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Organizacdes Criminosas. Lei n° 12.694, de 24 de julho de 2012 Art, 19 Em processos ou procedimentos que tenham por abjeto crimes praticados por organizagdes criminasas, 0 juiz poderd decidir pela formacao de colegiada para.a pratica de qualquer ato processual, especialmente: 1 ~ decretagio de prisdo ou de medidas assecuratérias; II ~ concesséo de liberdade provisdria ou revogagao de prisios 11] - sentengas IV - progressdo ou regressio de regime de cumprimento de penas V - concessio de liberdade condicionais VI- transfertncia de preso para estabelecimento prisional de segurange maxima; € VII - inclusie do preso no regime disciplinar diferenciado. § 19 O juiz poderé instaurar 0 colegiado, indicando os motivos ¢ as citcunstancias que acarretam risco a sua integridade fisica em decisio fundamentada, da qual seré dado conhecimento ao érgao correicional. $ 2° 0 colegiado seré formado pelo juiz do pracesso ¢ por 2 (dois) outros juizes esco- Ihidos por sorteio eletronico deatre aqueles de competéncia criminal em exercicio no primeiro gran de juris $ 3° A competéncia do colegiade limita-se ao ato para o qual foi convecado. § 4° As reunides poderdo ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade Tesulte em preju(zo & eficacia da decisio judicial. § 5° A reuniéo do colegiado composto por jufzes domiciliados em cidades diversas poder ser feita pela via eletronica, § 6 As decisdes do colegiado, devidamente fundamentades ¢ firmadas, sem excecdo, por todas os seusintegrantes, serao publicadas sem qualquer referéncia a voto divergente de qualquer membro. § 7° Os tribunais, no ambito de suas campeténcias, expedirao normas regulamentando a composi¢go do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu funciona- mento. 691 LEIS PENAIS ESPECIAIS ~ Gabriel Habib 1. ‘Objeto da formacao do colegiado. O colegiado tem por objeto processos nos quais so julgados crimes praticados por organizagao criminosa, independentemente do delite praticado. 0 critério utilizado pelo legislador fol objativa, qual seja: espécie de crime praticado, e no um critério subjetivo a partir de caracteristicas pessoais do autor do crime. Formagao de colegiado para decidir questées processuals. Rol exemplificativo. © rol disposto nos incisos é meramente exemplificativo, uma vez que o legistador, antes de elencar as hipdteses, utilizou as express6es qualquer ato processual, especialmente. Percebe-se com isso que apesar de haver a enumetacio dos atos Pracessuais, o legislador permitiua interpretagao amalégica para abranger também ‘outros atos que nao esto dispastos no rol do art. 1%. Deva-se atentar, entretanto, que 0 ato a ser praticade somente pode ter natureza processual. Decisdo do Juizo natural. Quem decide sobre a formagao do colegiado & 0 Juizo natural do processo. Na decisao sobre a conveniéncia da formag3o do colegiado nao pode haver a interferéncia de nenhum outro drgao do Poder Judicidrio. Isso se. explica porque somente o Juizo natural do processo é que tem condicdes de saber se determinado caso concreto oferece risco a sua integridade fisica. Momento da formacSo do colegiado. Tendo em vista que 0 legislador utilizou as expressées processos ou procedimentos, o colegiado pode ser formado nao apenas durante © processo criminal, mas também no curso do Inquérito Policial, Da mes- ma forma, como nao houve mengdo ao momento para a fermac3o do colegiado, pode-se afirmar que ele pode formar-se antes do processo criminal (por exemple, a formago do colegiado para decidir sobre uma interceptagdo telefonica}, durante © curso do processo (como no caso da formacdio do colegiado para proferir a sen- tenga) ou apds o término do pracesso criminal (formacao do colegiado para decidir sobre a concessdo de livramento condicional, regressdo de regime, perda dos dias remidos pelo trabalho etc.}. Especificagdo do ato, A deciséo que formar 0 colegiado deverd espacificar os atos que sero objetos de sua competéncia. Natureza do ato a ser praticada pelo colegtado, 0 colegiado pode praticar tanto atos instrutérios, quanto atos decisérios. O art. 12 dispde ate processudl, indepen- dentemente da sua natureza. $12 Motivacdo da formasiio do colegiado, A motivacdo da formagao do colegiado € 0 risco que o julgamento do processo ou a pratica de algum ato processual possa acarretar a integridade fisica do Juiz. Os motivos e as circunstancias devem ser concretos, e ndo apenas mera passibilidade, devendo o Julz indicd-los na deciséo de farmago do colegiado. Apesar de a lei mencionar apenas o risco a integridade fisica do Juiz, parece ldgico que o dispositive esté a abranger também o risco & integridade fisica de seus familiares. Note-se que a formag3o do colegiade é uma faculdade do Juiz 2 ele pode decidir n3o formé-lo e correr 0 risco a sua integridade fisica. §2® Composig#io do colegiado. 0 colegiado 6 formado pela Juizo natural do pro- cesso e por outros dols Juizes com competéncia criminal em exercicio no 1° grau Organizagies Criminosas, Lein? 12,694, de 24 de julho de 2012 de jurisdi¢&o, sorteados de forma eletrénica. O legislador teve dois cuidados nesse ponto: 0 primeira foi determinar que a composic3o do colegiado fosse formada por Juizes que atuem na drea criminal, em 12 grau de jurisdic4o; o segundo foi a obrigatoriedade do sorteio eletrénico, que é uma forma de estabelecer um critério objetivo ¢ impessoal para a formacao do colegiado. 