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0 capitulo quinto, escrito por Anna Cristina Bentes ¢ intitulado Genero e
ensino: algumas reflexdes sobre a producdo de materiais diddticos para a
educagao de jovens e adultos, consiste numa descrigio da elabora¢o de um livro
didético de kingua portuguesa (sétima e oitava séries do ensino fundamental) para o
programa de Educacio de Jovens e Adultos, da ONG Aco Educativa e das experiéncias
da autora nesse processo. 0 texto exemplifica bem como o trabalho com géneros
textuais pode ser implementado em sala de aula de um modo contextualizado e
integrado. Além disso, os temas que nortefam as unidades sio relevantes para os
alunos. 0 capitulo também apresenta algumas rellexdes relevantes sobre género
textual baseadas em Bakhtin: 1) concepcio de género que contempla tanto a aco
social como as estruturas linglifsticas e sua heterogeneidade, que impede uma postura
meramente classificat6ria para com os géneros; 2) a relacio dialética entre
estabilidade de regras ¢ criatividade para com as mesmas no género textual
0 sexto capitulo se intitula Letramento digital: um trabalho a partir dos
-géneros do discurso e adota uma perspectiva bakhtiniana (“géneros como formas
flexiveis de funcionamento da lingua e da(s) linguagem (ns) em priticas sociais
situadas” (p. 135)). Neste texto, as autoras Roxane Rojo, Jacqueline Barbosa e Heloisa
Collins reportam um projeto pedagégico de formacio continuada a distancia de
professores do ensino médio com o objetivo de aperfeigoar o seu letramento digital
Este projeto constitui-se de trés partes: 1) familiatizaczo com a tecnologia digital e
rellexio sobre “estratégias e procedimentos exigidos pela leitura e escrita em ambiente
digital” (p. 130); 2) criagZo e aplicaczo de estratégias para o ensino de géneros no
ensino médio; 3) discussio e criagao de estratégias para o ensino das diferentes,
linguagens (verbal, visual, musical) no ensino médio. As autoras fornecem exemplos
dessas etapas, oferecendo uma proposta clara de ensino através de géneros textuais.
0 sétimo capitulo intitulado Géneros multimodais e multiletramento
enquadra-se na parte de rellexdes sobre géneros. Angela Paiva Dionisio ressalta que
apesar do carater multimodal (ingua mais imagem) que o letramento assumiu devido
420 surgimento de novas tecnologias, este aspecto da escrita ainda necessita de maiores
investigacées. 0 texto reporta uma pesquisa realizada pela autora (DIONISIO, 2004)
com 10 leitores que objetivou investigar como criangas, adolescentes e adultos Kiam
{extos multimodais. A pesquisa identificou que tanto as criangas quanto os adolescentes
alentaram primeiramente para o elemento visual do texto. J& os adultos leram primeiro
6 texto verbal e se mostraram menos receptivos a textos com novos layouts.
As reflexdes da autora sobre os géneros multimodais relacionam-se 20
tratamento da palavra e seu relacionamento com a imagem no livro didatico e a
318 Linguagemem (Dis)curs0~-LemD, Tubario, v.6,n, 2, p. 315-325, mai /ago. 2006Lem
necessidade de o professor saber lidar com esses géneros multimodais. Enfim, com
0 desenvolvimento de novas tecnologias, 0 conceito de letramento deve ser revisto.
0 texto trata de uma questio relevante e pouco estudada no campo de géneros
textuais: a multimodalidade e a investigagio de sua manifestagao em um veiculo
importantissimo de educacio — 0 livto didatico.
0 oitavo e ultimo capitulo do livro cuja autoria é de Désirée Motta-Roth, se
‘enquadra na parte de reflexdes sobre género da coletinea. Este foio tinico texto que
‘mencionou um aspecto importantissimo no campo de géneros textuais e mais
sistematicamente tratado pela escola australiana — 0 contexto de cultura
Estranhamente, a autora néo menciona Martin e Eggins, criadores deste termo (cf.
EGGINS, 1994; MARTIN, 1993).
0 capitulo apresenta os seguintes aspectos positivos: 1) concepcio da
Jinguagem como 0 estudo da interagio humana (p. 187) ¢ pratica social (p. 189);
2) sugestées de procedimentos para andlise de géneros mais orientados para o texto
‘ou para o contexto; 3) distingao dos termos género textual e discurso baseada em
Fairclough (2003) (géneros constituem formas de aco e discursos, formas de
representagio); 4) sugestées para o ensino de linguas (materna e estrangeira) que
visam explicitar a relagio existente entre forma e contexto (de situagZo e de cultura)
‘e que possibilitam ao aluno dominar a linguagem para sua inser¢ao social. Destaco
aqui.a defini¢o da autora sobre ensino de linguas: “ensinar Iinguas é ensinar alguém
aser um analista do discurso” (p. 197). Cada vez mais 0 professor de linguas, seja
‘materna ou estrangeira, deve se convencer de que a iingua nao se limita & estrutura
{gtamatical e a0 vocabulério, mas sim se constitui fundamentalmente nas relagdes
entre eles e o contexto de uso dessa lingua.
‘A presente obra constitui-se em uma importante contribuicao para os estudos
de género textual. Ha propostas claras e interessantes sobre o ensino de géneros
reflexdes relevantes que abordam questdes inexploradas pelos estudiosos da drea.
(0s trabalhos se inserem em diferentes perspectivas de pénero textual (Swales, Nova
Ret6rica, ISD, por exemplo), porém com notavel auséncia de referéncias & escola
australiana. Além disso, os autores, de maneira geral, no justificaram suas opcdes
por determinada escola de género. Este fato dificulta para o leitor, principalmente
leigo, tomar decisées conscientes sobre qual escola adotar para seus estudos no
assunlo e para sua pritica pedagégica. 0 livro se destina principalmente Aqueles
‘que ja possuem uma boa nogio das escolas de género.
Linguagem em (Dis)curso~LemD, Tubario, v6, 0.2, p. 315-325, maifago.2006 319