ao valorizar a linguagem comum, ou rdinaria, como horizonte de significado denossa experién- jaya filosofia de Oxford recusaa reconstrugao dessa lingua- gem em um sentido légico como solugio para os problemas filoséficos ou como caminho para a elucidagao. A anélise € vista, assim, como procedimento de elucidagdo, de esclareci- mento, de clarificagao, mas do uso da linguagem, das con- Filosofia analitica a digoes que tornam determinados usos possiveis, das regras que 05 constituem e validam. Trat visio de i Trata-s, portanto, de uma nalise como elucidagao do sentido do conceito, sendo © conceito interpretado lingiiisticamente — 0 oe nao seds, contudo, em Moore (pelo menos nao claramente, como vimos acima). Além disso, a elucidagao do conceito, considerado linguistcamente,ndo se dé pela determinagao de seu sentido, j4 que toda anilise é proviséria. A andlise & realizada através da consideragio do uso, ¢ como 0 uso nunca pode ser determinado de forma definitiva, o resulta- do da andlise ¢ sempre parcial, dependendo das questdes a serem elucidadas. Essa é também uma importante diferenga entre a segunda concepgao e a primeira. Na concepgao da semantica classica, 0s resultados da anélise légica devem ser definitivos. ‘A concepgao da tarefa da filosofia no “segundo” Witt- genstein pode, como vimos, ser aproximada a Escola de Oxford, tendo contribuido para o desenvolvimento da filo- sofia da linguagem ordindria. Porém Wittgenstein, a0 se referit 4 andlise nas Investigagdes filosdficas, 0 faz quase sempre negativamente, como vimos nas citagdes anteriores, tendo em vista a semantica cléssica, a primeira concepgo que caracterizamos. Ele nunca chega a redefinir essa con- cepgao de anilise, nem denomina de modo explicito seu método de andlise da linguagem. Embora possa,é claro, ser entendido assim, desde que consideremos como analise umm procedimento de clucidagao ¢ como linguagem os termos ¢ expressdeslingiisticos nos jogos de linguagem de que fazem parte. wea Danilo Marcondes ‘Vemos, assim, que ha na tradigao analitica pelo m 108 duas grandes linhas de caracterizagao da anilise. A primeira como decomposigao da proposigao, reconstruindo-a em termos de uma concepgao logica de linguagem, produzin- do-se desse modo a elucidagao. A segunda como clucidagao do significado de expressdes lingti do seu uso. A primeira supde uma ontologia, que pode ser ilustrada pelo atomismo ldgico e na qual se fundamenta a possibilidade do conhecimento cientifico. Na segunda te- ‘mos uma versao do nominalismo, sem, contudo, qualquer cas, através do exame explicitagao de pressupostos ontoldgicos mais diretamente. Conclusao Vimos entéo que a filosofia analitica surge na passagem do século XIX para 0 XX como tentativa de resposta a problemas especificos da teoria do conhecimento ¢ da filosofia da ciencia, adotando um método que evitasse 0 recurso a entidades psicologicas como idéias e representagdes men- tais, j4 que estas sao subjetivas e, portanto, inacessiveis ao ‘exame filoséfico; mas evitando igualmente o recurso a en- tidades metafisicas como formas e esséncias — considera- das também problematicas por nao haver um método claro sobre oacesso a essas entidades. A andlise éentendida, entao, como busca de uma definigao que esclarega 0 sentido dos conceitos envolvides nos problemas filos6ficos examinados de modo a solucioné-los, sendo que o conceito é interpre- tado como entidade légico- ingufstica e nao psicoldgica ou Filosofia analitica 49 metafisica. Conceitos, por sua vez, fazem parte sempre de proposigdes ¢ uma definigdo se expressa sempre tipicamen- te em uma proposicao (por exemplo, “Todo mamifero é animal de sangue quente”). 