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UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES a. O Objetive da Organizagao ‘Visto que a maioria das ages (mas de forma alguma todas) praticadas por um grupo de indivfduos on em nome dele se dio através de uma organizacio, sera proveitoso analisar as organizagdes de uma maneira genérica ou tedrica! © ponto Iégico para iniciar qualquer estudo sistemitico sobre organizagdes é 0 seu propésito. Mas existem organizagées de todos 0s tipos, formas e tamanhos, mesmo em se tratando de organizagbes econdmicas, ¢ hé ainda a divida sobre se haveria algum propésito simples que poderia ser considerado caracterfstico de todas as organizagdes em geral. No obstante, um propésito que de fato é ca~ 1. Os cconomistas téim em sua maior parte negligenciado a elaboragio de tcorias das organizagoes. mas hha algumas obras que abordam assunto sob uma dtica econdmica. Ver, por exemplo, trés ensaios de Jacob Marschak, “Elements for a Theory of Teams". Management Selenice, 1, jan. 1955, pp. 127-137: “Towards an Economie Theory of Organization and information’, em R. M. Thrall, C. H. Combs & R L. Davis, Decision Processes, New York, Johm Wiley, 1954, pp. 187-220. e “Efficient and Viable ‘Grganization Forms”, em Mason Haire, Modern Organization Theory, New York, Sohn Wiley. 1959. pp. 307-320, Dois ensaios de R. Radner, “Application of Linear Pogramming to Team Decision Problems". Management Seience. V. jan. 1959, pp. 143-150, ¢ “Team Decision Problems". Annals of Mathematical Statistce, XXXII set. 1962, pp. 857-881. De C. B. MeGuire, “Some Team Models of a Sales Organization”, Management Seience, VII, jan. 1961. pp. 101-130. De Oskar Morgenster, Prolegomena toa Theory of Organization, Santa Monica, Calif, RAND Research Memorandum 734, 1951. De James: G. March & Herbert A. Simon, Organisations, New York, Joha Wiley, 1958: e de Kenneth Boulding, ‘The Organizational Revolution, New York, Harper, 1953. 7 LOGICA DAAGHO COLETIVA racterfstico da maioria das organizagSes, e com certeza de praticumente todas as organizagGes com um importante aspecto econdmico, € a promogao dos inte- fesses de scus membros. isso deve parecer Sbvio, ao menos da perspectiva do economista. Sem divida, algumas organizagSes podem, por ignoriincia, fracas- sar na promogiio dos interesses de seus membros, e outras podem ser tentadas servir somente aos interesses de sua lideranga’, Mas as organizagGes frequente- mente perecem quando nao fazem nada para promover os interesses de seus membros, e esse fator pode reduzir severamente 0 niimero de organizag&es que nal servem aos seus membros. {A idéia de que as organizagdes ou associagdes existem para promover os in- teresses de seus membros esti longe de ser uma novidade ou de ser uma nogio peculiar da teoria econdmica. Remete aos tempos de Arist6teles, que escreveu: “Os homens cumprem sua jornada unidos tendo em vista uma vantagemt particular © como meio de prover alguma coisa particular necessaria aos propésitos da vida; de maneira semelhante, a associagio politica parece ter-se constitufdo original- mente, e continuado a existir, pelas vantagens gerais que traz™. Mais recentemen- te o professor Leon Festinger, psic6logo social, assinalou que “a atragZo que exer- ce a afiliagRo a um grupo nfo é tanto pela sensagio de pertencer, mas mais pela possibilidade de conseguir algo através desse pertencer™. No final de sua carrei- ra, Harold Laski, cientista politico, considerava ponto pa ico que as “associa- oes existem para realizar propésitos que um grupo de pessoas tém em comum"™. © tipo de organizagdes focalizado neste estudo é aquele que supostamen- te promove os interesses de seus membros*, Dos sindicatos se espera que lutem 2. Max Weber chamou & atenglo para o caso em que uma organizaeio continua a exist durante algum tempo apds ter perdido tua razdo de ser apenas porque algum funciondvio esté vivendo as custas dela, Nera sun Theory of Social and Economic Organization, tad. de Talcott Parsons & A. M. Henderson, New York. Oxford University Press, 1947, p. 318. 23. Eien vit9.11 60a, ‘4. Leon Festinger, “Group Attraction and Membership", ein Dorwin Cart Dynamics, Evanston, lL, Row, Peterson, 1953, p. 93. ‘A Grammar af Politics, 4, ¢4, London, George Allen & Unwin, 1939, p. 67. ‘De orpanizagaes filantropicas e religiosaa no se espera necessariamente que sirvam somente aos inte resses de seus membros, ais organizagdes tém outros propsatlos considesados mais importantes, inde= Dpendente do quanto seus membros “precisem” pertencer ou se sintam melhorados ou avxiliados pelo {Tato de pertencer. Mas a complexidade de tals organizagBes nfo precisa ser debatida extensamente aqui, porque este estudo se concentrard em organizagoes com um significativo componente evondmico. O Foco deste trabalho recaird sobre algo parecido a0 que Max Weber chamava de “grupo associative": ‘Weber classifica um grupo de “associativo” se “a orientagaa de sua agto social funda-se sobre urn acon Go racionalimente motivado", Ele contrastow seu “grupe associativo” com 6 "grupo comunal”, fundado Sobre afvtos pessoais, elacionamentosexéticos ete. como a familia (Vor Max Weber, pp. 136-139. ¢ Grace Coyle, Sovial Process in Organized Groups, New York, Richard Smith, Ine. 1930, pp. 7-9). A lgiea da teoria aqui desenvolvida pode ser estendida a organizagoes comuais, religiosas e filantrSpi- ight & Alvin Zander, Group 8 Usta TEDREA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORTANTZACOES por saldrios mais altos ¢ melhores condigées de trabalho-para seus afiliados; das organizagSes rurais.espera-se que lutem por uma legislagao favardvel a seus membros; dos cartéis espera-se que lutem por pregos mais altos para as empre- sas integrantes; das companhias espera-se que defendam os interesses de seus acionistas?; € do Estado espera-se que promova os interesses comuns de seus cidadaos (embora nesta nossa era nacionalista o Estado frequentemente tenha imteresses © ambigics distanciadas das de scus cidadios). E importante notar que os interesses que todos esses tipos de organizagSes supostamente devem promover sSio em sua maioria interesses eoynuns: 0 intéresse comum dos membros de um sindicata por salarios mars altos, 0 interesse comum os produtores rarais por legislagdes mais favordveis. o interesse comum dos membros de um cartel por pregos mais altos. 0 interesse comum dos ucionistas por dividendos mais altos € agdes valorizadas, 0 interesse comum dos cidadaos por um bom governo. Nao é ama casuafidade que de todos os tipos de organiza {:0es listadas acima espere-se que trabalhem pelo interesse comum de seus mem- bros. Interesses puramente pessoais ou individuais podem ser defendicos, e em geral com muita eficiéncia, por agdes individuais independentes. Nao ha obvia- mente nenhum sentido em formar uma organizacHo quando wma agio individeal independente pode servir aos interesses lo individuo tio bem ou melhor do que ama organizagao. Nao teria nenhum cabimento, por exemplo, constituir uma orpanizagio simplesmente para jogar paciéncia. Mas qnando um certo niimero de individuos tem um interesse comum ou coletivo — quando eles eompartitham um simples propésito ou objetivo — a a¢do individual imdependente (como logo veremos) ou n&o ter condigSes de promover esse interesse comum de forma alguma, ou nao sera capaz dé promové-lo adequadamente. As organizagoes po- dem portanto desempenhar uma fungo: importante quando ha interesses cormuns ‘0u grupais a serem defendidos e, embora elas freqllentemente também sirvam a interesses puramente pessoais e individuals, sua fungdo ¢ caracteristica bésica é Sua faculdade de promover imteresses comuns de grupos de individuos. A premussa de que as organizagGes existem tipieamente para promover os interesses comuns de grupos de individuos esté implicita na maior parte da lite: ‘eas: mas ela nBo€ particularmente Util no estado de grupos desse-upo, Ver p. 73; nots 17 pp. 14176 {0 presente ltvro. 7 Isiné. seus membros. Fste eatndo nha segue uso terminalis dos teéripos que descrevest empregi- dos como “membros” da compankia para a qual tabalham. Aqui € mais convenicnte adotar, em ve2 ‘Gaguets,.a lnguagem coudiana ¢ aistiaguir os membros de um sitaicato, por exempio, dos empress dor desse-sindicalo. Similarmente, o¢ membros de-um:sindicaro sero considerados empregados. da ‘sompanhia, para a qual irabatham, a0 passo que os membros dessa-eormpanhia slo seus acionistas. w A LOGICA DA AGAO COLETIVA ratura sobre organizagées, ¢ dois dos autores jé citados fazem essa pressuposi- go explicitamente: Harold Laski enfatizou que as organizagGes existem para atingir propésitos ou interesses que “um grupo de homens tem em comum”, & ao que tudo indica Aristételes tinha uma idéia similar em mente quando afirmou que as associagdes politicas s4o criadas e mantidas por causa das “vantagens ge- rais” que trazem. R. M. Maclver também asseverou essa idéia explicitamente ao dizer que “toda organizagao pressupée um interesse que todos os seus membros partilham”*. Mesmo quando grupos nao constitufdos em organizagiio s&o discutidos, a0 menos em tratados sobre “grupos de pressio” e “teoria dos grupos ‘sociais”, a palavra “grupo” € usada de uma mancira que denota “um ndmeto de individuos com um interesse comum”. Obviamente seria razoavel rotular como “grupo” até mesmo um grupo de pessoas selecionadas aleatoriamente (e, portanto, sem ne~ nhum interesse comum nem nenhuma caracterfstica unificadora), mas a maio- tia das discussdes a respeito de comportamento grupal parece lidar principalmen- te com grupos que tém interesses comuns. Como diz Arthur Bentley, 0 fundador da “teoria dos grupos sociais” da ciéncia politica moderna, “niio existe grupo sem seu interesse”’. O psicélogo social Raymond Cattell foi igualmente explicito e proclamou que “todo grupo tem seu interesse’'?, E também nessa acepgfio que a palavra grupo sera usada aqui Assim como se pode supor que os individuos que pertencem a uma orga- nizag3o ou grupo tém um interesse comum", eles também tém interesses pura- mente individuais, diferentes dos interesses dos outros membros do mesmo grupo ou organizagao, Todos os membros de um sindicato, por exemplo, tém um inte- 8. RUM. Maclver, “Interests”, Encyclopaedia of the Social Sciences, VM, New York, Macmillan, 1932, p. 147. 9. Arthur Bentley, The Process of Government, Evanston, U.. Principia Press, 1949, p. 211. David B. ‘Truman adota uma abordagem semelhante: ver sea The Governmeial Process, New York, Alfred A. Knopf, 1958, pp. 33-35. Ver também Sidney Verba, Small Groups and Political Behavior, Princeton, N.L., Princeton University Press, 1961, pp. 12-13. 10. Raymond Catten,, “Concepts and Methods in the Measurement of Group Syntality", em A. Paul Hare, Bdgard F. Borgatia & Robert F Bales, Small Groups, New York, Alfred A. Knopf, 1955, p. 115 11. Belaro que qualquer grupo ou organizagio estaré usudlmente dividide em subgrupos ou facgSes an- lagonicas. Esse fato nao debilita a pressuposigao feita aqui de que as organizagoes existem para servir 08 interesses comuns de seus membros, porque essa pressuposi¢ao nao implica que os conflitos in- ternos do grupo estejam sendo desprezados. Os subgrupos antagonicos dentro de uma organizaga usualmente partitham algum interesse comum (senio, por que manteriam a organizagio?), ao mesmo tempo que cada subgrupo ou facgio também tem um interesse comam independante ¢ s6 seu. Alids, esses subgrupos com frequéncia terdo 0 interesse comum de derrotar algum outro subgrupo. Portan- to, a abordagem utilizada aqui nio despreza o conflito dentzo de grupos € organizagdes porque consi- dera cada organizagio como uma unidade somente até 0 ponto em que ela de fato tenta servir a um interesse comum, e considera as varias faccOes oponentes para analisar 0 vigoroso antagonismo entre elas, como unidades. 20 ‘ALOGICA DA ACHO COLETIVA a maximizagao dos lucros das empresas em um setor industrial perfeitamente competitivo pode agir contrariamente aos interesses delas como grupo € hoje perfeitamente compreendido e aceito"”. Um grupo de empresas ansiosas por uma ‘maximizagio de seus lucros pode acabar agindo para reduzir seus luetos globais porque em um quadro de competicio perfeita cada empresa €, por definigao, tio pequena que pode ignorar 0 efeito de sua produgio sobre o prego, Cada empresa consideraré vantajoso para si aumentar sua produglo até o ponto em que 0s cus- tos minimos de produgio igualem o prego, ignorando os efeitos de sua producdo excedente sobre a posico de seu setor industrial como um todo. £ verdade que 0 resultado final € que todas as empresas ficam em piorsituagdo, mas isso nao sig- nifica que elas nao tenham maximnizado seus lucros. Se uma empresa, antevendo a queda de pregos resultante do aumento da produgdo de seu setor industrial, res- ttingisse sua prépria produgdo, ela perderia mais do que nunca, porque seu prego cairia de qualquer maneira e ainda por cima ela teria uma produgdo menor para vender. Em um mercado perfeitamente competitivo essa empresa ficaria apenas com uma pequena parte dos beneficios (ou da receita extra) obtidos pelo setor industrial gragas & sua atitude individual de conter 2 producto. Por essas razées € hoje de compreensio geral que, se as empresas de um determinado setor industrial est3o maximizando lucros, os Iucros desse setor ‘como um todo serio menores do que seriam sem essa maximizagio'*. E quase todo mundo concordard em que essa conclusdo teérica bate com 0s fatos em mer- cados caracterizados por competig&o pura. O ponto importante aqui € que isso € verdade porque, embora todas as empresas tenham um interesse comum em pregos mais altos para o produto do seu setor industrial, é do interesse indivi- dual de cada uma delas que as outras paguem o custo (a indispensdvel reduglo da produgio) necessério para obter precos mais altos. Praticamente a tinica coisa que pode impedir os pregos de cafrem de acor- do com o processo acima deserito em mercados perfeitamente compettivos se- ria a intervengdo externa. Pregos subsidiados pelo governo, tarifas, acordos de cartel e coisas semelhantes podem proteger a8 empresas em um mercado com- petitivo de agirem contra seus prOprios interesses. Tal ajuda ou intervencao € bastante comum. E, portanto, importante perguntar como ela se dé. Como um 13, Bdvard H, Chamberlin, Mongpolstic Compettion, .e, Cambridge, Harvard University Press, 1950, pa 14, Para wma discussio mais comple sabe esa questo, yer Mancur Olson Jr. & David MeFartand, "The Restoration of Pure Monopoly and the Concept of the Industry”, Quarterty Journal of Economics, LXV, nov. 1962, pp. 613-631 ‘UMA TEORI6 DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES setor industrial competitivo obtém assisténcia do governo para manter o prego de seu produto? Considere-se um setor industrial hipotético, competitivo, e suponha-se que 4 maioria dos produtores desse setor industrial deseje uma tarifa especial, um programa de proteyao de pregos ou alguma outra intervengio governamental para ‘aumentar o prego de seu produto, Para obter essa assisténcia do governo, os pro- dutores desse setor industrial presumivelmente terdo de constituir um lobby: te~ Flo de se tornar um grupo de pressao ativo’. Esse lobby poders ter de levar a cabo uma considerdvel campanita, Se for encontrada uma resistencia significa- tiva, grandes quantidades de dinheiro sertio neceésérias"*. Os especialistas em 1e- lagbes puiblicas terdo de influenciar os jomais, e pode ser preciso fazer alguma Propaganda, Provavelmente serd necessério contratar organizadores profissionais Para armar “manifestagSes populares espontincas” envolvendo os angustiados Produtores do setor industrial em questio ¢ fazer esses produtores escreverem cartas a seus congressistas". Essa campanha pela assist@ncia governamental to- mard tempo de alguns produtores do setor industrial — e dinheiro, 6 um notével paralelo entre o problema que o setor industrial perfeitamen- {e competitivo enfrenta quando luta para obter assisténcia do governo e 0 pro- blema que ele enfrenta no mercado quando as empresas incrementam sua pro- dugdo e ocasionam quedas de pregos. Assim como ndo pareceria racional para um determinado produtor restringir sua produgio a fim de talvez obter um pre- $0 mais alto para 0 produto de seu setor industrial. ndo the pareceria racional sacrificar seu tempo e dinheiro para dar suporte a um lobby que luta pela as- sisténcia do governo a esse mesmo setor industrial. Em nenhwum dos dois casos seria do interesse do produtor assumir individualmente nenkum dos custos, Um lobby, ow mesmo uma organizacdo sindical ou qualquer outra que trabalhe pe- los interesses de um grande grupo de empresas ou trabathadores de um deter- 15. Robert Michels susteta em seu clsscoestudo quo “a democraia €inconeeve sm nganizaybes" ‘ que“ principio de‘rganizagao € uma condgao absoltaments essencal para alas pln das ‘massa Neo seu Politica! Puts, rad igl. Eden & Cedar Paul, New Yor, Dover Pblizaios, 1959, Pp. 21-22, Vertambém Robert A. Brady, Businer asa System of Power, New Yor, Columbia Univer. sy Press, 1983. 