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Paro Beatie ¢ Clin, companheivas de muatas viagens. CaiTRT Bon iy tao Prepare aries acto Se Toes as den sig sere a ards Pd 932 1NSI2002-— Sia Pale ve “fee: (1) 3707-500 secon cme 13 A FANTASTICA VERDADE DE CLARICE Um repaz ¢ uma moga estio & procura de alguma coiss Acham uina casa. O objetivo da busca era vago, mltiplo, carn biante, © objeto encontrado ¢ incscutivel, incontorndvel. Dese- javam chegar, um dia, a algo que preenchesse suas expectativas, ‘que sespondesse a suas perguntas, Inaginavam que a iso chege iam progressivamente, que a meta seria atingkla como una re- ‘compensa, que o objoto conquistado seria finalmente colhido por ‘les com 0 gesto lento, seguro e modesto das pessoas morecedo- ras, Mas 0 objeto aparece de repente, brutalmente; e ¢ aterrador. (0 rapar.e a moga 6 souberam 0 que procuravam depois de (er encontrado 0 que nao queriam. Na verdade, encontraram aquela casa nao porque a procu- ‘rassem,mas porque tiveramt a imprudéncia de levar, no resto, uma pergunia, "Como diriam as pestos mais velhas, ‘cles estavam ten- do 0 que bem mereciam”. Diante da casa vetha, alta, aban- donada, eles sao tomades de espanto, de angistia, de terror. Ate a, nada de muito especial. Hansel e Gretel, Jo3ozinho e Maria Que uma velha casa abandonads provoque soasagies de sagradkveis, 6 bem compreensivel, A casa vavia 0 arvuinada tr Inedistamente, a reflexto sobre o desaparecimente Ue seus babi ‘antes e, por conseguinte, a idéia de nosso prépria desapsarecimen fo, num futuro subitamente proximo. A duragao e a yobresivencia de nossas coustrugdes evidenciam, cruelmente. a brevidade de fossa vis. A sensaglo que o homer passer recche de objeto estivel é hunhante, agressiva, E,se o objelo esi, ele msn, et ‘unas, a morte nao ¢ simplesmente o fruta de um rsviovinin. chi & habia A casa em rufna € forgosamente evasion ‘A casa mal-assombrada € um topos litera. (ass, o tema 9 rats comum das histrias de terror: Imimeras obras ltenirins foram eriadas a partir desse medo da casa assombrada, um sent mento que pode percorver uma vasia gama, desde o simples ma: estar até o verdadeiro pavot. Dols exemplos de ocorréncia desse ‘topes vio sjuslar-nos a entrenta 9 casa de Clarice ( primeito exemplo se encontra no conto “A estranha casa alta na bruma” [*The Strange High House in the Mist), de Love- craft’ E como obra média, quase estereotipads, que 0 conto nas ppormitird ver algumas constantes que acompanhamn @ toma ta li- {etatura, para examinar, em seguida, o que dele fax Clarice. (conto de Lovecraft uma verdadeira histéria de terror, que se passa nunia casa realmente mal-assombrada, Como tal elt mio poderia ser mais perfvla: exgue-se no alto de um penhasco, & beira de um abismo; estd sempre envolla em brumas; é habitada or fantasmas e, como se 180 ndo hastasse, outros sores sobrena- turais, ainda mais inguictantes do que os fantasmas doméstivas, rondam 8 sua volta. F,efetivamente, “a queer and vety disturbing ‘howse” {uma casa estranha e muito perturhadora] (p. 234), ‘Toxlos os elementos que compsiom 0 topos casa mal-asom- Dada, assim como todos os operlores habituais do fantésticn, encontraro-se em Lovecraft de modo excmplar, O primeira desses ‘operadores é o mado de aparigio da casa para a personagem. A. casa aparece de repente ("suldenly")xinterrompenda wm quoti= digno banal (“se sameness of his days"), O avontecimento se ex prime num verbo no passido perfeita, que rompe 0 connimsum Preparado por varios imperfeitos, Taos 0s tesricos do fantastico assinalam a repentinidade do acontecimento inexplicive, “a in- tnusio brutal do mistério no guado da vida real".’"a irrupgo de inadmissivel no seio da inaltervellegalidade quotidiana’ * [Esse operador se encontra no conde Clarice, Suas persona: sgens, que se aborreciam e se impacientavam numa rotina mais ov fenos partfhada, acham-se We repente diante da cas (0s dois andavam ra ealgadaesburacida que mal os oath de to tsirelta Ela fez um movimento — ele pensou que ela ia atrvesar a rae deu um passo para seguta — ela se voltou som sabor de que lao ele estava — ele recuoe procurando-a. Naquele minim ins: Fane em que se busearam inguitos, viraram-se a0 mesmo tempo de somaya os Gmipos —e ficaram de pe uate dacs [Ja eo tava ia pert como se, Sando do naa, Tes ose gaa aos alos sata