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ag Aeon) NA ARQUITETURA BRASILEIRA ORGANIZACAO_ ANNATERESA FABRIS ‘CARLOS LEMOS LUCIANO PATETTA GUNTHER WEIMER JOSE LIBERAL DE CASTRO (GERALDO GOMES DA SILVA JUSSARA DA SILVEIRA DERENJI HELIANA ANGOTTI SALGUEIRO ~GIOVANNA ROSSO DEL BRENNA =SCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG - BIBLIOTECA Nobel/Edusp — 1.4” O ECLETISMO EM MINAS GERAIS: BELO HORIZONTE 1894-1930 HELIANA ANGOTTI SALGUEIRO (Uberaba} 0 Ecletismo em Minas Gerais: Belo Horizonte 1894-1930 106 Introducéo histétia da construgio de Belo Hootizonte, capital encomendada sob 9 signe da modernidade arquitetini via modelos europeus do século ‘XIX, Tratase portanto de um a a0 signficativo, singular, uma coletines sobre 2 arquitetura Dbrasileiza na era republicana “Minas... De gue jeito dictla? patriacinbe... a gente ob, te lembra, sente, pensa. Minas — a gente mio sabe ..aguelascidades de espléndidos nowes, que de algunas jf roubarann.... poit Minas Gerais € mites, io, pelo senos, vires Minas” (Joie Guimaries Rosa Minas. A Mineitiéede”) A insisténcin nas citagSes de época ‘que permeiam o texto visa a no deturpar 0s conceitos, explicitando as mentalidades que ppropéem, constréem ¢ vivem a nova capital. Um dos modelos de referéncia ‘gue nos parece pertinente para comprecnder 0 petiodo € 0 proposto ppor Frangois Loyes* afsstando a rubrica de caricature e o estigma de paviche, & eles a aitude de ~ Tiberdade ‘pertérios — Clissico, “Gético, Renascenca, “Luises” ¢ tos. Lembrando que 0 XIX € 0 _séeil6da afirmacio. da Histécia © “Anqucologia, compreende se a “composicio. do “novo estilo” « partn __de rvoortes conscientey de fragmentos arguitet6nicos do pessado, adequando-os a0 presente com recurso 4 novos materiais industrializados Para o autor citade, © Ecletismo no 6 0 “pastiche” gratuito © —. sleat6rio, mas a opsia conscieate pela diversdade de linguagens, cocrentes com a destinagio dos cedificios, tanto dos de carster oficial e utlitério, quanto dos partculaes sea iit, © opartaia inden © papel que tem ou prerende ter 0 seu _propsetco, bene of meios pe. E eta uma das face “AG estd Os estilemas diversifieados, presentes na arquiterora brasileira a partir de meados do século XIX, vém seodo prematuramente identificados seb um s6 rétulo, Keletismo terminologis que, a par de sua difusio, néo deixa de ser impretisa ¢ pouco trabalhada 0 afvel conceitual ‘PihistGrico em 0630 pals. Faltam pesquisas que busquem as motivagées. regionais das cidades — pequenos ‘ou capitais —, gnc, em sincronia relativa, passam por modiicagSes politcas (e Republics) sociais (8 igraso © 0 afluxo urbaro) © cconsmicas (0 café, a indistria © & estrada de ferra). Fatores que, por conseguinte, vo “modemizar” indo s6-@ habitagéo como © cotidiane ce # mentalidade das populagies. Minas Gerais so muitas neste scmento, Enplobélas nume 56, definindo-es genericamente, no € nossa proposta de trabalho. A diversficagio © a amplitude do objeto, 0 estigio em que faltam ppesquisas monogréficas,o tempo Timitado e 2 auséncia de subsfdios suficientes pasa tealizélas, restringiram este capitulo a 4 a questi do estilo eclético no 1 Bess: @ facheda explicita. a |petiipasao de individuo no “prende teatro da vide urbana’, soa "19 moda, & dignidade e ao bemesiar | A comstrugio de Belo Horizonte significa, assim, a rupruta def com a tradi colonial: a adocio des novos estilemas, propostos pela eta industrial, inscreve-se ne recasa ao passado na aspiragio 8 modemnidade. A disseminagio dos “estilos histéricos!” em cidade olicialmente criada, sujere questOes do maior interesse, apenas esbogadas neste trabalho, especialmente aquelas referentes a0 confronto das obras ¢ seus prinefpios, 4 