193, 16, Alexander Head, The Costs of Democracy, Chape il University of North Carolina Pets, 1960,espe- “Cos o advento da itervengto do conole politicos, prticularmente sobre 3 economia, oraQu se ‘ridente que a elaboragfo de politeas goversamestaisnio podsria fiar cofinada 3s urna ou & ‘ecislatura, Pas preencher a lcuna grupo volt foi estado no soment pela ind, gue 5 sentia sorino, como também pelo governo, que se seta ignore” ALOGICA DAAGHO COLETHNA elas se deve a um “instinto” de pertencer, pois isso oferece apenas uma pala- vyra, ¢ no uma explicagio. Qualquer ago humana pode ser imputada @ um ins- tinto ou propensio, mas isso nao acrescenta nada ao nosso conhecimento. Se a tese dos instintos ou propensées para formar grupos ¢ se unir a eles for descar- tada, entio qual poderia Ser a causa original dos onipresentes grupos e associa~ 4gBes, grandes e pequenos, segundo a teoria tradicional? Provavelmente alguns te6ricos tradicionais raciocinaram em termos “funcionais” ~ ou seja, do ponto de vista das fungdes que os grupos ou associagbes de diferentes tipos e tama- thos podem desempenhar. Nas sociedades primitivas, os pequenos grupos pri- mérios prevaleceram porque eram mais adequados (ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas fungdes para 0 povo dessas sociedades. Nas socieda- des modemnas. em contraste, presume-se que predominem as grandes associa- {g0es porque na conjuntura moderna s6 elas so capazes de desempenhar (ou S40 mais aptas a desempenhar) certas fungGes titeis ao povo dessas sociedades. A existéncia da grande associagio voluntéria, por exemplo, poderia entio ser explicada pelo fato de que cla desempenha uma determinada fungao — isto é, satisfaz a uma demanda, alcanga um objetivo ou vai 20 encontro de uma neces- sidade ~ para um grande néimero de pessoas que os pequenos grupos no pode- iam desempenhar (ou nfo poderiam desempenhar tio bem) nessa conjuntura ‘moderna. Essa necessidade ou objetivo G0 da associacto voluntéria, E caracteristico da teoria tradicional, em todas as suas formas, que ela pre- suma que a participagao nas associagdes voluntirias € virtualmente universal ¢ que os pequenos grupos ¢ as grandes organizagdes tendem a atrait membros pe- las mesmas razées. A variante informal da teoria tradicional pressupunha uma propensio a pertencer a grupos sem tragar nenhuma distingdo entre grupos de diferentes tamanhos. Embora a variante mais sofisticada da teoria tenha o méri- to de tragar uma distingao entre as Fungies que podem ser mais bem cumpridas por pequenos grupos € as que podem ser mais bem cumpridas por grandes ass0- ciagdes, ela pressupde contudo que, quando, houver necessidade de uma grande associagio, uma grande associagio provavelmente emergird atrairé membros, , da mesma forma, um pequeno grupo emergiré quando houver necessidade de im incentivo & formagio € manuten- um pequeno grupo. Portanto, ainda que a teoria tradicional trace alguma distin- do entre grupos pequenos ¢ grandes, aparentemente ela o faz tendo em vista a escala das fungdes que eles desempenham, e nfo a extensfo do éxito que eles teriam ao desempenhar essas fung6es ou sua capacidade de atrair membros. Ela parte do prinefpio de que os grupos pequenos e grandes diferem em grau, mas no em tipo. 2 LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS F DAS ORGANIZACOES Mas seré isso verdadeiro? Seré que grupos pequenos, primérios, ¢ grandes associagdes atraem membros da mesma forma, sera que t&m praticamente 0 mes- ‘mo nivel de eficiéncia no desempenho de suas fungies e diferem somente em tamanho, mas nfo em sua natureza essencial” Essa teoria tradicional € coloca- da em divida pela pesquisa empfrica, que mostra que, tipicamente, o hamem mé- dio na verdade ndo pertence a grandes associagdes voluntérias © que a alegacio de que 0 norte-americano tipico € um “grupista” é em grande parte um. mito” Portanto, pode valer a pena perguntar se é realmente certo que néo hé nenhuma relagdo entre o tamanho de um grupo e sua congruéncia, ou sua eficiéneia, ou seu apelo para potenciais membros, e se no haveria alguma relagao entre 0 ta- ‘manho do grupo c os incentivos individuais para contribuir na consecucao de metas grupais. Para que a teoria dos grupos sociais tradicional possa ser adequa- damente avaliada, hé algumas quest8es que tém de ser respondidas. E preciso saber, nas palavras do sociélogo alemao Georg Simmel, “qual o comportamen- to que 0 conjunto dos afiliados tem sob a forma de vida social”™. ‘Um obstdculo evidente a qualquer argumentagao que sustente que grupos grandes e pequenos operam com base em principios fundamentalmente diferen- tes € 0 fato, jf enfatizado antes, de que qualquer grupo ou organizagio, grande ‘ou pequeno, trabalha por algum benefieio coletivo que por sua prépria natureza favorecerd a todos os membros do grupo em questiio. Embora todos os mem- bros do grupo tenham consequentemente um interesse comum em alcangar esse beneficio coletivo, eles ndo t&m nenhum interesse comum no que toca a pagar o custo do provimento desse beneficio coletivo. Cada membro preferitia que os ‘outros pagassem todo o custo sozinhos, e por via de regra desfrutariam de qual- ‘quer vantagem provida quer tivessem ou no arcado com uma parte do custo. Se essa é uma caracterfstica fundamental de todos os grupos ou organizacdes com objetivos econdmicos, pareceria improvével que as grandes organizagdes fossem muito diferentes das pequenas ¢ que houvesse alguma razdo para que tum servigo coletivo fosse proporcionado mais facilmente a um grupo pequeno do que a um grande. Mesmo assim, nfo hé como evitar a sensagio intuitiva de “36 Muray Haushnecht, The Jiners—A Seeological Desririon of Voluntary Assoriaion Membership in “he United Sates, New York, Bedminster Pes, 1962; Mira Komaravsk, "The Voluntary Assxiations ‘FUsban Dwele", American Sociological Review, XI, dex. 146, pp 686-698; ley Dotson, “Pater ‘e oluniary Membership Among Working Class Families" American Sociological Review, XVI, ou 8S, p. GET, John C, Set Jr, "Membership and Pariciaton in Voluntary Associations", Anericon Sccitosirat Review, XX, jun. 1957, p. 315. ‘Geez Simmel, The Silo of Georg Sinoel tra am, Kurt H. Wolf Glencoe, I, Free Pres, 1950, an. B ‘A LOGICA DA AGAO COLETIVA que algumas vezes grupos adequadamente pequenos se provéem de beneficios pilblicos. Essa questio nao pode ser respondida satisfatoriamente ser um estudo dos ‘custos ¢ beneficios dos cursos de aco alternativos disponiveis para os membros de grupos de diferentes tamanhos. A préxima parte deste capitulo, “Grupos Pe- uenos”, desenvolve esse estudo. Por sua natureza, essa questi exige a utiliza- io de algumas ferramentas da andlise econOmica. A préxima parte contém uma pequena dose de matematica que, embora extremamente rudimentar, naturalmen- tc poderd parecer obscura a leitores que nunca estudaram 0 assunto. Além dis- 0, alguns pontos referem-se a grupos de mercado oligopolistas, e essas referén- clas a oligop6lios provavelmente s6 interessardio 20s economistas. Portanto, para proveito daqueles que quiserem pular 0 grosso da préxima parte, os pontos mais importantes da mesma serio explicados de maneira plausfvel ¢ compreensfvel intuitivamente, embora algo vaga ¢ imprecisa, no “Sumario Nao-técnico” 4. Grupos Pequenos A dificuldade de analisar a relagdo entre 0 tamanho do grupo e o compor- tamento do individuo no grupo se deve em parte ao fato de que cada individuo ‘em um determinado grupo pode conferir um valor diferente ao beneficio piibli- €0 almejado por seu grupo. Além disso, cada grupo interessado em um bene! cio piblico enfrenta uma fungiio-custo distinta. Um ponto que permanecers vé- ido em todos 0s casos. contudo. é que a funcdo custo total sera ascendente, pois ‘08 beneficios coletivos sio com ccrteza parecidos com os beneficios nao-coleti- Yos na peculiaridade de que quanto mais se obtiver do beneficio, mais altos se~ Fo 08 custos totais. Sem dvida serd também verdadeiro em virtualmente todos 08 casos que haveréi custos iniciais ou fixos significativos. Algumas vezes, um ‘grupo tem de constituir uma organizagdo formal para poder lutar pela obten¢so de um beneficio coletivo, ¢ 0 custo de montar uma organizagdo implica que a Primeira unidade do beneficio coletivo obtido seré relativamente alto. Mesmo quando nenhuma organizagio ou coordenagao € necesséria, a morosidade ou Sutras caracteristicas técnicas dos beneficios pablicos em si garantirio que a primeira unidade de um beneficio coletivo seja desproporcionalmente cara. Qual- quer organizagito logo descobrird também que, 3 medida que sua demanda pelo beneficio cresce além de um certo ponto e comega a ser considerada “excessi- va", a resisténcia e conseqtientemente o custo de unidades adicionais do benefi- cio coletivo sobem desproporcionalmente. Em poucas palavras, 0 custo (C) ser LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORCANIZAGOES uma funglo da taxa ou nivel (T) de obtengio do beneficio coletive (C = fiT)), © as curvas de custo médio tera a forma convencional de U. ‘Um ponto fica imediatamente ébvio. Se uma determinada quantidade de um beneficio coletivo puder ser obtida a um custo suficientemente baixo com rela- ‘do as vantagens que traré, a ponto de uma pessoa sozinha do grupo em ques- to sair ganhando, mesmo que tenha de arcar sozinha com esse custo, ento hé uma boa probabilidade de que o beneficio coletivo seja proporcionado. Isso sig- nificaria que o ganho total seria tio grande com relago ao custo total que a fra- gio de um tnico individuo na parttha 0 beneficio coletivo jé superaria 0 custo {otal de sua obtengio. Cada individuo obteré uma determinada frago do ganho total do grupo, parte essa que dependerd do nimero de integrantes do grupo e do quanto o in- dividuo ser favorecido com esse beneficio em relago aos outros membros do zgrupo. O ganho total do grupo dependeré da taxa ou nivel de abtengio do bene- ficio coletivo (T) e do “tamanho” do grupo (5), sendo que o “tamanho” depen- de no somente do niimero de individuos do grupo mas também do valor que uma unidade do beneficio coletivo tem para cada individuo no grupo. Isso poderia ser ilustrado com muita simplicidade tomando-se como exemplo hipotético um grupo de proprietirios de iméveis fazendo lobby para conseguir uma redugto nos im- postos imobilidrios. © ganho total do grupo dependeria do “tamanho” (S,) do -Brupo, isto é, do valor total estimado de todas as propriedades dos membros do {grupo juntas, e da taxa ou nivel (7) de redugo do imposto obtida para cada d6- lar da quantia total definida na estimativa do valor total das propriedades. O ganho individual para cada membro do grupo dependeria da “fragao” (F;) que Ihe caberia do ganho total do grupo (© ganho do grupo (S,7) também pode ser chamado de V, ~ valor para o erupo ~ e 0 ganho para o individuo de V, — valor para o individuo. A “fragao” (F,) seria entdo igual a Vi/V,, € 0 ganho para o individuo seria FS,7. A vanta- gem (A,) que qualquer individuo i teria obtendo qualquer quantidade do bene! cio coletivo ou grupal seria 0 ganho do individuo menos o custo (C). O que o grupo far dependers do que os individuos desse grupo fizerem, € © que 0s individuos fargo dependerd das vantagens relativas que thes oferece- slo os cursos de ago alterativos. Portanto, o primeiro passo, agora que as va- iantes pertinentes foram isoladas, € considerat o ganho ou a perda individual com a aquisigdo de quantidades diferentes do beneficio coletivo. Isso depende- #4 da maneira como a vantagem do individuo (A, = V; -C) mudard conforme as sadangas em T, isto é, em: as ALODICA Da ACKO COLETIVA dA,/aT = dV fa — ACHAT. Pata um maximo, d4,/dT = 0". 34 que V, constantes pressupostas*, FST.€ F,€ 5,80, de momento, AEST yAT - aCHaT = 0 FS, - dClaT = 0. sso mostra quantidade do beneficio coletivo que um individuo, agindo independentemente, adquirria, se conseguisse adquiriralguma quantidade. Esse ‘esultado pode ter um significado geral, de senso comum. Desde que 0 nivel 6t. ‘mo de obtencio do beneficio seja atingido quando dA,/aT = dV fa - dCvaT = 0 © desde que dV,/aT = F(dv,/aT) F{dV,faT) - dC/aT = 0 FAV JdT) = dCHaT. "sso significa que a quantidade tma de um beneficio coletivo a ser obtida por Lim individu, se ele conseguir obter alguma quantidade, ¢atingida quando a taxa de ganho do grupo multiplicada pela fragdo do ganho grupal que o individnc obtém iguala a taxa de crescimento do custo total do beneficio coletive. Em ou. tras palavras, a taxa de ganho grupal (dV, /dT) deve exceder a taxa de crescimen. to do custo (AC/4T) pelo mesmo miliplo que 0 ganho do grupo excede o ganho do individuo envolvido (I/F, = V,/V)". Maso que mais importa aqui nao € que quantidade do deneficio coletivo seré proporeionada, se € que alguma quantidade seré proporcionada, e sim se af. uma quantidade do benefivio coletivo scré proporcionada. E esti claro que no a1 ames de segunda orden par um mx mbm devem se peencids,to& @/*<0, 41. Em casas em que Fe 5, nlo sto constantes, omiximo sed quand PS,TVat acid = 6 BS, 4 BTS 4) + S,7dF AT) —dciar = 0. “42: esa concust podria ser deuriaenfocando-¢ a alengo nas fngaes de cua ¢benficio do deinen foi, despreando os panto: tots do gro. Ma isa devia tense ooh, LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAISE DAS ORGANI2ACOES nivel étimo para o individuo que age independentemente o beneficio coletivo ou ‘grupal seréi presumivelmente provido se F, > C/V, Porque se Rov, VAY, > Cv, entilo V>c Portanto, se F; > C/V,, 0 ganho para o individuo que se empenhar para que seja provid o benefcio coletivo excederé o custo. Isso significa que ha uma presun- Go de que © beneficio coletivo seré provido se seu custo for, no ponto étimo de obtencio do beneficio para qualquer individuo do grupo, tio pequeno em rela- 40 ao ganho do grupo como um todo com esse mesmo beneficio coletivo que 0 ganho total exceda 0 custo total por tanto ou mais do que o ganho grupal exce- de 0 ganho individual Em sintese, portanto, a regra é que hi uma presungo de que o beneffcio coletivo sera provido se, quando os ganhos do grupo com esse beneficio coleti- vo estiverem crescendo a 1/F, vezes a taxa de crescimento do custo total do pro- Vimento desse beneffcio (isto é, quando dV,/aT = 1/F{dC/dT)), 0 beneficio to- tal para o grupo for um miltiplo maior do custo desse beneficio do que os ganhos do grupo so dos ganhos do individuo em questo (isto é, V,/C > V,/V,)- grau de generalidade da idéia bésica do modelo acima pode ser ilustra- indo-o a um grupo de empresas de um determinado mercado, Tome-se lum Setor industrial com um produto homogéneo ¢ suponha-se que as empresas desse setor almejem independentemente aumentar seus Iueros. Para maior sim- plicidade, suponha-se também que 0 custo marginal de produgio seja zero. A fim de evitar a introdugio de novos simbolos grificos e de evidenciar a aplicabilidade dda andlise acima, estabelegamos que T agora se refere a prego, S, a0 volume fi- sico das vendas do grupo ou setor industrial € 5, a0 tamanho ou volume fisico ddas vendas de uma determinada empresa i. F, ainda indica a “fragio” do total corespondente a determinada empresa ou membio do grupo (indica agora a fra- ‘$¥0 das vendas totais do setor ou grupo que cabem 2 empresa i em um determi- edo momento: F, = S/S,). O prego, T, afetard a quantidade vendida pelo setor Sedustrial em uma extensio dada pela elasticidade da demanda, E. A elasticida- ee do a TS (dS,/dT), ¢ disso se segue uma stil equaco para a inclinagdo da ” ALOGICA DA ACKO COLETIVA ccurva de demanda (dS,/dT): dS, /aT = -ES,/T. Sem eustos de producdo, 0 ponto timo de produgio para uma empresa se daré quando dA JaT = a(S TVET = 0 S.+ MdS/aT) = FS, + TdS/ar) Aqui, presumindo-se que a empresa age independentemente, ou seja, no espe- ra nenhuma reagio da parte das outras empresas, dS, = dS,, portanto FS, + T(dS,/aT) = 0 e desde que d5,/dT = -ES,/7, FS,~T1(E57) = 0 S(FcE) = 0 Isso s6 pode acontecer quando F; = E, Somente quando a elasticidade da demanda para 0 setor industrial for menor ou igual a fragio da produgZo cotal do setor correspondente a uma empresa em particular, essa mesma empresa terd algum incentivo para restringir sua producdo. Uma empresa que estiver tentan- do decidir se restringiré ou nao sua produgdo a fim de obter um prego mais alto ir comparar 0 custo, ou perda da producao, previsto ante os ganhos que poderd obter com 0 “beneficio coletivo": o prego mais alto, A elasticidade da demanda seri a medida, Se F,for igual a E, isso significa que a elasticidade da demanda do setor industrial é igual & parcela da producio do setor correspondente em- presa em questao. Se a elasticidade da demanda for, digamos, 1/4, isso significa ue uma redugio de 1% na produgdo traré 4% de aumento de prego, 0 que torna cevidente que, se determinada empresa tem um quarto da producdo total do setor industrial, ela deveria parar de aumentar sua produclo ou restringi-Ia. Se hou- ‘vesse, digamos, mil empresas do mesmo tamanho operando em um determinado setor industrial, @ elasticidade da demanda para 0 produto desse setor teria de ser 1/1000, ou menos, para que se tornasse necesséria qualquer contengio de produ, Portanto, néo hé equilfbrio de lucros em qualquer setor industrial que conte com um nimero muito grande de empresas. Quando, a medida que mais 7 (0 prego mais alto) € provido, a taxa de erescimento dos ganhos do grupo forem I/F, vezes tio grande quanto 2 taxa a que os custos totais de restriga0 de produ- Go aumentam, uma empresa que slmeje um aumento de lucros comegaré por a ‘UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAI E DAS ORGANIZACOES restringir sua produgio, isto é, comegaré agindo de maneira coerente com os interesses do setor industrial como um todo. Eo mesmo critério de comporta- ‘mento grupal usado no caso mais genérico explicado anteriormente. Essa andlise de um determinado mercado € idéntica & de Coumot®. O que do € surpreendente, visto que a teoria de Cournot € em esséncia um caso espe- ial de uma teoria mais geral sobre a relago entre os interesses de um membro de determinado grupo € os interesses do grupo como um todo, A teoria de Cournot pode ser encarada coma um caso especial da anilise aqui desenvolvi- da. A solugo de Cournot leva portanto & conclusio de senso comum de que uma ‘empresa agiré para manter alto o prego do produto que seu setor industrial ven- de somente quando o custo total de manter esse prego alto ndo for maior do que sua parte do ganho que o setor obterd com esse preco alto. A teoria de Cournot 6, assim como a anilise da aco grupal fora de um contexto de mercado, uma teoria que questiona quando seria do interesse de uma unidade individual de um ‘grupo agir pelo interesse do grupo como um todo. H4 um ponto em que 0 caso de Cournot é mais simples do que a situago do grupo fora do contexto de mercado, principal objeto deste estudo. Quando um srupo visa a um beneficio coletivo corriqueiro, ao invés de um prego mais alto através de uma contengio de produgao, ele logo descobre, como se mostrou no Parégrafo inicial desta parte, que a primeira unidade do beneficio coletivo obti- dda serd mais cara em si do que algumas unidades subsequentes do mesmo bene- ficio. Isso se deve 8 morosidade ¢ outras caracteristicas técnicas dos beneficios oletivos ¢ também ao fato de que algumas vezes pode ser necessério montar uma organizagto para obter 0 beneficio coletivo. Isso chama a atengio para 0 fato de que ha duas questies distintas que um individuo em um grupo fora do contexto de mercado deve considerar. Uma é se o ganho total que ele obteré com © provimento de determinada quantidade do beneticio coletivo excederd o cus- fo total dessa quantidade de beneficio coletivo. A outra questio é a de saber que ‘guantidade do beneficio coletivo ele deverd prover, se alguma quantidade for pro- ida, © a resposta depende, claro, da relago entre custos e ganhos marginais, ‘mais do que totais. Similarmente, hé também duas questdes distintas sobre 0 grupo como um “do que precisam ser respondidas. Nao € suficiente saber se um grupo pequeno zuird prover-se de um beneficio coletivo ou nao. E também necessirio de- lar se a quantidade do beneficio coletivo que o grupo iré obter, se obtiver ‘Aazusin Coumot, Researches tno the Marhematical Prineipes ofthe Theory of Wealth tad. am. ‘Nathaniel Bacon, New York, Macmillan, 1897, especialmente o Cp. vi, pp. 79-90 A LOGICA Da acho COLETVA algum, tenderé a ser um “étimo de Pareto” para o grupo como um todo. Ou seja Serd timo 0 nivel de ganho total com relagio as necessidades do grupo como tum todo? A quantidade étima de um beneficio coletivo para um grupo como um ‘odo, se ele obtiveralguma quantidade, seria dada quando o ganho do grupo es- tivesse crescendo na mesma taxa que 0 custo do beneficio coletvo, isto 6, quan. do aV,/aT = aC/4T. Dado que, como foi demonstrado acima, cada individuo do srupo teria um incentivo para se prover mais do beneficio coletivo até FV, fd = ACHAT, ¢ dado que ZF; = 1, poderia parecer & primeira vista que a soma do que S individuos, agindo independenternente, proveriam itia bater com o ponto ot. ‘mo para o grupo. Pareceria também que, assim, cada individuo do grupo estaria areando com uma fracdo, F;, de Gnus total, de maneira que o custo do provimen- to do beneficio coletivo estaria sendo