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Simão era muito conhecido por todos os seus amigos como sendo um companheiro
impulsivo e errático. É bem verdade que, mais tarde, Jesus deu importância nova e
de maior significado ao apelido, conferido de uma maneira tão imediata.
Simão Pedro era um homem impulsivo, um otimista. Ele havia crescido dando a si
próprio a indulgência de ter sentimentos fortes; estava constantemente em
dificuldades, porque persistia em falar sem pensar. Essa espécie de descuido
também trazia complicações, umas após outras, para todos os seus amigos e
condiscípulos, tendo sido o motivo para o Mestre, muitas vezes, haver chamado
suavemente a sua atenção. A única razão pela qual Pedro não entrava em maiores
complicações, por falar sem pensar, era que, desde muito cedo, ele aprendera a
conversar sobre muitos dos seus planos e esquemas com o seu irmão, André, antes
de aventurar-se a fazer propostas em público.
Fazia, mais do que todos os apóstolos juntos, muitas perguntas e, embora a maioria
delas fosse de boa qualidade e pertinente, muitas eram impensadas e tolas. Pedro
não tinha uma mente profunda, mas conhecia muito bem a própria mente. Era, por
conseguinte, um homem de decisão súbita e de ação rápida. Enquanto os outros,
atónitos, faziam comentários de espanto ao verem Jesus na praia, Pedro pulava na
água e nadava até a praia para encontrar o Mestre.
O traço que Pedro mais admirava em Jesus era a sua ternura elevada. Pedro nunca
se cansava de contemplar a paciência de Jesus. E nunca se esqueceu da lição sobre
perdoar a quem erra, não apenas sete, mas setenta vezes e mais sete. Ele pensou
muito sobre essas impressões, sobre o caráter do Mestre, de sempre perdoar,
durante aqueles dias escuros e tristes que se seguiram imediatamente depois que
ele, irrefletida e involuntariamente, negou a Jesus no pátio do sumo sacerdote.
Ele era uma das combinações mais inexplicáveis de coragem e de covardia, como
jamais houve na Terra. A sua grande força de caráter era a lealdade, a amizade.
Pedro amava Jesus, real e verdadeiramente. E, ainda a despeito de ter uma força
altaneira de devoção, ele era instável e inconstante a ponto de permitir que uma
garota serviçal o provocasse e o levasse a negar o seu Senhor e Mestre. Pedro podia
resistir à perseguição e a qualquer outra forma de ataque direto, mas ele se
desamparava e afundava diante do ridículo. Era um soldado valente, quando
enfrentava um ataque frontal, mas era um covarde curvado de medo, quando
surpreendido por trás.
Pedro foi o primeiro dos apóstolos de Jesus a adiantar-se para defender o trabalho
de Filipe com os samaritanos e o de Paulo com os gentios. Entretanto, na Antioquia,
mais tarde, ele inverteu a sua posição quando afrontado pelos judaizantes que o
ridicularizavam, retirando-se temporariamente de entre os gentios, sem outro
resultado a não ser trazer sobre a sua cabeça a denúncia destemida de Paulo.
Pedro não era tanto um sonhador, mas ele não gostava de descer das nuvens do
êxtase e do entusiasmo dos seus deleites teatrais, para o mundo da realidade
simples do dia-a-dia.
Todavia, Pedro persistiu no erro de tentar convencer os judeus de que Jesus era,
afinal, real e verdadeiramente o Messias deles. Até o dia da sua morte, Simão Pedro
continuou a padecer mentalmente da confusão entre os conceitos de Jesus,
enquanto Messias judeu, de Cristo como o redentor do mundo e do Filho do
Homem, enquanto uma revelação de Deus, o Pai cheio de amor por toda a
humanidade.
A esposa de Pedro era uma mulher muito capacitada. Durante anos ela trabalhou
satisfatoriamente como membro do corpo feminino e, quando Pedro foi expulso de
Jerusalém, ela o acompanhou em todas as suas jornadas às igrejas, bem como em
todas as suas excursões missionárias. E, no dia em que o seu ilustre marido teve a
vida ceifada, ela foi atirada às bestas selvagens na arena de Roma.
E assim este homem, Pedro, um íntimo de Jesus, um dos que fizeram parte do
círculo interno do Mestre, partiu de Jerusalém, proclamando com poder e glória as
boas-novas do Reino, até que a plenitude da sua ministração tivesse sido alcançada;
e ele se considerou como um digno recebedor de altas honrarias quando os seus
captores informaram-lhe que ele deveria morrer como o seu Mestre tinha morrido
— na cruz. Dessa forma Simão Pedro foi crucificado em Roma.
a) Impulsivo – suas reações eram pusilânimes (Mc 1, 29; Mt 4, 20; 14, 28-29; 17, 1-
13);
b) Egoísta – Pedro demonstra seu egoísmo ao se preocupar consigo mesmo (Mt 16,
18-22).
c) Interesseiro – Sua preocupação era com sua satisfação pessoal (Mt 19, 27).
d) Soberbo – para Pedro, tudo o que ele fazia era “o melhor”(Mt 26, 33)
Pedro era um homem sincero. Desde os primeiros instantes em que esteve com
Jesus, Pedro mostrou-se uma pessoa transparente e verdadeira, como no momento
em que, maravilhado pelo milagre da pesca maravilhosa, prostrou-se aos pés do
Mestre e confessou-se pecador, pedindo-lhe que se afastasse dele.
