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EDUCAGAO. PRESSUPOSTOS EPISTEMOLOGICOS PARA UMA METODOLOGIA DE ENSINO DE QUIMICA: MUDANCA. CONCEITUAL E PERFIL EPISTEMOLOGICO. Eduardo Fleury Mortimer Faculdade de Educagio - UFMG - Av. AntGnio Carlos, 6627 - 31270 - Belo Horizonte - MG Recebide em 8/4/91; obpia revisada em 26/6/91 ‘This paper presents the Eplstemologle Profle Notion, after showing some questions about Conceptual Change Strategies. The convenience of the Plagetian Equilibration Theory and the Epistemologle Profile Notion are considered for the establishment of an alternative approach. This approach was applied in the analysis of the secondary school chemistry. implications for teaching are examined. Keywords: eplstemologle profile notion; conceptual change strategies; chemistry teaching. INTRODUGAO Esse artigo tem por objetivo discutir a nogéo de pefil eis- temolégico, evidenciando soa uilidade para ® construcéo de tuma concepeio de ensino-eprendizagem e para a andlise dos problemas relacionados tos programas ¢ estretégias Ue ensino fe quimica de primeira e segundo graus. A orto de perfil epistemolégico permite determinar como wm coneeito cient- fico se situa em relagho a diferentes correntes filoséfieas, que ‘constituem os cores do perfil "A nogio de perfil epstemoldgico contibui, por outro lado, a um exame das idcias sobre 0 processo de mudanga con beital, que pode ser dfinido como "o processo pelo qual as pessoas mudimn seus conceitos centais e organizadore, desde ‘um conjunto de conceitos a outro incompativel com o primel: 10°", Por isso € nocessério que se discuam, neste artigo, al- {umss questes sobre as torias de mudanga conccitual.O ob- jetivo dessa discussto nlo ¢ abordar a questio de forma ‘xaustiva, mas apontat para a8 conteibuigdespotenciais da‘no- ‘0 de perfil epistemologico para a revisio de alguns press. Dostos fedricor das estratégias de ensino construidas segundo 4 perspectiva de mudange concetual "As pesquisas sobre os conclts alleratvos, realizes uo longo dos tltimos vite anos, ém mosiado que os estodanes, possuem uma série de idéiasaltemaivas aos diversos conce {os ensinados as alas de cigncias, e que estas idias so pes soni, xa ¢ diffeis de serem mudadas?. A permanénca des: sis ideias, depois e apesar das lgdestradicionais de eines, colocou ein evidéncia necessidade de se consirur uma nova perspectiva para o ensino de eigncias, que levasse em consi: Seragio os resultados das pesquisas. ‘Segundo Driver, “é central nesta perspectva a visbo histo- ricamente importante de que a eprendizagem se da através do tum envolvimento alivo do aprendiz na construglo do conbe- ‘imento, Dentto dessa petspectiva construivstn, os estdan- tes vio constrindo representagdes mentais do mundo a seu redor que sho usadas pars inteprétar novas stuagdes © guiat ‘acto nestas situagdes (.). ASSim, « aprendizagem € Vista como um processo adaptaiv, no qual os esquemas concei- tis do aprendiz so progressivamente teaonstruides de modo a atingiem um aleance cada vez maior em relaglo idéias © xperiencas"™ Esa nova perspectiva vem se que tem a intengio de promover ia dos estudantes por conceitos clentificos, de modo & pro- ‘mover uma "mudanga concetual", Um dos modelos mais d fndidos de ensino baseado numa teria de mudanga concei- tual é 0 de Posner e colaboradores’, que sugerem a existe de algumas condigbes para que a tudanga ocoma:@ insats- {ogo do estulante com as suas concepy6es anteriores, ¢ a nova concepgio se mostrar inteligivel, plausivelefrutifera na solugdo de novas questGes. ‘tas propostasrefletem a visio de que as mudangas con- ceituais que podem ocomer nos estudanes em uma situagso de sala de aula so andlogas As mudangas ocoridas na histéria das ideiascientificas. Nussbaum, por exemplo, argumenta que tessa “analogia pode contribuir para nossa tentativa de eaten: der a dintmice da mudanga conceitval, de pré-concepe es in iénuas a concepsses cieniicas,e do como clas podem ser {eitas na sala de aula. Dentro dessa perspetiva, o autor pro- pe algumas “quests bésicas que foram formuladas no cam po da histéria da cigacas, © que podem scr formuladas de ‘uma manera similar em nosso campo de edvcagio em cién- clas, Dente estas questdes destacamos aquela que arg 56 ‘ mudanga concetunl em sala de aula € um processo "evel lonéro” ou “revolucionscio™ No entanto, a maforia das autores que optam por ese pat ralelismo se esquece do outo lado da moeda, ou Se, do pro- emo de desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Rowell & tum dos autores areconhecer a importante contebuigio de Pia: {et para exea questo, pois uma ver que "a epistemologia ge- ‘ética tata da dindmica da nese do conhecimento, eta cou- Sideragdo fundamental determina a necessiade de Considerar Sua aplicagdo potencial 20 ensino"®. Concordamos com est autor, pois julgamos que, neste aspect, a coniibuigo mais Tecunda ainda € a de Piaget. Atraves da sua teoria da equili- bragdo, ele esponde & importante questo formulada em tr- batho anterior: como se di'o aumento des conhecimentos, 08 seja, como o conhecimento huimano passa de um estado inst ficicate, mais pobre, pra wm estado reconhecido como bas tante sfilente, mais Fico em compreensio e extensio MUDANCA CONCEITUAL E TEORIA DA EQUILIBRAGAO Na teoria da equilibragio vamos encontrar ume pista im- pportante para a questio da natureza - revolucionitia ou evo- Iueionéria ~ das modangas conceituais. Esta pista foi desen- volvida a partir dos estudos sobre o desenvolvimento cogni- tivo, € nfo apenas no campo da histéria das mudangas cien- \ificas. Segundo Piaget, a equilibragdo 6 um processo indivi. dual que € acionado quando o sistema cognitive reconhece uma lacuna ov um conflito, gerados pela previsio do sistema (ot de parte dele em relagdo a um objeto ou evento. Em outras ppalavras, 0 processo é acionado quando a previsio de um in- dividuo em relagio a determinado evento esté em conflito com aquilo que realmente ocorre, ou 6 insuficiente para inter- pretar o evento por falta de elementos (que configuram lacu- AQuiMICA Nova 15911992) ras) no sistema cognitive. Em resposta, 0 sistem cognitive produz uma série de consirugSes compensatérias (regulags- 3), mum proceso gradual, que condur novamente a0 equi: ‘Uma caracteristica importante do processo de equilibragso 4 que ele conduz quase sempre a um novo estado de equilt ‘wo, mais completo que o abterie, pois incorporos o elemen- to novo que antes constiula uma perurbapto, Piaget dé a esse ‘rocesso 0 nome de equilibragio majorante. “0 fato de 0s es- {ados de equilorio serem sempre ultrapasados resulla, pelo contri, de uma razio muito postiva. Qualquer conhecimen- to consise em levanat problems noves & medida que resolve cs precedentes (..) Seria muito insuficiente, portato, conce- bere equlltragdo como uma simples marche para o equil- trio, porque a equilibrecto € constantemente,além disso, uma estruturagto crientada para umn equlfrio mefhor (grif do a ton, pois nenhuma estrutura equilibrada se mantém mum es- {do definitive, sinda que mantenha depois os seus caraceres especiis sem modificagdes"™. Hd que se assinlar que a nosto de equifrio, para Paget, ¢ diferente da nogdo de equilfrio quimico, Enquanto a equi- libragio piagetiana descreve um processo irreversivel que acontece com 0 sistema cognitivo de um indviduo, « nosso de equilbrio. quimico se refere & sistema reversiveis, cujas Dropeledades mucroscdpices no variam depois que 0 equ fio €atingido. A qualquer perturbcto, um sistema em equi- libro quimico responde no sentido de antlé-la e restabelecer 6 equilfro com as mesmas caactristicas anteriores. Ao con- trio, um sistema cogalivo ado se reequiibra simplesmente snulando « perturbario, mas sbsorvendo-s. Neste sentido, 0 ‘ovo estado’ de equilferio é melhor que o anterior pois algo due se consttuia ruma perturbagbo deixou de st-o, fer uma variago numa esrutura reorganizada!? ‘Outa earcteristica do processo de equilibrago, que int ressn drctamente & questo que estamos discutindo, € 0 fo de ge tratar de um processo conservador, no sentido que, du ante a equliragto, © sistema cogntivo conserva © maximo Possvel do esquems de ssimilao anterior, numa cstralégia de maximo ganho com minimo cuso, A rarho disso € que “cm qualguet sistema biclgico © cogailivo, &necessitio ca- rateszaro todo como primordial e sem fazer reunio das per tes, pos estas resllam da dfereneiagSo a partir do todo. Em virtude diso, 0 todo spresenta uma forge de coesto ¢, por tanto, propriedades de auto-conservapio que os disinguem das totalidadesfisico-quimicas (.).O essencal, portato, € a conservagio da totalidade que conserva sus estrtura durante ‘© assimilagho em vez de ser modificada pelos elementos as: Similados. Na verdade, € uma clcustnciasigaificativa 0 fo de « forma total, em todos os dominios vila © cognitvos, ‘prccer mais esivel que suas componentes"®. 