compartilhado de maneira “correta” no sentido de que seria compartido na mesma proporsa0 que os beneficios Mas nio € 0 que acontece. Geralmente, a quantidade de beneficio coletivo Brovida serd surpreendentemente subotima, e a partitha do Onus seré surpreen- dentemente arbitriria. Isso ocorre porque a quantidade x de bencficio coletive que cada individuo obtém para si iré também automaticamente para os outros, Faz parte da mesma definigdo de beneficio coletivo que um membro nfo pode excluir os outros membros do grupo das vantagens trazidas pela quantidade x de beneficio piblico de que ele se proveu™. Isso significa que ninguém no grupo terd um incentivo independente para prover qualquer quantidade do beneficio co. letivo uma vez que a quantidade que seria adquirida pelo individuo com o mai. or F; do grupo jé estivesse dispontvel. Isso sugere que, assim como ha uma ten: Géncia a que os grupos grandes nfo consigam prover-se de quantidade alguma de beneficio coletivo, hd nos grupos pequenos uma tendéncia a um provimento do beneficio coletivo abaixo do ntvel dtimo para 0 grupo como um todo. Ease subotimidade serd tanto mais grave quanto menor for o F; do “maior” indivfduo do grupo. Jd que quanto maior 0 miimero de membros do grupo, no mais nd het vendo diferengas, menores serdo as F,, segue-se que quanto mais individuos howver no grupo, mais grave serd a subotimidade. Fica claro, ponanto, que os 44, No resto desta parte seré convenient ati su |quantidade do beneficiopblio, Na yerda “eneficio pubico puro”. no sentido da de LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS DAS ORGANIZAGOES ‘grupos com mais membros geralmente desempenhario com menos eficiéncia do que 0s grupos com menos membros. [Nao € suficiente, porém, considerar apenas 0 niémero de individuos ou uni- dades de um grupo, pois a F, de qualquer memibro dependeré ndo apenas de quanto membros hi no grupo como também do “tamanho” (S;) de cada membro toma- do individualmente, ou seja, a medida em que ele ser beneficiado por um de- terminado nivel de provimento do beneficio coletivo. Um proprietério de vastas fazendas pouparé mais com uma determinada redugo de impostos sobre pro- priedades rurais do que o proprietério de apenas uma modesta casa de campo, «6, no mais nio havendo diferencas, teré um F, maior, Um grupo composto por membros de 5; desigual e, portanto, F; desigual exibiré uma tendéncia menor & subotimidade (e terd mais probabilidade de prover-se de alguma quantidade de determinado beneficio coletivo) do que um grupo, & parte essa caracterfstica, idéntico porém composto por membros de tamanho igual. Considerando-se que ninguém tem incentivo para prover mais nenhuma quantidade do beneficio coletivo uma vez que © membro com o maior F; tenha obtido a quantidade que desejava, é também exato que em um grupo pequeno a partitha do Onus envolvido no provimento do beneficio coletivo ndo seré proporcio- nal 20s ganhos individuais trazidos pelo beneficio coletivo para cada membro do ‘grupo. O membro com o maior F;arcard com uma parte desproporcional do Gnus"*, 45s diferengas de tamanho também podem te aguma importincia em contestos de mereado. Una grande empresa em ut dterminado mercado obterd uma frag maior do ganho taal para Stor com ‘ualguer prego mas alto do que um emoresa pequenae ter, portant, maior ineentvo para retin: [sca produg. Isso sugere que a competi ce algunas pouces grandes empresas no meio de mi ‘as pequenas,contariamenteaslgumsopiice, pode condazirs uma ma alocapto de ecusos. Para tum sho diferente desta queso, ver Willard D. Aran, "The Competition ofthe Few among the Many", Quarterly Journal of Eeonomirs, LXX, ago. 1986, pp. 327-345, 46-4 siscusso no exo ¢ demasiado breve e simples para fazer total justiga até mesmo a algumas das Siuagées eas mais comuns. Nauele que €alvexo caso mals comm, onde o benetcio coletiv ado uma gratifiagio em dinhciro a cada membro de determinada grup e who € algo que cada indiv(- ‘dead grupo posta vender por dinkciro, os ndviues do grupo devern compara o custo adicional ‘de mais uma unidade do benefciocoltivo com a “vantagem” aicional gue Ines proporeionaria Sevisigde dessa unidade.Eles nfo poderim, como «argumentagio do texto pressupde, meramente “compaar um cesta em dinero comm um retoro em dinero, eportano as cura de infereng t= bem cram de sr usadas na andlise. A taxa margaal de substiuicio seria afetadando somente pelo fate de que 0 desojo por unidaces adicionsis do benefci coletivoviminuia quanto mas © const ‘isse do benetcio mas também pelos “efeitos da rend’. Os efits da renéa levariam um membro ue uvese saeificado uma quantidade despropocioal da sua fenda para obiero baneticio pico 3 C/V,.O racioctnio pode act exposto ainda com ‘mais simplicidade dizendo-se que, se em algun nivel de aquisiedo do beneficio Sh acocno semen pots sr wind igumas vezes paar ‘expticsr a comum inci inst “decrepitude pibics”no seo do “esplendor wiraos mae {um provimentesubiima de Dicer ape ies TR ciao seria erie pelo mene aquls enor ne fe gites pi vi imines’ enefciam um grpo de pestonsmenerdoqeeooepe oy cre bencreteS! A abserngto de que os mesnce gai: pabtooe ae aaa Grupos menors do gue o grupo que pga por eres patay oy ement and Pubic lmestnent” de Julius Margot, ios sobre oassunto na Aner. sca Insitutions and Efiiency Pocnts gog Roland N. Mekesn, “Divergencis between Invited earn tal Costs within Goversment’, pp. 243-249, 52 3 fim Fru constants, ee pote imo individual & dado quan Fava) + Var yar) = dour. “ LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES Coe EB Vg 2 BB Do> Ep ‘coletivo o ganho para o grupo excede o custo total por uma margem maior do ‘que excede o ganko individual de algum membro, entdo pode-se presumir que ‘o beneficio coletivo seré provido, porque nessas condigdes 0 ganho do indivt- excederd o custo total do provimento do beneficio coletivo para o grupo. 1ss0 ‘lustrado no gréfico acima, que mostra que um individuo presumivelmente fi- em melhor situago ao ter conseguido 0 beneficio coletivo, quer ele tenha wuido a quantidade V ou W ou qualquer uma entre as duas. Se qualquer tidade do beneficio coletivo entre V e W for obtida, mesmo que nao seja a tidade 6tima para o individuo, F, excederd C/V, A parte técnica desta sego mostrou que certos grupos pequenos podem ese de beneficios coletivos sem recorrer& coergao ou a qualquer estimulo 6 A LOGICA DA AGho COLETIVA além do beneficio coletivo em si mesmo®. Isso ocorre porque em alguns grupos pequenos cada um dos membros, ou o menos um dele, acharé que seu ganho pessoal ao obter 0 beneficio coletivo excede o custo total de prover determina. a quantidade desse benefico, Hé membros que ficariam melhor se o benefivio coletivo fosse provido, mesmo que tivessem de arcar com todos os custos soz hos, do que seo beneficio nfo fosse provido, Em tas situagées pode-se res mir que o beneficio coletivo seré provido, Tal stuagdo existié apenas quando o ganho para o grupo com a obtengio do beneficio coletivo exceder o custo total or uma margem maior do que excede o genho individual de um ou mais mem- bros do grupo. Assim, em um grupo muito pequeno, onde cada membro fea com uma porgdo substancial do ganho total simplesmente porque poucos membros 10 grupo, um beneficio coletvo frealentemente pode ser provid através da ayo voluntiria, centrada nos prépriosinteresses dos membros do grupo, E nos gr- Pos menores, cracterizados por um considerdvel grau de desipualdade ~isto 6, em grupos de membros de “tamanho” desigual ou desigual grau de interesse pelo beneffcio coletivo —que hia probabilidade maior de que o beneficio coetivoseja rovido, @ que quanto maior o interesse da parte de cada membro pelo benefi- cio, maior a probabilidade de que cada membro obtenha uma porgo to si ficativa do ganho total trazido pelo beneficio que saia ganhando ao se esfryar Para que o beneficio seja provid mesmo que tenha de arcar com todo 0 custo sozinho, 53. Tenbo uma dvds para com o profesor John Rawis, do Departamento de Filosofia ds Universidade 4 Harvard, por meter lembrado que 0 i6sofo David Hume percebeu que os peguencs popes po dem satisfazer aos seus propsslios comuns mas cs grandes ndo.O racicinio de Hume, no ctante & Aiterente do meu. Em A Treatise of Human Nature, London, JM. Dent, 1952-239 Hume coor ‘ea: “Nao bh nenhuma qualidade da natureza hurnana que cause eros mais atts wa nossa conduta o que aqula qu nos leva a prefer algo preseat e medio, o que que qu se, 2 algo dstnte emoto © ns fz desejar a8 coisas mais por sua situag do que por seu valor intiaseco, Doi veh "hos podem concordar em drenar uma pradaria que posstem em comom, pois fii para eles conbe. ‘cerem as intengbs um do outro e ambos pecebem gue a conseqnci media d= um facaso fad ial de sua pre seria fasasso de todo o projta. Mas sera muito df, na verdade impossel, ue mil pessoas consegussem chegar a um acordo em fa situago. , senda jt ifel pars els com, ‘zrtar um plano to compexo, ainda mais fc! Ihes seria execute jf que cada un busearis um ‘bom pretext pra lvarse dos problemas egasrse procuatiajogar ton a carga sobre o oats A Sociedade plticaremedeiafaiimente esas inconenigaias.Osragstadosencomtam ui interes 5 imediato nos intereses de qualquer pare considrdvelenvovida. Ele nfo precsam consulta se loa s préprios para concerar um esquema para a promogio desis interes, e como s fala de ualgues pea inividval na execugt do prajeto ests reloionads, emborando meditate, com a fatha do todo, cles evtam essa ftha, porque no véem nethum interese ela, nm imediato nem re, ‘moto. Assim, pontes 380 consrutss, pores aberte,forficagéeserguides, canals excavado, toss ‘equipada ¢exétitos disiplinados, por toa parte, sb a supervisio do aoverna, que embora Com Posto de homens suetos a todas as fraquezs humanas, toma, por uma as melhores © mas tts Imvengoes imagindveis, uma composicio que & de certa forma isnta de todas cas faquecas” LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAISE DAS ORGANIZAGOES ‘Mesmo nos grupos menores, contudo, o beneficio eoletivo geralmente no serd provide em um nivel étimo. Cu seja, os membros do grupo no proverzio toda a quantidade de beneficio coletivo que seria de seu interesse comum pro~ ver, S6 determinados acertos institucionais espectficos dardo aos membros in- dividuais um incentivo para adquirir quantidades do beneficio coletivo em um nivel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo. Essa tendéncia & su- botimidade deve-se ao fato de que um beneficio coletivo é, por definigao, de natureza tal que os demais individuos do grupo no podem ser impedidos de ‘consumi-lo uma vez que qualquer membro do grupo tenha se provido dele. E, se esse membro obtiver somente um pequeno tetorno de qualquer novo gasto que tiver para obter mais quantidades do beneficio coletivo, ele iré interromper sua aquisigio do beneficio antes que a quantidade 6tima para 0 grupo como um todo tenha sido obtida. Além disso, as quantidades de beneficio coletivo que deter- minado membro do grupo receber de graga de outros membros irio reduzir seu incentivo para prover mais desse beneficio &s suas prOprias custas. Portanto, ‘quanto maior o grupo, mais longe ele ficard de atingir 0 ponto drimo de provi- ‘mento do beneficio coletivo.. Essa subotimidade ou ineficiéncia serd menos grave em grupos compostos ‘por membros de tamanhos, ou graus de interesse pelo beneficio caletivo, muito Giferentes entre si. Em grupos desse tipo, porém, hé uma tendéncia a uma part- tha arbitréria do Onus de prover o beneficio coletivo. © membro maior, aquele ‘que, mesmo que fosse por sua prépria conta, proveria a maior quantidade do fbeneficio arca com uma parte desproporcionalmente grande do Gnus. O mem- ‘bro menor obtém por definigio uma frago menor do ganho proporcionado por ‘qualquer quantidade do beneficio coletivo provida do que © membro maior e, ‘portanto, tem menos incentivo para prover quantidades adicionais do beneficio “Coletivo. E, sempre que 0 membro menor obtém sua porgio de beneficio coleti- gratuitamente do membro maior, ele tem mais do beneficio do que teria ad- sido por si proprio ¢ nao tem mais nenhum incentivo para obter novas quan do beneficio coletivo is suas préprias custas. Em grupos pequenos com es comuns hé, portanto, wma surpreendente tendéncia a “exploragdo” do pelo pequeno, ‘© argumento de que os grupos pequenos que se provém de beneficios co- tendem a prover quantidades substimas'desses beneffcios e que 0s Cus- ‘prové-los so partilhados de uma maneira desproporcional e arbitria no ‘em todas as possibilidades l6gicas, Alguns acertos institucionais ou Sonais podem conduzir a resultados diferentes. Esse 6 um tema que nfo “ser analisado adequadamente em uma breve discussio, Por essa razio, € " ‘a.6G1ca ba agho COLETIVA porque o principal foco deste livro sio os grandes grupos, muitas complexida- ese peculiaridades comportamentais dos pequenos grupos foram omitidas neste estuco. No entanto, uma argumentacZo do tipo da recém-esbogada caberia per- feitamente em algumas importantes situagGes préticas e deve bastar para suge- rir que uma andlise mais detalhada do género da desenvolvida acima poderia aju- dar a explicar a aparente tendéncia a que as grandes nagdes arquem com partes desproporcionais da carga nas organizagbes multinacionais, tais como a ONU € @ OTAN, ¢ poderia ajudar a explicar parte da popularidade do neutralismo entre as nagdes de menor porte. Tal anélise também tenderia a explicar as continuas queixas de que as organizagées ¢ aliancas interacionais no recebem quantida- des adequadas (6timas) de recursos. Poderia ainda sugerir que os governos mu- nicipais vizinhos em areas metropolitanas que provéem beneficios coletivos (Como estradas vicinais e melhorias na Area educacional) que favorecem 2 po- pulagdo de dois ou mais municipios da regido tendem a prover quantidades ina- dequadas desses servigos e que 0 municipio maior (como, por exemplo, a me- trOpole) arcaria com uma parte desproporcional dos custos de prové-los**. Uma andlise do tipo da elaborada acima deveria, finalmente, contribuir para uma melhor compreensio do fendmeno da lideranga de pregos, particularmente as possiveis desvantagens de ser a maior empresa de um setor industrial. Contudo, 0 ponto mais importante no que se refere aos grupos pequenos no presente contexto € que eles podem ser perfeitamente capazes de proverem- se de um beneficio coletivo pura e simplesmente por causa da atragao individual que 0 beneficio tem para cada um de seus membros. Nisso os grupos pequenos diferem dos grandes. Quanto maior for o grupo, mais longe ele ficaré de atingir © panto étimo de obtengao do beneficio coletivo © menos provavel sera que ele aja para obter até mesmo uma quantidade minima desse beneficio. Em sintese, quanto maior for o grupo, menos ele promovers seus interesses comuns. ‘54 Algumas complexidadescomportamentss ds peguencs grupos sfo abordaas em Manear Olson Jr ‘& Richard Zeckbauser, “An Economic Theory of Allances", Review of Economies and Staistes, XLVI, ag0. 1966, pp. 266.279, e em “Collective Goods, Comparative Advanige, nd Alliance Eficieney,em Roland McKean (rg). Ines of Defense Economies: A Conference ofthe Untersites- National Burau-Commitee for Econonscs Research, NewYork, Naional Bureas of Econcic Re- seatch, 1967, pp. 25-18. 55, Teno uma divda para com Alun Witams da Universidade de York, Ingatera coo estado sobre soverno municipal chamou a minha ateasto para a importincia dese tipo de problema deiteragto fntre goveros muricipas, 4“ LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES ¢. Grupos “Exelusivos" e “Inclusivos” © movimento de entrada e safda do grupo jé nto pode ser ignorado. Essa € uma questo importante, jé que os setores industriais ¢ 0s grupos inseridos no contexto de mercado diferem fundamentalmente dos grupos ni inseridos nes- se contexto nas suas atitudes relativas a0 movimento de entrada ¢ safda do gru- po. Uma empresa de determinado setor industrial querer evitar que novas em- presas venham compartir de seu mercado € desejard que o maior néimero possivel ‘das empresas jd no setor saiam dele, Ela quererd que 0 grupo de empresas de seu setor industrial se reduza até que sobre de preferéncia apenas uma empresa no setor: ela. Esse é 0 ideal do monopélio. Portanto, as empresas atuantes em um determinado mercado so competidoras ou rivais. Em grupos ou organiza- {ges ndo inseridas no contexto de mercado que visam a um beneficio coletivo ‘corre 0 oposto. Usualmente, quanto maior 0 niimero de membros dispontveis para partilhar os beneficios e os custos, melhor. Um aumento no tamanho do ‘grupo néo acarreta competiglo para ninguém e pode levar a custos mais baixos para aqueles que j4 estio no grupo. A veracidade desse ponto de vista fica evi dente com a simples observagio do cotidiano. Enquanto as empresas, inseridas no contexto de mercado, lamentam qualquer aumento na competigio, as asso- ciagBes que lutam por beneficios coletivos em situagdes fora do contexto de mer- ceado quase sempre do as boas-vindas a novos membros. Na verdade, tais or- ganizagdes algumas vezes até tentam tornar compulséria @ afiliagdo a elas. Por que existe essa diferenca entre grupos inseridos no contexto de mer- ado e grupos nfo inseridos no contexto de mercado, grupos que as partes ante- riores deste mesmo capitulo mostraram ter fortes semelhangas em outros aspec~ tos? Se o homem de negécios atuante no mercado € 0 membro de uma organi- 22¢%0 lobistica assemelham-se pelo fato de que ambos acham que os ganhos pro- venientes de qualquer esforgo realizado para atingir as metas grupais irdo favorecer principalmente a outros membros do grupo, entdo por que eles stio to diferentes no que se refere & maneira de encarar a questio da entrada e safda de ‘membros do grupo? A resposta € que em uma situacdo de mercado 0 “beneficio coletivo” ~ o prego mais alto 6 de tal natureza que se uma empresa vender mais ‘a esse prego as outras venderfio menos, de maneita que, nesse caso, a quantida- de de ganho que o beneficio coletivo pode proporéionar ao grupo é fixa. Mas em situagdes fora do contexto de mercado a quantidade de ganho que o beneficio coletivo pode proporcionar ndo ¢ fixa. Apenas uma determinada quantidade de tunidades de determinado produto pode ser vendida em um determinado merca- do sem ecnduzir 0 prego a uma queda, mas qualquer nimero de pessoas pode ° 4 LOGICA Da AGKo coun, Se afiliar @\uma organizasio lobistica sem ‘eduzir necessatiamente os ganhos Fina oe Setmals membros. Em uma situagao de mercado, por via de regra, 6 que Fas Smpresa obtém, outra nto poders obter Fssencialmente, em uma situagge Ai leva 06 membros de um grupo inserido ne Contexto de mercado a tentarem mas, Otemanho de seu grupo ease tipo de beneficio coletivo ser chamado Fin opetetsi eoetve exclusive?” B pelo rs ar Provimento de os bene- ‘cies coletvos em eituagdes fora do comets oe mercado, em contraste, se ex- bandirem automaticamente quando o grupo xe expande, esse tipo de beneficio Diblico seré chamado aqui de “benefice calena inclusivo® Me et St atm cont ans snus meni Por serum clube “exciusivoo benetcin. eo fan a catsdo Shae aum peo sap comtito de mercado endo’ unm sa Hose onteno de meeado Se os 400 pe tomasscm