pede. 97) 160 [Nas Uts piginas seguintes, a referéncia & repentinidade de acontesimenta ¢ reiterada (© que os tornou de sabico muta pequenos [38 Fovir ambos haviam inesperadamente alcangodo a meta © es tavam diante da esfinge [p. 3. ‘A moga desviou subitamente 0 ost, io nfl queso, 0 ine liz que semore fa, as aula acabaramn, todo aeamou! [fp 33). ‘A moca havia subtamente voltado 0 rosto com um grin, uma especie de solugo ou toss [p40 Essa aparigio subitae detinitva € a intromissao brutal do pas saudo da casa no presente das personaens que, perdendo suas ofe- ‘éncias temporais, vacilam. O pasado-presente precipita um fi- turo indesejavel: 0 passado morto aponta para a morte Futura, tor nada iminente. A casa de Lovecraft, como a de Clarice, estava cheia de “rumours of old mes” [rumores de velhos tempers: um ‘rumor que & igual ap silencio: “aquelesiacio de enforce tran= alo” (p. 38), Exzendo irrapgdo no presente, o passado o ania. A expe rigncia da personagem de Lovecraft, na casa mal-assombraula, se passa num tempo indefinide, um tempo de sonho dio qual ms tarde, ele mal se lembraré. |As personagens de Clarice seatem imediatamente que o passado da casa engole seu pre do acabou!” — e ameaca seu futuro: Foxando aquola coisa ergida to anes deles nasscrom, cs ovis secular e ji esvazada se setigo,aqula coisa vind dn passa (Mas eo fature?! Oh Deus, da-aos o nomo feu! [| Oh DD, nos deixeis ser flbos dese passado vari, emtepi- ws fu les queria ser lbs. Mas no dest endarec csc fatal, les ‘no compreendlam 0 passado: ob lvri nos do pissin, clin nos ‘cum o nosso duro dever [p38 Assim como o tempo, 0 espaco torna-se imeliatanente in- definido. Quando 0 tempo, movimento entre dois pronto, se ach anulado, © 0 mesmo ponto € iavestido de vir eamadas tempo= ras, oespago se torna aim All around hin war cloud ad chaos and he cout se ahi below ‘he whienes of inane space p. 234, 16 filled with the magic of unfathomed voids of time and spoce [2351 AAs personagens de Clarice acham-so privadas de espaco, tanto ‘quanto de tempo: Eres mat tnam espago para olhi-a, imprensados camo estavan na calgads esis, entre movimente ameagador Gor dnb ew a= tildade ubsolatamente serena da eos [p37 A.casa é um buraco negro, uberto para un outro espago e um {ro tempo, negativos. "Nos dois contos a reagio das personagens (¢ do leter) étipica do género fantastico: a hesitagdo entre uma explicago racional, tranguilizadora, © uma incomproensio insuporlavel, ameage de sobrenatural’ No conto de Lovecraft, ouvem-se gritos que “posde- ram ser" de gaivotas, vé-se um aevoeito que poderia ser aquele Inabitual na Nova Inglaterra etc. ‘A casa de Clarice também & encarada, ora coma normal, ora como anormal. Buscem-se as explcagses pacificadaras: ‘Tratavase apenas de uma casa vetha © vaza [p35] Era grande, arg e alta vomo as cass ensobradadas do Rio at 20lp.3 Apensy ums eas grasa, Cosa [J] P38) Mas essas frmulas restrtivas, apaviguaates, resvalam, impercep- tivelmente, para a divida inguictante: ‘Quer? quem a constr, levantando agucla eit peda por pe fra, aquoa ctoural do me sofiiieads?! Ou fora tempo que se ‘oars em pares simple es dera aque a de estrangulamento, quel silcie de ertoreado tango? |p. 38), © narrador conna a vasa inquietante pelo recurso A personil ‘eagao: “A casa era forte como um hoxeur sem poscogo"; “a casa cra angustiada”; “Um sobrado como quem leva a mao a warganta” (p. 38). Ela tem “olhos” e fal (C) Bm vot dle, de ea nave e cao ee conseguir ae da brancure do pag ado: prvncido om 9 mit de naan aon fe empo esas 102 Eu sou eafim a prépria coisn que yoots procurwvam, die ema srande Ee mais engravado ¢ que nfo tenho sepredo aendum, diss beta grande as. 38 © “fantéstico” de Clarice nasce dizetamente dos process retricos utlizados na descrigdo © na narragio, 1éenia assinalada por Todorov com tipica do diseurso fantistio: © primero t¥8g0 levnlado ¢ um certo emprena de discus f ura. sobrenatural nascefreqentemente do fat dese tomar © ‘sentido igurado 40 eda letra, No conto de Lovecraft, 8 hesitagio vai ser deseita pele en- lrentamento com o sobrenatural: no de Clarice, a divida vai ser dlesfeita por uma volta aa veal, O rapaz reage & fascinagio da cast © retoma pé na realidade: Mas esta (ola prt sotider que ele encontzou pars si mesmo, Agertandose @ esta primeira tabu, pide vollar camPalesate tons, e