'A pair desses aportes da tcorn pagetiana somos levados conclu que ume mudanga concetual em sala de aula nSo tem condigSes de ser “revoluciondri’- O flo de que o site: sa cogniivo avanga por reequilibrag6es graduais, que apesar de majorantes sio' conservadoras, nos aponta para a directo das mudangas “evoluciondrias™. A tendéneia conservadora do processo de equilibreso pode ser, inclusive, uma pista impor- {ante para explicar © fat das concepySes alterativas dos es tudantes serem fizas e resstentes & modanea Nest sentido , gostariamos de introduzit uma outa pista, aque pode auxiiat a repensar as estratégas de mudanga con: Geltul, Nossa questto pode ser resumida da sepuinte forma: Serd que o estudante deve substituir suas idéias anteriores por {dias cientificas mais avangadss, ou apenas deve aprender a lidar com diferentes idéias em diferentes contexts? Paa cla teat essa questio tomemos um exemplo. © estudante que eprendeu os concetes cientifies de calor temperatura, deixard de afimmar, numa sitvagdo cotdians, aque “um easaco de Id evita & toa de calor de seu corpo com ©vambiente"? Mesmo um cientisa dedicado ao estudo da ter: ‘QUIMNCA Nova 16¢241902) ‘modinimica nio continua a empregar essa novia intuitive de calor no seu cotidiano nfo-profissional? Se isso 6 verdade, o processo de mudangs conceitual nio seria precedido por una contextuslizaglo conceitual? Nio se- ria mais eficaz imaginar estratégias de ensino que levassem 0 sluno a tomar consciéncla de suas coneeppSes altemativas © do dominio de suas aplicagdes, para depois ensinar as teotas cientifeas dentro dessa mesma ceracteristca? AYfinal, as teo- las clissicas que sio ensinadas aos alunos no estio, tam- ‘bém, restritas a deterinados problemas © dominios da rea- lidade? © que garante que uma teoria atual,abrangentc, nfo seja futuramente substituida por uma ovtra sinda mais abran- gente? E que esta tcoriaatual seja vista, entio, como limitada ‘ determinado dominio da reslidade? ‘Com 0 propdsito de coniribuir pera o avanco de algumas questées aqui levantadas,julgames que & exsencial analisar & ‘ogo de perfil epistemoldgico que Bachelard apresenta em sus “Filosofia do Nao''*, Isso porque o perfil epistemolégico permite n descrigéo de um sujeito individual no qual as n0- $6es esto distrbuidas por um espectro em que cada resiio Se refere a um determinado dominio de aplicagio da nosio. [Neste sentido, a0 propormos que o aluno tome consciéncia de suas conceps6es alterativas e de seu dominio, e a pertr dat construa novas nopses,cientiicas, estamos, de ato tentando rudar 0 seu perfil epistemol6gico. Assim, 0 sujeito epistemo- [igico deserito pelo perfil € muito préximo aos nossos suje tos reais em processo de evolugio conceitual. 'No coatexto desse artigo, nio pretendemos discutir as im- plicagées dessa nogio para uma estratégica de ensino, 0 que vem sendo objeto de nossa pesquisa, sinda em andamenio. ‘Apenas pretendemes tiraralgumas consequéncias mais geruis para o ensino de quimica e anslisar erticamente os programas de quimiea de primelro e segundo graus a partir da noso de perfil epistemolégico. ‘A NOCAO DE PERFIL EPISTEMOLOGICO Gaston Bacelard propse, n Filosofia do Nio, que pesivel tragar um perfil epstemoligico de qualquer indviduo em rego ‘tum determinado conceld clentiico (Bachelard usa a palavra ‘ogo no lugar de cancel; nese artigo, uaremes as dUss po lavras com © mesmo sentido). Esse perfil so bseia nas vias que uma vnicecorrente flisfic & capaz do dar conta de todas 4 determinapées que existem em relagso sum concito em pat= ticular. Pea exlicar a amplitude de un coacet ¢ sua evalu a histvin das ‘cidacas,€ necesio descrevélo em Teg da um dos cores esse perf. B importante ressaltar que Bachelardpropée 0 conceito de perfil episemoldpico em temos de uma feicandlise indivi dual, ou seja, esse perfil varia de individu para individno, tem fungto do seu nivel de conbecimento e de sua expetiénca em determinada dea do conhecimento 1x0 nfo invalida que tatrapolemos a