10 alguns dos pontos ria dos filésofos anal cos nesse periodo inicial. Vimos também como posterior- mente desenvolvem-se diferentes concepgies da natureza centrais compartilhados pela mai da linguagem e do processo de anélise. No contexto contemporaneo, a filosofia analitica de- senvolveu-se a partir da influéncia dos primeiros filésofos dessa tradigao em diferentes vertentes. Inicialmente quase restrita a questées de filosofia da ciéncia e teoria do conhe- cimento ¢ a um projeto de fundamentagao da ciéncia na 6gica e no método empirico, foi aplicada também as dreas tradicionais da filosofia, como ética, estética,filosofia pol tica etc,, passando a funcionar como método de anilise dos conceitos nessas areas, Por sua ver, problemas teéricos acer- ca da natureza da linguagem, de sua estrutura légica, do significado dos conceitos e proposigdes, tiveram um grande desenvolvimento a partit da discussdo das primeiras teorias de Frege, Russell e Carnap. Esses problemas foram discu- tidos por fildsofos contemporaneos como, no contexto nor- te-americano, Quine, Hilary Putnam, Donald Davidson ¢ Saul Kripke, que trouxeram importantes contribuigdes & filosofia da logica e da linguagem. ConcepsGes que propéem a andlise da linguagem en- quanto uso € enquanto aso, inspiradas no “segundo” Witt- genstein e em Austin, tiveram também um importante de- senvolvimento na linha da pragmética. Dentre essas pode- 50 Danilo Marcondes mos mencionar a teoria dos atos de fala do filbs americano John Searle. ticidade as intuigGes de Wittgenstein ¢ Austin, mostrando como 0 uso pode ser analisado através de categorias pro- prias que revelam as condigdes segundo as quas esses usos sa teoria visa dar maior sistema: se dao, incluindo seus pressupostos,suasregras escus efeitos ‘econseqiiéncias. Abre-se assim o caminho para uma ardlise do discurso que toma como objeto nio mais 0 conceito ou a proposigao, mas a linguagem enquanto communicado ¢ in- teracao, isto 6 tal como efetivamente usada por falantes em am contexto determinado ¢ com propésites determinados. ‘Mais recentemente, novos desenvolvimentos no cam- po da ilosofia da psicologiae das ciéncias cognitivas fizeram com que os filésofos analiticos retomassem questoes sobre ‘a natureza da mente ¢ da consciéncia, sobre a relagao entre a mente € a realidade e a mente e a linguagem. John Searle tem tido também uma importante contribuigao nesse sen- tido, ‘Podemos dizer que em seu surgimento a filusufia ana~ Iitica, sobretudo com Russell, Moore ¢ até certo ponto Carnap, adota uma posigao bastante radical em relagdo as correntes filoséficas entio dominantes, assumindo uma postura de ruptura explicita com essa tradigao. Por sua vez, a filosofia analitica nunca constituiu uma posigao homo- génea ou um bloco monolitico, discutindo suas questoes internamente de forma bastante critica, Embora bastante influenciado por Frege, Russell foi, sob varios aspectos, um exitico severo deste. O mesmo pode-se dizer de Wittgenstein em relacdo a Russell; Wittgenstein também foi um critico Filosofia analitica 51 severo de mesmo, na segunda fase de seu pensamento. Os filosofos da linguagem ordindria foram criticos de Carnap ¢ de sua pretensio & construgio de uma linguagem rigorosa de um ponto de vista légico que funcionasse como funda- mento da ciéncia. A filosofia analitica, por sua vez, em seu desenvolvi- mento ao longo do século Xx, tornou-se também uma das grandes correntes dominantes do pensamento filosofico, constituindo ela propria uma nova tradigao. Toda tradigio corre o risco de fechamento sobre si mesma e de esterili- dade; acredito que a filosofia analitica possa estar longe desses riscos se, como tem acontecido, mantiver vivas