compreensio do imaginitio cotidiano cde sua clientela, & consciéncia da modernidade ¢ demais relacées que presidem as encomendas, além dos mecanisinos de transplantagio de modelos formais europeusy Estas € ‘outras indagecées passam a ser objeto de ume pesquisa mais aprofundads em vias de ser feita‘ A histéria da arquitetora de Belo Horizonte pode ser periodizada rosso modo em duas etapas: de 1894 a 1914 — fase da “Consirusio” — e de 1918 2 1930 — fase. da “Consolidacio”’, considerando-se um interregno de crises. Mas a petiodizasio em hhistéria da arce no se propse rigide, nem admite detertninismos; e, ‘mesmo quando apoiada em documentasio, tem limites flesiveis, dads a complexidade dos fenémenos artisticos. Pare o historiador, @ periodizagio afigura-se, 9 mais das eae, como uma simliteasto Si, que peal se defor cm Gm campo conplese de problems empl dso é9 desconhecimento de datas € autorias de edificagdes fh demolds, de que 0 restram “fotos, ¢ idéntica indefinigiio do puttiéaio sobervente, devido 4 descontindade doe docunntos dispnivei, No cate de Belo Horizonte deve sin ser considerads as interrupgdes na construcio de alguns prédios, comesados nos primero: anos deste séeulo ¢ que 36 ficaram prootos apés 1925, dificutando tuma cronologa estlistia linear. Consideragées gerais sobre a arquitetura em Minas no séeulo XIX introduzem 0 cepitulo. Em 1894 4 capital esté sendo projetada, discutindo-e seu estilo ¢ localzasio. Uma Comisso Construtora se instala no attaial escolhido, iniciando-se ss obras, com problemas de tada ‘ordem, decorrentes de projeto urbano idealist O histético da cidade e vida cotidiane presidem, nas duas fases, 9 estilfsica das obras, Neste particular, nfo se pretende inventariéles nem proceder a um levantamento extento, Preferese agui, agrupar tipelogicamente, de acorde com o programa: edificios piblicos, “casas-tipo”, residéacias, bem como'o neogético. Passados os efeitos da Primeira Guerra, Belo Horizonte recupera 0 dinamismo dos primeizos tempos © os “palacetes-comércio” explicitam a sobrecarga ostentatéria do fommamento, A superecio da proposta neocolonial ¢ as muleiplas linguagens cstilisticas sp esgotam no final dos anos 20] Com a mudanga do contesto histérico, a trajetéria © 8 arquitetura da capital se modificam, Este trabalho foi possivel gragas 8 abernura para consulta de material jé patcislmente cetalogedo por um sptupo de pesquisadoras do Institute Estadual do Patrimdnio Histérico © Actfstico de Minas aptadeso e dedico 0 Coube 2 esta equipe a préselesio dos textos ligados & histéria de Belo Horizonte quando do levantamento dus edificagdes de interesse priotitério ara preservagio em 1983. Agradego igualmente 20 amigo © companheire de teabalho, Paulo Roberto Rossi, que, pelas russ ds cidade, dirigio minke observagio, complementou dados, fez fatografias roves ¢ localizou as antigas, multas pentilmente cedidas pelo IEPHA, Finalizo com algumas sugestes para pesquisa mais detida ¢ abrangente dy arquitetora dos séculos XIX € XX em Minas Gerais, Embora consciente das dificuldades cencontradas nes arguivos do intetior do pais, proponho: — 0 inventério dos aspectos usbanos de cada municipio; classificando cedificagées ¢ delineando-se fases « interfertncias estilistcas no s6 pelo levantamento dos projetas pplantss nas Prefeizvras, como também pelo estudo comparado de Fotografias de Epocas diferentes; — 0 estudo das especificidades hist6ricas por todos os meios de expressio do acervo regional, considerando a arguitetura insepardvel | da vida dos cidadios e do contexto em que ela é criada, Essa pesquisa s6 tem sentido confrontande-se a populagio com © seu passado, recortendo-se 208 "easos” da meméria coletiva, as historias das