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Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 79(3) :303-308, jul./set. 1984 CICLO BIOLOGICO DE RHODNIUS PALLESCENS BARBER, 1932 (HEMIPTERA, REDUVIIDAE, TRIATOMINAE) EM LABORATORIO JOSE JURBERG & ELIZABETH FERREIRA RANGEL Estudamos 0 ciclo biolégico de R. pallescens em diferentes condicdes de temperatura, umidade, luminosidade e fonte de alimento, Observamos que a umidade (nunca inferior a 60%) a fonte de alimento exercem influéncia considerdvel na biologia desta espécie, que apresenta um desenvolvimento mais rapido do seu ciclo evolutivo, quando a alimentagao ¢ feita em camundongo. A taxa de sobrevivéncia é bem maior quando 0 ciclo evolutivo ocome em cristalizadores coletivos. A semi-obscuridade e a temperatura média de 270C sdo fatores que favorecem o bom desenvolvimento desta espécie, Com 0 intuito de contribuir para o estudo desta espécie realizamos no laborat6rio, observagées referentes a duragdo do ciclo biolégico e a alguns aspectos de seus habitos. BREE Oi Sooty? 4 Fig, 1: criago em tubos individuais. Fig. 2: tubos em caixa de vidro com temperatura e umidade regis: tradas. Fig. 3: criagio em tubos individuais na estufaincubadora. Fig. 4: criagdo em cristalizadores cole tivos, ‘Trabalho realizado com auxitio do CNPq (PIDE V), Instituto Oswaldo Cruz, Departamento de Entomologia, Caixa Postal 926, 20000 Rio de Janeiro, RY, Brasil Recebido para publicagdo em 24 de outubro e aceito em 13 de dezembro de 1983. 304 J. JURBERG & EF. RANGEL Esta espécie foi assinalada em Belize, Colombia ¢ Panama, sendo neste ultimo, onde se tomou do- miciliar, a principal vetora da doenga de Chagas (Zeledan, 1974; Lent & Wygodzinsky, 1979) Os dados aqui fornecidos complementam o trabalho que contém a descrigdo ilustrada do ovo ¢ suas ornamentacdes, de cada um dos estédios ninfais desta especie, além das estruturas genitais do 59 esta- dio (Jurberg & Rangel, 1980). Para um melhor conhecimento desta espécie convém verificar os trabalhos sobre o género Rhodnius (Lent, 1948; Lent & Jurberg, 1969) onde foram descritas as dez espécies entGo conhecidas e analisadas comparativamente as estruturas das genitilias de ambos os sexos, usando caracteres diferenciais como um novo parametro auxiliar para a identificarao das especies, MATERIAL E METODOS Inicialmente, separamos um casal de exemplares adultos de Rhodnius pallescens, provenientes de uma criago de laboratorio, na Costa Rica. Da postura, isolamos 40 ovos que foram mantidos individual- mente em frascos, até que se completasse 0 ciclo bioldgico, Oferecemos, diariamente, pombos como fonte de alimentagao as ninfas, registrando a temperatura ¢ a umidade no insetirio, Na segunda etapa do trabalho, utilizamos seis grupos de triatomfneos, da mesina procedéncia, a par- tir de 200 ovos em cada grupo, cuja observagdo em diferentes condigdes permitiu-nos fazer uma andlise comparada do ciclo evohutivo. Estudamos os triatomineos nas seguintes condigdes: 1) em caixa de vidro, com 25 4 3°C e 80+ 3% UR, em tubos individuais, na semi-obscuridade (Figs. Le 2); 2) om estufa-incubadora, com 270C e 80% UR, em tubos individuais, na total obscuridade (Fig. 3); hm 7 a Hig, S: alimentagzo de tubos individuais em pombo, com marcagfo de tempo. Fig. 6: idem, em camun- dongo. Fig. 7:alimentagdo em cristalizadores coletivos, em pombo. Fig. 8: ikem, em camundongo. CICLO BIOLOGICO DE R. PALLESCENS EM LABORATORIO 305 3) em cristalizadores coletivos, com 25 + 30C e 60 + 5% UR, na semi-obscuridade (Fig. 4). A todos os grupos foram oferecidas duas fontes de alimento: pombo e camundongo (Figs. 5, 6, 7 e 8) semanalmente. RESULTADOS, Na primeira parte do trabalho tivemos durante o desenvolvimento do ciclo as seguintes condigoes do de 24 a 280C e umidade de 50 a 68%, ¢ alimentagao em pombo diaria- Obtivemos 0 ciclo completo, de apenas seis exemplares dos 40 observados, completando-se, em média, em 358 dias, sendo que 0 49 estédio foi o mais longo com duracdo média de 229 dias (Tabela 1). Neste estadio as ninfas pouco aceitavam alimentagdo, que era oferecida diariamente, e