as questées criticas que levaram a seu surgimento, sabendo aplicé-las aos novos contextos do pensamento, bem como se puder aproximar-se de outras tradigGes, o que tem acon- tecido contemporaneamente em relagio, por exemplo, & fenomenologia, a teoria critica da Escola de Frankfurt, a0 estruturalismo, dentre outras. Seré gragas a isso que ela poderd permanecer uma corrente filoséfica significativa no século XX. 82 Selecao de textos Considere-se, por exemplo, a proposicio “A ¢ diferente de B”. Os constituintes desta proposigio, quando nés a anali- samo’, parecem ser apenas A, diferente, B. Contudo, esses constituintes, colocadosassim lado a lado, nao reconstituem a proposigdo. A “diferenga’, quando ocorre na proposigie, ‘efetivamente relaciona A e B, enquanto a diferenga ap6s a andlise é uma nogao que nao tem conexad nem com A nem com. Pode-se dizer que deveriamos, naanilise, mencionar as relagdes que a diferenga tem com Ae B, relagdes expressas por “é" e “de” quando dizemos “A é diferente de B”. Essas relagdes consistem no fato de que A é 0 referente ¢ B, 0 relatum no que diz respeito & diferenga. Mas “A, referente, diferenga, relatum, B” é ainda apenas uma lista de palavras ¢ nav uma proposigao. A proposisio, de fato, é essencial- mente uma unidade, ¢ quando a anilise destréi a unidade nenhuma enumeragao de seus constituintes pode restaurar a proposicao. O verbo, quando usado como verbo, encarna a unidade da proposicao e, portanto, é indistinguivel do verbo considerado como um termo, embora eu nao saiba como dar conta de modo preciso da natureza desta dis- tingio. Bertrand Russell, Principles of Mathematics, segao 54 Filosofia analitica 33 Todo problema filoséfico, quando submetido & andlise € justificagao necessérias, revela-se nao ser realmente um pro- blema filosdfico, ou ser, no sentido em que usamos a pala- vra, um problema légico. Bertrand Russell, Our Knowledge of the External World ‘Toda a minha tarefa consiste em explicar a natureza da proposigao. . Ludwig Wittgenstein, Cadernos 3.323.Na linguagem corrente, acontece com muita freqiién- cia que uma mesma palavra designe de maneiras diferentes — pertenca, pois, a simbolos diferentes — ou que duas palavras que designam de maneiras diferentes sejam empre- gadas, na proposigio, superficialmente do mesmo modo. Assim, a palavra “6” aparece como copula, como sina de igualdade e como expresso de existéncia; “existir” como verbo intransitivo, tanto quanto “ir”; “idéntico”, como ad- jetivo; falamos de algo, mas também de acontecer algo. (Na propasigéa “Rosa é rosa” — onde a primeira pa- lavra é nome de pessoa, a tiltima é um adjetivo — essas palavras nao tém simplesmente significados diferentes, mas sao stmbolos diferentes.) 3.324, Assim nascem facilmente as confusoes mais funda- mentais (de que toda a filosofia esté repleta). 3.325. Para evitar esses equivocos, devemos empregar uma notagao que os exclua, nao empregando o mesmo sinal em simbolos diferentes ¢ nao empregando superficialmente da Danilo Marcondes esma mancita sinais que designem de maneiras diferen tes, Uma not. gic », portanto, que obedega a gramitica h a sintaxe Logica. (A ideografia de Frege ¢ Russell é uma tal ntagio que sxcluir todos 0s errs.) Ludwig Witt nao chega, todavia, a nstein, Tractatus logico-philosophicus filo- Gradualmente tornou-se clare que em grande parte sofia pode ser reduzida a algo que podemos denominar “sintaxe® embora esta palavra deva ser usada em um sentido inais amplo do que o habitual, Algumas pessoas, notada- ‘mente Carnap, formularam a teoria de que todos os proble dade sintiticos e que, quando os mas filoséficos so na erros na sintaxe sao evitados, um problema filoséfico