Pedro era dinâmico. Dinamismo é qualidade daquele que é enérgico, ativo, bem
disposto, que tem iniciativa. Foi com essa disposição que Pedro decidiu sair do
barco e ir ao encontro de Jesus por sobre as águas, levantou-se contra os homens
que intentavam prender seu Mestre e cortou a orelha de um deles, e, no dia de
pentecostes, teve a iniciativa de sair do cenáculo e pregar o primeiro sermão,
arrebatando quase três mil almas.
Pedro era um homem volúvel. Uma pessoa volúvel é alguém instável, que gira
facilmente; numa linguagem bem prosaica, alguém que, quando não é oito, é
oitenta. No capítulo 16 do evangelho de Mateus, vemos uma sequência de fatos que
mostra bem essa realidade. O homem que ainda há pouco tinha dado lugar para
Deus usá-lo, agora dava lugar para o diabo (vv 16, 17, 22, 23). O mesmo homem que
arriscou a sua vida para salvar seu Mestre, arremetendo-se contra seus algozes, e
feito a promessa de que iria com Ele até a morte, mais tarde, nega-O diante de uma
criada (Jo 18, 10, 17, 25-27). Ou, o mesmo que inicialmente não aceitava que Jesus
lhe lavasse os pés, agora diz ao Mestre: “Senhor, [lava] não só meus pés, mas
também as mãos e a cabeça” ( Jo 13, 6-9). Que extremos!
Jesus conhecia muito bem essas e outras qualidades de Pedro, quando o chamou
para o ministério. O mestre via além das fraquezas daquele homem: visava as suas
potencialidades. Para citar o lugar comum, vale lembrar que Deus não chama
capacitados, mas capacita os chamados. A ousadia, impulsividade e dinamismo de
Pedro seriam muito úteis quando a serviço de Deus (At 1, 13.15; 2, 4). Antes disso,
todavia, Pedro passaria por uma experiência que foi decisiva para uma
transformação profunda no seu caráter.
O galo começa a cantar. Imediatamente Pedro lembra o que Jesus havia dito, e qual
não foi sua dor quando, naquele mesmo momento, Cristo o olha de forma
penetrante. Só lhe resta chorar, chorar amargamente. Era a tristeza segundo Deus,
que opera o arrependimento para a salvação (2 Co 7, 10). Ali Pedro é despido de
todo sentimento de orgulho, prepotência e superioridade que o caracterizou nos
três anos de discipulado.
Procurado por Jesus. Os dias que se seguiram à morte de Cristo foram sombrios
para Pedro. Ele ainda podia ouvir o cantar do galo e ver o olhar penetrante de
Jesus. Os pensamentos que campeavam sua cabeça eram de desilusão, frustração e
pesar.
Negar seu Mestre, não, aquilo seria irreparável. De repente, as mulheres lhe trazem
a notícia de que Jesus havia ressuscitado e mandara um recado para ele: “Mas ide,
dizei a seus discípulos [de Jesus] E A PEDRO que ele vai adiante de vós para a
Galileia; ali o vereis como ele disse” (Mc 16.7). Ali começava a restauração de Pedro.
Mais tarde, Jesus lhe aparece, ressurreto, em circunstâncias desconhecidas (Lc
24.34).
Foi no mar de Tiberíades que se deu o último estágio da restauração. João conta
que, mesmo depois de todas as experiências que tivera com o Senhor, Pedro resolve
voltar à pesca (cap 21). Alguns dias se haviam passado desde que Jesus aparecera
pela segunda vez aos discípulos no Cenáculo – naquela ocasião, Ele lançou em rosto
a incredulidade de Tomé (Jo 20.27).
Junto com Tomé, Natanael, Tiago e João, Pedro tem uma ideia que revela mais uma
vez a inconstância de seu caráter. Ele diz: “Vou Pescar”. Naquela noite, nada
apanharam. De manhã, Jesus aparece na praia, mas não é, a princípio, reconhecido
por eles.
Foi João quem primeiro percebeu que era Jesus e abriu os olhos de Pedro: “É o
Senhor” (v7). Quando Simão Pedro reconheceu Jesus, cingiu-se (estava nu) e
lançou-se no mar. Na praia, depois de jantarem, Jesus se dirige a Pedro com a
seguinte Pergunta: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que a estes?” “Sim,
Senhor; tu sabes que eu te amo”, respondeu Simão. “Apascenta as minhas ovelhas”,
continuou Jesus. Simão seria questionado mais duas vezes com a mesma pergunta.
Pela terceira vez, ele responde, agora entristecido, “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes
que te amo”. “Apascenta as minhas ovelhas”, Jesus lhe pede pela terceira vez.
1. Um homem de ação
4. Um poderoso missionário