You are on page 1of 28
ToT FUSAO INVERSA E NEUTRALIDADE (DA ADMINISTRAGAO) FISCAL J. L. SALDANHA. SANCHES (*) [Exe artigo procura demonstra que os casos de fsio por Incorporasio, em que ums sodledade ‘incorporada e disolvida numa sua subsidiéria que detém a 100%, sio um negéct jurdico revisto igo do IRC e, portanto, susceptivel de Deneficiar do regine da neutralidade fiscal. Esta conclusio resulta da andlise literal do precio (que no ddsa qualquer dvida),e & confirmada pela Interprelacio do meso, baseada ‘na sua evolugio hstériea, nos principios que coneretiza e, em especial, pela conformagio de Direto Cominitrin da questo. Para mals, uma fusko em que uma socledade €Ineorporada fe dissolvida numa sua subsididria que detém a 100% & qual tenha sido reconhecida a ‘eutraldade fcc por ao abrigo do Decreto-Lei n° 40490, de 21 de Dezembro, no pode, em ‘sede inspectva, dear de ser considerada neutral em virtude dese tratar de uma operacio ‘com as referdas caracterfsticas, sem que baja violagSo no s6 dos prinepiose regras acima ‘eferidos, como de um acto conerto constitutivo de direitos. ‘This article secs w prove thatthe cass of merger by incorporation, in which a company becomes part of aa Is dissolved Into one ofits wholly owned subsidiaries (reverse merger), legal operations foreseen in sub-paragraph 2) af article 67, paragraph 1, of the Corporate Income Tax Code and thus susceptible of benefiting from the fiscal neutrality regime. This ‘contusion results irom the strict interpretation ofthe provision (which leaves us no margin for doubt) and is confiemed by the Interpretation of such provision, based on its evolution throughout the time, bythe principles which It embodies and, in pardcalar, on how the matter is dealt with by European Tax Law. Furthermore, reverse mergers whieh are recogalzed ‘tax neutral under Decree-Law 404/90, of 21 December, cannot, when subject to tax audit, but be deemed neutral by virtue ofits characteristics, without there being a breach not only ofthe rules and principles refered above, but also of an actual right. INDICE: 1 = Inirodugdo. 1.1 — A questdo juridica (e a resposta). 1.2 ~ Sequéncia. 2 — As fusoes come exercicio do direito de reestruturagao empresarial. 2.] — as fusdes € as cisdes, e 0 problema da tributagdo excessiva (excess burden). 22 — A new tralidade das operagées de fuséo. 22.1 — Imposto de registo. 222 — Imposto sobre o rendimento. 3 — Regimes nacionais, harmonizacao comunitdria e regime por- 8 J. Saldanha Sanches tugués. 3.1 — A colupio da legislagéo portuguesa. 3.2 — A Directva fusdes — cisbes @ 0 requisito da troca de ttulos. 3.3 — Razées possiveis para a participagdo a 100% de uma sociedade no capital de outra sociedade. 4 — Dualidade e unidade do regime fiscal nacional. 4.1 — A transposigdo da Direetiva para o Direito portugués. 4.2 — 0 abuso das fusdes. 4.3 — A criacdo do regime ‘nico para todos 0s tipos de Jfusbes. 44 — A previsdo para as fusdes com controto a 100%. 5 — Competéncia ¢ jurisprudéncia comunitéria quanto a matéria das fusdes. 5.1 — 0 TICE ¢ a nnormalidade da fusdo inversa. 52 — A jurisprudéncia do TICE sobre fusdes e cisdes. 6 — A posicao da Administracao fiscal ¢ o fetiche do formalismo. 6.1 — O Parecer do Centro de Estudos Fiscais. 6.1.1 — Fusdes inversas, fusdes directas. 6.12 — Acgdes proprias. 6.1.3 ~ O negécio juridico de fusdo inversa e as reliquias histéricas. 62 — Do reconhecimento da neutralidade a dlegagdo da falta de neutralidade da fusto. 63 — Em conclusao. 1 — INTRODUCAO A questio judica em andlise no presente artigo € muito simples e é facilmente identificével: saber se ha alguma norma ou principio, de Direito nacional, comunité- rio ou internacional, que leve a excluir do regime de neutralidade fiscal previsto no artigo 67: do Cédigo do IRC uma operagio através da qual uma sociedade & incor- prada € dissolvida numa sua subsididria que detém a 100% (operago vulgarmente conhecida por fusi inversa). Pode adiantarse a resposta& questo: a fustio por ineorporagio de uma sociedade participante na sociedade participada é abrangida pelo regime da neutralidade fiscal, luma vez que se trata da operagao descrita no artigo 67°, n2 1, al. a), do Cédigo do IRC, ou sea, da “transferéncia global do patriménio de uma (...) sociedade (Sociedade fundida)” —sociedade A — “para outra sociedade jé existente (sociedade beneficis- Tia)” — sociedade B — “e a atrbuigdo aos sécios daquela” — sociedade S — de par- tes