é deste modo ou resolvido ou revelado ser insoltivel. Creio que se trata de um exagero, mas nao pode haver diivida de que a utilidade da sintaxe filos6fica para os problemas tradicio- nais é muito grande Ilustrarei essa utilidade através de uma breve explica- sito da a: m chamada teoria das descrigdes. Por “descrigan” quero dizer uma expressio tal como “O atual presidente dos Estados Unidos’, em que uma pessoa ou coisa ¢ designada nao pelo nome, mas por alguma propriedade que se supe ow sabe ser peculiar a essa pessoa ou coisa. Tais expresses tem nos causado muitos problem: s. Suponhamos que eu diga “A montanha de ouro nao existe” e suponhamos que voces me perguntem “O que € que nao existe?” Se eu disser “fa montanha de ouro”, parece que eu estou atribuindo algum tipo de existéncia a isso, Obviamente nao estou Filosofia analitica 55 fazendo o mesmo tipo de afirmagao ao dizer “O quadrado redondo nao existe” Isso parece acarretar que a montanha de our € uma coisa ¢ 0 quadrado redondo outra, embora uma das duas exista, A teoria das descriges foi formu- lada pa fazer frente a dificuldades como esta ¢ outras. Bertrand Russell, Uma historia do pensamento ocidental Mas quando eu entendo uma proposigio? Quando sei a significado das palavras que ocorrem nela? [sso pode ser explicado por meio de definigdes. Mas nas definigoes novas palavras ocorrem, cujo significado preciso por sua ver saber. A tarefa de dar definigdes nao pode continuar indefinida- mente, eventualmente chegaremos entio a palavras cujo significado nao podera ser descrito em uma proposisio: deve ser indicado diretamente, o significado da palavra deve ser mostrado, deve ser dado. Isso ocorre através de um ato de apontar ou mostrar, € o que é mostrado deve ser dado, caso contrario nao pode ser apontado. Moritz Schlick, Positivismo e realismo Esté claro que, de modo a compreender uma definiga0 verbal, devemos saber de antemao o significado da palavra usada para explicar, e que a tinica explicagao que pode fancionar sem nenhum conhecimento prévio é a definisi0 ostensiva. Concluimos que nao hé nenhum meio de enten- der qualquer significado sem um recurso ern tiltima instan- cia a definigoes ostensivas e isso quer dizer, em um sentido Sbvio, recurso A experiéncia ou a verificagao possivel Moritz Schlick, Sentido e verificagao 56 Danilo Marcondes 0s problemas da filosofia, tais como usualmente os consi- deramos, sao de tipos muito diferente Do ponto de vista que estou assumindo aqui podemos distinguir principal mente trés tipos de problemas e doutrinas na filosofia tra dicional. Pata simplificar vamos denomit f-los metafisica, psicologia e légica, Ou melhor, nao hi tre regides distintas, ‘mas trés tipos de componentes que se encontram combina dos na maior parte das teses e quest0es; um componente metafisico, um psicoldgico € urn bogie. As consideragoes que se seguem pertencem 2 terceira regio: estamos aqui desenvolvendo uma anclise Iggica. A fungao da anilise logica éanalisar todo conhecimento, todas as afirmagdes da ciéncia e da vida cotidiana, de modo a tornar claro o sentido de cada uma dessas assersdes, assim como a conexio entre elas. Uma das principais tatefas da anilise l6gica de uma dada proposigio consiste em encon- traro método de verificacao para essa proposigao. A questao & que razdes pode haver para asserir essa proposi¢ao; ou, como podemos ter certeza de sua verdade ou falsidade? Essa questo ¢ denominada pelos filosofos de questa epistemo- Logica. A epistemologia ou teo to nao é nada além de uma parte especial da anilise légica, ‘usualmente combinada com algumas questées psicolégicas acerca do processo de conhecimento. Rudolf Carnap, Filosofia e sintaxe