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Três Corações – MG
2012
VINÍCIUS EUFRÁSIO DE OLIVEIRA
Três Corações – MG
2012
DEDICATÓRIA
Ofereço este trabalho aos meus alunos João Paulo, Jefferson, Wanderson, Vitinho,
Márcio, Uibrini, Matheus, Eduardo, Larissy, Mayra, Vanessa, Lara, Savik, Maria Eduarda,
Gabriela, Rafaela, entre outros, que foram musicalizados no período de 2011/2012 e me
possibilitaram várias experiências relacionadas a utilização dos jogos como ferramenta
pedagógica para o ensino de música, sobretudo, da leitura musical.
Aos meus familiares, em destaque, minha mãe Luciana Passos Araújo de Oliveira, a
minha avó Maria Marcolina Passos, e a minha tia Juliana Passos Araújo; pessoas as quais me
ajudaram e me ajudam a superar todas as dificuldades encontradas no dia-a-dia.
Ao professor Gibran Mohamed Zorkot; pessoa que me impulsionou não só para a
música, mas também para vida, acreditando em mim não apenas como estudante, mas
também como ser humano, me aconselhando e me orientando, oferecendo ferramentas para
que fosse possível uma grande mudança em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Àquele que não posso ver apenas sentir. Por ter preparado todo o terreno em torno de
mim, por ter plantado a vontade de aprender, e ter nutrido minha vida e meu amadurecimento
com pessoas capazes de me ajudar a crescer. Pessoas estas que hoje somam
inimaginavelmente a melhor parte de mim.
Agradeço ao meu pai, Samuel, e aos meus demais familiares por existirem em minha
vida.
Agradeço a minha mãe, Luciana, por me suportar, me apoiar, amar.
À minha avó, Sinhá, por estar sempre atenta a mim, nunca deixar faltar desde as coisas
mais simples até um sorriso ou uma palavra de apoio.
Ao professor Gibran Mohamed Zorkot, pessoa que me incentivou desde o início e que
acreditou em mim quando eu mesmo apenas fingia acreditar. Ser humano que indicou
caminhos e direções, promotor de minhas maiores reflexões e aprendizados. Possuidor de
uma grande parcela de responsabilidade em todos meus feitos até o fim de meus dias.
Agradeço a toda equipe da Escola Municipal de Música Eunézimo Lima, da cidade de
Formiga, em Minas Gerais, sobretudo aos professores Moisés Menezes, e Daniel Menezes,
por terem me acolhido nos momentos de estudo e reflexão, por terem me ajudado na estrada
de aquisição do saber musical.
Aos meus alunos, professores e colegas de trabalho, por conviverem comigo e mesmo
que não saibam, por me ajudarem a me repensar e a me atualizar todos os dias.
Gostaria de agradecer imensamente as pessoas que passaram por minha vida,
sobretudo aos meus amigos, pois mesmo que não saibam, somaram grandiosamente na
composição do meu ser. Somaram com ideias, conversas, risos, choros, desabafos,
experiências, ou simplesmente com o seu existir ativo.
Gostaria de agradecer a minha orientadora Daniela Vilela de Morais, por me guiar
nesta pesquisa, por colocar questões, por me fazer pensar, oferecendo-me material para chegar
ao melhor resultado possível. E também, a professora Osmarli Emília da Silva pela
quantidade de dúvidas que me tirou, pelo apoio dado, oferecendo materiais de consulta e
conselhos magníficos, sobretudo, seu tempo e atenção a mim e a meu trabalho.
“É enormemente significativo o trabalho de
educação musical e por isso afirmo que só
deveria ser um educador musical aquele que
acredita na possibilidade de transformação, na
possibilidade de um crescimento interior”.
