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EpcGar Morin Cartos Jess DeLGAbo Diaz REINVENTAR A EpucacAo A\BRIR CAMINHOS PARA A METAMORFOSE DA HUMANIDADE ‘Traducao de Irene Reis dos Santos @ Pates athena Copy 20 Eu Mn Ces Depa Dae maniade gh Mrin Ce es Dado Di turd ge S.tnleaacinardad «contenant 4 Interdciiardade Tree Paldere baton 3701 CONTEUDO Presacio ‘A Huwawioaoe: Cis, Taasronmacho ¢ METaMONFOSE. 1. Eneavznaous bos Contecimenros & as Pouinicas. Gobalizactoe crise planetiria evolueto cienttica e teenoldgica Instrumentos de trabalto de nove tipo, Subyersio materiale espiritualda vida catidiana Emergéncia de novos saberes Reconsieragao do problema ambiental 1 Ew Busca ve Roras Cnistivas: Enucacko, UUnivenstonoe: Contueximane CContexto de crise da humanidade [Avancar rumo a uma reform profs do ensinae do pensamenta Considerar seriamente o que acorre na ciéncia, na tecnologia eno planeta Edueagé, politica epensamento do Sul Dupla missiocls universidade 3 9 0 15 0 4 2 4 6 oo m n at ven Mon & Casa ests Deca Dit TL Tuanstornacto os Potinica £0 Povinea, SocteDApe, Povinies & ACADEMIA so1 Politica de humanidade, politica de civilizacto, antropoitics. 106 Reconceltuarademocracia€o cldadto 12 Ciencia, tecnologia ecidadania, a3 Dupla contextualizagao globabtoca na formacdo ‘as politica piblias an Superimensionamento da politica 107 Assumir pensamento do Sul para transformar a educagio,asociedade ea vida, 139 EPILOGO. Viven, Rerensan, Rewverran 143 Busuocar 149 22s PREFACIO. A Humanipabe: CRIsE, ‘TRANSFORMAGAO E METAMORFOSE. ste livro situa-se na rota tragada por A cabera em-feit, Os sete saberes necessirias 8 educeeao do futuro, Educarna era planetiri, Terra Piri, A viae (0 caminho da esperanca. Neles se reinem ideias sobre aeducacao eo ensino, a politica eseu lugar no mundo ‘em que viveros. A inspiragao vem destes eda série 0 ‘Método, mas nao pretende repeti-los ¢ sim reuni-los para compreender melhor nosso contexto eo estreitoe recursiva vinculo entre educacio, cidadania e politica © vineuto entre educagao, cidadania & ps transcend 0s lagos que entretecem os interesses ‘que se plasmam na edcagao e na politica como ativi- dlades centrais das sociedades contempordneas, pois ‘concerne universalidade do politica e do educativo, os processos de regulac20 e de suporte, condugao e suposto controle sobre os destinos da humanidade e de cada um dos humans Encan Moni € Cato ete Basen Dike A ilusao do conhecimento tinico e certeiro, a poi- tica racional e ilustrada, a educagao que padronix © progresso e o apetite pelo urgente, o controle © as certezas, que ainda predominam, nos conduzem 30 abismo. A alternativa ao abismo 6a metamorfose, mas ‘esta ndo chegard sem agies. £0 momento de agir ¢ habilitar o& acessos que conduzem para A via. Encontvar diélogos frutiferos entre educagao e politica ~ academia e politicos ~ & uuma das agbes inadiveis, sem dar as costas para a idadania e sim consteuir com ela. Nao alcangaremos {sto sem uma mudanga profunda que reinvente a edu: agao, possibilitando identificar solucdes aos proble- mas fundamentais, Iniciamos o caminho desta indagagio percebendo primeiro 0 contesto planetirio, desenrolando ofio da ‘omplexidace educativa, que é a0 mesmo tempo cog- hoscitiva, politica e cidad, para volar sobre o ponto de partida, O grande desafio da complexidade, que exige cola car tudo em contexto, cresce na medida em que avan- ‘Gamos, contextualizamos e voltamos a contextualizas: Arise da humanidade, que configura o contexto mais lobal e abrangente é, ao mesmo tempo, uma abstra- ‘20 quese concretiza em miiltiplas crises; €a canjun- ‘0 de muitas crises que se nutrem umas das