pessoas, cuja vida esté ligada as edificagées, as ruas, fs reas de lazer. A preservacio alo paderé, pois, dissociar-se dos habitantes, integrando-se os monamentos dos lugares 4 ecolog urbana, E, na classificasio, devemos deixar de lado ot sétulos generalizadores de estilo, desenvolvends leitures mais prudentes da arquitetura de uma época, que embora tio préxima de nés, vem desapatecendo sem sor sequer estudads, Na sealidade, se os bistorisdores nfo se apressarem, como sentit muitos dos espagos, pois as demolicdes e descaracterizagies anulam as obras ¢ oferecem hhoje uma paisagem revolvide hhaverd mais “aos doces mineiros que teiman em existir no caos ¢ uo trifico (...) proibido sentiv 0 ar de liberdade destes cimos, proibido viver a seloagem imimidade destas pedras que se vio desfazendo em forma de dinheiro” (Triste Horizonte”, Carlos Drummond de Andrade) As Minas do XIX Durente o século XIX aparece uma série de modificapies na fisionomia das casas, atestando a entrada da linguagem classicizante ao sertio, Exemplos se sucedem na coexisténcia de estilemas coloniais, neoelissicos 108 i © outros; 38 solugées novas no chegam a alterar a cidade a0 avel estrutural, embora transformem a | aparéncia das edificagdes: “o volume, | © partido, viose dissolvendo no enfeite”’, grades de ferro trabalhado, aguilhotinas de vidro, madeira e metal recortado formando lambsequins, frontaes e comnijas em cesslto, wergas triangulares ou ogivais corcando cs vos, platibandas com bulatstres, estétuas on comporeiras, telhados achulezados, setciras no rés-do-chio etc. Inovagées estilisticas que, 1a opiniao de Sylvio de Vasconcelos, ‘30 passam de pormenores scm importincia’. A denomsinagdo sécule branco? pats 0 XIX minciro é senérica e carece de revisio, pois desconsidera especficidades, regionais 1a evolugio da arquitetura na provincia. Mais uma vez € bom lembrar aque sio muitas a2 Minas e que to agpecto atual das nossas cidade, chamedas coloniais, pode-se reconhecer nitidamente a intromissio dos estilemss citados, para néo falarmos em cidades mais “‘progressistas", que em rneados do sécalo XIX jf nascem ieccléssicas Q academismo surge de forma ‘esporidica ov fragmentécia, muitas ‘vere independente & Miss30 Artistca francesa, quando & cla nio amterios, apesar da precariedade das rotas de comércio, que iam e vinham entre 0 Rio de Janeiro e as pequenas tnidades produtivas mineiras, E incontestivel a forga de penetrasio ‘de modelos formsis 00 interise; exemplos se sucedem evidenciando inépcia da categorie “isolamento” como fator lin — constataco valida tanto para o tante de arte” séeolo XVIII como para o XIX. Neste, as leva imigratérias européias cchegam a0 sertio pelos caminhos dle ferro, Enguanto algumas cidades ingressam mais cedo na modernidede — Jie de Fora, Sio Joo del Rey —, ‘quttas mantémse 4 margem, especialmente agielas que néo sto pontos de ervzamento das ferrovias. Os edificios das estagtes, sem similar na teadisio arquitetBnice nacional, sio construidos seguado prot6tipos importados; com © trem de ferro circulam mais rapicamente “productos... hébitos idéxs... modifica-se 0 facies das cidades, O mestee obras portuguez cede 0 paso 20 construct italiano. Gencralize-se © emprees ~" do tijolo; nos. ceattos urbanos ji ‘fo se admittem a8 construcrées de pati’ pique, adobes ou taipa © 4 platibanda® i “Deitel” portuguez’"". [As Minas do século XIX eomptiem se de “um conglomerado” " de idades e arraiis isolados entre si, anténomos ¢ desigualmente préspetos regides cafeeitas e agropecaérias ligadas « pélos externos, regides de tecelagem ¢ metalurgia artesanais e sinda oatras com producio dle subsisténcia, Para muitas destas “Minas”, Ouro Preto, situada ‘em regido “pobre