Iégica ia filos6fica do conhecimen- Houve uma moda, e talvez alguns tragos dela ainda perma- negam, que preferia dizer que fazer filosofia consiste em analisar significados ou em analisar 0 uso de certas expres- Filosofia analitiea, 57 se Na verdad, se levarmos em conta alguns petiddicos strangeiros, poder toa filos mos concluir que neste exato momen- ia inglesa € dominada pelo que algumas pessoas denominam de analistas ingiiisticos. A palavra“andlise” tem na realidade ecos de laboratério ou da Scotland Yard ¢ estabelece um bom contraste com expressdes tais como “especulagao”, “hipotese”, “construgio de sistema” ou até mesmo “pregagao” e “esctever poes " " Por outro lado, tra- ¢ de uma palavra que sob outros aspectos induz inevi- tavelmente ao erro. De um lado, sugere falsamente que qualquer tipo de esclarecimento detalhado de qualquer idéia complexa ou sutil constitui um trabalho filoséfico, como se um juizao explicar aos membros do juiriadiferenga entre homicidio e assassinato os estivesse ajudando a resol- ver uma perplexidade filoséfica, Além disso, e 0 que é pior, a palavra sugere que sob certo aspecto os problemas filos6- ficos so como problemas do quimico ou do detetive, isto é, como se esses problemas pudessem ¢ devessem ser tratados fragmentariamente. Condluir pela mana 0 problema A, arquivar sua solugdo e passar tarde para o problema B. Essa sugestao vai contra 0 fato vital de que os problemas filosé ficos estao inevitavelmente entrelagados das mais diferentes maneiras. Seria, ¢ claro, absurdo dizer a alguém que solu- cione pela manha o problema da natureza da verdade, arquive a sua resposta e passe a resolver & tarde o problema das relagdes entre nomear € dizer, deixando para o dia seguinte os problemas relativos aos conceitos de existéncia ¢ de ndo-existéncia. Creio que essa é a razao pela qual os filésofos neste momento esto muito mais inclinados @ aproximar a sua tarefa ado cartégrafo do quea do quimico Danilo Marcondes ou ado detetive.Saoas rel domésticado que pode ser dito que geram conf c exigem arbitragem logica, Gilbert Ryle, “Teoria da externas e nioa constituigio es légicas § 90. ... Nossa investigagao é, portanto, gramatical. Ee investiga 0 problema, afastando. mal-entendidos... que dizem respeito ao uso das palavras, 1 Langa luz sobre nos causadus dentie outias coisas por certas analogias entre as formas de expressio em diferentes dominios de nossa lin- guagem. Alguns desses mal-entendidos sao eliminados a0 se substituir uma forma de expresso por outra; podemos ie’, pois esse processo se parece com 0 chamar isso de “ani de decompor algo. § 91. Mas isso faz parecer que deveria haver algo como uma andlise final de nossas formas de linguagem, portanto uma iinica forma de expressao resultando desta decomposigio. Isto 6, como se nossas formas habituais de expressio fossem, essencialmente, ainda nao-analisadas, como se nelas hou- vesse algo oculto que deveria ser trazido a luz. Quando isso acontece a expressao torna-se esclarecida e nosso problema, resolvido. Isso pode ser dito também da seguinte forma: elimina- mos mal-entendidos ao tornar nossas expresses mais exa- tas, mas pode parecer agora que nos aproximamos de um determinado estado de exatidao completa, como se esse fosse o objetivo real de nossa investigagio. § 108. ... E ndo devemos construir nenhum tipo de teoria. Nao deve haver nada de hipotético em nossas consideragoes. Filosofia analitica 59 Devemos elimi por de: ar toda explicacao, substituindo-a apenas . E dessa descrigao deriva sua luz, isto é, seu Propésito, dos problemas filoséficos. Estes nao sio proble- mas empiricos, mas sio resolvidos ao se examinar o funcio namento de