oF 4060" os ganhos snp Aetaam prs pra igor Ce LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES Se um grupo se comportaré de maneira exclusiva ou inclusiva dependers, no entanto, da natureza do objetivo que o grupo tem em vista, ¢ ndo de alguma caracteristica do seu corpo de integrantes. Na verdade, o mesmo grupo de em- presas ou individuos pode ser um grupo exclusivo em wm determinado contexto ¢ inclusivo em outro. As empresas de um determinado setor industrial poderiam ser um grupo exclusivo quando buscassem um prego mais alto para 0 produto de seu setor restringindo sua produgdo, mas seriam um grupo inclusivo, ¢ anga- riariam todo o apoio possivel, quando perseguissem uma redugdo de tributos, ou ‘uma alfquota favordvel, ou qualquer outra mudanga na politica do governo. A ‘questdo de que a exclusividade oa inclusividade de um grupo depende mais do objetivo envolvido do que de quaisquer caracterfsticas de seu corpo de membros € importante, ja que muitas organizag6es operam tanto no mercado, para elevar (05 pregos restringindo a produgo, quanto no sistema politico e social, para pro- ‘mover outros interesses comuns. Seria interessante, se 0 espaco 0 permitisse, es- tudar tais grupos com a ajuda dessa distingdo entre beneficios coletivos exclusi- ‘vos c inclusivos. A ldgica dessa distingdo sugere que tais grupos teriam atitudes ambivalentes com relagio a novos membros. E na verdade assim é, Os sindica- tos, por exemplo, as vezes clamam pela “solidariedade da classe trabalhadora” € pedem o estabelecimento fechado ao mesmo tempo que estipulam regras de aprendizagem que limitam a entrada de novos membros na “classe trabalhado- ra" em mereados de trabalho espectficas. Na verdade, essa ambivaléncia é um fator fundamental com o qual qualquer andlise adequada daquilo que os sindi- catos pretendem maximizar deve lidar®. tando pou 03 nenhuma redo do sufrta do mesmo paras menos antigo do upo. Hi, em Segundo lgar, urna conexdo entre minha diferenciagi0 inclasivefexlusivo eum ens de James M. ichanan, "An Economic Theory of Clubs. O ensto de Buchanan pressupde que a exchs0 € pes- ‘sive, as que un certo grau (everamentcliitado) de pavtilhablidade de ganhos existe, © most {gee nesashipéteses © ndmero timo de vudrcs de um dterminado beneicio pblicocostuma ser Sito, vari de caso pra caroe pode algumas vezss ser bastante pequeno. A abordagem de Buchanan ‘4 minh se igam no fato de que ambos indagamos como os intresses de urn membro de determin {o grupo que desfruta de um benef coleivo seriam afetados pelos aumento ou diminuiga0 no mi> tneto de consumidores desse benefci, Ambosestiveos wabalhando neste problema independente- tent, e até pougussimo tempo ards jgorando por completo interesse um do auto poc ese pont Em particular. Buchanan diz gencrosamente que cu devo tr feito essa pergunta antes que ele, mas 20 asso que eu #6 toque na questo por alo, apenas era faire elucdarcutosaspecos da minha Sreumentagio, cle desenvolves um modeo interessante egenéiceqne mosis a relevincia dessa ques: {35 para um amplo Smbito de problemas de poltica governamenta. "© is slgumaincertena a reepeitodaqeio que of sindicaos defo maximizam,Algumas vars se penst igo. naverdde, eles nao wanimizam faces sarin, qe ssi mais altos reduzema quantida- 1S de forga de teabalbo demandada pelo empregadoee conseqlentemente 0 nimero de membros do ‘Gedicato. Essa tedugio no nimero de sindcatérioe 6, porém. conta aos intressesinsticionals “@sinicatoeprejueal ao prestige poder dos Keres sada. nda assim alguns sndeatos,como A LOGICA DAAGhO CoLETWA Mais uma diferenga entre grupos exclusives e inclusvos fica evidente quan- Go hé uma tentativa de agio formalmente organizada ou mesmo informalmente coordenada. Quando hé sforgo organizado ou coordenado em um grupo inelus Faroe odes 08 que puderem ser persuadidos a colaborar serio inclufdos nesse es. forso® Alda assim (exesto em casos excepclonaisisolados em que o bene rma mal vale seu custo), ndo ser essencial que cad individu do grapo Paricipe da organizago ou acordo. Em esséncia isso se dé porque normslimec i. Me-participante nfo tira dos participantes os ganhos trazidos por um bene. Feio coletivo inclusivo. Um beneficio inclusivo é, por defnigho, de tal naturees ie © ganho que um ndo-cooperador recebe ndo ocasiona perdas corresponden tes aqueles que cooperamt ideas sobre etse panto 608 mers Bueno eRe em The Thor of litical Calton que hver ua edn Hina cocten oto bem-suceds om rains comes oss de ena eee Ne scantto atu de qu os erposialsvos wndem a quer suena aera oe diame enh ds cneastes dei Hivo, pots oargunentde Rik Eocene sre mena on geen Ss aos iuarin 3 oma das pers, qu o ante, pr tatngee cere alee Guatie mais membros se wire a0 gupo eqanto maons gent rreneraettie fore proves, Mesno os grupos qu vam a bnsfickscoleinos eens “ 3 a 3 ? i 5 Z z g i £ & t i LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANTZACOES Quando um grupo visa a um beneficio coletivo exclusivo através de um acordo on organizagio entre as empresas no mercado ~ isto &, se hé conluio ex- plicito ou mesmo técito no mercado ~, a situagdo é muito diferente. Em tal caso, embora todos desejem que 0 niimero de empresas no setor industrial seja o me- nor possivel, paradoxalmente quase sempre é essencial que haja cem por cento 4e participacao dos que permanecerem no grupo. Em esséneia isso se dé porque nesse contexto mesmo um ndo-participante pode, por via de regra, tomar para si todos 0s ganhos trazidos pela aco das empresas conluiadas. A menos que os ccustos da empresa nao-participante subam demasiado rapidamente com 0 aumen- to da produgio®, ela poderd expandir sua produgo imediatamente para tirar vantagem dos pregos altos conseguidos pela ago conluiada, até que as empre- sas do conluio, supondo-se que elas continuem irresponsavelmente a manter 0 prego elevado, reduzam sua produgio a 2er0, tudo para vantagem da empresa ‘no-participante. A empresa ndo-participante pode privar as empresas conluiadas de todos os ganhos resultantes de seu conluio, porque o ganho proveniente de uaiquer prego supracompetitivo € fixo em quantidade. Portanto, 0 que quer que ela tome para si, as empresas do conluio perdem. Ha entao uma caracteristica de “tudo ou nada” nos grupos exclusivos, no sentido de que, freqllentemente, se rio houver cem por cento de participagao nao havera coniuio. Essa necessida- de de cem por cento de participagio tem os mesmos efeitos em um setor indus- trial que uma medida constitucional estabelecendo que todas as decisdes deve ser undinimes tem sobre um sistema de votagio. Sempre que € nevesséria uma participagdo undnime, um tnico membro do grupo que se recuse a entrar em ‘esto. Com certera eqentemente& verdadero que depois de um certo ponto 0 advemo de novos ‘membros reduz a quanidadedisponvel do tenecio oltivo para os antigos membros do grupo por ‘mais sui que seja essa redoslo. A argimentagdo do texto alo cequcr, porianto, que 0s beneicios coletivosinclusivas seam baeficis pions puos. Quando um beneicio coleivoiaclusiv nfo for lum beneficio piblico puro, contudo, os membros do grupo que desteutam dobenefci no scitr ‘um novo membro que mio pague a devids aks contbaivas. As txas 36 sero adequadss se orem ‘no minimo equvaletes em valor &redueio do consumo ds atigos membres do grupo ocasionada pela cota de consumo do nove membro. Enquantocortinunr exist um gaa siniicatve de prt= Iabiligade dos ganhos proposcionados polo beneicocoletvo, no entanta, of ganhas para os nove ‘membros excecerio os pagimentos das taxas conrbutvasneceséias para garatir ue o& ants ‘membros sejam adequatsmante compersados por qualguerredugdo em seu consumo, Dsssa mane ‘0 grupo permanecerisendo genuinamente“inclisva". “62 Se0s custos marginals subssem de manera muito ngreme, trad consequentementeo incentivo de ‘qualquer empres para sumentar com mits intesidace sua produjo em esposa a0 prego mais allo, ‘fo de haver uma dca empresa que se ecusase a fechsr ear com as demas para tentarobter ‘antagens com uma barganka nto seria necesariament fatal para as empresas contuladss. Mas, ms ees a CATT Ga DRI) BOE TC TBE IDS OTH pad ‘endri 2 ganhar mais do conuio do que qualquer empresa coniiada,e to o qu ea gahasse a8 empresa do coaluio perder, Es LOGICA DA AGO COLETVA acordo com a intenglo de obter vantagensterd um extraordindrio poder de bar- gana: ele poderd ter condigGes de requerer para si a maior pate dos ganhos decorrentes de qualquer agtio grupal®, Além do mais, qualquer membro do gru- o pode tentar fzer isso e exigir uma fatia maior do ganho grupal em troea do seu (indispensivel) apoio. Esse incentivo a recusa de colaboragao torna qualquer aso grupal menos promissora do que seria de outra forma, Também implica que cada membro tem um grande incentvo & barganha. Ele pode gankar tudo com tuma boa barganha ou perder tudo com uma ruim. Iso significa que € provével que ocorra muito mais barganha em qualquer situagao em que sejaindispensé- vel cem por cento de pareipagao do que em situayées em que uma poreenta- gem menor de participaglo pode garantir suiciente suporte 8 agdo grupal. Segue-se que 0 relacionamento ente individuos em grupos inclusivos e exclusivos € bastante diferente, desde que os grupos sejam to pequenos que a ef de um membro tenha um efeito perceptvel sobre algum outro membro & 4ue, portant, os relacionamentosindividusis tenham importancia. As empresas itegrantes de um grupo exclusivo querem to poucas empresas no grupo quan to possive,e, portant, cada uma olha com desconfianga para a outra, oom medo de que tentem empurré-ia para fora do setor industrial. Coda empresa deve, an- tes de tomar quelqverinicatva, ponderar se provocaré uma “puerra de presos” ou uma “briga de foices. Isso significa que cada empresa integrante de um grupo exclusive deve ser sensivel com relagio as ouras empresas do grupo e conside- rar as reagdes que elas podem ter a qualquer ago sua. Ao mesmo tempo, qual quer acto grupal em um grupo exclusivoiré por via de regra requerer cem por cento de participagto, de maneira que cada empresa em um setor industrial € nao Somente uma rival de todas as demais no setor mas, também, uma eolaboradora indispensdvel para qualquer ago do conluio. Portanto, sempre que houver comluio, nfo importa qulo tcito ele for, qualquer empresa do setor poderé con- siderar a possibiliade de barganhar ou de se recusara entrar em acordo para tentar obter uma fatia maior dos ganhos do grupo. A empresa que melhor puder adivinhar que reaglo as ourasterto a cada movimento seu levaré uma consie- rel vantagem nessa barganha, Esse fat, aliado ao desejo peal de todas as em. presas de manterem o nimero de empresas de Seu setor industrial to reduzido (65, Sobre as implicapes do pré-requisto Ge unanimidade, ye o importante livzo de James M. Buchanan £& Gordon Tullock, Th Calewas of Consent: Logical Foundation of Constitutional Democracy, Aan Arbor, University of Michigan Pres, 1962, especialmente © Cap. VI pp, 96-116. Acredio que alg ‘as cmpliagbes deste proeitso © estimalane estado poderiam ser exclarecidas com aaj de a. amas das iia desenvolvidas no presente tastbo; ve, por exempo, mina reseaha sabe ova ‘meneionado na Averican Eranomue Review, Ll, dex. 1962, pp. 1217-1218. UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES quanto possivel, deixa cada uma delas m Outras a cada agdo sua. Em outras palavs do grupo quanto a usual necessidade de luito ansiosa com relago as reagdes das ras, tanto o desejo de limitar o tamanho empresas se caracterizarao por uma int déncia mitua é obviamente familiar a Contudo, nao € de compreensao Beral 0 fato de que, por outro lado, em grupos inclusivos — mesmo nos pequenos ~ a barganha ou a ALOGICA DA AGRO COLETIVA um grupo dessas dimensoes através de uma organizagao formal e depois pergun- tando-se © que aconteceria se um membro do grupo parasse de pagar sua parte do custo do beneficio coletivo. Se, em uma organizagao razoavelmente peque- a, uma pessoa em particular para de pagar pelo beneficio coletivo de que des- fruta, 05 custos subiro perceptivelmente para cada um dos outros membros do. grupo. Em conseqléncia, eles poderdo sc recusar a continuar fazendo suas con- tribuigdes € o beneficio coletivo poder4 nao ser mais provido. Contudo, talvez 0 primeiro indivfduo da cadeia se desse conta de que sua recusa em pagar algo pelo beneficio coletivo poderia desencadear esse proceso e de que ele ficaria em pior situagio se 0 beneficio coletivo no fosse mais provido do que se fosse provido © ele pagasse sua parte dos custos. Portanto, esse membro talvez mudasse de idéia ¢ continuaria contribuindo para a obtengiio do beneficio coletivo. Talvez. Ou talvez nao. Como em um oligopélio numa situagiio de mereado, o resultado € incerto. © membro racional de um grupo desse tipo enfrenta um problema es- tratégico, ¢ embora a teoria dos jogos e outros tipos de andlise possam ser mui- 0 titeis, no nivel de abstragao deste capitulo parece nao haver atualmente nenhu- ma maneira de obter uma solugdo geral, vilida e exata para essa questio™, Qual sera o ambito dessa indeterminabilidade? Provavelmente, beneficio coletivo seria provido no caso de um pequeno grupo em que um membro ficasse com uma fragiio io grande do ganho total que sua situagdio, se comparada a de ficar sem 0 beneficio coletivo, melhoraria mesmo que ele tivesse de pagar sozi- mho todo © custo. No entanto, o resultado seria incerto no caso de um grupo em que nenhum membro ficasse com uma parte do ganho trazido pelo beneficio co- 64. B interessante observar de passagem que 0 oligopélio no contexto de mercado ¢ sob alguns aspectos andlogo ao conchavo interpartidério na politica. Se a “malaria” de que varios partidos nescestes em lama Assembiéia Legislativa for vista como um beneficio coletiva ~ algo que um partigo em particuler 'nfo pode obter a menos que outros partidos também 0 desejem -, ent40 0 paralelo € bastante proxi mo, O custo que o congressista gostaria de evitar ¢ a aprovagio da lei desejada pelos congieselsans ddos outros partidos, porque se esses partidos ganham algo com a legislagdo deles, freqentements outros, ineluindo os eleitores do congressista derrotado, perdem algo. Mas, a menos que esteje din, Posto a votara favor da lei desejada pelos outros partidos, o congressista em questo nf terd chances de conseguir que a Tei que sev partido deseja seja aprovaca. Assit, o que ele eria de fazer seria trabe, thar uma coatizdo com congressistas de outros partidos e tentar levé-los a volar pela lei que seu part do quer ver aprovada, Ele, por sua vez. procuraria thes dar o mfaimo possfvel em woca, insistindo pera te’ moderassem suas exigéncias. Mas, dado que todo conchavador em potencial utiliza essa mesma estratégia, o resultado ¢ imprevisivel: os conchaves podem dar certo ou podem nao dar. Todos os par, #dos ficario em melhor situagio se 0 recurso do conchavo for empregadlo do que se nfo for, mas, earn, «cada partido lutard para obter as melhores barganhas politicas possiveis, o resultado final pade ser que ‘nenhum acordo seja logrado, Isso ¢ bastante similar & situagio dos grupos oligopolistas, fa que togos (9s membros do grupo desejam um prego mais alto e todos ganhario se restringirem sua produgao para atingi-lo, mas eles podem ndo conseguir chegar a um acordo a respeito da partilha da mercado. UMA TBORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANTZACOES letivo grande o bastante para que tivesse interesse em prover o beneficio se pre- cisasse arcar com todo 0 custo sozinho, mas que, ainda assim, fosse um grupo no qual o individuo tivesse suficiente importancia para que sua contribuigdo, ou falta de contribuigao, para a consecugio do objetivo grupal surtisse um efeito per- ceptivel sobre os custos € ganhos de outros membros do grupo®. Por contraste, em um grande grupo no qual nenhuma contribuigiio individual faga uma diferen- ga perceptivel para o grupo como um todo, ou para o Snus ou ganho de qualquer membro do grupo tomado individualmente, é certo que 0 beneficio coletivo nao ser provido a menos que haja coergao ou alguma indugdo externa que leve os membros do grande grupo a agirem em prol de seus interesses comuns“. ‘A Gltima disting%io — entre 0 grupo to grande que acaba sendo definitiva- mente incapaz de prover-se de um beneficio coletivo ¢ o grupo de dimensdes oligopolfsticas que pode prover-se de um beneficio coletivo ~ € particularmente importante. Ela depende de que dois ou mais membros quaisquer do grupo te- nham ou nao uma interdependéncia perceptivel. isto é, se a contribuigao ou fal- ta de contribuigiio de determinado membro do grupo tera um efeito perceptivel sobre © Gnus ou o ganho de qualquer outro membro ou membros do grupo. Se um grupo ter ou nfio condigbes de se prover de um beneficio coletivo sem co- ercao ou indugdes externas dependers portanto, em um grau considerdvel, do nii- mero de individuos do grupo, j4 que quanto maior o grupo, menor a probabili- dade de que a contribuigao de qualquer membro seja perceptivel. Nao é, contudo, rigorosamente acurado dizer que depende 56 do numero de individuos do gru- po. A relagio entre o tamanho do grupo € a importancia de um membro tomado individualmente nao pode ser definida com tanta simplicidade. Um grupo cujos 65.0 resultado é claramente indetermindvel quando F, é menor do que C/V, em todos os pontos © 0 gru- ‘po nko é tio grande a ponto de as ages de um membro nao terem nenhum efeito perceptivel. ‘s Um critico amigavel me sugeriu que mesmo uma grande organizagao preexistente poderia continuar pprovendlo um beneficio coletivo se realizasse uma espécie de plebiscito entre seus membros, deixando Slaro que, se ndo houvesse um compromisso undnime ou quase undnime dos membros no sentido de ontribuir para 0 provimento do beneficio colctiva, esse beneficio nao seria mais provide. Fsse argu- ‘enta, se 0 entendi corretamente, ¢ equivocado. Em tal situacao, 0 individuo saberia que se os outros provessem o beneficio coletive ele desfrutaria dos ganhor tanto se fizesse alguma contribuigdo quanto nao a fizesse. Nao teria, portanto, nenhum incentive para assumir um compromisso, a menos que ‘Sisse requerido um compromisso absolutamente undnime de todos os membros ou que por alguma outra =s50 0 provimento ou nao do beneficio coletivo dependesse exclusivamente de seu compromisso, Mas, S22 promessa de compromisso fosse exigida de todos os membros, ou se por alguina outra razio um Sembro pudesse decidir sozinho se o grupo obteria ov no o beneficio coletivo, ento um nico mem= ‘See poderia privar de grandes ganhos todos os outros membros do grupo. Ele estaria em posigio de ‘poder barganhar em troca de propinas. Mas, visto que quaisquer outros membros do grupo poderiam. SSoregar a mesma estratégia © ganhar tanto quanto ele, nfo haveria, nesse caso. nenhuma probabilida- Ge Se que 0 beneticio coletiva fosse provide, Ver novamente Buchanan & Tullock. 0. cit. pp. 96-116. 