outras, ‘dando corpo e realidad a abstracio que as generaliza ‘© mundo.em crise é um mundo em transtormagio, em rigeo¢ oportunidade de mudanca, A degradagao um dos futuros possiveis. Processos subterraneos e processos visiveis conduzem a ela, Nada nos garan- eo éxito no empenho para mudar em uma direcao predeterminada, nem ninguém conta com a luciden intelectual e © controle dos fatores que inclinarao a balanga em uma certa dire¢ao. Mas é um equivoco ‘conceber a érise apenas como antessata da destrui- ‘620 iminente e inevitavel. A perspectiva que enlaca a crise com a degradarao e a destruicao tem funda: ‘mentos; parece inevitivel, entretanto nao é mais que uma perspectiva, A crise nutre-se também de processos ocultos ¢ visiveis que conduzem a esta muicanga que identifica :mos como metamorfose, porque retine tagos revolu cionarios e evolutivos, conservadores e regenerado- res. Se a esperanca é tida como horizonte de futuro contratio & destruigao, & porque sob esta perspectiva existe processos que a fazem real. Ao advogar pela ‘esperanga, identificamos as possbilidacies de agao © ‘empenho humane que pode potencializ-las para assu- mir os riscos e produaie as mudangas que impecam a catistrofe, que abram os caminhos das solidariedades das iniciativas eriadoras. advogamos por uma esperanga ilusriae sal- vvadora, mas por uma ut6picae criadora, mobilizadora fe regeneradora, que se corresponde com 0 momento nc Mono Canis Sess Daten Die em que vivemos, que éo deagir. Advogamas por uma esperanga baseada: + Nas potent transformadas, + No pensamento do Sul + Na substituigdo do estar bem ou viver bem pelo bom viver. + Na reconstrupdo dos idenis de conhecimento, + Noaproveitamento da conexso que ainfraestru tura da sociedade-mundo nos oferece + Na reinveneao da educagia como dispositive capaz de contribuir com a tomada de eonsciéncia {dos perigos que enfrentamos, e com a comunt- lade de destino que nos define. + Nas agoes renovadoras que surgem a partir da base, envolvem 0s cidadios e hoje ainda estso dispersas, idades da educagao e da politica Advogamos pela esperanga que se baseia nas potencialidades dos seres humanos que tomem cons: ciéncia da comunidade de destino planetério e que estejam dispostos a agir, Na obra A via slo apresentadas inicitivas portado: ras de futuro que contribuem para a regeneragie do Politico, para as reformas do pensamento ea edueacao, dda sociedad eda vida. Os cidadios conscentesé esto agindo, Agora, nos aprofundaremos na edueacao, no <6. seu vineulo com a politica @ em sua contribuicao para uma via regeneradora que torne possiveis as reformas da sociedadee da vida, eo bom viver ‘Ao ideal ocidental que promove o “estar bem” € 0 ter: que dé primazia ao mercado avassalador, ao con: sumismo eo capitalismo desenfreados, & eraséo dos valores, contrapomas o ideal que ver do Sul clama pelo "bom vive, pela ateneao ao lado poético da vida Para abrir caminhos & metamorfose da humani dade € preciso reinventar a educagao, ou o que é 0 mesmo, avangar pela via que enlaga a cidadania com a transformagio da palitiea ecom as reformas do pen- samento e do ensino, ENCRUZILHADAS DOS CONHECIMENTOS E AS POLfricas ser humano ocidental ou ocidentatizado sotre duas careéncias cognitivas que o cegam = A cegueira dos saberes separados e compart rmentados, que desintegra e impede diferenciar ‘os problemas fundamentaise globais,e + Ocentrismo ocidental, que 0 coloca no trono da racionalidade dando-the a ilusao de possuir 0 universal Somam-se a elas as carénelas que provém da poli- tica: uma atividade superdimensionada, que alcanga e ppermeia todas as esferas da vida contemporanea, que se profissionalizou e tornou-se técnica, distanciou-se da ética e da cidadania. 