9. Recusa do Magistrado sorteado. Questo relevante versa sobre a possibilidade do Juiz sorteado para compor o colegiado recusar. Pensamos que a recusa pode existir, desde que motivada, por exemplo, em motive de foro intime ou outro motivo funcional plausivel. A recusa do Juiz sorteado pode fundamentar-se na sua independéncia funcional? Parece que n§o. Se o Juiz foi sorteado, ele deve assumir co encargo, como em quatquer outra hipétese em que a Vara Criminal onde ele atua seja sorteada no setor de distribuicdo para receber um processo criminal. A nega- tiva do Juiz com base na sua independéncia funcional seria negativa de prestagso Jurisdicional, vedada pelo principio da inafastabilidade do Poder Judiciario. 10.632 Competéncia limitada do colegiada. O legislador limitou a competéncia do colegiado a pratica somente do ato para o qual foi convocade. E de se notar que o colegiado ndo se torna competente para prosseguir no julgamento do processo até oseu fim, limitando-se somente ao ato para o qual fai formado. E se for necessdria a pratica de varios atos no mesmo proceso? Cremos que nada impede que a formacao do colegiado seja feita para a pratica de mais de um ato pracessual, desde todos os atos que serao praticados estejam especificados na decisio de sua formacao. 11.842 & 59 Sigilo das reunides do colegiado. O sigilo das reunides é uma faculdade, endo urna obrigago. A regra é a publicidade das reunides, Maso sigilo podera ser decretado se houver risca de a publicidade causar prejuizo a eficécia da deciséo. O fato de os Juizes morarem em cidades diversas n30 inviabiliza a reunifo, devendo ele ser feita por via eletronica, Note-se que 0 legislador nao exigiu a videoconfe- réncia, 0 que nos leva a concluir que qualquer meio eletrénico pode servir para a realizagiio da reunigo, camo a troca de e-mails com certificago de autenticidade, 12. Competéncia para a decretagdo do sigilo das reunides, Questao relevante versa sobra a competncia para a decretacao do sigilo. Quem tem competéncia para decretar o sigilo das reunides, o Juizo natural do processo ou o colegiado? Pela re- dacSo legal, parece que a competéncia 6 do drgao colegiado. Cam efeito, primeiro forma-se 0 colegiado, depois da andlise do caso concreto pelos trés Julzes é que se poderd decretar o sigilo. A partir do momento em que o colegiado se forma a competéncia para decidir pelo sigilo passa a ser dele. 13.462 Publicagéo das decisdes do colegiado. A publicacSo da decisao sem qualquer referéncia a voto divergente de qualquer membro foi um meio que o legislador encontrou de manter o sigilo das votagdes para evitar a identificacao e a indivi- dualizac3o dos votes, por motivos de seguranca dos Juizes. 14.§78 Normatizaciio do funcionamento do colegiado. O legislador deixou a cargo dos Tribunais a possibilidade de regulamentac¢So da composicao do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu functonamento, de acordo com as suas necessidades e conveniéncias. 893 Art, LEIS PENAIS ESPECIAIS - Gobrie! Habib 15. Pracessos ja em curso. Possibilidade da formagdo do colegiado. 0 colegiado pode ser formado para a pratica de atos processuais nos processos j4 em curso quando do advento da lei. A lei tem natureza processual e deve ter aplicacdo imediata. Entretanto, se ato processual ja foi praticado antes do seu inicio de vigéncia, ele no podera ser novamente praticado pelo colegiado, uma vez que de acordo com art. 2° do Cédigo de Processo Penal, a lei processual tem aplica¢o imediata, mas so respeitados os atos praticados antes da sua vigéncia. 16. Violag&o ao princfplo do Juizo natural. Questo da mais alta relevancia versa sobre a formacZo do colegiado eo principio do Juizo natural previsto no art, 58, XXXVII e Lill da CRFB/88. Segundo esse principio, o Juizo natural é aquele que possui a sua competéncia detinida em lei antes da pratica do fate criminoso. Em outras palavras, oJuizo natural é aquele que jd tem competéncia para o processo e 0 julgamento do fato criminose na data da sua pratica. Trata-se de uma garantia constitucional para que seja assegurado um julgamento imparcial e isento por parte do Poder Judicidrio. Alei 12.694/2012 permite a formac3e de um drgdo colegiado paraa pratica de um ato processual. Com isso, estar-se-ia permitindo a formacdo do érgdo judiciario apés a pratica do fato delituoso, trazendo para o proceso dois Juizes que no eram, em tese, competentes para processar e julgar o fato quanda elle ocorreu. Em face disso, surge a seguinte questo: ao se permitir a formag3o de um colegiado para a pratica de atos processuais apds o fato criminoso estar-se-ia violando o principio do Jufzo natural? Apesar de algumas vozes terem sido levantadas nesse sentido, cremos que o colegiado trazido pela novel lei nao causa nenhuma viotacio a0 principio do tuizo natural. Ao contrario, pensamos que quando o legislador criou a possibilidade da formacao do érgio colegiado, j4 considerou o principio da Juizo natural. Inicialmente, deve ser ressaltado que ao criar 0 colegiado, o legislador teve a preocupac¢o em manter 0 Juizo natural dentro dele. Note-se que é 0 Juizo. natural que vai instaurar o colegiado, dele fazendo parte. O legislador fez questo de manté-lo na composi¢ao do colegiado. Nao ha a possibilidade de o colegiado ser formado apenas por Juizes que nunca tiveram competéncia para processar e julgar aquele determinado fato. A formmagdo do colegiado parte do préprio Juizo natural. Ele permanece no processo. N&o se retira o Juizo natural do processo e coloca-se outro em seu lugar para efetuar o julgamento. 