como sempre antes da maga. Veltou antes del, e vi una ces de pé com Um cirtsa de “Algae”, Ouvit 0 éribus 8 sts costs, viu uma cata vaza, 0 se Jado a moga com um roto doe tio, procurandoescondéie do homem 4 acurdac |. [p. 0] © sobrenatural esti definitivamente exchutdo, Mus haverd, na historia de Clarice, em terceiro momento, uma revirada que Iraré ovamente a angistia, nao mais como angistia da diivida © sim como ania a verde. A isso vollaremes. Existe, na historia da literatura, uma ovtra casa — eéleby ta — 2 qual podemos eomparar a casa de Charice: a casa Usher. de ‘Edgar Alian Poe. A aproximagio tem, nesse caso, uma justiicat ‘va maior: Clarice reescreven esse conto de Pov, pat una popular de “clissicos adapiads",” Fim “A queda da Casa de Usher” [The Fall of dhe Hine uf Usher" encontramos igualmente, mas de mod mais complese, (0s topo? do fantéstico, ja evoeados: ¢ narralor personiyetn se et contra de repenie diante da casa; esse uontecimente se oereve como uma rupiurs no fuxo normal do temp enfaticamente ass ralado no inicio da frase (da, estago, ano 163 During the whole of a dl dark ond sounds day Ue he aun of the year, when the clo hung oppressive ow in the eaves, Thad bean pasting aloe [and at lenght found myst] within view of | the melancholy House of Use p15)" Antes de deserever a casa, 0 nartador lala da sensagto que ela provecava: now not how i eas — but, with de it sins of the building, a sonte of insufferable, becauve poetic sersinert. wih whic the mind faualy revives even the stemes! natal inages of the desolate or tribe Esse sentimento, (20 imediato quanto a aparigao da casa ‘exige uma explicagio, ¢ narrador hesita entre as razbes naturais, ‘ens cuss misteriosas War was t — 5 poused o skink — what was har 0 unnerved vie in she cantemplation ofthe House of User? [there ate combina finns of very simple naural objets which have The power of Us af {octing us stl the aah fis power les mong considerations ‘exon onr depth [p. 119-20, E, mais tarde: “Shoking off from my spirit what must have heen a dream J" Ip. 122)°°" (0) tod orcs da cto cin ques a Segue ads fora ei dod: ugar Als Poe iste exnaorin ad de Bren Sivek € ‘utes, Sto Pans Ciao vs “Durante ud aeica de est, Ee pina cu [sora [alte Re encore) ate ds mctseicn rode shen (G2) Nios cm ai — nso primo oar ana coasts ms sensi de impute riser me ira 9 eto, Dig fesapera, pos soe sentiments np om atoms por asa emxse grade, roo oda, em gue om epi ree cm era sno anes LAS HE ‘erie dsogio edo (=) "ue sa aqulo — davermea pensar — que era aq gue cto rae enervan, a0 contmpar a Cre de Usher? Lo Lefuem [-] combines de ‘his aarals mate staples ue tem oper de actar nodose modo carbo {hind desc poter se howe em cnsderggea que eam demas ape “Atesiando de meu epitome pei sr sen um sno 164 (© fim do conto, como se sabe, sponta, seri pata satel ral, pelo menos part o extraordingeio. Depois de te pa terrveis mistérias da casa Usher, © narrador a abandoma ¢ a vl ‘uns instantes depois, fenderse ¢ desmoronar, mergulhande 0 Pntano sobre o qual se clevava, Tata-se de um desaste excessive pata poder ser explicado por causis naturis;a fenda antesiormente rnotada no edificio, ow a tempestae que cai nesse momento nao sto casas suficientes para o deseparecimento total de uma casa 'As semelhangas eatre a casa de Clarice « a casa Usher sto tantas qe poderfamos falar do intertextualdade. Alguns detalhes ‘io quase iénticas: “he vacant and evestike windows” [2s janelas vacias e semelhantes a olhos) {p. 120) tarnam-se, no texto de Clarice, “redondos olhos varios de estétua” (p. 39). “The disco ‘oration of ages had been grea’ (°A descoloracao das eras fora grande"), esereve Poe (p. 122); e Clarice: “A casa devia ter tide ttm cor, E qualquer que fosse a cor primitive das janclas, estas fram agora apenas velhase s6lidas” (p.38), TAS das casas apresentam im coniraste entre uma extrema tnlighidade © uma miraculosa solidez, Poe fala da “excessive an tiquity” da easa Usher, mas observa: “Beyond shis indication of e tensive decay, however, the fabric gave lle wken of instability” Acasa de Clarice é também fragile sida ao mesmo tempo: res ‘era uma casa quebrada, como dia uma erica, vs. Uma grande casa caraiza [p37] Mal laser, ea casa desabara. ‘Aiea eraforte [1 quela poténcia anti. [p. 38. Se examinarmes a adaptagio do conto de Poe