como consequéncia permaneceram por longo perfodo sem realizar a muda, tornando este estadio prolongado. O maior indice de mortalidade ocorreu no 59 estédio 2 pudemos perceber que no decorrer do ciclo 85% das ninfas mortas apresentavam uma deforma¢do no rostro que as impossibilitava de sugar. TABELA 1 Ciclo evolutive de Rhodnius paltescens em'laboratorio. Tempo de duragdo em dias, de cua fase imatura, verficado pelo acompanhamento indwidval Duragio de cada estidio ninfal Duragéo Ovo Incubagao i Qs | Ingubasao uw] oa w fv cielo 1 uv 1s a9 | 234 3576) 2 | 16 1 — — - | = - 3} as 2 | ow | oa | 3s | 108 = 4 16 23 Rn | 19 28 | (43 3519 so 16 a | 1 - - ~ ~ 6 | 6 27 | te | a8 69 | 94 2409 7) 4 a = - = 8 0 8 - I jo - - - 9 16 Boo |e - ~ - 10 le a “jas 268 | 122 - u 20 as 3 - - [| = - 2 a | ow i 2a | ow 350 | 198 - 3 af oar Bo) — | - 14 21 ij a2 | as 280 | 86 - 15 21 6 | Biot = - 16 2 6 ~ - = - = 7 2 30) a | ow 266 n 3989 18 2 is 16 - - ~ = 19 a n 3 | 23 99) 43 - 20 2 | 16 - - = - a 2 14 Bo) oid as | 92 - 22 2 | 13) 14 | 266 B - 3B |B 4 | 4 | 48 = = = 4 Boy a | we) 42 - = - 3 | ww } ep | Bi i 28 | 102 - 26 24 2) 4B | od gor | - 7 MF Sp Le - - = 28 20 14 joa oo | - 2 20 is fo 319 50 - 9 a | 2s 371 ~ - 31 19 14 lon 24s | 98 32 19 B 1 ~ - - 33 9 2B i 6 - - - 34 19 9 i - - - - 35 a 5 i = = = 36 20 2 | 2s 339 | 69 - 37 29 2 io 191 106 - 38 19 2 | 33 231 94 405% 39 w | 2 [41 | oe = = 40 po) ou | 89 169 | 93 3999 Média En B | 36 ne | 98 358 306 J. JURBERG & EF, RANGEL Szumlewiecz (1975) cita, sobre a biologia de triatomineos em laboratorio, que podem ocorrer dis- crepancias nos resultados obtidos neste tipo de observages, muitas vezes relacionadas com: variabilidade das condig6es ambientais; o nimero de geragdes descendentes no inseto investigado, mantidas em laboraté- rio; variagOes devidas a fatores genéticos da amostra estudada, Sabemos que esta espécie é muito sensivel 4 variagdo de umidade, ndo a suportando inferior a 60% (Zeledon, 1974). Em vista desses resultados resolvemos observar a biologia deste triatomineo em diferentes condi- ges de temperatura, umidade, luminosidade e fonte de alimento, com o objetivo de avaliar quais seriam as Condigdes mais adequadas para criagao dessa espécie em laboratério. Na caixa de vidro, o grupo alimentado em camundongo compietou o ciclo num perfodo mais cur- to — 126 dias — que aquele alimentado em pombo — 212 dias (Tabela II). TABELA IL Ciclo bioldgico de Rhodnius pallescens — em dias (média apro- ximada) Caixa de vidra com tubos individuais: 25% 30C — 80% 3% UR — Semi-obscuridade Pombo ‘Camundongo Media [ Amplitude | Média [~ Amplitude Incubagio 19 1s— 24 18 17-23 19 B- 27 19 1d 24 20 12- 25 18 id — 29 39 estidio 23 1g— 89 21 18- 33 49 estidio 64 56-71 2 19-25 SQ estidio 67 41 - 62 27 21-34 Total 212 179 — 231 126 | 120-135 Sobrevida (%) 69% 82% Na estufa-incubadora, onde as condigdes de temperatura, umidade e fonte de alimento foram cons- antes, os dois grupos evoluiram mais rapido que os anteriores, sendo que o alimentado em camundongo apresentou a duragZo dos estédios mais curta (Tabela III), Nos cristalizadores coletivos o grupo alimentado em camundongo desenvolveu-se num perfodo mais curto que os demais — 97 dias (Tabela IV), Constatamos que existe em R. pallescens uma preferéncia por camundongo, visto que os triatomt- eos aceitavam diariamente esta fonte de alimento, o que ndo ocorreu quando oferecemos pombo, além do ciclo evolutivo dos grupos alimentados em camundongo ter menor duragao. Christensen & Vasquez (1981) ao fazerem o teste de precipitina em R. pallescens verificaram que o terceiro hospedeiro mais comum para este triatomineo eram os roedores (Rattus ractus). TABELA Ill Ciclo Biolégico de Rhodnius palfescens — em dias (métlia apro- ximada) [7 Estute-incubadora com tubos individuals, 27 9C ~ 80% UR ~ Total obscuridade Pombo Camundong: Média | Amplitude | Média | Amplitude Incubagao 16 12-27 2B 10-20 19 estidio 7 4-2 a7 12-36 29 estidio 15 17 142 25 1-50 39 estadio 39 16- 78 8 1S— 40 42 estidio 36 18-141 32 16— 62 SP estidio 26 26-38 26 2-42 Total 209 ago— 212 | 102 93 — 142 Sobrevida(%) B% 