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6 si ‘EMPO, DISCIPLINA DE TRABALHO E CAPITALISMO INDUSTRIAL Mantinhamos wn vetho eviada, cuje nome era Wright, traba~ ihando todos os dias, embore fosse page por semana, mas ele Javia radas por officio [| Certa manhd acontecett que, tendo uma carroga qucbrado na estrada |...].0 velho fot ehamade para conserté-lane lugar em que 0 velculo se encontrava: en quanto ele estava ocupade fazenda 0 sew trabatho, passou wn camponés que o conhecia, €o seudou come cumprimento de costume: Bom dia, velho Wright, que Deus oajude a terminar logo.o scu trabalho. O velha levantaw os alhas para ele |...) e com uma grosseria divertida, respondew: Pouco me importa se ele ajudar ou no, trabalho por dia. Danie! Defoe, The great law of subordination considered; or the insolence and insufferable behaviour of SERVANTS in England duly enuired into (1724) Paraacamada superior da humanidade, 0 tempo é um inieni- go, ¢ |...) asi principal atividade é maté-lo; ao passe que, para os outros, tempo e dinkeira sie quase sindnimos Henry Fielding, An enquiry into the eauses of the late increase of robbers (1751) Tess |.) comegou a subir aalameda ou rua esetirae tortaque ndo fora jeite para um caminhar apressade; wna rua tragada antes que pequenos pedagos de errativessem valor, e quando as reldgios de ums6 ponteiro bastavam para subdividir a dia. Thomas Hardy 267 i E lugar-comum que 0s anos entre 13000 1650presenciaram mudaneas in) porkinies na percepgfia do tempo no ambito da cultura intelectual da Europa Ocidental.' Nos Comtas de Canterbury, 0 galo ainda aparece no seu papel imemorialde reldgio da natureza: Chantecler : Levauiouo alher pra o sof brithante Que na signo de Touro percarrera Vinte e rantos graus, e tm portco mais, le sabier pele nacarezn, ¢ por nenhuuae oudra ciéneia, Que amanhecia, eantou com vor alegre |...! Mas, embora “Pela natureza ele conhecesse cada ascensio/ Do equindein na: quela cidade”, o contraste entre 0 tempo da “natureza” e © tempo do teldgio € apontado na imagem — Bom mais canfidvel era o seu canto no poteire Do que wn reidgio, ow 0 reldgiv det abracia.® Esse é um religio muito primitivo: Chaucer (ao contraério de Chantecler) era londrino, ciente dos horarios da Corte, da organizagao urbana e do “tempo: do mereador” que Jacques le Goff, num artigo sugestivo em Aunales, conteapés ao tempo da Ipreja medieval.’ Nao desejo diseutir até que ponto a mudanga foi causada pela difustio de reldgios a partir do séeulo x1V em diante, até que ponto foi ela propria osimtoma de uma nove disciplina puritana ¢ exatidao burguesa. Seja qual for o modo de 1 considerarmos, a mudanga certamente existe. O relégio sobe no paleo elisa- betano, transformando otiltimo soliléquio de Fausto num dilogo com o tempo: “as estrelas se mevem silenciosas, o tempo corre, o reldgia vai bater as horas”, Otempo sideral, presente desde o inicioda literatura, com um tinico passe aban- donou o céu para entrar nos lares, A mortalidade eo amor sdo sentidos de modo s pungente quando © “progresso vagaroso do ponteira em movimento” cruza o mostrador. Quando se usa © relégio ao redor do pesvoro, ele fica praxi- batidas menos regulares do coragiio. Sao bastante Antigas as imagens eli- sabetanas do tempo como devorador, desfigurador, tirano sangrento, ceifeiro, mas hd um novo senso de imediatismo-e insisténci A medida que o século xvii avanga, a imagem do mecanismo do relégio se {) Caste up his eyen to the brighte sonney That in the signe of Taurus hadde yronne/ ‘Twenty degrees and oon, and somwhat moore! He knew by kynde, and by naon eother looret ‘That it was pryme, and crew with blisful stevene [...). (1) Wel sikerer- was his crowyng in his logged Than is a elokke, ar an abbey orlogee, 268 expande, até que, com Newton, toma conta do universo. E pela metade do sécu- Jo xvi tse confiarmos em Sterne) 0 relégio ja alcangara niveis mais intimos Pois o pai de Tristram Shandy — "um dos homens mais regrados em tudo @ que fazia [...| que jd existiram” — “eriara um habito durante muitos anos de sus vi- da —na noite do primeico domingo de-cada més [...|.ele davacordaaum grande relégio que tinhames no topo da eseada dos fundos”, “Aes poueos também transferiraalguns outros pequenos interesses familiares para mesmo periodo™, que tornou Tristram cupaz-de precisitr a data de sua concepgio. Provocou tum- bém The clockmaker's ourery against the anthay [OQ protesto dos relojaciros contra 0 autor]: As minhasencomendas de varios relégins para ointerior foram canceladas; porque agora nenhuina dama recatada ousa falar em dar corda a. um relégie sem se expor aos olhares maliciosos e as piadas da familia |...]. Sim, agora a expresso comum *Mcu senhor, niio quer dareorda: das prostiLutas €: pseu reldgio?” ‘As matronas virtuosas (reclamaya 0 “relojoeiro”) estioenfiandoos reldgios nos quartos de tras is." tretanto, é improvdvel que esse impressionismo grossciro faga avangar a presente investigagao: até que ponto, ¢ de que maneira, essa. mudanga no senso de tempo afetou a disciplina de trabalho, ¢ até que ponto influenciou a percepgao interna de tempo dos trabalhadores? Se a transigaio pata a sociedade industrial madura acarretou uma reestruturacio rigorosa dos habitos de trabalho — novas disciplinas, novos estimulos, ¢ uma nova natureza humana em que esses estimu- las atuassem efetivamente —, até que ponto tudo isso se relaciona commudangas na notagdo interna do tempo? es velhos, parque eles “provoeam alos dE E-bem conhecide que, entre os poves primitivos, a medigio do tempo est comumente relacionadacom as processos familiares no ciclo de trabalho ou das tarefas domésticas. Evans-Pritchard analisou o sense de tempo dos nuer: “O relégio didrio é0 do gado, arotina das tarefas pastorais, ¢ para um nuer as horas do dia @.a passage do tempo sao basicamente a sucessfio dessas tarefas ¢ asua relagio muitua”. Entre os nandi, a defini¢o ocupacional do tempo evolu abrangendo nao apenas cada hora, mas cada meia hora do dia—as 5h30da ma- nhi os bois jé foram para © pasto, as 6 h as ovelhas foram soltas, As 6h30 0 sol nasceu, as 7 h tornou-se quente, 4s 7h30-0s bodes j4 foram para o pasto etc. — uma economia inusitadamente bem regulada. De modo scmelhante, os termos evoluem para a medigao de intervalos de tempo. Em Madagascar, o tempo po- dia ser medido pelo “eozimente dearrez” (cerca de meia hora) ou pelo “fritarde 269 um galanhoto” (um momenta). Registrou-se que os nativos de Cross River dizem: “o homem morreu em menos tempo do que leva o milho para assur’ (menos de quinze minutos)” Nao ¢ dificil encontrar exemplos dessa atitude mais proximos de nds em termos de tempo cultural. Assim, ne Chile do século XVIL, @ tempo era tre. giientemente medido em “Credos”: um lerremoto foi descritoem 1647 como tendo durado o tempo de dois eredos; enquantoocozimento de um ove podia ser timade por uma Ave-Maria rezada em voz alta. Na Birmiinia.” em tempos re- monges levantavam ao amanhecer, “quando hd bastante luz para ver uswelasna mao”. O Oxford English dtetionary nos da exempios ingleses — pret fer naster wyle [x duragao do Pai-Nosso], miserere whyle [a duragao do Mise- mas nao no Oxfard Enelish dit] — uma medigio um tanto rere] (1450), & (no New English dictionary dictionary) pissing while [o tempo de uma mi anbite Pierme Bourdieu investigou maisdeialhadamente as atitudes dos campone- ses cabilas (na Argélia) com relagdo ao tempo em anos recentes: “Uni atitude de submissio ede indiferenga imperturbével em relagHo A passage do tempo. que ninguém senha em controlar, empregar ou poupar... A pressa é vista come uma falta de compostura combinada com ambigao diubélica’’. O reldgio és ve7es conheciclo como “a oficina do diabo"; nao ha horas precisas de releigbes “a nogdo de um compromisso com hara marcada & desconhecida; eles apenas Combinam de se encontrar ‘no préximo mercado", Uma cangio popular diz: a E imitit correr atrés do mundo, Ninguém jamais oalcangards Em sua desericao bem observada da ilha Aran, Synge nos dé um exemplo cldssico Enguanto caminho com Michael, alguém muitas vezes vem falar eomigo para Perguntar que horas sito, Nao entanto, poucas pessoas tém bastante familiaridade fom A nogao moderna de tempo para compreender de forma menos vaga a von. vengao dis horas, € quando Ihes informo a hora do meu relégio, eles néo ficam sit- tisfeitas ¢ querem saber quanto tempo ainda Ihes resta até 0 creptisculo," Na ilha, © conhecimento geral do tempo depende, bastante cutiosamente, da di- recto do vento, Quase todas as cabanas siio construidas [...] com duas portas uma em frente da outra, ¢ a mais abrigada das duas fica aberta durante todo 0 dit para deixar entrar luz no interior, Seo vento é notte, a porta dosul fica aberta, eo movi- mento da sombra do umbral sobre o chao da cozinha indica a hora; porém, assim ais © vento nuda para o sui, a outra porta & aberta, ¢ as pessoas, que jamais pen- sam em fazer um reldgio de sal primnitivo, fieam perdidas [...) ui) Atual Myanma 270 Quandoo ventoédo norte,a velhasenhors prepara astinhasrefeigbes com bas- tante regularidade; mas, nos outros dias, ela frequentemente prepara o meu ché As seis [1° Urés horas em ver dl 1 diivida, esse descasa pelo tempo do relégia 86 & possivel numa comu- nidade de pequenos agricultores e pescadores, cuja esirutura de mercado € administragaa é minima, ¢ na qual as tarefas didrias (que podem variar da pesca ‘ao plantio, construgao de casas, remendo das redes, feitura dos telhados, de um berge ou de um caixdo) parecem se desenrolar, pela légica da necessidade, dian- te dos olhos do pequeno lavrador." Mas a descriciio de Synge serve para enfali gar o condicionamento essencial em diferentes notagées do tempo ger ‘adas por diferentes situacdes de trabalho, e sua relat jumos “naturais”, R6bvio que os cagadares devem aproveitar certas horas da noite para colocar as suas ar- madilhas. Os pescadores ¢ os navegantes devem integrar as suas vidas com as marés. Em 1800, uma petigao de Sunderland inclui as seguint siderundo que este € um porto maritimo em que muitas pessoas sfio obrigadas a fica acordadas durante toda a noite para cuidar das marés ede suas laces no rio”. A expressdo operacional é “cuidar das marés”; a padronizagiio do tempo social no porto maritimo observa os ritmas do mar, ¢ isso parece natural e com- preensivel para os pescadores ou navegadores: a compulséo é prépria da ma- ture: Da mesma forma, 6 trabalho do amanhecer até o-crepisculo pode parecer “patural” numa comunidade de agricultores, especialmente nes meses da co- Iheita: a natureza exige que o gro seja colhido antes que comecem as tempes- tades. E observamos ritmos de trabalho “naturais” semelhantes acempanhando outras ocupagdes rurais ou industriais: deve-se cuidar das ovelhas na época do parto e protegé-las dos predadores; as vacas devem ser ordenhadas: deve-se cuidardo fogo entio deixar que se espathe pelasturlas(e as que queimam carvao devem dormir ao lado); quando o ferro est4 sendo feito, as fornalhas no podem apagar. A notagao do tempo que surge nesses contextos tem sido descrita como orientacao pelas tarefas. Talvez seja a orientagiio mais eficaz nas sociedades camponesas, ¢ continua a ser importante nas al ividades domésticas ¢ dos vi- larejos, Nao perdeu de modo.algum toda a sua importineia nas regides rurais da Gra-Bretanha de hoje. E possfvel propor trés questbes sobre a orientagao pelas tarefas. Primeiro, hd a interpretagao de que é mais humanamente compreensivel doque o trabalho de hordrio marcado. Ocamponés ou trabalhador parece cuidar do que é uma necessidade. Segundo, na comunidade em que a orientagio pelas tarefas é comum parece haver pouca separagdo entre “o trabalho” ¢ “a vida". As relagdes sociais ¢ o trabalho sao misturados — 0 dia de trabalho se prolonga ou se contrai segundo a tarefa—e nao hé grande senso de conflito entre 6 trabalho 271 Tereeiro, aos homens acostumados com 0 trabalho marcado ‘ia © caremte de © “passar do di pelo reldgio, essa atitude para com o trabalho parece perduls urgencia."" Sem diivida, essa distingdo to elara pressupde, como referen ial, 0 cam Ponés ou artesdo independente. Mas a.questio da orientagio pelas tarefas se tora muito mais complexa nasi m que se empreza mao-de-obra. Toda economia familiar do pequeno agricultor pode ser orientada pelas taret; sj mas.em seu interior pode haver divisiio de trabatho, alocagiio de papéis e a dis. ciplina de uma relacao de empregador-empregado entre 0 agricultore seus fi- thas, Mesmo nesse caso, otempo-estd comeganda ase transformarem di heiro, o-dinheire do empregador, Assim que se contrata miio-de-obra real, é visivel q uansformagaa da orientagao pelas tarefas no trabalho de hordrio mareada. 