por Clarice veremes que a8 transformagbes por cla introduzidas aproxinam- ho ainda mais de seu prdpria cont, 'A versio de Clarice comega da seguinte forma: “Agora cu ev tava num beco sem saida” (p. Is) Tal frase, ou seu equivalente ni existe no texto de Poe. Mas cla exprime exata e abruptaments ‘oque a personagem de Poe vai peroebser mais tarde, © que os ado leseentes de "A mensagem” sentem imediatamente: 4) "Afra eu ing do entemiv dcatle, «ces mo apmsentava sel algun de sabia 105 Alta dees Guibas, frente casa — no havin como no ests al Se rcaassem seriam stingidos pelos Onibus, se avangassem eo barrariam na monstruosa casa Than sido eapturads [p.37-8 A longa passagem em que o narrador-personagem de Poe ten: ‘a explicar o sentimento provocada pela casa Usher transforan 0, na adapingio de Clarice, num eurtn pardigrafo em que, mais do {ue simplesmente resumir, ela alter as conchisbes da rellexdo, O narrador de Poe levanta uma hipstese racional, mos diz express mente que o misterio era totalmente insolivel, que a anilise da fotga produtora daquele fendmeno jz sobre consideragdes que nos ultrapassam. Ora, om sua reescritura, Clarice afasla decid mente qualquer apelo ao sobrenatural Era um astro que parecainsolivel, Nem canteguis Ita contra 1s sobriasvistes que se amoatoavan sobre nim enguanto psa naquilo. Refei hem. Chega conclusio de que, eros hab ‘ombinacio de simples jets, com a pader de aoe afta asia anilise dese pader basta para modificor on ale des ua ca pacidade de inuenciarp. 107 [eto now [Nao &, pois, uma adapragio, mas uma leitura que interpreta ¢ modifica, que resolve a questio no sentido da explicagia racional. E um dltimo paralelo entre 0 conto de Poe e o de Clarice nos por mitird ver as diferengas fundamentais de projeto de yénero entre 10 dois textos. No fim do conto de Poo, hé um vento que turbilhona {there came a fierce brewh of the whirwind”.* p. 11), enguanto a casa mergulha no pintano. © fim do conto de Clarice contém um pen- dant a essa imagem de Poo: “a mensigem esfarelada na posita {que 0 vento arrasteva para as prades do esgoto” (p. 43). Nao € a casa de Clarice que desmorona e desaparece, mas a mensager, 10é, 0 sentido da casa, ‘0 leitor j6 havia compreendido (com a ajuda do narrador) que a cass nfo era sobrenatural, e comecara a Ila como uma, alegoria. Ora, a alegoria tem um sentido cifrade, mas, uma vez dominado 0 céiigo, esse sentido & perfeitamente decifrivel. O texto havia entreaberto varias possbilidades de interprelagao, ¢ 0 nnarrador nos convidara a adoté-las. Uma leitura psicanalitce: () Lo somo lena ada soto rede 166 ‘casa é um desencadsador da volta do recalcado, a angistia que cla provoca é a da castragao. Seria um caso tipico de Uneimliche: “o que doveria ter ficado escondido, secreto, mas se manifesta" “a volta de um afeto transiormado em angustia pelo recalque’ (© narrador dissera que se tratava da “parte secreta deles mes- ‘Uns Ieitura sociolégica: a casa representa 0 mundo dos bur ueses adultos, 0s velhos ¢falsos valores que os jovens recusam, ‘mas que serdo forgados a acetar, cedo ou tarde: Um pedia muito do outro, mas & que ambos inham # mesma caren cia, © jamais procurasiam um par mals velho que Thes ensinasse, porque mo eram deidos de se entegarem sem mais em menos 20 ‘neo feito [p34 © narrador nos convida a interpretar a casa como uma am- pliagdo simbélica assustadora das casas “normals”, Sua aparigio & precedida de uma referdneia &s casas dos adolescentes A ina aula os deixava sem futuro e sem amarras. cata um de prezando 0 que na casa matua de ambos a fans thes smseg- ever como futuro e amor eincompreensao [p36] Ou uma leitura sdcio-psicol6gica: 0 acontecimento revela € fetua a separagda (hostilidade) dos sexos, defininde os paptis so- ciais respectivos do homem e da mulher’ E 0 rapaz que volta & azo, apoiando-se nos gestos correntes da masculinidade, en- {quanto 8 moga, humilhada, assume sua feminilidade como fraque- zaedesvario: FEntio, com mio inert, acendou sem naturalidade um cigaro,co- mo se ee fosse a outros, yocorrendo-se dos pests que a magonarit ‘des omens Ie dava como apoio ecarinho. F ela? ‘Mar a moga sia de tudo iso piatada com batom, com rug meio manchado, eenfeitads por um colar azul Plumas que um o- ‘mento anes haviam feito parte de uma stuagdoe de um futuro, mas ‘gors era como so cla no