e decadente", & mera sede administrative A capital nos planos: ideologia fe localizacao A idéia da mudangs da capital de Minas Gertis remonta 4 Inconfidéncia 7 Fe terme € difuadide no Brasil como sionimo de dio; em geeal € decorate © tem # fnalidede de oculat 0 tlhe. no final do século XVIII; volta & tone vérias vezes nas sessGes da Assembléia Provincial, tomando oipo frente as tendBacias paratistas com © advento da eptiblica. Quro Preto revela-se Inadequads a0 desenvolvimento de ana grande metsSpole 3 aleura de m povo conacio de seus destinos”®. A manuteng¥o como eapital de ama cidade construida ao acaso, “‘presa entze montanhas sem hhorizontes, sem luz, sem espaga”", € inconcebivel para nova civilzagio moderna “Esta aproveita e explora a natureza para situar a Cidade, gue deve ser ampla e monumental, segundo a concepeio neocléssica de espago urbano. A nova cidade, sonkada pelos republicanos, tem “‘riscos modernos”, atestando a “vigorosa mentalidede dos novos empos” " e a “justa aspiragio progressista da gente montanhesa"¥ Enquanto na cidade tradicional observase a densiicacio andrquice de casas que se comprimem nos ladeiras, na cidacle proposte pela stica neoelissica a visio racional de espagos abertos determina ‘que as edificagdes se osdenem ta paisagem idealizada ‘A. preceupacio oficial & criar um centro unificadar tanto dos novos pos econdmices como des zonas ‘mineradoras desativadas. Os debates acittados sobre a localizagio da nova capital s30 nartadoe detalhadamente fos textos de época. ©. Congtesso Constituinte decreta a mudanca em 1891, mas no determina © local, objeto de estudos de uma ‘comissio técnica Tiderada pelo engenheiso Aari Reis. Em 1893, conclufdas as pesquisas sobre as localidades de Barbacena, Parana, Juiz de Fora, Vérzea do Marcal « Belo Horizonte, farse a opsio por ‘Varzea do Marcal, devido & topografia: vasta campina brandamente reclinada sobre os dous rios (...) ais belos de Minas (...) que formam um angulo de belssimas proporsdes para assento de uma grande cidade, offerecendo exzensa planuta (sem os detalhes de curvas € ondulagdes, que pudessem perturber a execuston de uma planta ideal” Além da topogralia, a fecilidade ‘de comunicagio é fandamental ut escolha, Arrual-subdrbio de Sto 1s demais Zonas da Provincia pela ‘estrada de ferro, Varzea do Marcal oferece ainda a vaotagem de conter com Areas desabitades, dispensando desapropriagses, onezosas i consteugio Mas, como costuima acontecer na Histéria do Brasil, oo estudos téenicos ¢ @ solugio mais barata so tejeitados; em sessio extraondindsia ‘onvoceda em Barbacena para fugit 4 resistencia ouropeetana, a escoths acaba sendo feita sob presses poltias trambias de faep6es. Hs ‘quem afirme " que os anti-mudancistas forgaram a opsio por Belo Horizonte, pois acreditevam ser “impreticdvel desapropriarse umn arial © construirse em sew Iygar usa cidade moderna” em tia poco tempo. A Iki de 17/12/1893 determina 2 tmidansa da capital pata Belo Horizonte, que passa a chamerse Gidede de Minas até 1901, quando ‘retoma a denominagio anterior Fabio Nunes Leal, em texto de 1894 faz uma apologia justificaiva da escolha pela situagdo panorfinica e condigdescliméticas e econémicas do pequeno armial: “a éten destinada a grande cidade apresenta-se como vasto ¢ clegante amphitheatro, cujo acesso esté voltado a0 Oriente ‘ajo ambito € formado pelas duas setras do Curral ¢ da Contagem” protegida dos ventes'e cortada por ribeirées © que, por “acaso feliz", localzase “no apice do cruzamento das duns mais extensas vias {éereas do Brasil — a Contra, que atzavessa 0 Bstado de Minas, de sol norte, a do Espirito Santo e Minas, que 0 corta de leste a oesté, em demanda do Teiingelo Mineiro, tergandosse