nossa linguagem e de modo a reconhecé-lo, apesar do impulso de entendé-lo mal. Os problemas nao sao resolvidos porque fornecemos mais informagoes, mas por uum novo modo de combinar 0 que sempre soubemos. A filosofia é uma luta contra 0 enteitigamento de nossa inte- ligéncia por meio da linguagem. § 122. Uma fonte principal de nossa ma compreensao ¢ que no temos uma visdo panormica (Ubersicht) de nosso uso das palavras, Falta a nossa gramatica esse carater. A repre- sentagao panorimica produz exatamente o tipo de com- preensiio que consiste em “perceber conexées” Daia impor- tancia de se encontrar ¢ inventar casos intermediarios, O conceito de visto panoramica é de importincia fun- damental para nés. Marca nossa forma de dar conta das, coisas, nosso modo de examiné-las. (Seria isso uma visio de mundo [Weltanschauuarg]?) § 126. A filosofia simplesmente coloca as coisas diante de nés, no explica nem deduz nada, uma vez que tudo se encontra a vista, no ha nada a explicar, pois © que esta ‘oculto no nos interessa.... Ludwig Wittgenstein, Investigagdes filoséficas Principais representantes da filosofia analitica (em ordem cronolégica) Gottlob Frege (1848-1925). Professor na Universidade de ena na Alemanha, revoluciona a l6gica, formulando as bases da l6gica matemitica contemporanea e defendendo o logicismo que se propde a fundamentar a matemitica (arit- meética ¢ geometria) na légica. Sua discussao sobre a natu- reza do significado abre o caminho para o desenvolvimento da filosofia da linguagem. Bertrand Russell (1872-1970). Professor em Cambridge, Russel, juntamente com G.E. Moore, rompe com o idealis- mo entio dominante no contexto ingles, publica com Alfred North Whitehead (1861-1947) 0s Principia mathematica (1910), revela um paradoxo na légica de Frege e desenvolve importantes discusses nos campos da teoria do significado, filosofia da ciéncia e filosofia da mente, tornando-se um dos fil6sofos de lingua inglesa mais influentes no século Xx. George Edward Moore (1873-1958). Professor em Cam- bridge, fi pioneiro, juntamente com Russell, no questiona- mento ao idealismo. Defendeu uma filosofia inspirada no empirismo inglés e voltada para o senso comum. Desenvol- 60 Filosofia analitica 6 veu o método analitico, sendo importante sua contribuigao a ética (Principia ethica, 1903), Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Nascido na Austria, es- tudou em Cambridge com Russell, sendo posteriormente professor nesta universidade, sucedendo Moore em sua citedra. No Tractatus logico-philosophicus (1921), um dos grandes clissicos da flosofia analitica, desenvolve uma série de reflexes sobre logica, ontologia e filosofia da linguagem, inspiradas no caminho aberto por Frege ¢ Russell. Poste- riormente, nas Investigagdes filoséficas, publicadas postuma- menteem 1953, desenvolve suas reflexdes sobre linguagem € 0 método filos6fico, numa linha bastante diferente, anali- sando a linguagem enquanto uso ¢ a filosofia enquanto método elucidativo. Circulo de Viena, Movimento filoséfico, também conhecido como positivismo légico ou empirismo légico, que se de- senvolveu na Austria entre 1920-1930, sob a lideranca prin- cipalmente de Moritz Schlick (1882-1936) e Rudolf Carnap (1891-1970). Os filésofos desse movimento preocuparam- se com 0 desenvolvimento dos fundamentos légicos das teorias cientificas, Desenvolveram, também, uma filosofia da linguagem que softe a influéncia de Frege e do Tractatus de Wittgenstein. Em 1936, devido a ascensio do nazismo, Carnap emigrou para os Estados Unidos, tornando-se pro- fessor na Universidade de Chicago e vindo a influenciar a formagao de uma filosofia norte-americana de inspiragao analitica. Na