Carmen Mattig Rocha
RESUMO
__________________________
Orientador: Profª. Daniela Vilela de Morais
ABSTRACT
OLIVEIRA, Vinícius Eufrásio. The Game of Musical Education in Reading for Children-
2012, 33 p. (Monograph Degree in Music). Universidade Vale do Rio Verde – UNINCOR –
Três Corações - MG
This work investigates the possibilities of applying the game used as a teaching
resource in the context of music education. Trying to explore specifically the area of teaching
reading music, to finally be able to propose games for use in lessons musicalization,
addressing a methodology that seeks primarily relate prior knowledge of students about what
will be new information to build a learned new knowledge, based on the theory of Transfer of
Learning. This paper probes into the literature on the study of the game in order to seek
concepts that characterize and define the best use of the game in the classroom.
__________________________
Guidance: Profª. Daniela Vilela de Morais
LISTA DE QUADROS
FIGURA 02 Cartas com partitura; Cartas com nome de notas; Carta Sol Sozinho..................28
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................10
INTRODUÇÃO
Quando fala-se nos termos jogo, e educação, na pretensão de lhes atribuir uma
associação para fins pedagógicos, muitas dúvidas ainda persistem entre os educadores, sendo
estes, atuantes de qualquer área do saber (KISHIMOTO, 2002/1994, p. 13).
Muitos se perguntam se há diferença entre jogo, e material pedagógico, e se o jogo
quando inserido em uma sala de aula ainda mantém a característica de jogo enquanto
brincadeira, contendo fim apenas em si mesmo, ou se passa a ser uma mera atividade dirigida
pelo professor perdendo sua ludicidade. Tais dúvidas ainda insistem em existir em contextos
educativos em qualquer esfera do conhecimento, e na educação musical não é diferente.
Poderia o jogo, ser um recurso utilizado em sala de aula para fins educativos mantendo
sua essência lúdica e ao mesmo tempo contribuir dentro dos processos de aprendizagem sem
perder o foco didático?
É proposta deste artigo a investigação das possibilidades de aplicação do jogo
utilizado como ferramenta pedagógica, sobretudo, dentro do contexto específico de educação
musical, dentro da área que compete ao estudo da leitura musical, visto que o ensino de
música tende a se estender pelo Brasil com o surgimento da lei 11.769 sancionada em 18 de
agosto de 2008, determinando a música como conteúdo obrigatório em toda a educação básica
brasileira.
Para se chegar à formação de uma opinião sobre a aplicação do jogo em momentos de
educação musical, é feita neste trabalho, uma abordagem sobre o ensino de música e sua posição
social atual. Visto que é fato, sua grande importância no decorrer da história como prática
educativa, principalmente na educação dos cidadãos nas primeiras sociedades.
Para a exposição de alguns elementos que possam conduzir esta pesquisa a uma resposta
sobre a utilização do jogo como recurso pedagógico nas aulas de educação musical serão
abordadas citações de vários autores, estudiosos sobre o jogo, a educação, e o ensino de música,
que contribuirão com uma ampla parcela nos resultados obtidos.
Por fim, este trabalho propõe alguns jogos elaborados a partir de uma abordagem que
busca considerar a influência de uma aprendizagem em relação à outra, quando uma nova
informação pode ser apoiada em elementos de um conhecimento já adquirido, criando
relações com este, facilitando a assimilação.
11
2 REFERENCIAL TEÓRICO
64) "jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo uma regra livremente
escolhida que deve ser observada ou, um obstáculo deliberadamente estabelecido, que deve
ser superado”.
RETONDAR (2007, p. 9-10 apud MORAIS 2009, p. 16) também destaca a
regra no jogo, mas colocando-a ao lado do imaginário, não de materiais
concretos, como, por exemplo, brinquedos. Para o autor, o jogo é “uma ação
humana regida por uma intenção que se justifica por si mesma, sob o pano
de fundo do imaginário, e balizado por regras.” As regras regem a estrutura
lógica e a imaginação conduz o jogo.
Nota-se que o fato de conter regras é o principal divisor que distingue o termo “jogo”
dos termos “brinquedo” e “brincadeira” colocando-o como uma ação, conduta. Através do ato
de jogar, as crianças podem aprender a seguir determinadas condutas e também passar a
aceitar uma série de normas que permitem que o jogo possa acontecer. Com isso a criança
ganha consciência do valor das regras e entendem a necessidade delas para viver em
sociedade. “É brincando que a criança pode ser chefe, pai, professor e general”. (VELASCO,
1996 p. 32).
