You are on page 1of 157
C mcd no Brsl depois da publiengior de Laronja mevdnie. ny Bags revela una ane inglesa, Primmeien lara adredivel carrera com A i Aidatea do Autor tambo profesor de erature aa lange dhe Beas ce emvare oor com wn Fngugern deer tela ¢ vt, capa de lice» swear sfc de itulos curtos. divididos eon items que cca inti etras do Reina Unie sed «p em fre rain, en prio, © 12. Minel, camo everitor de lkento, Burgess eonsefue lager m8 sério e eoneiso dor prineipais autores ¢ movin ingen eon ator colouile a infrmalidade de urna cathe nmin Area deinteresse do volume © Literatura ® 2s-ns-osaue-s tn A Literatura | Anthorty Burgess “AE A Literatura Inglesa © Anthooy Burgess 1958, Esa ead de Engl Stotere — A trey fetes, 2, fi pabicala 2 aordo com Longman Grou Limited, Lacon ‘de Andrade: Preparacio de texto Cldudin Carvalho Neves Revisiio écnica ‘Joba Milton Revisao tim de Carvalho M. de Souza fas Zilli Rosemary Cataldi Machado Filigfo de arte (miolo) Diving Rocha Corte Capa Beco Bottini 2 (SBN 85 08 05884 5 1996, “Tados os diteicor reservados Edieora Avia S.A, Ru Batio de Iguape, 110 — CEP 01507.900 Tel: PABX (O11) 278-9322 — Caina Postal 8656 End. Telegeifico “Bo fax (O11) 277-4146 ‘Sto Paulo (SP) TALVEZ YM 305 MATORES TRUNFos DESTE LivRo SETA 0 Fate DE ANTHONY BURGESS TER siP0 CAPAZ DE PRDUZIR UM ESTYDO Hista’R:0g sem LANGAR Miko Dos NABITUAIS RECURSOS ACADEM 005 NUMA LING VAGEM FLY ENTE OBJETIVA E SEMPRE AGRADAVEL ELE OFERECE UMA INTRODU CHO A LITERATUR A INGLESA com a in FORMALIDADE DE QUEM MANTE'M UMA GonVERSA ENTRE AM/GoS. ESSA HABILIDADE TORN A AiNDA MAIS FASC] NANTE A,NIAGEM @JE AUTOR LEIToR pee ENDEM ATRAVES Dos SECVLOS, NUM Pe Rion, Que VAT DA BRETANHA DomiNADA PELO iMPERI9 ROMAN ATE 4 DECADA DE 1950. : BURGESS , TOREM, Nao SE LiMity SAGAR UM PAN - RAMA DAS LETRAS INGLE SASAU ANG A BEA HISTORIA, PELA GEOGRAFIA TELA Mite Dey A E ATE PELO op_ RATER Do Povo PARA MoSTRAR DE QUE MANEI RA ESSES FATO RES ,REUNID5, DERAM FoRMA ’ CITE RA TURA Como EXPRESSA® ARTIST/CA, VAI ALEM : BUSCA ARGUMENTOS PARA EXPLICA-LA WA FORMACT. DA LINGUA NA FoRGA DAS CONSOANTES,MA INFLUEN. CIA Do FRANCES E De LAT/M. Dos BRETSES ‘4 CoN QUISTA NoRMANDA, DoS PRIMELROS TEXTOS LITE- |RARioS CONHECID®S, GUARDADOS EM MONA STE RIas 4s |iMoVAGSES DE JAMES YCE E Ao EXPERIMENTAL Ts mo DE HENRY GREEN, DESFILAM 05 AVTORES E ESTiLoS [QUE MAIS ConTRiBu/RAM PARA DAR LITE RATURA INGLESA A GRANDEZA QUE SEMPRE TEVE. Para Liana OUTRO MERITO DE ANTHONY BURGESS E CoNTEX. TUALIZAR ToDod ESSES TEMAS,DE Modo A ofe- RECER Ao LEITOR NAO So’ NOMES E FATOS, MAS TAMBEM AS CONDI GSES EM QUE BLES SURG|RAM. ASSIM, ANTES DE DEPARAR Com MARLOWE ov SHAKESPEARE, VAMOS ENCONTRAR UMA BREVE E PRECISA ExPLicaeho SOBRE A ORIGEM DO DRAMA ELISA BETANO, DA CATARSE ARISTOTELI cA A iNFLUENCIA DE SENECA, Sumario Prefécio 7 1 O que é literatura? 8 2 O que éa literatura inglesa? 17 4 A primeica literatura ingles 23 4 A chegada dos normandos 31 5 Chaucer e depois 39 Incerlidio— A Biblia inglesa 51 6 Os primérdios do drama 55 7 Oalvorecer do drama inglés 63 B Os primeitos dramas clisabetanos 74 9 Willian Shakespeare 89 UO Outros dramaturgos elisabecanos 100 1A Poesia e prosa no perfodo Todor 111 12, A época de Milton: fim de um periodo 122 13 A épocade Dryden 144 14 O novo drama 158 15 Poesia na fipoca da Razdo 167 16 Prosa na Fipoca da Razio 183 17 Os romanticos 196 18 A época vitoriara 213 19 Vida nova no drama 232 20 A chegada da época moderna 244 2 Acéa época atual 253 22 O romance inglés desde 1950 265 A versificagio inglesa 274 Sugestoes de leitaca 288 Quadro cronolégico 295 fndice onoméstico 309 Prefacio Ere tii agian xe em 1957, cm Kelantam, urn clos estados do nordeste da Malésia. Na época, eu trabalhava como chefe do Departamento de Inglés no Federal Training em Kora Bharu © compreendi que meus estudantes, que eram de ragas e culturas diferentes, pre- cisavam de um livro fécil que Ihes fornecesse o contexto histérico capaz de tor- ‘nar mais inteligiveis alguns dos livros de seu exame final. O resultado foi esta breve histéria da literatura inglesa que, ns treze anos ou quase desde que apa- receu pela primeira vez, tem sido amplamence usada na Europa assim como no ue costumava sero império britinico. Talvez seja descorés pata com os esta dantes europeus fazer com que esta obra ainda se apresente como uma espécie de produgio tropical, as ela foi escres em um ambience de cobras e tambores da selva, € me parece malicia inofensiva deixar que eles continuem silvando e bax tendo em algum lugar como fando de uma discusséo sobre o Parafie perdido, No entanto outtas mudangas se fizeram necessicis, particularmente a atualizagio do balanco da literatura britanica contemporines. Estou consciente da intocada ingermidade da prosa ¢ de certos julgamentos litetérios que foram proferidos, mas tudo isso s6 pode ser corrigido quendo um novo liveo viet a sr escrito, uma rarefa para a qual sinda ado estou preparado, Os fatos permanecem suficiente- mente slides, e espero que eles contiruem a alimentar, por maior que seja a fox _me por fatos que os estucantes de literatura inglesa possum, Quero me referi, E claro, aos estudantes de nivel elemertae, Se aprenderem a ficat mais famintos, espero que se dirjam & grande Hiszéra da literatura imgltca de Cambridge 0% 20 trabalho mais breve de Legouis e Cazamien. Anthony Burgess Brctiano, Ieilia Ide agosto de 1971 1 O que é literatura? Dee a aca ser grosseiramente divididos em dois grupos — as ciéncias e as artes. As cién- rei Artur continua to poderoso como 0 foi no passado — pademes ver isso nfo 36 nos filmes camo nos livtosinféntis, como também mo Curioso rumor que circulou sm Inglacerra em 1940: que Artur voleara para expulsar o esperado invasor, que ele jamais morrers. Tambémn um outro mito Ppoderoso — mas no to poderoso — iria surgi entre os ingleses —-o de Robin Hood e seus seguidotes, os fora-da-lei que nio aceitatam o dominio notmando « ue viveram, livres como as folhas verdes, na floresta (O tempo passa. Os normandos aprenderam a Ifagua dos ingleses, e alguns ingleses aprenderam a agua dos normandos. Mas o inglés, nia o francés nor, ‘mando, iria prevalecer. Vemos entdo descavolversse lentamente tum tipo de inglés que se enriquece com os empréstimos tomados ao francés normando, ve. ‘mos as palavras engatinhando nos livros, em geral introduzidas ao lado de sua tsadlucio em inglés arcaico: "Despair, that is to say, wanhope” ("Desespero, s- {0 €, wanhope"). Mas, 2s vezes, até mesmo hoje a miscura no pasece completa (Palavras como *wal io — parecem mais natucais pata os ingleses do ue palaveas como ‘promenade”.) A chegada do francés normando Inglaterra também abrin a porta para o empréstimo de palavras latinas (0 latim sendo a Uinigua matriz do frencés), de modo que o que 6 de fato, bor ingles povle soar éstranho ¢ até mesmro absusdo ao ouvido inglés. Ds. Johnson, no séeulo XVIII, comencou uma certa pega, dizendo: “Tem vicalidade insuficiente para se pre. «servar da puttefagio” (‘Te has insuficiene vitality to preserve ie from putrefac. tion”). Ble poderia ter dito, e de Fao jé 0 dissera antes: “Nao tem suficiente ex. piticuosidade para se manter doce” ("Ie has not wit enough to keep it sweet") A segunda fiase & quase puro inglés arcaico; a primeira é umn mistuta de fran. «fs latim, A. data que devemos lembrar como assinalando o comeso do inte fesse normando na lingua dos conquistados é 1204, quando a Noemania fol derrorada ea ligasio dos notmandos com 0 continente foi cortada HA muico o que dizer sobre a lieravura esctita no inglés médio —a lin. ‘gua da transiglo — mas, como nio estamos hoje em dia interessados em ler qualquer coisa escrita, digamos, entte 1200 e 1340 (0 ano do nascimento de 8 4. A catecapa Bot NORKANDOS Chaucer), ice formular sumariamente o que é peeciso saber sobre os eseti- ho para o primeiro grande poeta inglés. ores gue abrem cam ©) Inglés médio — Escritos veligiosos % — obras como 0 Ormilim, Hé um grande aimero de textos religiosos — ob uma tradugio de algans evangelhos lias na miss, feita pelo monge Orm por volta de 1200, Hé o Ansene Ricle—conselhos dados por um padre a trésse- hors elgiosas qe vite oem um content, mas em mpegs casa perto de uma igreja, Este altimo chega a ser encantador, parece que, nessa época na literatura da Inglaterra, hd ura conscincia da mulher enquanto mu- thet — acinar que deve se tate crise delcaamente, om nal. ‘guage geatil. Hé urna ligacdo aqui com a devogto 2 Viegem Maria, Mic de Cristo, um culto que os normandos teeuxeram, praticado por eles em oragbes & homenagens mesmo quando eta proibido por Roma. A cavalaria, que exigia uma dedicagfo mulher quase chegando & adoragio, € wm outro mito ds ant ‘ga Europa, liquidado Finalmente por Cervantes em sua sética Dare Quis, es- rita na época de Shakespeare. Hii um livro curioso escrito por volea de 1300 urn elugtodo fae fled na nglaera —, de Robt Mannyng, che tnado Exame do pecado, historias em versos sobte os vétis caminhos do pecado ~ sai, dvestid, asim como eicante, HO ema dom, erove velmente escrito por Richard Rolle por volta de 1340, que versa sabre as dores no infor cm dates pasos as alms danas, eorturada ele sede, a0 descobsie que o fogo nao ir sacid-hs, chupam as cabegas de cobras veneno- sas. Os dem@nies gritam, batem com mattelos em chamas, enquanto suas vsti mas derramam ligrimas de fogo, naussadas por urna imundicie indizivel e por cheieos de um horcor indescrtivel — Esoritos ndo-religiosos OD Inglés médi Entre os escritos nio-Feligiosos, pode-se assinalat, em primeiro Igat, cer- cas cancies, escritas com grande delicades e habjlidade, enas que nifo foram as- sinadas, que ainda hoje tém o poder ce nos encancar e que ainda sto cantadas Esta, por exemplo, é conhecida em toda parte, junco com sua mdsics: Somer i oem in, ude ing cvea! Grousth sed and ilewesh red, ‘Ane springch the wnde na — Sing seen! % ALUITERATURA GKESA 0 werto es chegando,/Canta aleo cucol/A semente exes sa/B agora 0 bosque floresce —/ Canta cuco!) feet ae Hi poesia amoross bela cangi 8, como a bela cangio Alison (um nome comum pata ‘moses na [dade Média), que tem 0 refi: ‘ a ‘An bendy ap ibe y-brt, {ches fro beveze iis we rent, From alle wyomen my dove fs kent Ant bybe on Akioun ‘Vamos traduzi-la assim: {or sorte eu zonsegui — sei que me foi envied ue me foi enviado pelo céu. De todas as outras mulheres eu resguardei meu amor: mas ele se acenieu com Alison} __ Hd cangdes pacridticas, cénticos para o Natal e a Péscoa, até mesmo can- Bes politica ©) 0s poemas longos do inglés médio (sperms longs so A aes rind — sia dl inl — aris dea dpa fa entre os dois a ‘para ver quem cantava melhor; Pérolt — um longo la- reneo em uns ingungem muito omen sae soe dean ee isto do céu para onde ela foi. Inclufda no mesmo manusctito de Paola e toms bem pence, ome laa meaion do stele RIV) hee akee eh i excita em dalero de Lancashitechamata St Gavsyh ta Corns Wook Ibs deriva ds mites da Tale Romie fl do core Goene se curin econo om o Caaeito Vere dotulo un vines es de, de ter sua cabega cota por Gavan, apanhaes taejlaneoce, cles eke baixo de set brago e vai embora. Mas ele jura que possado um ano ele voleatia scone Cp ed de Gam reas i Ctl. Ele rite stots, mat, quando senor to sattonerea ee ee a Graleio Ved, Gain se dea do cnt de nmuloublicede ste sae, the dra O ppc Cale Verde plens tenteren eos don fla, Six Ganainreche um golpe que ne enantio ee fe ne nen eon aise pnca eps nee um golpe faral poema estd escrito (de maneira bem adequada) em head- rave (ae i exrinn) em wn inguagem de mst oa ie rorrmas mis no entant,€ noel pls even do tone a en nt ‘mot e um grande poder de descricZo. cee 4. A cxtoaDA Dos NoRMANDOS aT Das outras obras do século XIV, 16 iremos mencionat un livre muito es~ seanho de viager escrito por um cert “Sic John Mandeville” — cojo nome & provavelmente fictici. O escrtor parece terse enamorado de seu proprio livro, pois aparentemente cleo escreveu primeiro em latim, depois ex francts e ft halmence em inglés. E um liveo incerssante sob vatios aspectos € parece cer i dlo populas, pois foi copiado wits veres (a imprensa nfo tinha sido ainda in- ventada), € bd no Museu Brivinico, atualmente, vinte ou mais cépias tnanascritas dele, Mandeville introdu um grande mimero de palavrs france- as em seu inglés — palavras que agora so moeda corrente,tais como ca1se (causa) e quantity quantidade). Como relao de viagem a0 Oriente € uma obra ridicula; hi contos fantésticos de canibais e de homens com um s6 pé — to _prande que serviam pata se proteger do sol —, homens com cabesas de eachor- fc os Monsttos mais incriveis. Apesar disso, alimentou a fome de conbeci mento de reras estrangeiras, e— ns que vivernos em um mundo onde se co- hece qualquer canto — sentimo-nos inclinados a invejar a emogio que 0 leitores de Mandeville devem ter ext-aido a0 se maravilharem com as regides cstrangeitas que s6 uns poucos podiam visita. O inglés é bastante inteligivel 5s leitores muculmancs podem se inceressar pela seguinte translieracfo do rome da profec: Macharte was lorn in Arabye, that was a pore Kase that byt camel that wenn swith marchante for marchandlse. [Machamere nasceu na Arabia, er um pobre tipo que guardava os camelos que seguiam com os negaciantes de mercadorias.) O) Pedro, 0 lavrador Por fim, devo mencionat William Langland (1332-1400), lkimo esei- torde algum mérito a usara técnica da bead-rhyme paca um poema longo. A vi- sig de Pad, o laadorstaca 08 abusos da Igeeja crit na Inglaterra, mas con- lama também as pessoas comuns — os leigos — para abandonar seu inceresse pelas coisas deste mundo e seguir @ nica cosa que valia@ pena— “a verdade Sagrada’, O lavrador que dé seu nome ao poema sc pée diante de ur “field fol of fk” (“campo cheio de gente”), que epresenta 0 mundo, Ihes mostra 0 ca- tminho para a salvacio, O poema é aegirco: isto é como no Pilgrin’'s progress, 6 progres do peregrine, de John Bunyan, encontrames figuras com nomes como Cobige, Glaconetia, Teologia, e, também como nessa outra obra, eraracse da hisedria de uma peregrinagio — a cavessia do dificil carninho pars a salva. Pedrs, 0 leerader, no entanto, desvia-se muitas vezes do caminho, x hst6ria se torna sem forms, mas o poder deamético do autor & considerével e seu verso 7 cm sea asin one vigor ae ipl pl por oe fey Char ut ane iene de ange Cs rol ro free nnd sb see ec ppusado, O fututo est nos pedrds de cimas regulaes, nas formas hes francesas, no conhecimento classic es Omens mies a oe com sta feaeby, sua falta de forma, sua preacupagio com 0 pe o cn ‘seu amor pelo sermio, possui no entante c de sok ae pee de Langland. Esta mGsica me persegue quase desde minhs inane In habite as an bermite, unbaly of were, : Wide rice er tNoveo, quale n/m vem tot, Vestide como ib x ’ mein om bar hg he ‘para ouvir macavilhas.) Devries como se eu fosse pas adei por este mundo, 5 Chaucer e depois Gosstey Chaucer vivew em uma época rica em acontecimentos. Ele nasceu, como se cré, em 1340 ou por volta disso, quando a Guerra dos Cem Anos com a Franca jé tinha comesado, Trés vezes acante sua vida, a praga conhecida cemo a Peste Negra ("Black Death”) dizi- rou o pais. Quando estava na casa dos vinee, a agua inglesa se estabelecera, pela primeira vez, como a lingua dos tribunais de justiga. Quando j& no fim da asa dos trnta, 0 jovem e infeliz Riea-do II subiu ao trono, para ser depasto e assassinado por Bolingbroke, o rebelde que se tornou Hentique IV, us aro an- tes da morte de Chaucer, Em 1831, .trompeu a Revolta dos Camponeses, ¢ com ela, o reconlrecimento de que os teaballadores € os lavradores tinham di- ‘eitos hnimanos al como a classe média ea nobreza. Chaueet morreu em 1400, cerca de quarenta anos antes de um acontecimento realmence importante em nossa hist6tia literdria — a invengio da imprensa Chaucer pertencia aquela classe em ascensio da qual, nos séeulos seguin- tes, tantos grandes escritores derivavam. Ele no era camponés, nem sacerdore, rem um atistoctata, mas filho de um homem ligade 40 comércio: seu pai era tum negociante de vishos. Mas 0 jovem Geoffrey iri aprender bastante sobre a aristocracia ao se tornar um pajem dacondessa de Ulster, Recebeu promogio € fo servie no estrangeiro como um jovem soldado (Foi feito prsioneiro na Fran- a mas foi libertado pelo priprio rei da Inglaterra) 20 se casar enttou para a fa~ imiflia de John de Gaunt e teve a oportunidade de observar as manciras polidas, estudarcléncias e eres, as literacaras da Franga eda Telia todas esas cosas ddesempenhiaram seu papel para fazer de Chaucer um das mais bem equipados poetas ingleses. Conferiram também inteligencia, um forte senso de humor, tum bom outido musical ea capacieade de contar uma histéria — como pode- ria 0 jovem poecafracassat? 0 AluTERATORA INoLESA So muitas a seazagdes de Chauces, Em primeizo luge, apesa de seu conhecimento de lings mais “poidas” do contineate, ele ge limitou patron, camence a usar 0 daleto do inglés East Midland que et falado ein Londres. O dlaleco que ele encontrou no era rico em palavza, eno poss uma liera, tra importante da qual ele pucesse aprender algo, Em um cetta sentido, ele teve de iar a lings inglesa tal como a conhcemos hoje extabeleer suse tra, digas licerdsas, Pea fzé-o, ele precsou se volta, principalmete, pars a Ii feratuca da Frangaeeazet algo de sua elegncia para o inglés do Fast Midland, teve também de esquadintat os contos e a histéits da Furopa para enconteat, ‘seu assunto, Mas, finalmente, em sua obra-prima Os coutos de ‘Canterbury, ele en- controu sew proprio tertitério e deu & literatura algo que nunca fora visto antes — 2 observagio da vide como era de fato viva, imagens de pessoas que eramn reais (nto meres abteagdes lvresces) ¢ wma visio da vc que, com #08 toletin €ia, humor, ceticismo, paixio e amor pela humanidae,s6 podemos charnar de “moderna”. Chauce:€ um poeta vivo fala para nds hoje com uma vor tio clare como a qi foi cuvia em sua pedpriaépoca. E esa qualidade viva que The com, fere grandczs OA bingua de Chaucer Chaucer € também modetno, pois « lingua que usa pode ser, pela primei- 1 ver ta historia dk literatura inglesa, reconhecida como a lingua de nossa época. Pelo menos 60 que free; escuré-la ainda 6 ouvir algo que soa como um. idioma estrangeiro. Olhd-la ¢ ouvi-la a0 mesmo tempo € talvez o dinico modo cde aprecié-ta de fate. Mas certamente o crecho a seguir pode see chamado de “inglés modetno”, Perrence ao “Conco do vendedor de indulgéncias”; 0 narra- dor da historia esté ctacando o pecaclo da glutonetia: Ada on fade, ond bis wxf av, ro Paradys to labeur and to wo Wore driven for that wy, i is mo dred, For whyl thas Adam fated, a I rede He was in Pavadys; and whan shat be Eat of the frat dsended on the tre, ‘Anon be was owcst to and pee {Adio nosso paize cambém sus mulher/Do paraiso para o trabalho e para a des- ‘seaga/Foram expulsos por causa daquele pecado, no ¢ de espattar/Pois en quanto Adio ejvava, como eu li/Ble estars no Parafso; ¢ quando ele/Comen o rato proibide daquela vore /Bntdo foi condenado a desgraca e& dor} 5. Cuauern & pnrois a ‘A modernidade do inglés de Chaucer € também atestada pelo néimero aque se cornaram parte da fala cocidiana: “Murder will, 8 cona”), “The sniler with the knife beneath his cloak (O homem sortidente com a faca sobo manta"), "Gladly would he learn and iladly teach” (“Alegremente aprenderia ¢ alegremente ensinatia”) ¢ assim por diante. ) Pronincia de Chaucer Para a leitura em vor alta de Chaucer, eu recomendaria que se sexuissem algumas egras simples de prontincia. Dé as vogais uma qualidade “continen- cal, isto 6, faga-as soar como se pertencessem 20 italiano ou a0 espanhol ou, en- {Go 20 malaio romanizado, 20 chins ox 20 urdu, E muito importante pronun- ciat 0 “eno fim de palavras como “shorte” (cucto), “erthe” (terra), "throte (earganta), “bathed” (banhedo), “croppes" (colheitas), para ado perder o ritmo de Chaucer, Um “c” bem no fim de uma palavts, no etanto, nlo deve ser pro- rnunciado se for seguido de um “h” ox de outra vogal. As consoantes si0 pro- ‘nunciadas quase como no inglés atual, exceto que o “gh” em “cough” (esse), ‘ough’ (siso) e “deoghte” (carga) tem um som gututal fechado, ¢ “ng” & pro- rnunciado como se fosse soletrado “ogg”. Em outras palavras, “singer” (cancot) e “finger” (dedo) imam, Tente ler alto o trecho a seguir a abertara de Os con- 10s de Canterbury) Wha thas Aprile with bis shoures vee ‘The doghte of Manche hath pened tote rote, ‘And barbed evry eoyne in sich licoar Of whicb vert engntad iste flor; ‘Wha Zaphirns ek with bir suet bao Iupived hash in every bale and beth ‘The endre crops, and the yange sonme Hatin the Ram bis balfe cous yon, ‘And tmale fouls maker reed That slepen atthe ght swith open ye, (Si priketh hem nature in ir corage ‘Than longen folk to goon on pilgrimage: [Quando o chuveso abril corcou Fel2/A secura de marco na sai, /E banboa cada vein no licoQue tem 0 dom de produzir a ilor/Quando Zire com o alento do- ‘celPara as copas € os campos também trouxe/Tentos brotos, eo sol de pouca idscerDo curso em Aries percorteu metadey passarada fz 0 seu concerto/B. dorme @ noite inceia de olho abereo:A(Que anacureza acende 0 coregioNEntio te vai em petegrinacio!.) 