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‘vna2017 Bicpalltca e Bioponcia no corazo do Impsrio | multitudes multitudes revue pol Gls prilosophiq Accueil» Les numéros » Multitudes 9, maljuin 2002» Compléments de Multitudes 9 Biopolitica e Biopoténcia no coracao do Império Pelbart Peter Péij/ Partagez—> WW / EB Version originale de art30, rub12 (O mperador da China resolve, um belo di, construir uma muratha para se proteger dos némades,vindos do Nort. A constr mobilizou a populagdo intel por anos a fio, Conta Kafka que ela foi empreendida por partes: um bloco aqui, oUt al, outro acoli, eno necessariamente eles se encontravam, De modo que entre um e eutro ppedaco de muralha construido em regides desértcasabriam-se grandes brechas, tacunas quilométricas|(F. Kafka, grande muralha da China, So Paulo, Europa América, 1976. resultado fol uma muralha descontinua cua llcaninguém entenda,j que ela nfo pretegia de nada nem de ninguém. Talvez apenas os nndmades, na sua circulagdoerratica peas fronteiras do Impéro, tnham alguma nogSo¢o conjunto da obra. No entanto, todos supunham que a constuo ‘bedecesse a um plano rigorosoelaborado pelo Comando Supremo, mas ninguém sabia quem del fazia parte e quals seus verdadeiros designios. Enquanto iso, um sapateiroresidente em Pequim relstou que js havia némades acampados na praga central, éu abert,diante do Palio imperial, e que seu ndmero aumentava a cada dal. Kafka, « Uma ola antiga» (texto complementar a0 A grande muralha da China}, in Um médica rural, tad, Modesto Carone, So Paulo, Ca das Letras, 1999.0 ptépri imperador apareceu uma vez najanela para espara agltagdo que eles provocavam. © Império mobiliza todas suas forgas na construgao da Muralha contra os 1némades, mas eles j esto instaladesno coraglo da capital enquanto oImperador todo paderoso é um prsioneio em seu préprio palécio, Kafka dé poucas indicagdes sobre os némades. Eles tém bocas escancaradas, dentes afiados, comem carne erua junto a seus cavalos, falam como gralhas, reviram os olhos €eafiam constantemente suas facas. N3o parecem ter a intengo de tomar de assalto 0 palicio imperial. Eles desconhecem os costumes locais e imprimem a capital em que ‘se infltraram sua esquistice. gnaram as leis do Império, parecem ter sua prépria el, ‘que ninguém entende. £ uma let-esquiza, cizem Deleuze-Guattaril(G. Deleuze e F Guattar, Kafaa ~ Por uma literatura menor, Rio de Janeiro, ago, 1977. Por que ‘esquiza? Talvez pela semelhanga do nomade com o esquizo. 0 esquizo ests presente © ausente simultaneamente, ele esté na tua frente e ao mesmo tempo te escapa, sempre esté dentroe fora, da conversa, da familia, da cidade, da economia, da cultura, da linguagem.. Ele ocupa um territério mas ao mesmo tempo 0 desmancha, dificilmente ele entra em confronte direto com aquilo que recusa, no aceita a dialética da oposiglo, que sabe submetida de antemso ao campo do adversirio, por isso ele desliza, escorrega,recusa 0 jogo ou subverte-Ine sentido, corréio proprio ‘campo e assim resiste &s injungbes dominantes. 0 ndmade, como o esquizo, 60

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