tives avado o Fosto antes de dori € fcordasse com as mareas impucicas de ume orga anterior, Pos el, ‘ota e mela ra una mulher [p40], Dai, poderiamos passar facilmente a uma letra feminista, para a qual o conto oferece todos os argumentos, 107 Mav ever o letor entrar por essas portas escancaradas,es- Joa ironia com que o narrador insinua e anula esses do- os? A Feitura psicanaitica & a0 mesmo tempo sugerida © 'Nio, 0 dos no exam propriamente neurticos ¢ — apesar do gue ‘les pensavam unt do cute vingativamente nos momsenios de ml ‘eontidahostilidade — parece que a psicanaie ndo.os resolver to talmonte. Ou talvee rexolese [p 37). Por outro lado, a letra socioldgica se pareccria eomicamente ‘com as interpretagées dadas pelas préprias personagens a seus problemas, e que 0 conironto com a casa pulveriza: "Desst vez, femudecidos como estavam, mem lhes ocorreria acusat a sO" cidade” (p. 40), E, sobretudo,o canto nio se resolve com a volta a0 real, onde 1s eoitas se explicam psicalgica ou socialmente. A angistia re- fnasce nas personagens sob uma forma mais grave, definiiva, n- sobivel, deisando, no Ieitor, um grande mabestar. Vemos, entto, {que 0 conta jogara com os zopoi do fantastico, tornara-se simples” mente estranho ao efetuar a volta & normalidade, tomtande ares de alegoria psicoldgicae social; mas que ele acaba por desmentir todas essas leituras, pelo menos como decitramentos detinitivos «da mensagem, 0 conlo de Clarice & mais perverso do que qualquer conto fantastico. A “perversidade” clo fantdstico consiste em colocar #s personagens (¢ 0 leitor) nur estado de mal-estar decorrente da Ighordncia de uma explicagio ligica. Fntrotant, no fim dos con= tos fantéstios, 0 pesadelo termina: quer a personagem morra, {quer escape, «historia acaba. O leitor, por sua vez, Fecha o livro ¢ volta a suas ocupagdes habitus, allviado por no ter vivo ele mesmo aquela aventura, Era apenas unva “historia exteaordind rin”, puja inquietante estranheza foi superada." {© conto de Clarice, poréim, nao fibers o leitor no seu final Sus histiria ndo ¢ extraordinaria,e sim aterradoramente comum. | E ocoqum no pote ser superado, porque ele no comporta wit verdade, mas 6 verdade. © real sobre 0 qual se abse a casa de (Clarice permanece escanearado, a mensagem que ela entrega no lem sentido, contude as personagens (@ 0 leitor) a recebem assim wesmo, Essa mensagem nao di medo: angustia, © modo est cit- 168 cunscrito num tempo: assalta-nos de repente, intensifiea ss até desenlace, quando se enfrenta um perigo real ou se descobre 4 cste era apenas aparente,c cessa finalmente. Mas 8 angistia & du ragio indefinida, © esta é a experiéneia vivida pelo rape in historia de Clarice, ao vé-la resurgi,e pelo leitor, ao ver contra ‘ada sua expectativa de um sentido final da mensagem. Enquanto alegoria, o conto nos captura num citculo vieioso. O sentido da casa, sua mensagem, & angst, O narrador 0 diz, quan ddo prenuncia 0 acontecimento: “Talvez [.] esperassem algo que slmbolizasse a plenitude da anguistia” (p. 36), e quando o contfima: "A casa cra angistia € ealma” (p. 38). Se nosso deciframento se limita » descabrir que @ eata representa a angst, nfo estamos mais adiantados no fim do conto do que no comeso, jé que, mas primeiraslinhas do texto, 2 soluglo do “onigma” estava dada: "A Principio, quando a mioga disse que sentia angisia[ Eniretanto, o conto simula uma linha na Sua estrutura ¢aquela, arquetipiea, de uma histéria de busea: uma busca progressiva que desemboca ium objeto encontrado, numa sequéncia culminante apds a qual a situaglo do(s) herdifs) se modifica. © desenvolvimento da intrga é mesmo sublinhado pelo itso insistente, feito pelo narrador, de referencias temporais, que cescandem a acto: A principio [p31 ‘voluindo mito [| [p-3t) Ble passou a tata como camarada la mesma também passoua[][p. 22 ‘Aos poucos compactuarn[p 2) Até que fp. 2]. E 20s poueos [p32 «isso sgnticava tempo que ia passando. Meses mesmo [p23] BE spesar da hana ene ambos se torar radatwamenie mais intesa fo [p33 ‘tempo passva ini urgéncia es chamava [fp ness intorin a ternpoia pasando [Ip 35) ‘© campo ia pasando [TP 61. Até 0 “de repente” do acontecimento: *Naqucle misime instante ‘erm que se bussaram inguitos,viraram se ao msn tepes e cost para cs Gnibus —e ara de pe diante eh ess |. (p. 37) Depois do lapso de