as doas entre Sabaré Santa Lazia, nas proximidades dla nova Capital” Até 1890, Belo Horizonte, chamavase Curral d'EL Rey — rote dos bandeirantes no século XVEIT, ponto de encurtalamento e tributo do gado xindo do alto sertio. No século XIX, ‘onservase & margem da decadéncia ds mineraglo, gragas « atividades econémicas diversificadas: tecelagem «© pequenss fundieées de ferro bronze. Gurral @EI Rey mantém a fisionomia tipica dos demais arraisis rmineitos: casas baizas, “quase todas de construgio vulgar, com paredes de barro, adobe ou taipa (..) destacundose raras de estylo proptiamente colonial”; agora, todas condenadas a desaparecet, para dar lugar a “palacios, perques € avenidas (...) © tudo quanto péde constituir o orgulho de uma cidade moderna ¢ adeantada” ®, A Comissio Construtora © prazo para a inauguracio da Nova Capital de Minas € de quatro anos. Aardo Reis, responsivel pelos cestudos prefiminares do local, & convocado para dirigir uma comissio (que dé logo inicio As obras, Era fevereiro de 1894, contando injcilmente com 194 téenioos e funciondries, instalase em Carral EI Rey Comissio Construtora da Nova Capital, cuja organizagio de trabalho se disttibai por seis grandes divisdes de servigo: Administrasio Central, Contabilidade, Esctitério Técnico (Arquiteturs), Estado ¢ Preparo do Solo e Suhsolo, Viagio, Edificagio ¢ Hletricidade Ao projtar ito ‘] Bogenbeizo Chefe “procurcu cletar.0 -Lque hhavia de mais’ moderno nas Américas e no Velho. Mundo em matéria de arquitetura ¢ reuniu em Belo Horioate o que de melhor hava ‘ho Brasil cm téenicos dessa natateze”™, Tanto a formagio quinto a procedéncia. dette pi “elétcas”. José de Magalies, diretor de seccéo de Arquitenira, perambucano, estudou 0 atelié de P. J, Honoré Daumet em Paris. Seus piojetos para Belo Horizonte explicitam os principios da Baole de Beaux Arts © 0 conhecimento dos diferentes programas e sua tipologia arquiteténica, fundamental a formagio dos arquitetos do século XIX. José de Magalhies demonstra sua experiéncia aa dliversificagio de seus projets (veja ‘sstagdes), todos com “detales @ ‘ernamentagées”, conforme asinala a Revista Geral dos Trabalhos ‘da Comiss80 Conserators, A presenga de italianos, sespénsdveis por pinturas ¢ decoragdes (estuque) na arquitetura oficial e privada, mateante:'Luis Olivier, um dos arquitetos mais solicitados, formowse ein Florenga; assina projetos desde 1898, especialmente de tesidéncias, até a década de 20 inclusive, destacandose « EFCB,, termineda em 1922. jo da _ Era também pintor e eseultor “especializado em estatuetas fixando tipos populares de Belo Horizonte,”” B > bom lembrar que 0 profissional, sna época, nfo rato apresentava uma formagio completa, sendo, além de arquiteto, escultor ¢ pintog. Joéo _ Morandi, conecido como escaltor de bustes ¢ medelagens ormamentais, cstuclou Belas Artes na Sufga e em Clermont Ferrand aa Franca, tendo trubalhado na Argentina antes de sc mudar para 2 nova capital mineira, Destacamos ainda entre tantos, 0 desenhista Edgar Nasceates Coelho, que fazia as pranchas dos projetas de José de Magalhies, além de assinar outros de sna autoria, A convite da Comissfo Construtora, velo do Rio de Janeiro, em 1896, Frederico Antonio Steckel com ‘uma equipe de artistas nacionais e cestrangeitos, pata executar pintaras decorages em estuque-cartio nos tetos e paredes, nfo 66 dos edificios pablicos, coma de diversas estas fem construglo para funciondrios sgraduados na nova Capital, Desapropriagées A documentagio oficial no consegue fesconder que « desapropriacio das casas © 0 consegiiente desterro dos hoabitantes para dar lugar aos funcionatios nacionais e extrangeitos ‘que chegam, constitui © mais pesado cncargo da Comisso