7 A LOGICA Da AKO COLETIVA membros tém graus muito desiguais de interesse por um beneficio coletivo é que visa a um beneficio que € (em algum nivel de provimento) extremamente com- Pensador com relagao ao seu custo teré mais condigdes de prover-se do benefi cio coletivo do que outros grupos com © mesmo numero de membros, mas sem essas caracterfsticas. O mesmo padrao prevalece em um contexto de mercado, onde 0 niimero de empresas que um setor industrial oligopolista pode aglutinar sem deixar de ser um oligopdlio (e preservando, portanto, a possibilidade de obter lucros supracompetitivos) varia um pouco de caso para caso. A chave para determinar se um grupo terd ou nao capacidade de agir, sem coer¢Ao ou indugdes externas, pelo interesse grupal é (como deveria ser) a mesma para grupos inse- ridos no contexto de mercado e grupos ndo-inseridos: a resposta dependeré se 08 atos individuais de um ou mais membros do grupo siio perceptiveis para qual- quer outro membro do grupo™. Isso claramente, mas nfo exclusivamente, uma fungao do nimero de membros do grupo. Agora ja € possivel especificar quando serd necessria ou uma coordena- $40 informal ou uma organizagao para obter um beneficio coletivo. © menor tipo de grupo — aquele em que um ou mais membros ficam com uma frago tao gran- de do ganho total que julgam valer a pena fazer com que o beneficio coletive seja provido mesmo que tenham de pagar 0 custo total sozinhos ~ pode se arran- Jar sem qualquer acordo grupal ou organizagio. Um acordo grupal pode ser acer- tado para distribuir mais amplamente os custos ou para determinar o nivel dese- Jado de provimento do beneficio coletivo. Mas, sempre que haja um incentivo & ago unilateral ¢ individual para obter o beneficio coletivo, nem uma organiza- $80 formal e nem sequer um acordo grupal informal sero indispensaveis para obté-lo. Em qualquer grupo de dimensées maiores do que essas, porém, nenhurn beneficio coletivo podera ser obtide sem algum acordo, coordenago ou organi- zac%o grupal. No grupo intermediério ou no grupo de dimensées oligopolisticas, 97. A perceptibilidade das ages individuais de um membro de um grupa pode ser influenciada pela pré- bra estrutura ¢arranjos institucionats do grapo. Um grupo previamente organizado, por exemple, teste ‘uidar para que as contribuigdes ou a falta de contribuigdes de qualquer membro do srupe aeurnenne f.cfelto da conduta de cada membro sobre os custos © ganhos dos outros membres, aelam diveloales impedindo assim que o trabalho do grupo fosse arruinado por falta de informagio, Postante, dehang Pereeptbilidade” em termos do grau de informagao e dos arranjos institucionale que na verdad oo {em em qualquer grupo, em vez de presumir uma “perceptibilidade natural” nao sfetada yor analogues tipo de divulgagtio de informagio ou outros acertos institucionais. Esse ponte, juntamene conn tos oulros comentérios valiosos, foi tazido a minha ateneao pelo professor Jerome Rothenbere: gua, ceptibilidade artificial” do que a meu ver seria desejavel. Nao sei de nenhum exemple peltieg ee at gum grupo ou organizagtio que tenha feito algo além de melhorar a informagae parm enfatica, a pen ceptibilidade das agdes de um individuo na luta por um benefieio coletiee 58 UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES ‘onde dois ou mais membros devem agir simultaneamente para que um beneficio coletivo possa ser obtido, deve haver ao menos coordenagiio ou organizagio té- cita . Quanto maior for o grupo, mais ele precisaré de acordo e organizacio, e quanto maior o grupo, maior o ntimero de membros que por via de regra terio de ser inclufdos no acordo ou organizagio grupal. Pode nfo ser necessério que © grupo intciro esteja organizado, ja que uma subparte do grupo total pode ter condigdes de prover 0 beneficio coletivo. No entanto, estabelecer um acordo ou organizagaio grupal sempre tenderé a ser mais dificil quanto maior for 0 tama- nho do grupo, porque quanto maior o grupo mais dificil seré configurar e orga- nizar até mesmo um subgrupo do grupo total. Além disso, os integrantes do subgrupo terfio um incentivo para continuar barganhando com os outros mem- bros até que a carga esteja esparsamente distribufda, aumentando assim os cus- tes com barganhas. Em sfntese, os custos de organizacito stio uma fungao cres- sente do ntimero de individuos no grupo. (Embora isso nao signifique que os cus- ®8s por pessoa tenham de aumentar quanto mais integrantes houver no grupo c, Portanto, quanto maiores forem os custos totais de organizagao, j4 que sem di- wida ha economia de escala em um proceso organizacional.) Em certos casos, =m grupo ja estar previamente organizado para algum outro propésito, e entéo esses custos de organizagio jd terdo sido cobertos. Nesses casos, a capacidade = um grupo de prover-se de um beneficio coletivo sera explicada em parte pe- $s motivos que originalmente o levaram a se organizar e se manter. Isso chama ‘Sevamente a atencdo para os custos organizacionais mostra que esses custos ‘20 podem ser deixados fora do modelo, exceto no caso do menor tipo de gru- 2. no qual a aco unilateral pode ser capaz de prover um beneficio coletive. Os =Sstos organizacionais no devem ser confundidos com © po de custos analisa- anteriormente. As fungdes de custo consideradas acima envolviam somente Sustos-recurso diretos da obtencdo de diversos niveis de provimento de um cio coletivo. Quando nao hé uma organizagio preexistente, ¢ quando os “recurso diretamente envolvidos na obtengao do beneficio coletive que o descja so maiores do que os custos com que cada individuo poderia ar “sezinho lucrativamente, sera preciso assumir custos adicionais para configurar =ordo sobre a maneira como o Onus ser repartido e para coordenar ou or- S=er 2 luta pela obtencao desse beneficio coletivo. Sao os custos de comuni- entre os membros do grupo, os custos de qualquér barganha entre cles € de criar, arregimentar e manter um organizacio grupal formal. Um grupo nao pode contar apenas com nfveis infinitesimalmente peque- |S organizagao formal, nem mesmo de acordo grupal informal. Um grupo == dado numero de membros deve ter um certo nivel minimo de organiza- 29 A LOGICA DA AGRO COLETIVA SSeS Custos lado 20s outros Custos ‘Sprios inte~ fio do ganho total grupal que Feceberd cada membro que atue pelos interesses do grupo, menos adequada a re~ fo time dec eurauet acdo grupal, e mais longe ficard o grupo de atingir o pon- io Simo de obteneio do beneficio coletivo, se é que obterd aleurn, Segundo, dado see ante maior for © grupo, menor seré a parte do ganho total que caberé a pada membro ou a qualquer pequeno subgrupo (sem exceyiio), mence seré a pro- babilidade de que algum subgrupo — e muito menos algum membro sozinho — ganhe 0 suficiente com a obtengo do beneficio coletivo para compensar os cus- fos de prover até mesmo uma pequena qua lavras, quanto maior for o grupo, menor s bencficio coletivo. Terceiro, quanto 0, mais custosa serd a organizagio ¢, Itada antes que alguma quantidade do UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES Agora que todos os tamanhos de grupos foram considerados, possivel desenvolver a necesséria classificagao dos grupos. Em um artigo que era origi- nalmente parte deste estudo, mas que foi publicado separadamente®, este autor seu co-autor diziam que pode ser dado um sentido te6rico preciso ao conceito de grupo ou setor industrial, que deveria ser usado, além do conceito de mono- Pélio puro, no estudo da estrutura de mercado. Naquele artigo, a situagio em que ha somente uma empresa no setor industrial era chamada de monop6lio puro. As situagGes em que as empresas so tdio poucas que as agGes de uma de- las tém um efeito perceptivel sobre qualquer outra empresa ou grupo de empre- sas era chamada de “oligop6lio”. E a situagdo em que nenhuma empresa tem um efeito perceptfvel sobre qualquer outra era chamada de “competigdo atomi- zada”. A categoria “competigio atomizada” subdividia-se em competigao pura © competi¢éo monopolistica dentro de um grande grupo, e a categoria “oligo- ‘que qualquer um dos seus membros se benaficiaria com sua obtengo mesmo que tivesse de pazar todo Sicusto sozinho, e se entao milhGes de pessoas entrassem no grupo mas o custo do beneficio perma~ fecesse constante, © agora grande grupo paderia ser provido de uma pequena parte desse bencficio, Coletivo. Isso porgue neste exemple hipatética os custos permaneceram inalterados e, portanto, aque- fe membro do inicio ainda tem incentivo para se esforcar para que o beneficio coletivo seja provido. ‘Mas, mesmo em um caso assim, ainda nfo seria completamente correto dizer que o grande grupo esti dgindo em proveito de seus interesses grupais, j4 que nivel de obtengo do beneficio coletivo seria inerivelmente sub6timo. O nivel étimo de provimento do beneficio publico subiria cada vez que um individuo entrasse no grupo, #4 quc 0 custo unitdrio do beneficio coletivo € hipoteticamente eonstan- fe, enguanto 0 ganho proporcionado por cada,unidade adicional do beneficio aumenta cada vez. que fm novo membro entra no grupo, O provedor original j4 no teria nenhuin ineentivo para prover mais Smedida que 0 srupo se expandisse, a menos que formasse uma organizagao para partithar os custos om 2 outros membros deste (agora grande) grupo. Mas isso Implicaria assumir os considerdVeis custos Ge iuma grande organizagao ndo haveria um modo para que esses custos pudessem ser cobertos atra- Nes da agao voluntéria e racional dos membros do grupo. Portanto, se © ganho total proporcionado Sor um beneficio coletivo excedesse seus custos por um milhar ou um milhJo de vezes, seria logica- Sccote possivel que um grupo grande conseguisse prover-se de alguma quantidade do beneffcio cole~ Sto, mas, em um caso assim, o nivel de provimento do beneficio seria apenas uma fragsio minima do, het Gtimo, Nao € facil imaginar exemplos priticos de grupos que se encaixariam nessa descri¢io, Sas um exemple possivel € discutido na nota 94 do capitulo “A Teoria do “Subproduto’ ¢ a Teoria do Setcresse Especial”. Contudo, seria fécil eliminar até mesmo esses casos excepcionais simplesmente ExSnindo todos os grupgs que pudessem prover-se de alguma quantidade de um beneffeio coletivo Som “grupos pequenos” (ou dando-Ihes outros nomes) e colocando (odos os grupos que nfo pudes- SS proverse de um beneficio coletivo em outra categoria. Mas essa via fcil deve ser rejeitada, pois, Sonate cata parte da teoria tautoldgica e, portanto, imune a qualquer refutago. A argumentagao aqui Sie = intengio de desenvolver a (sem divida razodvel) hipStese empirica de que os custos totais do Sorcficio coletivo desejados por grandes grupos slo grandes o bastante para exceder 0 valor da pe- Sern fragao do ganho total que um membro de um grande grupo obter4, de maneira que 0 individuo Se provera o beneticio coletivo, Pode haver excegdes a isso, como pode haver excegOes a qualquer Se sfirmagio empitica, e portanto padem ocorrer situagdes em que grupos grandes conseguitiam mse de beneficios coletivos (quantidades minimas, no méximo) através da aglo volunta ‘de um de seus membros, & McFarland, nota 14. A LOGICA DA AGAO COLETIVA polio” também tinha duas subdivis6es, conforme 0 produto fosse homogéneo ou diferenciado, Para grupos inclusivos ou fora do contexto de mercado, as categorias tém de ser ligeiramente diferentes. A situagao andloga ao monopdlio puro (ou monop- s6nio puro) € obviamente aquela em que um Unico individuo, fora do contexto de mercado, visa a algum beneficio néo-coletivo, algum beneficio sem econo- mias ou deseconomias externas. No ambito de tamanho correspondente ao oligo- pélio de grupos inseridos no mercado, ha dois tipos diferentes de grupos fora do contexto de mercado: grupos “privilegiados” e grupos “intermedidrios”. Um gru- po “privilegiado” € um grupo em que cada um de seus membros, ou pelo menos um deles, tem um incentivo para se esforgar para que 0 beneficio coletivo seja provido mesmo que ele tenha de arcar sozinho com todo o 6nus. Em um grupo assim h4 uma pressuposicao” de que o beneficio coletivo sera obtido e pode ser obtido sem nenhuma organizagao grupal ou coordenagdo de qualquer tipo. ‘Um grupo “intermediério” é um grupo em que nenhum membro obtém so- zinho uma parte do ganho suficientemente grande para incentiva-lo a prover 0 beneficio, mas que ndo tem tantos integrantes a ponto de um membro nao per- ceber se outro esta ou nao ajudando a prover o beneficio coletivo. Em tal grupo, um beneficio coletivo pode ser obtido ou pode nao ser. mas nenhum beneficio coletivo jamais sera obtido sem alguma coordenagao ou organizacao grupal”. O grupo anélogo & competigao atomizada na situagdo fora do contexto de merca- do é 0 grupo muito grande que aqui seré chamado de grupo “latente”. Ele se dis- tingue pelo fato de que, se um membro ajudar ou nao ajudar a prover © benefi- 70. E concebivel que um grupo “privilegiado “ possa no conseguir prover-se de um beneficio coletivo, {j6 que pode haver barganha dentro do grupo e essa barganha pode ser malsucedida. Imagine-se um [Beupo privitegiado em que cada membro do grupo obtivesse uma pareela to grande do beneficio eo- letivo que ele ficasse em melhor situagtio mesmo que tivesse de pagar sozinho o custo total de prov ver 0 beneficio coletive do que se o beneficio coletive nia fosse provido, ainda concebfvel que cada membro do grupo, sabende que cada um dos outros também fiearia em melhor situago se pro= vesse sozinho 0 beneficio coletive do que se nenhum beneficio coletive fosse obtido, se recusasse contribuir para a obtengio do beneficio. Todos poderiam se recusar a ajudas a prover 0 beneficio eo letivo na erronea suposigio de que de qualquer maneira os outros o proveriam sem a sua ajuda. No fentanto, nao pareee muito provavel que todos os membros do grupo continuassem esse erro per 71."O cariter da estrutura numericamente intermediaria pode, portanto, ser explicado como uma mistura de ambas: cada uma das caracteristicas tanto des pequenos quanto dos grandes grupos aparece no gr po intermediairio como um tago fragmentirio, ora emergindo, ora desaparecendo ou se tornando la lente, Assim, as estruturas intermedirias partilnam objetivamente as carsteristicas esvenciais das est tras menores e das maiores — parcial ou allernadamente, [sso explica a incerteza subjetiva no que se refere 8 decisao sobre a qual das duas categorias elas perteneem” Simmel, Sociology of Georg Simmel, pp. 116-117. ‘2 UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES. cio coletivo, nenhum outro membro ser4 significativamente afetado ¢, portanto, senhum teré razio para reagir. Assim, no grupo “latente” um individuo nao pode, por definicdo, fazer uma contribuigiio perceptivel a qualquer ¢ jd que ninguém no grupo reagiré se ele nao fizer nenhuma contribuigso, ele ndo ter incentivo para contribuir. Portanto, os grupos grandes ou “latentes” niio tm incentivo para agir para obter um beneficio coletivo porque, por mais valioso que o benef ‘cio coletivo possa ser para © grupo como um todo, o individu nao tem nenhum incentivo para pagar taxas contributivas a nenhuma organizaglo que tra balhe pelos interesses do grupo latente nem para arcar de qualquer outra mancira com nenhum dos custos da agao coletiva necessaria. ‘Somente um incentivo independente e “seletivo” estimularé um individuo racional em um grupo latente a agir de mancira grupal. Em tais circunstancias ‘a acao grupal pode ser obtida somente através de um incentivo que opere, come © proprio beneficio coletivo. sobre o grupo como um todo, mas de mancira #¢- letiva com relagio aos seus membros, ¢ nao de forma indiseriminada. O incen- tivo deve ser “seletivo” no sentido de que aqueles que nao se unam a organiza” G40 que trabalha pelos interesses do grupo ou nao contribuam de outras maneirs para a promogio des interesses do grupo possam ser tratados de forma diferen- te em relagtio Aqueles que colaboram. Esses “incentivos seletivos” podem ser ne- gativos ou positivos, ou seja, podem coagir com alguma punigio aqueles que nao crcarem com a parte dos custos da ago grupal que Ihes foi alocada, ou podem ser estimulos positivos para aqueles que agirem pelos interesses do grupo”. Um grupo latente que tenha sido levado a agir pelos interesses grupais, seja Por CO” ergo dos membros. seja pelo estimulo de recompensas positivas a eles ofere- cidas, seré chamado aqui de grupo latente “mobilizado"”. Os grandes grupos $40, portanto, chamados de “latentes” porque tém um poder ou capacidade 1a- sforgo grupal e, 42. Coercao é definida aqui como uma punigao que deixa um individuo em uma curva de indiferenca mois Ceara Gare cle teria fieado se tivesse arcado com a parte dos custos do beneficio coletivo que tne ean Mecaln e nao tivesse sido coagido. Um estimulo positivo é definida como qualquer recompensa Te duina urn individuo que paga a parte dos custos do beneficio coletive que the fora alocada ¢ ree, See aes ets em uma curva de Indiferenga mais alta do que teria fieado se nifo tivesse arcado com ‘dido a recompensa, Em outras palavras: os incentivos see nenhum dos custos do beneficio € per vos, see inidos oom sendo maiores em valor, em termos das preferencias/vantagens de cada individvo. Se eeeeete don eustos do beneficio colctivo para cada individyo, Sangdes e estimulos de valor menor oo ane Ro nao sao suficientes para mobilizar um grupo latente. A respeito de alguns dos problemas oe Gieccncingao © definigao de cocrsho e incentivos positivos. ver Alfred Kuhn, The Study af Sacisty oo Guipled Approach, Homewood, Il, Richard D. Irwin, Inc. & Dorsey Press, Ine., 1963. pp. 365-370 eee serra usou 0 termo mobilizacdo em um contexto algo semelhante, mas seu uso da palaves aoete erage, Ver Karl Deutsch, “Social Mobilization and Political Development.” American Political Science Review, LN, set, 1961, pp. 493-514. 7 6 A LOGICA DA ACKO COLETIVA tente para a ago, mas esse poder potencial s com a ajuda de “incentivos seletivos” "As probabilidades de a ado grupal ocorrer silo de fato distintas 6 cada urn daz Gafeyoriasiresém-expostas; Errvalguns casos;/pode-se ter alguns = eeve de que oF beneticier calsivovon: péblico-serh provide. Em ontins, Poke 5° eee reese dor pe ta pinreerqnestnajeemncdunivsieclcevasyals no set! prow End ainda casos em que ele poderia tanto ser quanto nfo ser provid quer forma, o tamanho € um dos fatores determinant possfvel que a busca racional e voluntéria de um interesse individual gere com- portamento grupal. Os grupos pequenos irfio promover seu de um modo melhor do que os grandes va aquest formulada no comeso deste capttulo jé pode ser respondida Pa- rece claro agora que os pequenos grupos silo no apenas quantitative mis bem qualitativamente diferentes dos grandes grupos ¢ que a existencls de gran- des associagSes ndo pode ser explicada pelos mesmos fatores que explicam a existéncia de pequenos grupos. 