6 verdade que @ regulagaw do tempo de trabalho pode ser feit: independente- mente de qualquer relgio — e, na verdade, precede a difusdio desse mecan mo. Ainda assim, na metade do século xvi, os fazendeiros ricos calculavam as Suits expectativas da m4o-de-obra contratada em “dias de trabalho" (como fazia Henry Best) — “Cunnigarth, com suas terras de aluvido, requer quatro grandes dias de trabalho para um bom eeifeira”, “Spellowe exige quatro dias de trabalho indiferentes” etc.;"' ¢ o que Best {azia para a sua propria fazenda, Markham tentou apresentar de forma feral: Um homem [..] pode eeifar um acte-© meio de cereais, como cevada ¢ aveta, plantas farem grossas, pouvo elistieas c rentes agcho, ese ele teabalhar bom, sem Cortar as cabecas das espigas e deixando 0s talos ainda plantados, num dia de tra. balho; mas se as plantas forem boas, grassas ¢ bastante eretas, ele pace ceifar dais acresoudoisacrese melo num dia; aporase.as plantas forem curtase finas, le pode velfir és ¢ ds vewes quatro acres num dia, sem fiear estafado | as Ocdleulo ¢ dificil, depende de muitas varidveis, Sem divida, uma medigao di- Teta do tempo era mais conveniente." ssa medigao incerpora uma relacae simples, Aqueles que so contratadas experienciam uma distingio entre o tempo do empregador e 0 tempo. E oempregador Nao seja desperdigado: o que predomina nao é a tarefa, mas 0 valor do te Mpo quando reduzido a dinheiro. tempo € agora moeda: ninguém Passa 0 tempo, & sim o gasta. Podemos observar um pouco desse contraste, nas atitudes paracomo tem: poco trabalho, em duas passagens do poema de Stephen Duck, "The thresher’s labour” [A lida do debuthador]."’ A primeira descreve uma situagio de trabalho que passamos a ver como norma nos séculos XIX. xx: 272 Nas tdbuas fortes ressoam ox basides de macieira, Eos celeiras devalvema eee dos estrépitas. Ora no ar von nossas armas nodosas, Ora com iguerl forga ld de cima caen, Para baixe, para cima, crianr 0 ritme téo bern, Osmartelosdas ciclopes melhor née soaricun Em torrentes satgadas nosse suor aceterade desce, Cai dos anéis das cabelas, aw escarre pele fac Nao temos paisa em nossa trabatho: A sale bartthensa da cetndha nav perte para Seo mesire se ansenta, os ortras brincum a salvo; Mas di sata delormecida da debutha se trai. Nem para se distralrdo trabathe tedlioso, E fazer sorrirdacemente os minuos que passe Podemos, came as pastores, contar wna histéria alegre. Avozse perde, afogada pelo mangual baruhento (1 Semana apés semana fazemos essa tarefa mandtoua, Exceto quando-os dias de joeirar eriam outra nove Nava realmente, mas em geral pior, A sale da debuiha st se submete as pragas de mestre: Ele conta as algueires, conta a qucntidade do dia, Depois pregueja que vadiamos metude do tempo. Othem aqui, seus patifes! Acham gue isso basta? Os seus vizinhos dehulham duas vezes mais que voces” A passagem parece descrever a monotonia, a alicnagio de prazer em wabalhar, e oantagonismo de interesses comumente atributdos ao sistema das fabricas. A segunda passagem descreve a colheita: (ov) From the strong Planks our Crab-Tree Staves rebound,! And echoing Barns return the rattling Sound.t Now in the Air our knotty Weapons Fly:/ And now vith equal Force deseend from high: Down one, one up, so well they keep the Time, The Cyelops Hammers could no 1 In teriny Streams our Sweat descends apace,! Drops from our Locks, or triek- tes down our Face./ No intermission in our Work we know,s The noisy Thresball must for ever g0./ Their Master absent, others safely play;/The sleeping Threshiall doth itself betray./ Nor yet ‘the tedious Labour to beguile/ And make: the passing Minutes sweetly smiley Can we, like Shepherds, tell a merry Tale?” The Voice is lost, drown’d by the noisy Flail [...J/ Week after Weck we this dull Task pursve,/ Unless when winnowing Days produce a news! A new indeed, but frequently a worse The Threshall yields but to the Master's Curse:f He counts the Bushels, counts how much a Day./ Then swears we've idled half our Time away, Why look ye, Rogues Dye think that this will do®/ Your Neighbours thresh as much again as you. 273 Por fins, em fileiras, ox ceveais bem seeados, Umacena aprazivel, tude pronto pera ceteiro, Nossa mestre satisfetio considera a visdo com ategria, Enis, para catregar os eriias, asamos toda a tiossu fica, A confisio togo tomeconta de todo campo, Os clamores atordoam as auvidos dos trabathadores: Os sinos es galpes dos chicows altemam ox sons, arLocas esirepitasas estrondam sobre a terra O trigo jd entra no celeina as ervilheas € ouaras grates Fém o mesina destina,¢ loge deixani mpro Wazia: Em rriunfis clamoroso, a tittina carga se moe # tum grande wlarida de hureas prociama a fin de celheita® Essa é certamente uma composicao-convencianal, obrigatér iana poesia rural do século xvin, E também nio deixa de ser verdade que o moral elevado dos traba- Ihadores era sustentado pelos altos ganhas na colhei - Mas seria um erro vera situagiio da colheita como resposta diretazies imulos econdmicos. Bigualmente , tm Momento em que os ritmos coletivos ma Antigos irrompem em meio aos Novos, ¢ una por¢ao do folclore ¢ dos castumi urais pode ser invacada como evidéncia comprovadiora da satisfagéo psiquicae das fungées rituais — por exemplo, obliteragdo momentainea das distingdes sociais — festa do fim da Colheita. “Como sao poucos os que ainda sabem”, escreve M K. Ashby, “e que era wabalhar numa colheita ha hoventa anos! Embora os deserdadoy niio Uvessem grande participacito nos frutos, eles ainda assim partilhavam a realiza- ‘40, 0 profundoenvolvimentoe a alegria do trabalho." a Nao 6 absolutamente claro até que ponto se podia dispor de hora precisa, marcada pelorelégio, na época da Revolucdo Industrial, Do século xlVemdian- fe, construiram-se reldgios de igreja e relégios pablicos nas cidades e nas Srandes cidades-mercados. A maioria das parSquias inglesas devia possuirrelé- 8108 de igreja no final do.século xvi." Mas a exatidio desses reldgios é motivo {1 At length in Rows stands up the well-try'd Corn,/A grateful Scene, and ready for the Barn. Our well-pleas'd Master views the Sight with joy. And we for carrying all our Force employ./ Confusion soon o'er al the Field appears And stunning Clamouts Fi the Workmens Farsi The Bells, and clashing Whips, aliemate sound,/ And rating Waggons thunder oer the Ground The Wheat got in, the Pease, and other Grain Share the same Fate, ana soon leave bare the Plain In noisy Triumph the last Laad moves ond And loud Hhiees proclaim the Harvest done 274 de discussao; ¢ o reldgio de sol continuava em use (em parte para acertar o relo- gio) nos séculog XVII, XVII e XIX." No século Xvmt, continuavam a ser feitas dougdes generosas (as vezes dis- postas como clocktand [terra para o relégio), dirg dong land [terra pura o ding dong] ou curfew bell land (terra para o toque de recolher|) para que soassem os unhd-e os sinos de recolher,” Assim, em 1664, Richard Palmer de e) doou terras a serem administradas coma finalidade de sinos dan Wokingham (Berkshir pagar 0 sacristio, para que tocasse o grande sino durante meia hora, tdi: noiles 4s oite horas ¢ tadas as manhiis 4s quatro horas, ou lao pr6ximo dessas horas quanto possivel, de 10 de setembro.a 11 de marco de cada ano, naos6 para que lodoses que morassem agalcance do soar do sino pudessemsercom auma horaconveniente da noite ntareede de mie varias profissdes (hordrios geralmente eal isso induzidas u repot nha para os tnibalhos ¢ deveres de su observatdos e recompensados com economia e competéncia no tubalhoy stviros e outros que escutassem 0 som do sino nas mas também para que os fora noites de inverno “pucessem ficar subendo a hora da noite ¢ ter alguma orienta- gio para acertarem o seu caminho”. Esses “fins racionais”, pensava ele, “s6 po- diam ser apreciados por uma pessoa juidiciosa, a mesma prética sendoobservada e aprovada na maioria das cidades ¢ cidades-mereados, e em muitos outras lu- gares doreino [...]”. Osino também lembraria aos homens a sua morte, a Ressur- reigdo ¢ o Juizo Final. O som era mais eficaz que a visio, especialmente nos distritos manufatureiros em desenvolvimento, Nos distritos produtores de roupas de West Riding, nos Potteries“ (e provavelmente em outros distritos), ainda se empregava a trompa para acordar as pessoas de manha." De vez. em quando fazendeire despertava os seus trabalhadores nas choupanas; ¢ sem ord comegado com diivida o-costume de bater 4 porta para acordar os morador 08 primeiros moinhos. ‘Um grande progresso na exatidaio dos relégios caseiros veio com o uso do péndulo apés 1658, Os relégios de péndulo comegaram a se espalhar a partir da década de 1460, mas os relégios com os ponteiros dos minutos (além des pon- teiros das horas) s6 se tornaram comuns depois dessa época.”' Quanto a mode- los mais portateis, a exatidao do relégio de bolso era duvidosa antes de se aprimorar 0 mecanismo de eseape e de se introduzir 0 “cabelo” (mola heli- coidal), 0 que 86 aconteceu depois de 1674." Ainda se preferia o formato orna- doe rico A simples funcionalidade. Um diarista de Sussex observa em 1688: compre’ [...] um relogio de batso com caixa de prata, que me custou trés libras (v9) Distrito oleiro em Staffordshire, (N.R.) 275 [...]. Esse reldgio marca a hora do dia, o més do ano, a fase da lua eo fluxo eo refluxodas marés; e funciona trinta horas sem precisar de corda" O professor Cipolla sugere 1680 como a data em que a fabricagdo de reli- gios portiteis ¢ nao portiteis ingleses suplantou (por quase um séeulo) a dos concorrentes europeus.” A fabrricagdo dos reldgios nas 5 habilidades do Terreiro,’*ea afinidide ainda podia ser observada nas centenas de relojaciros in- dependentes, trabalhando para atender encomendas locais em suas proprias oficinas. dispersas pela cidades-mercados ¢ até pelas grandes vilas da Inglater- ra, Esedeia ¢ Pafs de Gales no século xvi Embora muitos deles nao axpi- rassem a nada mais refinado do que 0 prosaico reldgio de péndulo da casa da fazenda, havia entre eles artesdos de talento. John Harrison, relajoeiro ¢ antigo carpinteiro de Barton-on-Humber (Lincolnshire), criow um erondmetro mat mo,cem 1730 podia afirmar que conseguira Fazer com que um reldgio chegasse mais perto da verdade do que se imaginaria possivel, considerando a enorme quantidade dle segundos que existe hum més, espago de tempo em que ele nfio varia mais de um segunda [...). Teaho Certesa de que passa faxé-lo atingir uma preciso de dois au tres seeunddos num ano.” Em 1810, John Tibbot, um relojoeiro de Newtown (Montgomeryshire), eriara um relégio que (afirmava ele) raramemte variaiva mais de um segundo em dois anos." Entre esses extremos, havia os intimeros arlesdos engenhosos e altamente competentes que desempenharam um papel crucialmente importante a inovagdo téenica durante as primeiras fases da Revolugdio Industrial. Na ver. dade, a descoberta des questao niio foi deixada a cargo dos historiadores, pois, ela era forgosamente discutida nas petigdes das relojo diretos em fe [... as manufaturas de algodao ¢ 14 sao inteiramente gralas dos relojoeiros pelo estado de perfeigto de sua maguinaria, pois, nos tiltimos anos, grandes némeros esses relojoeiros |...] 8m sido empregados para inventar e construir, bem como para supervisionar essa macuiinaria [, A fabricagao de relégios nfo portdteis nas pequenas cidades sobreviveu até © século xvi, embora se tornasse comum nos ptimeiros anos desse século que © relojogiro local comprasse as pegas j4 prontas em Birmingham, montando. depois em sua prépria oficina, Ao contrério, a fabricagao de reldgios portiteis, desde os primeiros anos do século xviii, estava concentrada em alguns centros, dentre os quais os mais importantes eram Londres, Coventry, Preseot e Liver pool.” Uma subdivisiio pormenorizada do trabalho ocorreu cedo nessa ativi- dade, facilitando a produgao em grande escala'e a redugdo dos pregos: a produgao anual da industria no seu auge (1796) era variadamente estimada em 276 120 mile 191 678, sendo uma parte substancial para o mercado de exportagaio. Embora tenha durado apenas de julho de 1797 a margo de 1798, a tentativa de- savisada de Pill de taxar os relégios portiteis ¢ nao portateis foi um marco deci- sivo no destino da indisiria. Em 1796, os profissionais j4 reclamayam da competicdo dos relégios portiteis franceses ¢ sufgos; as queixas continuam a crescer nos primeiros anos do século XIX: Em 1813, 2 Companhia dos Relo- joeiros alegava que 0 contrabando de relégios de oure baratos assumira pro- porcdes alarmantes, ¢ cram as joulherias, os armarinhos, as chapelarias, as lojas de mada, os bazares. as perfumarias etc. que os vendiam, “quase inteiramente para ouso das classes mais altas da seciedade”, Ao mesmo tempo, mercadorias baratas contrabandeadas, vendidas por penhoristas ou caixciros-viajantes, de- viam chegars classes mais pobres.