Muitos psicólogos têm dado grande atenção ao papel do jogo na constituição das
representações mentais e seus efeitos no desenvolvimento da criança. Para uns o jogo
representa a possibilidade de eliminar o excesso de energia represado na criança, para outros,
prepara a criança para a vida futura, ou, ainda, representa um elemento fundamental para o
equilíbrio emocional da criança (KISHIMOTO, 2002/1994, p. 10). Porém, dentro das práticas
pedagógicas da atualidade, ainda é notável a dificuldade de compreensão do significado da
aplicação do jogo dentro de um contexto educativo pelos educadores. Para utilizar o jogo em
sala de aula o professor precisa considerar o quão importante é a dimensão lúdica no
desenvolvimento e aprendizagem das crianças e compreender as relações entre lazer e
educação; pois um jogo, enquanto ferramenta pedagógica aplicada sem um motivo se torna
meramente ocasional e ineficaz, sendo apenas lúdico e não educativo.
De acordo com Guia e França (2005), “o jogo é também um espaço oferecido à
criatividade, à interação e à participação que transforma a aula em oportunidades de
aprendizado efetivo”. Jogando, o aluno tem a oportunidade de experimentar o inesperado, de
refletir estratégias, e de desafiar a si mesmo e aos outros. “Nestes momentos há
entendimentos, compreensão, descobertas e revelações” (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 9).
Huizinga (1951, apud Kishimoto 2002/1994, p. 04), descrevendo o jogo como
elemento da cultura, aponta suas características relacionadas ao aspecto social e destaca o
prazer demonstrado pelo jogador, o caráter “não sério” da ação, a liberdade do jogo e sua
13
Os autores citados até então, apresentam pontos comuns; elementos que podem se
interligar e nos aproximar de uma conceituação para o termo jogo. Liberdade de ação do
jogador, caráter voluntário, caráter não sério, efeito positivo, regas, relevância do caráter de
brincar, incerteza de seus resultados, representação da realidade, imaginação,
contextualização no tempo e no espaço. “São tais características que permitem identificar
condutas que podem ser chamadas como jogo” (KISHIMOTO, 2002/1994, p. 7).
Os jogos fazem parte do mundo da criança, são fundamentais para sua formação e
desenvolvimento. “Sua importância é notável já que através deste a criança constrói seu
próprio mundo” (SANTOS, 1995, p.4). Segundo Piaget (1962, p.162 apud ROSAMILHA,
1979, p.59) “o jogo constitui o polo extremo da assimilação da realidade”, fazendo intima
relação com a imaginação e a criatividade, fontes de todo pensamento e raciocínio posterior
(ROSALMILHA, 1979, P. 59). Por isso se torna tão importante para criança e tão funcional
em termos de educação, a utilização do jogo como ferramenta pedagógica.
Além do auxílio do jogo no desenvolvimento cognitivo, este ajuda a criança também a
aprender valores sociais, a respeitar e se orientar perante regras e normas para conquista de
uma harmonia cultural com seu meio de pessoas e objetos. Segundo Hartley (1971, apud
ROSAMILHA, 1979, p. 62), “além desta aprendizagem social, há também a pessoal: que
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advém dos valores que emergem dos jogos infantis, como a coragem, a curiosidade, o
otimismo, a aceitação, a maturidade emocional, o comprometimento e a alegria”.
“No jogo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua
idade. Por isso, Vygotsky considera que essa atividade condensa todas as tendências do
desenvolvimento e é, ele mesmo, uma fonte de desenvolvimento” (VYGOTSKY, 2007/1984,
p.120 apud MORAIS, 2008, p.57). “A criança em idade pré-escolar possui necessidades e
incentivos que são importantes para o seu desenvolvimento, e espontaneamente expressos no
jogo” (VYGOTSKY, 1966/1933, p.2 apud MORAIS, 2008, p.57).