0 paradoxo da presente poli- tica consiste em que, a0 mesmo tempo que penetra fem todos os Ambitos, fa-se alhela e distante para a _maioria das pessoas, +9. Desatiados pela dupla ignorancia que provém do ‘que desconhecemos e das cequeiras de noss0s conhe- cimentos, da onipresenca de uma politica cada vez mais distante e hermética, empreendemos o camino desta indagagao, GLOBALIZACAO F CRISE PLANETARIA © contextocin que vivemos setorna visvel ns pro: ‘cessos de mundializagdo, globalizacio e crise planets "a. Coma conquista da América ea cireum-navegacao fe Vasco da Gama entrou em curso a mundializa ‘que, desde 1989, transformou-se em glabalizagdo que combina o aumento desentreado do capitalismo que invade os cinco continentes. sob a égide do neolibe- ralismo, com a instalagao de uma rede de telecomuni- ‘cages que permitem a unificagdo técnica-eeonémica do planeta A mundializagao ea globalizagio sie acompanha- {das por process0s opostos, como a deminagao ea soli- \ariedade; as ondas democratizadoras e os fanatismos; 8 ondas liberalizadoras e os ditames do mercado; as homogeneizacdes e padronizagées culturais con- forme os modelos norte-americanos e as resistencias © revitalizagoes das culturas autéctones; ¢ ainda a ‘miscigenagao cultural. “10+ 0 século XX mostrou-nos que a globalizacao da dominacao tem face politica, inclusive onde poderosos ‘movimentos empreenderam a transformacae politica, ‘econémica e sociocultural. E, apesar da qlabalizagaa da solidariedade ~ constrangida pela globalizacao da dominagao ~ ngo ter ultrapassado a marginalidade, cla continua viva, ‘A globalizacio nos mostra como seu resultado ‘mais contundente,acriago da infraestrutura de wma sociedade-mundo que inclui a vide material comum ‘como a economia globslizada,o territério comum ~0 planeta ~ mas que ainda carece da necesséria gover: pang comum, A ausencia de autoridades legitimas dotadas de poder de decisio para resolver assuntos planetirios,¢ ‘a falta de consciéncia da comunidade de destino huma no impedem que a sociedade se torne Terra-Pstria, ‘conduzindo-nos a contradigoes que parecem insol veis. Assim, por um lado, os problemas planetarios cexigem par limites as soberanias nacionais. Ao mesmo ‘tempo, 0 movimento téenica-econdmico da glabali2a- ‘i025 relagbes de dominagdo do capitalism iimitado edesenfreado, que colocaram-se acima da humanidade, Inviabilizam a constitu de uma sociedade planotéria © ameacam com uma ditadura global A cessiio de soberania nessas condicbes equivale 20 suicidio de nagées inteiras: nfo obstante, a falta de ote cia Mone Casts ees Decioo De solugdo para os assuntos globais conduz igualmente 2 autodestrui¢ao planetéria, que também & suicide, Somente uma Terra-Pétria poderia solucionar este problema; mas sem solucioné-lo, nunca chegaremos consolidagio dela A crise da humanidade se apresenta, a um s6 tem po, como crise global da humanidade que nao conse- ‘gue ter acesso a Humanidade e come crise planetivia slemitiplas Faces: crise cognitiva, crise de unificacao, polictise crise de desenvolvimento, crise das ideolo las, agravamento dos antagonismos, maniqueismos © ddios cegos.' A barbirie surgida das profundezas da histéria, que mutila, deste, tortura e massecra, se lune hoje @ barbarie gélida da hegemonia do catculo, o quantitativo, da técnica, do lucro &s eustas das sociedades ¢ das vidas humanas, ‘As duas barbéries caracterizam a rwina na idade de Ferro planetaria: idade do capitalism efanatisinos desentreados, ditaduras implacdveis, a possibilidade de novos totalitarismos e guerras de exterminio. A alobalizagio que caracteriza esta idade