* Eiclaro que havia muitos reldgios portiteis endo portateis por volta de 1800. Mag nfio é tio claro quem os possufa, A dra, Dorothy George, escrevende sobre ametade do século XVII, sugere que “os trabalhadores, assim como os artesiios, freqichtemente possuiam rel6gios de prata”, mas a afirmagao éindefinida quan- to a data e apenas ligeiramente documentada,® © preco média dos relégios de péndulo simples, fabricados localmente em Wrexham entre 1755 e 1774, era de duas libras a duas libras e quinze xelins; em 1795, uma lista de pregos de Leices- jer para reldgios nao portéiteis novas, sem caixas, vai de wes a cinco libras. Um bom reldgio portatil certamente nao custaria menos,” Diante das cir ‘cunstincias, nenhum dos trabalhadores cujo orgamente foi registrado por Eden ou David Davies poderia ter cogitado esses precos, apenas 0 artesdo urbano mais bem p go. Na metade do século, 0 tempo mareada pelo reldgio (suspeita-se) ainda px tencia A gentry, aos mestres, aos fazendciros € aos comerciantes; & talvez a complexidade do formato e a preferéncia pelo metal precioso fossem uma maneira deliberada de acentuar o seu simbolismo de status. Mas a situagéo também parecia estar mudando nas tiltimas décadas do século, O debate pravocado pela tentativa de se taxar todos os tipos de reldgio em 1797-8 fornece algumas evidéncias. Talvez. tenha sido-o mais impopular & certamente o mais fracassado de todas os impostas diretos de Se ele te roubeeo dinheiro —ora, as ealgas ainda ie restam; Eas fraldas da camisa, se ete ficar cam as calgas; Eapele, se te roubar a camisa; eas pés desealgos, se te roubar as sapatos Portanto, esquega os impastos — Nos derrotamos a frota holandesa!™" (vit If your Money he take — why your Breeches remain, And the flaps of your Shirts, if your Breeches he gainy And your Skin, if your Shirts; and if Shoes, your bare feet/ Then, never mind Taxes — We've beat the Durch fleet! 277 Os impostos cram de dois xelins e seis pence sabre cada relégio partitil de me- ou prata; dez,xelins sobre cada relégiode our; ¢ cinco xelins sobre cada relé- gio no poridtil, Nos debates sobre o imposto, as declaragSes das ministros s6 cram noldveis pelas suas contradigdes. Pitt declarou esperar que oimpasto pro- duzisse 200 mil libras por ano: “Na verdade, ele pensava que como havia 700 mil casas que pagavam impasto, ¢ como em toda casa havia provavelmente uma Pessou que usava reldgio portitil, 86.0 imposto sobre os relbgios portéteis pro» duziria esse valor”. Ao mesma tempo, em resposta. as Mavaml que a passe de reldgios portiteis ¢ no portateis era um sinal de luxo. O: ministro do Tesoure vit os dois Iados da questo: os relégios portiteis ¢ portateis “eram certamente artigos de conveniéncia, mas eram também artigos de luxe [...] geralmente em mios de pessoas que tinham capacidade de pagar [...]". “Entretanto, ele pretendia isentar ox reldgias nfo portiteis de tipo mais simples que estavam em geral nas maos das ¢lasses mais pobres.” O ministro claramente considerava o imposto uma espécie de hati da sorte; suas estimativas eram Us vezes maiores que as de seu mentor: TABELA DE ESTIMATIVAS Artigas Imposto Eptimativa da ministro— Significaria Reldgios portiteisde dois xclinse 10 mil ibras 800 mil relégios Pratae metal barato seis pence portateis Reldgios portiteisde — dex xelins 200 mi libras 400 mil relégios ouro portéteis Rel6gios nai portiteis cinco xclins 3 0u4 mill em toro de libras 1400000 rel6gios niio portiteis Com os olhos brilhando 4 perspectiva do aumento de renda, Pitt revisou as suas definigdes; era posstvel possuirum mice reldgio portdttil (ou cachorro)como-ar- tigo de conveniéncia — mais do que isso eram “padrées de riqueza”” Infelizmente para os que quantificam o crescimento econémico, uma questao nao foi levada em conta. O imposto era impossivel de ger arrecadado.!! ‘Todos os chefes de familia receberam ordens de enviar a lista dos relégios portateis e ndo portiteis existentes nas suas casas, sob pena de severas sangées. As declaragdes dos valores para tributagtio deviam ser trimestrais: Ost. Pitt tem idéias muito apropriadas sobre as demais finangas do pais. Esté de- terminado que 0 imposto de meta corea sobre os relgios portiteis seja coletada irimestratmente, & grandioso edigno, Confere av homem um at de importancia pa- Bar Sele pence e mete para sustentar a relégido, a propriedadee a andem social” 278 istema de es- Na verdade, o imposto era considerado loucura, criador de um s pionagem, ¢ um golpe contra a classe média." Houve uma greve dos consumi dores, Os proprietarios de reldgios de ouro fundiam as tampas ¢ tocavamenas por prata ou metal barato."* Os centras de comércio se viram mergulhades em crisee depresstio. Ao revogar a lei em margade 1798, Pitt disse tristemente que a arrecadagtio G'imposto teria ultrapassado os cdlculos originalmente feito mas nao fica claro se ele se referia A sua propria estimativa (200-mil libras) ou & do ministro do Tesouro (700 mil libras).” Ajnda continuamos sem saber (mas em boa companhia), Havia muitos relégios no pais na década de 1790: a énfase estava mudando do “luxo” para a “conveniéncia”; até os colonos podiam ter relégios de madeira que custavam menos de vinte xelins, Na verdade (como seria de esperar), ocorria uma difusao geral de rel6gios portateis ¢ nao portateis no exato momento em que a Revolu- gio Industrial requeria maior sineronizagdo do trabalho Embora comegassem a aparecer alguns reldgios muito baratos —c de qua~ lidade inferior —, os pregos dos relégios eficientes continuaram ainda por varias décadas fora do aleance do artesao.”” Mas no devemos deixar que preferéncias econdmicas normais nos desorientem. O pequeno instrumento que regulava os noves ritmos da vida industrial era ao mesmo tempo uma das mais urgentes den- tre as novas necessidades que o capitalismo industrial exigia para impulsionar o seu avango, Umrrelégionde era apenas dtil; conferia prestfgio ao seu dono,e um homem podia se dispor a fazer economia para comprar um. Havia varias fontes, varias oportunidades. Durante décadas, uma série de relégios bons mas baratos passou das mios do batedor de carteira para o receptador, a casa de penhores, a taverna." Até os trabalhadores, uma ou duas vezes na vida, podiam terum ganho inesperadoe gasti-lo comprando um reldgio: agratificagao da milfcia,*os rendi- mentos da colheita ou os saldrios anuais do criado.® Em algumas partes do pats, fundaram-se Clubes do Relégio — para comprasem prestagdescoletivas," Além disso, o reldgio era o bance do pobre, o investimento das poupangas: nos tempos dificeis, podia ser vendido ou posto no prego." “Este relégio aqui” dizia um tips- grafo cockney na década de 1820, “me custou apenas uma nota de cinco libras quando ocomprei, e j4o empenhei mais de vinte vezes, ao todo consegui mais de quarenta libras com ele. Eum anjo da guarda para um sujeito, ¢ um bom guarda [relégio] quando se est4 quebrado.”* Sempre que um grupo de trabalhadores entrava numa fase de melhoria do padrao de vida, aaquisi¢ao de relégios era umadasprimeiras mudangas notadas pelos observadores. Na famosa descrigio de Radcliffe sobre a idade de ouro dos teceldes manuais de Lancashire na década de 1790, os homens tinham “todos um relégio no bolso”,¢ toda casaera “bem equipadacom um relégio numacaixa 279 de mogno elegante ou refinada”. Em Manchester, Mesmo ponte atrain a atengdo de um repdrter: nt anos Mais tarde.o, Nenhum tibalhadorde Manchester ica sem rekigio ner um minuto a mais GUN Pader evitar, Wé-se, aqui ¢ ali, mas melhores casas, aqueles reldgias antiquados de mostrador metiticor corda para oito dias; mas oartigomais vomum éde lunge @ pequeni midquina holandesa, com seu pendula agitado balay aindo aberta ¢ can didamente diante de todo mundo.” ‘Trinta anos mais tase, « simbolo do préspero liderdo sindicato Lib-La "era 4 dupla corrente de oura de seu rel6gio: e por einglienta anos de servicio dives, plinala ao trabalho, o empregador exclarecido dava ao sen empregado uns tele. gio de ouro gra ‘ado, iv Vamos voltar do reldgio paraa tarefa, A alen¢ao a0 tempo no trabatho de- pende em grande parte da necessidade des ncronizacio do trabalho, Mas na me- dida em que a manufatura continuava ‘ser gerida em escala doméstica ou na Pequena oficina, sem subdivistio complexa dos processos, o grau de sineroniza- ao exigido era pequeno, a oriemacao pelas tarefas ainda prevalecia," 0 «i tema de wabalho em domieslio Iputiing-eut system] exigia muita busca transporte e espera de materiais. O mau tempo podia prejudicar nao sé a agri- cultura, 4 construgao e 0 transporte, mas também a tecclagem, pois as pegas Prontas tinhamde ser estendidas sobre a fama para secar. Quando examinamos cada tarefa mais detalhadamemte, ficamos surpresos com a multiplicidade de fas subsididrias que-o mesmo trabalhados ou grupo de familia devia realizar numa tinica choupana ou offcina, Mesmo em oficinas maiores, os homens As veaes continuavam a realizar tarefas distintas nus suas bancadas ou teares, e — exceto quando @ receio de desvio de mate! mpunha supervisdo mais Nigorosa — demonstravam alguma flexibilidade noir e vir, Dat temos a irregularidade caracterfstica dos padres de trabalho ames da introdugao da indtistria em grande escala movida a maquinas. Segundo as exigéncias gerais das turefas semanais ou quinzenais— a peca de. tecido, tantos pregos ou pares de sapatos —, o dia de trabalho podia ser prolongado ou re- duzido. Além disso, nos primeiras desenvolvimentos da manufaturae da mine- rago, ainda existiam muitas OcupagGes mistas; os mineiros de estanho da Cornualha também participavam da pesca da sardinha; os mineiros de chumbo Gun) Allanga politica entre 0 Partido Liberal ¢ 0 Partido Trabalhista, (N, R.) 280 do Norle cram igualmente pequenos proprietarios de terra; osartestios da vila se dedicuvam a varias tarefas na construgdo, transporte de carrogit, carpintaria, os trabalhadores domésticos deixavamo seu trabalho para ajudkar na colheita, o pe- queno fazendeiro/teceliio dos Peninos F.da natureza desse tipo de trabalho nao admitir cronogramas precisose re- presentativos, Mas alguns trechos dodidriode um tecetio agricultor metédlico em 1782-3 podem nos dar uma idéia da variedade das turefas, En ‘bro de 1782, ele ainda estava trabalhando na colheita ¢ na debulha, além de fazer seu trabalho de teceldio, Num dia chuvose, ele podia tecer 8,5 ou neve jardas; no dia 14 de ou- tubro, ele entregou a pega de tecido pronta, ¢ por isso tecet dia 23, ele “trabalhou fora de casa” até as trés horas, teceu duas horas antes do anoitecer, “remendou 0 casaco a noite”. No dia 24 de dezembro, “teci duas jardas antes das onze horas, Empilheio carvao, limpeio telhado ¢ as paredes da eozinbs ec adubei a terra até as dez horas da noite”. Além de trabulhar na colheita e na de- bulha, fazer manteiga, cavar vala e cuidar do jardim, temos as seguintes entradas I8de janeiro de 1783 —_Estive preparando @ estabulo de um bezerra e buscan- do as copas de trés drvores que eresciam na vereda € naquele dia foram derrubadas e vendidas paca John Blagbrough 21 de janeiro ‘Teei 2,75 jardas, pois, comoa vaca teve bezerro, exigia muitos cuidadas, (No-dia seguinte, ele caminhou até Halifax para comprar remédio para a vaca.) No dia 25 de janeiro, ele teceu duas jardas, caminhou até uma vila vizinha, rea- lizou “diversos trabalhos na roda do teare noquintal,e a noite escreveu umacar- ta”, Outras ocupagdes compreendiam vender mercadorias com um cavalo e uma carroca, colher cerejas, trabalhar na represa de um moinho, assistir Areunido de uma associagiio batista e a um enforcamento publico.” ssa irregularidade geral deve ser situada no Ambito do ciclo irregular da semana de trabalho (¢, na verdade, do ano de trabalho) que provocava tantas Jamentagdes por parte dos moralistas ¢ mercantilistas do século xvi, Um poe- ma publicado em 1639 nos dd uma yersdo satirica: Sabemos que a segunda-feire € trina do domingo: Aterga-feiratambem: Na quarta-feira temos de ir a igreja e recur: ‘Aquinta-feira é meio-feriado; Na sexta-feira é tarde demais para comegar a fiar; O sdbado é outra vezmeio-feriado.