Graças às contribuições dos autores citados é possível perceber o quão importante é o
jogo para o desenvolvimento da criança, e o quanto pode ser válida a sua aplicação como
elemento pedagógico na busca por processos de aprendizagem que conduzam o aluno de uma
maneira mais natural à aquisição do saber. Mas, e em se tratando de aulas de música? Será
possível também a aplicação do jogo como ferramenta pedagógica? Para respostas destas
perguntas, primeiramente faz-se necessário saber por onde anda a educação musical no Brasil,
e em como esta tem atuado dentro do sistema educacional e social do país.
No decorrer dos séculos a Igreja Católica se demonstrou como uma das maiores
interessadas na utilização da música, encorajando seu estudo e ensino como disciplina teórica
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inserida no domínio das ciências matemáticas. O processo de educação utilizado pelos jesuítas
utilizava a música como principal recurso. Na Reforma Protestante, liderada por Martinho
Lutero não foi diferente, a musicalização através do canto e o ensino de leitura e escrita
musical ocupavam também lugar de destaque (LOUREIRO, 2010/2003, p. 38-41).
De acordo com Koellreutter (1997b, p. 72 apud LOUREIRO, 2010/2003, p. 108),
“Partindo da concepção de que a música é um meio de comunicação, que serve-se de uma
linguagem, pode-se concluir que uma contribuição para a tomada de consciência do novo, ou
do desconhecido, seja uma das mais importantes, se não sua mais importante função”.
No Brasil, por vários anos, a educação musical se encontrou praticamente ausente das
escolas brasileiras, esta ausência pode ser explicada pela perda de sua identidade como
disciplina dentro do currículo, principalmente por sua transformação em um dos conteúdos
que compõe a disciplina denominada educação artística (LOUREIRO, 2010/2003, p. 107).
Em agosto de 2008, foi sancionada a Lei Federal nº 11.769 tornando obrigatório o
ensino de música em toda a educação básica. Sendo assim, no que se diz respeito à música,
este fato, abre, portanto, um espaço amplo para discussões sobre o que de fato seria a
educação musical e o que pode ou não ser apropriado para a área nas escolas brasileiras.
Segundo Loureiro (2010/2003, p. 109), a área de educação musical enfrenta muitos
problemas, sendo a falta de sistematização do ensino de música nas escolas do ensino
fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina os mais
agravantes dentro do atual contexto social brasileiro. “Hoje, mesmo com a promulgação da
nova LDB, o nome da disciplina continua sendo Artes, e a música, embora presente, é apenas
um braço dela, entre outros” (FONTERRADA, 2008, p. 228).
O conceito de educação musical como disciplina encontra-se bastante diversificado.
Para alguns, a música é vista apenas como sendo um adento das festas e comemorações do
calendário escolar. Para outros a educação musical obedece ao processo de seriação,
fragmentação e seleção de conteúdo, não provendo nenhuma socialização do conhecimento.
Outra conceituação aparece buscando o equilíbrio entre o didático e o artístico, oferecendo ao
aluno o conhecimento musical de modo organizado, sistemático, mas que também siga os
caminhos da criatividade e da sensibilidade (LOUREIRO, 2010/2003, p. 128).
Dentro dos vários conceitos sobre educação musical, Fonterrada (2008, p. 229) aborda
sobre a visão existente sobre disciplinas artísticas e os profissionais que as ministram:
É sintomático que, em grande parte das escolas, a disciplina artes (ou
educação artística, terminologia ainda vigente) não seja valorizada do
mesmo modo que as outras; via de regra, o professor de artes é considerado
o festeiro da escola, aquele que ajuda os alunos a passarem seu tempo
19
O ensino de música, a partir do momento em que passou a integrar o rol dos conteúdos
obrigatórios do ensino fundamental e médio, embora ainda dentro da disciplina “Artes”,
passou a ser sistematicamente desvalorizado dentro do âmbito educacional. Na escola de
ensino regular, principalmente nas séries iniciais do ensino básico, a música, de modo geral,
não tem ocupado o lugar que merece. O ensino das artes, neste caso, o da música, deve ser
considerado importante na educação escolar da mesma forma que as outras áreas do
conhecimento (LOUREIRO, 2010/2003, p. 143).