0 Juizo natural jé tinha a competéncia para o proceso ¢ 0 julgamento do fate criminoso quando ele foi praticado. Nao ha a designacio de um Juiz excepcionalmente para julgar um fato. Ao contrario. O julgamento ¢ feito pelo Juizo natural, em conjunto com outros dois Juizes. Seria diferente se a lel permitisse a designacao de outro érgao competente para processar ¢ julgar o fato apos a sua ocorréncia, Mas no foi isso 0 que o le- lador estabeleceu. Demais disso, afirmamos acima que o Juizo natural € aquele que possui a sua competéncia definida em lei antes da pratica do fato criminoso, ou seja, aquele que j4 tem competéncia para a proceso eo julgamento do fato criminoso na data da sua pratica. Como sabido, a competéncia é do redo juris- diclonal, e nao da pessoa do Juiz (alias e por Isso que utilizamos a expresso Juizo natural, € no Juiz natural), Se a competéncia é do drgdo jurisdicional e deve estar previamente prevista em lei antes da prdtica do fato criminoso, a conclusdo ldgica € de que o colegiado ¢ o Juizo natural para processar e julgar 0 fato criminose. 894 Organizacdes Criminosas. Lei n? 12.694, de 24 de julho-de 2012 W. Note-se que 0 érgdo jurisdicional competente é o colegiado. Criado regularmente pela lei 12.694/2012, 0 colegiado passa a sero Juizo natural para processar e julger a fato criminoso no momenta em que ele foi praticado, independentemente dos Julzes (pessoas) que tro compé-lo. E o que se passa nos julgamentos conjuntos proferidos pelos Tribunais, em que a competéncia é da Turma julgadora, indepen- dentemente de quem ird compé-la. Na hipétese de férias de um Desembargador ou licenca por motives de satide etc., por exemplo, é designado outro Magistrado para compor a Turma julgadora apés a pratica do delito, e nunca se sustentou que essa hipdtese também violaria o principio do Juizo natural. O orgdo jurisdicional continua com a competéneia para o processo e julgamento do fato delituoso, apesar de haver mudanca na sua composigao. Da mesma forma, em uma Vara Criminal, ¢aso 0 Juiz titular entre em férias ou de licenca outro Juiz ser4 designado para o seu lugar para dar seguimento aos processos ¢ praticar todos os atos processuais, nunca se sustentou que isso violaria o principio do Juizo natural, E a raziio é ligica: a competéncia ¢ do drgio jurisdicional, e nflo da pessoa do Juiz. Na hipdtese do colegiado previsto na lei 12.694/2012, 0 Juizo natural passa a ser 0 proprio érgio colegiado, que j4 é obrigatoriamente composto pelo Juize natural, independente- mente das demais Juizes que ira compé-lo. Ressalte-se, também, que o colegiado @ formado por outros dois Jufzes com competéncia criminal, mantendo-se, assim, a competéncia em razdo da matéria, designados por sorteio eletrdnico, o que garante e assegura a total objetividade e lisura do processo seletivo, ndo havende que se falar em designarSo easuistica para determinado caso concreto. Em face do expasto, pensamos que a norma ora comentada antes afirma do que contraria a existéncia do principio do Juizo natural. ViolagSo ao principio da Identidade fisica do Juiz. Questo relevante versa sobre a possivel violagde do principio da identidade fistca do Juiz. A formacao do colegiado, permitindo oingresso de outros Juizes nele, que n3o colheram as provas, ndo ouvi- am as testemunhas e nao interrogaram o acusado estaria a afastar a exigéncia da identidade fisica do Juiz? 0 § 28 do art. 399 do CPP, com a redagdo que Ihe deu a lei 11.719/2008, dispde que o Juiz que presidiu a instrugSo processual deverd proferir asentenga. inicialmente, deve ser destacado que a questdo apenas oferece dificul- dade se o colegiada for formado para proferir 2 sentenga. Isso porque o principi da identidade fisica do Juiz é tema afeto a sentenga e a exigéncia do dispositivo processual acima mencionado esté ligada & sentenca. Com efeito, pode acontecer que o colegiado seja formado para praticar um ato processual antes mesmo do inicio da instrucdo processual, como a decretacdo de uma prisdo preventiva ou entda para a pratica de um ato processual durante a instruco criminal. Essas hipdteses nao oferecem nenhuma dificuldade, uma vez que nao est a se tratar do ato de proferir a sentenca. No que tange a formacae do colegiado para a elaboracao da sentenca, cremos que nao ha nenhuma violagao ao principio da identidade fisica do Juiz. Com efeito, quando o legislador permitiu a formagao do colegiado, ele manteve o Juiz que concluiu a instrugzio em sua composigdo. O Juiz que concluiu a instrugde processual faz parte obrigatoriamente do colegiado. O Juiz que colheu todas as provas participard do julgamento do processo, em conjunte com mais dois Juizes com competéncia criminal. O legislador n3o afastou do julgamento 0 Juiz 895 Art. LEIS PENAIS ESPECIAIS ~ Gabriel Habib que concluiu 2 instru¢3o processual. Ao contrario. O legislador o manteve dentro. do colegiado, Assim, a sentenga sera proferida pelo juiz que concluiu a instrugao Processual, em conjunto com outros dois Juizes. Por essas raz5es, cremos que n3o hé violagdo ao principio da identidade fisica do Juiz. 18. Posi¢do do STF em caso semelhante. O STF foi instado a manifestar-se sobre esse tema em hipétese semelhante, ao julgar a Acdo Direta de Inconstitucionalidade n? 4414, na qual se impugnou a lei n? 6806/2007 do Estado de Alagoas, que prevé hipétese semelhante no seu art. 12 e dispde que “qualquer juiz podera solicitar, Nos casos em que esteja sendo ameacado no desempenho de suas atividades ju- risdicionais, © apoio da 172 Vara Criminal da Capital, cujos membros assinar3o, em conjunto com aquele, os atos processuais que possuam rela¢3o com a ameaca”. O STF entendeu que esse dispositivo da lel alagoana ¢ inconstitucional por violagdo ao principio do Juizo Natural. Contudo, alertamos que a declaragao de inconstituciona~ lidade foi em relacdo a lei alagoana, e nao em relaco ao art. 12 da lei 12.694/2012, embora as situagdes sejam muito semelhantes. >» STF Informativo a2 668 Organizagao criminosa e vara especializada - 22 De igual modo, dectarou-se a inconstitucionalidade dos artigos 7° (“Podem ser delegados a qualquer outro julzo os atos de instrugdo ou execugSo sempre que Isso no importe prejuizo ao sigilo, & celeridade ou a eficdcia das diligéncias”) ¢ 12 ("Qualquer juiz podera solicitar, nos casos em que esteja sendo ameacado no Gesempenho de suas atividades jurisdicionais, o apoio da 172 Vara Criminal da Capital, cujos membros assinarZo, em conjunto com aquele, os atos processuais que possuam relagdo cam a ameaga”). Reconheceu-se transgressdo a garantia constitucienal do juiz natural, resguardo contra arbitrarledade politica e judicidria. Revelou-se que ¢ postulado asseguraria: a) a imparcialidade do julgador, a evitar designagdes com finalidades obscures, em prejuizo do réu; b) odireito, a qualquer pessoa, a processe e julgamento pelo mesmo érgao; ec) oreforcoa independéncia do magistrade, imune a ameacas por parte de superiores na hipétese de nao seguir eventual determinacdo. Assinalou-se que os preceitos confrontar-seiam, também, com o principio da identidade fisica do juiz e cam o art. 22, |, da CF. Sobressaiu-se inadmissivel que o magistrado, sem justificativa calcada em sua competéncia territorial ou funcional, delegasse ato de Instrucdo para ser praticade em outro ‘6rgdo, o que dificultaria, inclusive, a ampla defesa. Ademais, inaceitavel que o juiz responsavel pelo feito, sob alegagSo de sofrer ameagas, instaurasse verdadeiro tribunal de excecso. ADI 4414/AL, rel. Min. Lulz Fux, 30 @ 31.5.2012. Art. 2° Paraos efeitos desta Let, considera-se organizacao criminosa a associagio,de3 (trés} ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caractetizada pela divisto de tarefas, | ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de | qualquer natureza, mediantea pritica de crimes cuja pena maxima sejaiguelousuperior | a4 (quatro) anos ou que sejam de cardter transnacional. ! 896 Organizagées Criminosas. Lei n® 12.694, de 24 de julho de 2012 f Act. 9° | 1. Conceito de Organizagao Criminosa. Ver comentdrios ao art. 12, §1° da lei 12.850/2013. ‘Art. 3¢ Os tribunais, ne Ambito des suas competéncias. 880 autorizados a tomer medidas pata reforcara seguranca dos prédios da Justica, especialmente: : : 1 controle de acesso, c6m identificagdo, 20s seus prédios, especialinente aqueles com ‘varas criminals, ou as 4reas dos prédios com yaras ctiminais; IL instalagdo de cameras de vigilincia nos sevs prédios, especialmente nas varas cii- minais ¢ areas adjacenites; II - instalagio de apdrelhos detectores de tnetais, 6¢ quais se devera submeter todos que {queiram ter acesso 40s seus prédids, especialmente 4s varas criminais ou as zespectivas salas de auidiencia, ainda que exercam qualquer cargo ou fungao publica, ressalvadds os + integfantes de missio policial, a escolta de pretos’e os agentés ou inspetores dé seguranca | préprios, 1. Medidas de reforco da seguranca, Pela redac4o do dispositivo legal, percebe-se que a grande preocupacao do legislador foi com a seguran¢a dos Magistrados que atuem em Varas Criminais. O legistador preferiu deixar a cargo da cada Tribunal a decisdo de quais seriam as medidas necessarias para o reforco da seguranca, que é salutar, pois somente cada Tribunal tem condicdes de saber quais as medidas mais necessarias e mais relevantes, sendo certo que tais medidas padem variar de acordo com a localidade do Tribunal e com o tipo de risco que o local oferece & seguranga dos Magistrados. Os arts. 49 20 8° tratam de alteracées legislativas, razo pela qual nfo ser3o objetos de comentario. ) Art.9° Diaate de situagao de cisco, decorrente do exercicto: ods dafangio, ‘das autoridades |diciais ou membros do Ministerio Péblico ede seus familiares, 0 fat sera comiinitade 3 policia judiciéria, que avaliaré-a necessidade, 6 aléance e.os pardmettos da‘ proterde + pessoal. § 1° A protecdo pessoal ser4 prestada de acordo com a avélia¢io.realizada pela policia judicidria ¢ apés a comunicacae a autoridade judicial ou ao membro do Ministério Pa- ‘blico, conforme o caso: - 1 - pela propria policia judicidria; TL pelos orgaos de seguranga institucional;. 111 - por outras forgas policiais; TV = de forma conjinta pelos citados nis incisos I, Ile HIE. § 2° Seis prestada protegdo pessoal inediata nos casis argentes, sém prejuizo da ade- quacio da medida, segundo a avaliagio a'que'se referem a caput ¢ 0 $ 1* deste artigo. ' § 3° A prestacio de pratecéo pessoal ser4 comunicada ao Conseiho Nacional de Justiga- ou ao Conselho Nacional do Mintstério Publico, conforme 0 caso. 897 LEIS PENAIS ESPECIAIS - Gabriel Habib eT ce en nee te erm mee $ 4° Verificado o descumprimento dos procedimentos de seguranga definides pela poli- cia judiciaria, esta encaminhara relatorio a0 Conselho Nacional de Justiga ~ CNJ ov ao Conselho Nacional do Ministério Piblice ~ CNMB. Ast. 10, Esta Lei entra em vigor apés decorridos 90 (noventa) dias de sua publicacio | oficial, Viren eee ee ee 1. Situagdo de risco decorrente do exercicio da funcSo. O legislador trouxe, no presen- te dispositive, a medida de protegdo pessoal prestada as autoridades judicidrias e aos membros do Ministério Publico, quando eles ou seus familiares estiverem diante de uma situagao de risco. A situagao caracterizadora do risco deve se concreta, no podenda cingir-se 20 dmbito da mera possibilidade. O legislador no limitou o risco a integridade fisica das pessoas mencionadas no dispositive legal, razdo pela qual deve ser abrangida qualquer espécie de risco a que a pessoa estiver sujeita. s . Nexo funcional. Exige-se que o risco seja decorrante do exercicio da fun¢ao, de forma que o risco oriundo de um fato diverso no justifica a protegiio pessoal. 3. Destinatavios da protegdo pessoal. As autoridades judiciarias, os membros do Ministério Pablico @ os seus familiares. 4. § 18. Discricionariedade da policia judicidria. Pela redagSo legal, a policia judiciéria tema discricionariedade para avaliar a necessidade, 0 alcance e os parametros da Prote¢dc pessoal. Portanto, quem decidird se haverd ou no a efetivacde da pro- tecdo pessoal serd a policia judiciaria, e ndo a autoridade judicidria ou o membro do Ministério Publico. 