2 Acavmazuma miciesa As diferengas entre o inglés de Chaucer eo inglés atual podem see vistas claramente ness trecho e itéo nos marcar como muito importantes. Pot exemn. plo, os verbos no plural tém uma terminagio en) que o inglés atual nao mais possui, Podemos ver isso em “maken” (Fazer), “slepen” (dormir), * Sin) Bn er de them (se), Chae wn <2 "ick em” (chuce-s). “Hath” (tem) e “priketh" (aguithose)conhiecemos d Sbakespeate da Biblia “Yon” com eu prefs ent bem mis oreo alemao da Alea Tdide Média ou do holandés do que do inglés atual;o alemao 4k Alea dade Média por exerplo, nos dé gemmnen gener por “rn (cor fido) ¢ “won” (vencido), quando essas palavras sio usadase lavrassio usadas como partitpios pase sedos. O “hie” de Chaucer serornou “theit” (seus, deles) Mas, quanto wo rove sua lingua € igual & nossa, usar o inglés modemo, ‘quanto a0 resto, € iss0 nos autoriza a chamé-lo o primeito poeta a ©) 0 realismo de Chancer [Em todo caso, quando estamos de fato imersos em um conto de Chaucer, seus bilantes dns descrtivs ese hamor os ennaletn er en ene cer que estamos lendo um poeta que viveu ha seiscente mi por exemple, um techo do “Conto do padee da fe fo punhado por uma tapos 5 em eae anos. Vamos examinar, © galo, Chauntecler, netalizado: tat dors arn sey aon ‘Ana sen the foward be grove goo, ‘And bar upon bt be th cb ace Andnden, “Orc! Harve! and Wea! ial Fal The fe!” and after im they ra, ‘And ek with tzxe many anotber ma Ren Call, or digge, and Talbt, end Gorland, Ard Malkin witha defn bi hen, Ram ead alana ek th ey bo, So were they fer for Barking of the dogs And honing of he mcr and women ce Thay rats, be hanger bre bee Thay ldo as ences don in ble, he aches ren men ud bam gle The gos for frelon over he rer, Ot of be Become these of bs So bidiows wash rive. {.. Jfetavam tador do Indo de orl viram a rapos ir até oarvoredo/Levando 1 galo nas suas enstasyE todos grtatem: "Fora! Socorro! Aide mimi/Ey Eita ra, 5. Cuaucen 8 oprO%S “a posal” estes dela corteram /E moitys homens codes com bascdes/Correu Cotte, nosso fo, e‘Talbor, ¢ Geeland,/E Malkin, com wa roce na mioyCorseu vac €, bezerro, ¢ até mesmo os porcos/Pois estavam assustados com 0s latidos dos esIE com as gritos dos homens e dis mulheres (Correram tanto, que pensayam que seus coragbes fosem arrchentar/Gritavam como 08 diabos If no infernayOs pator betravaim como se o§ homeas fossern macé-los(Os gansos com medo ‘yosvam em cima das Areores/Da cole saiv um enxame de abelhas;Tio cersi- vel er 0 barulho..) Ese vigor esta agilidade sio algo novo na poesia ingles ‘A obbra Or contas de Canterbury € longa, mas ainda inacabada quando da morte de Chaucer. Traa-se em parte de uma idéla nova e, em parte, de urna idéia também antiga, Colecées de contesjé cram populares bé muito tempo no continence (e tambéen no Isla, como Ar mile ama nites nos fembram). A obra prima ce Chaucee no pasta de uma colegio de hist6rias, ¢ poucas delas sto ori- sinais. Essa é uma maneiza de ver Os conas de Canterdury. Maso que nunca fora feito antes era tomar wm grupo de seres humanos — de todos os temperamen- tos e posigies sociais — e misturé-los todos, faz8-los contar hist6ras, ¢ fazer com jue esas histérias iuserassem se3 caciter, suas personalidades. A obra dé ‘Chaucee brilha com drama e vida: os eemperamentos se chocam, cada pessoa tem seu préprio modo de falar sua propria filosofia, eo eesultado no € ape- nas um quadeo da Alea [dade Média — com todo sea colorido e variedade — mas do proprio mundo. {As peregrinagées eram parte integrante da vida cristina época de Chau- ‘er tal come ainda sfo da vida dos mugulmanos e dos hindus. Quando a prima- ‘vera chegava, quando a neve, «.geada € mais tarde as enchentes desimpe 10s caminhos da Inglaterra eos tornavam mais seguros para serem percortidos, centio pessoas de todas as classes da sociedace empreendliam suas viagens para os lugares sages. Uma dessas cidadks sagradas na Inglaterra era Canterbury, conde Thomas a Becket, este “santo marti abencoadlo” assassinado durance 0 reinado de Henrique Il, estava sepultado. Para os peregeinos era conveniente andar em compaahia, pois era costume encontrarem-se em algum ponto de partida como na Tabard Inn (Estalagem ‘Tabaed) em Southwark, Londres. Por ceasido da peregrinacio imortal de Os conos de Gantorry, Hacty Bailes, 0 pro- prietério da Tabard, jé que cle préptio participava da peregeinagio, oferecea lum jantar para o peregtino que contasse a melhor hist6ria durante o Fong tra jeto até Canterbury. Nio descobrimos quem ganiou 0 prémio da proprietirio; 6 temos certoz de uma coisa — nio foi Chaucer. Ble, um peregtino cfmido, Conta uma histéria em verso tio tettivelmente mon6tona que Harry Bailey faz com que ele pate no meio dela. Entio Chaucer —o grande poeta-— conta uma histéria em praua que mal chega ser menos monétona. (Isso, eu acho, €0 pri= meiro exemplo ne literatura do peculiar humor inglés que se deleita de manei- ‘i afiada na auto-itrisio. E um tipo de humor cuja melhor expressio se encon- “4 Averenaruns moussa ‘ea no exército brisnico, com sua cangéo que diz “No podemos lua, nfo po- dlemon atta” e seu grito "Gragas a Deus, temos uma macinha”. Os ingleses de {aro nfo se levam muito a série.) Os outros contos sio deliciosos e vatindos — 2 rico humor do “Conto do Catpinteizo"e do “Conco do Moleiro", 0 conto pa téeico da “Abadesia”, o conto romantico do "Cavaleito" © todos 0s outtos. O pprélogo aos contos é uma maravilhosa galeria de reteacos das pessoas eipicas a Epoca — 0 monge corcupto, a abadessa enjoada, o jover fidalgo folgexto —, pessoas cujas profisdes em sua maioria no mais exister, pois a sociedade que 4 produaiu cambém nfo existe mais, Nio temos mais meitinhs, nem predic dloces, nem vendedores de indulgéncias hoje, embore tenhamos médica, pio cos ¢cozinheios, Mas, além dos costumes e das profissdes estranhas, 0 queen contzamos sio seres humanos atemporais. Nao ihé fantasmas em Chaucet; sua cobra palpita com singe, & tio quente como a carne com vidi. ) Troilus e Cresida — Poemas de amor A segunda grande obra de Chaucer € Troilus ¢ Cresida, uma histéria de amor recothida dos anais da Guerra de Tia, uma guetta que alimentou os es- titores enropeus com inumeréveis mitos. Shakespeare também narrow o conto amargo desses doisamantes em tempo de guerra, A versio de Chauicer, com sua moral sobre a infidelidade das mulhetes, nao s6¢ erfgica mas também cheia de bhumor, e sua psicologia é tio impressionantemente modetna que pode ser lida, sob varies aspectos, como um romance moderna. De fato, pode ser chamada de ‘ primeira peca de grande extensio da ficclo inglesa. Sobre as outtas obras lon- {gas de Chaucer, nfo direi nada, Em muieas delas, depois de um bom inicio, ele parece se entediar subicamence ¢ deixf-las inacabadas, Mas aio deveros igno- rar seus breves poemas de amor, esctitos em formes francesas,exaleando a for~ ‘mosura de alguina beldade mitica, impregnados pela convengzo do amor cor- «és que exagecava oculto as mulberes até quase&religio: Your en tue wt ss meade, Tay the Beauté bem not stn, Se woumdet hit tanghont my bere hen. {Seus dois olhes info me macar subitamente/E poderei no suportar « belesa deles/Pois abritam uma ferida agada no meu co°asi0.] ‘Mas, mesmo no muro sério do amor, o humor de Chaucee transparece: Siw Ifo love ecepd am ft, naver think olen ibis pri lene Sin Lam fiw, Lone bie wt as Be 5. Cuawems © nevo%s 4% (Desde que escapei do amor fiquei fo gorda/Nio penso mais em ficer na sua cadeia magray/Desde que estou livre, nlo 0 considero mais como um set) Chaucer abriu caminho para uma nova ere da literatura, mas levou muito ‘empo para que um poeta to grande quanto ele pudesse construir sobre as ba- ses que criara. O ano de 1400 deveriacondusir — somos levados a pensar —a tum grande século, mas nfo foi o que aconteceu. Chaucer parece estar 8 frente de sua época, jamais sendo apreciado integralmente até mesmo pelo’ homens ue se intitulavam seus discipulos. E, infelizmente pata a obra de Chaucet, ‘ocorteram grandes mudangas na prontincia inglesa, mudangas que muito rapi- rigem, «Igreja cist E, no coranto, a latejacristd jamais fora muito amistosa em relagio 20 drama. Se voltarmos acs ltimos dias do Império Remano, podemos entender ‘© motivo. As pegas encenadas para um public pervertido, saturado, durante 0 ‘einado dos iltimos imperadores, era matcadas por um apego to absoluto 20 ulerajee a0 horror que éaé dfcil de acreditat. Homens condenados eram exe- cutados como parte da agio; « copulacdo acontecia abercamenite no paleo. A lareja condenou esta prostituigio da arte e, quando os teatros romanos foram fechados, 0 drama ficou paralisado, por assim dizer, por seus prdptios excessos dorance muitos séculos. Quando o drama recornow & Europa, ¢ fez de maneira simida.e modesta, a servigo da prépria Ire, Je comencei as qualidades dcamé:icas da missa da Igteja carlica, A mis sa tem movimento, dslogo, cor, desenvolvimento e elimex. Ditse-ia que a {grea ese preocupada em transmiti seus membros mnajestade do cema do sacrificio de Cristo, através de recursos draméticos, O ritual & um aspecto da religido, o outro €& doutrina. E assim, por meio de uma transigio natutal, po- dia-se esperar que os recursos dramsticos pudessem ser usados para transmitir as pessoas comuns — pessoas incapares de ler ou se interessarem por seemies —o mais importante dos ensinamentes da leteja Ji no século 1X, encontramos © genus dislogo dramético inserido na rissa do Domingo de Piscoa. A Ressu-regio de Cristo €celebrada nesse dia, e esta Ressurceigo €renovada e atualizada através de um didlogo entre os anos na sepaltura de Cristo eas trés Marias que vieram para guarat o Seu corper o ‘Auurerarona pecuesa ‘Anjos: A querr procuram na sepultura, 6 seguidoras de Cristo? Malheres: Bocuramos Jesus Cristo que foi crucificade, 6 Anjos! [Anjat: Ele nioescé aqui! Ele resuscicou como disse que fara. Vio, proclamern aque elese levancou da sepuleure Havia apresereagies dramtica similates na Sexta-Feira Santa ¢ no Netal No Naral, especialmente, pois a hiseéria do nascimento de Cristo e as citcuns- tancias dese nasciento sé rcas em possibilidades dramiticas —aestela apa secendo aos Mages, 0 cintico dos Anjos anunciand nascimento aos pestores, a chegacia dos Magos ao estabulo, 0 Massacre dos Inocentes por Heredes. Ha ne Franga um manuscrto do século XIM que contém cenas dramdticas muito sim- ples sobce esses dos ilkimos tomas, e também sobre 0s milagre de Sio Nicolau (ou o Papai Noe!) sobre a conversio de Sio Peulo, sobce Lizato retornando de centre 0s morto, sobre a apscigo de Cristo a dois de seus discfpulos no carinbo para Ema. A lingua dessas anigas pecas dramatcas , nacuralmente, latim. (O verniculo ainda no fora chamado a desempenhar nentnum papel no drama re- ligioso que o drma teligioso era sinda paste do cerimonial de Ire. 10s milagres" (Miracle Plays) F certo que nenhum deama religioso dese tipo existia na Inglaterea an- tes da Conquista Normand, e que foram os préprios normandos que introdu- iam o drama sacro na Inglatecra. Esse drama rornou-se popular. Pecas sobre personagens do Exangelho e os milagres dos santos tornaram-se mais elabora- as, exigiam mais “dominio do palco”, eventualmente transformavam-se em representacdes auténomas, divorciadas do ricual da Igeeja. De fato, elas saan do edificio da igres, para o pitio da igeeja, depois mudaram-se para a cida- de, onde comecou o processo de secularizacio. Por seculatizagio quero dizer contzole © participagio de nio-religiosos, do homem da rua ém oposiglo 30 padre na ipreja. © clero ainda eepresentou duraace um certo tempo, mas de- pois 0s cidadios ds cidade comegatam a dae uma mio, ¢ as vezes também ato- res ambulantes, centores ¢ malabaristas. Logo que as pecas comecaram ase di- vorciar dos servigos da Igreja, a prépria Igreja comegou 2 desaprovéclas e a proibit a participecio do clezo, Robert Manayng, em seu Exams do pocado (ver Capitulo 1V), diz que um padce: May yn the Chore hing thy ren, Play te resasveyn, ‘To make men br bere Gad, "has e os with flesh and bled Gif thou ds yt im wey or gro, A sy of nse ray yt omy 7.0 awvoRECER Do DRAMA IN ts 65 [Que na Igceja, por esta razdo/Representem a Ressurteiclo.../Para fazer 05 homens acreditar em Deus,/Que ele levancou-e com carne ¢ sangue... Se vock o fizer nas estradas ou nos campos /Parece uma verdadeita visio do pecaso.] [Em outeas palavras, um sacerdote paia atuar na resureigio de Cristo na inceja, pois era parce do ensino religios>, mas nas estradas e nos campos era um ‘outro assunto — pois af se eratava mais de um entretenimento do que um en- sino religioso. Incidentalmente, a palavra usada por Mannyng ao descrever es- sas pecas & miracles (milagres). O cerme "Miracle Play” é usado freqtientemence peta designar todas as pecasreligiosas da Idade Média; acho melhor aplicé-lo as, pegas que safram das igreas paca as cidades e que, em sua maior parte, lidavam com os milagres de Cristo ¢ de seus seguidlores. Agora vamos tratar de um tipo de pega religiosa bem mais importante no qual a Lgeeja nfo toma parte — quer Ticeralmente, quer figurativamence 0 0s mistévios” (Mystery Plays) [Bm 1264, o papa Urbano instituiu a festa de Corpus Christ. Essa fest ja- mals foi observada até 1311, quando um Concttio da Igeeja deecerou que deve- ria ser celebrada com codas as ceriménias vidas. Este dia — 0 mais longo do vetio do nocte — foi escolhido pelas puildas de negociantes das cidades da In- _laterra para a apresentagio de um ciclo de pecas baseadas em incidences da Bi- bia, pecas a que pademos chamar de /Aystory Play (mistérios, 0 tezmo “misté- rio” conocando um artesanato, uma hubilidade ou comércio; comparae com 0 frances métier¢ com o italiano mestiere — “oficio",“profissio"). Essas guildas de cometciantes ou de arcesios eram organizagées de homens tecnicamente capa- citados, homens agcupados para proteger suas profissbes, para a promocio do bem-estar geral e para objetivos socieis. Essa encenacio de pecas na festa de Corpus Christi se tornou uma de suas mais imporcances atividades socisis Cada guilda escolhia um episédio da Biblia, 0 episédio em geral deveria set adequado & profisséo ou eo comércio praticaco. O quanto elas se adequavam 8s vezes de maneira engragada — pode ser visto na lista das pecas apresen- tadas pelas guildas de Chester: A queda de Licier, polos Curtis. ‘A cviagze, pelos Comerciantes de tecidos 0 dilisi, pelos Tineuritos és es mages, pelos Comerciantes de vinhos, A iltina tia, pelos Padeios. A padre creifasaa de Crit, pelos A did aos inform, polos Coxinkeies. G meee 7.0 auvoRscen bo BRAMA MNGLES o lidades cOmicas da esposa teimosa e do marido exasperado. A esposa de Noé se recusa a entear na Arca, apesar dos chamados de Nog e de sua adverténcia de ‘que o dilivio vai comegar; ela quer levar suas amigas para bordo, e se Noé no consentir, ela afiema que, com dilivic ou sem dilivio, ficaré a0 lado delas: Fssa € apenas uma selecéo dle um carélogo complero; 0 niimero oral de pecas chega a 24, As guildas de Wakefield chegam a 33; as de Coventey, 42; as de York, 54, Os autores e o pailico precisevam de toda a luz do dia de Caps \ Cristi paca cumpeircodo esse esquema formidvel Cada guilda tinha sua prépria carcoga decorada, chamada de “carro aleg6- rico”, uma espéciede palo mével transportedo por toda a cidade, montado em | diferentes lugares e, no fim do longo dia de esperdculos, erzido de volta para | seu abrigo até o ero seguinte. A parte superior do carro alegérico era uma es- | pécie de paleo “ciecular” — o pailico na eua podiaficar sua voltae ver a ago dle qualquer &ngulo. As pecas erem apresentadas segunclo uma ordem cronolé- sia rigorosa — camegando com A queda de Licifer, ou a Criagao do mando, ter- rminando com 0 Due do Jutso Final —, uma dramatiaagio abrangente de hi riasjudaicas e criss. O atcebispo Rogers, que morreu em 1595, viu um dos ‘iltimos espeedcules de Chester; eis © que ele nos conta Yea sr, st up you sail, Ane ow forts with vil ale Fer, wishoat any fil 1 weil not ot of hit tow. But I base my gsi every on, (ne foe farther Fl not go; Thy shel! not drown, by St Jobnd IF may save ther lif iy loved me fl wll, by Christ? Bout thon wile le hem in hy chart, Elie row forth, Noah, ebitber eben lin, And ger the 2 nee wie em umm pelanque "Toda compania tem seu caceo alegérico, cujas alogoras es alto com dois niveis, um mais alto ¢ outro mais baixo, sobre quatro rodas. No ais baixo, eles se vestem , no mais alto, eles representam, ficaado bem 00 al to, para que codos possam ver e ouvie, Vao representando pot todos os lugaces tonde existam cuss. les comegamn nos portées da abadia, ¢, quando & primeira lagoriaj foi teptesentada, élevada até a alea crs dance da prefeicut, assim por dante, er. cada rus; ¢ assim cada ua tem uma alegoria sendo representada rela, a6 que todas os aleporias designadas para o dia tenbam sido representadas {Sim, senhor, pode fevantae vela/E rumar para diante com mi inclinacio,'Pois, sem qualquer divida,/Bu no sare deste cidade /Se nfo levae cade uma de mi has comadres/Nio dou mais nensum passoy/Blas oo vio se afogat, por Sio Joao¥Se eu poder slvac suas vidas.Blas goetam muito de mim, por Cristo! Mas fou voct as deiza entrar 9a arca/Ot pode ir embora, NuéE arranjac uma nova spo.) Nog e seus filhos tentavam lewi-la a bordo, Noé diz, sarcasticamente, “Bem-vinda a este barco, esposa”, a que sua mulher replica, “E tecebe isto co- \ Fssaspecas cram levadas a sro pels guilda, que nos deinarem invents- smo pagamento!” acompanhando as pelavras com um tapa em seu resto. ios detallades de coupas, da maquiagem (o homem que representava Deus Usava um casaco branco e tina a cara pintada de dourado) ¢ do dinheito gasto. A lista seguinte dé conta de alguns itens pagos pela Guilda dos Ferreirus de Coventry em 1496: | ‘Observamos em episédios como este um afastamento gradual do deama | de um conteilo puramente religioso. Na Segunda Pega dos Pastores de Wake- field, que trata, naturalmente, da homenagem prestada por "eertos pastores Tem para uma costela de carne, ij Jem para um quarto de vinho, ii Teer pago pam a segunda apresentagfo em Whyeeson, em pio, cerveja ¢ lonas, iis iid. ago aos avores do dia de Corpus Chris lem para Deus ji. Tem para Hetodes, ij, iii Tem para 0 diabo ¢ para Judas, xvi “Todas essas pegas eram andnimas, mas tinham certa arte de linguagem € construgio, um certo poder de caracterizagio, a que nenhuum poeta menor se envergonhacia de apor seu nome, E também tinham humor. A peca da guilda cde Chester sobre ¢ Dihivio (represencada pelos cartegadores e tiradores de dgua do cio Dee) explora, pela primeira vez na histéia do drama inglés, as potencia- ppobres” ao Crisco recém-nascido, a pripria histria bibliea ocupa muito pouco tempo do poets ou dos atores. A para & realmente uma hist6ria puramente secular sobre Mak, o pastor ladrao, sea roubo de umn cordeieo recém-nascido, ¢ sua punigio pelo roubo. Mak rouba e cordeito de erés pastores e, quando eles ‘ao procurd-lo em sua casa, ele ¢ sua esposa pcm o cordeito em um berco, fine indo que é uma crianga, O episédio que conduz & descoberta do cordeiro ¢ da patifaria de Mak de fato muito divertido. Poslemos ler esta pega outras em Everyman, com outros interhidios na Everyman's Library. © ciatico dos anjos anunciando 0 nascimenco de Cristo, a chegada a Belém desses pastores muito ingleses, sua adoragio da Crianga — tudo isso € um mero epflogo a uma psa cBmica em um aco, bastance saisfaréia Os escritores desses"miscérios” «Zo capazes de criae uma ago dramatica tensa, caracterzagies forces, assim como mostrar Inumor. Dois personagens por « Avuraxaruna msctsta ecosos que emergem sto Herodes e Poncio Pilatos. A peca da Crucificacio, da guilda de Wakefield, comeca com uma paderasa fala de Pilatos que deve cer ccausado alguns tremores de medo prazeroso no pilbic: What? pose, nthe devil's name Halos and desta al dere 6m gallour ye made fal tare Thier and wichrs ke Will ye nt peace wen Ibid you? By Mabon’ lod! If em ty, hall ordain wo for you ain: thas never €or was sem, ‘And that ave Be ye 1 ald beggars, T are you, Fal belly shall 1 beat you, To ell the dil sall dee yo, Body, back and brs {0 que? paz, em nome do deméniol/Prosticucas ¢ malandtos todos juntos/Na fora até ficarem quietos./Ladtées ¢ vadios no podem/Nos dar pax quando eu 'pes0?