Inglaterra o principal representante desse mo- Danilo Marcondes vimento foi Alfred Jules Ayer (1910-1989), professor em Oxford, Escola de Oxford, Nome informal de um grupo de fil6sofos da Universidade de Oxford que desenvolveram, entre os anos 1930-1950, importantes trabalhos de anéllise da lin- guagem ordinaria, através de um método de esclarecimento do significado, rompendo com a perspectiva da anélise Jogica de Russell c do positivismo légico e aproximando se, sob varios aspectos, da filosofia da linguagem do “segundo” Wittgenstein. Gilbert Ryle (1900-1976) ¢ John Langshaw Austin (1911-1960) séo os principais representantes desse movimento, embora desenvolvendo cada um sua prépria orientagao. Referéncias e fontes « Areferéncia da pagina 9 €a Michael Dummett, The Origins of Analytic Philosophy (Cambridge, Harvard uP, 1993). So- brea relacao entre a filosofia analitica ea tradigio filosofica érelevante também a andlise de Ernst Tugendhat em Tradi- tional and Analytical Philosophy (Cambridge, Cambridge up, 1982). Na pagina 10-11, a citagao de Kant provém de sua Logica (Sao Paulo, Tempo Brasileiro, 1992). Na mesma pagina, a referencia a Alberto Coffa remete ao seu The Semantic ‘Tradition from Kant to Carnap (Cambridge, Cambridge uP, 1991). © A citagao de Bertrand Russell da pagina 12 esté em A filosofia de Leibniz; Uma exposigao critica (Sav Paulo, Com- panhia Editora Nacional, 1968, cap.lI, segao 7) + O termo “virada lingiistica’, utilizado na pagina 14, € empregado por Richard Rorty em The Linguistic Turn (Chi- ‘cago, Chicago UP, 1967). «A citagdo de C.H. Lanford da pagina 16 esté em Paul Arthur Schilpp (org.) The Philosophy of G.E. Moore (La 8 Danilo Marcondes Salle, Ilinois, Open Court, 1968). Encontra-se também nessa obra 0 artigo de Moore “Reply to my critics’, de cuja seca0 11 (p.666 ¢ 663) provém as citagées reproduzidas nas paginas 30-32 do presente livro. « Na pagina 18 hd referéncia a Michael Dummett, Frege: ‘The Philosophy of Language (Londres, Duckworth, 1973). = A referancia completa dos escritos péstumos de Frege citados na pagina 26 € Posthumous Writings (Oxford, Blackwell, 1979, p.253). * A citagdo de Bertrand Russell na pagina 30 vem de My Philosophical Development (Londres, George Allen & Un- win, 1959, p.54). + Austin apresenta sua concepgao do método de andlise da linguagem (p.35) em seu artigo “A plea for excuses”, Phi- losophical Papers (Oxford, Oxford UP, 1970, p.181-5). * © Tractatus logico-philosophicus de Wittgenstein teve mencionados seus aforismos 4.002, 4.003, 4.112 € 4.221. + Das Investigacdes filoséficas de Frege ver especialmente 03 95 7, 38, 89, 90, 109, 132, 133 e 309, além dos indicados a0 longo deste livro. + Na segio “selegdo de textos’, as trés primeiras citagdes sao tradugdes do autor. O Tractatus logico-philosophicus € Filosofia analitica 65 citado em tradugao publicada pela Edusp em 1993 ¢ as Investigagdes filosdficas, a partir da edigao de 1953 da co- legao Os pensadores, Moritz Schlick, Rudolf Carnap e Gil- bert Ryle também slo citados segundo a colegio Os pen- sadores, sendo que no caso dos dois tiltimos as tradugdes tiveram modificagées feitas pelo autor. Uina histéria do pensamento ocidental citado conforme a tradugio da Com- panhia Editora Nacional, de 1945. Leituras recomendadas + Sclegao de textos de obras de Bertrand Russell (“Da deno- tacdo”,“A filosofia do atomismo l6gico”), G.E. Moore (Prin- cipios éticos, “O significado do “real”, G. Prege (Conceito- grafia, Fundamentos da aritmeética), L. Wittgenstein (Jnves- tigagoes filosdficas), M. Schlick ("“Sentido e verificagao”), R. Carnap (“Significado sinonfmia nas linguagens natu rais”), G. Ryle (“Expressdes