Toda criança possui potencial para aprender música, e quanto mais cedo é iniciada na
educação musical, maior e mais completo será o seu aprendizado, desenvolvimento e
envolvimento com a música, pois, diferente do que muitas pessoas pensam, aprender música
está muito além do ato de tocar um instrumento musical, este, é apenas um meio de
exterioriza-la (ROCHA, 2007, s/p).
Assim sendo, a utilização do jogo como recurso pedagógico pode contribuir para o
desenvolvimento da criança dentro do processo de educação musical, visto que, os jogos
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fazem parte do universo da criança e são fundamentais para sua formação. Como o processo
de educação musical possui várias vertentes, e diferentes conteúdos a serem aprendidos pelo
aluno, é preciso uma vasta coletânea de jogos para que o professor possua ferramentas
suficientes para utilizar o recurso “Jogo” como complementação em sua prática de ensino.
Quando uma criança passa pelo processo de alfabetização na escola, é preciso que as letras
sejam substituídas por outros signos?
Talvez a maneira como se ensine leitura musical não seja a mais adequada.
Normalmente, o que se observa em aulas de música é uma simples
decodificação de signos em detrimento ao desenvolvimento musical. Isso
sem contar que em muitas escolas ela é exigida, mas não é ensinada ou
exercitada. Sobre os benefícios, acredito que uma leitura fluente permita ao
estudante realizar uma maior quantidade de peças, possibilite uma
aproximação mais rápida da música (FIREMAN, 2007, p. 3).
Muito tem se ouvido falar sobre a importância da leitura musical para o aprendizado
em música, embora, ainda se encontre poucos estudos de aplicação prática nesta área ou
formas diversificadas de como ensinar alunos a lerem música. Segue-se geralmente um
padrão que parte desde a grafia do movimento sonoro até o que é considerado como leitura
absoluta (ROCHA, 2007, s/p). Metodologias diferenciadas ainda são escassas.
“Não necessariamente se precisa ler partitura para realizar música. Contudo, creio que
às vezes os educadores se esqueçam das possibilidades de desenvolvimento decorrentes dessa
habilidade” (FIREMAN, 2007, p. 3). Ou em muito dos casos, não sabem quais as camadas de
conhecimento são necessárias sobrepor para construção desta habilidade e nem como
transmitir estes conhecimentos aos alunos, criando neles uma significação, ou seja, uma
aprendizagem significativa1.
1
A aprendizagem significativa ocorre quando uma nova informação apoia-se em conceitos ou informações já
existentes na estrutura cognitiva (ASUBEL apud OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010, p. 23).
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Rocha (2007, s/p) afirma que é importante que desde cedo se exercite o ritmo com as
crianças, pois, é através dele que se trabalha o aspecto fisiológico da música e, sobretudo o
sentido de tempo, que é um elemento fundamental para o pleno desenvolvimento musical.
Este jogo é indicado para ser trabalho com crianças que tenham um mínimo de
domínio sobre as relações em dobro e metade. É feito a partir da confecção de pequenas
cédulas confeccionadas em computar e depois impressas em papel colorido, cada valor de
cédula em uma cor.
No corpo de cada cédula vem impresso a figura musical a qual corresponde, seu nome
e valor de moeda. O professor pode utilizar deste material pedagógico propondo que os alunos
joguem de várias maneiras, mas, objetivando trabalhar principalmente:
A memorização dos nomes e valores das figuras que representam cada cédula.
A relação proporcional entre as figuras e seus valores (dobro e metade).
A múltipla possibilidade de combinações para formação de determinado valores.
Este material propicia a sensação no aluno de estar lidando com dinheiro de verdade,
então, lhe é dada a oportunidade de jogar com valores multiplicando-os e dividindo-os ao
mesmo tempo em que faz relações entre esses e as figuras musicais.