/Pelo sangue le Mahoon! Se insistirem/Eu ordeaatei logo para todos/Do. fes que jamais foram viseas/E isto imediaeamentey/Assim seus mendigos, 52 vocts ficarem ousados, eu aviso/Que eu ite casigé-los duramente/O diabo vai leviclos para o inferno Corpo, lombe e esses.) Ap6s 0 que, presumivelmente, ele consegue fazer com que 0 piblico fi- aque silencioso e & pega possa prosseguit. O realismo da pega € adminével. Os quatro “torturadores” so responséveis pelo aro de pregut Cristo na ctuz © por Jevancé-la depois. Suas palavras slo palavras de ersbalhadores de Yorkshire € seus insultos a Cristo tm uma terefvel marca de autenticidade: ‘4h Tertrer: So ss, ge against the sun! (To Chri.) Ist Toturer: Ab, flo; wear thy oon! 2nd Torte: Trowest thw tis ther will come dou? Bre Torture: Yer udp, 1 make it fase ‘4th Tovar: Bind bia wll, and let lift 1st Torturor: Pl chor shall be bis shift 2nd Torearr: Nb, it sand p Lie a mar. [42 Toreurador: Senhor, pode bocejar para o soll (Para Cristo.) UTorturador. Ab, companbeiro, use a cores! 2? Torturador Acreditas mesmo que esta madeica nfo vii cuit? 3° Torturadoc: Vames, ajude a segurt-la 42 Torturador. Amarre-o bem e vamot levanté-le I? Tocturador: Bem custa se a sua confisio, 22 Torturadoe Ah, estéleventaca como um masteo.] 7.0 atvOnrcen Bo DRAMA FwGiL8S o Na Peca da Natividade da Companhia dos Tosquiadores e dos Alfaiates de Coventry, Herodes faz uma aparigio impressionante: : Qui seins in Jude ot Ree Lael Arad the mightis conquer that exer wad on ground For Iam oon be tht mace both basvrn adhe, And of my mighty pours beldeth up this world round. ‘Magog and Madvots, bth them did | confnd. ‘And with sis brighe brand shes bone I Drake vende. 1 am she cane ofthis grat lighe and thunder 1845 throgh my fury that they such st de make My arf countenance the clouds so dath enanbe, "Tha often for doa thera the very earth dt gua, [Aquele que € 0 rei na Judéia ¢ em Israeli 9 mais poderoso dos conquistadores que jamais pisou o soloyPois fui ex que crei tanco 0 céu quanto © inferno/E om meu poler fabuleso sustento todo este mando./Magog e Madroke, 2 ambos eu confundi/E com este ferro que brill quebe ot seis esses. ./Bu tou a cause dlesce grande relampago e do tovioy/i através de minha firia que eles fazem tanco estrondo,/Mina aparéacia temivel devém as nuvens,Que a prépria eres constantemente treme com medo..] Nessa pega, Herodes faz reivindicagies que o auténtico Herodes hist6rico jamais sonhatia em fazer, Hetodes, ds fato, € um mito particular dos dcamatur- 0s deste perfodo; descende de Jépiter, liga-se a Maomé, € uma espécie de fal- so deus. £ também, do meu poato de vista, 0 prot6tipo do grande personagem farioso que itemos encontrar mais aliante em pelo menos duas pecas de Mar- lowe. Pode ser que Shakespeare néo tenha aprendido do paleo medieval a como fazer Herodes vociferr e esbravejar, mas € certo que ele viu uma representagio de Herodes em uma dessas pegas de guilda. Harnlet diz aos atores que aceba- ram de chegar ao palicio: offend mt thes 0 hear aration preci ated fellow ar a pasion ttt 1 tery rst sls the eas of grains; wi for be mast art oe eae scbing at mesplcable danbsbns and ois 1 wuld bave sich afl chip for een Wragg it ote Hrads Bred — I ray you, aid Ab, ofende-me até 2 alma urn tipo baruhento com praca na cabegs ras _gar ima paixio em pedagos, em firrapos, racbar os ouvidos da paibico comurs; pois na maior parte nflo sto capazss de nada ao ser de inexplicdveis espetieu- Jos de mimica e batutho; eu faria com que tum tipo desses fosse acoitado por superar Termagant; pior que Heredes — eu peco, evitern.} De fato, Shakespeare sabia 0 que Herodes representava, ¢ como esse anti {20 tipo teatral influenciara os drameturgos ¢ arores de sua prépria época. Mas, ao escrever Hamlet, ele preferia ume arce mais sari lo no século XIV, esses dramas de guilds tiveram ao todo cerca de tes séculos de vida, pois ainda encontearemos alusdes a eles no reino de Jaime I. Mas nio € af que devemos procurar as origens do grande drama eli- sabetano, Antes que esse drama se consolidasse, civemos uma nova tradiglo — uma teadigdo de temas seculares para as pecas ¢ de atores profissionais para re resents, 1 As pecas de moralidade (Os cemas seculaces foram surgindo lentamente, mas abciram caminko ern ditegio 20 drama através de um nove tipo de pecareligiosa ou semi-religioss —a'moraidade (worality). A moralidade no era uma pega de guildae nem t= sha como tema uma hise6ria bfblica.Tentava ensinat, a6 coneréro, oma ligko moral através da alegoria, isto é, apresentando, como em Pedio, 9 laader, idiasabseracas como se fossem pessoas reais, Ur belo exemplo da tradigo da moralidade & 0 Everyman. Teata-se de uma ttsdugio do holandes Elkerlijk, € conta em linguagem simples ¢ elevada a aparigfo da Morce para 0 Evezyman (quer dizer, para cada um de nés, para todos nb) para informé-lo de que ele de- ve comesar a longa jornada pars 0 outro mundo, O Everyman (“Teds Nos") chama alguns amigos para acompanh-lo— « Beleza, os Cinco Sentidos, o Po- der a Toteligencia — mas eles nfo rio. 86 0 Conhecienento e as Boas Ages es- to prontes para tiajar em sua companhia para 0 imulo. Assim Everyman apcende que os przeres,os amigos es facades deste mundo de nada adian- tam quanclo chega ahora da morte; s6 0 poder espictual pode cooforti-lo na hora decradeira. Burma moral simples, mis extremamence podesosa por cals da forme deamética que Ie & dada a peca, de fat, parece nos dizer algo que nao sabfamos antes. Esta é sempre 2 marca da boa arte. B Everyman € boa arte. 1 uma das Glcimas pegas de moralidade, impressa no s&ulo XVI, mas prova- velmente composia antes do fim do séulo XV (presumivelmente pelo padre «que diz as ltimas palavras da peg). Pertence ao firm da ceadigdo da moralida- de eligiosa mas deveria set lida antes de suas antecesoras ) Profissionalismo — Secularixagao Pois suas antecessoras, isto vale certamente no caso da Inglaterra, nfo $30 ‘muito iluminadores, Mente, contade ecompreensin, Hmenidade, 0 caselo da perse- eranga e oueras desfilam seus personagens de papelio: Sabedoria, Injiria, Pra- 2et, Estupidez, Calinia, Lndignagéo, Teimosia, Malicia, Vinganca, Discdrdia € assim por diante, Os teatrélogos querer nas instrair, mas ansiamos pelo humor 7. © ALYORECHR Do DRAMA INGLES n caloroso de Noé ede sua esposa ou ce Mak, o pastor lado, ¢ por mais humani- dade e menos moralidade. Mas isso,claro,€ como pedir cerveja em uma leitepia ‘Mesmo assim aprendemos algo valicso com essas pegas, Aprendemos, por exem- pio, que O castle da persevrsnca foi representado por um geupo de atores que viajavam de uma cidade para outta, montando suas cenas como tim citeo mo- detno monca suas tendase jaulas e epresentando em troca de dinheito, im ous tras palavras, podemos comecar a astociar as pegas de moralidade as companhias ‘profisionsis. E descobrimos também, para nossa satsfaglo, que as moralidaces so capazes de se desvincular do repertério cla piedade religiosa de modo algum sincera) e de tratar temas puramente morais. Isto é um avango, pois significa a seculatizagio completa; significa que, Jogo mais, o drama seri capaz de apresen- car um tema moral em tetmos ce crits pseas (como nas tengédias de Shakes peate, em que o incerese esté na Itta moral dentro de urn ser humano vivo) € ‘ose limitar a mera ilustragio de uma doutrina religiosa. Podemos abordar es- se aspecto de outra forma: até mesmo em uma peca de moralidade «Zo boa como Everyinan, tudo esta desmembrado © como que ressecadog ouvimes um setmiio dramitico soberbo, mas ainda € um sermio. Em uma pega como Otel, nfo sen- Limos: “Isto 6 uma ilustragio do que acontece a um homem civmento”. f claro ‘que vemas as terriveis conseatiéncias do citime de Orelo, mas Shakespeare nfo ‘std apenas esclarecendo tuma douc:ina religiosa. Ele esc dizendo, com efeio: “A religido nos adverce sobre as conseqtiéncias de nossos pecados, mas as vezes info podemos deixar de pecar, pois esta € a nossa navureza. Vamos ceotar ter compaixio diante de um ser humano que, como todos nés, carrega 0 peso as sombroso da imperfeigio humana. Em outras palavras, ndo vamos apenes conde- ‘nar 0 pecador, vamos tencar compreendé-to” As cltimas pegas de moralidade — como 0 mundo ¢ a erianza, O recanto do rhstcn¢ Juventade — sio sobte a regeneracto do vicio, nio através das cxor- tages dos padres mas sim através da aquisigio da sabedoria. A religido est presente nessas pegas, mas uma @fase maior parece estar colocada no valor da experiéncia, « grande mestta, ¢€ admirével ver que o tema da educacio da juventade se coma popular nos Gi-mos teacr6logos da moralidade ©) 0 drama no final do séeule XV [Nos tiltimos momentos do século XV, jd se torna dificil discernir entre a moralidade € 0 interktdio. A principal diferenga parece estar, nfo no tema, mas no lugar € na ocasiéo do espeticu.o. Um interlidio era, como © nome sug Fe, uma pequena pecs representada em meio a uma outra coisa qualquer, talvez uma festa — uma espécie de entietenimento incidencal. Assim, temos duas adigdes deamécicas, uma aristoctdtica oucra plebéia. Podemos pensar nos n [Ascrmearuna wate _Rrandes senhores em seus castelos, ou em homens ricos em suas belas casas, as- sistindo a uma expfcie de peca de moralidade refinada; podemos pensar cam- bbérm nas pessoas comuns assistindo — nas ruas ou nos patios das esealagens, ou ‘nos campos das aldeias — a uma espécie de pega de moralidade mais erua. As esas aristocedticas de moratidade — o interkidio — podem ser atribufis em ‘geral um aucor, e surge nomes como Rast Bale (o primeito inglés a divi- clic uma pega em atss) ¢ Medwall, Esses homens tém erudigio esto intetessa- dos na controvérsia, Mecwall, por exemplo, escreve Fulgénci e Lucvéia, que € uma espécie de discussdo dramatizada sobre 2 natureza da verdadeira nobreza E a primeira peca inglesa a ter um titulo que sugere uma peca elisaberana (co- ‘m0 Antini e Cleffaina), e sua ambientacio romana, sua adaptacio de uma his- {ria antiga para efeto de desenvolver seu argumento e seu humor vo aprox -la do grande peciodo do drama inglés que vird em seguida. Rastellescreveu Cavalhiviomae noraa e Calisto ¢ Malia —~ mais uma vez pecas de “debates” sobte temas morais. 0 interlitdin das promesas de Deus, de Bale, respira 0 novo es- pitico da Reforma: ele acgumenta sobre o livre-arbittio e 2 gtaga, dizendo que ‘ homem no pode sleangar asalvagio apenas através des boas obras, pois ela s6 Eobrida acavés do sactficio de Cristo e da graca de Deas. Mas o verdad in- teresse de todas essas pecas reside na exist@ncia de um pitblico atistoceético ena necessidade de refinamento, conhecimento e habilidade na composicéo. Talvez © mais agradavel de todas os dramaturgos de incerlidios seja John Heywood (1497-1580), cujas pesas nfo t8m qualquer intengio inscrutiva. Em 0s quairo ‘é, um Palmer (Petegrino), um Pardoner (Vendecor de indulyénciss), um Pox thecery (Boticétio) ¢ um Pedlar (Mascate) nfo fizem mais do que conversar, mas o objetivo deles€ ver quem consegue contar a maiot mentiza. Em Paya de ‘enpo, um grupo de pessoas pede a Japiter (do a Deus!) que lhes dé 0 tipo de tempo que eles goscariam que durasse para sempre; mas 0s vitios pedidos sio contraditérios —~ elavadeira quer que faga sempre sol para secar e branquear @ oupa, 0 colegial quer um inverno perpétuo para que possa brincar com as bo- las de neve, « homer que coma conta do moinho d'égua 36 quer chuva ¢ assim pot diante. Nao hé duas pessoas que concordem, e, desse modo, as coisas ace- barn ficando mesme como sempre foram. Bssas pesas sia puro entretenimento, € seu humor é leve ede excelente gosto. Isso € tude que pode ser dito a respeito das pegas de motatidade com as quais as pessoas comuns se divertiam. Havia uma tendéncia crescente para que © Pecado ou © Vicio ou 0 Deménio fosse erarado com 0 tipo mais baixo de humor — de forma ostensiva para que as personagens vietuosas pudessem con denéclos. Mas isso era pura hipocrsia, como podemos entrever, algo como dizer assim: "Ble € de fato umn homem horrivel e suas histGrias engracadas sio repulsives; para provar © que eu digo, vou contar algumas delas’ 7.0 AwoRECER D0 DRAMA mOLES 2B No entanto, 0 materiais brutos parao drama elisabetano comecam a jun tacse, As casas nobres tm seus grupos de arores de interidios, usando a libré de seus senhores — em breve cles itto se transformar nas companhias clisabe- tanas, com nomes como Lord’: Admiral Men (*Os Hornens do Lord Almnitan- te"), The King’s Men ("Os Homens do Rei”) assim por diante. Os atores ar blantes das moralidades, representando nos pétios das estalagens, logo ico ‘ransformat esses patios em teateos permanentes. Homens eruditos esto escte- vendo dramas — como os “University Wits” (‘Os Sabios da Universidade”) que vao lancar as bascs para Shakespeare. E ainda existe 0 C/oum (Pathago), ot Viee (Vici), esperando para se tornat Touchstone em Gora ew quter ou © Bobo ‘no Rei Lear, Até mesmo Séneca iré mostrar aos ingleses como esctever ttage- dias, ¢ Plauto e Teréncio ito dat conselhos sobre a coméelia. Logo mais —~ e de imaneita surpreendentemente rdpida —, seremos capazes de levantar a cortina do maior drama de todos 05 tempos 8 Os primeiros dramas elisabetanos Aisa do teas ein at coms ses, as ani Esl Dy Laos mas ‘iscsi pr tos arena do petro nese 0) 4 inflyéncia de Seneca Quero afitmar mais uma vez que a influéneia de Séneca sobre os deama- ‘curgos elisabetanos foi bastante considervel. Havia algo nesse filésofo roma- ‘no, tucor de Nero e ceatrdlogo amador, que tocava a mente da época Tudor, Incquivocamente, « primeita teagédia inglesa aucéntica deve tudo — exceto 0 enredo — a ele, Essa primeira tragédia € Garbadue — de Tomas Norton e Tho- nas Sackville — eyee ula na Inner Temple, uma das entigas escolas de direi- t0 de Londres, em 1562. (Dois anos depois, nasceriam Shakespeare e Marlo- wwe.) A histéria de Gorbodue & exteaida de Histiria dss reit da Bretanba, de Geoffrey de Monmouth (ver capfeulo IV), € narra a luca entre Ferrex e Portex, fillts do rei Gorbodluc e da rainha Videna, a propésito da divisto do reino da Britinia. Porrex mata Fercex, ¢ a cainha Videna mata Portex, O dugue de Al- bany (que, com seu companheiro de Cornwall, sugete 0 Rei Lear) tena se aposser do pais, ¢ a guerra civil explode. Iremos enconteat todos esses ingte- dientes de novo, muitas vezes, especialmente os assassinatos. O que tio ite ‘mos ver mais & uma cerca contengfo, jé que as agbes violentas nunca s8¢ mos- ttadas no palco, mas apenas narradas. Os dramaeurgos posteriores, incluindo Shakespeate, vio nos mostrar no palco todos os hotrores que podem, Mas 8. Os pRIWEIROs DRAMAS ELISABUTANOS 5 Sackville e Norton respeitam a tracicio dle Séneca, que é reservar o horror pa- aa linguagem e jamais para a acie vistvel Neste ponto, devo dizer que havie erés maneiras de ser influenciado por Séneca. Uma consistia em lé-lo (provavelmente na escola) no original; a segun- da era ler certas pegas francesas que revelavam sua influéncia, mas dilufam sua linguagems a terceita era ler as pects icalianas que se auto-intitulavam "i. ma- neira de Séneca”, mas estavam cheies de hostores encenadas no palco. Essa tet- ccira mancira era a mais popular entte 0s dramatuegos elisabetanos, incluindo Shakespeare. Tito Andrinicn, de Shakespeare, & um Séneca a italiana em sua tnais horeipilance manifescagio (urra recente reapresencagio em Londtes fez as pessoas desmaiarem), pois contém mutilacio, pessoas queimadas vivas, vérios assassinaros e o ato de comer carne aumana no paleo, 0) 0 vers branco ‘Seneca esta presente até mesmo no vesculo que Seckville e Norton escolhe- ram paca seus didlogos — o Blank vere (0 "verso branco”). O conde de Surrey craduzira Virgilio nesse novo vesculo,e sua tradugao fora publicada cinco anos ances de Gordodnc. Deve cer parecido para Surrey e para seus sepuidores que 0 verso sem rima era 0 melhor vefculo pata transmit olatim. Os primeinos esfor- gos dos autores que usevam o verso branco no se assemelhiam de Forma alguma A mtisica nobre e aos ritmos majestosos «los escritofes romans, mas 0 verso boranco € umn veiculo dificil, e foi preciso dois génios — Marlowe e Shakespeare — pars mostrar 0 que se podia fazer com ele, Aqui esté uma branco antes de Matlowe exeraida de uma peca andnima intivulada Levine: nostra do verso O gods and vars! denned be che gods and nats ‘That didnot dren we in fir Ti" pli Cars be the sa, that with oatragenes was, With nerging billows did nse rive ny sips Ageint the rck of high Corannia, (Or sao me nto be wary gulf" Would Gad we bad arvived upon th shore Where Polyphumus and the Cycaps dll Or where the bloody Antbrpephagi With greedy jas divas the wandeing wighs! 10 deuses e eserelas! despeagados sejam os deuses e as estrelavQue no: me afogoeam nas belasplantcies de Tétis!/Amaldigosde seja 0 mar, que com ondas ulerajantes,'Com o impeto da ressaca nfo arrebenrou meus navios/Contra as Fo= chas da alea CerfniniO me teagou dentro de seu golfa de SguasliQuisera Des 16 ‘AcrrenaTuna noise aque tivéssemot al ogado as praias/Onde Polifemo e at Ciclopes habitom/Ox ‘onde os sanguindrios Anccop6fagosiCom mandrbulas vorazes devoram os, homens errant!) Pobre como é, mostra ume tentativa genuina de imica Seneca, aio ape- nas no uso das imegens clissces, mas no efeito de declamagio, de “dizer alto suns emogGes". O verso branco ieé aprender oueras coisas também com Séneca —a divisio do verso entte diversos personagens, 0 uso da repetigzo, os sutis efeitos do eco. Aqui esto versos de Seneca (oo € preciso saber lati: basta set ‘apaz de ver uma das artimanhas de Séneca) — Seaprane meso armas et tien sbi? — Que ist faroalus redid ges nek Car ero ei servi pavoe fugu? Destaquei as palavras em eco. O mesmo efeito aparece muitas ¢ muitas vvezes no drama elisabetano: 1 bad an Bawa, lla Richard hill bins Tbad a Harry, ull a Richard bill bie ‘Thon bas an Eceuard, tll a Richard hill d him, ‘Thou adit Rechard, till a Richard bill bra. (Eu riaha um Eduardo, até que um Ricardo © matous/Bu tinhs um Enrique, até ‘que um Ricarco o matou;/Tu tinhas um Eduardo, até que um Ricardo 0 ma- ‘oui/Tu tinbas am Ricerdo, até que um Ricardo 0 matou.