6 se pode coneretizar ou mobilizar lo. De qual- ies para definir se € ou nao 5 interesses comuns TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL a. A Coesio € a Eficiéncia dos Grupos Pequenos 'A maior eficigncia dos grupos relativamente pequenos ~ os grupos “privi- sados” e 05 “intermediarios” — fica evidente tanto pela experiéncia ¢ pela por exemplo, uma reunitio que en- 10 conseguiem tomar decisoes rip gio quanto pela teoria. Considere-se, ‘muita pessoas, que por isso. mesmo ni ‘ou suficientemente cautelosas, Todos gostariam que a reunido terminasse a, mas poucos estardo dispostos, se alguém estiver, a abrir mio de seus ses para que isso ocorra. E, embora presumivelmente todos os participan= 2 reunio tenham um interesse em que sejam tomadas decisdes seguras & seis, com muita freqiiéncia isso nto ocorte. Quando o nimero de partici ‘é grande, o partcipante tipico tem consciéncia de que seus esforgos in- is provavelmente nio influenciaro muito no resultado final ede que ele afetado da mesma maneira pelas decisbes da reunido tanto se se aplicar {quanto se se aplicar pouco no estudo do assunto em paula. Assim, par. te t{pico pode nfo se dar ao trabalho de estudar tao cuidadosamente 0 a teuniZo quanto 0 estudaria se pudesse tomar as decisdes sozinho. As da reunido sio, portanto, beneficios pablitos para os que dela partici talvez também para outras pessoas), e a contribuiglo de cada participante ‘cbtengaio ov melhoria desses beneficios pablicos diminuiré quanto mator Tsimero de participantes da reunido. E por essas razbes, entre outra, que “ A LOGICA DA AGAO COLETIVA as organizagdes recorrem com tanta freqiiéncia ao pequeno grupo: comi subcomités © pequenos grupos de lideranga sao criados — e, uma vez criados, tendem a desempenhar um papel crucial. Essa observagdio € corroborada por alguns interessantes resultados de pes quisas. John James, entre outros, realizou um trabalho empirico sobre 0 assunte ¢ obteve resultados que respaldam a teoria apresentada neste estudo — embers seu trabalho no tenha sido realizado com a intengiio de comprovar nenhurs teoria semelhante. © professor James descobriu que em uma ampla variedade de instituigdes, ptiblicas e privadas, nacionais e locais, os grupos e subgrupos “ati- yos” tendem a ser muito menores do que os grupos © subgrupos que nao agem Em um dos casos que ele estudou, 0 tamanho médio do grupo “ativo” era de 6.5 membros, ao passo que o tamanho médio dos grupos n&o ativos era de 14 mem= bros. Esses subgrupos operavam em um grande estabelecimento bancario, cuje secretério proferiu espontaneamente a seguinte opinido pessoal: “Chegamos & conclusio”, escreveu ele, “de que os comités devem ser pequenos quando se espera agdo, ¢ relativamente grandes quando se buscam pontos de vista, reagdes ete.”". Ao que parece esse tipo de situagao nfo se restringe ao ramo banedrio. E amplamente sabido que no Congresso dos Estados Unidos e nas assembléias estaduais 0 poder reside em um notével grau — um grau que a muitos parece alar- mante — nos comités e subcomités*. James constatou que os subcomités do Se- nado dos Estados Unidos tinham em média, & época de sua pesquisa, 5,4 mem- bros, os subcomités da Casa 7.8, 0 governo estadual do Oregon 4,7 € 0 governo municipal de Eugene (Oregon) 5,3°. Em suma, os grupos que realmente fazem © trabalho sio de fato grupos pequenos. Um outro estudo corrobora as deseo- bertas de James: o professor A. Paul Hare, em experiéncias controladas com grupos de cinco e de doze garotos, constatou que 0 desempenho do grupo de cinco era em geral superior’. O socidlogo Georg Simmel declarou explicitamente que os grupos pequenos podem agir com mais decisio ¢ utilizar seus recursos com mais eficiéncia do que os grupos grandes: “Os grupos pequenos e centri- petamente organizados costumam reunir e empregar todas as suas energias, 20 John James, “A Preliminary Study of the Size Determinant in Small Group Interaction”, American So- ‘iological Review, XVI, ago. 1951, pp. 474-477. Bertrain M. Gross, The Legislative Struggle, New York, McGraw-Hill, 1953. pp. 265-337: ver também Emest 5. Griffith, Congress, New York, New York University Press. 1951 3. Para uma argumentagio leve e bem-humorada, mas de qualquer maneira Util, sustentando que © comite ‘ou gabincte ideal deve ter somente cinco membros, ver C. Northcote Parkinson, Parkinson's Law, Boston, Houghton Mifflin, 1957, pp. 33-34. 4. A. Paul Hare, “A Study of Interaction and Consensus in Different Sized Groups", Review, XVII, jun. 1952, pp. 261-268. "American Sociological 66 TAMANHO DE GRUPO & COMPORTAMENTO GRUPAL passo que nos grupos grandes essas energias perman qiiéncia em estado potencial”®. © fato de que a parceria ou soci trabalho vidvel q \ecem com muito mais fre- edade pode ser uma forma institucional de tuando o ndmero de parceiros € pequeno, mas que € geralmente tnalsucedida quando © némero de parceiros € muito grande, pode constituir mais ima ilustragao das vantagens dos grupos pequenos. Quando uma parceria tem tmuitos membros, © parceiro individual nota que seu préprio esforgo ou cont buigao nao afetaré muito o desempenho grupal € espera obter sua parcela prees- tabelecida dos ganhos tanto se contribuir quanto se no contribuir com tudo o que poderia ter contribufdo. Os ganhos de uma parceria em que cada parceiro obtém ima parte preestabelecida do retorno dos esforgos grupais so um beneficio co- Ietivo para os membros da parceria, e quando o ntimero de parceitos aumenta, 0 gncentivo que cada um deles tem para trabalhar pelo sucesso da empreitada di- cninui, Essa € sem dtivida apenas uma das varias razdes pelas quais as parce as cendem a perdurar somente quando © ntimero de parceiros € realmente pequeno, mmas € uma razAo que pode ter um peso decisivo em uma parceria grande®. ‘A autonomia da administragao na grande sociedade anénima moderna, com geus milhares de acionistas, ¢ a subordinacdo da administragio na sociedade “eonima pertencente a um pequeno nimero de acionistas também podem ilus- as dificuldades especificas do grande grupo. O fat to de que a administragaio a controlar a grande sociedade andnima e tem condigGes, por Vez, de aver seus proprios interesses as custas dos acionistas € surpreendente, ten Tm vista que os acionistas comuns dispéem de poder legal para depor a ad- fragho se assim o desejarem — se ela estiver dirigindo a sociedade anOni- arcial ou totalmente em pro! dos interesses da diretoria — € visto também shes tém, como grupo, um incentivo para fazer isso. Por que, entdo, os acio- ado exereem seu poder? Eles nao 0 fazem porque, em uma grande socie- cndnima com milhares de acionistas, qualquer esforgo que © acionista Seer para depor a administracao provavelmente seré malsucedido- E mesmo IG acionista tivesse xito, a maior parte dos retornos na forma de dividendos “Senmel, The Sociology of George Simmel, wad. am. Kurt H, Wolff, Glencoe, Mi, Free Press, 1950, Hearn paseanem Simmel diz que as sociedades socialistas ~ com o que ele parece quere! oe Sears Pelantirios que partitham suas rendas conforme algum princfpio igualiério — fever care pequenas, "Até 0 presente, os regimes socialistas ou quase-soctalistas foram Pos: Me em grapos muito pequenos, ¢ smpre falharam nos grandes” (p. 85). Tapresentado nao precisa aplicar-se a parceiros que se supoe sejam = gue provem somente capital. Nem Teva em conta 0 fato de oconsivel pelas/sujeito a perdas de todo 0 grupo de parceiros. parceiros adormeci~ ‘que em muitos casos cada par- o7 A LOGICA DA ACAO COLETIVA © Precos de agdes mais altos iria para 0 resto dos acionistas, ja que o tipico possui apenas uma fnfima porcentagem do enorme total das agdes ciedade. A renda da sociedade andnima é um beneficio coletivo para os) tas. € © acionista que possui apenas uma porcentagem minima do total das como qualquer membro de um grupo latente, nao tem nenhum incentive balhar pelos interesses do grupo. Mais especificamente, ele nado tem incentivo para desafiar a diregao da empresa, por mais inepta ou corrupts ela possa ser. (Este argumento, no entanto, nao se aplica inteiramente ao nista que quer para si proprio a posigio € o dinheiro do diretor, pois nesse cle no esta trabalhando por um beneficio coletivo; é significativo que a ria das tentativas de depor conselhos administrativos de sociedades a: Sejam iniciadas por aqueles que querem apropriar-se da direcdo da emp: Sociedades andnimas com um pequeno ntimero de acionistas, em contraste_ nao apenas controladas de jure mas também de facto pelos acionistas, pois. tais casos se aplicam os conceitos de grupo privilegiado ou intermediario”_ Ha também evidéncias hist6ricas que sustentam a teoria aqui apr George C. Homans, em uma das obras mais conhecidas das ciéncias sociais americanas®, assinalou que © pequeno grupo tem demonstrado muito mais bilidade ao longo da histéria que o giande grupo: No nfvel do [...] pequeno grupo, isto é, no nivel de uma unidade social (née & tando 0 nome que Ihe dermos) em que cada um de seus membros pode conhecer di fe todos os outros, a sociedade humana, ao longo de muitos milénios a mais do que que a historia escrita registra, conseguiu se manter coesa [...] Esses grupos tém tendsd Produzir um excedente dos beneficios que caracterizam uma organizagdo bem-sucedida. [...] © Egito antigo © a Mesopotamia eram civilizages. Assim como a india ¢ aCe na cléssicas. E a civilizago greco-romana ¢ também a nossa civilizagdo ocidental, que pea veio da cristandade medieval [...] © fato estarrecedor é que, depois de florescer por um certo perfodo, todas as cea zagoes, exceto uma, se esboroaram [...] as organizagées formais que articulavam o todo = cial se despedagaram [...] boa parte da tecnologia foi até mesmo perdida por falta da cme peragdo em grande escala necessdria para coloc-la em pratica [...] a civilizagio mergulhas Sos Poucos em uma Idade das Trevas, em uma situagiio muito semelhante Aquela a parue da qual ela iniciara seu caminho ascendente, situagtio na qual a hostilidade mitua entre on Peauenos grupos € a propria condicio para a coesdo interna de cada um deles [...] A socse. 7 Ner Adolph A. Berle I. & Gardiner C. Means, The Modern Corporation and Private Property, New York. Pigemillan, 1932; 1-A. Livingston, The American Stockholder, New York, Collier Books, 1963: P Sanseea Warenee: Ovnership, Conerot and Success of Large Companies, London, Sweet & Maxwell, 196i William Mennell. Takeover, London, Lawrence & Wishart, 1962, 8. George C. Homans, The Human Group, New York, Harcourt, Brace, 1950. 6s TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL Gade pode portanto afundar até esse ponto, mas aparentemente no mais abaixo (...] Pode- se ler essa triste narrativa, contada com eloquéncia, nas obras de todos os historiadores aa givilizacio, de Spengler a Toynbee. A tnica civilizagso que ndlo se despedagou totalmente €@ nossa civilizagdo ocidental, ¢ nos sentimos desesperadamente ansiosos com relagao iese, [Mas] No nivel da tribo ou do grupo, a sociedade sempre conseguiu se manter coves A afirmagio de Homans de que os grupos menores sfio os mais durdveis € bastante convincente ¢ com certeza reforga a teoria desenvolvida aqui. Mas a que cle tira desses fatos hist6ricos no € totalmente compativel com a abordagem do Presente estudo. Seu livro se centra na seguinte idéia: “Vamos expor 0 nosso ar- gtmento ainda uma dltima vez: no nfvel do pequeno grupo, a sociedade sempre Sonseguiu coesdo. Inferimos portant que, para que a civilizagdio se mantenha, sla deve reter [...] alguns tragos do pequeno grupo”. A conclusto de Homane Sspende da pressuposigdo de que as técnicas ou métodos do pequeno grupo stlo mais cficientes. Mas isso nao € necessariamente verdadeiro. Os grupos Peque- Bes Ou “Privilegiados”, estilo em uma posigo mais vantajosa jé de safda, por- Be alguns ou todos os seus membros terdio um incentivo para se esforgar a fim Se que tudo corra bem. Isso nao vale para o grande grupo. No grande Brupo os SEentivos que concernem ao grupo nao concernem também automaticarnente aoe ESividuos do grupo. Portanto, nao se segue que, pelo fato de o grupo pequeno sido historicamente mais eficiente, o grupo grande possa evitar o fracaseo Go, © 0s métodos do pequeno. O grupo “privilegiado” — © sob esse aspecto tam- © B1uPo intermediario — esto pura ¢ simplesmente em uma posigio mais. ajosa'!. ’. Problemas das Teorias Tradicionais * opiniio de Homans de que as ligdes dos grupos pequenos deveriam ser 208 grupos grandes tem muito em comum com a pressuposigdio na qual s@ grande parte das pesquisas sobre grupos pequenos. Uma vasta quanti- '@= Pesquisas sobre © pequeno grupo tem sido feita nos tiltimos anos, boa Fr igca, 256. Ver também Neil W, Chamberlain, General Theory uf Economic Provesy, New York, sanag shecialmente pp. 347-348, © Sherman Krupp, Pattern in Organisation Anedvaty, Yalae Gilton. 1961, pp. 118-139 © 171-176 ep. cit, p. 468. Entre grupos Iatentes e grupos privilegiados ou intermediérios € somente um dos varios aro Tsvels pela instabilidade de muitos impérios e civilizagaes antigas. Eu mesmo aponier fatores em um livro ainda a ser publicado. oo A LOGICA DA AGRO COLETIVA Parte delas bascada na idéia de que seus (convenientes) resultados experimen- tais podem ser diretamente aplicados a grandes grupos meramente através de uma multiplicagiio desses resultades por um fator de escala'?. Alguns psicdlo- Bos socials, socidlogos ¢ cientistas politicos presumem que o pequeno grupo € 120 parecido com 0 grande em aspectos outros que niio o tamanho que eles de. vent Se comportar de acordo com leis mais ou menos similares. Mas, se € que as distingdes tragadas aqui entre © grupo “privilegiado”, o “intermedidrio” 2 Ulatente” tem algum significado, essa pressuposigao € incerta, a0 menos em se tratando de grupos que tenham um interesse comum e coletivo. Porque o grupa Pequeno ¢ privilegiado pode contar com o fato de que suas necessidades colts. wn, Provavelmente sero preenchidas de uma maneira ou de outra, ¢ 0 grupo re~ almente pequeno (ou intermediario) tem uma boa chance de que a agi volun. \aria resolva seus problemas coletivos, ao passo que o grupo grande e latente nao Pode agir conforme seus interesses comuns desde que os membros do grupo scjam livres para promoverem seus interesses individuais. As distingdes desenvolvidas neste estudo sugerem também que a explica- séo wadicional das associagdes voluntarias apresentada no primeiro capitulo ne. cessita de algumas emendas. A teoria tradicional enfatiza a (suposta) universali- Gade de participagio em associagSes voluntarias nas sociedades modernas © explica 08 pequenos grupos e as grandes organizag&es & luz das mesmas causas, Bm sua forma mais elaborada, a teoria tradicional afirma que a prevaléneie ae paiticipagao na associaciio voluntaria moderna se deve a “diferenciacao estrutu. ral” caracterfstica das sociedades em desenvolvimento — isto é, ao fato cle que, a medida que os grupos pequenos ¢ primarios das sociedades primitivas declina. la nogaio de um “instinto membros nessas grandes ¢ sea, SeociagOes voluntérias? Ha reconhecidamente fungées a serem desempe_ nhadas pelas grandes associagdes & medida que os grupos pequenos ¢ primarios St tornam mais especializados ou declinam. E 0 desempenho dessas fungOes, sem dvida, pode trazer ganhos para grande nimero de pessoas. Mas irdo ceses ga- nhos constituir para os individuos por eles favorecidos um incentivo & afiliagao, ee ene wr inunld Theory in Sociat Change, New York. Harper, 1951, pp. 163-164; Harold H. Kelley A aur Ny uhibaut. The Social Psychology of Groups. New York, John Wiley, 1959, op. 6 HOP ae and Polinied Bendy oF Interaction and Consensus".op. eit, pp. 261-268: Siduey Verba Snail rower and Political Behavior, Princeton, N.J., Princeton University Press, 1961, pp. 14, 99-1096 aoe oe 70 ‘TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL ¢ ainda mais a criago de uma grande associagao voluntéria para desempenhar essas funcées? A resposta que, nao importa quo vantajosas © benéficas pos sam ser as fungdes que se espera que as grandes associagdes desempenhem, nao ha nenhum incentivo a afiliagdo a tais associagSes para qualquer membro de um grupo latente"®. Por mais importantes que essas fungdes possam ser, nto h4 por que supor que um grupo Jatente conseguird se organizar ¢ agir no sentido de de- Sempenhar essas fung6es. J4 os pequenos grupos primérios podem presumivel- mente agir a fim de desempenhar fungdes vantajosas para si mesmos. A teoria sradicional das associagbes voluntarias equivoca-se ao supor de forma implicita ‘que os grupos latentes agirfio para cumprir propdsitos funcionais da mesma ma- ‘ecira que 0s grupos pequenos o fariam. A existéncia dessas grandes organizagoes “eve ser elucidada principalmente por fatores distintos daqueles que explicam @ “existéncia de grupos menores. Isso sugere que a teoria tradicional € incompleta precisa ser modificada & luz das inter-relagbes I6gicas explicadas no presente o. Essa controvérsia € fortalecida pelo fato de que a teoria tradicional das jagées voluntérias nfo cst4 em absoluto em harmonia com as evidéncias ricas, que indicam que a participagdo em grandes organizacbes voluntarias seuito menor do que a teoria tradicional sugere™*. Hi ainda outro sentido no qual a andlise desenvolvida aqui pode ser usada modificar a andlise tradicional. Esse aspecto envolve a questo do consen- ‘erupal. Nas discuss6es a respeito da coesto de grupos ou organizagdes, fre “mente se supde (embora quase sempre de forma implicita) que o ponto prau de consenso. Se houver muitos desacordos sérios, no haveré ‘coordenado € voluntirio, mas sc houyer um alto grau de concordancia a do que se quer e da forma de obié-lo é quase certo que haversi agdo grupal 5 As vezes o grau de consenso € discutido como se fosse 0 tinico fator “q:e no hs aqui nenhuma insinuagio de que todos os grupos possam necessariamente Ser © S luz de seus intereases monetirios ou materials, A argumentagao do presente trabalho na Mqve 0: individuos tenham desejos apenas monetirios ou materials. Ver nota 17 Seomaravsky, “The Voluntary Associations of Urban Dwellers", American Sociological Review, Tou6, pp, 686.698; Floyd Dotson, “Patterns of Voluntary Membership among Working Class vAmuriean Soviological Review, XVI, out. 1951, p. 687; John C. Scott Jr, “Membership and ve Voluntary Associations”, American Sociological Review, XX, jun. 1951, p. 315: © Stauskaceht, The Joiners - A Sociological Description of Voluntary Association Membership Daseed States, Nova torque, Bedminster Press, 1962, Srauy of interaction and Consensus", op. cit: Raymond! Cattell, “Concepts and Method 2 of Croup Syntality", em A. Paul Hare, Edward F. Borgatta & Robert F Bales (ores.) New York, Alfred A. Knopf, 1955; Leon Festinger, A Theory af Cognitive Dissonance, Ta. Row, Peterson, 1957; Leon Festinger, Stanley Schachter & Kurt Back, “The Operation of > cm Donwin Cartwright & Alvin Zander (orgs:), Group Dynainies, Evanston. 