representativas do capital social da beneficiria” — partes da sociedade B. Ora, ndo havendo no rosso ordenamento juridico, ou no ordenamento comunitério, qual- quer norma que excepcione 0 efeito de neutralidade da fusto, este feito nio pode ser negado na operagio descrta, sob pena de ilegalidade da liquidagio que daf resulta. Por vezes, deparamos situagGes em que a Administragdo fiscal arremete contra negécios juridicos previstos numa norma jurica, querendo substtuir-se a0 legisla- dor e a0 trtamento que este quis soberanamente conferir a determinadas operagdes. ‘A argumentagio do Fisco é baseada num parecer do Centro de Estudos Fiscais. Em resumo, afirma o Fisco que a operagio pela qual uma sociedade incorpora outra que ‘a detinha nio esté abrangida pelo rexime de neutralidade fiscal, porque 0 legislador previu no artigo 67., n.' 1, a. ¢), a “operacdo pela qual uma sociedade (sociedade Jundida)transfere 0 conjunto do activo e do passivo que integra 0 seu patriménio para ‘a sociedade (sociedade beneficiéria) deteniora da totalidade das partes representa- tivas do seu capital social”, no tendo previsto expressamente a operasio atacada. Este Fuso inversa ¢ newrelidade (da Administapdo) fiscal 9 tipo de argumento no faz qualquer sentido: era como se a Administagdo fiscal afi- ‘masse que um conibuinte nfo podia deduzir & colecta do seu IRS, como despesa de edivcagfo ¢ formacéo, a mensalidade do colézio de um dependente, uma ver que © artigo 83.°, n.° 3, do Cédigo do IRS estipula que, “para os efeitos previstos neste artigo, consideram-se despesas de educacao, designadamente, os encargos com creches, lactaris, jardins-de-infancia, formacdo artstca, educagdo fisia, educagdo infor- maticae expicagdes respeitaies @ qualquer grau de ensino, desde que devidamente comprovados”, Sem refer 0s encargos com colégios. E desnecessirio dizer que uma mensalidade de um colégio &, por natureza, uma despesa de educagio, nfo sendo necessério cualqueresclarecimento adicional, nem podendo os esclarecimen- tos — por exemplo, a incufrem no conccito as despests com creches — ser consi- derados como normas que excluem do coneeito as despesas com colégios. Da mesma forma, seria desnecessrio dizer que una fsko nos tes da al. a) do artigo 67°, n° 1, do Cédigo do IRC nao deixa de 0 ser apenas porque o legislador sent necessidade de clarficar numa outa akinea do mesmo preceito que certs fusdes com determina- das caracteristcas também so fusdes, Seria desnecessrio, nfo fosse a posigéo da ‘Administragdo fiscal —AS FUSGES COMO EXERCICIO DO DIREITO DE REESTRUTU- RAGAO EMPRESARIAL 2d — As fuses e as cisdes, e © problema da tributagio excessiva (excess burden) A fuslo de dias ou mais sociedades comerciais com a criago de uma nova sociedade ou a integracdo de uma ou mais sociedades numa sociedade ja existente tal ‘como a cisso (em cue uma sociedade se transforma em outras sociedades), & uma forma ccorrente de readaplagio das sociedades a novas realidades; todas estas operagSes cons- tituem solugdes optimizadoras que procuram aumentar a eficiéncia das formas de ‘organizagio empresarial () No entanto, as sociedades poderiam estar a sujeitas a imposto, apesar de no haver qualquer Tucro como resultado destas operagdes. Por esta raziio, a andlise das cconsequéncias fiscais destas operagbes das possiveis vantagens e desvantagens que delas podem resultar esté sempre presente — quer na perspectiva do sujeito passivo, que procura maximizar essas vantagens, quer na perspectiva do legislador, que vai criar () A doutrna sre 2 necessidade © a justficagio econsiica das reorganizages 6 vata ‘Vejase, pr exemplo, ANTONIO MARTINS, “A infuéncia da Lei Fiscal nas Decisis de Reesiruturagio: uma Pespectiva Finance tJ. L. SALDOWIA SaNcaS /1Oh0 TABORDA DA Gada / PRANEISCD be SOUSA a CAwARa (rg), Reetrutrapdo de Empresas Limiter do Planeamento Fiscal (Coimbra: 2008), 00 pelo: P. Q.avo Cunt, Direto das Sociedades Comercits, Coimbra: Almedina, 2006, 636. 10 J.L Saldanha Sanches limites para as suas consequéncias fiscais. E 0 que sucede, por exemplo, quanto & sucesso das novas empresas criadas num processo de fusd0 nos eréditos fiseais da sociedade fundida (reporte de prejuizos) () ‘A auséncia de qualquer resultado directo da operagio — a fusdo ou cisfo justi- ficam-se apenas porque vo aumentar a perspectiva de lucros futuros ou estancar os prejuizos presentes — faz com que a tributagdo destas operagdes seja um importante

You might also like