} O) Thomas Kyd Nio pretendo aborrecer niaguém com um catilogo das pecas 3 maneira de Séneca encenadas nas escolas de direito, ou nas universidades, ou casas de nobrezs. Todas patecem abrir o caminho para « primeira tragédia capaz de cativar os espectadores — A sragétia estanbola de Thomas Kyd (1558-1594). Essa peca foi popular durante toda a vida de Shakespeare (de fato parece que 0 ppablico chegava mesmo a preferi-a & sua obte, muito superior), ¢ suas reapre- Sentagies no palco modecno, no ridio ena televisio mostram que ainda conser- ‘va uma boa dose de vitalidade dramtica, A hiseéria conta o assassnato de Horatio — que esté apaixonado pela be- | Belimperia — comecido por agentes de seu rival na paixto. Hieronimo, Grande Cavaleio de Espana e pai de Horatio, passa o resto da pega planejan- do vingansa. Come Hamlet o fara depois dele, ii retardi-ta,falando mais do ‘que agindo, porém, mais uma vez como Hamler, recorte a uma pega sobre um assassinato para efetuar seu objetivo de vinganga. (Com a diferenga, é claro, que 4.01 IMEIEOS PRAMAS FLISANETANOE 7 Hamlet continuaeé a adié-la por ma.s dois atos.) A pega termina com horrores — assassinato, suicidio — e, ances 4o fim, Hieronimo realiza uma ago cujo hottor nunca perde seu impacto ebsurdo — morde sua prépria lingua até at- ranci-la€ cospe-a no paleo. ‘A linguagem da peca € curiosamente memorivel, mosttando que Ky es- cava longe de ser um esctitor de versos insignificantes. Aqui estio frases que foram citadas durante anos pelos elisabetanos: Whar ousve pluck me from my naked bed, And chill my throbbing heart wich tembling far Which never anger et could dant afore? Who calls Hironime? Spe, bre Lam. {Que gritos me tram de meu leito nu/E gelar o meu coraclo que bate tremen: do de medo,/A quer nunca antes 0 perigo péde assombear2/Quem chama Hie- ronimo? Que fale, estou aqui.) E, quando Hieronimo esté dominado pela dos, eemos a seguinte explosio O eps, mo eye, but fountains fraught with tors! 0 life, wo if, but lively form of death world wo world, ie mass of beblic ores Confuse a fille with maser and wisdeds! [6 olhos, othos nfo, mas fontes cobertas de kigrimast/O vida, vida nio, mas fore rma iva da moree6 mind, mundo nfo, mas massa de eros pleas Conf ‘echeio de crimes e delitoe!) Kyd € particularmente importante para o estudo de Shakespeare, pois tudo indica que ele escreveu a primeita versio da histéria de Hamlet a qual Shakespeare iria basear sua obee-prima, e € certamente uma lembranga de A tragédia expanbola ue faz Klamle diver: T have heard ‘That guilty eeatres sitting at «play Have bythe very cunning ofthe one Ben crack sooth send that prserthy ‘They baveprolaim'd shir ralefacions. [Ouvi dizeriQue crituras culpades assistindo uma pega/Pelo prio engeaho dda cena foram/Atingidas tio fundo na alma que por fim/Proclamatam seus pr pos malfeitos.] E no serétalvez uma lembrange do desgragado Hieronimo que fz Hamlet decidir se cornar louco? Devemos ver Kyd como o pai da “tragédia de vinganga” popular da qual Hamlet € 0 exemplo mais notivel 18 Atuvenarina avoensa O Nitholas Udall As primeiess comédias dever algo aos comedidgeafos romanos, asim co- ‘mo toda tragédia clitabetania — tanto as primeicas quanto as iltimas — deve algo a Stneca. Nicholas Udall (1505-1556) foi dizetor,sucessivamente, das e5- colas de Bton ¢ Westminster € parece ter encorajado a encenagio, ni apenas a leitura, das pegas de Teréncio ¢ Plauto encre seus alunos. Sua pega Ralph Rois- ser Daister mostra-se, apesat de sua viva atmosfera inglesa e de seu verso tima- dlo, bastance marcadé pela influéncia de Plauto. Esta dividida em cinco atos € vias cenas, seguindo o padrio romano, e o petsonagem principal — o pré- prio Ralph — esté modelado com base no miles glriasni, ow 0 soldado fantar- Fio, de Plauto, (Shakespeare fark um grande uso desse tipo gabola em Hecrigue IV.) Temnos também Mathew Merrygreek, baseado no servo pavfe tio comum, ‘em Plauto, ¢ um enreco de conquistas amorosas e de mal-entendidos que deve algo 40 mesere romano, Ligado a Reiter Doister, temos A agulba de Gamer Gurion (publicada ex: 1575, ¢ possivelmente escrita por um professor de Cam- bridge, William Stevenson), uim conto farsesco sobre uma velhia alded que per- de sua agulha e, depois de perturbar toda a aldeia por causa diss, vai eventual- ‘mente encontré-la enfiada nas calcas de Hodge, um ctisdo de sua fazenda. Esta, como a outta pega também, & uma paca comédia rural inglesa, mas deve algo 20 comedidgrafo romeno na construgio engenhosa do enredo, Contém, incidentalmente, a mais bela cangio da lingua inglesa sobte « bebids: ‘Back and side go bare, 0 bart Both fort and hana go ald Bat, Ill, Gad send ree gad ale enngh, Woasbor it enw weld! [Que os bragos es cosas estejam nas, esejam nus/Tanto as pés quanto as fiquem fris,/Mas, para 2 barriga, Deut te dé a boa cerveje/Seja nava ou velha) O) Jobn Lyly Um tipo de corsédis mais sofisticada foi deseavolvide na pr6pria corte ‘eal, no entretenimento oferccidto pela escola Childeen of St. Paul's (Criongas de Sio Paulo) ¢ outres escolas para meninos cantores na presenga da Rainha (Devemos observar aqui que « Rainha era uma genuina patrona do drama, es- timulando-o por gostar de assistra ele, quer nas escolas de diteito, na univer- siddade ou oas festividades reais.) Essa criancas (96 meninos) atuavaim em pegas eseritas pelo primeite criador “polide” de comédias do periodo — John Lyly (15542-1606). Lyly comegou sua carreira literaria como autor de um romance ‘muito popular charnado Bxphrs, escrito em uma prosa de estilo elaborado — OS PRINEIROS DRAMAS FEISABETANOS ” Aorido ¢ cheio de aliveragdes —, um estilo que desde entRo passon a ser chama- do eufuistico. Essa prosa de estilo elaborado foi transportada para as comédias que Lyly escreveu; cle s6 usava 0 versoem seus poemas ocasionais. As pecas si0 cencantadoras — Endinton (ama histéria de amor entre e tua ¢ um mortal), Mae Bombie, Midas © Campaspe, que fala sobre a rivalidade entre Alexandre, o Gran- de, e um pincor, Apelles, pelo amor da bela prisioneira Campaspe. Aqui esté lum exemplar do estilo da prosa de Lyly: But you lve, ah ref! but whom? Campa. ah shane! a maid fosoxth unbrown, swimoble, and who con ell whether imdest? Whose ese ane flamed by art to enamoar, cand whose art was made by nature so achant. Ay, but sheds beautify Bat not the tafe chaste... Beauty is lbe the blackorey which emt ed, whom i 1 ot rte, resem ling precious somes shat ar polished with honey which the tmcother they look, the s00- erty break. {Mas cu ams, ah cristezal mas quem? Campeepe, ah vergonhat uma donzela de- ‘eras desconhecida, sem nobreza, ¢ quem sabe talvez impudica? Cujos othos es- to emolducados para enamorar, €c1jo coragio foi criado pela naturezs para en cantar. Ah, ela 6 bela, mas nem porisso casta... A beleza & como a amora preta ‘que parece vermelha, quando ao exté madura, que piece com pedras peeciosas {que sio polidas com mef, pois quanco mais suaves aparentar ser, mais ripido se squebrarn.} ©) George Peete George Peele (15587-15972) € responsivel por uma das mais deliciosas comédias pré-shakespearianas — 0 ovat da velba viva (um titulo que Arnold Bennett, 0 romancista, iria usar trezentos anos depois). Esta é uma das primei- ras tentarivas le uma sétira dramdtice sobre aqueles contes rominticos le en- cancamento e cavalaria que ainda eram cio populares na Inglaterra. Dois i infos estio A procura de sua irma Delia, que caiu nas mos do mégico Sacrapant, ¢ terminam sendo também capturados por ele. Mas Euménides, 0 amante de Delia, que deu seus titimos crocados para pagar o funeral de um ho- 'mem pobge chamado Jack, descobre que o fantasma de Jack se mostra agrace- ido e, com seus dons sobrenaturais superiores, é capaz de dertotaro feiticeiro. Esse €0 enredo, mas geande parte do encanto da pega reside nos seus interli- clios com cangées, dangas e personagens estranhos como o gigante Huaneban- ‘20 € 0 louco Venelia. As cangdes sio excelentes Wohenas the re reach othe cin, ‘And copcbery, chapchory ripe within Sivauberiessciming inthe cea, ‘And schoolboy playing i the eam; a0 Arucskarona miotesa ‘Then, 0 the, O then, O my trae-ove sid, Til that vine come agin She cont nt lise maid [Quando o centeio chegar altura do queivo,/E amaducecer par acolheita/Mo- ranges nadarein em cremeJE os meninos brincarern no riachosEntio, enti, a lento, meu verdadeiro emor dise/Que quando esse tempo chegar de novo/Ela 10 podetia mais ser donzela John Milcon sow o tema dos dois irmios ¢ da itma enfeitigada em seu Comus O Robert Greene 0 Jiltimo autor de comédias pré-shekespeatianas que itei mencionar & Ro- bert Greene (15587-1592), cuja pesa mais farnosa € Frei Bacon e Frei Bungay. Agui, tanto na trams principal claramence definida, como na treme secundaria «no uso do bobo, née nos fembramos des primeiras comédias de Shakespeare. O tiulo refere-se aos poderes magicos de dois frales que, entce outeas coisas, pro- duzem uma espécie de cenicio de televisio ¢ criam uma cabeca de bronze pata contar 0s segeedos do universo; 0 inceesse amoroso & providenciado por Ecl- ward, principe de Gales, que esté enamorado da adordvel donzela de Fressing- field, a doce Mangeret. A pesa tem frescor, encanto e humot, mas a erudicgo de Greene tende a se intrometer excessivamente. Bis como uma simples e ignosai- ‘te moga do campo se pe a falar: oily sis, whe conquest ita great In conquering love 8 Casas vidoes, Margara, as mild and bum in be thoughts ‘As was Arpaia usta Cyr! ef Yields shanks. (Augusto eavalheiro, cuja conquista€ Ho grandefAo conguistat amor, quanto 18 vitras de CéssJ Margaret, clo meiga e humilde em seus pensamences!Cama era Aspasia pata Ciro/Agradece...} ‘Tanto Greene quanco Peele escreveram tragédias ¢ hist6tias (Pecle escre- ‘ve uma pega biblica interessante sobre David ¢ Bethsebé), mas, como Kyd era grande no campo trfgico, e Marlowe maior ainda, convém pensar nos dois co- 'mo especialistas em comédia —o complemento dos trégicos que pertencem a0 mesmo grupo, 0 grupo conhecido como os "University Wits’ (Os Sibios da Universidade). eae cinene un aie, 8. Os prisemos onaMAS EEsanETANOS 8 ) The University Wits Os Sabios da Universidade, como 0 nome do grupo proclama, tinham se formado em Oxford ou Cambridge, Fram homens com talento mas sem di- heiro, que nio podiam, como os covistas da Idade Média, fazer carrera na Igreja. Os monastérios foram dissolvidos pelo rei Henrique VII, deivando sem alternativas © estudente pobre que nio acatou todas as ordens clericai, mas {que se empenhou no emprego secular. Entrecanto, a nocio de emprego secolar ‘para homens como esses foi algo de novo; pois, o monestério sempre se encas- regou tanto de subvencionar previamente como de alojar 0 estudante sem dinheiro. E que emprego secular era vilido na época elisbetana? O ensino no ‘era uma profissio atraente, e ndo havie concursos para o servico civil. $6 reste va um tipo de jornalismo — panfleos, romances, ¢, 0 mais lucrativo ralver, cescrever pegas para 0s novos teatros pepulares, QA construgo dos teatros Acé agora no dissemos nada sobre esses teatros. Homens como Sackville € Norton escreveram suas pegas para a Inns of Court, homens de sorte como Tyly tinham seus grupos de criancas nas escolas reais, suas ligagies nas alas esferas. O drama que produzem nio €o drama popular. Os Sébios da Universi- dade sio diferentes; seus destinos vio se ligat aos teatros de Londees, c, sendo homens de saber, produzem algo melkor do que as velhas pesas de moralidade. ‘Mas o que S20 ¢ onde ficam esses teattos? Eu gostatia que o letor visse Londres como tuma cidade préspera e em crescimento, para onde aflufam correntes de visitantes, nfo apenas das provincias inglesas mas também do Continence, Os _etupos ambulances de atores encontreyam bors platéias nas estalagens 20 lon- {0 das estradas que conduziam a Londres. Exguiiam seus paleos nos patios, co- Jecavam um bom dinhciro depois de suas apresentacies e, vendo que o piblico das escalagens se destocava freqiientemente, decidicam das espetsculos diaria- mente no mesmo lugar — sem ter mais que sair& procura de novas hospeda- ries e novas platéias, mas fazendo com que essas novas plaéias viessem até els. ‘Aqui temos o germe do teatro elisabeano— um edificio que no se distinguia da arquitetura de uma hospedaria, cuatro lados do edificio dando para um srande pétio, com o palco no funde do pitio. Um terco das galerias (ou varan- das), que conduziam originalmente para os quartos de dormic, fornecia os Iugares para os “mais aforeunados", enquanto as pessoss comuns ficavam 20 pio. Os velhos servigos das hospedarias eram mantids, na forma de bebidas de refresco,e 0s prdprios nomes desses novos teatros sugeriam sua origems como hhospedatias — O Touro Negeo, O Cisne, A Rosa e assim par diaate. 82 Acurenaruna nicnasn Em 1574, 0 conde de Leicester obteve uma licenga para que scus “crise dos" (atores que usavam sua libré) pudessei represencar ern lugares piblicos, quer em Londres, quer nas provincias. Mas o Conselho da Cidade imediata. mente proibiu os espetdculos ceaizados dentro da propria cidade de Londees Enudo, James Buebage, 0 diretor da companhia de Leicester, construiu um tea. tro fora dos limites ds cidade, a salvo do édio 20 teatro do Conselho, ¢ a cha- ‘mou Teatro. Isso foi em 1576. Logo depois, veio outta casa de espetdculos —~ A Cortina. Bm 1587, foi a ver de A Rosa — consttufda por Philip Henslowe — ©, em 1594, O Cisne. O “Grande Globe" de Shakespeare foi consteuido em 1598, a partic das vigas do velho Teatro. ‘Todas essas casas de especéculo se- ‘guiam as mesmas lintas arquitetOnicas — o patio da hospedaria cercado por szleria, 0 paleo que we projetava em direcio ao pablico e que tinh, no fund, dois ou trés tergos de gaerias Podemos pensac no drama popular da épeca como dividido entre duss srandes companhias ce etores — a de Lord Chamberlain e a do Lord Almiran- te; de Lord Chamberlain (mais tarde chamado os Homens do Rei) acvando ‘0s seus grandes dias v0 Globe; a do Lord Almieante no Fortune, Os membros desses duas companhiss eram apenas nominalmente os “ctiados" do nobre que thes emprestava o tfeulo; eram virtualmente agentes lives, protegidos por seus patrdes nobres da acusacao de serem vagabundos ou "homens sem patsio". Co- ‘mo podiam ser qualquer uma das duas coisas se usavam a libré da nobreza? Os dois grupos eram grandes, recebendo perpécuas transfusdes de sangue nove (como nos modernos times de futebol) através de eransferéncias de atores & de tum sistem de aprendizado que fornecia um fuxo consistente de rapazes paca 9s papéis das mulheres. Todas os membros das cormpanhias teatrais eram versa teis — podiam representat cragédia, comédia, dancar, esgrimis, cantar, stat Dois acores eran celébres — Richard Burbage, filho de James Burbage, este Ia da companhia de Lord Chamberlain, primeio intérprete de todos os papéis principais de Shakespeare; Edward Alleyo, gento de Philip Henslowe, estela a companhia de Lord Almirante, criador de Fausto, Tamberldo, o judeu de Malea — todos o5 her6is de Marlowe. A Inglaterra clisabetana produziu um rande deama e teve grandes atores para interpretéclo. O) Christopher Marlowe A maior gléria da teatro pablico até Shakespeare foi Christopher Matlo- wwe (1564-1593), nascido apenas umas poucas semanas antes de Shakespeare, mas destinado a cer uma vide de trabalho bem mais curta do que a dele. Mar lowe foi apunhalado mortalmente em uma “briga de taverna” em circunstin- cias que nunca foram inteiramente esclarecidas, embota os académicos tenham 8. OF exinstnoe DRANas ELtFARETANOS 8 ‘gasto muito tempo tentando elucidé-las, Come todos os Sabios da Universida- de, ele tinba uma repucagio selvagem — dizia-se que era ateu, igado a ladebes « rufides, cinba amantes, entrava em conflito com » policia. Ainds essim, sua reputagio pode ter sido « mfscara deliberada de um hornem cuja verdadeica nacurezs no era selvagem nem ieresponsivel,£ possvel que Marlowe fose urn agente secreto da Reiaha, e que os inimigos que o mataram fossem inimnigos do pais mais do que dele. Mas o mistéri de sua breve vida permanece. 10 Renascimento na Inglaterra A reputagio de Merlowe como dramavurgo epdia-se em cinco pesas — Tamberlaa, Deator Faustt, O juden de Maita, Eduardo I ¢ Dido, rainba de C go. A essas cinco obras-primas, podemos acrescentar O matsave de Paris, um melodrama sanguinolento, ao que parece pouco tcl acualmente. Nesse punba- do de pecas, aparece a primeira vor auténtica do Renascimento, do perfodo do nove saber, da nova liberdade, do novo empreendimento, do periodo da cele- bragio do Homem mais do que de Deus: ‘Thar dawn hat Marlesce song ata onset With rout of gold and morning i bis exe: (sca aurora que Marlowe cantou em nossos céus/Com vor de outo e mani em seus olhos.} Marlowe sintetiza x Nova Fipoce. As ancigas resceigdes da Igreja eas li- ‘mitasdes impostas a0 conhecimento tinham sido destrufdas; 0 mundo comega 2 abrirse, eos navios esto singrando para novas terras; a riquesa esté sendo acummalada; os grandes invasores nacionais estio surgindlo, Mas, acima de cudo, «std espitito da liberdade humana, do ilimicado poder ¢ capacidade de em preendimento humano que as pegas de Marlowe transmitem. Tambeelto ¢ 0 ‘grande conquistador, a encarnagio do poder tir2nico; Barabas, 0 judeu de Mal- ta, refere-se ao poder monetétio; Fausto cepresenta a mais mortal de todas as formes, ado poder que o supremo conhe:imento pode dat. No papel do duque de Guise em 0 massarr de Paris, encontramos a perso nificagio de um curioso "motivo dramético” que ira fascinar muitos eeattélo- £805 clisabetanos — a intriga e @ maldade quase que exclusivamente para pro- veito proprio, ume completa falta de qualquer tipo de moralidade que, 8s veres, € chamada de "principio maquiavélico". A referéncia é a Nicolau Ma- quiavel (1469-1527) ¢ seu liveo 0 principe, um veatado sobre 0 Bstado que tinba © objetivo de promover 2 unidade da Telia através de qualquer meio que 08 li- ders italianos achassem Gil: crueldede,eraiio, tirania, edo era aceitével aa 4 ALUTERATURA IEA medida em que produzisse, no fir, um grande Eseado unido. B a nota "ma- ‘quiavélica” que ouvimos no duque de Guise: [Now Gute begins tows dpe ingened thoughts To burt abroad the newer dying flay, Which cant be stinguishad ba by blo Of bane # lel, ad at lait bane hard, That oil ihe cgf eoay tn bappines, And raalution boos fairer aims, What glory i thee a commaron good, ‘That hares for ery patent t atin? ‘That lib | est hat flyer Deyoued my reach Set met cle thigh Poramides, And sheraon str Diadem of Prawn, ecitr rend it ath may nays to wah, Or mount she tp with my aspiring winger, Allthengh my downfall be he dest bell [Agora Guise dé inicio aqueles pensamentos profundamente engendrados/Para cespathar aquelas chamas que jamais agonizam Que 86 podem ser extintas pelo sangue [Maia vez eu entrevi,e por fim aprendi/Que o periga € 0 principal cx- ‘minho para a filicidade,/B a cesolucio favorece cs melhores abjetivos./Que glé ria pode haver num bem comum,/Que qualquer camponés pode conquis ‘ar? Pois eu prefiro 0 que voa fora de meu alcance/Mandem-me escaler a5 aleas Pitimides /E kde cieniacolocar 0 Disdema da Franga/Eu o ceduziti « p6 com rminhas garres/Ou alcencaria o cimo com minbas esa cheias de aspiragbes/Ain- dda que minha cueda me levasse 2 mais profundo inferno.) O) Tambertao Eis a noce que ouvimos sustentarse durante as duas partes de Tamla. Fsea pega € uma sucessio de conas magnificas, cede uma delas representando algum estigio na ascensio de Tamberlio de um humilde pastor cintio até se tornar o conquistador do mundo. Tudo é maior que a vida em Tarderido, Fle ‘no se concenta apenas em conquistar; impée sua grandeza aos vencidos através de atas como a matanga de todas as mogas de Damasco; a0 usar o soldado da “Tarquia tornado prisioneiro como um escabelo e 20 transpotté-lo em tna ja- Ia até que ele arrebente 0s miolos contra as grades; ao incendiar a cidede na qual sua amance, Zenocrata, morre; a0 matar Seu préprio Filho por causa de sua propalada covardia, ao amarrat dois res & sua carrogae gitar: Hilla, ye pampered jades of Asia! What! can ye dia but twenty miles a des, And aves proud a cari at goer bes ‘And sah a eachman as great Tambarlaine? 8. Os eninesnos DRAMAS BLISABEYANOS 8 [Salve, jades mimados da AsisiO cné! no podem andae a nfo set vinte milhas por dia JE cer uma carroga to orgulhosa em seus caleanhares /B urn coche co- ‘moo grande Tamberlio} ‘Tamberlio conquista a Babil6nia e mata o governador a flechadas (em um cespeticulo dos Homens do Lord Alm-rante, uma dessas fechas matou aciden: talmente uma crianga na platéia)¢ a cada habitanre da cidade, afogando-os em tum lago. Essa € uma vinganca tipica db épace moderna, embors Tamberlio per- tenga & histéria dos rempos antigos. £ uma caricatura de nossa prépria época, com suas atrocidades naziseas ¢ comunistas, mas vima caticatura elevada magni- Ficamente pelo rico verso branco de Marlowe. Aqui est Tamberlio, o fanfatrao: The Gee of war resigns bis rom to me Meaning ro mabe me General ofthe worlds Jove viewing mein arms loss pale.and wen “Fearing me power soul pull bi fr his throne [0 Deus da guerca me enerega o eu posto/Querendo farer-me Genecel do mun- doy JOpicerao me ver com armas empalidece e pede o brillho/Temendo que mew poder venha dernubs-lo de teu tron.) Bis Tamberlio, o amante inconsolével: Now walk the angels th alls of ave, ‘Asesinas 0 ware the moral els ‘eentetain divine Zencrate, [Agors 0s anjos andam nos muros do céu/Como sentineles para avisar as alas imortsis(Que entretenbam a divina Zenocrata,} 0) 0 judeu de Malta 0 judo de Malia €a hist6ria de Barabas,cujatiqueta & magnificamente ce- lebradia na Longe fala de abercura (depois de Maquiavel er dito o prélogo: Bats of fiery opal satires, amet Jains, hard iba, grae-gren emerald, Bacutons rs, sparkling duanonds, ‘Ad salen ely tne of 0 grea pre, ‘As on of thon indifrenty raed, ‘Ana of can of the quantity, ‘May iva pri of calamity Taran grast hinge from cavity. LL. Sacos de opalas famejantes, sires, ametistas,!Jacintos, dures topzis, es ‘meraldas com 0 verde da grama,Belos rubis, diamantes cintidantesvE pedeas 86 AarenaTona ootesa preciosas ras, de prego elo grandey(Que uma delas avalida com indiferenga/E com um quilete de sua grandez,tPode servic em perigo exctemo/Para cesgetar do cativeico grandes res.) arabas se vé privado de toda sua riqueza pelo governador de Males, que 4 deseja para pagar seu tributo aos tuscos, a maior paste feita de divides. De- pois disso, Barabas se entrega a uma longa carreira de vingangas, alo apenas contra o governadar, mas de maneira geral contra os cristios eos mmugulmanos. Ble envenena todas freiras de um convento, obriga os dois amances de sua fi- tha a matarem um 40 outto e, por fim, se dispde a matar 0s lideres dos euccos que invadiram a ihe ¢ a massacrer também os soldados turcos em um monas- tério, Mas € ele que acaba morrendo, caindo — através de uma artimanhe do governador — em um caldeieio de éleo fervente que ele proprio havia prepara- dlo para seus inimigos. Suas iltimas palaveas sho: Ha 1 but cred this stratagem, sid be Srght camp on ox al Dad Chitin dog and Tarbithinfidst Bama bist extrem of bat 1s pinch wath ntlerble ut Di ife Fly, sot! tng, ers thy fil, and de! [... Secu tivesce escapado deste estrtagers (Eu levaria a confusio a vocés to- ddosCées ccisttos danados e zurcos infigist/Mas um excremo calor jf comegalA sme atormentae com dores intoleriveis/Morre, vida Voa, alma! Ifogua, smaldi- 020 invélucroe more) © Dido TS. Blot, em seu ensaio sobre Marlowe, assinala o uso da caricatura em seus textos, nto par feito de humor, mas paca um efeito dle hgrror. Bem Dido, Reinba de Cartage, ni uma descrigio da tomada de Tr6ia que use uma técnica * de exagero para taasmiti a viol@ocia do pessdelo Fras Aa looking fro a turret, might babel Yeung infants sina in their pave’ blond, Headles carcarespiled sp ix beep, Virgin al-doad dragged by tir goede bar ‘Ane with main joe fng on rig of bes, (Old men wit sures thras thevagh tei aged sid, Koeling with mary to Greckish lad Wh ath ste pean das oe their bran 1. OF PRioniROS beaMas ruIsABETANOS 8 {Bu subi /E olhando de uma torre, pade cbservarcriangas nadando no sangue de seus pais/Careagas sem crbeca empilhadas aos montes,(Virgens semimortae ar ‘ascaias pels cabelos douredos/E azremessads com toda forsa sobre um eirculo de Tangas Valles com espadas enfiedst em seur flancor idasos/Ajoelhando-se para pedie piedade a um mogo Grego/Que com machedos de afo golpeava seus cftebros.d ©) Doutor Fausto Nao hé caticatura, nem qualquer miseura do cémico ¢ do hortivel, em Dousor Fausto, calver a maine pega de Marlowe, E a histéria do homem sabio «que, aps dominar todas as artes ciéncia, alo acha mais nada o que estudae sobre o mundo e se volea para o sobrenatural. Ble invoca Mefist6feles, “servi- dor do grande Licifer’,e estabelece un pacto com ele através do qual obeém 24 anos de poder e de prazer absolutos em troca de sus alma. Fausto tem eae do que podia ter em sua época, Ble raz de volea a vida o passado da Grécia © acé se casa com Helena de Tréta. Bis 0s maravilhosos versos com que cle se disige a ea: Was this te face tat launched thousand sits And burnt the topes tower of inn? Siu Helen, mate me immortal with aks Hr tips sc forty soul — see, wor it fis: Come, Helen, com, give ne my son aga O thou are fairer thas th evening a lad inthe berty of theasand stars, ‘Brighter art thw tha flaming Jupiter When be appeared 1 bapls Sones, ‘More lvely than the monarch ofthe sky I wanton Arathasa’s ezured ars, ‘And none but thu shalt be my paramo, {Foi este rosto que impel mil nave/E incendiow as tore imensas da liven? Doce Helens, forname imortal com um beijo/Seus labios sugam tala mich alma — vejam, ela se vai/Vem, Helena, vem, devolve ¢ minha alma.../.. Ta que & mais bela que 0 ar da noite/Snvolvid pels belera de mil esteelas Que brilhas mais do que o famejance JépiteriQuando aparece & intel Semele Es mais adorivel do que 0 monasce d> céu/Nos aaulades bragas voluptuosos de Arecusa/E, nenhums outa a no sertu, seri minha amance.