** (0) You know that Munday is Sundayes brothery/ Tuesday is such another,/ Wednesday you must go to Church and pray;/ Thursday is half-holiday} On Friday itis 100 late to begin to spin;/ The Saturday is half-holiday again, 261 Em 1681, John Houghton nos da a verso indignada: Quando os fabricantes de mathas ou de meias de seda conseguian um bom prego Belo scu trabalho, observava-se que raramente (rabalhavam nas segundas-feiras e fas tervas-leiras, mas passavain a maior parte de seu tempo na cervejaria ou no boliche [...J. Quanta aos teceldes. é comum vé-los bébados nas segundas-feiras, com dor de caboga nas tergas, ¢ comas ferramentas estragadas nas quarts. Quan. to aos sapateiras, cles préferem ser enforcados a esquecerem sao Crispim ha s gunda-feira |... € isso geralmemte se pralonga enquanta tem no bolso- uma moed: de um penny ou erédito no valor de um penny.” (0 pudrao de trabalho sempre alternaya momentos de atividadle intensa ede sidade quando os homens detinham o controle de sua vida produtiva. (O » persiste ainda hoje entre os aulénomos — artistas, eseritores, pequenos agricultores ¢ talvez até estudantes — e Propoe a questao de suber se ndo é um ritmo “natural” de trabalho humano.) N: egunda-feira ¢ na terga-feira, segun- o a tradi¢ao, o tear manual seguia © canto de Plea-ty of Time, Plen-ty of Time [Tempo de so-bra, Tempo de so-bra}: naquintae nasexta, A day lai, A day lat [Un dia atrasado, Uin dia atrasado|.A tentagaode dormir uma hora a mais de manhii esticava o trabalho até a noite, horas luminadas pelas velas.' Sao poucos os offeios que nao respeitam a Santa Segunda-Feira: sapateiros, alfaiates, mineiros de earvao, lipdgrafos, oleiros, tecelées, fabricantes de mathas. cuteleiros, todos os cockneys. Apesar do emprega plenode muitos proission: londrinos durante as Guerras Napole6nicas, uma testemunha recamava que “vemos a Santa Segunda-Feira (Jo religiosamente observada nesta grande em geral umbém seguida por uma Santa Terga-Feira”® Se dermos crédito a “The jovial cutlers”, uma cangao de Sheffield do final do século xviu, essa pritica ndo se dava sem tensdes domésticas: Quando numa boa Santa Segunea-Feira, Sentados é beira da fogo da forja, Contando a que se fez aa domingo, Com alegria foviel conspiramas, Loge escuto a porte da algapdo se erguer Na escada estd minha muther: “Ao diabo, Jack, vou bater na tua cara, Tie fevers uma vida de bébado irritante, Fleas aésentado em vez de trabathar, Com 0 cantare sabre o jaelho; Malitito, wae contigo é sarrateira. ew a trabathar para ti como uma eserava".® :) How upon a good Saim Mondayy Sitting by the smithy fire/ Telling what's been done ot Sunday./ And in cheerful mirth conspine,? Soon | hear the trap-dooe rise upJ On the ladder Stands my wifey “Damn thee, Jack, Vil dust they eyes up,/ Thou leads a plaguy drunken life Here thou sits instead of working Wi' thy pitcher on thy knees Curse thee, thou'd be always lurking. And | may slave myself for thee”, 282 ‘A mulher continua, falando “mais répido/ Do que minha broca em ritmo de sex- ta-feira”, para demonstrar a demanda efetiva do consumidar: “Ola sé 0 esparrtitho que fenle, Othe o meu par de sapatos. Vestido e said meio esfarrrapaddes Neuhum ponte inteira na metha da minke meia [J Para dar oaviso de uma greve geral: “Sabes que odeio diseussdes ¢ brigas Adas nde teacher nem sabde, new che: Ouse eneliveiter, Jack, cbaudemee barvit, Ow nunca mais vais darnir comigo.” * Jo observada quase universalmente em todos os lugares em que existiam inddstrias de pequena escala, domésticas e fo- rada fabrica. Essa tradigfo era geralmente encantrada nos pogos das minas, ¢ as vezes continuava na manufatura e na industria pesuda.“ Perpetuou-se na Inglaterca até 0 século xix —e, na verdade, até o século xx* — por complexas razes econémicas e sociais. Em alguns oficios, os préprios pequenos mestres aceitavam a instituigdo e usavam a segunda-feira para receber ou entregar en- comendas, Em Sheffield, onde os. cuteleiros tenazmente observaram o feriado durante séculos, ele se tornara “um habito e costume estahelecido” que até as usinas sidentirgicas observavam (1874): “Em alguns casos, essa ociosidade na segunda-leira ¢ imposta pelo fato de que a segunda-feira é 0 dia reservado para os consertos das maquinas nas grandes sidentirgicas”.'* Onde 0 costume estava profundamente estabelecido, a segunda-feira era o dia reservado para fazer compras ¢ para os negécios pessoais. Igualmente, como Duveau sugere a res- peito dos trabalhadores franceses, “le dimanche est le jour de ta famille, le lun- di celui de l'amitié” [o domingo € o dia da familia, a segunda-feira, o da amizade]; e 4 medida que avangava o século xix, a celebragiio desse dia era uma espécie de privilégio de status do arteséo mais bem pago."” Eno relate de “O velho oleiro”, publicado ainda em 1903, que temos algu- mas das observagées mais perspicazes sobre os ritmas irregulares de trabalho que continuavam a existir nas olarias mais antigas até a metade do século, Os oleiros (nas décadas de 1830 e 1840) “tinham um respeito devoto pela Santa Se- gunda-Feira”, Embora prevalecesse o costume do contrato anual, a remune- A Santa Segunda-Feira parece ters ‘(xt) "See thee, look what stays I've gotten,/ See thee, what a pair of shoes; Gown and pet ticoal half rotten’ Ne*era whole stitch in my hose [...]" (xi) “Thou knows I hate to broil and quarrel, But I've neither saap nor tea: Od burn thee, Jack. forsake thy barrel Or nevermore thou'st lie wi? me.” 283 facao semanal era pelo nimero te pegas, ¢ as oleiros qualifi -ados empregavan Se crlangas ¢ tabalhavam, com pouea supervise, no seu prdprio ritmo, As crian Smulheres vinham trabalhar na segunda-feira e na terea-feiea, mas predomina tm sentimento de feriado” ¢ odia de trabalho era mais curto que © normal, pois os aleiros se ausentavam a maior parte do tempo, hebendo o que: tnham ganho na semana anterior, Entretanto, as criangas tinham de preparartra batho para o oleiro (porexemplo, as asas dos potes que ele iria moldar), e todas Softiam coma jornidaexcepeionalmente longa (calorze eis vezes dezessvis ho- Tas por dia) que cumpriam de quarta-feira a sabado: Penso desde entdo que, se nao losse 0 alfvio no comego da semana com a ajuda das mulheres e dos meni. os na trabalho da alaria,o estargo mortal dos ditimos quatro dias no poderia ser mantido”. “O velho oleira”, um ptegador metodista leigo de visto liberal. radical, via esses costumes (que ele deplorava) coma conseqiiéncia da falta de mecanizacio d olarias; e insistia que a mesma indisciplina no trabalho didrio influenciava toda a vida eas organizagoes da c (rabalhadora dos Potteries. “As maquinas significam disciptina nas operacdes industriais*" Seuma maquina a vapor comegasse a funcionar toulas as segundas-feiras de manha As Seis horas, os trabalhadores se disciplinariam com o habito de trabalho regular & continu [..}. Também observei que as miquinas parecem inculear o hdbito do calculo, Os trabalhadores dos Potteries eram lamentavelmente-deficientes a esse Tespeito; vivian comocriangas, sem nenhuma previsdo calculada de seu trabathe ou de seu resultado, Em alguns dos condados mais ao norte, esse hébito de calcu- laro trabalho os tormou agudamente sagazes de muitas manciras bem visiveis, Suas grandes soviedades cooperativas nunca teriam surgido, nem se desenvolvido de modo to imenso ¢ Frutifero, se ndo Fosse 0 cdleuloinduzido pelo uso da maquina. Uma maquina em operagio durante tantas horas na semana produziatantos metros de fio ou teeido, Os minutos eram experienciados como fatores influentes messes resultados, enquanto nos Potteries as horas, ou As vezes até os dias, mal eram *xperienciades como fatores influemtes. Havia sempre as manhas ¢ as notes dos fas da semana, com as quais sempre se contava para compensar a perda ido i negligéncia do inicio da semana," ¢ ritmo irregular é comumente associado com bebedeiras no fim de s Santa Segunda-Feiraé oalvo em mui tos folhetos vitorianos sobre atem- Mas até o mais sébrio e disciplinado dos artesaos pedia sentir a necessidade dessas alternancias de ritmo, “Nao sei como descrever: auversdoe © ROJO que as vezes toma conta do trabalhador, incapacitando-o completamente 4 realizar as tarefas habituais durante um perfodo mais longo ou mais curto”, escreveu Francis Place em 1829; acrescentou uma nota de rodapé com seu testemunho pessoal: 284 Por quase seis anos, traballiando, quando tinha alguma coisa a fazer, de dove ade zoito horas por dia; quando, pela causa acima mencionada, jd nfio conseguia con- jinvar irabalhando, costumava fugir o mais rapid possivel para Highgate, Hampstead, Muswell-hill ou Norwood, e depois “retornava a meu vamita” [...].1s- suaconteee com todos os trabalhadores que conhega;< quanto mais sem exper gaocaso deum homem, mais freqilentes serio essesavessas ede maiorduragio Por fim, podemos notar que a irregularidade do dia e da semana de taba- Iho estava estruturada, até as primeiras décadas do séeulo xix, ne Ambito da irregularidade mais abrangente do ano de trabalho, pontuado pelos seus feriados ¢ feiras tradicionais, Ainda assim, apesar do triunfo do siibado sobre os antigos dias dos santos no século Xvi." 0 povo se agarrava tenazmente as suas Festas ¢ ceriménias consagradas pelo costume na paréquia, e até pode thes ter dado maior vigor e dimensio.”! ALé que ponto esse argumento pode ser estendido da manufatu balhadores rurais? Diante das circunstancias, parece haver trabalho didirio ¢ manalimplacivel nessa drea: o Lrabalhadorrural nao tinha Santa Segunda-Feira. "Mas ainda falta uma discriminagao detalhada das diferentes situagGes de traba- tho. A aldeia do século x Vit (2 XIX) tinha seus proprios artesaos independentes, bem como muitos que eram empregados para fazer tarefus irregulares.” Além disso.na drea rural sem cercamentos, oargumento classico contra o campo aber- to eas terras comunais cra a sua ciéncia ¢ desperdicio de tempo, porque o pequeno agricultor ou colono: 1 aOs Ura sm trabalho, eles respondem quic tém de ir eidar das suas ove- ou, talver, dizem que tém de mandar ferrar artida de [a] se Ihes ofer thas, cortar tojo, tirar @ vaca do eurra ‘0 cavalo, para que ele possa levé-los a uma corrida de cavalos ou a uma criquete, [Arbuthnot, 1773] ‘Av perambular alris le seu gado, ele adguire um hébito de indaténeia, Um quarto do dia, a metade do dia e as vezes as dias inteiros sdo imperceptivelmente perdi- dos, © trabalho didrio se toma desagradave! [...]. [Relat6rio sobre Somerset, 1795] Quando o trabalhador se tana dono de mais terras do que ele e a sua familia con- seguem cultivar & tarde |...] © fazendeiro ja nfio pode depender dele para trabalho constante [...]. [Commercial & Agricultural Magazine, 1800)" Ajisso devemos acrescentar as queixas freqiientes dos adeptos do aprimoramen- to agricola a respeito do tempo desperdigado, tanto nas feiras sazonais como. {antes da introducao do armazém da aldeia) nos dias de mercado semanais.”" Ocriado da fazenda, ou o trabalhador rural regular e remunerado, que tra- balhava, impecavelmente, todas as horas regulamentares ou até mais, que no tinha direitos ou terra comuns, c que (se ndio morasse nacasa do patra) vivia nu- 285 ma choupana a ela vinculado, estava sem diivida sujeito a uma intensa disciplina de trabalho, tanto no século xwit como no xix. Markham descreveu espirituosa- mente o dia de um lavrador (que morava na casa do patrao) em 1636: "|...| 0 laveador deve se levantar antes das quatro horas da mudrugada, ¢ depais de dar gragas « Deus pelo seu déscanso e orar pelo sucesso de seu trabalho, deve entrar no estdbulo [...]". Depois.de linipar o estibulo, tratar dos cavalos, alimenté-los. ¢ preparar os scus apetrechos, ele talvez tomasse a café da manhd (As seis ou seis ¢meia da manhi) ¢ devia arar até as duas ou trés horas da tarde. quando tirava walos ete, até as seis e meiadatarde, meia hora para oalmoge; devia cuidardosea quando entao podia entrar para o jantar’ [...}e depois do jantar, cle devia consertar os sapatos & beira do Fogo, tanto os como os da familia, bater 0 eainhamo ou a linho, colher e esmagur mags silvesties puna fazereiadraou sueo de frutas, ou entao moer a malte ne moedar maawal, colher juneo para fazer velus, ou realizar alguma tarefa doméstien dentro de casa até haterem as oito horas [...]