sistematicamente enganadoras’, “Linguagem ordinéria”), J.L. Austin (“Outras mentes”) e WN.O. Quine (Relatividade ontolégica e outros ensaios) em Os pensadores (Sao Paulo, Abril, varias edigoes), contendo alguns dos principais textos ckissicos discutidos no presente livro. © Maria Cecilia M. de Carvalho (org.) A filosofia analitica no Brasil (Campinas, Papirus, 1995). Artigos de autores brasileiros representativos do pensamento analftico em nosso contexto, * Cléudio Costa, Filosofia da linguagem (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002). Introdugao a filosofia da linguagem de tradigao analitica. © G. Frege, Légica e filosofia da linguagemt (Sao Paulo, Cul- trix, 2002, trad. e org. Paulo Alcoforado). Coletanea de 66 Filosofia analitica 67 alguns dos principais artigos de Frege, incluindo “Sobre 0 sentido e a referencia”, —, Investigagdes légicas, (Porto Alegre, Edipucrs, 2002, trad. ¢ org. Paulo Alcoforado). Coletanea de artigos de Frege, incluindo “O pensamento: Uma investigagao légica’ © Paulo Margutti (org,), Filosofia analitica, pragmatismo e ciéncia (Belo Horizonte, UPMG, 1998). Coletanea de textos sobre questdes de filosofia da linguagem ¢ filosofia da cien- cia na perspectiva analitica. # John R. Searle, Mente, linguagem e sociedade (Rio de Janeiro, Rocco, 2000). Introdugdo as principais idéias do autor sobre filosofia da linguagem e filosofia da mente. « Paul Strathern, Russell em 90 minutos (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000). ——, Wittgenstein em 90 minutos (Rio de Janeiro, Jorge Zabar, 2000). @ Ernst Tugendhat e Ursula Wolf, Propedéutica légico- seméntica (Petrépolis, Vozes, 1997). Introdugao a questoes centrais da filosofia da l6gica e da linguagem. # Ludwig Wittgenstein, Tractatus logico-philosophicus (S40 Paulo, Edusp, 1993, trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos). Contém uma excelente introdugdo a primeira fase do pen- samento de Wittgenstein. Sobre o autor Danilo Marcondes de Souza Filho, nascido no Rio de Jani ro em 1953, é professor titular de filosofia da Pontific Universidade Catolica do Rio de Janeiro (PUC-RI) € profes- sor adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UPF). Doutor em filosofia pela Univer- sity of Saint Andrews, na Gra-Bretanha, dedica-sea pesquisa em filosofia da linguagem, sobretudo a pragmatica, ¢ a0 estudo do ceticismo antigo, moderno ¢ contemporaneo. f autor de varios livros e artigos sobre esses temas, incluindo Language and Action (John Benjamins, 1984), Filosofia, lin- ‘guagem: e comunicagio (Corter, 4%ed., 2001), Diciondrio ba- sico de filosofia (Jorge Zahar, 92ed.,2001), Iniciagae a histéria da filosofia (Jorge Zahar, 8%ed., 2004) ¢ Textos basicos de filosofia (Jorge Zahar, 3ed., 2003). 68 Colecao PASSO-A-PASSO Volumes recentes: CIENCIAS Socials PASSO-A-PASSO cultura ¢ empresas {10}, Livia Barbosa Relagées internacionais [11], Williams Gongalves Rituais ontem e hoje [24], Mariza Peirano Capital social (25), Maria Celina D’Araujo Hicrarquia @ individualismo [26], Piero de Camargo Leirner Sociologia do trabalho [33], José Ricardo Ramalho e Marco Aurélio Santana © negécio do social [40], Joana Garcia Origens da linguagem [41], Bruna Franchetto e Yonne Leite FiLosorta PAss0-A-PASSO ‘Adorno & a arte contemporanea [171], Verlsine Freitas Rawls [18], Nythamar de Oliveira Freud & a filosofia [27], Joc! 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Urania Tourinho Peres A neurose obsessiva [23], Maria Anita Carneiro Ribeiro ito e psicandlise [36], ‘Ana Vicentini de Azevedo 0 adolescante ¢ o Outro [37]. Sonia Alberti A teoria do amor (381, "Nadia P,Ferseira

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