5. § 19. Orgiios encarregados da protecao pessoal. A protecao pessoal sera prestada pela policia judiciaria, pelos érgdos de seguranca institucional, por outras forgas policiais ou pelos trés érgaos em conjunto. O que iré determinar a definicéo do érgdo que prestard a protecao pessoal seré a avaliacdo da policia judiclavia. 6. § 22 Proteco pessoal imediata. Em casos de urgéncia, a protec3o pessoal serd imediata. O que se deve entender por imediata? Cremos que no exata momento em que a situacao de risco ficar caracterizada e a policia judicidria tomar conhec!- mento dela, Estamos certos de que somente 0 caso concreto dird, mas o legislador determinou a obrigatoriedade da protecdo imediata, podendo ser posteriormente adequada. Em todo caso, conforme a redacdo legal, a avaliagZo da urgéncia é feita pela policia judicidria. 7. § 3°, Obrigatoriedade da comunicago, A comunicagge ao Censelho Nacional de Justi¢a ou ao Conselho Nacional do Ministério Publico ¢ obrigatoria, a depender do destinatario da protecdo pessoal, 8. § 4°. Descumprimento dos procedimentos de seguran¢a. O encaminhamento do 898, relatério a0 Conselho Nacional de Justiga ou ao Consclho Nacional do Ministério Pablico tem por finalidade apurar a responsabilidade daquele que descumprir os procedimentos de seguranca definidos pela policia judicidria. Planejamento Familiar. Lei n° 9.263, de 12 de janeiro de 1996 Art, 1° © planejamento familiar é direito de todo cidadao, observado o disposto nesta Lei. Art, 20 Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como 0 conjunto de agoes de regulagdo da fecundidade que garanta direftos iguais de constituigdo, limitagto ou aumento da prole pela multer, pelo homem ow pelo casal. Paragrafo tinico ~ F proibida a utilizagao das acbes a que se refere o caput para qualquer tipo de controle demografico. Art.3°O planejamento familiar parte integrante do conjunto de agées de atengdo4 mulher, a homem ou a0 casal, dentro de uma visio de atendimento global ¢ integral & satide. Pardgrafo Unico — As instancias gestoras do Sistema Unico de Saude, em todos os seus iniveis, na prestaio das aces previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua tede de servicos, no que respeita a atengao & muther, ao homem ou ao casal, programa de atencdo integral 2 satide, em todos os seus ciclos vitais, que inchza, como atividedes hésicas, entze outras: 1 - a assisténcia & concepgéo € contracepsao: IL - o atendimento pré-natal; Til - aassisténcia a0 parto, a0 puerpério ¢ a0 neonato; TV - 0 controle das doencas sexualmente transmissiveis; V - o controle ¢ prevengio do cancer cérvico-uterino, do cancer de mama e do cancer de penis. Art. 4° O planejamento familiar orienta-se por acdes preventivas e educativas e pela ‘garantia de acesso igualitarioa informagées, meios, métodase técnicas dispontveis para a regulagdo da fecundidade. Paragrafo tnica - G Sistema Unico de Satde promoverd o treinamento de recursos hu- manos, com énfase na capacitacao do pessoal técnica, visando a promogio de agées de atendimento & satide reprodutiva, Art, 5°- E dever do Estado, através do Sistema Unico de Satide, em associagio, ne que couber, is instincias componentes do sistema educacional, promover condigéese recur- sos informativos, educacionais, técnicos e cientificos que assegurem o livre exercicio do planejamento familiar. 399 LEIS PENAIS ESPECIAIS - Gabrie! Habib Ast. 6° As acdes de plancjamento familiar ser4o exercidas pelas instituicdes pablica: ¢ privadas, filantrépicas ou nao, nos termos desta Lei e das normas de funcionamento ¢ mecanismos de fiscalizacao estabelecidos pelas instancias gestoras do Sistema Unico de Satide, Pardgrafo vinico - Compete & direcao nacional do Sistema Unico de Savide definir as normas gerais de planejamento familiar. Art. 7° —Bpermitida a participagao direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros nas ages e pesquisas de planejamento familiar, desde que autorizada, fiscalizada e controlada pelo érgiv de direcdo nacional do Sistema Unico de Satide. Art. 8° A realizagao de experiéncias com seres humanos no campo da regulacao da fe- { cundidade somente serd permitida se previamente avtorizada, fiscalizada e controlada + pela direcéo nacional do Sistema Unico de Satide e atendidos os critérios estabelecidos pela Organizacao Mundial de Saude, Art, 9 Para o exercicio do direito ao planejamento familiar, serao oferecidos todos os métodas ¢ técnicas de concepgio e contracepgao cientificamente aceitos e que née colo- quem em risco a vida e a satide das pessoas, garantida a liberdade de opgio. Paragrafo unico. A prescrigao a que se refere 0 caput s6 poderd ocorzer mediante avalia¢do ¢ acompanhamento clinico e com informagao sobre os seus riscos, vantagens, desvantagens ¢ eficicia. Art. 10, Somente é permitida esterilizagio voluntinia nas seguintes siluagbes: 1— em homens e mulheres com capacidade civil plena ¢ maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhds vivos, desde que observado 0 praze minimo de sessenta dias entre a manifestagdo da vontede ¢ 0 ato cirdrgico, periodo no qual seré propiciado a pessoa interessada acesso a servico de regulagdo da fecundidade, incluin- do aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilizagio precaces IL risco a vida ou a satide da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatério escrito e assinado por dois médicos. § 1° £ condigao para que se realize a esterilizacdo o registro de expressa manifestagio da vontade em documento escrito e firmado, apés a informagio a respeito dos riscos da cirurgia, possiveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversio e opgdes de contracep¢ao reversiveis existentes, . § 2° Evedade a esterilizacdo cinirgica erm mulher durante os perlodos de parto au aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores. § 3° Nao sera considereda a manifestagio de vontade, na forma do § 1°, expressa durante ocorréncia de alteracdes na capacidade de discernimento por influncia de Alcool, drogas, estades emocionais elterados ou incapacidade mental temporétia ou permanente, § 4° A esterilizacao cirtirgica como método contraceptivo somente serd executada através da laqueadura tubaria, vasectomia ou de outro método cientificamente eceito, sendo vedada através da histerectomia e 0 aforectomia. § 5° Na vigdneia de sociedade conjugal, a esterilizacie depende do consentimento expresso de ambos 03 conjuges. 