." evs, into ele devia mais uma vez cwidar de seu gado e (“dando gragus a Deus pelos heneficios recebidos naquele dia”) podia ir dormir, Mesmo assim, temos dirvite a demonstrar um certo ceticismo, Ha dificul- dades 6bvias na natureza da ocupacdo. Arar nao é uma tarefa feita o ang inteiro. As horas e as tarefas devem flutuar cam o tempo. Os cavalos (se nao os homens) devem deseansar, Ha dificuldade de supervisdo: os relatos de Robert Loder in- dicam que os criados (quando fora da vista dos patrées) nem sempre estawvam de joethes agradecendo a Deus pelos seus beneficios: “os homens trabalharn quan- do lhesapraz,e por isso podem vadiar”.“O préprio fazendeiro devia fazer horas extras se quisesse manter todos os seus trabalhadores sempre ocupados.” E o criado da fazenda podia reivindicaro seu direite anual de partir seo trabalho nao Ihe agradasse. Assim, tanto os cercamentos como odesenvolvimento agricola se preocu- pavam, em certo sentido, com a administragio eficiemte do tempo da forga de trabalho, Os cercamentos ¢ 0 excedente cada vez maior de maa-de-obra no final do século Xvi arrochavam a vida daqueles que tinham um emprego regular. Eles se viam diante-da seguinte alternativa; emprego parcial e assisténciaaes po- bres, ou Submissdo a uma disciplina de trabalho mais exigente. Nao é uma questao de técnicas novas, mas de uma percepgao mais agugada dos empre- gadores capitalistas empreendedores quanto ao uso parcimonioso do tempo. Is- (Ql) fo] and after supper, hee Shall either bby the: fire sick mend shoes both for himself andl their Family, of beat and knock Hemp or Flax, or picke and stamp Apples or Crabs, for Cyder or Verdjuyce, or else grind mak on the quernes, pick candle rushes. or doe some Husbandly office within doors tll it be full eight a clock 286 so se revela no debate entre os defensores da mao-de-obra remunerada com em- prego regular e os defensores do “trabalho por empreitada” (isto é, trabalhado- res empregados para tarefas especificas ¢ pages pelo trabalho executado), Na década de 1790, Sir Mordaunt Martin desaprovou o recurso ao-trabalho porem- preitada que as pessoas aprovam, para nao ter otrabalho de vigiargs seus empregadas: o re- stultado € que o trabalho & malfeilo, os trabalhadores se vangloriam ma cerveja do que cles podem gastar numa “mijada contra a parede”, eriando descontenta mento entre os homens com remuneragoes moderadas. “Um fazendeiro” se ope a essa visdo como argumento de que 0 trabalho porem- preitada eo trabalho remunerado regular podiam ser judiciosamente misturadas: Dois trabalhadores brando dois xelins ou meia earna por acre; ma doisde meus criados domésticos; sei que passocontarcom a fato de que seus com. panheiras os fardo acompanharo ritmo de trabalho; € assim cu ganho [,..| de meus criados domésticos ax mesmas horas adicionais de trabalho que meus criaidos eon- tratados voluntariamente the dedicam,” se comprame a grama de um pedaiga de terra, eo ndo ao campo, com as suas Foices, No século xix, o debate foi em grande parte decidide a favor do trabalho remu- nerado semanalmente, suplementado pelo trabalho por tarefas quando havie ne- Jade. O dia do trabalhador de Wiltshire, descrito por Richard Jefferies na década de 1830, néo era menos longo do que 0 deserito por Markham, Tal por opor resisténcia aesse labutar implacavel, esse trabalhador se distinguia pe- lo “caminhar desajeitado” c pela “Ientidao mortal que parece impregnar tudo o que ele faz" O trabalho mais arduo e prolongado de todos era o da mulher do traba- se trabalho — especialmente o cuidado dos areas, Outra parte se dava nos campos, de Ihador na economia rural, Parte des bebés — era o mais orientado pelas onde ela retornava para novas tarefas domés numa réplica inteligente a Stephen Duck: as, Come Mary Collier reclamou (..] equanda chegamos em casa, Aide nds! vemos que nosso trabalhe mal comegaus Tantas coisas exigem a nossa atengdo, Tivéssemos dez maos, nds ax wsariames todas. Depois de por as ertangas na cama, conto maior carinho Preparames tudo paraa volta dos homens ao lar: Eles jantam e vdo para a cama seme demora, Edescansam bematé o dia seguinte; Enquanta nds, ail sd podemos ter um pouco de sono Porque os fithos teimexos choram e gritam (] 287 Em toda trabatho (nds) temos nossa devide parte: Edesde o tempo em que acotheite se inicta Ate 0 tiga ser cortado ¢ armazenade, Nossa labuteé todos o8 dius tte extreme Que quase nunce hé tempo para sonhar." Esse ritmo 86 era tolerivel porque parte do tabilho, com as criangas ¢ em casa, se revelava necessirio ¢ inevitével, ¢ ndo uma imposigiio externa, Isso continua aiser verdade até os dias de hoje, ¢, apesar do tempa da escola e do tempoda tele- isdo, @ ritmo do trabalho feminino em casa nae se afina totalmente com a io do reldgio. A mae de criangas pequenas tem wma percepedo imperfe tado tempo e segue outros ritmes humanos. Ela ainda nfo abandonou de todo as convengées da sociedade “pré-industrial” v Coloquei “pré-industrial™ entre aspas: e por uma razio. E verdade que a transi¢ao para a sociedade industrial desenvolvida requer uma anilise tanto s ciolégica como econémica. Conceitoscomo “preferéncia de tempo” ec “curva da oferta de mao-de-obra de inclinagdo retrégrada” sao, muito freqiientemente, tentativas desajeitadas de encontrar termos econémicos para deserever proble- mas sociolégicos, Mas,da mesma forma, & suspeita a tentativa de fornecer mo- delos simples para um proceso tinico, supostamente neutro, tecnologicamente determinado, conhecido como “industrializagao” Nao se trata apenas de que as manufaturas altamente desenvolyidas ¢ tec- hicamente ativas (¢ o modo de vida porelas sustentado) na Franca ena Inglater- ra do século xvi sé possam ser deseritas como “pré-industriais” por meio de tortura semantica. (E tal descrigaio abrea porta para infindavei analogias falsas entre sociedades que se encontram em niveis econdmicos muito diferentes, ) Trata-se também de que nunca houve nenhum tipo isolado de “trans: gio”. A éne fase da transi¢ao recai sobre toda a cultura: a resisténcia 4 mudanga & sua aceitagio nascem de toda a cultura. Essa cultura expressa os sistemas de poder, as relagGes de propriedade, as instituigées religiosas etc, ¢ nio alentar para es- (xiv) [ou] when we Home are come/ Alast we find our Work but just bezuni? So many. ings for our Attendance call,’ Has we ten Hands, we could employ them alll’ Our Children ul to Bed, with greatest Care/ We all Things for your coming Home prepare:/ You sup, and go to Bed without delay/ And rest yourselves tll the ensuing day:/ While we, alas? but litle Sleep an have Because our froward Children cry and rave (..]4 In ev'ry Work (we) take our proper Sharey/ And (rom the Time that Harvest doth begin’ Until the Corn be: cut and earry’d in,/ Our Toil and Labour's daily so extreme,’ That we have hardly ever Time to dream, 288 ses fatores simplesmente produz uma visio pouco profunda dos fendmenos € torna a andlise trivial. Acima de tudo, a transigao nao é para o“industrialismo” four court, mas para o capitalismo industrial ou (no século XX) para sistemas alternativos cujas caracteristicas ainda sio indistintas. O que estamos exami- nando néste ponto no sig apenas mudangas na técniea de manufatura que exigem maior sincronizagao de wabatho ¢ niaior exatido nas rotings de wmpo em quatyrer sociedade, mas essas mudangas coma séo experienciadas na so- ciedade capitalista industria! nascente, Estamos preacupados simultaneamente com a percepgaio do tempo em seti condicinnamento tecnoldgico ¢ com a medigao do tempo como meio de exploragiio da mao-de-obra, He razdes para a transicfio tersido peculiarmente demorada e carregada de conflitos na Inglaterra, Entre as que so [reqilentemente observadas, podemos primeira Revolugdo Industrial ocorreu na Inglaterra, © nao havia Cadil- idertirgicas ou aparelhos de televisdo para servir de demonstragio do obj tivo da operagaia. Além disso, as preliminares da Revolugio Industrial foram tao Jongas que se desenvolvera, nos distritos manufatureiros no inicio de século Vil, uma cultura popular vigordsa ¢ reconhecida, que os propagandistas da dis- ciplina consideravam com afligio. Josiah Tucker, o dedo de Gloucester, declarou em 1745 que “as pessoas das classes inferiores” eram totalmente degeneradas. ns (pregava) consideravam “as pessoas comuns de nossas cidades y os miserdveis mais dissolutos e depraveros na face da Terra’; “Tanta brutalidade ¢ insoléncia, tanta libertinagem e extravagdncia, tanta ociosidade, falta de religifio, blasfémias ¢ pragas, tanto desprezo por tudo quanto & regra e autoridade [...|. Q nosso pove se embebedou com a taga da liberdade™.” Os ritmos irregulares do trabalho deseritos nasegao anterior nes ajudam_a compreender a severidade das doutrinas mercantilistas quanto a necessidade de manter os saldrios baixos para prevenir o dcio, e apenas na segunda metade do século xvi os incentivos salariais “normais” do capitalismo parecem ter comegado a se tornar amplamente efetivos."’ Os confrontos a respeito da disc! plina jé foram examinados por outros estusliosos,"*A minha intengao é abordar mais particularmente vérias quest&es que dizem respeito a diseiplina de traba- Iho. A primeira é encontrada no extraardindrio Law book [Livro de leis] da Siderdrgica Crowley. No proprio nascimento da unidade manufatureira de arande escala, o velho autocrata Crowley achava necessério projetar tedo um COdigo civil e penal, que chegava a mais de 100 mil palavras, para governar regular a sua forca de trabalho rebelde. Os predimbulos as Normas 40 (sobre 0 diretor da fabrica) e 103 (sobre © supervisor) tocam na nota predominante da fiscalizagiio moralmente justa, Da Norma 40: ‘Tenho sido horrivelmente enganado, com a conivéncia dos Funciondries do es- critdrio, por varias pessoas que Lrabalham por dia, ¢ tenho pago par muito ina 289 tempo de irabalho do que em sa consciéncia devia pagar, etal éa vileza ¢ a traicin de varios empregados do eseritd jo que eles ocultam a preguicae a negligéncia dos gue so pags per dia | Eda Norma 103 Alguns (Gm alegado.uma espévie de direito a ociosigade. pensando que pela sua presteza ¢ capacidade lazent 0 suficiente em menos tempo do que os outros. Ou tras tém sicla bastante tolos a panto de pensar que a simples presenca po local de vabalho sem nada thzer jé é suficiente [| Gutros ainda sao to desaverg que se orgulharn eke sua vileza e repravam a diligencia dos demas [..] pohadors: ‘Coma finalidade de detectara preguica ea vilania, bem como recompensar os jus tose diligentes, achel conveniente eriar um registro de tempo feito por um super visor; assim determino, ¢ fica pelo presente determinado, que dus cinea ax oite horas edas s ze horas, das quais se Gira 1.5 para o café da manhil, 0 almoge ete. Havers portanto treze horas ¢ um servico semi-rewgttar |... as dex. horas so qui vigo deve ser caleulado “depois dedescontadas todas as idus as tavernas, vervejarias, cafés, o tempo tirado para o café da manha, almogo, brineadeira Sonecas, fumo, cantorias, leitura de noticias, brigas, lutas, cisputas ow qualquer coisa alheia ao meu negécio, ¢ outra forma qualquer de vadiagem’ Osupervisore o diretorda fabrica tinham ordens para manter uma folha de controle do tempo de cada diarists, com registros anotados com precisiio de mi- utos, informando “Entrada” ¢ “Saida", Na norma do supervisor, a Instrugan 31 (uma adigao posterior) deckara: Considerandoas informagées que tenho recebide de que varios empregados do es- critdrio sao tdo injustos a panto de calcularo tempo pelos rekégios que andam mais rapido, o sino tocando antes da hora do fim do expediente, e pelos relégios que an- ‘dam mais devagar.o sino tecanda depois da horado infcio do expedienie, ¢ que es- 8e¢ dois traidores Fowell ¢ Skellerne tém conscientemente permitidotal coisa: fica determinade que a esse respeito nenhuma pessoa deve ealcular @ tempo por ne- nhum outro relégio de parede, sino, portétil au relégio de sol que ndlo seja 0 doste- pervisor, o qual sé.leve ser alterado pelo guarda do reldgio [...] Odiretor da fabrics tinhaordens para mantero relégio de pulso “trancado asete. chaves a fim de impedir que outra pessoa o alterasse". Os seus deveres eram tam- bém definidos na Instrugio ‘Toda manba, As cinco horas, odiretor deve tocar o sino para o inicio do trabalho, as ‘ite horas para o café da manha, depois de meia hora para o retorno ao. trabalho, ao meio-dia para o almogo, a uma hora para o trabalho e as ito para o fim do expe diente, quando tudo deve ser trancado. 