} A longa fala final da peca também é admirivel, quando Fausto ceté& cs peta do Diabo que ir levé-lo para o inferno — seu grito “vé onde o sangue de Cristo corte no fitmamento” e seu ileima grito quando, entre trovées e relam- pagos, cle € emparrado para as chamas pelos deménios: A UTERAruRA INotEse My God, ay Gad, bok not fece on e: ‘Adders and serpents, Let me breathe ail Ugly bel, gate rt, come ne, Lucifer — UM barn my books... a, Mepbierphitis, [Meu Devs, mex Deus, no othes tio furioso pata mitn:/Vborase serpentes, dei xem-me respitet um pouco/Feio inferno, nfo te abeas, Litcifer, nfo veahas — Now queimas news livros... ah, Mefistcteles.} Apesar de suas falhas de construgdo, descuides ébvios © ontras falas arise tleas que acometemn a juventude, a realizacio de Matlowe muito importante. Ble € um grande peeta © dramatutgo que, se nio tivesse sido assassinado pre- ‘matucamente em uma taverna de Londres, poderia muito bem tet se tornado ‘ainda maior que Shakespeare. E nem mesmo Shakespeare podia fazer tudo que Marlowe poria: a fora peculiar exeraida da caricatura; a magni de linguagem; acima de tudo, “o poderoso verso de Marlowe" — essas sto ‘grandes realizasdes individuais. Nao hé ninguém como Chtistopher Marlowe. NOTA " Vero eati de. Sit em "Sénca em teh aber mse Bxai edd aber aed Be [be Olivro amb come agus eso tila sob dematurges elabienl, 9 William Shakespeare Fe lo deen one tminat com © titulo, Pois o que posso mais dizer sabre Shakespeare que jé no tenha sido dito? Ble € 0 tema de inamersveis livros, esctios em todes as lioguas do mun- do. Tem sido estudado exaustivamence Cada verso de caca uina de suas pegas jf foi analisado, reanalisado, editado ¢ reeditado; os mfaimos detalhes de sua vida foram examinados sob incontéveis microsc6pios; 0 mundo jf o julgou e 0 feconheceu como 0 maior dramaturgo, talvez 0 maior escritor de todos os tem- pos. Este capitulo nio pode conter nade de novo. B mesmo assim, cade! época, ealvez até mesmo cada década, pode desco- brit algum novo aspecto de um grande escritor, simplesmente porque nenhux ima época, nenhuma s6 pessoa pode ver tudo quanto hi nele. © Shakespeare do século XX € diferente daquele do século XIX; 0 Shakespeare da década de 1970 € diference do Shakespeare da década de 1960. E assien seré enquanto hhouver civilizagio; ¢ cada novo aspec:o de Shakespesre seré tio verdadeiro quanto qualquer um outro. ©) 0s objetivos de Shakespeare ‘A vida de Shakespeare € importance para ns? Ser que nos interessa saber que cle nasceu em Stratford, fez provavelmente um casamento imprudente por 1a, voltou como urn cidadio rico e motren — de acordo com a tradigio ~ de febte depois de uma bebedeiea? Hm certo sentido interessa sim, pois sabendo por que Shakespeare escreveu suas pesas, sabendo o que ele queria da vida, po- dlemnos sintonizar nossa visio des pogas com a dele, compreend-las melhor 20 0 A sovenarura nctssa penetrar na pele do homem que as escreven. & possfvel que o principal objetivo de Shakespeare na vida fosse receber 0 grau de cavalheito e no sec um artista, «que suas pects fossem meios para um fim, Shakespeare quetia ter peopriedades — terrae casas —, iso quer dizec panbar dinheiro, Escrever pegas era basice- mente um meio de ganhar dinheiro, O teatro era um meio tao bom de ganhar dliaheiro como qualquer outr, sea pessoa tivesse teceido boa educacao e um certo ealenco verbal, Shakespeare eta este homem. Seu olhe nunca esteve na pos- teridade (excetotalvez em seus poems) estava voltado para o presente. Coube + Homing ¢ Condel] — dois amigos dele — publicar, depois de sua morte, a primeira edigio de suis pegas reunidas; Shakespeare parecia tet pouco inceesse «em deisar uma vers exata de sua obra para o futuro desconhecid. Shakespea- te também nfo parecia pensar em suas pecas como literatura: no se interessava pelo letor, mas pela plaeia no teatro, O) Condigies nas quais Shakespeare trabalbou O teateo era tuco para Shakespeare — 0 eeamaturgo —,¢ ai de nds nos esquecetmos deste fito. Toda ver que comegarmos a let uma de suas pecas, de vetemos consteuir em nossa mente um teatro parecido com o Globe Theatre de Shakespeatee imagirar que a pece esc sendo representada I. Isso nos preserva- i de pensar — coma os académicos do século KIX o fizeram — em Hamlet ou ‘em Macheth como "pessoas reas" e de fazer perguntas como “O que Hamlet «estava fazendo antes 4a ago da pega comecar?” ou “A infincia de Macbech foi infeliz?", Houve ceria vez um livro muito populaeineitulade A adblecncia des Jerofnas de Shaksspear.) Esta visio dos personagens de Shakespeare como “pes- soas reais", que podem set separadas das pecas em que aparccem, esté fora de qualquer propésito, Pata Shakespente, Hamlet era um papel para Dick Burba £86, € Touchstone, um papel pare Armin, © que Hamlet estava fazenco antes da pega comegar? Provavelmente bebendo cerveja, penteando 0 seu cabelo, esco- vando seu gibio, Harilet s6 comega a existir quando se enconsra no palco na se ‘ganda cena do primero ato, antes disso, ele € provavelmente um ator nervoso. Por que tancas herofnas de Shakespeare passam de repente @ usar toupas de rapazes? Porque suas herofnas eramseapazes e se sentiam mais confortéveis (provavelmente representavam melhor também) vestidas como rapazes. Por que a Rainha diz que Hamlet € “gordo e tem pouco félego”? Provavelmente porque Burbage, que tepresentava o papel, era gordo, inka pouco fdlego e no esgrimava muito bei, Por que disfarger 0 fato? Por que nfo admiti-lo para a platéia? Havin mito pouco "faz de conta” no testro de Shakespeare, Neaham cenério, nenhum vestuitio de époce, nenuma eentativa de convencer a platéia de que estava em Rema, Grécia ou na antiga Briténia, filio César © Corialano 9. WILLIAM SHAKESPEARE or proclamavam om suas vestimentas que e-am pecas sobre a Inglaterra elisabeta- ‘na, ou — ¢ isto € sutil demnais para nossa época moderna — pecas sobre a Io- slaterra elisabetana e a Roma antiga ao mesmo tempo. Do mesmo modo, 0 palco ppodia ser um palco de verdad € uma floresta ao mesmo tempo, um paleo e um navio no mat ao mesmo tempo. A velocidade de acio em Shakespeare, suas ti- pidas madangas de cena requetem — se se deseja naruralismo — um vefeulo to luido como o cinema, ¢ foi arcavés das filmes que Shakespeare acabou sen- do revelaco para muitas pessoas em nossr épaca O) 0 génio verbal de Shakespeare Shakespeate € cinematogeifico por :auta de suas rpidas mudangas de ce- na, de sua ago rfpida, Mas no em sua atitude diante da linguagem. No cine- ‘ma, 0 que vemos € ainda mais importante do que o que ouvimos — as coisas ‘ilo mudararn muito desde os dias dos primeieos filmes mudos. Mas as palavtas tm a maior importancia para Shakespeare — no apenas, ou mesmo basica- inte, 0 significado das palavres, mas osom das palavras, Shakespeare queria, ‘martelar ou cortejar ou encantar os owvidos de sua platéia com a linguagem, ¢, em qualquer uma de suas pesas — as primeiras ou a Glcimas —, 0 tesouro das palaveas se abre por inteiro, 0 ouro se dertama prodigamente. Nas primeitas pegas — Rome Julieta ou Ricardo IT, porexemplo—,o genio verbal de Shakes ppeare é lirico, musical. Longas falas — que freqiientemente suspendem a agéo da pesa— tecem adondveis imagens poe cas, brincam com as palavtes € 05 sons Nas Gltimas pegas,tais como Antinioe Claipatra e Rei Lear, lingusgem se tor- ta abrupea, condensida, 2s vezeseapida,e muitas vers € difcil de ser entendi- da Mas 2s palaveas ainda se derramam — nifo hd jamais qualquer impressdo de «uma composigfo Ientamenteelaborads, de procura acisa pela palava certs, Te= ‘mos 0 cestemunho de Heming e Condell,e também 0 de Ben Jonson, de que Shukespeare escrevia com grande rapides e facilidade, raramente eliminando qualquer cosa, Isso explica uma cettaimpaciéncia com a linguagems Shakes- ppeare freqtientemente no podia esperar até que surgisse a palavra certa e, assim, ele prdprio acaba invencando uma palaves, @) Atitude em relagao & platéia ‘Uma preocupacio com o sone das palavras implica uma preocupagio com ‘0s ouvidos que ouvem o som. Shakespeare mosera-se sempre muito consciente ‘om relacio A sua plaréia clisaberana, uma mistara de aristocratas, lecrados, almofadinhas, gatunos, matinheiros e scldados de licenca, estrdantes e apren- 2 ‘Aarrenavota notes. dlzes, que se assemetha mojito mais A moderna platéia de cinema do que & mo- derna platéia de teatro (pelo menos na Europa), Ele tenta estabelecer uma inti- rmidade com essa platéia, envolvé-le na pega, e seus soliléquios no sio falas em que 0 ator finge cstat se digindo a si mesmo, mas comunicagoes fatimas com a platéia. De qualquer modo, era dificil fngit que a platéia no estava al: 2 lux do dla iluminava a platéi, a platéia cercava os trés lados do palco, wma pequena parte até se sentava no palco, O ator moderno, separado da placéia por reletores escuriclio, pode fingis que ela é uma fila de repolhos, endo de pessvas. Mas is- 0 nfo acontecia com o ator elisabetano: ele tinh que estabelecer contato com 0 seu piblico que eractitico, is vezes tucbulento, cecarnence formado por pessoas de carne ¢ osso 3 luz do dia, nfo abscragbes escondidas pela escutidio. Essa pla- ‘Gia tina de receber 0 que quetia e, sendo urna sisturs, queria coisas variadas —auflo€ sangue pata os iletrados, belas frases © engenho para os slmofadinhas, ‘bamor sueil para os refinados, palhagada escandaloca pata 0s nii-refinados, Assuntos amorosos para as damas, cengio e danga para todos. Shakespeare di ‘oes essas coisas; nenlium outro dramaturgo jamais conseguiu dar tanto. 0) Colaboragao.e competigio ‘Antes de abordar a véo de péssaro a obta de Shakespeare, & methor lem- >bearmo-nos de que nem sempre € fécil até mesmo imposstvel dizer em rela 0 ao drama elisabetano “Este homem escreveu isto; aquele oucro escreven aguilo”. A colaborasio era algo bastante comum, ¢ Shakespeate provavelmente ‘rabalhou com Beaamont e Fletcher, assim como com outros esctitores not veis, Além disso, ele ocasionalmente pegava uma pega que jé existia (tal como © Hamlet original, provavelmente escrito por Kyd) e reelaborava, sempre me- Ihorando.a. Essa reelaboracio era mais congeni acle do que a invengio de n0- vas tamas; de fato,ele nocmalmence preferia tomar emprestado a trama de al- ‘udm ou extrait uma oarrative de um livro de histéria ou de um panfleco popular — sew interesse se concenttava mais em contar a hist6ria do que na ripria hist6ria, No cntanto, das pegas que itei mencionat, Shakespeare € com Cerveza 0 seu autor, quer inteieomente, quer em sua maior parte A fama de Shakespeare como poeta (oa medida em que se distingue de sua fama como drarsaturgo) comecou com dois longos poemas — Vinas ¢ Ad®- tis © 0 rapt de Lucrcia — ¢ com o primeiro dos Sonetos que, x0 lado das pecas, «le continuou a escrevet. Nos seus primeiros tempos em Londres, teve como pateio e amigo 0 conde de Southampton, e, desse modo, seu conhecimento dos _tandes da époce, c também dos cacadores de poder como o conde de Essex ¢ todo © agitado mundo da intriga e da politica palaciana, nio era em absoluco 9. Winutast SHAKESPEARE 2 algo de segunda mio, Entre suas primeitas pecas, esto as ers partes de Henri- qe VI, um centrio hist6rico com um toque patriético que, como Shakespeare sabia muito bem, era um fator de unizo entre os diversos elementos da platéia Braa época em que o oxgulho nacional estava em alta — 0 Exército fora derco- tado, a marinha inglesa era a mais for:e da Buropa, o pats estava unificado sob ‘© comando de um monarea poderoso. A popularidade dessas pegas era tal que provocout o antagonismo de pela menes um ce seus companheiros dramacurgos — Robert Greene, cujo péstumo Um sate de sabedoria comprado com um milo de penitinias inroduz uma forma parédica do nome de Shakespeare — "Shake- scene” (Sacude-cena) em um contexte de amarga inveja. Pois até aquele mo- menco, os ceatros de Londres tinham sido abastecidos com novas pesas sob a responsabilidad de homens formados em Oxford ¢ Cambridge, os Sibios da Universidade, poetas cultos como Greene, Peele, Marlowe. Agora, vinha aque- fe incruso de provincia, com apenas uma educagio de colégio, que estava ven condo os mestres de arte em seu préprio campo. Greene via em Shakespeare tum Johannes Factotun on um paucpara-coda-obra — um oporcunista inteligen- te insacidvel que dava ao pailico 0 que este queria, no 0 que ele deveria tet. Se havia um aperite pela pornografie da violencia, Shakespeare era capax de satisfar8-to, fornecendo com Tite Andrinico uma admisével mistura de rapto, tortura, massacre e até mesmo de caribalismo. Se pediam uma farsa sobre a troca de identidades, Shakespeare podia, com sua Comidia dos eras, superar Plauto e Teréncio em complicacdes malucas. Pois os comediégrafos tomanos tinham se contentado em ober risos através do tema dos gémeos que, separa dlos desde o nascimento, subitamente chegavam ao mesmo logat, cada um ig- rorando a existéncia do outro: mas ele, Shakespeare, precisava fazer com que seus criados também fossem gémeos. Era essencialmente um superador de limites, um escritor que gostava de iralém de seus predecessores, quet em in- ‘riga, em violéncia, ou em estrica beleza lirica DAs primeiras comédias romanticas © primeito Shakespeare lirico se manifesta em uma série de comédias comdaicas das quais a primeira de tod —~ Tiaballs de amor pordider ~ fo; pro» vavelmenteescita para uma platéia astocetic, na verdade enderesada ditet- mente a0 circulo do conde de Southampton, Esté impregnada de linguagem altamenteenfetacla 3 maneita de Joba Lyly, fe teferéncias suis 3 Coste de Hen- sigue IV da Franga, coneém aipda um ataque — sem divida para agradur Southarnpron — iquele homem to adepeo de fezerinimigos, Sir Walter Rae leigh. Nao era certamente uma pega para ot comedores de salsicha dos teaczos ppiblicos. Para equiibrar sua delicadensspolidas, Shakespeare escreveu A mena 94 A ivenaruna catsa ddomaca,cojascrvceas relacivas esto temperadas por sua apresentagio como urna pega dentto da pec. Cristopher Sl, um Funileico bébado, é witima de uma troca que o leva a acteditar que ele é um nobee que perdcu a meméria, eo interidio dda esposa domada€ apresencado diance dele. Nio € dificil perceer que Shake- speare colocot algo de si mesmo no papel de Sly — um funileiro de Werwickshi- 1 (ou um remendlo de pesas de teatro), um homem timido que est ocupando o ugar no mundo de drama do pobre Christopher Marlowe j falecido, ur provin- ciano de clas inftiog que se tornou o amigo ¢o protegido de um nobee. A pe- 8 qu¢ Sly v@estéambientada em Padua, e Shakespeare esté comegando e mos- trar algum eénhetinieitd! de segunda mao do nordeste da Itélia — talver algum conhecinéati“Sbeidb'actavés do italiano John Florio, secretirio do conde de Southampton. 0s dit canabeirar de Vrona— que trav a prienera das delicedas congdes incidentais, "Quem € Silvia” — esta saturada de luz italian, algo como tum Chianti engartfado em Londees,¢ o ambiente italiano (ou especificamente 0 ambiente veneriano) vai se apossar das produsées seguintes de Shakespeate O) Wepicatidade Romer ¢ Julieta, com outro censtio em Verona, é uma admitivel eagédia «ea, na qual Shakespeace, com seus olhos oportunistas bem abertos, renta produ- ir algo capas de agrada a cada uma das camadas ce sua pliteia muleissegmenta- dda — lutas, baixa comédia,teuismas filosficos (para que os homens da Inns of Court pudessern anoté-los em seus cadernos), jovens amantes condenados, moste prematura, Hi até mesmo, sublinhando a natrativa que ele excraiu de um poema popolas, aquele eépico que encontramos geralmente até no mais removo tema tamético de Shakespeare — a luta not6ria e homicida entre duss familias ingle ss, 0 Longs e os irmos Danger, estes Gilkimos amigos de Southampton que, apesar da publicagio de avisos pura sua prisio, conseguiram fugit para a Franca Eo mesmo t6pico de 0 merzador de Vereza que, spesat de seguir 0s pass de O ju dev de Malta, de Meclowe, em seu anti-semitismo convencional, explora os sent -mentos despertacos pela alegacio (por parte do conde de Essex, amigo e her6i de Southampton) de que Loper, © médico judeu da rainha Elizabeth, era um espido «espanol. Lopes foi enforcado, eviscerado e esquartejado; Shylock, cujotinico exi= ‘me € a usuta, €complexo demais para uma condenacao fécil Sono de nna rote dererto tem um louco censtio engolatsdo, on enluatado, que combina Atemss com a Warwickshice do priptio Shakespeare. Escrito pats ‘as niipcias, como sesupte, cle Lady Elizabeth Vere (com quem Southampton de- via se casar por orem de seu padtinho Lord Burleigh, embora ele tenha preferi- do recusar e pagar uma multa de cinco mil libras) eo conde de Derby, estende a 9. WILLIAM SHAKESPEARE 9 iisica magica da fale da rainha Mab de Mercucio em Rome ¢ Julieta a toda uma, peca. Condena o verio ruim e a colheca do ano de 1594 pela dissensfo entre 9 rei e a rainha das fadas, e Bottom, o teceldo, na montagem dla pega de Piramo e ‘Tisbeu, sattina a técnica retérica de Eeward Alley, o principal esceitor de tex- ‘gédias para a companhia dos Homensdo Lord Almirante, Shakespeate se torna- 12 s6cio da companhia dos Homens de Lord Chamberlain e um teatrdlogo resi- dente do Teatro cle Shoreditch. Escava comecando ase saie bem O Historias ‘Com Ricardo I, Shakespeare voltou® histria inglesa e composigio serial de uma épica dramética sobre uma épaca perturbaca que itiaculminar gloriosae mente no estabelecimento da dinastia Tudor. Ricerde IIT surgiu, aparentemente, ‘as pegadas aincla quentes da teilogia de Henrique Vie, apeses de seu poder me- lodramatico, deve ser visto como um produto de uma fase de aprendizado; Ricar- do I era litco, suil e, mais uma vez, t6pico. Shekespeate sem divida aprende, com 0 Eduardo If de Marlowe, a consttuir uma pega histérica que fasse mais do que um mero desfile de violéncias, mes, no tema do monarca fraco e do nobre usurpador force (Henrique