nogto de perfil epstemologico para a anise de conhecimento quimico em fungio de uma situagto de en: sino-aprendizagem. Pelo contrtio, a aplicagio dessa nogio de perfil ao conheclmento quimico permite tragar uma linha evo: Intiva de cada conceito em relagto & histéra da cincia e em relagio & esrutura cognitiva do aprendiz. ‘A nossa proposta de perfl epistemolégica 6 que qualquer conc quimco pode ese o puis Compo, fem termos de um peril Quimica ‘Ordem de Complexidade Creseente do Conce ‘Tomemos um exemplo do préprio Bochelan para clarear 0 aque seja esse perfil, Esse autor exemplifica seu perfil, que é quase idéntico a0 apreseatado acim, alrwés da nolo. do massa, Assim, o relismo estéimpregnado de senso-comum luna nogio realist de masse arbui massa apenas agulo que Trea. noo dems corespondes at "ee io quantitative grosseima © como que évida de reali dade. Apreciarse a massa pel vista", Em elagao a0 empiriamo, que o autor adjetva de claro © posiivisi, "a nogdo de masta correspondente aun empreg0 fenatlosamente empitico, a uma dterminagéo objetiva prec. S2. O conceito estd nto ligado & uilizagdo da balanga (..) ‘ial conceito simples e positivo, a uma determinagao simples ¢ postva de insirumento (mesmo que sjateoricamente com plicado) coresponde ‘um pensamento empiico,sélido, claro, positive eimével “d para 0 que © autor chams de racionlismo clissco, “a nogio.de massa define-se mum corpo de noses © nfo apenas como um elemento primitivo de uma experigacia imediata ¢ dlvela, Com Newton a massa serd definida como 0 quociente da forga pela sceleragSo. Forga, acelerago, massa, estabele- cemse correlativamente numa releplo eleramente recional, Sado gu eta lato § pretamente anand pl ast da avimética" (© racionalismo moderno faz com que 8s nogdes se ornem sais complex. A ‘nogdo de mases, que cra ‘uma funglo sim- ples, vai se tornar complexa, dependente de uma série de ou- tras nogées: Com efit, a relatividade descobre que a masse, ‘utrora definida como ladependeate da velocidad, como ab: Solita no tempo e 20 espago, como base de um sistema de ‘unidades absolutes, € uma fugio complicada da velocidade. ‘A massa de um objeto 6 pois Telativa 20 deslocameato deste objeto (.-) Também ¢ falta de significado « nogio de massa absolota(..) Mais uma complicagio nocional: a fisica rela- livist, nogdo de massa ja aio @ helerogénca 8 energia. Em ‘ume, e nogso simples dé lugar a uma nogdo complesa, em declinar © seu papel de elemento. A massa permanece uma nogdo de base ¢ esta noplo de base & complexa. Apenas em cemplexa se pode simplificr. Simplift- carse na apliesto pelo abandono de determinadas sutilezas, pela eliminagdo de determinadas variagSes delicudas. Mas fora do problema da aplicagb, e consequentemente 20 nivel, das construgées raclanais @ prior (gife do autor), 0 mero de fungesinternas da nogd0 multipties-e," E interessante notar que & medida que se percore esse per fil epistemologico, para qualquer nogéo, esta vai se tormando mals complera ao longo do perfil, ¢ também mais raional. ‘Além iso, a parte "Tealista” do especito de nocdes comes: pponde, normalmente, is conceppBes espontaneas ou conceitos ‘teratives que #8. pessoas possuem, multas vezes. inde- pendente da formagio escolar. No corpo teérico da ciéacia tte tipo de nogto jé nfo existe. Aqui o espectro comega pelo fempirismo. Mas, a0 se pensar no processo de ensino-sprend zagem de ima determizada discplina, a pare realista do es- peetto & fundamental, pois o aluno pessui uma série de con feito alternatives realisas que vio interferr na aqusiglo dos oneeiios num nivel cieniico. ‘Nem fodas as nog6es tém ease espectro completo. A nogio de lomo, por exemple, nasce na guimice jé como Uma Rogie racional. Seu maior problems, incialmente, foi jstaneate falta de uma prova empitics psiiva, e por isso muitos qui- smicos se reeusaram a aceite la desde o inilo, APLICAGAO DA NOCAO DE PEREIL EPISTEMOLOGICO A CONCEITOS QUIMICOS A aplicagio desse perfil epistemolégico acs conceitos qui ‘micos contribui para se avaliar o alcance de cada conceito, assim como suas limitag6es face ao desenvolvimento da qut- mica. A percepsio dessa evolugio dos conceitos pode conti- buir para que © aluno compreenda como se dé produgio do conhecimento, percebendo inclusive as rupluras que existem entre a