290 O seu livro do registro do tempo devia ser entregue todas as tergas-feiras coma seguinte declaragao: tro do tempo é feito sem favorecimento, nem simpatia, mé vontade ow 6dio, ¢ realmente acredito que as pessoas acima slheire John Crowley as horas aci- iste reg! mencionadas trabalharam no servigo do cave ma debitadas™ Nesse ponto, jé em 1700, estamos entrande na paisagem familiar de capi- talismo industrial disciptinade, coma folha de controle do tempo. o controlador do tempo, os delatores ¢ as multas. Uns setenta anos mais tarde, a mesma disei- pling deveria ser imposta nas algodoarias primitivas (embora as proprias maquinas fossem um poderose complemento ae controlador do tempa), Sem a ajuda das maquinas para regular o ritmo de trabalho nas olarias, esse disci- plinador supostamente formidavel, Josiah Wedgwood, ficava reduzido a tentar impor a disciplina aos oleiros'em termos surpreendentemente ineficientes. Os deveres do secretirio da faibrica eran: Set o primeiro-a estar na fdbrica de manhi e acomodar as pessoas em suas ativi- daces fs medida que’chegam para o trabalho — estimular aqueles que chegam re~ gularmente na hora, dando-thes a entender que sua regularidade é devidamente strada,e distinguindo-os, com repetidossinais de aprovacao, do gripe menos ordeiro dos trabalhadores, por meio de presentes ou outras distingdes apropriadas a sua faixa ctariaete, Aqueles que chegam mais tarde do que a hora determinada devem ser notificados. ese depois de fepetidos sinais de desaprovacao eles nlio chegam na hora devida, deve-se fazer um registro do tempo que deixaram de trabalhar, ¢ corlar a quantia cortespondente de seus salirios na hora do pagamento, se forem assalariados,e, se forem pagos pelo mimera de pegs feitas, devem ser mandados de volta, depois de freqdentes avisos, na hora da primeira refeigio." Esses regulamentos tornaram-se depois um tanto mais rigorosos: “Qualquer balhador que forgar a entrada pelo cubiculo do porteire depois da hora permit da pelo mestre paga uma multa de 2/-d"." McKendrick mostrou como Wedgwood lutou com o problema da fabrica Etruria ¢ introduziu o primeiro sis- tema registrado de reldgio de ponto.* Mas assim que a presenga forte do préprio Josiah desaparecia de vista, os incorrigiveis oleiros pareciam voltara muitos de seus antigos habits. Edemasiado facil, entretanto, veresse problema apenas como uma questo de disciplina na fbrica ou na oficina, e podemos examinar rapidamente a tenta- tiva de se impor 0 “uso-econémico-do-tempo” nos distritos manufatureiros domésticos, bem como o choque dessas medidas com a vida social e doméstica. Quase tudo o que os mestres gueriam ver imposto pode ser encontrado nos I mites de um tinico folheto, Friendly advice to the poor (Conselho amigavel dos 297 Pobres], do rev, J. Clayton, “escrito ¢ publicado a pedido dos antigos ¢ atuais funciondrios da cidade de Manchester em 1755. "Se 0 pregaicaso exconde as maos no colo. em veede aplied las © trabalho; se ele gasta oseu tempo em pas- Seios, prejudica a sua constituigdo pela preguiga, e entorpece 0 seu espitito pela indoléncia |_..J", endo ele s6 pode esperar a pobreza como recompensa. O tra- balhador:nao deve flanar na praca domercado, nem perder tempo fazendocom- prs. Clayton reclama que “as igrejas ¢ as ruas [esto] apinhadas de intmeros spectadores” nos cusamentos ¢ funcrais, “os quais apesar da misétia de sua condigio faminta |...] nao tém escripulos em desperdigar as melhores hors do dia $6 para admiraro espeticulo [...". A mesa do chi é “esse verzonhoso devo- rador de tempo e dinheiro”. Julgzamento que também se aplica is festas da Pardquia, aos feriadas ¢ as festas anuais das sociedades de amigos. E também “esse habito preguigoso de passar a manha na cama”: “A necessidade de levan- lar cede Forgurie o pobre air para a cama cedo; e com isso impediziaa perigo de folias 4 meia-noite”. O hébitode levantar cede também “introduziria uma regu- laridade rigarosa nas familias, uma ordem maravilhosa na sua economia”. ~ Ocatilogo é fumiliar, e poderia ser igualmente tirade de Baxter no século anterior, Se podemos confiar em Earty days [Primeiras tempos} de Bamford, Clayton nao conseguiu convencer muitostecelies a abandonaro seu antigo mo- do de vida. Ainda assim, 0 longo coro matinal dos moralistas é um preliidio ao alaque muito contundente aos costumes, esportes ¢ feriados populares, feito nos Gltimos anos do século xvii e nos primeiros unas do século xix, Havia outra instituigdo nao industrial que podia ser usada para inculear 0 “uso-econdmico-do-tempo”’; a escola, Clayton reclamava que as ruas. de Man- chester viviam cheias de “criangas vadias esfarrapadas; que esto nio $6 des- perdigando o seu tempo, mas também aprendendo habitos de jogo” etc, Ele elogiava as escolas de caridade por ensinarem 0 trabalho, a frugalidade,aordem earegularidade: “os estudantes ali s4io obr igados a levantar cedo ¢ a observar as. horas com grande pontualidade”."" Ao advogar, em 1770, que as criangas pobres fossem enviadas com quatro anos aos asilos de pobres, onde seriam empregadas has manufaturas ¢ teriam duas horas de aulas por dia, William Temple foi explfcito sobre a influéneia socializadora do processo; Econsiderdvel a uilidade de estarem constantemente empregadas, dealgum modo, pelo menos durantecloze horas pordia, ganhando 0 seu sustento ou no; pois, poresse meio, esperamos que a nova geragae fique tao acostumada camo trabalho constante que ele acabe por se revelar uma ocupagiio agradiivel e divertida para eles (J. Em 1772, Powell também via a educagao como um treinamento para adquitir 0 “hdbito do trabalho”; quando a crianga atingia os seis ou sete anos, devia estar “habituada, para nao dizer familiarizada, com o trabalho ea fadiga”." Escreven- do de Newcastle em 1786, o rev. William Turner recomendava as escolas de 292 ulo de ordeme regularidade”’,ecitava um fabricantede cAnhamo e linho de Gloucester que teria afirmade que as escolas haviam pro- duzido uma mudanga extraordindra am [...] mais tratdveis ¢ obe- dientes, ¢ menos briguentos € vingativos”.”” Exortagdes 4 pontualidade ¢ 8 regularidade esto inscritas nos regulamentos de todas as pré-escolas: “Toda vs- iudante deve estar na sala de aula aos domingos, &s nove horas da manhi ea uma ¢ meiada tattle, sendo-ela perderd o seu higar no domingo seguinte e ficard no fim da fila”, Uma vez dentro dos portoes da escola, a crianga entrava no nove uni- verso do tempodisciplinado, Nas escolas dominicais metodistas env York, os pro- fessores eram mullados por impontualidade. 4 primeira regra que o estudante devia aprender era: “Devo estar presente ni escola [...] alguns minutos antes das nowe e meta [, nr Raikes como “umespel “eles se lori Uma vez na escola, obedeciam a regras mili O supervisordevetocaro sinomais uma ver —quando, a um sinal de sua maa,toda escola deve levanta'de seus assentos;a um segundo sinal, as estudantes se viram; aum tetceiro, movem-se lentae silenciosamente para lugar indicado onde devem recilar suas ligdes — ele enti pronuncia a palavrd "Comecem’” [...]" A investida, vinda de tantas diregGes, contra os antigos hibitos de trabalho: do povo niio ficou certamente sem contestagdes. Na primeira etapa, encontrames: imples resisténcia.* Mas, na etapa seguinte, quando € imposta a nova disci- plina de trabatho, as trabalhadores comegam a lutar, ndo contra o tempo, mas so- breele. Asevidéncias nesse ponto nado saacompletamente claras, Mas nos oficios artesanais mais bem organizados, especialmente em Londres, nao ha divida de que as horas eram progressivamente reduaidas 4 medida que avangavam as asso- cingées. Lipson cita o caso dos alfaiates de Londres que tiveram suas horas re- duzidas em 1721, e mais uma vez em 1768; em ambas as ocasides, os intervalos no meio do dia para almogar e beber também foram reduzidos — o dia foi com- primido.**No final do séeulo xvii, hé alguma evidéncia de que alguns oficios fa- vorecidas tinham ganhe algo em toro de dez horas por dia, Essa situagio sé podia persistir em offcios excepcionais e num mercado de méo-de-obra favoravel. Uma referéncia num panfleta de 1827 ao “sistema inglés de trabalhar das seis da manha as seis da tarde” pode ser uma indicagiio mais con- fidvel da expectativa geral quanto As horas dosartesdos eartifices fora de Londres nadécada de 1820. Nos oficios despreziveis ¢ nos trabalhos fora da fabrica, as ho- ras (quando havia trabalho} estavam provavelmente seguindo tendéncia oposta. Era cxatamente naquelas atividades — as fabricas téxteis e as oficinas — em que se impunha rigorosamente a nova disciplina de tempo que a disputa so- bre o tempo se tornava mais intensa. No principio, os piores mestres tentavam expropriar os trabalhadores de todo conhecimento sobre o tempo. “Eu trabalha- va na fiibrica de sr. Braid”, declarou uma testemunha: 293 Ali trabalhavamos enquanto ainda podfamos enxergar no veriio, ¢ nilo saberia di- zer a que hora pardvamos de trabalbar. Ningudm a nan sero mestre eo filho do neste tink relGgio, e munca sabiamos que horaseram, Havia win homem quetil reldgio (...]. Poi-Ihe tirado © entregue a custédia do mestre, porque ele informara aos homens a hora de dia [.. Uma testemunha de Dundee dé um depoimento bastante semelhante: lade ni. HW havia horas reuwlares: 05 mestres e os gerentes Faziam conosco o que desejavam, Os relgios nas filtricas cram freqtientementeadi dos de manhdc atrasados.& noite; em vex de serem instrumentos para medi o tem- a, eram usados como disfarces para encobrir o engano ¢ a opressilo. Embara isso fase do conheeimento dos trabalhadores. todas tinham medo de falar, € 0 tras thador tinha medo de usar rel6gio, pois niio era incomum despeciirem aqueles que ousavam saber demais sobre a cigncia das horas.” [..) man fae Pequenos truques eram usados paradiminuirs horado almogo ¢ aumentar odia. “Todo industrial quer logo ser um cavalheiro”, disse uma testemunha pe- rante a Comissiio de Sadler: © cles desejam se apossar de tudo o que for possivel, assim o-sina toca para.a sada dos trabalhadores meio minuto depois da hora, c eles querem que todos entrem na Féboica dois minutos antes do tempo [,,,|, Seo relgio é como costumava ser, o pon- teira dos minutos é controlado pelo peso, de modo que, ao passar pelo ponta da gravidade, ele cai més minutos de uma s6 vez, o queihes concede apenas 27 minu- tos, em vex de trimta.!” Um cariaz, grevista de Todmorden, mais ou menos da mesmo perfodo, emprega palavras mais grosseiras; “se esse poreo suo, ‘oencarregada des mdquinas do velho Robertshaw’, nao cuidar da sua vidae nos deixarem paz, vamos $6 Ihe perguntar hd quanto tempo ele nfo recebe um copo de cerveja por tabalhar de? minutos fora do expediente”.”" A primeira geracaode trabalhadores nas fabricas aprendeu com seus mestres aimportinciado tempo; a segunda geracao formou 0s seus comités.em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jormada de dez. horas; a terceira geragao fez greves pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fora do cxpediente. Bles tinham aceito as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua ligdo, a de que tempo ¢ dinheiro,'"” Vi Vimos até agora um pouco das pressdes externas. que impuseram essa dis- Ciplina, Mas que dizer da internalizagio dessa disciplina? Até que ponto era im- 294 posta, até que ponto assumida? Devemos, talve2, virar 0 prablema ao contréria mais uma vez, ¢ situd-lo dentro da evolugao da élica purilana. Nao se pode alir- mar que haja algo radicalmente novo na pregagae da diligéncia ou na eritica moral da ociosidade, Mas hé talvez um novo tom de insisténcia, uma inflexdo mais firme, quando esses moralistas que ja tinkam aceito # nova disciplina para si mesmos passatam a impo-la aos (rabalhadores, Muito antes de o relégia portatil ter chegado ao alcance do artesao, Baxter ¢ seus colegas ofereciam a cada homem o seu préprio relégio moral interior." Assim Baxter,em seu Chris- 4 cristo], apresenta muitas variagdes sobre o tema de ‘empregar todo o tempo para o dever”. As imagens do tempo como dinheira sio fortemente acentuadas, pois Baxter parecia ter em mente uma qudiéncia de mercadores e comerciantes: “Lembrai-vos de que Redimiro ‘Tempo é lucrativo [...] no comércio ou em qualquer negéela: na administragae au qualqueratividade lucrativa, costumamos dizer, de um homem que ficou rico com oseu trabalho, que ele fez bomuso de seu tempo”,"“Oliver Heywood, em Yoretit's moniter [Guia da juventude] (1689), esta se dirigindo 4 mesma audién tian directory [€ RedimiroTempo Observai o tempo do comércio, atentai para vossos mercadlos: hd certas estagdes ¢ mosirardio Favordveis a que executeis as vossas atividades com Fa~ hei momentos pret specials, que cilidade e sucess isos, em que, S€ vossas agdes acontecem, clas podem acelerar vosso passe; estagdes de fazer ou receber o bem nde duram para sempre; a feira niio continua o ano todo |...) A retérica moral transita rapidamente entre dois polos. De um lado, apéstrofes a brevidade da vida mortal quando colocada ao lado da certeza do Jui- zo Final, Assim Meetness for Heaven [Pronto para o Parafso] de Heywood (1690); O tempo nao perdura, mas voa célere; porém, o que é eterno dele depends, Neste mundo, ganhamos ou perdemos a felicidade eterna, O grande peso da eternidace pende do pequeno e fragil fio da vida [,..]