300 Planejamento Familiar, Lei n° 9.263, de 12de janeiro de 1996 § 6 Aesterilizagao cirdrgica em pessoas absolutarnente incapazes somente poderd ocorrer mediante autorizagio judicial, régulamentada na forma da Lei. Ant, 11. Toda esterilizagéo cirirgica setd objeto de notificagao compulséria a ditecio do Sistema Unico de Satide. Art, 12, E vedade a indasdo ou instigamento individual ou cotetivo a pratica da este- rilizagdo cirtirgica. Art, 13. E vedada a exigéncia de atestado de esterilizagao ou de teste de gravidez para quaisquer fins. . Art. 14, Cabe & instancia gestora do Sistema Unico de Saude, guardado 0 seu nivel de competéncia e atribuiges, cadastrar, fiscalizar ¢ controlar as instituigdcs ¢ servigos que realizam agGes e pesquisas na drea do planejamento femiliar, Pardgrafo unico. $6 podem ser autorizadas 2 realizar esterilizagao cirdrgica as institui- bes que oferecam todas as opgoes de meios ¢ métodos de contracepeéo reversiveis. CAPITULO IT DOS CRIMES E DAS PENALIDADES Art. AS, Realizar esterilizagio ciriegica em desacordo com a estabelecida no art. 10 desta Lei. Pena ~ reclusdo, de dois a o!to anos, e multa, sea pratica nao constitui crime grave. Parégrafo dnico - A pena é aumentada de um tergo se a esterilizasdo for praticada: T+ durante os periodas de parto ou abarto, salvo o disposto no inciso II do art, 16 desta Lei. IE- carn manifestacSo da vontade do esterilizado expressa durante a ocorréncia de altera- ‘ges na capacidade de discernimento por influéncia de élcool, droges, estados emociona alterados ou incapacidade mental temporisia ov permanente; II} - através de histerectomia ¢ ooforectomia; TV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorizagio judicial, V - através de cesaria indicada para fim exclusivo de esterilizagao. 1. Sujeito ative, O médico cirurgiio que realiza a esterllizaco cirurgica. Trata-se de crime proprio. 2. Sulelto passive. A pessoa submetida a esterilizacdo cirtrgica. 3. Esterilizag%o cirérgica, Por esterilizacdo cirargica entenda-se o procedimento irreversivel que pode ser feito no homem, por melo da chamada vasectomia, que consiste na sec¢ao dos canais deferentes, impedindo que os espermatozoides salam na ejaculacao, e na mulher, par meio da denominada salpingotripsia (ligadura das trompas), consistente no procedimento cirtrgico que tem por objetivo bloquear a trajeto das trompas uterinas, impedindo o contato entre espermatozoide e dvulo. 0 art, 10, §4° dispde que “a esterilizagaio cirrgica como método contraceptive somen- te serd executada através da laqueadura tubéria, vasectomia ou de outro método cientificamente aceito, sendo vedada através da histerectomia e ooforectomia”. LEIS PENAIS ESPECIAIS - Gabriel Habib 4. Norma penal em branco. O presente tipo penai configura uma norma penal em branco homogénea homovitelina, pois para a sua aplicacao e sua interpretacdo precisa ser complementada pelo art. 10 da propria lei, que estabelece as normas € procedimentos para a realizacdo da esterilizacao cirurgica. Portanto, o delito consiste na realizacao da esterilizago de forma contraria 4s normas contidas no art. 10 desta lel. 5. Subsidiariedade expressa. O preceito secundario do tipo penal expressa a sua natu- reza subsididria. Assim, caso do fato ocorrido resulte algum delito mais grave, como a les2o corporal ou o homicidio, esses delitos estario contigurados, afastando-se a incidéncia do tipo penal ora comentado. 6. Pardgrafo Unico. Causas de aumento de pena. 7. Inciso |. Durante os periodos de parto ov aborto, salvo o disposto no inciso It do art. 10 desta Lei. 0 art. 10, §2° dispde que & vedada a esterilizacao cirurgica em mulher durante os periodos de parto ou aborto, exceta nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores. Tendo em vista que ha proibicda ‘expressa, a esterilizacao realizada neste periodo é mais grave, razéio pela qual se justifica o aumento de pena. 8. Inciso lI. Com manifestagao da vontade do esterilizado expressa durante a ocor- réncia de alteracdes na capacidade de discernimento por influéncia de dlcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporaria ou Permanente, O art. 10, §12 desta lei exige a manifestacao de vontade expressa e escrita como condigio para a realizaco da esterilizaco cirlirgica. A pessoa que esta sob a influéncia alcool ou drogas, ou a que estd com 0 estado emocional alte- rado ou, ainda, acometida de incapacidade mental temporaria ou permanente, nao pode manifestar a sua vontade fivremente. Isso faz com que a sua manifesta¢o de vontade seja nula e por essa razZo a pena é aumentada para o agente que realizaa esterilizacdo cirdrgica na vitima que se encontra nessas condicdes. Demais disso, 0 art. 10, §3° disp6e que “nao seré considerada a manifestardio de vontade, na forma do § 1, expressa durante ocorréncia de alteragées na capacidade de discernimento por influéncia de alcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporaria ou permanente”, 9. Inciso Ill. Através de histerectomia e oofarectomia. Os procedimentos de histe- rectomia e ooforectomia s4o vedados pelo art. 10, §4° da lei, Dessa forma, caso a esterilizacdo seja feita por meio de tais procedimentos, vedados pela propria lei, a reprovabilidade da conduta do agente serd maior ea pena seré aumentada 10. Inciso IV. Em pessoa absolutamente incapaz, sem autorizagao judicial, Tendo em vista que a pessoa é absolutamente incapaz € no possui o discernimento mental Necessdrio para compreender o ato de esterilizagdo cirtirgica, o art. 10, 869 exige autoriza¢ao judicial. O aumento de pena justifica-se em razdo justamente da au- séncia de discernimento mental da vitima para consentir na esterilizacao, tornando a conduta do agente mais reprovavel a justificas © aumento de pena. 11. Inciso V. Através de cesérea indicada para fim exclusiva de esterilizag3o. Nesse inciso, hd um dasvio de finalidade no procedimento de cesdrea, uma vez que ela é 902 Planejammento Familia. Lei ne 9.263, de 12 de janeiro de 1996 ers marcada nao para o parto, mas, sim, com o fim exclusive de realizar a esterilizagso cirdrgica, razdo pela qual a reprovabilidade do agente é maior e justifica o aumento da pena. 12.Consumagio. 0 delito consuma-se com a concluso do procedimento cirurgico de esterilizago. Trata-se de crime material. 13.Classificagdo. Crime préprio; material; doloso; comissivo; instantaneo; admite tentativa. 14, Suspens&o condicional do proceso. Incabivel, pois a pena minima cominada ul- trapassa 1 ano (art. 89 da lei 9.099/95). Art. 16, Deixar o médico de notificar a autoridade santtariaas esterilizagdes cirtirgicas | que realizar. Pena ~ deteagio, de seis meses a dois anos, ¢ rulta. 1, Sujeito ative. O médico cirurgido que realizar a esterilizagao cirdrgica. Trata-se de crime préprio. 2. Sujeito passivo. A coietividade. 3. Notificacdo obrigatéria. O art. 11 dispde que “toda esterilizagSo cirdrgica sera objeto de notificag’io compulséria a direcao do Sistema Unico de Saude”. Esse foi o meio que a legislador encontrou para controlar e fiscalizar a realizagao das esterilizagées cirdrgicas. Assim, esse delito consiste no descumprimento da norma contida no art. 11 desta lei. 4, Norma penal em branco. O presente tipo penal configura uma norma penal em branco homogénea homovitelina, pois para a sua aplicacdo e sua interpretacdo precisa ser complementada pelo art. 10 §4° desta lei. 5. Crime omissivo. A conduta tipica consiste em “deixar o médico de notificar”. Tra- ta-se de crime omissivo prdprio, uma vez que o agente deixa de agir, omitindo-se, quando deveria agir para notificar 3 autoridade sanitaria as esterilizagdes que realizar. 6. Consumagio. O delito consuma-se com a omissdo do médico, 7. Classificagdo. Crime proprio; formal; doloso; omissivo proprio; instanténeo; ndo admite tentativa por ser omissivo proprio. 8. Infragdo penal de menor potencial ofensive, Tendo em vista que a pena maxima ndo é superior a dois anos, trata-se de infragio penal de menor patencial ofensive fart. 61 da lei 9.099/95). 9, SuspensSo condicional do processo. Cabivel, pois a pena minima cominada nao ultrapassa 1 ano (art. 89 da lei 9,099/95). 903 LEIS PENAIS ESPECIAIS - Gabriel Habib Art. 17, Induzir ou insti | { Pena — reclusio, de um a dois anos. | Pardgrafo tinico - Se o crime for cometide contra a coletividade, catacteriza-se como genocidio, aplicando-se o disposto na Lei n® 2.889, de 1° de outubro de 1956. t F dolosamente a pritica de esterilizacia cirurgice. be ee ee ane eee wee ee I 1, Sujeito ativo. Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, pois 0 legislador nao exigiu nenhuma condicgo especial do sujeito ativo. 2, Sujeito passivo. A pessoa submetida a esterilizagdo cirurgica. 3. Induzir ou instigar. Na conduta /nduzir, a vitima no cogitou a possibilidade de realizar a esterilizagao genética, eo agente incute essa ideia em sua mente. Na conduta instigar, 2 vitima jé cogitou a realizacao da mencionada esterilizacao, e 0 agente reforca, alimenta essa ideia em sua mente. 4. Norma penal em branco, O presente tipo penal configura uma norma penal em branco homogénea homovitelina, pois para a sua aplicacao e sua interpretacao precisa ser complementada pelo art. 10 §4¢ desta lei. 5. Tipo penat misto alternativo, Caso o agente pratique mais de uma conduta descrita no tipo penal, respondera por um delito apenas, no havendo concurse de crimes. 6. Principio da Especialidade. Se a indu¢do ou a instigagao 4 realizacao da esteriliza- ¢do for para fins de concessdo de emprego, a conduta configura o delito previsto no art. 22, II, alinea a da lei 9.029/1995: “Constituem crime as seguintes praticas discriminatérias: Il a adocao de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem; a} indugdo ou instigamento a esterilizago genética’. ™ Consumacao. 0 delito consuma-se com a pratica das condutas de induzir ov ins- tigar a vitima a pratica da esterilizagao cinirgica, mesmo que a vitima no venha a efetivamente submeter-se a esterilizag3o. Trata-se de crime formal. 8. Pardgrafo unico. Caso a indugae au a instigacdo seja dirigida a coletividade, estard configurado o delito de genocidio previsto no art. 18, allnea d, da lei 2.889/1956, que tem a seguinte redagdo: “Art. 1° Quem, com a Intengdo de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial au religiose, como tal: d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; serd punido: com as penas do art. 125, no caso da letra d”. A previsio do pardgrafo Unico é absolutamente desnecessaria, uma vez que a tipificacao na lei de genocidio é uma decorréncia do principio da especialidade. 9. Classificagdo, Crime comum; formal; doloso; comissivo; instantaneo; admite ten- tativa. 