quimica clissica e a quimica moder, ¢ como as no- {es que eram simples na quimica cléssica se tornaram eom- plexas ne quimica moderna, Essa perspectiva noga a Quimica enguanto uma eiéneia estétiea, presi a um mundo de leis nafurais imutéveis, que 6 tio cara a0 positivismo. Um ‘exame das tcories que os quimicos foram construindo a0 lon- {g0 do tempo mostra como os conbecimentos fisicos sobre & festrutura do tomo vio, eada vez mais, penetrando na quim 2, subvertendo conceltos bésicos, ¢ inventando um mundo submicroseépico em que muitas das leis naturais devem set revistas. £ importante, também, mostrar as rupturas que muitas ve- 20s existem enlre um posto e outro do perfil epistemoligico, ‘A nogio do dtomo como o bloco bisico de construgso da ma téria, to cara a teoria at6mico-molecular elissica, foi total- mente subvertida com 0 advento dos modelos alémicos da ‘mecinica ondulatéria. © que se imaginava como um s6lido bloco de construgio da matéria se revela agora um padrio di- fuso, constituido por particulas que tém simultaneamente ca- racteristcas de onda, © para as quais nio se pode falar em {rajetoria, mas sim em estados probabilisicos. A mesma rup- tura ocorte entre tuma visto realista do mundo e a visio clés- sion da teoria alémica. Como imaginar que a matéria que nos parece tio sélida ¢ continua, seje na verdade descontinus, “eheia” de vazios? A idéia inttoduzida pelo modelo de dtome nuclear, de que © tomo é, na sua maior parte, vazio, pode ser enlendida numa perspectiva, que vé a matéria como algo pleno? Esses exemplos mostram que a histria da quiimica no 6 feita de uma sucesséo linear de fates. Ao contritio, a maio- ria dos avangos € conseguida a duras penas, sendo normal- ‘mente mareados por intensos debates que vio resultar em rup- furas entre as novas concepgées © as concepeées passadas. CONCEITOS REALISTAS E EMPIRISTAS NA QUIMICA A nogdo de perfil epistemolégico pode fornecer uma im- portante categoria pare andlse dos programas de quimica pare 1" 2 graus. Para estabelecé-la, vejamos como podemos dis- trituir 0 conhecimento quimico por esse perfil. © Realismo nio & um componente do conhecimento qui smico indispensivel para uma quimiea scadémica. No entasto, essa parte do perfil ¢ fundamental para o processo de ensino” aprendizagem, pois compreende as nog6es que 0 aluino possi fem nivel de senso-comum, Para se inicar o estudo de um de- terminado assunto em quimica seria desejével conhecer as no- ges que 0 aluno apresenta nesse nivel. Um grande mimero de pesquisas realizadas sobre estes “conceitos alternativos" re- vela que os alunos possuem uma série de idéiasalternativas sobre os diversos conceitos ensinados nas aulas de ciencias, © que essas idéias slo pessoais,fixus e dificeis de serem mu- dadas, Apesar de pessous, é possivel encontrar um padrio de idéias comuns vitios estudantes!®, Existem bibliografias abrangentes sobre estes estudos, uma delas intitulada "Stu- dents Alternative Frameworks and Science Education"2°, Vi- ios destes estudos mostram que nodes aparentemente sim- ples, como por exemplo a idéia de que a matéria 6 descont- ‘nua, no sto plenamente assimiladas através da instrugio tra- icional. O aluno continua a pensar a matéria como continua, quando colocado frente a uma situaglo problemélica, Por exemplo, um estudo realizado com estudantes de Israel na ft xa de 13-14 anos, um ano apés eles terem estudado © modelo corpuscular da matéria, mostra que percentagem daqueles que ainda visualizam a maiéria como algo continuo, ¢ alts, variando de 212 45% do universo pesquisado, conforme 0 tipo de teste a que os estudantes haviam se submetido* uiMcA Nova 15(91992) Esse exemplo mostra a importincia que as nogSes realistas dos alunos desempenham no provesso de ensino-wprendizs gem. Neste nivel, os concetos sio elaborados pelos alunos de uma maneira intuitiva, e estio, de certa forma, muito vincu- Iados a percepsS0 sensorial. O professor deve procurar ter avesso a essas nogdes intutivas. A légica com que o adoles- cente constr essas nogdes pode se revelar um eaminho inte- ressante a ser percorrido na io dos conceitos tidos ‘como corretos dentro da quimica. O desconhecimento comple: to dessas nogGes intuitivas pode levar 0 aluno a uma visio

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