Bolingbroke depie Ricardo II ese converte em Hlen- ique IV), 0s seguidores do conde de Essex visam uma alusio 3 époce. Elizabeth cestava, muitos pensavam assim, fi d ado senil; na austacia de um herdeieo decla- rado 20 ttono, 0 governo ni deveria icar com 0 grande heréi poptslae — solcls- doe flor da cavalaria — Robere Deveceux, conde de Essex? Se Shakespeste pre tendeu de forma deliberada que seu Ricardo II fosse uma obra de propaganda € algo que no poderemos saber jamais; sabcmos no entanco quea pega foi logo vis- «2-como incendidrie , na verdade, foi usada como um ato incendirio quando tuma apresentagio especial dela precedzu a rebelio Essex em 1601 O rei Jao, que aparecen em 1596, € um incerlidio na grande sétie de pe- «as sobre os Plantagenetas ¢,talvez, iaencionada basicamente — i parte 0 cu valor como entretenimento — como am comentitio sobre os tempos ruins. Os cespanéis estavam criando problemes de novo, a Franca deixara que eles co- smassem Calais, ¢ @ pega € cheia de alusées voliivel Franca ¢& desafiante Ingle terra, Hit também referéncias evidentes & morte de Hamner, filho de Shalees- peate, ocorrida naquele ano: Gig fills she rom up of my aban bid, Lies om bis bd, walk up and dv with me, ate om be prety leks, repeats his words Remembers me of al ie graciens parte. Staff one Bs vacane paren with form 96 ‘Avursmaruna incutsa TA tristeza enche o quasto de minha crianga ausente/Deica em sua care, cami ‘ha comigo para cima e para baivo,/Adquite sua bela aparEncia, cepete sis pe lavrasLembra-me de todas as suas partes geaciosas,/Escofa suas coupas vaziag com sua forma] Foi um anc doloroso pata Shakespeare, e uma certa queda na inspiragdo faz dessa pega a pior, alvez, de sua maturidade, mas o ano tetminou com sua Oeeg eed eae eae eae com seus afranjes para comprar New Place, a mais bela casa de Stratford. Dai em diante suas pecas respiram maturidade e confianga Os dois Hemrique IV sio seqigncias diretas de Ricardo Il, mes slo mais do «que meras histrias, © personagem de Sir John Falstaff, que sustente asf slivers, & como LC: Knights di care oes el sco ps ‘6rico, Um personagem de imensa popularidade, ele iria aparecer de novo — scedicase que pedi da propia Raina ety As lees coma de Wie sor, em que ele se vé bastante diminufdo ao set mostrado ridiculamente apaixo- nado, ou luxuricso. A libertinagem néo se ajusta a Falstaff, e ele mostrou sew engenho em um cendsio mais congenial. Henrique V, a mais abertamente pa- tidtica de todass poyas, que nos faz pensar nela como tendo inaugurado 0 no- vo Globe Theatre em 1599. Embora o tema fosse a conquista da Franga, Sha- ‘kespeare sem chivida tinh em mente e conquista ainda pendente da Telanda — ‘uma conquista név completada — pelo conde de Essex. O Coro de Henrique V, que nos lembra que o novo teatro € um “O de madeira” ("wooden ©"), fz uma referencia direeaa ele: Wore now the general of or gracious empress — Asin god tne be nay — fom lian coming, Bringing rebllon broach on bis werd, How any would te peaceful City quit “To welcome bn! [se agora o general de nossa graciogs imperstriz —/Estivesse voltando como nos bons tempos da Irlende/Trazendo a rebeligo espetada em sua espadiaQuantos ‘nfo deixariam a Cidade pactfica/Paea saud-lol} Porém, com o retorno envergonhado de um Essex sem vitdra, eses erans- bordamentos patriéticos azedaram e, na verdad, a histéria inglesa acabou se tornando uma coisa perigosa de ser apreseotada em um palco: era ficil encon- tras, em qualquer aspecto do passado da Inglaterra, parallos sediciosos com 0 presente. A histéria, de agora em diante, devia ser remoca e estrngeica — J ig Char; Coriano ¢ qnalcyuct ontea hist6ria da antiga Roma que Shakespeare padesse survipiar de Suetdnio e de Plutarco. 9. WinnsaM SuaKeersAne 7 O) Mais comédias ‘Mas ances havia um novo veio de comédias a explorat, a0 lado de um nov vo tratamento daquele elemento essencial da comédia clisabetana —-o bobo, Will Kemp, com seus olhates de soslao,eropecos e improvisacées picentes, fo. ‘1.0 mais popular comediante dos Hlomens dé Lord Chamberlain, mas agora ‘Shakespeare podia conceber um palhazo mais complexo, mais sur, que pues. se cantar cangies testes © que aderisse ao writ. Kemp deixou a compaahia, ¢ Robin Armin ficou em seu lugar. Para ele, Shakespeare escreveu os papéis de Touchstone em Como sec quiter © 0 de Feste em A mite de Reis. Como tot quiser € uma bela comédia pastoral com um personagem melancélico chamado Ja, ‘ques — a centativa de Shakespeare de superar Chapman, que eriara uin aden ‘vel tipo melancélico chamado Doweeser — que tecita uma fala que se refete Airetamente a0 lema do Globe Theatre, inscrito em sua bandeira sob a figura de Heércules carreyando 0 mundo em seus ombros: Toes mundus agit bitrionen, teaducido imprecisamente como *O mundo todo é um paleo” (All the worlds a stage). A mote de Reis, una escranhatapesaria melancélica, apesar das bebe- deinss de Sit Toby Belch e do colo Sir Andrew Aguechcek, petdeu a forga de seu e6pico (perdeu para todos menos para o investigador erudite da vide da corte) em suas referencias 8 desgragada Senhora Mary Fitton, chamada Mall, ¢ 4 Sir William Knollys, superintendeote da Casa da Rainha que, embora casilo ¢ velho, apsixonou-se por ela, Mall wlio — eu quero Mall, 0 personagem de Malvoglio sustava-se intimemente 3 orce para a qual a poga estava send es. crita como um encretenimento adequado para o dia de Nata Jie Car © Tile ¢ Crasida — ama. tragédia negra da hist6ria romana, uma comédia negra do mito grego — parecem efleit as préprias pertutba,dey de Shakespeare sobre os tempos dificeis que a rebelio do conde de Essex, cal. dlo em desgraga na corte mas ainda a fina floe da cavalatia para muitos, estava forjando. A preocupagto de Shakespeare & com a necessidade da manntento da ‘ordem pelo Eseado: ‘Take bat degre aces, untune that string And bark what discord follows, [Desfaga« hierarquis, dessfine esta coedayF. cuidado! pois a discénla se segue} Se Trio ¢ Gresida foi uma pega que facassou (€ ha testemunhos de que 86 teve uma apresentaso), € porque pregava de maneiraexcessiva a order ea necessidade de mancer a hierarquia. Quando o conde de Essex s¢ revoltot ¢ tentou subvertera ordem paibica inglesa, Shakespeare desiseiu da preg Utica, Permanecea em silencio durante um ano inteito, ou quase, © ened sin terizou a agonia de épocaelisabetena —o coniica entre o pensamento medie- val herdado € 0 novo cecicismo, a doerca inerente ao mundo — em Harel 98 Aun Talver essa seja a Gnica pega, de todas as pecas jamais escritas, que o mundo ‘menos deseje percer, € ela surge no periodo de macusidade de Shakespeare, -marcado pela desilusio e pela falta de esperanga. O) Desitusio Esta grande fase pertence ao perfodo jacobita', no ao elisabetano. A reinka Blizabeth I moreers em 1603, e Jaime VI da Eseécia unita os dois reines como Jaime da Inglaterra, Os Homets de Lord Chamberlain se tornaram os Homens dlo Rei, e Shakespeare se ornou um Camareiro Real. Nenhuma euoria em tela- ‘do a essa promosio € & sua consagragio, acima de qualquer divida, como 0 ‘maior poeta de sua época acha-seeefletida em sua obra, nem mesino em sts co- médias. Tad ed bem quando acaba hem © Medida por medida io foram criadas es- sencialmente para o rso. Mavdtb que, com seu cen escocés, homenageia um. rei escocés, é ere tim nivel, um compéndio das coisas que intetessavam a Jaime 1 — seus pr6ptis ncestrai, o predominio da bruxaria — mas, em um outro, € tuna visio muito amarga da vide: "Fora, fora, vela breve". Rei Lear Tinto de Atenar sio denincias quase histéricas da ingraticlio (que ingtavidiio o préprio poeta cera sofcido recentemente?). Corilano traz, no papel-titulo, um homem {que despreza x multi, ralver como o prdprio Shakespeare estivesse aprenden do a desprezé-la. Antonio ¢ Clespaira ergue-se acima da mera hist6ria e encontea sua tnica realidade — embora amargamente destruida pelo mundo — no amar ‘kumano construide sobre a corrupcio ea irresponsabilidade OAs dtimas comédias Shakespeare retitoutse para sua grande casa em Seratford em 1610 e, ‘encontrando consolo em suas filhas Judith e Susannab, reflete algo do poder redentor de ume inocente alma feminina nas Gltimas gtandes comédias. Conte de inverna, Pévicles (alver nfo tio grande assim e talvee apenas 36 metade escti- 8 por Shakespeare) ¢ A tempertade erazem uma nova e deliciosa vein Jitics « amarguea eeigia Fora purgada, o migico encerta sua equipe ¢ espera seu sereno firm, Em 1613, a Globe Playhouse se incendiou durante a primeira apresenta- lo de Heariqus Vill, que Shakespeare parece ter escrito em colaboragio com John Fletcher, out-o des jovens que comegava a suegit. Um outro Globe foi ‘onserufdo, mas nao conseguiria mais despertar o inceresse de Shakespeare. Ele dlera tanto de si mesmo para ¢ vida daquele “O de madeira”, que sua destruigio deve ter sido comoa destruigio de uma faculdade ou de um. membro. Embora 9. Wrnusane SHAKESFEARE ” sinda tivesse mais trés anos de vide, 9 fim do grande Globe assinala o fim de sua carceira, Foi, para falar moderadamence, urna das mais deslumbrances cac- reiras litera de toda a historia, Em que consiste principalmente a geandeza de Shakespeare? Parece que reside na consisténcia de sua realizacZo. Muitos homens que escreverem pegas produziram durante suas vidas obras singulares de grande exceléncia, mas ne- ‘nhum deles conseguiu a mesma consisténcia de exceléncia tal como, por volta de 1593 em diante, ele mostra pega ax6s pega. Ble podia escrever tragédias tio bbem quanto os especalistas e — em obras espantosas como Hamlet — ser bem ‘melhor. Ele podia enfrentar os especiaistas em comédias e, aém disso, era ca paz de fazer coisas estranhas e grandes em campos nos quais dificilmence al suém jf se aventurara — a comédia “negta” como Medida por medida, a visio exaltada de A tenpestade. E uma excelincia dramética integral, servida por um dom supremo de linguagem. Lembramos de alguns poucos personsyens de oe tos dramacurgos — criagies soberbas como a duquesa de Malfi ou Tambeslao ‘ou De Flores ou Volpone — mas ninguém nos d uma galeria to vasca de pet sonagens vivos como Shakespeare, Ele condensa os teatrdlogos de sua época, é vince homens em um e é também, ele proprio, enigmatic mas curiosamente simpético. Sua gtandeza foi resumide por Dumas: “Depois de Deus, foi Sha- kespeare quem mais criow", Podemos encetrar por aqui. NOTA 1 O petiedo jacobits inicindo pela evolucéo de 1588 qu ZauataseeremefEMMETTR xia dos Scant, de ‘vest designagse 29 nome nin gurantee Jseaboe ONT) 10 Outros dramaturgos clisabetanos Juando estudamos Shakespeare no colégio, emos uma vega imigem dele como nlo s6 dominando 0 teatro elisabecano, _mas também permanecendo isolaco, Isso se deve ao fato de que as pecas de seus contemporineas sio raramente abordadas nos exames na Universidade ott 00. nivel de admissto pact a Universidade, A tarefa de uma bistéria como esta de- verie seta de corrigita impressio da “unicidade” de Shakespeare e mostrat ari- queza do teatro elisabetano em geral. O problema é que essa riquera € to in- crivel, ha tantos homens de talento, ¢ 0 espage € tio pequeno, que s6 & posstvel dar uma impressio bustante superficial das realizagdes draméticas dessa época. Vou tentar fazer mais do que mencionar pegas cujo valor esta & altura das pecas de Shakespeare e do que dar o nome de seus autores, ©) Ben Jonson © nnaioe dos contempotineos de Shakespeare (depois de Marlowe) foi Ben Jonson (1574-1637), Os objetivos de Jonson eram diferentes dos de seu amigo: de fato eo diferentes, que sentimos ns escritos de Jonson sobre Shakespeare ue cle nfo apreciava integralmente, nem mesmo gostava das obras do seu companheiro mais velho. Shakespeare no seguia tegras eno tink nenhuma teoria deamética; Jonson era um classicsta, cujos mestees cram os antigos, ¢ce- da pega sua era compnsta segundo umm padi antigo jéestabelecide. As pegas de Jonson erm geralobedecem as regeas da “unidae’:&acio leva menos do que um dia, € cena munca muda o cenéro inicial — Veneza em Volpon, uma casa ‘em Londes em 0 alqnimiste. Além disso, Jonson tiaka ume teoria do persona- gem dramético jé superada em sua propria época. Enguanco Shakespeare vé 0s 10, Ovrxos prasaruRoos susaprrawas 101 seres hurmanos como esttanhas misturas, massas ambulantes de conflito ¢ con- tradisG0, imprevisiveis, sempre surpreendentes, Jonson os vé como combins- fes muito simples ¢ quase mecinicas de quatro elementes. Trata-se de jdléia medieval: @ alma humane era composta por “humores" — sangufneo, colérico, fleugmético, melancélico ~~ que, misturados em vérias proporgies, eca segue o procedimento grego clissico, eom seus coros, seu mensegeito, seus relatos prevalecendo sobre a ago direta ¢ seus longos mo logos. Aqui vemos o cego Senso — Milton —,eeafdo por Dalila (a primei- ‘= esposa de Milton, que velo do campo filisteu ou realista), no “moinho em meio aos escravos", tim gigante anruinado teansformado em espetéculo durente tum feriado filisteu, Ele famenta sua queda e sua cegueica: “O escuridi escuti- 12, A 8roca DE MILTON: si BE LM PELIODO. : ry {io escurido er» meio ao esplendor do meio-dia"; fala ap6s fala sua grandeza é exocaa an humo € lameness no fim le nf le derruba o templo dos filisceus sobre a cabeca de seus inirmiges, ele mesmo mmr ns tae Cae x ove fr na conse amino a lamentar; Sansdo comportou-se como Sansio). E um epilogo & altura da carrera de um grande poeta. Avé mesmo em sous dileimos dias Milton ainda eseé experimenrando com 0 verso ¢ com a lin~ _guagem, produaindo novos tons e ricmos. E, na nova Inglaterra cfnica de Car- {os I, brilhante mas coreupra, Sanide, 0 Ganbatente permanece como um mon mento a ume época de cujas glérics licereias, aspicacées morais € genufno ‘spftico herdico 0s séculos que vieio nko ito se aproximas sequer remotamen- te, Milton € 0 timo homem deste mundo antigo; agora vamos resprar fundo mergulbiar no novo, NOTAS rein aia, enuanto 2 "Os any em canseredre, leptons dpe tel ed : ere nmin do peer plement. (NT) ‘eis lta pel eae do poder ele cerseghene pin a 2 ad de Agno Camp Vere ren are ud Perc 1978» 1704 "grag de Acide Labo, n Garda, Rid Janet, Edigter de Our, 1966p 1689 ne} A época de Dryden O’ Restauragan Do ponto de vista politico, 1660 nio inaugura nenhuma nova época. Catlos 1 saiu do exilio para o tono; Jaime I, seu iemio, saiu do trono para o exilio ‘os anos que vo de -660 a 1688 mosteam-nos um Stuart cfnico e um Stuare fan ‘ico exaucindo até o fim a dinastia Scuatt. A Revolugio Gloriosa de 1688 expul- sou um tei que estavatentando, tarde demois paraa histéria ingles representar ‘© monares todo-puderoso; depois dessa data forma-se wm compromisso. Eu uandre celebram 0 poder da miisica em verses que pedem um complemento musical (e de fato 0 primeiro foi musicade de maneica excelente por Henry Purcell no século XVII, € os dois, por Handel no século XVIII. O catilogo de instrumentos musicais na Gangao contém verso assim: ‘The rump lord anger Exctr us 19 aems, Wish brill noes of anger, Aod mortal alarms. The doable dewble double oat (Of the thundering dune Cries Har! he fas came (Charge, change, is 0 lara vars! [0 clamor alto da trombers/Excia-nos para as armasy/Com notas axudas de rai va/E mortaisalarmas,/A dupla dapla dupla bacd/Do tambor crovejancelGeira Af-vem 0 inimigoi/Atacar, atacae,¢ tarde demsis pars a recirada} Bu gosto particularmenee do leve toque irdnico do Gltimo verso; em uma €poca hersica jamais se ousaria canter sobre uma retitada, mas Dryden é reali «a, no herdieo. Os iltimos versos da Cangao t8m muica forge: 60 Avrrenavuna outta So when the last aed dread bowr This eenblingpopeant thal devour, ‘The orunpes shal be board on bigh The dad shall be, the living di ‘Aad Mite shal atm te shyt [Assim quando 9 hora final ¢ temniel/Devorar este corejo et teombeta seré ovvida b ca ink desafinarc c&u!) desagrepagio/A m alto/Os moctos viveto, 0 vivos mortetdoy/ a Mik ‘A Ode de Dryden & meméria de Anne Killigrew também admicével, ‘Tem uma paixio incomum para a época, uma sinceridade genutna, e ainda as~ sim é capar de conccito inteleccual, até mesmo de agudeza engenhosa: 0 sreebed we! wy wee we hurried dew This lbric and ainlorae age (Nay, ced fet pullaion of on xn), To norease te straming oeues of the tage? {Desgragados de ndst porque fomos langedes/Neste época librica e adultest+ (A que acrescentamos nossa prépria poluigio.)/Para aumentat os excremenitos ‘ansbordantes do paleo?) (Aqui fala o Dryden das sétitas,) When rattling Ooms together fly ev the four exmers ofthe thy; When snes 9 te shelton are spread, ‘Those cote with feb, and life ngpres tbe deads ‘The sacred po ft thallbsar th ound, ‘And forenot from the tomb shall bond, For they ave cve'd with te light grownd, [Quando 0350s achocalhar voarem jontos/Dos quatto cantos do c&uy/Quando os nervos se espallarem sobre os esqueletos/Cobertos pela carne, ea vide inspiraro mortoiOs poeta: sagcados seco o: primeitos a ouvit a som¥/E os primeiros a se exguer do cémuloJPois eso cobertos pela tetra mais leve ] Nio € necessério enumerar todos os outros poeta liticos da époct, Da maior parte deles, pode-se dizer que admiramnos a forma, a grace € a coreg, ‘mas detectams insinceridade, Comecamos « deparar com um certo estoque de exptessdes — "every killing dart from thee” (cada dardo fatal det; “languish in ressces fies" enlanguescer em fogosiersistveis); “bleeding hearts" (cora- ses que sangram); “0 turn away those cruel eyes" (O afasta estes ollos cruéis) tcassim por diane. A poesia amorosa comege & se tornar — o qui fora ances ne dade Média — algoassim como um jogo a que qualquer cavalheito (ou dama) 13, A frock pb DayDEN 151 atiscocrético pode se entregar. A grande maldiglo do século XVIII é, como ve- poética”, ¢ autores como Etherege, Sedley, Aphra Behn, Ocway, o duque de Buckingham ¢ Oldham sfo seus fundadores. rificaremos, a" ©) Critica literdvia Sendlo uma époce intelectual, o periodo da Restauracéo estava muito inte- ressado na teoria — especialmente na teoria literdria. Mais uma ver, Dryden ‘vem em primeira lagar. Ele nos dé, em ensains, preficios, prilogos dramaticos epilogos, suas opiniges sobte a arte literéria e pode ser visto como o primeito dos ctiticos liverivios ingleses. A ceftica forma uma parte importance da heran- «a literisia de uma nagio, Reverenciamos a ctitica de Coleridge tanto quanto sua poesia, € 0 mesmo pode ser dito de T. S. Eliot em nossa época. O grande crftico tem uma filosofia da literatura: ele rem clareza quanto 3 Fungo da tte ratura e conbece as condicBes sob as guais essa fungio deve ser preenchida, Ele elogia e condena nfo como a maior parte de nds, que dizemos "Nio gosto dis- to, mas gosto daquito”; ele possui cazées clara para avaliar um autor como sen do importance on destieuido de impo:tancia, ¢essas razdes esto relacionadas 2 sua filosofia. Ele descobre conexées entre autores que, a primeira vista, pare cem tee pouco & ver um com 0 outr> €, 4 patti dessas conexdes, & capaz de conseruir a imagem de uma “tradigic”. A filosofia de Dryden encontra-se cla- ramente formulada, particularmente no Ensaio sobre a sétira ¢1n0 Enaio sobre a (possia dramdtica, Ele se proclama um “elassicista”. O objetivo da livecatura é dar \uma imagem da verdade, imitar a nacureza 3 mancira dos antigos gregos ¢ r0- ‘manos. Os antigos sBo os melhores modelos, e imité-los & um caminho seguro para os iniciantes. A literature deve satisfazer basicamente & rando. A literatura deve obedecer as regras, as regras cue Dryden estabelece para a composigao cdeamécica remetem a Ben Jonson com sua insisténcia sobre as unidades. O ver- 0 branco sugete desordem, por isso Dryden insiste na rima, até mesmo nos dramas (embora, em suas tltimas peca, ele cenha voleado ao verso branco). A tecoria da liveratura de Dryden 6 “cvilzada”; nto tem luger para a excentricida- de ou para muita individualidade, deseja conformidade aos padrBes-da época [As pecas de Shakespeare nio se ajustars a esse padtio clissico: sio selvagens, sem reqeas, individuals, € no nos strpreende que Shakespeare tenha sido re- visto pelos escritores da Restauragic, “represado", por assim dizer, ou encio «que no tenha sequer sido encenado, A habilidade de Dryden na exposigio de idéias se manifesta tanto ma pro- sa quanto no verso, Seus ensaios sobre suas proprias crengas religiosas — A re- Tigi dos eigas © A carga ¢a pantera — indicam o caminho para os poemas filo 152 ‘A crxavunainouesa séficos de Pope, o Ensaio sb o bomen: 0 distico herdico adapa-se de modo ad- miniel n desddbemento oreo pigrumitico, de uma filo Mas es tilo da prosa de Dryden nao se adapea apenas & sua época: olha em directo & época moderna, eee es Os clisaberanos escreveram uma prosa divestida ¢ vigorosa, mas que de fo no se