10. Infrago penal de menor potencial ofensivo. Tendo em vista que a pena maxima no é superior a dois anos, trata-se de infragdo penat de menor potencial ofensivo {art. 61 da lei 9,099/95), 11, Suspensdo condicional do proceso. Cabivel, pois a pena minima cominada nao ultrapassa 2 ano (art. 89 da fei 9.09/95). 904 Planejamento Familiar. Lei n° 9.263, de 12 de janeiro de 1996 Art. 18. Exigir atestado de esterilizagdo para qualquer fim, Pena - recluséo, de um a dois anas, e mutta. 1. Sujelto ative. Quaiquer pessoa, Trata-se de crime comum, pols 9 legislador no exigiu nenhuma condicac especial do sujeito ativo. 2. Sujeito passivo. A pessoa de quem o atestado € exigido. 3, Exigir. A conduta exigir significa ordenar, impor como uma obrigacao. 4, Norma penal em branco. © presente tipo penal configura uma norma penal em branco homogénea homovitelina, pois, para a sua aplicagao e sua interpretacao, precisa ser complementada pelo art. 10, §49, desta lei. 5, Principio da Especialidade. Se a exigéncia de atestado de esterilizagao for para fins de concessio de emprego, a conduta configura o delito previsto no art. 2%, 1, da lei 9029/1995: “Constituem crime as seguintes praticas discriminatérias: a exigéncia de teste, exame, pericia, laudo, atestado, declaracao ou qualquer outro procedimento relativo a esterilizagdo ou a estado de gravidez”. O tipo penal ora comentado constitui, também, especialidade do art. 146 do Cédigo Penal por tam- bém consistir em uma espécie de constrangimento ilegal. Com efeito, em ambos 05 tlpos penais, 0 agente realiza um constrangimento sobre a vitima, sendo que no art, 146 0 constrangimento é realizado por meio de violéncia ou grave ameaga. No tipo penal ora comentado, 0 constrangimento ¢ feito mediante a exigéncia, por parte do agente, de atestado de esteriliza¢do para qualquer fim. 6. Diferenga para o art, 17, No art, 17 desta lei, 0 agente apenas induz ou instiga 0 sujeito passivo & realiza¢So da esterilizagdo. No artigo ora comentado, o agente exige o atestado de esterilizagao. 7. Consumapao. 0 delito consuma-se com 0 ato de exigir. Basta a exigéncia para a consumagia, mesmo que a vitima nao venha a entregar o atestado ou a realizara esterilizagdo. O crime é formal. 8. Classificagao. Crime comum; formal; deloso; comissivo; instantaneo; admite ten- tativa. 9. Infracdo penal de menor potencial ofensivo. Tendo em vista que 2 pena maxima no é superior a dois anos, trata-se de infragSo penal de menor potencial ofensivo (art, 62 da lei 9.099/95). 10. Suspenso condicional do pracesso. Cabivel, pois a pena minima cominada nao ultrapassa 1 ano (art, 89 da lei 9.09/95). ‘Art, 19, Aplica-se aos gestores e responsaveis por instituicaes que permitam a prétice de qualquer dos atos ilfcitos previstos nesta Lei a disposto no caput ¢ nos §§ 1° ¢ 2° do art, 29 do Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Codigo Penal. 905 LEIS PENAIS ESPECIAIS - GabrietHlabib 1, & 906 Concurso de pessoas. 0 art. 19 determina a aplicag3o do Instituto do concurso de Pesseas previsto no Codigo Penal a esta lei, Trata-se de norma desnecessaria, uma vez que a aplicacdo do referido instituto decorre dos fatos praticados, e ne da forma. Assim, caso algum delito previsto nesta lei seja praticado com a contribuig&o dos gestores e responsdveis por instituigdes que permitam a sua pratica, haverd a incidéncia do institute do concurso de pessoas, independentemente da previsio do art. 19, Art. 20. As instituigdes a que se refere 0 artigo anterior sofrerao as seguintes sancBes, sem prejuizo das aplicaveis aos agentes do ilfeito, aos co-autores ou aos participes: 1 ~ se particular a instituicdo: A) de cuzentos a trezentos sessenta dias-multa ¢, se reincidente, suspenso das ativi dades ou descredenciamento, sem direito a qualquer indenizagao ou cobertura de gastos ‘ou investimentos efetuados: B) proibicao de estabelecer contratos ou convénies com entidades pablicas e de se bene- ficiar de créditos orlundos de instituigBes governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista; Il- se publica a institui¢ao, afastamento temporério ou definitivo das agentes do ilfcito, dos gestores ¢ responsiveis dos cargos ou fun¢ées ocupadas. sem prejutfzo de outras penalidades, Art. 21, Os agentes do ilicito ¢, se for o caso, as instituigdes a que pertencam ficam obriga- dos a reparar os danos morais ¢ materiais decorrentes de esterilizagiio nio autorizada na forma desta Lei, obsetvados, nesse caso, 0 disposto nosarts. 159, 1.518 ¢ 1.521 e seu pars- grafo unico do Cédigo Civil, combinados com 0 art. 63 do Cédigo de Processo Penal. Sango civel e administrativa. Os arts. 20 ¢ 21 trazem sangdes de natureza civel € administrativa aplicadas as instituicdes a que se refere o artigo anterior. Tais sangdes podem ser aplicadas em conjunto com as sangdes penais previstas nos tipos penais, em razio de possuirem naturezas diversas, sem que isso implique bfs in idem. CAPITULO II ' DAS DISPOSIGORS FINAIS Art, 22, Aplica-se subsidiariamente a esta Lei o disposto no Decreto-lei a° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Cédigo Penal, e, em especial, nos seus arts. 29, caput, ¢ §§ 1* ¢.2% 43, caput ¢ incisos I, He JIT: 44, caput e ineisos I ¢ Ie Ill e parégrafo nico; 45, caput e incisos Le Il; 46, caput e pardgrafo ‘nico; 47, caput ¢ incisos LIL Ill; 48, caput © pardgrafo tinico; 49, caput e $$ 1" € 2%: 50, caput, § 19 e alineas e § 2°; 51, caput e $§ Ite 2s; 82; 56: 129, capute § L*, incisos T, Ie ITF, § 29, incisos I, IIT e TV e§ 3°. Ast, 23, O Poder Executivo regulamentard esta Lei n. prazo de noventa dias, a contar da data de sua publicacao. Art, 24, Esta Lei entra em vigor na data de sua publicacao. Art. 25, Revogam-se as disposig6es em contrério.

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