Construtora. Aatio Reis, em carce-relarérid"de"1895, fala das | dificuldades e atritas na ‘“desepropriagio de mais de 400 propriedades”, a maior parte “‘edificada e cultivada”, reconhecendo ,sfligio das pessoas “forsadas a emigrar em curto espago de tempo, abandonando seus lares, plantagdes e habitos de Jonge data”™, Afirmase que apenas sete ou oito desapropriagées foram feitas judicialmente por se tratar de bens de Grétos e interditos e que as demais realizaram-se “amigavelmente”, recebendo os proprictitios parte em dinheiro e parte em lotes na nova copital; ...“‘milhares de pessoas abruptamente encheram 0 atraial", demolindo “tudo que lhes apontasse © chefe, fosse uma tapera ou um templo, conscientes de que estavam assentendo 0 alicerce do progresso.. © orgulhosoe por isto” (0) fol uma cena triste 0 Gxodo dos habitantes, # maior parte snudando-se para as citcunjacéncias o arraial e outros para outras texras”™, processo que se instal € fenémeno bem conhecido: 2 paisagem se transforma com @ destmuigio das aantigas estruturas rurais, primeire Passo para a organizagio capialista urbana que planeja moradias setorizadas; sequese a cuptura da ligacao fisica entre 0 Babitat ¢ 0 trabalho, pela demarcseéa funcional das ecdificages no projeto de cidade nova. © projeto: imagem da cidade ideal A opeio por Curral d’El Rey prejudica desde 0 inicio a execugio do projeto € 0 crescimento furuto da nova capital, dada a topografia: uma planicie onduleda pouco extensa, espraiade 20 pé de serzis. A planta idealiada em 1898 por ‘Aario Reis ¢ Américo Macedo para uma cidade de 30.000 habitants, com a previsio exagetada para 200.000 no século XXI, nfo deixa de ter uma oriensagio modetnizante ce ampla para a época, pois contavase com ume superticie superior a 1,900 beeeates, cot 100 metros por habitante. Yves Brvand reconheoe dois modelos urbanites 4, BA sua eoncepeio:_o ta “T _xadrez vem da tradigio americana as perypectivas das vias de ireulagio ¢ « moaumentalidade dos ‘spagos provéem da teadigio necelissica européia © sobretudo do modelo haussmanaiano’ Ao trgado ageométrio das ruas em 90° sobrepBese um sistema de avenidas espagadas que as cortam em z ingulos de 45° — dispostas de modo a permitir o aproveitamento de “perspectivas e vsSes panorimicat dos horizntes”, conforme “os sspectos Fuminosos das alvoradas © dos poentss”®, Nos eruzamentos situarese ~ pracas, de dimensées ¢ formas dlfcrentes, “dando larguera para © feito arquitenico dos edificios pblicos, verdadeitos paléios caplendidamente situados” As colocagées de Loyer™ sobre a broposta neodéssiea urbanistica vém ao __sncontro da planta de Belo Horizonte, ou.qualquer outs cidade, fsita oa refeita segundo este modelo: planificagdo da paisagem, prevendo espacos hierarquicamente definidos © otclenagio arquiteténica cde obras bem situadas; adequagio do aspecto funcional dos monumentos péblicas, dispostos a partir de um centro politico e ‘monumental; proporgies dos ‘quarteirses © das grandes vias de comunicasio, articuladas com vastas cexplanadas e pargues de lazer. Este projeto, ideal, revela-se, na pritica, inedaptado ao sitio — so ‘oportunas as critices de Sylv de Vasconcellos: “o mal geral, desde 0 inicio, prendew-ie & confuse cstabclecida entre desenho arquitetura... 