tempo suspenso em gue a coatemplacso dda easn os captura, 0 rapaz retoma os gestos da vida eorrente, a 169 bles reingressam no tempo e se Separam definitivamente. A histériaestéterminada’? Nao, cla con {ina E, se exuminarmos a particularidade da busca que (azia “avangat” a historia, veremos que milo podia ser de outra forma, ‘Apesar da aparéncia de uma intriga progressiva, habilmente su Hinhads pelo narrador, no hi nenhum progresso. A ambigui- slate é mamtida gragas ao erro ‘das personagens, que acreditam es- (ar “evoluindo muito”, estar “ultrapassando” muitas coisas, estar Perto do “nxiximo”, erro ironizado pelo narrador, que sabe do er ¥o e conduz a historia de mado a comprovar que & « tempo, in- diferente ein, que os leva, Antes de examinar as ambiguidades da vor narrativa, dete- ‘nhamo-nos no abjeto da busca. Hles nao sabiam o que proc: rayam, acabam por encontrar a angustia. Ora, a angastia nao & um objeto, é um estado, precisamente aquele que os impelia a buscar ‘algo, Encontrar a angustia corresponde, pois, no eonto, a nada en- contrar. Depois do “méximo”, a angistia reaparece xinda mais forte. Toca a aventura das personagens so resumiria a passa de tum estado, ao mesmo estado? ‘A moga foge, “posse a correr desesperadamente para ao perder o énibus” (p. 42). O rapaz, por um breve instante, tem a ilusao de ter evoluido, de ter aleangado a condigao de homiem. O que dura poueo: Ele tina aeabado de nascer um homem. Mas, wal assume 0 set nascimento,e estava lamin astmindo aquce peso no pelo: al ssi a sun glia, © uma experigneia isondivel devaTie reir tun rg fp. Na verdade, seu estado depois do acomtecimento nie ¢ mais 0 de antes; € muito pior E angustin agravada, sem falsas espe- Fangas, sem possibilidade de teapaga. Ele sabe que permanece ppara sempre “em escuts angustiada, numa surdez de quem jamais ‘ouviaa explicagio”(p. 42), ‘Essa falsahistra famtéstica, essa aveatura de busca malogra- 4a, essa sleporia de sentido suspenso, tudo iss0 € conduzido por lum narrador esperto e mesmo cruel, Una Unica ver, ele € repre sentaddo na primeita pessoa: “o acontocimento de que lalaei”(p. 50). Embora ai pesonalizado, 0 narrador nao é participante. E onisciente, mas 56 quando the convém: revela es pensamentos & sciimentos mais seeretos das personagens, comenta-os ¢ alll 17 cao, indicando tee um saber maior sone eles eo que 38 proper personagens, Entretanto, no diz tudo. Uilvzanta, Heyiente ‘mente, os recursos ret6ricas da forma interrogativa © dubitativ, esse narradorironiza as personagens e brinca com o leit As perguntas colocadas pelo narradorficam sem resp ow agra Sum cn chopra mino, Ove mixin? tp. rn ino? [34] Tnekies? Coma? fp. 3] cou resebem rsposiasevasivas: (ve ana, us sles guia? Ele sabia [34 © ue gata, qu queria? Qui apendse Apreader © ut? ech un desta. ‘A austnea de esposta parece deverie, até certo pont, dig rorineia ou 8 confusdo das propriaspersonagens uja vor interior ‘ nurrador estaria assimindo, Mas, eit vitios momentos, fica clare que onarraor sabe mals do que eli Ali nto apeofondavar nade, como soo houvest tempo, come ‘Seisiom eubar Gewals sobre as quai tocar dens, Nio pertebendo quedo ocean gevuma sé] ¢ hava apele ‘ilo cone sudo qu nnguem Is dia que ro umordeseape rado sora picdade [1 Ip. 31 Rovelando assim, virias vezes, seu saber maior e sonegando, 20 ncsma tempo, informagdes conclusivas, usando fartamente os “alve2", © narrador reduz o litera uma indecisto (ou a uma tolice) tio grande quanto a das personagens, A Ieitura € uma busea cega de ‘um sentide sempre dado, ansloga& busca das personagens. (© narrador dispoe, ainda, de varios saberes pontusis, dteis para a interpretacio dos problemas; ele fz alusto a esses sabores, Sem ilied-ios de fato para um csclarccimento: a psieanslise, no Urecho ja citado; a Linguistica, quando cle comenta 2s dilieakdaues de comunicagao Verbal entre 0 rapar-e a mogas a poxtica. quant fagoa da concepetio que cles tinham da poesia e de sou projeto de se tormarem escritores (p. 39) Esse saber do narrar, revelndo com parcimdnia,¢ um poder sobre o leitor, qc cle coloca, diante de seu texto, come as petso- ragens diante da casi, Comd esta, o texto diz: “Eu sou enim a propria coisa quo voces procuravam [..J. E 0 mais engragado € am a ny fenho sepredo nenhum J” (p.38). Como a eas, 0 tex ule Clarice nos transmite a “mensagem", e, como as personagens. fieamos na ignorincia de seu sentido itino, E come se 0a wor (a semelhanga da easa) nos dissese: “Virem-se, fagam diss ‘que puderen, ‘O narrador sabia, de antemio, » que era necessério para que as porsonagens fossem capturadas: , para cagilos. teria sido procso unis enorme cates muito Faroe muita labia, © ur earinho ainda mais cauteloso — um eainho que no os ofendesse — para, pegande-osdesprevenides, ode caput los au rede. E, com mais eautela ainda pira no despertéto, lv los astucosaments para o muro dos vciados, para @ manoj ae 4o; pois esse era o papel clos adultos e dos espe p35). Nao seria essa, também, a estratéyia do narvador com rel ao letor? Esse narrador distanciado, impiedoso, que pinga as tolies de suas personagens, sublinhando-as ou eolocando-as contre. aspas, esse narracior “adulto” ¢ “espido”, convid o leitor a identificarse ‘com ele. O leitor ndo se identifica com aquele rapaz pretensioso ‘nem com aquela moga tonta, aqueles “dois impostores” (p. 36) No maximo, ele se apieda ligeiramente de seu desarvoramento, adotando o mesmo sorriso superior do narrador. Até o "acomteci- mento”, nossa leitura € condescendente, uma Tetra de adulto {que se informa sobre um caso de psicologia da adolescéncia ‘Mas, assim que surge a casa, a inguietante estranhera da mes sa desperta a curiosidade do leitor, e essa cariosidade comega a im plicé-lo na hist6ra. O leitor se desenfatua & medida que poreebe es far, com as personagens, na ignoriincia do significado final da casa E, no fim do conto, vendo as personagens chegarem A condigaw de adultos coma os outros, isto é. de adultos definitiva- monte infelizes,o leitor sente que essa condigda ¢ a sua, que cle & feito da mesina came que esses sercs, ¢ que a Solidio e a caréncia so as suas, as de todos, Teriamos, nds também, perdido para sem prea "mensagem”? (Clarice nos pegou. Mamie! ‘A grande questi colocada por este conto é a questi da ver late e de sus telagdo com a Hinguagem, Todos os problemas de im cologia individual e de sociale, vives pels personages, ddepeadem dessa relagto. ‘Os dos jovens se caevatram, no ia, no sua palavrs angie. O relacionamento de Yolve dscursivamente: “Viu-se vomversando om ela |. enti poder falar sobre coisas que realmente importavam [..} Conver Sava também sobre Lvs 1" (p. 31). Amos 1ém via contin 2 ingens na vite do diftogo “le, 0 oxginal, ter enconte {o alguses que flava 8 sva lingual" (p- 32). ‘Ambos.verficam, progresivamente, que existe uma cle fasagem entre as palavrase as coisas “ALE que também pala tngsta fr secando, mostrande como ainguagem falada mentia (9. 32), Atibucm essa mentira aos “outros”, 05 mais ves. De sSnvolvem entao uma repusndncia peas palevras, todas goss, Socializadas « socalizantes. Mas o problema é que ado dispoem de outa lingua senao es ‘Ambo tian na verdad, zepugnéeia pela maioria ds paves, fo que esta lange de facitar es wma comuaieagto, j que eles ‘tinda nfo haviam invented palasras melhores: cles se desenten- tino constantemente, obstinades ras P35) a atibuigio da mentira aos “outros” & um ato de mité: (© coragie ofendido de ambos no perdowa a mentin ahea. les {tam snceros,F, porno serem merquinos, passavarn por cima do Gato de trom mutta faiidade para mentir =~ somo s© 0 que real mente importase Fosse apenas &sinoutidade de imaginag [> 33) Seu ical serin uma linguagem pura, original, Talver a ti ‘guagem literévia. Mas « palavra poesia também esta viciada: “am- bos havin nascido com a palavra poesia ja publicuda com 0 maior despudor nos suplementos de domingo dos jornais” (p. 34 5), Plancjam ser excrtores, mas, por conc=berem a escritura cam expresso, esta também mentiea Logo eles que, ns deesperaa espertena de sobreviver,j aha in veniada para sles mesos um fulec: ambos fam set ites, © om uma determiaagdo iio obstinads coma se expr 2 alms a Suprise enfin, se 930 supemise seria um me de i saber |quese mente na solo do prio corago [p29 3 A wendade 60 sees dtm quoter “Pls ambos queian. avin de tao, ttn lr pr exemplo toques cr ‘em msn 9 eu vor qutin a erage, por ior xe (p 32}A verdad cia pera coincdnce one ¢lngugem renege ene on Uucuso de das pesows“uineces Ea ‘oil & um fetimory do conto“ encanto dos dis na Is ais pa conn “here Danton coinéace pare ora gue “hd mut tempo | pes 1x SSE ce Agel Sel dn ere tov om tems