de fer~ ro € ambivalente porque redine o pior & 0 melhor: 0 pior que conduz & destruicao catastréfica e @ melhor ‘que radica nas interdependéencias, nas miscigenagoes culturais, nas condigdes de infraestrutura para a ‘Pars uma andliso detalhads ver A vis, primeira parte. oe sociedade-mundo, que possibilitam vias contrévias & destruigdo, O melhor radica também no fato das amea- ‘¢a8 mortais eos problemas fundamentais criarem uma comunidade de destino que abarca toda a humanidade, A globalizacao representa tanto possibilidad de que emerj um mundo novo, quanto a possibilidade de quea humanidade se autodestrua, Vem acompanhada de riscas inéditos einerivels portunidades. Conduz catdstrofe provivel ea improvavel ainda que possivel) esperana de metamorvose. Mas as cegueiras de nossos conhecimentos nao permitem distinguir e formular os problemas fun- ddamentais, contribuindo para que a consciéncis dos perigos ea comunidad de destino ainda sejam muito fracas e dispersas. A metamorfose da humanidale nao 6 inevitivel nem acorrerd por si mesma, Ada da metamorfose se sustenta em que, quando ‘um sistema nao pode resolver seus problemas vitas, degrada-se, desintegra-se, ou bem, revela-secapazde ‘gerar um metassistema que saiba tratar seus proble- mas: metamorfosela-se ‘Nao podemos rear a onda tecnocientifico-econd- mica ede civilizagdo que conduz o Titanic’ planetario 2. Pars vnarvisodetathada da metdfora do Tian, ver “Este a0 desasire, mas sim podemos produir o desvio que, 40 se multiplicar, potencie as miltiplas vias que con- ‘duzem a vie para a metamorfose E preciso, ao mesmo tempo, globalizar e desqla- balizar, crescer e decrescer: desenvolver e involuir, conservar e transformar. Desfazer-nos das alternativas slobalizagao/desglobalizagao, crescimentoidecresci mento, desenvolvimentofinvolugdo, conservagao/ transformagao é uma premissa necesséria que nao sera facil de alcancar, pois essas alternativas expres sam um pensamento dicotémico, fragmentador & reducionista que no poderé ser superado sem uma profunds reforma do pensamento. Por iss0, ¢ preciso mudar profuncamente @ pen samento © 0 ensino, Sua referma contribuird para clevar a consciencia sobre 0s perigos ea comunidade de destino, uma vez que potencializaré a agdo trans- formadora a partir da base. As iniclativas dispersas © 4 criatividadle que nos pontos mais distantes do planeta colaboram hoje com as vias reqeneradoras?, receberdo os impulsos necessérios para que deixem de ser marginals. Longe de ser um esforgo iluminista, ‘ reforma educativa ha de se fundir com a reforma ‘do pensamento, da politica ed politico. Nisso radica sua relnvengio. 3. Ver A via, primeira parte a4 Por outra parte, necessitamos compreender a mag: nitude de um conjunto de mudaneas fundamentais que tiveram lugar na ciéncia, nos conhecimentos, nas tecnologias, no planeta e na vida das pessoas. Flas incluem a revolucao cientifca etecnotégica, a subver- ‘so materiale espiritual da vida cotidiana, a criagao de instrumentos de trabalho de novo tipo, a emer- ‘gencia de novos saberes, a retormulagae do problema {dos conhecimentos ¢ a reconsidera¢ae do problema ambiental, REVOLUCAO CIENTIFICA E TECNOLOGICA Desde os anos cinquenta, desdobra-se uma revolu- ‘a cientifica e tecnoldgica que modiicouas retagoes entre as ciéncias, as tecnologias e a vida cotidiana «as pessoas, De relagdes bastante independentes entre las, mudou-se primero para uma relagao que parecia subordinar completamente a tecnologia a ciéncia, ea Vida cotidiana a ambas, © desenvolvimento ulterior dos acontecimen- tos mostrou as potencialidades da tecnologia como

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