. Este € 0 nosso dia de trabalha, o nessa Tempo de mercado [...J. Oh, meus senhores, se dormirem agora, vio despertar inferno, onde nao ha redengaa. ‘Ou mais uma vez do Youth's monitor: o tempo “é uma mercadoria demasiado preciosa para ser subestimada [...]. Ba corrente de ouro da qual pende uma s6- lida eternidade; a perda de tempo ¢ intoleravel, porque irrecuperavel”.! Ou do Directory de Baxter: “Oh, onde esti a mente desses homens, ¢ de que metal sao feitos seus coragdes empedernidas, esses que podem vadiar e com brincadeiras desperdicar © tempo, esse pouco tempo, esse tinico tempo, que hes é dado para a salvagdo eterna de suas almas?".'" Por outro lado, temos as admoestagées mais rudes e mundanas sobre a ad- ministragéio do tempo. Assim Baxter, em The poor man's family book [O livro 295 de farmiicia do pobre}, aconselha: “Que 6 tempo de seu sono seja apenas o.que asaiide exige, pois a tempo preciosa niio deve ser desperdigado com preguiga desnecessar rapidamente”; “e faga as suas atividades com diligén- cia constante”."" Ambas as iradigdes se estenderam, por meio do Serious call {Vocagio| de Law, até John Wesley. O proprio nome de “metadistas” enfatiza essa administragado do tempo. Em Wesley, temos igualmente esses dois extremos — a estocada no nervo da mortalidade, a homilia pritica, Foi a Primeirate nao os terrores do foge do inferno) que emprestou as veces uma forga histérica.a seus serm@es e provocou em seus prosélitos uma repentina conscién- cia do pecado, Ele também continua as imagens de tempo-dinheiro, mas de for- mi menos explicita como tempo do mereador ou do mereado: Cuide para andar de forma circunspecta, diz. 0 apdstolo {...] redimindo 0 tempo: poupando tode o tempo posstvel para os melhores propdsitos; arrebatancdo tado momenta fuga das mios do pecade e de Sata, das mos da preguica, da indolén- cia, do prazer, dos negécios mundanos [...] Wesley, que nunca se poupou, ¢ até os oitenta anos se levantava todas os dias as quatro da madrugada (cle deu ordens para que os meninos de Kingswood School fizessem o mesmo}, publicou em 1786 uma brochura como seu sermao The du- ty and advantage of early rising |O dever e as vantagens de levantar cedo]: “Fi- cando de mothe |...] tanto tempo entre os lengéis quentes, a carne é como que escaldada, ¢ torna-se macia e flicida. Os nervos, nesse meio tempo, ficam bem debilitados™. Isso nos lembra a voz do vadio de Isaac Watts. Sempre que Watts olhava para a natureza, a “abelhinha diligente” ou a sol nascenda a “hora apro- priada”, ele lia a mesma licdo para o homem irregenerado."” Ao lado dos metodistas, osevangélicos adotaram o tema, Hannah More contribuiu com ver- sos imortais em seu “Early rising” | Acordar cedo]: Assassin calado, oh preguiga, Pare de aprisionar minha mente; E que en née perca outra bora Cantiga, oh sono perverso,*™ Em uma de suas brochuras, The nvo wealthy farmers [Os dois fazendeiros ri- cos], ela consegue introduzir as imagens de tempo-dinheiro no mercadode mao- de-obra: Quando mando meus trabalhadores entrarem sdbado & noite para pagé-los, lem- bro-me freqitentemente do grande dia da prestagao geral de contas, quando eu, vood e todes nds seremos convocados para 6 nosso grandiose ¢ terrivel ajuste de (xv) Theu silent murderer, Sloth, no mare/ My mind imprison’ keep; Nor Jet me waste another hour With thee, thou felon Sleep, 296 contas'..]. Quando pereebo que um de meus homens nao fez jus ao salirio que de- via receber, porque andau vadiando numa feira; que outro perdeu um dia por bebe- deiva [...] nao posso deixar de dizer para mim mesmo, chegou a noit noitede sibada, Nenhum arrependimento, nenhuma diligencia da parte desses po ‘bres homens podem agora compensar o mau trabalho de uma semana, Essa sema- na paassou para’ eternidade, chegou a Muito antes da época de Hannah More, entretanto, o tema da adminis tracio zelosa do tempo deixara de ser exclusivo das tradiges puritanas, wes: leyanas ou evangélicas. Foi Benjamin Franklin, que durante toda a vida alimentou um interesse téenico por relégios ¢ que comtava entre seus conheci- dos John Whitedurst, de Derby, 0 inventor do relégio “amomatico”™. quem deu ‘ao tema a sua expressio secular mais inequfvaca: 6 ouro do dia cunhado em horas, 2 unidade de tempo com real Como-0 nosso tempo reduzide a um padre aqueles que trabalham saber como empregar proveito em suas diferentes profissdes: c quem € prédigo com as suas horas esban- jana realidade dinheiro, Lembro-me de uma mather notivel, que linha uma nogio perfeita do valorintrinseco do tempo. Seu marido era sapateiro, excelente artesdo, mas nunca prestava ateng’io aos minutos que passavam, Em vao ela tentou ineul- carnele que tempo ¢ dinheiro, Ele era brincalhao demais para compreender a que cladizia,o que veloa sera causnde sua rufna, Na cervejaria, entre os companheiros de lazer, se alguém observava que o reldgio dera onze horas, ele dizia: Que signifi- ca isso para nds? Se ela mandava o menino avisd-lo que jd eram doze horas: Diga para ela nao se preocupar, nao pode ser mais que isso. Se ele avisava que batera uma hora: Que ela se console, pois ndo pode ser menos que isso." A lembranga provém diretamente de Londres (suspeita-se), onde Franklin tra balhoucomo tipégrafe nadécada.de 1720 — mas jamais seguindo oexemplode seus colegas de trabalho que observavam a Santa Segunda-Feira, ele nos asse- gura em sua Autobiography. Em certo sentido, é apropriado que o idedlogo que deu a Weber o texto central para ilustrara ética capitalista'"' nao viesse de Velho Mundo, mas do Novo — o mundo que devia inventar o reldgio de ponto, preparar o-caminho para oestudo detempo-e-movimento, ¢ atingiro seu apogeu com Henry Ford." Vit Por meio de tudo isso— pela divisio de trabalho, supervisdo do trabalho, multas, sinos ¢ relégios, incentivos em dinheiro, pregag6es e ensino, supressiio das feiras e dos esportes — formaram-se novos habitos de trabalho e impds-se uma nova diseiplina de tempo. A mudanga levou ds vezes varias geragGes para 297 se concretizar (como nos Potteries), sendo possivel duvidar até que ponto foi plenamente realizada: ritmos de wabalho irregulares foram perpetuados (e até institucionalizados) no século atual, especialmente em Londres € nos grandes portos."" Durante todo o séeulo xix, a propaganda do uso-econémice-do-tempa continuoua ser dirigida aos trabalhadores, a retorica tornando-se mais aviliada, as apdstrofes } eternidade tornanda-se mais gastas, as homilias mais mesqui- mhas e is, Quando se examinam os primeiros panfletos ¢ textos vitorianos dirigidos As massas, fica-se engasgado com a quantidade de material, Mas a elernidade se transformou nesses infinddveis relatos piedosos de leitos de mori- bundos (ou de pecadores atingidos por um raio), enquanta as homilias se fornaram pequenos fragmentos a Samuel Smiles sobre homens humildes que ti- veram sucesso porque se levantavam ceda e trabalhavam diligentemente. As classes ociosas comecaram a desedbrir'o“problema” (sabre o qual muito se dis- cute hoje em din) do lazer das massas. Depois de concluir seu trabalho, uma considerdvel quantidade de trabalhadores manuais (descobriu alarmado um moralista) fieava com vairias horas do dia para serem gastas quase camo se the aprouvesse, Ede que maneira [...] € esse tempo precioso empregade por aqueles que nao tém cultura? [...]N6s os vemos muitas vezes apenas matande essas porgdes de tempo, Durante uma hora, ou horas a fio [...] eles ficam sentados num banco, ou se deitam sobre a ribanceira ou 0 morro, [...] totalmente entregues a ociesidade ¢ ao torpar [...| ou retinem-scem grupos’ margem daestrada, prontes para descobrir motives de risos grosseiros em tudo 0 que passar; dando mostras de impertinéneia, falando palavroes e zombando de tudo, as custas dos passantes [...]." Sem dhivida, isso era pior queo bingo: uma nao-produtividade, combinada com impert Na sociedade capitalista madura, todo o tempo deve ser con- sumido, negociado, urilizado; é uma ofensa que u forga de trabalho meramente “passe 0 tempo" Mas até que ponto essa propaganda realmente teve sucesso? Até que pon- to temos o direito de falar de uma reestruturagao radical da natureza social do homem e de seus habitos de trabalho? Apresentei em outro trabalho algumas ravOes para supor que essa disciplina foi realmente internalizada, e que pedemos ver nas seitas metodistas do infcio do século x1x uma representagio figurativa da crise psfquica por ela causada.'"’ Assim como a nova percepgiia do tempo de- senvolvida pelos mereadores e pela gensry na Renascenga parece encontrar ex- 0 na consciéncia intensificada da mertalidade, assim também — mar—o fato de essa percepgao se estender até os trabalhadores du- rane a Revolugao Industrial ajuda a explicari(junto com o acaso ea alta morta- lidade da época) a énfase obsessiva na morté encontrada em todos os sermées & 298 == brochuras destinades ao consume da classe trabalhadora, Ou (de um panto de vista positivo) pode-se notar que, A medida que # Revolugia Industrial avanga, os incemivos salariais ¢ as campanhas de ¢xpansao do consumo — as recom- pensas palpaveis pelo consume produtivo do tempo e a prova de novas atitudes “protéticas” para como futuro’! — sao claramente eficientes. Por volta das dé- cadas de 1830 ¢ 1840, observava-se comumente que o trabathador industrial in- elés se distinguia de seu colega irlandés, nao s6 pela maior capacidade de balho, mas pela regularidade, pelo dispéndio metédico de energia, ¢ talver também pela repressiio, ndados divertimentos, mas da capacidade d gundo os antigos habitas desinibidos, Nao hé como quantifiear a percepgio de tempo de um trabathador, nem a de milhées de waballudores. Mas é possivel oferecer uma prova de tipo com- parativo. Pois 0 que os moralistas mercantilistas disseram sobre o Fato de os in gleses pobres do século xvni nao reagirem aos incentivos ¢ ds disciplinas ¢ freqiientemente repetido, por observadores e por tedricos do crescimento “ econdmico,a respeita dos povos das paises em desenvolvimentona epoca atual, Assim os pedes mexicanos nos primeiros anos deste século eram consideradas um “povo indolente e infantil”, O mineiro mexicano tinha o- costume de voltar’ sua vila para o plantio ¢ a colheita de cereais: celebrar ‘A ssua falta de iniciativa, sua ineapacidacle de poupar, suas auséncias pat muitos ferindos, sua dispasigao para trabalhar apenas trés ou quatro dias por se- mana se isso satisfizesse as suas necessidades, seu desejo insacidivel por bebidas alcodlicas — tudo era apontade como prova de uma inferioridade natural Ele nao respondia a incentivos diretos no pagamento do dia de trabalho, ¢ (co- mo o mineiro inglés de carvao ou estanho do século xvi) reagia melhor aos sis~ temas de empreitada ou subempreitada: Dado um contrato de trabalho c a seguranga de que receberd determinada quantia de dinheiro por cada tonelada de minério que minerar, ¢ @ certeza de que nao importa quanto tempo cle wai levar para fazer o trabatho, ou quantas vezes vai se sentar para comtemplar a vida, ele trabalhard com um vigor extraordinério."" Em generalizagées fundamentadas por outro estudo das condigdes mexicanas de trabalho, Wilbert Moore observa: “O trabalho € quase sempre ortentado para tarefas nas sociedades nao industriais [...]¢ [...] talvez. seja apropriado vincular os saldirios As tarefas, e nao diretamente ao tempo, nas areas de desenvelvimen- torecente”,'" Y O problema se repete sob intimeras formas na literatiira da “industrializa- cdo”, Parao engenheiro do crescimento econdmies, ele pode tomar a forma do absentcismo— como a companhia deve lidarcom o trabalhador impenitente na 299 plantagdo de Camardes que declara Jeito, dia apés dia, sem faltar nun “Como poderia um homem trabathar desse a? Ele nao morreria?”