de “coinidenca™ (p. 1). Ele mal pote cet “el needa scetag daeuineldénca” p32). ee na eis rier concdii derrd pone: “Proviravon sexe. ths, expectant, organo una comfnnagd da comprecos a Ghat clual gue nunc se epee (3) ‘sea oindonan uc coin a ais, é sev comm ecard Sob“ oo que haa smn 9 oa et de te $e sno o saat sm adores (p33), Seguros, pois Ia ov guise denentendendose ca Yr mils ne 0 Foment tlm yiese vt so meso tempo” vom ven 7A ease 8 comic seo, porque ela & "pit coisa" Ela muda (quan “na'é para nade das cs tormt mudos"A cass comuniza Som nguagen, dope es palin attapset itohamente "A can regia © cal tna Como plan enh for” (p38), A cas fr dese ‘omar dono seus dunes: oguiabertos, a exeroma unity do med ¢ do respaita eda ple santé daqueleYerdade. A.nus angisia ders um palo e colocara se fe deles — nem ao menos familiar come a palavra que ele t= ham se habituado a usar [p38 Mal alasem,e a casa desabera. O silcia de ambos detava 0 soba intato [p38 (© rosto do rapaz esavaesverdsado calm, eele agora nt ih enh ajuda das palavras dos euros: exalamente como temee riamente aspiraa um dia ennseguit. $8 que no costa com m= ‘Stra que haviaem nio poder exprini Verdes © natseados, eles mo sabetian exprimir. A case sin bolizava alguma eos que cles jamais paderia alcengar, mest ‘com tog uma vids de procara de expressio. Procuar # expresso, or uma vida iateira que fesse, seria esi um divertinento,amarse © perplexo, mas dveriimento, seria uma dverpénci que Pouce & owco os astria da perigosaverdade—e os salvar [p39 4 (Ou eles enfrontam a plena coincidéncia da perigosa veruade ‘ou divergem del, salvando se do riseo mas divergindo tambien uum do outro. E o que acontece. Cessa a coincidéncia de seu portamento o rapaz volta a tona anes da moga e, a partir da eparagio esté selada, Qs filésofos scmpre definiram a verdade como coincidéncia: conformidade de uma coisa ov de um enuncit- ‘do.com a fdeia, adequagdo de um julgamenco a seu objewo ete. To davia, a verdade da casa ¢ de outra ordom. As personagens conce- biam a yerdade como conhecimento, pensawam chegar # eli por uma aprendizagem, uma “iniciagdo” (p. 34). Ora, a vordade que cencontram no & conguista, mas stb acaso, Essa verdade é uma emergéncia, tal como a conhece @ ps ccandlise acanisna: \Verdadee saber aio so complementares. no fazom ur todo [| todo é 0 dedex do conhecimento. A bem dizer, ¢ apenes som 0 e179 Ata} de ser que nes preccuparaos, na verdade com tal, O saber que ‘alo faa cal fora S6 ha wn, nde se revels como supeesa." Para o psicanalista, a verdade & exporimentivel porém azo definivel “Nao temos nenhuma nogao do que é a verdade, ¢ énis- to que o inconstiente consiste”, Ela 6 “materalizagao intransitiva do signifcante ao significado”, ela € o inconsciente, 0 proprio real Ela ndo pode ser dita coda na linguagem, pois o inconseicnte na Fornece nenhumn eédigo utilzavel com vistas a um saber. mas ele & “depdsito, aluvigo da linguagem". Essa verdade, manifesta em surpeesa, € sempre incompleta (quem a suportaria toda?): “Da verdade, $6 temos um boeado. Um bocado basta: 0 que se ex prime, estruturalmente, por saber um boesdlo”, [As personagens de Clarice véem um bom bocado de verdade. ‘O que clas encaram (o que as encara) éa castragio e a morte. Fal- tasthes (falta-nos) o significado tltimo da mensagem porque esse significado é a filta, Como todos os grandes eseritores, Clarice ‘ni tem um conkecimenio da verdade, “mas um saber, isso sim, aos montes, até nio saber o que dele fazer, de encher os arnt Hi, entretanto, ume diferenga fundamental entre o que st ‘pete Clarice eo que postula Lacun, Para a psicanslise 6 hd a vor dade negativa da falta IE gue, com s verdade, ato relagbes de ammor pesivel, nom de cesamento, nem de uni lis, $6 i uma, clare, wwe quiseren 1s qu ela pogue, a castragto, de voots, Sv, e desta, nena pred." No conto de Clarice, ¢ exatamente por terem entrevista essa verdade sem piedade que us personagens se perdem. Mas havia ‘uma possibilidade de salvagdo. Para salvavomse, “as dus crian- ‘sas teriam de ser “subjugadas & conduzidas[..] por alguuma coisa mais poderosa que o grande poder que Ihes batia no peito” (p. 39). O que seria mais poderoso do que a casa, do que a verdade que ela era? No desenvolvimento do texto, 9 nartador insinua outras coin-

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