1. ROW, Daviel B, Truman, The Governtental Prnvess,.New York Alfred As Knopf; 1958: a A LOGICA DA ACAO COLETIVA alte se refere 4 ago ou coesiio grupal. Claro que nae Hta de consenso € adversa a quaisquer perspectives de aG80 © coesdo grupal. Mas disso nao se segue que um consenso perfeito, tanto meglue S€ Fefere a0 desejo pelo beneficio coletivo quanto aoe meios mais efi- clentes de obté-lo, sempre traré a consecucaio do objetivo grupal. No caso de um gripe grande ¢ latente, no haveré nenhuma tendéncia a que © grupo se organi- Ge Pat? atingir seus objetivos através da aco voluntéria e racional dos membros do grupo, mesmo que haja consenso perfeito. Na verdade, este estudo parte da ito. Trata-se, sem diivida, de uma pres- determinante de relevo no Testa duivida de que uma fa ©: Incentivos Sociais e Comportamento Racional Os incentivos econdmicos nao sto, com certeza, os Gnicos incentivos pos- Siveis. As pessoas algumas vezes sentem.se motivadac também por um desejo de Prestigio, respeito, amizade e outros objetivos de fundo social e psicolégico. Embora a expresso “status Socioecondmico”, usada com freqtiéncia nas discus, SOes sobre status, sugira que possa haver uma correlagao entre posigao econé- mica € posigdo social, no hé duvida de que as duas coisas so as vezes dife- letivo nas costas dos outros, eles poderiam, micamente com esse tipo de conduta, perder cial poderia pesar mais na balanca do que 72 TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL poderiam empregar a “pressiio social” para leva-los a cumprir sua parte no pro- cesso de consecugio da meta grupal, sob a ameaga de exclusiio do clube social aso nao a cumprissem. Esses recursos podem ser eficientes, j4 que a observa- 40 cotidiana mostra que a maioria das pessoas valoriza a companhia de seus amigos e€ colegas ¢ zela pelo seu satus social, prestigio pessoal e auto-estima. A existéncia desses incentivos sociais & agdo grupal, contudo, n&o contra- diz nem debilita a andlise desenvolvida neste estudo. Se faz algo, € fortalecé-la, dado que status social ¢ aceitagdo social séo beneficios individuais, ndéo-coleti- vos. Sanges © recompensas sociais so “incentivos seletivos”, isto é, sao incen- tivos do tipo que pode ser utilizado para mobilizar um grupo latente. E da prépria natureza dos incentivos sociais sua faculdade de distinguir entre os indivfduos: 0 individuo recalcitrante pode ser colocado no ostracismo, ¢ o que colabora pode ser convidado para o centro do cfrculo privilegiado. Alguns estudiosos da teoria organizacional ressaltaram, com razdo, que os incentivos sociais devem ser ana- lisados de maneira muito semelhante aos incentivos monetérios"®, E ha ainda ou- ‘ros tipos de incentivos que também podem ser analisados de maneira similar!7. 86. Ver especialmente Chester I. Barnard, “The Economy of Incentives”, em The Functions of the Executive, Cambridge, Harvard University Press, 1938, pp. 139-160, ¢, do mesmo autor, “Functions and Pathology of Status Systems in Formal Organizations”, em Organization and Management, Cambridge, Harvard University Press, 1948, pp. 207-244; Peter B. Clark & James Q. Wilson. “Incentive Systems: A Theory of Organizations”, Administrative Science Quarterly, V1, set. 1961, pp. 129-166. e Herbert A. Simon, Adiinistrative Behavior, New York, Macmillan, 1957, especialmente pp. 115-117. Tenho uma divida para com Edward C. Banfield por suas titeis sugestes a respeito de incentivos sociais e teoria organi 2acional. #7 Além dos incentivos monetérios ¢ sociais, hé também incentives ersticos, psicol6gicos, morais € muitos mais. Esses tipos de incentivos s6 podem levar um grupo latente a obter um beneficio coletive porque 30 ou podem ser usados como “incentivos seletivos”, isto é, porque tem a faculdade de distinguir entre 95 individuos que apsiam a ago em pro! do interesse comum aqueles que no o fazem. Mesmo no e250 em que as atitudes morais determinam se uma pessoa teré ou nio uma conduta grupal, o fator Seucial € que a reago moral funciona como um “incentivo seletivo. Se o sentimento de culpa ou a Sestruigo da auto-estima que ocorre quando uma pessoa sente que abandonou seu c6 faria aqueles que contribuiram para a consecugdo de um beneficio para o grupo tanto quanto os que do contribufram. © eédigo moral nao poderia ajudar a mobilizar um grupo latente. Repetindo: as ati fades morais podem mobilizar um grupo latente somente na medida em que provém incentives vele~ vos. A adesio a um e6digo moral que obriga aos sacrificios necessfirios para obter ui beneficio co- etivo ndo precisa necessariamente, portanto, contradizer nenhuma das andlises deste estudo. Na ver- Assim, seria surpreendente se a maioria dos membros desses “grupos de interesse” sempre “Seeeeezasse seus proprios interesses individuais. Um grupo de interesse essencialmente egofsta nor- “SS seente no alrairia membros completamente desprendidos. Portanto, 0 comportamento centrado nos “Ssestos interesses pode de fato ser comum em organizagoes do tipo das analisadas aqui. Para argu- “SeSios inteligentes sustentando que a acio centrada nos proprios interesses € regra geral na politica. “== James M. Buchanan & Gordon Tullock, The Calculus of Consent, Ann Arbor, University of ‘gan Press, 1962, pp. 3-39. Ver também o interessamee livro de Anthony Downs, An Economic ‘of Democracy, New York, Harper, 1957, pp. 3-35 7 TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS a. A Teoria do Estado dos Economistas 'A maioria dos economistas aceita uma teoria que implica que os Serviso® do governo podem ser provides, como argumentou-se no capitulo ante- somente através da compulsio. Ea teoria dos “beneficios pablicos”.A maio™ ‘cconomistas tem aceito também a premissa basica deste estudo no caso tipo especial de organizagio, o Estado: a premissa de que as organizagoes por um beneficio comum. A idéia de que o Estado prové benfeitorias bu trabatha pelo bem-estar geral, remonta a mais de um século. ‘Mas por mais simples ¢ bésica que essa idéia pareca ser. mais de uma ge- Ge discussdes © desacordos se passou até que cla fosse claramente come sda, mesmo para 0 caso especial do Estado. A discussfio dessa questo Se ‘no comego do século XIX, se nao antes. Heinrich von Storch, em um 1% escrito para a instrugo da familia do czar, pareceu ter uma Vago nogao snedo entre um beneficio coletivo ¢ uma benfeitoria individual, j4 que afir- ‘que a iniciativa individual nao poderia proteger a vida ¢ & propriedade de todas as outras necessidades'. Mais tar- embora pudesse suprir melhor Ipicinrich Friedrich von) Storch, Cours a économie politiaue, Sao Petersburko, A: vehart 1815, Beene cari weento dos cacrtos de Storch sobre esse assumto no Welfare Economics ore! Tye Stare de William J. Baumol, Cambridge, Harvard University Press; 1952) Cap. xi, pp. 3 A LOGICA DA AGAO COLETIVA de J.-B. Say endossou ¢ elaborou o argumento de Storch’. Posteriormente, Frie- derich von Wieser perguntou por que havia uma eqilidade no consumo dos be- neficios e servigos providos pelo Estado enquanto havia tao notavel desigualda- de na distribuicdo dos produtos do setor privado. Wieser também notou uma semelhanga entre o Estado e as associagées privadas nesse aspecto. Mas ele tam- bém demonstrou nao ter entendido completamente a questao ao dizer que “a economia ptiblica em si mesma nao cria renda produtiva’?. Emil Sax distingiu empresas ptiblicas de atividades estatais que beneficiam a todos os cidadaos. Ele também assinalou parenteticamente que existe uma si- milaridade entre o Estado e as associagGes privadas. Mas 0 fato de que a teoria dos beneficios piiblicos nao estava ainda completamente compreendida € claro, pois Sax atribuiu equivocadamente 0 sustento do Estado ¢ outras associagdes a “um tipo de altrufsmo criado pela necessidade de articular a agao rumo a um fim comum, voltado para a assisténcia muitua, com exclusdo dos interesses pessoais se necessario”. Se isso fosse verdade, os governos nao precisariam tornar os tributos compulsérios*. © economista italiano Ugo Mazzola chegou mais perto de uma anélise correta dos servigos coletivos do Estado. Mazzola, com razao, enfatizou a “indi visibilidade” do que ele chamou de “beneficios ptiblicos” e percebeu que os ser- Vigos estatais basicos beneficiavam a todos. Seu erro foi afirmar que havia uma “complementaridade” entre beneficios ptiblicos e privados, 0 que implicava que 140-157. Nesse capftulo o professor Baumol desenvolve uma discussiio mais completa sobre a histéria da teoria dos beneficios publicos do que a que se encontraré aqui. Sua abordagem tem, contudo, um enfoque diferente. Elaboragdes mais recentes da teoria dos beneficios piblicos, levando em conta suas relagSes com a economia do bem-estar, so discutidas na segunda edigio do livro de Baumol. “Indépendamment des besoins que ressentent les individus ct les familles, et qui donnent lieu aux consommations privées, les hommes en société ont des besoins qui leur sont communs, et qui ne peuvent etre satisfaits qu’au moyen d'un concours d'individus et méme quelquefois de tous les individus qui la ‘composent. Or, ce concours ne peut étre obtenu que dune institution qui dispose de l'obéissance de tous, dans les limites qu’admet la forme du gouvernement.” Jean-Baptiste Say, Cours complet d'économie politique pratique, Paris, Guillaumin Libraire, 1840, 11, p. 2 op. cit. (nota 1), pp. 146-149. 3. Friederich von Wieser, “The Theory of Public Economy", em Richard A. Musgrave & Alan T: Peacock (ores), Classics in the Theory of Public Finance, London, Macmillan, 1958, pp. 190-201. A maior par- te das préximas referencias remeterd a essa antologia de clissicos. A avaliagiio que se segue nao ¢ uma histéria original e muito menos completa do pensamento ccondmico sobre esta questo, Uma anélise completa seria uma digressio desnecessdria aqui. 4, Emil Sax, “The Valuation Theory of Taxation”, em Classics. pp. 181 © 177-179. ‘A abordagem de Adolph Wagner era melhor que a de Sax por reconhecer que 0 Estado deve ser cocr- Citivo. Nao obstante, Wagner parecia dar mais Enfase as conjunturas hist6ricas que afetam o tamanho do Estado do que a quaisquer concepgdes abstratas de beneficios publicos. Ver seu “Three Extracts on Public Finance”, Classics, pp. 1-16. 161. Essa referéneia foi encontrada em Baumol, na TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS: ntidade de beneficios publicos consumida dependia da quantidade de be- privados consumida. De certa forma Mazzola concluiu disso que cada So obtinha na margem exatamente a mesma quantidade de utilidade dos be- ptiblicos que dos privados e estava, portanto, em uma posigio de equi- isto €, uma posigdo que ele nao mudaria voluntariamente a menos que a $30 basica mudasse. ‘Mas, como Wicksell apontou mais tarde, 0 pagador de impostos individual mente poderia estar em uma posigio de equilibrio, pois, “se o individuo Ge gastar seu dinheiro com usos privados e ptiblicos a fim de que sua satis- > seja maximizada, ele obviamente nao pagaré nada por fins puiblicos”. Tanto contribuinte pagar muito quanto se pagar pouco ao Tesouro, ele “afetard tao mente a extensio dos servicos ptiblicos que, para todos os propésitos prati- le préprio nao notara nenhuma diferenga”’. Os impostos siio, portanto, ar- Ses compulsérias que mantém o contribuinte no que pode ser denomi- “posigao de desequilfbrio”. Assim, esses autores europeus dedicados ao tema das finangas piiblicas = aprendendo uns dos erros dos outros ¢ melhorando progressivamente sua , que depois de varias décadas culminou na concepgao de Wicksell do 4, no ensaio em que ele propés sua teoria da tributacdo por “consenso ””. Wicksell tinha uma concep¢ao correta do problema do financiamen- servicos coletivos providos pelo governo, nao importa o que se pense a to de sua proposta pritica para a tributagaio. No entanto, ele confinou sua 9 ao caso particular do governo e n&o considerou o problema geral de- sado por todas as organizagdes econdmicas. Nem considerou o qudo peque- ‘em “ptblico” pode ser antes que a teoria nfio mais seja aplicavel. ‘De modo geral, os autores posteriores a Wicksell aceitaram sua andlise do na basico da teoria dos gastos ptiblicos*. Hans Ritschl foi talvez o mais oso dentre os poucos economistas’ que nao aceitaram a abordagem “indi- a” ou wickselliana. Ritschl argurmentou: Mazzola, “The Formation of the Prices of Public Goods", Classics, pp 159-193. Ver também Matteo ssieoni, “Contributions to the Theory of the Distribution of Public Expenditure”, Classics, pp. 16-27 ‘Wicksell, “A New Principle of Just Taxation”, Classics, pp. 81-42 sor exemplo, Richard Musgrave, The Theory of Public Finance, New York, McGraw-Hill, 1959, mente Caps. iv e vi: Paul A. Samuelson, “The Pure Theory of Public Expenditure”, Review of lics and Statistics, XXXVI, nov. 1954, pp. 387-390; Erik Lindahl, “Just Taxation: A Positive sion”, Classics, pp. 168-177 ¢ 214-233. Gutros so Gerhard Colm, “Theory of Public Expenditures”. Annals of the American Academy of ‘and Social Science, CLXXXII, jan, 1936, pp. 1-11; ¢ Julius Margolis, “A Comment on the Pure ‘of Public Expenditure”, Review af Economies and Statistics, XXXVI, nov. 1955, pp. 347-349. us A LOGICA DA ACKO COLETIVA A terra ¢ a lingua natais nos irmanam. Todo 0 mundo € bem-vindo a sociedade de tose Gesde que obedega as suas regras. Mas & comunidade nacional pertencem somente og homens) £ maulheres da mesma Ifngua, da mesma espécie, da mesma mentalidade [..] Pelas veins da ont siedade corre uma Gnica © mesma moeda; pelas veias da comunidade, 0 mesmo sangue [...} Qualquer concepeao individualista do “Estado” € uma aberragio indecente Cle nada mais que uma cega ideologia de lojistas e mascates A economia estatal serve A satisfagio das necessidades comunais [...] Se © Fstade: satisfaz necessidades puramente individuais, ou grupos de necessidades individwaie que mrenicamente no podem ser enearadas de outra maneira que no juntamente, assim o fae apenas por causa da receita, Na economia de livre mercado o interesse econdmico pessoal do individuo reina su. Premo, € 0 quase tinico fator a governar as relagées é ‘eas, tais como associagses, cooperati- Vas Ou instituigdes de caridade, que podem ter estruturas internas onde encontramoe mans Yasdes outras além do interesse individual. Internamente, amon sacrificio, solidariadare a generosidade podem ser fatores determinantes. Mas, deixando de lado essas estrutucae nOmiens eit motivacdes nelas-embutidas, as relagoes de mercado entre as unidades eco: némicas sao sempre governadas pelo interesse préprio [0s itdlicos sao meus} Na sociedade de troca, portanto, o interesse egofsta regula sozinho as relagdes entre Os membros, Ja a economia estatal € caracterizada por um espirito comunal denvro da eae munidade. © egofsmo da lugar ao esptrito de sacrificio, a lealdade ¢ ao espirite comunita- rio [...] Essa compreenstio do poder fundam: pl 0s membros da comunidade As necessidades coletivas objetivas tendem a prevalecer. Mesmo o politico intransi- Sai ate ingressa em um gabinete governamental € submetido & forga da realidade fatual ¢ 2 mudanca espiritual que faz de um Ifder de partido um estadista [..] Nao ha ans nico estadista alemdo dos Gltimos doze anos [...] que tenha escapado A submissto a esee lev? O argumento de Ritschl é exatamente o oposto da abordagem deste livro. Ele Pressupoe uma curiosa dicotomia na psique humana segundo a qual interesse pes- sacrificio pessoal niio conhece limites no relacionamento do individuo com o Es- tado e com os diversos tipos de associagdes privadas. As organizagées sustentadas ‘cio pessoal sio, no entanto, egofstas em todas as suas tran- Para os autores marxistas, a Por esse tipo de sacri sages com outras organizagdes. © Estado e a raga (c, classe) se tornaram entidades metafisicas com necessidades “objetivas" ¢ propési- f0S que transcendem as necessidades e propésitos dos individuos que as compoem. 10. Hans Ritschl, “Communal Economy and Market Economy", Classics, pp. 233-241 ue TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS mia do século XIX — a tradigio britanica ‘a teoria dos beneficios publicos. Muitos ™m as fungGes que achavam A tradigao mais notavel na econo! do laissez-faire — ignorou amplamente dos mais conhecides economistas ingleses enumeraral que © Estado deveria desempenhar. As listas eram geralmente muito breves, cinbora inclufssem, pelo menos, a defesa nacional, as forgas policiais © 0 siste- sna da lei e da ordem em geral. Mas esses economistas no apontaram 0 qué BS varias atividades apropriadas ao Estado tinham em comum!!. Eles tinham uma tcotia abrangente que explicava por que a maioria das necessidades econdmicas Geveria ser atendida pela iniciativa privada. Portanto, é natural que esperemos uma explicaco sistemética da categoria excepeional de fungdes due eles acha- vam que deveriam ser preenchidas pelo Estado. Salvo alguns comentarios im- precisos de John Stuart Mil e Henry Sidgwick"?, parece que os principais eco- fomistas ingleses ignoraram totalmente 0 problema dos beneficios coletivos. Mesme neste século, Pigou, em seu classico tratado de finangas pablicas, dew aos beneficios coletivos um tratamento na maior parte apenas implicito". b. A Teoria Marxista do Estado e das Classes Sociais Embora os economistas classicos britanicos possam ser acusados de nfo terem conseguido desenvolver uma teoria explicita do Estado, nenhuma acutt= So desse tipo pode ser feita contra Karl Marx, jé que cle desenvolveu uma in- feressante © provocativa teoria econdmica do Estado numa época em que Am ria dos economistas nao tinha sequer comegado a considerar a questo. Na teoria de Marx, o Estado € o instrumento através do qual a classe dominante do- mina as classes oprimidas. No perfodo capitalista da histéria, o Estado seria 0 scomité executive da burguesia”. Ele protege a propriedade das classes capitay setas e adota quaisquer politicas que sejam do interesse da burguesia. O Mani- {festo Comunista diz que “o poder politico, adequadamente assim denominado, ‘© meramente o poder organizado de uma classe para oprimir a outra’*, & Baumol, op. cit. (nota 1), P.M. Sree h'40-156, para longas citagBes dos Principles de Mill e dos. Principles de Sidgwick sobre sere icine, para uma discussiio a respeito dos comentirios easuais sobre o assunto cocoa mare eee eee pasta, J. R. McCulloch e Pricdrich List. Ver Classies para eomentirios pertinentes de Exsico Barone e Giovanni Montemartini . Se Pigou, A Study in Public Finance, 3. ed. rev. Londres, Macmillan, 1949. No entanto, ver 2 33, Gocsa obra para uma mengio explicita dessa questio. Geant Marx & Friedrich Engels, The Communist Manifesto, 1S 1953, p. 82; ver também Ralf Dahrendorf, Class and Class Conflict in Industrial Soe! ‘Gase.. Stanford University Press, 1959, p. 13. New York, League for Industrial Democra- ‘ety, Stanford. A LOGICA DA AGAO COLETIVA Essa teoria do Estado deriva naturalmente da teoria de Marx das cl sociais. Marx acreditava que “a histéria de toda a sociedade existente até o sente € uma hist6ria de luta de classes"'*. As classes sdo “grupos de interesse organizados”'®. As classes sociais sao também uniformemente egoistas: elas co locam 0 interesse de classe acima do interesse nacional e nao tém nenhuma pre ocupagiio para com as classes que se hes opdem. Para Marx, uma classe sociat nao era qualquer grupo determinado de pessoas compartilhando um certo states social ou um mesmo nfvel de renda. As classes eram definidas em termos de relagdes de propriedade. Havia, por um lado, os donos do capital produtivo, o& seja, os “expropriadores” da mais-valia, constituindo a classe exploradora, e por ‘outro lado, os explorados, os assalariados sem propriedade, constituindo 0 pro- letariado””. Esse ponto definidor é importante. Se tivesse definido as classes por crité- rios de posig&o social ou do prestfgio de seus membros, Marx nao poderia falar justificadamente em interesses comuns dessas classes, pois pessoas com distin- tas fontes de renda (isto €, renda proveniente da mao-de-obra ou renda proveni ente do capital) podem, nao obstante, ter quantidades de prestfgio semelhantes. Ao invés disso, Marx definiu a classe em termos da posse da propriedade pro- dutiva. Assim, todos os membros da classe capitalista tém interesses comuns, ¢ todos os membros do proletariado tém interesses comuns, j4 que sto grupos cujos membros ganham ou perdem juntos conforme precos e saldrios mudam. Um gru- po expropria a mais-valia que 0 outro produz; subseqtientemente, a classe ex- plorada compreende que € de seu interesse e que est4 ao seu alcance se re- yoltar e terminar com essa forma de exploragao. Em s{ntese, as classes sio definidas de acordo com seus interesses econémicos, para cuja promogio elas se serviriio de todos os métodos disponfveis, incluindo a violéncia. Assim como a classe é egofsta, também 0 € 0 individuo. Marx nao sentia nada além de desprezo pelos socialistas e outros que pressupunham uma natu- reza humana benevolente. Grande parte do interesse pessoal egofsta que Marx via ao seu redor ele o atribufa ao sistema capitalista e & ideologia burguesa. 