É interessante a utilização deste material dentro da proposta de um jogo que simule um
mercado de compra e venda, onde alguns alunos serão mercadores e outros compradores de
mercadorias, que podem ser desde doces e balas, até mesmo algum material existente na sala
de aula ou na escola que possa ser fantasiado como produto de mercado.
Mesmo com a utilização deste jogo, posteriormente, os alunos devem ser
oportunizados de sentir o que as figuras de valores de som representam na prática musical. O
professor deve propiciar momentos em que os alunos possam percebê-las e relaciona-las umas
as outras auditivamente, e também tentar reproduzi-las através da criação de pequenos trechos
compostos por eles mesmos a partir da seleção de algumas figuras, organizadas pelo
professor, respeitando uma lógica de relações de valores e proporções para não impossibilitar
o entendimento dos alunos.
O treino da escrita também é fundamental. O professor pode propor a criação de
pequenos trechos musicais através das figuras de som, onde compassos deverão ter no
máximo um valor determinado. Assim os alunos usarão o que aprenderam sobre a relação de
valor de cada figura para preencher o valor de cada compasso. Os trechos musicais rítmicos
criados pelos alunos podem ser reproduzidos posteriormente para que o resultado sonoro seja
sentido por eles na prática.
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A visão das notas musicais como vizinhas moradoras de um condomínio, aonde uma
vem sob ou sobre a outra, conduz o aluno ao aprendizado quanto o posicionamento das notas
dentro da escrita musical tradicional (em uma pentagrama), que nada mais é do que uma
relação entre notas musicais consecutivas dentro de uma sequência ordenada em ascendência
ou descendência.
O material deste jogo consiste na confecção de um cartaz ou banner, onde é ilustrado
um edifício sete andares contendo lacunas como se fossem janelas, estando uma em cada
andar. Para cada lacuna é feita uma peça de encaixe com nome de uma nota musical, sendo
assim, sete peças, uma para cada nota. No alto do edifício deverá haver uma antena; sendo
esta a ponte de ligação entre o morador do último andar com o morador do primeiro andar,
justificando assim a repetição das notas em oitavas musicais.
O jogo acontece à medida que o professor seleciona alguns alunos para representarem
as notas musicais. Cada aluno fica segurando a peça com o nome da nota musical da qual é o
representante. O professor mediará o jogo indicando uma nota para ocupar o primeiro andar
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FIGURA 02 – Cartas com partitura; Cartas com nome de notas; Carta “Sol Sozinho”.
Com cada baralho do jogo Sol Sozinho joga-se no máximo cinco pessoas, pois, um
número maior de jogadores poderia comprometer o bom andamento de cada partida.
As cartas do jogo devem ser distribuídas entre os jogadores uma a uma até o fim do
baralho, assim, cada jogador ficará com no mínimo cinco cartas para jogar. À medida que o
jogo for acontecendo, os jogadores deverão e tentar eliminar as cartas que têm na mão
formando pares entre cartas com partitura e cartas com nome de notas.
O mesmo jogador que distribui as cartas é que deve começar a jogar. Ele então deverá
apanhar uma carta da mão do colega sentado à sua esquerda e logo em seguida verificar se as
cartas que possuem em sua mão formam algum par, se isto for positivo, deve então apresentar
o par de cartas aos demais jogadores para que verifiquem sua validade. Se tudo estiver certo, a
jogada é passada para o jogador cujo qual a carta foi apanhada, devendo este, portanto, repetir
o mesmo processo de jogo.
À medida que os jogadores formam pares, vão eliminando todas as cartas em mãos e
saem vitoriosos do jogo. O jogador que ao fim da partida não conseguir eliminar todas as
cartas em mãos perde o jogo, e consequentemente portará a carta “Sol Sozinho” que não faz
par com nenhuma outra. Este jogador é quem deverá embaralhar as cartas e distribuí-las para
o início de uma nova rodada.
À medida que os alunos jogam este jogo, atentam-se na atividade de analisar as notas
grafadas nas partituras para descobrir seu nome e assim poder formar pares e vencer o jogo.