84% CICLO BIOLOGICO DE &. PALLESCENS EM LABORATORIO 307 TABELA IV Ciclo bioldgico de Rhodnius pallescens — em dias {média apro- ximads) Cristalizadores coletivos 254 30C — 605% UR ~ Seriobscuridade Pombo Camundongo Média [ Amplitude | Média | Amplitude Inewbagio 19 w— 29 | as 2-2 19 estado 2 3-7 | 3 10~ 19 2estadio 20 13-31 18 W- 2 32 estidio Bry 12-30 | 20 18-23 49 estidio 2 y- 3 | 2 17-24 59 estidio 25 a 32 | 2 16 23 Total 185 138-201 | 97 94 — 109 Sobrevida(%) 86% 92% | Observamos que dentre os fatores que possivelmente interferem no ciclo biologico desta espécie, em laboratorio, além da umidade, a fonte de alimento exerce influéncia consideravel. Nas diferentes condi- des, 0 ciclo das femeas completou-se num tempo aproximadamente igual ao dos machos. Outro aspecto assinalado refere-se a taxa de sobrevida, a partir dos ovos, que ao final do ciclo foi mais alta nos cristalizadores coletivos. Fizemos algumas observagdes quanto defecagdo, Apos cessar o repasto observamos 0 tempo de- corrido para o inseto defecar e 0 local onde o fazia. Vimos que 60% dos exemplares defecavam imediata- mente ap6s a alimentacdo, sobre o local da picada, ¢ 0 restante o fazia 10 minutos depois, estando os inse- tos nessa situago, afastados Experimentalmente foi observada a resisténcia ao jejum em duas ninfas de $0 e 49 estadios (até entio alimentadas em pombo) que apos sofrerem a dltima muda ndo mais receberam alimentaedo: a ninfa de 59 estadio sobreviveu 86 dias e a de 49 estadio, 60. Com 0 oferecimento de alimentagdo diria as ninfas, pudemos analisar o interesse pelo primeiro repasto, apos a eclosdo. Em média, a aceitagao do primeiro repasto ocorreu em torno do quarto dia, para os dois tipos de alimentaco. Dos insetos adultos, nascidos de nosso experimento, observamos a primeira postura fértil em 36 dias para os alimentados em pombo e 30 dias para os que receberam camundongo como alimentagdo. SUMMARY We studied the life-cycle of R. pallescens under several conditions about temperature, humidity, lightness and source of food. Humidity (never lower than 60%) and feeding diet have influence the life- cycle of this species, which was more rapid when white mice were used as source of food. The survival was higher when the bugs were kept in groups instead of individual tubes. Dim light and a temperature of 270C were conditions for good growth of this species. AGRADECIMENTOS Somos gratos ao Dr. Herman Lent pela leitura critica do trabalho; a0 Dr. Rodrigo Zeledén, do Ins. tituto Costarricence de Investigacion y Ensefianza en Nutricion y Salud, Costa Rica, que cedeu-nos os exem- plares da espécie estudada e colaboracdo das Prof¥s Teresa Ciistina M. Gongalves, Jane M. Costa e Nataly A. Souza e da Técnica Sra. Vanda Cunha. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CHRISTENSEN, H.A. & VASQUEZ, A.M., 1981. Host feeding profiles of Rhodntus pallescens (Hemiptera, Reduviidae) in Rural villages of Central Panams. Am. J. Trop. Hyg., 30 (1) :278-283. 308 J, JURBERG & EF, RANGEL TURBERG, J. & RANGEL, E.F., 1980, Observagies sobre Rhodnius robustus Larrousse, 1927 ¢ Rhodnius pallescens Barber, 1932 (Hemiptera, Reduviidae, Triatominac). Rev, Bras. Biol, 40 (3) :569-S77, figs. 1-17. LENT, H., 1948, O género Rhodnius Stal, 1859 (Hemiptera, Reduviidae), Rev, Brasil Biol, 8 (3) :297-339, figs. 1-47. LENT, H. & JURBERG, J., 1969. O género Rhodnius Stal, 1859, com um estudo sobre a genitélia das espécies (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae), Rev, Brasil Biol, 29 (4) :487-560, figs. 1-219. LENT, I. & WYGODZINSKY, P., 1979. Revision of the Triatominae (Hemiptera, Reduviidae) and their significance as vectors of Chagas disease. Bull’ Amer. Mus. Natur. Hist, 163 (3) :123-520, fig. 1-320. SZUMLEWIECZ, AP, 1975, Laboratory colonies of Triatominae, biology and population dynamics, In: American Trypanosomiasis Research. PANO, Sci Public., 318 :63-82. ZELEDON, R., 1974. Los vectores de la enfermedad de Chagas en America Simp. Int. Enferm. de Chagas, Buenos Aires, Dic, 1972, pp. 327-345.

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