15. Marx & Engels. op. cit. (nota 14), p. 59. 16. Dahrendorf, op. cit. (nota 14), p. 35. 17. Dahrendorf, op. cit. (nota 14), pp. 30-31; ver também Mandell M. Bober, Karl Marx's Interpretation of History, Cambridge, Harvard University Press, 1948, especialmente pp. 95-96, Nesse aspecto Marx ndo era muito diferente de James Madison, que escreveu nos ensaios do The Federalist (n. 10) que “a mais comum e perduravel fonte de desavengas tem sido as varias e desiguais distribuigdes da propri dade. Os que possuem e os que no possuem sempre constitufram interesses distintos na sociedade”. 8 TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS A burguesia [...] nfo deixou que restasse nenhum outro nexo entre homem e homem além de um cru interesse individual, de um insensfvel “pagamento & vista”. Isso afogou os mais celestiais éxtases de fervor religioso, de cavalheiresco entusiasmo, de vulgar senti- mentalismo nas aguas geladas do calculo egofsta'® Mas, se 0 interesse pessoal era mais gritante na sociedade burguesa, ele foi tfpico em todas as sociedades da hist6ria do homem civilizado. “A avidez desca- rada foi 0 espfrito motriz da civilizagio desde seu alvorecer até 0 presente: 1 queza, novamente riqueza e pela terceira vez riqueza. Riqueza niio da socieda- de, mas do individuo insignificante, era 0 objetivo nico e final.'”” Marx atacou como hipocrisia quase tudo aquilo pelo que as pessoas diziam que estavam dis postas a se sacrificar. As ideologias eram capas que escondiam interesses adqui- ridos; o burgués gastava grandes somas de dinheiro na “evangelizagao das ordens inferiores”, sabendo que isso iria tornar os trabalhadores “submissos aos habitos dos senhores que a Deus aprouvera colocar acima deles””*. Marx escreveu que “a Igreja inglesa estabelecida, por exemplo, perdoaré com mais prontidao um ata- que contra 38 de seus 39 artigos do que contra 1/39 de seus proventos””! S6 no comunismo, o comunismo primitivo tribal ou 0 comunismo pés-revolucionério, as propensées egofstas nado controlariam 0 comportamento humano. A énfase de Marx no interesse pessoal, ¢ sua pressuposi¢ao de que as clas- ses teriam consciéncia de seus interesses, naturalmente levou a maioria dos cri- ticos a vé-lo como utilitarista e racionalista. Alguns acham que essa € a sua prin- cipal falha, e que ele enfatiza em demasia 0 interesse pessoal € a racionalidade. ‘Um exemplo dessa visio merece uma citagao extensa. C. Wright Mills afirmou gue para que a ago de classe ocorra € preciso que haj 1) uma consciéncia racional e uma identificagao do individuo com os interesses de sua erspria classe; 2) consciéncia e rejeigio dos interesses das outras classes como ilegitimos; € >) uma consciéncia de e uma prontidao para usar meios politicos coletivos com a finalidade ‘politica coletiva de realizar os préprios interesses [...] No modelo marxista geral h4 sempre, “sebjacente, [...] a psicologia politica do “tornar-se consciente de possibilidades inerentes”. idéia, em suas pressuposigdes psicolégicas, € tao racionalista quanto 0 tiberalismo. Marx ¢ Engels, op. cit. (nota 14), p. 62. Friedrich Engels, citado em Bober, op. cit. (nota 17), p. 72. Bober escreve: “Se os velhos economistas ingleses pressupuseram o homem econémico nas transagdes pecunidrias, se Maquiavel construiu 0 “eomem politico no dominio da politica, Marx foi ainda mais longe” (pp. 74-75). Encdrich Engels, Socialism, Utopian and Scientific, trad. am, Edward Aveling, New York. 1892, pp. Keri Marx, Capital, London, J. M. Dent, 1951, Il, pp. 864-865, Ver também Bober, op. cit. (nota 17), “Caps. vic vii, pp. 115-156. us A LOGICA DA AGAO COLETIVA Porque 0 conflito que ocorre resulta do reconhecimento racional, por parte das classes rivais, da incompatibilidade de seus interesses materiais. A reflexio interliga fato material e cons ciéncia interessada através de um cdlculo de vantagem. Como Veblen corretamente observou. a idéia € utilitaria e esta mais intimamente relacionada com Bentham do que com Hegel Tanto © marxismo quanto o liberalismo fazem as mesmas pressuposigées racionalis- tas de que os homens, tendo a oportunidade para tal, caminhario naturalmente rumo a tna consciéncia politica de seus interesses, pessoais ou de classe [os itdlicos sio meus] O erro da visio marxista ao crer que as pessoas sero utilitérias e racionalis- tas o bastante para enxergar a sabedoria de se engajar em uma ago de classe € provado, segundo Mills, pela apatia politica reinante. “A indiferenga”, diz Mills, ‘€ 0 maior sintoma da [...] derrocada das esperangas socialistas”. E ainda: Mas 0 comentario mais decisive que se pode fazer a respeito do estado da vida polt- tica dos EUA diz respeito a indiferenga publica reinante [...] [A maioria das pessoas] é es- tranha & politica. Nao sao radicais, nem liberais, nem conservadores, nem reacionérios; eles so inacionarios; eles esto fora do jogo”. Em suma, Marx vé os indivfduos com interesses proprios egofstas ¢ clas- ses com interesses préprios egofstas agindo para atender aos seus interesses. Muitos criticos atacam Marx por enfatizar demasiadamente 0 interesse pessoal © a racionalidade individual. Eles acham que a maioria das pessoas nem sequer sabe quais so os interesses da sua classe nem se importa com isso, dado que 0 conflito de classes nfo é a forga esmagadora que Marx pensava que seria ©. A Légica da Teoria Marxista Nao & de fato verdade que a auséncia do tipo de conflite de classes que Marx esperava viesse a ocorrer mostre que ele superestimou a forga do compor- tamento racional. Pelo contrério, a auséncia do tipo de ago de classe que Marx predisse deve-se em parte & predominancia do comportamento utilitério racional. Porque a a¢ao de classe nao ocorrerd se os individuos que constituem uma classe agirem racionalmente. Se uma pessoa pertence A burguesia, ela pode muito bem desejar um governo que represente sua classe. Mas nio se segue daf que seré de 22, Todas essas citagbes $80 do White Collar de C. Wright Mills, New York, Oxford University Press, 1951, pp. 325-328. Talcott Parsons também afirma que Marx era basicamente um utilitarista pragmitico: ver “Social Classes and Class Conflict in the Light of Recent Sociological Theory”. Essays in Sociologi- cal Theory, Glencoe, IIL, Free Press, 1954, p, 323, 120 TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS seu interesse trabalhar para que tal governo chegue ao poder. Se houver um go- verno desse tipo, ela se beneficiara de suas politicas, quer tenha ou no Ihe dado suporte, j4 que, segundo a tese do préprio Marx, esse governo trabalhard pelos interesses de classe dessa pessoa. Além do mais, de qualquer maneira, um Gnico burgués presumivelmente no poderd ter por si s6 uma influéncia decisiva na escolha de um governo. Portanto, para um membro da burguesi: nal a fazer € ignorar seus interesses de classe e empregar suas ener; interesses pessoais. Similarmente, um trabalhador que acreditasse que se bene- ficiaria com um governo “proletério” no acharia racional arriscar sua vida ¢ seus recursos para iniciar uma revolugao contra um governo burgués. Seria igualmente insensato supor que todos os trabalhadores de um pais iriam voluntariamente restringir suas jornadas de trabalho a fim de aumentar a remuneragdo da mao- de-obra com relagiio as gratificagdes por capital. Porque, em ambos os casos, 0 individuo acharia que obteria as vantagens da ago de classe tanto se participas- se dessa ago quanto se no participasse” (€ natural, portanto, que as revolugGes “marxistas” que ocorreram tenham sido provocadas por pequenas elites conspi- ‘sadoras que tiraram partido de governos fracos durante perfodos de desorgan: “zaedo social; nao foi Marx, mas Lenin e Trotsky, que elaboraram a teoria para tipo de revolugio; veja O Que Deve Ser Feito, de Lenin*, para uma expli- 10 da necessidade dos comunistas de confiar mais em uma minoria engajada, gada e disciplinada do que nos interesses comuns da massa proletéria). A agio de classe marxista assume o mesmo cardter de qualquer outro es- de um grupo grande e latente para atingir suas metas coletivas. Uma clas- ‘nos padrées marxistas consiste em um grande grupo de indivfduos com um sse comum decorrente do fato de possufrem ou nao propriedade produtiva capital. Como em qualquer grupo grande ¢ latente, cada membro da classe essa agiio vantajosa para si se todos os custos ou sacrificios necessérios atingir a meta comum forem assumidos por outros que nio ele. A “legisl, Ge classe”, por definigdo, favorece mais a classe como um todo do que a in- dentro da classe e, portanto, no oferece nenhum incentivo para que os 10s ajam com “consciéncia de classe”. O trabalhador tem a mesma rela- a massa proletéria, e o homem de negécios tem a mesma relago com © mais racio- jas nos seus & Commons também cometeu esse erro; ver “Economists and Class Partnership", em Labor and Seistration, New York, Macmillan, 1913, p. 60. ‘Lenin, What fs to Be Done, New York, International Publishers, 1929; ver também Edmund Wil- “Feehe Finland Station. New York, Harcourt, Brace, 1940, pp. 384-404, Crane Brinton mostrou que revolugdes, communistas ou nao, foram feitas por nimeros notavelmente pequenos de pes- ‘ser The Anatomy of Revolution, New York, Random House,’s.d., pp. 157-163. 120 A LOGICA DA ACAO COLETIVA a massa burguesa, que o-contribuinte tem com o Estado € a empresa competiti va com o setor industrial a que pertence. A comparagao da classe marxista com o grande grupo ou organizagiio eco- nOmica nao € em absoluto forcada. Marx, por vezes, restringiu 0 termo classe a agrupamentos organizados: “Enquanto a identidade de seus interesses nao gera uma comunidade, uma associag&o nacional e organizag6es politicas, eles nao constituem uma classe”. Marx enfatizou também a importancia do sindicato tra- balhista e da greve para a agdo de classe do proletariado. Marx e Engels descre- vem desta forma 0 processo da aco proletaria no Manifesto Comunista: As colisdes individuais entre trabalhadores e burgueses assumem o carater de colisées entre as duas classes. Em consequiéncia disso, os trabalhadores comegam a formar agrupa- mentos (sindicatos trabalhistas) contra 0 burgués; eles se unem a fim de manter os niveis salariais; fundam associagdes permanentes a fim de se preparar pata essas revoltas ocasio- nais. Aqui ¢ ali o conflito irrompe em tumultos Ocasionalmente os trabalhadores saem vitoriosos, mas s6 por algum tempo. O ver dadeiro fruto de suas batalhas reside nao no resultado imediato, porém na uniio cada vez maior dos trabalhadores”*. Mas 0s trabalhadores que fossem dar o pontapé inicial da luta de classe, 8 mais altos, teriam de encarar constituindo um sindicato para brigar por salari © fato de que nao é do interesse do trabalhador-individuo afiliar-se a um sindi- cato para tal propésito””. O ponto crucial, portanto, € que a teoria marxista das classes sociais € incoerente na medida em que pressupde uma busca racional egofsta de interesses individuais. Quando a acao de classe que Marx predisse nao 5. Citado em Dahrendorf, op. cit. (nota 14), p. 13, . The Communist Manifesto, pp. 68-69. Muitos estudiosos acham que 0 crescimento dos sindicatos di- minui as chances de uma revolugio comunista, jf que esse crescimento institucionaliza a luta e tende @ manté-la dentro de certos limites. As revolugdes comunistas foram mais bem-sucedidas em pafses onde niio havia sindicatos fortes. Ver Seymour Martin Lipset, Politiral Man, Garden City, N.Y., Doubleday, 1960, pp. 21-22, 27. Marx pareceu reconhecer ocasionalmente esse problema, mas sua resposta a ele esté longe de ser muito clara, como se vé por esta citagHo: “A indiistria de grande escala concentra em um mesmo lugar uma multidio de pessoas que nao se conhecem entre si. A competigio divide seus interesses. Mas a manu- tengao de salérios, esse interesse comum que elas t@m contra seu patrilo, as une sob um ideal comum de resisténcia ~ alfanca [...] aliangas, a principio isoladas, vao constituindo grupos [...)e, tendo de en- frentar sempre unido capital, a manutencao da associagao termina se tornando mais necesséria para elas do que a manutengao dos saldrios [...] Nessa luta — uma verdadeira guerra civil — estio unidos & desenvolvidos todos 0s elementos necessarios para uma batalha vindoura, Uma vez atingido esse ponto, a associagao assume um carter politico”. Essa passagem, de A Miséria da Filosofia, também foi cita. da ¢ ressaltada por Lenin: ver seu ensaio “Karl Marx" em V. Adoratsky (org.). Karl Marx — Selected Works in Two Volumes, New York, International Publishers, s.d.. I, pp. 48-50. 122 TEORIAS ORTODOXAS DO ESTADO E DAS CLASSES SOCIAIS se materializa, isso no indica que a motivagdo econdmica nao seja predominan- te, como alguns de seus criticos sugerem, mas mais exatamente que nao hé ne- nhum incentivo econdmico individual para tal ago. Muitos dos que acusam Marx de ser logicamente coerente mas psicologicamente nio-realista no somente es- to creditando A teoria de Marx uma coeréncia que talvez ela nZo tenha como também esto errados ao presumir que a apatia e a auséncia do grau de agao de classe que Marx esperava se devam a falta de um comportamento econémico racional: pela Iégica, elas podem se dever justamente & forga desse comporta- mento econ6mico racional. Isso no significa negar que uma teoria do comportamento irracional con- duzindo & agao de classe possa, em certos casos, ser de algum interesse. Dife- rengas de classe resultantes de fatores sociolégicos podem levar os individuos a agirem irracional e emocionalmente, de maneira “classista”**. Uma teoria da aco de classe que enfatizasse a emocao e a irracionalidade, mais do que o cél- culo frio e egofsta que Marx com freqliéncia ressaltou, seria ao menos coeren- ‘=. Marx, infelizmente, ndo era um escritor preciso, e ha dividas a respeito do que ele realmente quis dizer. Portanto, é concebfvel que ele possa ter tido em mente uma teoria da agdo de classe irracional, emocional e psicolégica, mais do gue a teoria racional, econdmica e utilitaria que normalmente Ihe € atribufda. Isso = concebfvel mas talvez improvavel, pois se Marx tivesse querido desenvolver ‘21 teoria ele teria sido logicamente obrigado a enfatizar uma sincera e despren- ‘Sda sublimagao dos interesses individuais em favor da aco de classe. Ele teria ‘do obrigado a argumentar que os burgueses eram individualmente tao nfo-ego- e dedicados que seriam capazes de desprezar seus interesses pessoais para r atingir as metas de sua classe. Mas, como foi explicado acima, essa posi- estava longe de ser a de Marx. Ele no perdeu nenhuma oportunidade de tizar 0 egofsmo e o calculismo burgueses. Chegou mesmo a definir as clas- =m termos de relagGes de propriedade e, portanto, de interesses econdmicos”. Essa atitude “class(stica” sociologicamente determinada ¢ irracional deve néo obstante ser influenci- ‘ads pela posigao econémica da classe. As condigGes econdmicas podem afetar as atitudes sociais. Mas ‘=ssz fato nao elimina a distingao entre uma teoria sociologicamente orientada das classes sociais e uma Seoris que pressupde que a acdo de classe se deve a (supostos) incentivos individuais para uma agi0 sem consciéncia de classe. Sobre a influéncia da classe no comportamento politico norte-americano, = Samuel Lubell, The Future of American Politics, New York, Harper, 1952, passini, mas especial- Sante circa p. 59 & seu Revolt of the Moderates, New York, Harper, 1956, pp. 103-120; V. O. Key, Peittics, Parties and Pressure Groups, 4. ed., New York, T. Y. Crowell, 1958, pp. 269-279. ‘Per outro Indo, em algumas passagens Marx parece perceber 0 fato de que os interesses indi ‘sf oferecem uma base para a agio de classe organizada que ele proclamou ser a forga decisiva da Sxisria. Ver seus comentarios no Manifesto Comunista (op. cit,, nota 14) sobre a competicao entre os 123 + ALOGICA DA AGAO CoLETIVA : 3 . . : E deu pouca ou nenhuma atencao aos processos sociolégicos ¢ Psicol6égicos pelos quais uma consciéncia de classe irracional e emocional deve se desenvolven Por essas razdes, Marx provavelmente nao tinha uma teoria da ago de classe irra. cional € nao-econdmica em mente”. Muitas evidéncias indicam que, pelo contrério, Marx estava oferecendo uma teoria baseada em um comportamento individual racional e utilitério. E, se assim tamento irracional ¢ emocional em mente, sua teoria ainda seria vulneravel, € diffeil acreditar que um comportamento irracional poderia prover a forga motriz Para todas as mudangas sociais ao longo da histéria humana. Portanto, a teoria de Marx das classes sociais €, como a descreveu Joseph Schumpeter, apenas uma “Irma aleijada” de sua mais abrangente Interpretagao Economica da Historia Comme ea eens eAtte OS burgueses quebrando a unidade de eada classe, especialmente na p. 69, bem Lipset em Politica! ban nS, Ver fambém a citagio de “ldcology — ‘Saint Max"” de Mare, citado por Meese an eclitical Man. op. cit, (nota 26), pp. 24-25. Marx também dé grande Enfase b ovioces oe og (ance Dugamit da posiga0 de classe. Ver Pricderich Engels, Herr Eugen Duliring's Revoluion in eee fencin nMine), trad. am. Emile Burns, New York, 1939, pp. 104-105. Nesva conextlo. a aparenc rane nals actus movimentos revoluciondrios obtenham seus adeptos dentre os gue tem lane de chaos mma {races deve ser ressaltada: alguns eruditos afirmam que aqueles que se vem rebatnion sxnee movimentos polfnons 08 Drineipais grupos de sua sociedade sao os mais propensos a voltarse para Fame Mos Politicos ou religiosos radicais como o comunismo, a John Birch Souiewy ere, Ven ne Oo btans ae Thue Believer. New York, New American Library. 1958, e William Kornheaset Nhe Coles Poetan Seetery, Glencoe, I, Free Press, 1959, pp. 14-18. Ver também Erich Fromm, Escape hon Dostieday a cork: Holts Rinehart & Winston, 1960, e David Riesman, The Lonely Crowd, New enn Doubleday Anchor, 1956 gue estivesse apenas propondo uma afirmagio najo-empitica tio dialehcn maivada da dialética de Hegel. Marx se referiu frequentemente A importinela do moran nio dialético para a compreensao dos fendmenos sociais ¢ disse ”, ver Bober, op. ph Schumpeter, Capitalism. Socialism, and Democracy, 4. ed., London, George Allen & Unwin, 1984, p. 10. 124

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