adequavaargumentagio cena ou xen (Ee ft deo ‘motivos pelos quais Bacon escteveu suas obras cientificas em latim, que pelo ‘menos € clara eldgica.) A prosaelisabetana esté perto demnais do coragio ¢ dos sentidos; as palaveas borbulham em gitia, metifora e oramento, e qualquet argumento se perde rapidamente em uma flotesta de cotes brilhantes. Com a @nfase dada pela épo:a de Dryden mais & cabeya do que ao cotagio, tornou-se pelo menos possivel produzir um tipo "frio” de prosa adequada ao desenvolvi- ‘mento de uma argumentagdo cientifica. A prosa de Dryden é ligica; ele jamais se deixa levar pelo som das palavras ou pelo brilho de wma mecéfora ou simile, ‘mas consegue sempre manter-se atado ao fio de seu discusso, O) Ciencia © petiode da rexauracio ssinalao inicio da era centtfica, Ela j haviasi- 4 preparada por Bacon e por outtos, que insistiram no argumenta racional ¢ ta observacio da natureza como um peeliio A produto de eeoras, Uma certa dose de observasio cienifica se desenvolvera entre essa época e a Restauracio, sas nem sempre coma aprovagio oficial (as experimentagées secretassogersan ‘magia; quimica cheiava a alquimia). Mas com o etorno de Carlos Ida Fean- ‘em 1660, a ciéncia entra na moda: Carlos se ingeresare por anatomnia no continente, membros de sua corte tinham deservolvido interesses semelhantes, € parecia muito nacusal que se criasse uma Sociedade Real para 0 avango do co. mhecimento cientfiec em 1662, Essa Sociedade Real eta um lugar de encontro para cientistas de codes 0s tipos, mas também os legs com um interesse ama {dor pela ciéncia podicm se rornar seus membros; 0 prdprio Dryden, assim co. “ino Abraham Cowley, estava interessado, eo concato ence literatos ¢ cientistas podia ser poten P * potencialmente sico — certamente o desenvolvimento de uma prosa ‘acional” ¢ em parte uma consegiigncia dessa expansio do interesse cientifico. O Fitosofia Em geral, um interesse pela ciéncia vem acompanhado d ‘ompanhado de vin interesse or filosofia (de fato, talver. fosse impossivel para timt mente deste perfodo se- parar os dois), Com filosofia, queremos dizer uma inwestigagio sobre a nature 15, A troca pe Brvoes: 133 za da realidade, uma tentativa de responder a perguncas como “O que quete- mos dizer quando dizemos que uma coisa existe"? ou “Que certeza definitiva po- demos estabelecer por ts de um universo com canta diversidade e mudangi2” 5 filésofos, como os cientiseas, querem conscruic um sistema; mas seus siste- ‘mas procutam ir bem mais longe do que os da cincia. O cientisea realiza uma investigaclo limitada nos termos de seu préprio assunto; 0 quimico s6 esté preocupaclo com a constituicio da matétia, © psicélogo, com a natureza da mente; mas o fildsofo deseja um sistema que contenha o tod» da experitncia. Descartes, na Franga, deu incio 3s investigagies do século XVI. Comecou por duvidar — sistemética e deliberadamence — da existEncia de cudo. Mas para ‘que haja divida, é preciso haver aquele que duvida, eo préprio Descartes con- cluin que ele, aquele que duvideva, devia exist: Cogito erg sunt — “Penso, 1o- 0 existo”, Com essa base, ele construi seu sistema, Esse tipo de investigacio cexigia coragem: implicava a recusa de qualquer pressuposto, até mesmo do pressuposto de que Deus existe. Uma coragem assim e uma capacidade dessa ‘ordem para rejeitar pressupostos aceitos ha Longo tempo sio dificeis até mesmo para um grande cientista como Sir Isaac Newton (1642-1727), que estava dis- posto a basear uma de suas obras cientificas no pressuposto de que a terra fora ctiada por volta de 4004 a.C, Newson de fato nfo possuia uma mene filosi ca: cle era brilhance em seu préprio campo, e suas descobertas foram admiri veis, mas ele representa a grande diferenga entre cinciae filosofia —a ciéacia consiste em observacbes particulares ¢ conclusdes particulaces (como a lei da ‘gravidade); a filosofia € uma especulagéo de uma ordem mais geral, a grande investigagio que vem depois de rodas as pequenas conclusdes cieneiica, O) Hobbes ‘Thomas Hobbes (1588-1678) 6 0 maior dos especuladores do perfodo da Restauragio, A obra que 0 tornou conhecido, Leviatd, foi publicads em 1651, mes seu espirito pertence a uma époce posterior. F um macerialisca, que acre dita nas sensacBes, por conseguinte, as idéias, que derivar de sensagbes, S20 0 resuleado da matéria em movimento. O movimento €a grande forga vnificado- ta, a causa de toda a existéncia, € 0 homem reage aos movimentos excernos com seus priptios movimentos — apetites, que se orientam para a autopreservagto. © homem é fandamentalmence um animal cpoista, eam de seu ezofsmo, es to “disputa, inimizade e guerra”. A vida do homem & “Solitaria, pobre, sérdi- da, brotal © carta", a menos que ele deseje adotar “causulas de paz”. Essas cléusulsimplicam 0 estabelecimento de um “bem comum” ea garantia de po- der absoluto « um governance ou a umn corpo de governantes. Fsse govern tem {eset unificado e nso pode esta divid do, por exemplo, entre um fei eum par lamento;ogovena€ absolut, mas skit pode recuse cbedece 0 > weno come a tre pare af despa — omar ae dem preserara ida do individ, Pode se imagine o ucts de fsa a Hottest pin cs prescrip eel en Jaime IT de estabelecer um governo absolutista. aaa O Locke ct nefssne compara Hobbes com Jobn Lack (1632-1704), cj visio sobte 0 gavemno encontea-se no pélo oposto so Leviatd: ele publicou seus dois & importincia do entraze no govetno: 0 poder supremo esta basealo n0 pov, pio monara «por pe “aftr ou also legate, quando desc- te que os atos do legislasivo sto contrérios& confianga que foi depositada ne i, Hobbes acelin ue ogovrnate de um ested Ro cr epnaie dante do povo, mat s6 diante de Deus (manter a ordem rie significa necessa~ ‘iamente governat @ povo como ele deseja set governado); Locke apomta para 0 ‘caminho democrético moderno do qual « revolugio de 1688 foi precutsora — © contraco entre goveraado e governante, ¢ o ditcito do governado de agit «quanda o governance nao fax jus 8 confiange {le aero dees di iss € inna concent das ganes imudangas de pensanent qe corr entre rte de Sakespae ees, Horace Walpole — ¢ 0 primeio livro sobre economia, Este tiltimo, A riguza das nagies de Adam Smith (1723+ 1790), est& fore de nosso escopo, mas nés, que estudamos literatura, podemos louvé-lo pelo brilho de seu estilo, mesmo se nfo estiveemos preocupados com seu contetido, A economia iria se tornar uma “ciéncia sombria", mas Smith no 6 apens elegante na exposicio de sua teoria revolucionétia, como também profético: seu livro apareceu em 1776, no mesmo ano da Declaracao da Inde pendéncia Americana, ¢ ele diz sobre 0s americanos: “Bles seco uma das na- hes mais importantes do mundo" ©) 0 contexto do final do século XVII {As diltimas décadas do século XVIII foram abaledas por grandes mudan- ticas. A América se separon dh Inglaterra, ¢, em 1789, veio a Revolu= fo Francesa. Os pensadores e politicos ingleses ficarem muito agitedos, tomando partido, pregando a favor o7 contra os novos movimentos violentos, © uma boa parte da prosa desse Gltimo periodo eseé preocupada com palavres emblemiticas como Liberdade, Anacquia, Justiga. William Godwin (1756- 1836) escreveu um liveo sobre a justiga politica, preganda uma espécie de jnarguin, exaltando a luz da pura razzo tal como surge na alma individual, de- ‘ounciando « lei, 0 casamento e a prostiedade porque interferer na libecdade individual. Sex livro exercen uma grinde influéncia sobre os poetas romanti= cos como Shelley. Thomas Paine (1757-1800) jé havia defendido a revolea na Amética, € agora em seu Dircitor do bomen defendia 2 Revoluglo na Franca. Edmund Burke (1729-1797), apesar de seu liberalismo, atacou essa mesma Revolugio ¢ proclamon que 2 tradicio era mais importante do que as teorias polfcicss racionais —a sociedade era como uma planta ou como 9 corpo huma- no, pois crescia elescobria sua propria salvacio de acordo com leis préprias, © ‘eta perigoso interfericnesse processo. we Auranavuen eussh O) Gibbon Este perfodo produziu 0 grande historiador Edward Gibbon (1737 1794), cujoliveo Deadéncia e queda do inpério romano foi terminado em 1788, um ano antes da queda da Bastilha. £ uma grande obra, escriea na mais refina- da prosa da época, eabrange cerca de vseze séculos de hiseéria européia — do rcinado do imperador Trajano até a queda de Constantinopla, cobrindo a as- censio do cristianismo e do Isla, as grandes migragGes dos povas teutnicos, € analisando as forgas que transformaram o mundo antigo no mundo moderno [Nio é uma obra cheia de compaiso: condena o homem por sua estupidez mais do que exalts suas descobertas ¢ victudes, ¢ revela a personalidade do autor 8 um ponto que talrex no seja adequado a um historiador. Por sua habilidade liceréria e pela amplicade de seu escopo, talvez ainda permanesa insuperado entee 0s estudos his:éricas de grande envergadar, QO) Fanny Burney Nos silkimos dias do século XVII, 0 romance produz nomes como Fanay Burney (1752-1849), autora de Hewline © Cala, obras sealistas, cheias de hhumoe e de personagens verossfmeis, No entanto, of romances de terror de Horace Walpole e os romances que demonstram a influéncia do francés Jean- Jacques Rousseau sio mais tpicos desta época O Rousseau Rousseau (1712-1778) foi um dos precursores do movimento romantico ‘e também um dos profetas da Revolucio Francesa. Era por natureza um rebel- de — contra as conepgdes existentes em relagio A celigifo, ate, educagio, ca samento, governo — e, livro apés livro, propés suas préprias teorias sobre es- ses cemas. Roussean preconizava um retorno a natureza. No estado naturel, ele afiemava, o homem é feliz ¢ bom, ¢ é apenas 2 sociedade que, ao vornar a vide artificial, produz o mal, Seu Emile, um tratado sobre a educacio, preconi zava que as criangas deviam ser educacas em uma atmosfera de verdade e con- dlenava as mentiras elaboradas que a sociedade impunha 4 crianga — incluin~ do mivos ¢contos ce fada, Na Taglatera, isso trouxe como resultado toda uma sétie de livros instrutivos para criancas (incluindo o incrivelmente pedante Sandford ¢ Merton de Thomas Day) que sé foi rompida no século XIX por li- ros infantis inteiramente fantasioses € bem mais saudéveis de homens como 16, Prosa ma Broce DA Razko 195 “Thackeray e Lewis Carroll, Foi a douerina da nobreva do “homem nacural” de Rousseau, © seu ataque a0 poder corruptor da civiizacio, que produzi r0- ‘ances de escitores menores como Baze, Holcroft, ¢ Galeb Willems de Wil- liam Godwin, no qual o espicito de tevolea se expressa através dos persons- ptincipais que nfo tém nem religizo nem moralidade (como o heréi de O bustin de Hermes) ou que, como 0 heréi de Godwin, sio testemunhos vivos da corrupgio de uma sociedade na qual o mal floesce € os bons sio condenados & se vicimas. © Romances géticos Surgitam romances de “mistério ¢ imeginagio” de escritores como Ann Radcliffe (1764-1822) e Matthew Gregory Lewis (1775-1818), que seguiam 0 exemplo crisdo em 1764 por 0 catelo de Orranto de Horace Walpole (1717- 1797). (A. palavea "gético” estd besicamente ligada & arquitetura, denotando aquele tipo de prédio europew que floresceu na Idade Média ¢ que no revela them a influéncia grega nem a romana. A arquitetura gética, com seus arcos pontiagudos, comecou na Inglaterra lé por meados do século XVIM 0 pré- prio Walpole consteuiu para si um "pequeno castelo gético” na colina de Strawberry, perto de Twickenham, Londres. Esse tipo de arquiteture sugeria tmistério, romance, revolta contra 2 ocdem cléssca, selvageria, através de sua associagio com as ruinas medicvais — coberca de heras, assombrada por coru- jas, banhada pelo lua, cheia de sombras, misteriose e assim por diante.) 0 cas- tele de Otranto & wma cutiosidade melodramética; O romance da florsta, Os mist its de Uddlfo ¢ 0 italiana de Ann Radcliffe io escritos com habilidade, seus miscécios tém sempte uma explicagio sicional no fim, cola nunca ofende a mo ralidade convencional. O mange de Lew-s — com seus demBnios, horror, torts ra, perversdes, magia e assassinato — é muio diferente: sua falta de gosto iio compensa 0 seu impacto, e sua popularidade reve compreensivelmente vide ‘eurta, Devemos mencionar nesse contecto uma obra produzida bem mais tarde — Frankenstein de Mary Shelley (1797-1851). Foi escrita durante um veto chuvoso na Suiga, enquanto seu marido (0 poeta) e Lord Byron se divertiam es- crevendo histdrias de fancasmas e the pediram que ela eserevesse uma também, Bla jamais poderia ter adivinhado que sua histécia do cientista que eria um homem atcficial — pelo qual ele é evencualmente destrufdo — actescentaria uma nova palavra & iogua,e se cornaria conhecida até mesmo entre os semile ttaclos(grasas principalmente a Hollywood), elevando seu tema da condiglo de uma humild fiegéo @ um mito universal 194 A sornacia cues O Johnson Reservei o fim deste capitulo para me referit a um homem caja peeson lidade parece dominar 6 conjunto da época augustiane — doutor Samuel John= son (1707-1784). A biografia de Boswell — talvez a melhor biografia jamais ‘escrita — dé um retrato tio vivido e detalhado do “Grende Cham da Lireraru- ra” ede sua époea, que a personalidad de Johason vem, desde o fim do século XVIIL até os dias de hoje, deixando na sombra Johnson, o escritor. Hi milba- res de pessoas que podem citar uma das tiradas das conversas de Johnson para apenas ume que seja capaz de citar uma frase de O wdio ow um verso de Londres. Quando Johnson — 0 esctitor — ¢ citado, trata-se em geral de alyo para scu descrédito, como aabertura tantol6gica de A vaidede do deseos bumancs: Let observation with extonive view Surrey mankin from Chine to evn, IQ 8 observasio com visio extensa/Abranja 2 humanidde dx China so Pera} ‘ou qualquer outro exemplo de seu estilo altamente laciazsdo. Ainda assim va lea pena ler Johnson, Ble experimencou a maior parce das formas livetdvias de ssa Epoca — dram, poesia (Virca © didstica),o remance seu Raselas segue & tradigio oriental como o Vathek de Beckford e tem © mesinn tipo de tems do Gandide de Voltaire) e 0 ensaio moral, como em 0 wadio © O wos. Bscreveu ser- rides, otagdes € meditagdes, uma biografia admieivel (A vide dat porta), dedi- cac6tas, proloyes, discurso, panfletos politicos — deixando intocads poucos ramos da Lireratur, do jornalismo e dos “acontecimentos". Mas set nome co- mo erudito viveré principalmence por causa de seu Diviondrio da lingua inglsa ‘de seus escrtos crticos. O Dicionério € um grande feito— uma obra que ain- da pode ser consulrada, ¢ que também pode ser lida pela luz que lange sobre a petsonslidade de Johnson. A melhor parte da coneribuigéo critica de Johnson pode ser enconcrach em A vida dos petas (especialmente na vida de Covey, em que ele diz coisas sdbias sobre os poetas mecafisicos, ¢ no longo ensaio sobre Milton) e no preficio & sua edigio de Shakespeare. O trecho a seguit pode sex cruel, mas € verdadeo: A quibbles, 10 Shakespeare, whet Luoinons vapours are tthe tele; be follows it at call adotares; is ure t0lead ims ou of is way, and re to ex imei th mire 1 has soe magmas paver over bis mind, and ite faxinations av iresttsbe,.. A quibble is the geen apple for which be will always tern and fro bis carte, or top rm bis elevation... A. quibble was to bio the fatal Clepatta for which be let the sword, and was content t0 ls 16, Paosa ma Eroca Da Razéo 195 (Um ttocaditho 6, pare Shakespear, 0 que os vapores luminores jante; ele o segue em todas as aventies;cereamente irédesvis-lo do caminho€ cectamente isi afundé-lo no stoleito. Tem wm poder maligno sobre sua mene © seus faslnios si irrcsise(ves.. Um erocacitho € x magl dourada pela qual ele sempre se clesviaé em sua carrera, ou id descer de sua altuta.. Uru cocadilho para ele era uma Clespatea fal pola qual ele perderia o mundo, eficaia con tenee em perdé-lo.] Johoson era incapas de venerae qualquer escicor apenas por causa de sua teputacio, Come critica ele eta hovesto, ©» honestidade e a independéncia britham em todos 05 seus escritos, como brilham ao longo de sua trajetéria pessoal Para uma compreensio do mundo literirio do século XVIII, A vida de Jon de Boswell € indispensivel, Nelaencontramos todos aquelesescitores que estamos: ‘comentando. — Goldsmith, Sheridan, Burke ¢ todo 0 resto ~~ e, slém disso, captamos a sens mesino a cheio, da época augustiana. E um registro admirével de uma épocaadmirével 17 Os romanticos moscnen, | ‘Tndommne keudabituramma | nea autantinanfuetaleteveu @gufcatr oonmmummecunn ‘teraltemns nomen emieanadrp | OVA nova ortodexia Setia convenicte (asim como romantic também) acreita que 0 movi mento omaaico mu lerauracomegou com a queda da Basia em Paris © com o primeigodeamamenca de sangue na RevolugloFranees. Mat, como jd vires, 0 sSiatano procurou itromper durance toda a Epoca da Basis 0 século XVIILieve lise de rebels, individuals loucos, que —em ge tal com insuceso, por casa da difcaldade em relagio' gungern — empe- nace em wind iteratiré do instinto, da emogto, do entusiamo ¢ temas tam recorat 0 artigo caminko dos elisabetanes até mesmo nos poetss medias, Tvs tena so por eau da influéncia do grande clsiiss con. servador, dautorJehoson, que uma literature romdatia alo tena surgido tna cedo. 86 quand filosofia de homens come Rousseau, Lackee Hume co. meee a evo einen se cen ee neita suficientes panto defizer com que o novo tipo de iteracura parece a tural.O que fora nio-otodano tomna-se ortodaxo, O romancis cio sat opie gas e pales eos rebeles se tornaram 9 govern legion V Influéncia da Franga eda Alemanha No entanto, ainda testavam velhos conservadores com quem lutar. Wordsworth teve de combacer quase que incessantemente contra aqueles que ainda estavam presos aos padres do passado; Keats foi duramence fustigada pelos erfticos; Shelley foi condenado sem apelacio. Mas s6 0 fato de que, por volta de 1830, todes os homens de calento literério fossem classificados como 17, Os xontwmicos 197 membros de um tinico movimento é um sinal de que eles representavam a no- vva ortodoxia. Os romfnticos ainda pernanecem, em nosse éPoca, Como 0S €5- critotes ortodoxos: fomos educados nc escola com Wordsworth e Coleridge, ‘no com Pope e Dryden, ¢ Dylan Thomas inflamou mais a imaginacéo do pi blico do que T. S. Eliot (Thomas, o visiondtio selvagem; Eliot, o classicista pre- ise). Quando, no entanto, eansideramas que os rominticos estavar cle faco r= Loreanda a0 antigo modo de escrever (0 modo dos elisabetans e aré mesmo dos autores de baladas), conseguimos ver a época clissiea dentro de uma perspecti- va mais verdadeita. Foram Dryden e Pope que romperam com a grande tradi ‘lo inglesae se juntaram, durante um oreve period de estabilidade, a tradicio clissica francesa, No eneanto, na media em que & Franca revolucionsia ia se omando cada vex menos a partia da "Liberdade, Igualdade, Praternidade” € cada ver mais a péeria da tania, o pati que inspirara 0 classicismo e expulsara o espitito romdntico, ela foi deixando de exercet qualquer influéncia sobte a lx teratura inglesa, Poetas como Coleridge, Wordsworth, Southey, Scote, Byron ¢ Shelley aprenderam mais com a Alemanha do que com seu vizinho mais préxi- ‘mo, € a Aleman ajudou a sustentar 0 romantismo inglés por muito tempo. EE aqui se faz necessdrio observar que esa tendéncia para o gern lente, em um Ambito bastante resttito, nos poetas “de transigio” da poco au- ‘gustiana: as odes pindécieas de Gray emeter tanto 4 mirologia escandinava ‘quanco 3 historia celea: 0 “gético” implica a cultupa iene” ©) 0 manifesto de Wordsworth (O.ano-chave do romantismo inglés nfo € 1789, mas 1798. O ano de 1789 assisciu queda da Bastilha, mas 1798 assistiu & publicacto das Balada livicas de William Wordsworth (1770-1850) ¢ de Samuel Taylor Coleridge (1772- 1834), No preficio a senunda e& tercira edicio desselivro, Wordsworth esta- beleces os prineipics segundo os quais ele estimava em que a composicio da poesia deveria estar baseada, Ele frisava que a linguagem da poesia deveria ser « linguagem dos homens e mulheres comuns, conservada sem manchas na fale das pestoas do campo. Bra contra a ‘diegdo poética”. Também se opunha 40 conte racionalista dos poetas augwstianos; desejava uma poesia que consti ‘uisse um retorno a imaginagio, 3 lends, 20 coracio humano. ©) Poesia enquanto vocagio ‘Wordsworth ainda concebia a peesia— como todos os romiinticoso fze- ram — como algo bem maior do quea mera versficagio de verdades fos cas 0 poeta eta um profeta, nfo o transmissor da verdade de outros homens 198 Acrrenatuaa euesa ‘mas o fandador da prépria verdade, Ser poeta significava uma tremenda res- ponsabilidade —o poeta tinha a chave oculta dos mistétios do coragao, da prs pia vide; 0 poeta ndo eta um mero embelezador da vice cotidiana, mas 0 hhomem que dava vida a sen significado. No século XVII, a poesia ainda era algo como 0 hably de cavalheiros ociosos; com os comanticos, cornou-se uma vvocagio, Shelley proclamou: "Os poetas sioas teombetas que cantam a batalla; 05 poeta sio 0s legisladores ndo-reconhecidos do mundo” ) 0 panteismo de Wordsworth Wordsworth cercamente Jevava sua vocagio 2 sério, Sua profissio era ser poeta ele no tinha nenkuma outra atividade, Na sua juventude, éverdade, ele se eneregara filosofa, forjando, de acordo com o esqueraa de Godwin, um sis- tema racionalisea politico e moral que pudesse seguir. Mas em 1798, com a pu blicagio do manifexo que escrevera com Coletidge, tinha a convicgio de que Seu caminho nao se apoiava no racionalisino, mas nt intwigo, em urna espécie de misicismo, e que naturezasignificava mais para ele do que todos os siste~ ras. A atitude de Wordsworth em face da nacuresa € original e admirivel. A anacureza € 0 grande mestre motal ea principal fonte de felicidadc, mas nate feza € muico, mids que isp: na natuteza encontramos Deus. Wordsworth, em contato com os bolus eas moncanhas,lagos € devores de seu condedo ao nor- deste de Cumberlad, oa de regibes menos ageestes, adquire « consciéncia de A presence shat dssrbs se withthe jy Of eevared shoghis sense abline Of somesbing fr more dply intrfced, Whase delbing the light of esting sms, ‘And the round ean and the living air, ‘And the is shy and inthe mind of man (Cine Ate ens 949) {ina presenga que me perturba com a alegea/De penssmentos clevidos; um sentido sublimeDe algo profundamente miscurado,‘Cuja morada éa luz dos sis poentesJ/lE 0 otzaso em volta € 0 ae viva /E 0 céw azul, € a mente do homem.