. Hlodos os costumes dav sustentado de esforge numa determinada jornada de carga Fisivae psicolagicamente mais pesada do. que na it africana contribuen para que um nivel elevade © batho se transforme mum ropa, Os compromises de tempo ne Oriente Médio ou na América Latina sao fre. giientemente truides bastante negligememente segundo os padroes europeuis: 0s novos trabalhadores indusiriais 56 se acostumam gradativamente a observar um ho iransporte ou a entrega de matcriais nem sempre presenca regular e um ritmo regular de (rabalho os hordtios dor io confidiveis [,.].!"" 0 problema pode tomar a forma de adaptar os Fitmos sazonais do campo, com seus festivais.¢ feriados religiosos, as necessidades da produgae industrial O ano de trabiilho da fibrica se adapta necessariamente As necessidades dos traba- thadores, em ver de ser um modelo ideal da ponto de vista da produgie mais eliciente, Virias tentativas dos gerentes no sentido de alterar 0 padrao de trabalho pao deram em nada. A Fibrica volta a um hordrio aceitiive! para o eantelano,!* Ou talvez adote a forma, como nos primeires anos dos cotonificios de Bom- baim, de manter uma forga de trabalho As custas de perpetuar métodos ineficientes de produgiio — hordrios flexiveis, intervalos e horas de ref irregulares etc. E muito comum que, nos paises onde ox vinculas da nova classe proletéria da fibrica com seus parentes (e tulvez com propriedades de terra ou dircitos a terra) nas vilas sio muito mais estreitos —e mantidos por muito mais tempo — do que na experiéncia inglesa, o problema parega ser o de disciplinar uma forga de trabalho que estd apenas parcial ¢ tempoririamente “comprometi- da” com 6 modo de vida industrial. io ubundantes & nos lembram, pelo métode do contrasie, até que ponto nos habituamos a diferentes disciplinas. Saciedades industriais maduras de todos © lipos 840 marcadas pela administragio do tempo e poruma clara demareagao-entre}o “trabalho” ¢ a “vida. Mas, depois de levarmas tao longe 0 exame do prob! Kem podemos nos permitir, 4 maneira do século xvi, um pouco de moraliza do sobre nds mesmos. O ponto em discussio nao é0 do “padrio de vida”. Se os te6ricos do erescimento querem de nds essa afitmacio, podemos aceitar que‘a cultura popular mais antiga era sob muitos aspectos ociosa, intelectualmente vazia, desprovida de espirito e, na verdade, terrivel- ‘mente pobre, Serf a diseiplina do tempo, nao terfamos us energias persistentes do homem industrial; ¢ adotando as formas do metodismo, do stalinismo ou do nacionalismo, essa disciplina chegaré ao mundo em desenvolvimento. / f 300 CO que precisa ser ditondo é que um modo de vida seja melhor do que oou- tro, mas que esse é um ponte de conflito de enorme aleance; que o regis hist6rico nao acusa simplesmente uma mudanga tecnoldgica neutrac inevitdvel, mas também a explor joe a resisténcia A exploragao, € que os valores resistem aser perdido bem como aser ganhos. A literatura tapidamente crescente da so- ciologia da industrializagdo 6 como uma paisagem que foi devastada por ano: de seca moral: é preciso viajar por dezenas de milhares de palavras crestadas pela abstracao a-histérica entre cada otisis de realidade humana. Muitos dos en- genheiros ocidentais do erescimento parecemtotalmente presungosos arespel to das dadivas de formagio de cardter que trazem nas maos para seus irmios atrasados. A “estruturagio de uma Forgade trabalho”, dizem Kerr ¢ Siegel: |. implica o estabelecimento de regras sobre o tempo de trabalhar ede mo tra balhar, sobre 0 método ¢ a importincia do pagamento. sobre o movimento de en: ida safda do trabalho ede uma posig#o para outta, Implica regras pertinentes & manutencdo da continuidade no proceso de trabalho | _]wtentativa de minimizar a revolta individual ow organizada, o foreermento de uma visio de mundo, de orientagdes ideoldgicas,de crengas [...J-" Wilbert Moore chegow até aredigir unt listade comprasdos valores difundidos e das orientagdes normativas de alta relevaneia para o objetivo do desenvolvi- mento social” — “as seguintes mudangas de atitu de € opinidie so ‘necessarias’ se quiscrmos atingir um répido desenvalvimento econdmico e social”: Impessoalidace: julgamento do mérite e do desempenho, eno cos antecedentes sociais ou de quatidades irrelevantes Fspocificidade de relagdes em termas de-contexto ede Himites de interac, Racionalidade e capacidade de resolver problemas. Pomtualidade. Reconhecimentada interdependénciaindividualmente limitada, mas sistematt emte conectada, Disciplina, deferéncia para com a autoridade legitima. Respeite pelos direitos de propriedade [...) Esses itens, junto'com “a realizagio pessoal e as aspiragoes a uma mobilidade social’, nfo Si, como nos assegura 0 professer Moore, “sugeridos como uma lista abrangente dos méritos do homem moderno [...]. 0 ‘homem integral’ tam- béin amard asua familia, cultuard o seu Deuse saberd expressar os scus dons ¢s- téticos. Mas ele manter4 cada uma dessas outras orientagdes ‘no seu devido jugar”. Nao deve causar-nos surpresa que esse ‘provisdo de orientagGes ideo- logicas”, fornecida pelos Baxters do século xx, tenha recebido boa acolhida na Pundagdo Ford. Que elas tenham aparecido tio freqtlentemente em publicagdes patrocinadas pela UNESCO, é mais dificil de explicar. 301 e € um problema que os poves do mundo em desenvolvimento deve enfrentar em sua vida e em seu crescimento. Espera-se que eles tomem cuidado com modelos convenientes ¢ manipuladores, que apresentam as massas traba- thadoras apenas come uma forga inerte de trabalho, E surge também nos paises industriais avangados a percepeaa de que esse deixou de serum problema situa~ do no passado, Pois estamosagora num ponto em que os sociGlogos passaram i discutir o “problema” do lazer, E uma parte do problema €: como o lazer se tornou um problema? O puritanismo, com seu casamento de conveniéncia com O capitalismo industrial, foi o agente que converteu as pessoas 4 novas avalia- gdes da tempo; que ensinou as criangas a valorizar cada hora luminosa desde os primeiros anos de vida; ¢ que saturou as mentes das pessoas com a equagio “tempo é dinheiro”."” Um tipo recorrente de revolta no <: pitalismo industrial ocidental, a rebeldia da boémia ou dos beatniks, assume fr eqii¢ntemente a for= ma de zombar da preméncia dos valores de tempo respeitdveis. E surge wna ‘questiio interessante: se o puritanismo era uma parte necessiria do ethas dotra- balho que deu ao mundo industrializado & capacidade de se libertar das econo- mias do passade afligidas pela pobreza, a avaliagao puritana de tempo comes: a se deteriorar quando se abrandam as pressdes da pobreza” Ji estd se deterio- rando? As pessoas vio comegar a perder aquela preméncia inquieta, aquele de- sejode consumir o tempo de forma util, que a maioria leva consigo assim como. usa tm reldgio no pulso’? Se vamos ter mais tempo de lazer no future automatizado, 0 problema nao € “como as pessoas vo conseguir conswmir todas essas unidades adicionais de tempo de lazer?”, mas “que capacidade para a experiéncia terdo as pessaas com esse tempo livre?”, Se mantemos uma avalii de tempo puritana, uma avalia- gio de mercadoria, a questio € como empregar esse tempo, ou como seré aproveitado pelas industrias de entretenimento. Mas se a notagao ttil do em- prego do tempo se torna menos compulsiva, as pessoas talvez tenham de reaprender algumas das artes de viver que foram perdidas na Revolugio Indu rial: como preencher os intersticios de seu dia com relagdes sociais € pessoa mais enriquecedoras e descompromissadas; como derrubar mais uma vez as rreiras entre o trabalho ea vida, Nasceria entiio uma nova dialética em que al- Sumas das antigas energias disciplinas migrariam para as nagGes em processo de\industrializagao recente, enquanto as antigas nages industrializadas procu- ran redescobrir modos de experiéncia esquecides antes do inicio da historia es- cerita: | Ls]0s nuer nao tém expressiio equivalente a "tempo" na nossa lingua, ¢ assim née |poclem, como nds, falar do tempo como se fosse algoreal, que passa, que pode ser 302 desperdigado, poupado c ussim por diante. Acho que jamais experienciam o mes- mmo sentimento de futar contra o tempo ou de ter que coordenaras atividades com a pussagem abstrata do tempo, porque seus pontos de referencia sio basicamente us proprias atividades, que tém em ger ears ver. Os aconlecimentos segue una ordem Kigica, mas nao sio controladas por umrsistema abstrato, no havendo pontos de referéneia auténomos a que as atividadestenham de se ajustar com pre- cisiio, Os nuer siio felizes.!”” Sem diivida, nenhuma cultura reaparece da mesma forma, 5 vao ter de satisfazer ao mesmo tempo as exigéneias de uma indistria automati- zada allamente sincronizada e de direas muito ampliadas de “tempo livre’, de- vem dealgum modocombinarnuma nova sintese clementos do velhoe do novo, rio que nao se baseie nas estagdes, nem no mercado, jades humanas. A pontualidade no horario de trabalho expres~ saria respeito pelos s. E passar 6 tempo & toa seria comportamento cul- mente aceito, Isso dificilmente encontra aprovagio entre aqueles que véem a histéria da “industrializacdo" —em termos aparentemente neutros, mas, natrealidade, pro- fundamente carregados de valores — como a histéria da crescente racionaliza~ gio.a servico do crescimento econdmico. O argumento épelo menos tio velho quanto a Revolugio Industrial. Dickens via o simbolo de Thomas Gradgrind (“sempre pronto para pesare medircada fardo humano e dizer exatamente o re- sultado obtido"”) no “relégio estatistico mortal” em seu observatorio, “que me~ iter de la ddia todo segundo com uma butida semelhante a uma pancada seca na tampa do caixio”, Mas. oracionalismo desenvolveu novas dimensdes socioldgicas desde a poca de Gradgrind. Usando a mesma imagem favorita do relojoeiro, Fol Werner Sombart quem substituiu o Deus do materialismo mecinico pelo em- presdrio: “Seo racionalismo moderne é semethante ao mecanismo de um relo- io, deve existir alguém para the dar corda”.”' As universidades do Ocidente estio hoje apinhadas de relojoviros académicos, ansiosos por patentear novas solugdes. Mas até agora poucos tém ido tao Jonge quanto Thomas Wedgwood, 0 Tilho de Josiah, que tracou um plano para introduzir 0 tempo ea disciplina de trabalho dafabrica Etruria nas proprias oficinas de formagio da consciéncia da nga: Meu objetivo € elevado — tenho procurado realizar um galpe de mestre que deve anteciparem um ou dais séculos @ progresso veloz do desenvolvimento humano. Quase todo passo anterior a esse progresso pode ser atribufdo a influéneia de per- sonalidades superiotes. Ora, é minha opinitioque, naeducagao das maiores dessas personalidlades, nfio mais que uma em dex horas tem sido posta # servigo da for- mmagio daguelas qualidades de que depende essa influéncia. Vamos supor que tivéssertos uma descrigao detalhada dos primeiros vinte anos de vida de alguns / 303 Bénios cxtraordingrios. Que caos de percepybes! (...] Quantas horas, dias, mes Prodigamente desperdigadosem ocupagdes improdutivas! Que abundtinciade im pressdes Formads pe ee de concepgdes frustradas fundidas numa massa deconfusiio [..] ais bem regulada dos dias de huje. née houve endo ha txlos os dias algumas horas gastas em fantasias, pensamentos deseover dose sem rum!" 0 plano de Wedgwood era projetar um novo sist ional, fedrico: Wordsworth foi proposto camo um po Sua resposta foi escrever “The prelud senvolvimento da consciéneia de um polémica contra; de educagao rigoraso. ssivel superintendente. "[O preltidio] — um ensaio sobre o de- peela que era, ao mesmo tempo, uma Os gatas, as pteardas de nossas faculdades iuendentes de nosso trabalha, homens vigilantes Eheibeis cam a usuca do tempo, Setbios. que na sua prescitincia canteolarian Todos os aeeses, & ao caminho- Que criaren nos confinarian, Como indquina: i {... peo Pois nao existe desenvolvimento econdmico senvolvimento ou mudanga de uma cultura, Cia social, comoo desenvolvimenta da ment Cltima anilise, plenejado, que nao seja ao mesmo tempo de- Eo desenvolvimento da conscién- ede um poeta, jamais pode ser,em (xvi) The Guides, men/ And ¢kilful in the dents, and ta the very ro: The Wardens of our faculties And Stewards of aur labour, watchful tusury of timey Sages, who in their prescience would eontoul/ All acei- ad! Which they have feshion'd would confine us down, Like engines (| } 304

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