9 nosso urbanismo de ‘bem tracadas’ russ, tio decantade por quem 0 examine por alto € (...) chavdo similar a ‘tradicional prudéacia mine Unbanismo “tena seus mézitos 1a de planejamento, considerando-se os recutsas da época, nio resiste hoje a um exame mais enho sim, & uma uas Tuas normals, suas avenidas diagonais, seu sadrez perfeito, Adaptado, porém, 2 topografia do ugar, notamos logo a poxea felicidade de sua composicéo. Copiando Mar del Plata, Washington ) eToutras cidades planss, tentou-te aqui em terreno montanhoso orga as mesmes solugSes ¢, em consegiiéncia, vieram as muss espigio ‘cima, ruas em cortes profundos, ‘Tuas inteiramente divorciades 5 roas de nivel e até mesmo ruas com “escedinhas” por itmposiséo do tetteno ou, como continus Syl “talvez por saudades de Ouro Preto”®. Quem ands peles suas ¢ sobe a8 ladeiras de Belo Horizonte sente a evidéncia desta critica; 4 topogratia montanhosa nos dé sinda 2 sensacio do azul e a expectativa do mar, explicitas nos versos de Joao do Rio: “o azul nio esté a0 cu, Mf no alto. .. esta nas prages, est nas ruas, ondula nos montes, escorre das rvores, cerca as pessoas... atravessando as avenidas cnormes, e cada rua transversal, paramos aténitos. Quer de um lado, quer de outro, essas ruas devem cair no oceano"”, Q.erescimento desmesuredo de cidade, especialmente apés 1935, cextrepola 0 projeto inicial. Nos anos 40, a rea planejada restringe-se ao centro comercial ¢ administrativo, derradeiro recorte agonizante do plano idealizado por Aatio Reis, © zoneamento & a ocupacio do solo urbano: eriticas © projeto da nova capieal estrutura + 4 cidade em trés setoree: wsbano, com 8.815.382 m?, ssburbano, com 24.930.803 me rural, coma 17.474.612 m*, No primeitoinstalase o,centro administrative, comercial 0s baits residenciais, com 48 ruas 6 avenidas mais lasgas, limitadas por uma avenida de contorno. A rea destinada aos armbaldes, com russ mais estietas, as chicaras, quinus e stios aborizedos. Na perifera pretende-se 4 instalagio de diversos nicleos de colbnias agricclas (em geral ‘cupid por estrangeires) para 0 suprimento da subsistencia coletva Essa proposta espacial recebe exiticas fem trabalhos realizados nos anos m1 | 70 pelo Plambel®, no que se refere & rigida esttatificacio fisica e social implicitas, bem como cmissio de assentamentos residencais ‘para « populacio de baixa renda, O “cariter preferencial” nos lildes, { doagio e venda de lotes da zona o'gutbana, permite, desde 0 infio, a | Geoncentragio da propriedade privada fem mios de grupos restrtos: IS fancionétios pilose exproptietétios sm Outo Preto, que ganharem wm Tote, po a presos baixos outro contiguo_ 20. seu Os quarteitdes do setor urbano, quadrados eegulares de 120m de lado, divididos em lotes de “frente exigua” (10m) e “grande profundidade” (50 m) acabam ao diferindo dos da velha capital: “em Ouro Preto, as cscarpas mal davam lugar as construgies (...) 08 sobradinhos se amontoavam uns sobre 0s outros nas cstreitas faixas marginais das roas"; a critica de Sylvio de Vasconcelles rio perdea a admissio dos resmos lotes para as “vastas freas de Belo Horizonte”®™. dimensses do terreno impoem, em certos baievos, uma arguicetura residencial padronizada ¢ comprimida: 0 afastamento de apenas tes sietros da rua para a colacagso das casas condena a planta @ desenvolver-se em profundidade, dispondo-se duas pegas lateralmente, dado 0 espaco de apenas sete smetzes para a fachada; 2 insolagio também fica prejudicada com 0 afastamento de metro e meio de cada lado. A opeio de se adquitir © terreno ao lado possibilta ume varanda ¢ jardim lateral, modificando as 12 fachadas, conforme se observa no ivem “cases-tipo” deste capitulo ‘As casas “agarradas is rus, deixam $azios © ahandonados os grandes ‘guineas de fundo”. Sslvio de Vasconcelos observa, ainda em 1947 {gue estas dreas pesdidas nos miolos das quadras poderiam ter sido transformadas cm pragas€ play-grounds internat, reservados 40 uso dos residentes dessas mestnas quadres, “se ago fosse outra terra onde a solidaiedade humana tendesse +20 cooperstivismo” ® ‘A fea suburbana tem quarteitdes de

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