Este processo de análise para o reconhecimento da posição da nota é fundamental para o
aprendizado deste conteúdo e ajudará o aluno posteriormente a identificar notas na partitura
com maior velocidade e precisão até que se automatize esta ação e a transforme em uma
habilidade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo buscar na literatura uma definição para o termo jogo,
abordando, dentro de contextos educacionais, sua utilização como ferramenta pedagógica para
a promoção de processos de aprendizagem. Sobretudo, trouxe também a proposta de verificar
a utilização deste recurso nas aulas de educação musical a partir de uma análise sobre as
práticas metodológicas utilizadas por professores de musicalização para o ensino da leitura
musical.
Através da compreensão dos elementos que compõe o jogo aplicado como material
pedagógico, e da utilização do estudo sobre a transferência da aprendizagem foi possível
propor neste trabalho, alguns jogos pedagógicos voltados para o ensino da leitura musical,
apoiados sobre uma nova abordagem que consequentemente pode estimular iniciativas de
várias outras pesquisas nesta área.
Percebendo que o jogo empregado dentro de processos educativos é em partes uma
atividade dirigida pelo professor, e não apenas uma prática com um fim em si mesmo como o
jogo convencional tido apenas como ação lúdica. Torna-se viável então, a utilização dos jogos
propostos neste trabalho para os momentos de reiteração, permitindo que o aluno exercite o
conteúdo trabalhado em sala de aula fazendo do lúdico um aprendizado.
Com base na minha experiência, amparada por este trabalho e as várias referências
aqui citadas, posso afirmar que os alunos que passam por um processo de aprendizagem
através do jogo como ferramenta pedagógica apresentam um ótimo rendimento nas aulas,
além de obterem resultados na assimilação dos conteúdos propostos e, posteriormente, em sua
prática musical. Provavelmente, isso ocorre pelo fato de estarem participando de um processo
dinâmico, divertido, interessante e natural, visto que a partir da concepção infantil, é
extremamente importante brincar.
Assim sendo, espero, com este trabalho, poder contribuir não só para a prática de
professores de musicalização e pesquisa na área, mas, também, e principalmente, para a
formação dos alunos que estudam ou que venham a estudar música, podendo ter mais uma
rota de acesso ao aprendizado da leitura musical por meio dos jogos propostos aqui. Espero
que através da abordagem utilizada neste trabalho, possam surgir novos processos
metodológicos para o ensino de conteúdos da área de educação musical, já que esta pesquisa
abre apenas uma pequena janela para ser explorada e aprofundada em estudos posteriores.
31
REFERÊNCIAS
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Cortez, 1992.
BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Tradução: Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2008/1994.
FIREMAN, Milson Casado. Leitura à primeira vista em música: uma visão geral. Trabalho
apresentado no XVI Encontro Anual da ABEM e Congresso Regional da ISME na América
Latina – 2007
GUIA, Rosa Lúcia dos Mares; FRANÇA, Cecília Cavalieri, Jogos pedagógicos para
educação musical. Belo Horizonte: UFMG, 2005. 241p.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. 3. ed. (1994). São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2002.
MORAIS, Daniela Vilela de. Fundamentos da educação musical I. [s.l.]; Nead Unincor,
2011.
MORAIS, Daniela Vilela. O Material concreto na educação musical infantil: uma análise
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Horizonte, 2009.
32
MORAIS, Daniela Vilela de. Oficina pedagógica II e musicalização. [s.l.]; Nead Unincor,
2010.
SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). Brinquedoteca: A criança, o adulto e o Lúdico.
Petrópolis: Vozes, 2000.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: Sucata Vira Brinquedo. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995.
STORMS, Ger. 100 Jogos Musicais. 4. ed. (2000). Tradução: Mário José Ferreira Pinto.
Holanda: PANTA-RHEI. 1989.
ZAGONEL, Bernadet; BOSCARDIN, Maria Teresa Trevisan; MOURA, Ieda Camargo de.
Musicalizando crianças – Teoria e prática da educação musical. São Paulo: Editora Ática
S. A. 1989.