} Ohomem ca ratutera se fundem através da pacticipagio em um tinico” poderoso”, cle modo que os objetos naturais mais clementates se “husmanizam”: ‘The birds araundmebnpped and played, ‘Their chats 1 cannot measure But the lett mci which they made, 1 some a sil of leanne 17, Os nomtisricos 99 ‘The baaeong sigs sproad ou thei fa, To catch the brs air; And U mast obink, di all 1 can, "That thre was pleasure there {0s péssaros 2 meu redor seltitavam e brincavam /INéo posca medit seus pensa- ‘mentos:/Mas © menor movimento que fezinm/Parecia um feemito de prazee! Os ramos em bodio abriam seu leque/Para captar o ar da brisa/E devo pensar, fazer mido que eu puder/Pois © privet estava al.) Wortsworth nio € nem cristio, nem tefsta, nem racionalista. Podemos também de sua propria falta de valor c, em scus Gleimos sonetos, até mesero de sta danagio, Sua eécnica é to revolucionstia que faz com que Tenaysor ¢ Browning pategam antiquados e fora de moda: a prépria supesficie dle eu verso, com sua firme compressio, parece dura como ago, ¢ seus epitetos compostos sio mais ousades do que tudo enn Tennyson ou Catly- le — “fresh-firecoal chestnut-falls”, “Miracle-in-Mary-of-flame”, “dow dugged ground-hagged grey”, “the O-seal-that-so-featuze", “wilfal-wavier meal-drift". Elena a linguagem de maneita altamente individual, mas € sem- pre ldgico, escolhendo um dialeto em que o inglés-padsio nio pode fornceet tum significado, br ncando com a gramtica em nome de uma énfase mais acen- tuada, O novo sistema ritmico, que “obcecava seu ouvido” dusance seu longo siléncio pottico, emergiu na elegia O naufrgio do Deanchland,¢ 0 sprang rhythm (© titmo saltado) cabou se tornando um prinefpio do verso inglés. O verso inglés tradicional reconhecia dois farores: um miimero fixo de acentos, am n= mero mais ou mers ixo de sflabas no verso. Assim o verso branco devia tet, tradicionalmente, cinco acentos e dez, ou onze, slabas: usuaeaainc yoy may be that she gulf wll sath wt down. Pescyeond © sprung riyibm reverteu quase tudo aos principies do verso do antigo inglés: um padtio fixo de acentos, mas qualquer avimero de silabas, de acordo. ‘com a idia de ques acentos em inglés so ro fortes que podem suscentar por si prdprios o verso, sem que haja a necessidede de um padrio silabico. Aqui csté um exemplo de A Oxford de Duns Scoms, escrito por Hopkins! a ASEH EEL cry city and branchy brasen teers \ \ \ \ \ Cuchooebaing, hsm, lark-charnsl, rolrackd, rv rode, [Cidade de cores e galhos encre corres/Bco do cuco, enxame de sinos, enfeitigae dla pela cotovic,wiveieo de gralhas,cercada pelo tio. J Esta é # abercura de um soneto que, no seu esquema de rimas, € quase inusualmente regclar (Hopkins esereveu muitos sonetos e nunca fer traques ‘com o esquema das rimas, a0 contritio de Wordsworth). Mas o ptimeizo ver- so tem dez slabos,o segundo tem dezessete slabas. No entanco, os dois versos tém 0 mesmo tempo de dure tm 0 mesmo padio de cinco 1B. A troca veroRIANA 23 acentos. O principio é gros mado o da miisica, em que um compasso de quatro batidas pode ter qualquer miimero de notas, na medida em que o ritmo funde- mental nao seja desteutdo. Sprang rythm fo1 muito importante para os poetas modernos. Mas outtos habitos poéticos de Hopkins rambém foram adotados — a aliteracio feegiiente, o ritmo interno, 0 uso de palavras compostas —, no entanto, poucos poetas foram capazes de adotar sua intensidade, sua visio cla- 1 seu sentido do conflito, nto apenas incerno mas no munclo externo: \ Nee ey Whore, selfurung, selfing, sheath — and shlteles, boughts against though in VON graans grind. [Onde espremidos dentro de si, amatrados dentro de si, sem invélucro e sem brigo, pensamentos contea penstinentos em gemids rangem.] 19 Vida nova no drama ©) 0 dectinio do drama Acabamos negligenciando o drama, sobretudo porque esse ginero, a pat- tie da morte de Sheridan, negligenciou a si mesmo. Os Gnicos teatios em Lone (Wiliam Bla) (Verso com quitto silabas fortes, esquema de rimas aabb,) ‘The curfew tls tbe hell of parting day, The lowing herd wind slowly oer te les, The ploughman bemeard plods his weary wa, And leaves he word to darks and 198 (Thomas Gray) (Verso com cinco silabas fortes, esquema de rimas abab, Conhecida como cstrofeberfica — "hemi stanea” ) ‘Then be pled ou bis Bright, brown sword, And dred it on bis ws, ‘And be smote off that vil lads beed ‘And asked for no man's leave (A bats “Glageron (Quatro silabas fortes se alternando com erés silabas fortes, esquema de mas abcb. fa estrofeda balada — “ballad stanza) 1 heli rath woth bir obo sings ome clear barp x divers tomes, ‘That men may vss om sepping-tones Of their daa! los to high things € (Cenayzn) a ssasini A vensteicagho metesa a7 (Verso com quatro silabas fortes, esquema de rimas abba, Geralmente cha- mado a estrofe “In Memorians” — “To Memoriam’ stanza" — porque ‘Tennyson o cempregou consistentemence no longo poema com esse nore.) Awake, for morning in th boul of night Has fang the stone thas puts se stars te flight, ‘And, fo, se bacnter of the Bat bas caopht ‘The Sultan's tre i. mone of light? (Pinegerts) (Verso com cinco silabas fortes, esquema de rimas aaba. Uma forma per- sa, adaptada por Edward Fitzgerald ara sua eradugio do Rubaiyat, de Omar Khayyam, e chamada geralmente de itrafe de Onar Khayyam — "Omat Khay- yam stanza”) Hi muitas variantes possiveis para 0 quarteto. Andrew Marvell, ern sua Ode boraciama sabre a reorna de Cromwell da Irlanda, werceu a estrofe da cde hora- ciana da seguinte maneiza: He moving comm did or uae Upon shat mesinable seme, Bur wish bis hone ee ‘The axes edge did try (Os dois primeicos versos tém quatro silabas fortes, os dois limos, teés silabas fortes, o exquema de rms €sabb,) Collins, em sua Ode a pote, centow uma versio semelhante da estrofe hora~ ciana sem usar a rina [Now air is bab’ save where the wekeyd bat With shore sri shriok flit by o8leeberw wing, (Or where the Berle winds His sual! bu sullen born. (Os dois primeiros versos tém cinco silabas fortes, os dois Gltimos tém, tuts sflabas fortes, sem rima,) OD Estrofes de srés versos {As estrofes cle tx versos sfo mevos comuns que o¢ quartetoe, ao que pa- rece, sobretudo por causa da necessidede de esquema de vias em. aKa, que presenta obviamente mais dificuldades técnicas do que o esquema dual de ri- ‘mas como aabb ou abab. © poema do eonde de Rochester Sobre nada € wm ‘exemple eriunfal do uso de uma esteofe de tes versos: 28 Auurssaruna wouss Nothing! shou ederbrosher 0's 10 Shard ‘Thou Badia bing eve she world wat made, And (wl ft) art alone of nding wot aia (Os dois primeiros versos tém cinco silabas fortes, 0 Gleiano verso tem seis silabas forces — um verso com seis sflabas fortes &, As vezes, charmado de alexan- cdring: 0 esqyuema de immas € a.) © Unidade de srés versos ‘Uma forma que nao chega a ser exatamence estefica, mas que est basea- oper) onal unt a 0 F (po por sy 93 00s ve tag pe ‘aos weep se vod ended west ar mPa 2p 9 af Sere EGE “eng ped i way peng 2 ang eo ws ulus spat sn SY PHOT lope spe man ey ngaraoty © wenn me 0, eos sapnny iO ds pp yt ‘good anbesy spon 2 03g a 0 2350 ope Ey sor eset 2p 200s > TTA opp ap oxboipay ‘ope Spi sp "Mouond par) I 4 ie OnE LP me oy pan $661 “gat opine) Kone 3 0k Ee OMT 5 3. aP setemannyo sno Pee lnad L161 “lef san sp any damog 9 uy nrg 99 9p aoa € ago on 961-0161 “A 8 x61 060 “set 2 epee) Been ABO Hp DH EOE ‘boy sprang pena wef seme ae ope 206k | ‘aa smmra pe 3p a PT (G18 opm) UMERNE 9p 28 CO6 ‘Sri oman Sg mr) 6 = 307 ‘Quanke cronotoaica “Saoy 2 any Tagine on woNH WL aes ppg ms (n4000"Y 0,350] BEL ‘A urenevuna wets "pp ap mre LHS spruny ons ovong pane n pane v2 (661 | “SST on NT ey OHMS wa vp TPIS Tene MR ap ope | maaan aer-avosou yz ODI, eH HP AEN es cay mexeg-aiey yocl a mse? MOUS 2p fee we eran 220950 9P HEY HPI FOOSE ‘ince a L997 ap sane 82 0 ‘DYN 2B ICT ISN.O Pig Sanpete 7 169-8) SSL Today op nad os YE pag oats apne sey = 7 Bong RL, HEL EY Sree ZSN on on “oaery) ere © 09 8 3 Ope 9) rorunyy ¥ 1661 oc yp oso EGS “Spt funn Zauarnn SaEMD P pon HD EP “ona IPA HOw LVL ‘ ‘i 308, ALLITERATURA INOLESA, a ant gapaeaa 2 ' 2SGb ips 2 indi sae a pee gagsiss ndice onomastico ‘ Publ yp & Sbasetsogse 42 S$ Ease y teaheedpess iF f gue feataety Be ‘Acie, Chie 272 Buon, Eden 252 ‘Carrion, Bond 258 eniiseietir is ‘Avon, enh 164-5, 18.5 BOUNGARERE, wsconde de 39, Cawos Abet 202 Hee ‘eben Edad 240 to ror Ral 239 Seog Ue! BS ‘metas sot Rae 242 eer : esp aida esas duno ari@2.95 ——_Bontow, Serge 224 (Cus 24, 1278, 4, sisbiniisiil: ‘0, Kinet 271 Boswt ames 194-3 159 ( oe 44 ‘cin in 9 Bewaat Cae 124, 14, 16, 5 ge ES mien own fine se ' 3 axmrerame 62 Dean jin 212 cant, Thoms 2138, 20, ieee g22884 aegee gusieg ‘ten new 27, 27.8, BARRIS, 23.236 Hiss siiies Galyi qisiaiedd a jie 97 ean jyee er gehay Giibse ieake pisito nr ea de 24,3436, ee SRiP: Pda ig bi tse ie ae iow, Chale 221 ‘Conroe, Wiliam 49 gelal G2i23 Ba Bo, ee Fes ‘Auoen, Wines Hugh 240,262. BROT Emily 221,227 ‘Canvases, Miguel de 35,103, 7 site fa a ahaa seageedy Sta. +262 Broo, Rupert 252, 262 acca suble aaidil dil: vsbedis pe eto, uo ecwetm eines la Hah@ual gia: has Jo 2 Bonn Sere a eae Seee e saceg Sebbeuged ‘Bao, Toa 1334, 210 : . ( Sqcacesetiis Gaees Thi Bacon, Sir Francs 17,113,116 Beownin, Blaabeth Barrett ¢,273 Hhyies din Gha: Bo 269 ean, Gene 1,223, ; be pees (obec ht ach Retr 193 Soo. a aaeiaiiy) Gls inal cera owning Reb 2142269, ga Tea Hae Bibel Bia emt de 290g BRT IKE Sharon ie Re 29, svat Se sy nner ee 28 OND G2 Oa sicily Hpi Sunstone 27 BERN Bn 37.1867 8 Ce DO ‘ Ha el aiies Se Cae iq Guten nds Beeb eghs pagbe qaneat ' Buns, Edmond 191,195 CUWEAN Joba 128 geegg ape eres thay ther, Sonal 40,267 Bins Cle 133 wa Ahr Hag 21422 PU a sister tey Poe eee eae Coupe fatal Fa 18, SELES Tisai les it okaag lee Fenty tomer ng MOE aa 11 97h A116 g g g g & in 23 Bom, fost 187 Couns, Wie 222 3 Baioe ile a3 Boman Sal CE) 148, COs ili 174, 16, Brrr, Ameld 79, 250,256, 214,224,235 mm 260 ete BUT, Samuel *Huditeas”) 149, CoseTon-Burntry, Iry 260, 269. Bev, Jun 22 a Conca, Wil a 164 ewrfarmy2t4,216 Bran, Lon 19,176 19,157, Coma, mph 19230 Bens ent 36 Yoram, 212293. 279. has Ben ne 187 oor Wiliam 272 Baan Reker (50 amon 7 Conti 163 Bue, Witam 19, 14, 13- Camu 128,285. Covina le 33,11 2038,25716).216 Caran Thom'286 Cure 334 99 aio. Covey, Aen 145,52, 155, 194 (cowrin, Wiliam 178-8 (Ceanae, Geage 174-5 Cuan, Rice 132-5, 126 Crowe, Oiee 125-4, 127, 145, 1545 ‘Cunsun0¥0, Richa 165 Do, Same 12 Date Auster 42, 204, 232,283,280, Danis, Chaves 215,217 Daven, St William 38-9 ‘Dyuion, John 246 Day, Thanet Drea Mats, Weber 252 De Quessy, Thoms 2101, 216 ‘Duro, Dail 185-4 18-9 exe, Thomas 103-4115, ‘Datonty, Thomas 113 Danse, Sr Jon 145 Dascants 153 Drouin, Chara 179,115,218 23, 247-8, 269. svi, Beojmia 218 Does Joba U9, 121,262, 135,145, 18,168, 204,226 Dosis FM. 267 Doves, Gavin dé Dowson, Ezaat 246 Doms, Sr Arthur Coon 25t ‘Daaeron, Michael (2 ‘Dave, Jb 109,119, 14:56, 1623, 19-72 196-7, 197,204 Duccan, Aled 271 nas, William 46 Dorm, j.W.259 Du, Laerence 258 Bocawonrs, Madi 209-10, EDUARDO I 164 xm, Cyprian 272 ican, Sie Edvaed 218 ur, Grorge 2225, 269 Bur, Thomas Scat 12,17, (6, 86, 151, 174,197,219, 231, 240-, 45,2545, 253, 264 Fuzanerst I ibe 9553, 108, 16, 12,124, 235 ro, Willi 16,264 Emote, DJ. 265,273, Eves, Se. John 257 Esqus 39) sex, conde de 95,97 Brean, George 151, 161 Buntranes 99,61 Buen, Jo. 136 Raxquias, George 164 ine, enyy 115,16, 183, 159,220 Prachi, Fdsed 229, 244, mT Fosuoenr 18 earn, Joa 92, 98, 103-6, 10 ono, Joba 94,1123 Foun, Joba 106, 110,114 oan Mabox FoxD 281,233, 258 Fossran, Edvard Morgen 259 owe, john 114 Pay, Chisopher 233, otis, Rey 35, 255 uur, Thomas 133 Guiswormy, John 237, 249, 233 Ganticr, Davi 162,164 (Gascon, David 265 (Gases, es 222 Gay, Jon 166 (Graeme oF Monouourn 33-4, 74 ‘Gino, Baad 192 ‘Gunee, Walla Schock 254 Gisnt, George 247,273 ‘Gapens, Willan 913,198,205 ‘Gosnive, Willem 266 Goxpanin, Oliver 163, 1734, 190-1, 193 ‘Gonnoste, Nadine 272 Gores, John 43,489 Cease, 5,363, ‘GANOE- BARE, Haley 257 ‘Graves, Robe 46) 252,271 (Gaav, Thomas 176.8, 197,276 cost Hengy 273, Grea, Peer 27 (Gnutn, Gear 259,266 Gara, ober 80,93 (Gunn oCongustee 31 Gere, Na 9 Hawes 149 Hisar Joroson, Parla 267.8 Hanoy, Thoma 286-7, 253 Haare, LP. 265, ‘Avurinaruna senses Haarvny 190 Hegarr, Wilia 155, 2104 Haase, Joba 273 Hiaunn, Joseph 265 Hesragi Vil i 24,81, 115 HEGRVEON, Rober 4 Haxeows, Philip 2 Hexaexr, George 130-5 Hioaicg, Raber 125,173 Hiv, Georges 271 Hevwooo, faba 72 HEsv0ap, Thoms 104, 109 Hons, Thomas 1534 Hons Philip 263 Houcrorr 193, Huns Raplacl 112 Huan, Bilemon 112 ouao 8, 116,139, 172,189, 6 000, Thomas 206 Hoon, Riese 14,135 Homans Gerd Maney 16,200, 213, 229-31; 252, 2623, 274,280,285 osscio 124,127,171, 174 Hove, Aled Babeurd 246 ‘Howano, Hlzbeeh Jane 270 Hots, Ted 263 “Hun, David 187,191, 196 How, Leigh 210-1 HU, Aldous 185,210,257, 265 Mumiy, Thomas 217 Ansan, Henk 2345, 287 Tontsco 243 Teenwoo0, Ghesoper 240,252 JPeoaton, Dan 272 Jane os sc0.46 45,70 Jaowe ba ByciareanA 53-4 Jao Iba nenarenna 144, 146,154,217 Jasas, Henry 254, 258,270 ‘sion, Storm 269-70 Jornson, Smee 34,119, 138, 143, 164, 1745, 186, 1946, 2 Joos, Henry Artur 233-4 ons, igo 139 “Jonson Be 6,91, 100-4 110, 1269, 15,138.60, 206, 219,275 Jove, Jes 196, 190,20, 218, 2356, 239, 263,267 Ixptes oxomAsrico Joven 174 Maes, Noman 266 7 Many Se Those 49,225 Kata, Fane 260-1 Mavs, Thorne Rober 214 ‘Xeor, mmanvel 216 ‘Masons, Sc Joh 37 Kens Joba 108,116,173, Minna, livia 263. 175.6, 178,196,201, 204.6, Manned, Rober 35, 64-5 210-2, 225,233,273, 279" Maqui. 83-5 eat, Johw 218 ‘Manton, Christopher 745, 80, Karsan, Omar 229,277 82-8, 95-5, 100-1110, 219 Knucesw, Thomas 158 eaason, Join 104 Kine, Francis 273 Marva, Andrew 124, 126-7, KNGLAKE, Alerander Willan 149,277 2a Marx, Kul 215, Kinser, Chasis 222 Masur, Joba 232 Korum, Rudyard 54,245, 248 Maseait, Philp 110 oust, Arbor 271 Mavotine, Will Somerset yp, Thomas 767, 89,92 239,251 (McCray, Mary 269 1LAgonGuE, Jules 284 Mowat Hens 72 ‘Le, Chars 118,155,210: ME Herman 189 ‘Lana, Mary 210; Maotrs, Gorge 223,229 rsnane, Geese 273 Mecvm, Alice 246 Loon, WalerSenge 206,212 Mipoustony, Seley 272 TataN, William 37-8” MipousToN, Thoma 106,107 Tava, Philip 263 Ma, Jo eae 206-7 Law, Willa 186 ‘aus, arebur 240 Lawnanct, Devi Hetbere 257 MUtan, fn 99, 80, 124,132, Taya 35 136-42, 145,147, 155,175 TeSice 188 194, 280, 211,215, 217,280 ean, Edward 220 inex, Marge 70 pak, Rosamond 26870 MirtoRD May Ruel! 210 Teas, code de 82 Mirmowan, Edger Aut lesite, Doris 265,270,272 213, 1s, Ce Day 262.3 Moutne 161,163 Lnws Marchew Gregery 193 MosMoUm, donee de 146 into, George 164 Moxraca 1123 un Yorave 17 Moone, Those 205 ocas, John 154,196 Mon, Se Thoms 17, 112-5, oveuct, Riad 128,188 242 Lowey, Malet 267 ‘Moxcane Lady 209 Lees, BV. 138 Mons, ames 208 Lorre, Edwacd 265 Mons, Wiliam 228, 246 oteXIV 180, Moxroae, Penelope 270, Lorexo 123,183 Munzoce 270 roars, John $5,489 ay Joh 76,81, 93,115 Nau ¥. 8.273, Ler Bed Bale NAtavab BK. Tord 318 ‘Nasi, Thoma 113, [Nawny H 257 Macs, Clin 272 [Nowa Joon Feary 218, Macauay, Thomas Bubington 229,25 27 [Newron Sic lac 153, Macon, Hugh 264 Nisa, Fide 235 MacNne, Laas 253 Nott S¢ Thomas 112 MAcPaERSON, Jens 180 NRTON, Thomas 743,81 au Ban, Bea 270 Busy, Fann 267 casey San 238 NSU, Eogene 240 (Occ, Thomas 43 Oxpnsc 131 ‘OnvLE George 186, 245, 261 2.2645, ‘O:ponNE, Jb 241-3, 271 ons 1a Orway, Thomas 131,165 (Owen, Wied 252,285, Paint, Thomas 191 aren, Waler 244, 248 Pawo, Convey 246,284 Paron Alin 272 Prscoex, Thora Lore 210 Pus, George 79.80, 93 Pare, Samuel 156, 160, PEncy, Thomas 80 Poneman Jere 273, Parnanca 126.1 Person 115. Pus, Stephen 233, Pisoano 175,284 Pritt Se Arar Wing 234, 231,239 rere, Hall 243 Puauro 62,73, 78,93 Purranco 96,12 Pos, Edge Alan 206-7 Por, Alemnder 45, 147,152, 168.76, 179,183, 197,202, 235,245 Posten, Pete 263, oun, ar 26, 254-5 own Antony 268 Pruesuny, Jon Beynon 188, 29 Prous, Marcel 268 ‘Ponce, Henry 49 ney, Edward B 218 Rasta Fag 135,18, 190 Race 165 FRaDcurE, Mes A 195, aras 228 Rain, Karlee 263 Ran, Bache 273 Rao, Raj 272 Asta, Jeb 72 arma, Terence 239 ‘Resoe, Chaves 222 ancnow, Peter 263, 32 Recanoo il 164 Rec, Ble 240 icHARSSn, Sel 187-9 Rowtsrs0N, Thoma Wil 233 Ronen, Wii 19 Rocimsren, conde 82277 Rootas, Archdeacon Rosser, Csi 28 Rosser Dante Cabiel 228.9, 246 Rovisen 170, 192-3196 Rows, Nichols 164 Rows 189 RUsKIn, Joe 216-7, 20,228, 2 Shexoe, Thomas 745, 81 Shox, Wilam 261 Saar, Jean Paul 242 Sxsoon, Seed 232 Scare, Peer 202 Scary, Sie Walter 115.176 197, 20710,221, 247,250, Stour, Sie Chale 13 Sten 602,758,106 Skapwet Thome, (8 Surrey, nde de 145,170, Seamer, Wilan ,19, 35,42,445,55,61,9, 1 a0, 9-103, 105,117. 22,136,141, 151, 134,99, 1603, 168,173, 94200, 219,221,221, 23,285, 39, 2a Sia, George Beracd8. 19, 33,157, 226, 235-8, 240, 248-9, 333,3: SMU, Mee Mary (93, SURRY, Perey Byshe 19, 116, 173, 176, 178,191, 196.8, 201, 208°4, 205, 20, 226, 235, 241,273,278 Srna, Ried Bray 16566, 195, 232, 2305, Seams, James 110 Siooons, Mie 164 ‘Siosey, Pip 115,121 Suurot, laa 272 8 Keene 275 Sti, Khorcage 275 Sesuis John 46, ‘Sunt, Chitopher 180-4 ‘sar, Adam 191 ‘Slee Say 214 SMOULTY, Tobias 15,189,191 Sxow,C. 268 Sorocis 8,39, 6 ‘Soumny, Rober 197,209,212 SPANK, Maciel 270 SrENcin, Herbert 218 Sees, Srphen 262-3 Steer, Edeound 1168, 128 Squas,).C 281 Stet, SieRicaed 163,184 Sons 188 Seon, Lasrence 190 Stevnnon, Robert Lis 247 Sranosens, Aoguse 240 ‘Socnuin, Sir Jonn 128, Scer0100 96,12 SeRLIVAN, Ashu 2345 Sumasy, conde de 75,19 Sw, jonathan 189.1836, 216,262, SmINBURNE, Algetnon Chatter 228-5, 244, 246 Src, Jobo Miliagtn 238, Tamon, Edward 132 Teron, Jeremy 154 ‘Toone Ale Lod 116, 225.5, 28,230, 235,276-7 ‘Textwc0 62,73, 78,95 Thucrerae 193, 220-1 Teowas, Dylan 197, 263,273, 283 ‘Tnowas,Edwacd 43,252 ‘Twonoson, Bracie 246, 253, 213 “HONGO, James 175-6 Thwart, Antony 263 Toute, Bea 259 Foust Leon 115 “Tourn, Cy 107,206 ‘Torn, Pk 273 Trane, Thomas 134, 263 “Trees, Henry 27 ‘Trouor, Antony 222 Turco 18.167 ‘Trost, Willan 52-3, 11 nail, Nicola 78 Ungurian, Sie Thomas 134-5, Yacsnucs, Jo (6k avout, Henry 131-3 view 28% Vine 46, 116,120,124, 159,172 ‘Verona, rina 204 otzam 194,206,236 Vows, Kure 256 waee 33 |Wanoel, Helen 271 Waen, Ricard 218 ‘Warn John 271-2 Wana, Edward 145, Waurots, Home 156, 191-3 Wasroue, Sir Hugh 250, 256, 260 WALTON, nak 135 Want, Rex 261 WATHUOU, Keith 271-2 Wes Tae 186 Wauch, Bsely 258, 266 ‘Wass, Jon 107,208 ‘Weng Hevbere George $3,112, 239, 2489, 283,257,265 ‘Wrsran, Aan 202 Westey,John 167 ‘Ws, Rebecca 269-70, Wrasr0n, Themar 180 ‘ware, Patrick 257 Warne, Join 242 Wurm, Wale 294 Woe, Osea 2345, 2645, Wats, Tenses 240 Winns, Henry 258 Waar, Job, con de Rochester 149 ‘wson, Angus 269 Wonsor, Kalen 270 Woou, Virginia 255-60 Worvewour, Wiliam 18, 18, 133, 170,198, 196" 201,203, 21022, 230, Wort, Sr Heny 135 Wusran, Archbihop 30 ‘Wyars, Se Thane 119,279 Wren, Willan 161 ‘Wear, John 52 ‘Yeas, William Bute 238,252, Ey ont, San 275 ‘YOUNG, Evan 180 Zou, Eile 250 £ ’ DO MESMO MODO,€ Poss (_—_—_ ee it VEL Rice ee

You might also like