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POESIA E MAGIA José Fernandes’ RESUMO Este estudo visa a mostrar, mediante a andlise de componentes esotéricos ligados Acabala ¢ A mandala, como a estrutura de poemas visuais gregos ¢ de talismas hebraicos, mesmo criados com intengées religiosas, voltadas para a magia, seguem um engenho proprio do texto pottico. Ao debrucarmo-nos sobre os poemas visuais da antiguidade, defrontamo-nos, de imediato, com alguns obstéculos, mormente de ordem hermenéu- tica, derivados da associacao intrinseca da arte, méxime a moldura poética das imagens, com a mitologia que permeava a estética e a filosofia da maioria dos povos antigos, Atendo-nos, neste artigo, a produgées grega e hebraica, vamos observar que eles viam os fenémenos naturais ¢ a criagdo artistica como fruto da participagdo das divindades, porque, para cles, a mente se sobrepunha a matéria. Como conseqiiéncia, © texto artistico era resultante de um misto de razio ¢ de magia. Dissocié-las é impossivel, uma vez que as crengas mégicas (...) foram revestidas pelos fildsofos com as belas roupagens da razdo.' A estas dificuldades, acrescem-se as imbricagdes culturais, obrigando-nos a caminhar nos labirintos de simbolos ¢ de mitologias que, muitas vezes, tornam 0 acesso aos significados quase impossivel, a ponto de Ana Hatherly acentuar que: Se a origem da maior parte da poesia figurada européia & hoje atribuida sem hesitagdo a tradi¢do grega alexandrina, que esté ligada ao hermetismo greco-romano e ao neo-platonismo, a origem dos anagramas e doutras composigées de cardter combinatério, derivando também em parte a tradicdo grega (por via pitagorica), esd porém muito mais intimamente ligada ao cabalismo hebraico, que se desenvolveu a partir de uma época aproximadamente contempordnea do hermetismo helenistico®. A conjungéo das culturas, em conseqiiéncia, vai contribuir * Professor Titular de Literatura Brasileira da UFG. Doutor em Literatura Brasileira e membro da Academia Goiana de Letras. 1 - SELIGMANN, K. (1979). p. 67 2 HATHERLY, A. (1983), p. 17. Signdtica 4: 47-60, jan /dez. 1992 sobejamente para que o poema, que em si jé visa criacdo de um enigma, venha a se tornar ainda mais hermético. Se considerarmos, ainda, que, afora 0 acoplamento de culturas antigas, aderem-se também razées idcolégicas que obrigam a se recorrer a procedimentos capazes de encobrir enigmas interditos ao poder, o hermetismo se envereda por diregdes ainda mais impenetraveis ao entendimento comum do hermeneuta. 1 - SOB O SIGNO DE HERMES. Hermetismo, nao obstante parecer uma contradigéo, provém de Hermes, o deus que imaginou a palavra, o mensageiro. De certa maneira, 0 pocma Ovo (300 a.C.), de Simias de Rodes, constitui uma apologia aquele que teceu o discurso, a nova trama de uma mde gorjeante. Como 0 poema visa a mostrar, ou a esconder, as artimanhas da prépria construcdo, 0 poeta ndo podia deixar de erigi-lo sob o signo de Hermes. Se atentarmos para 0 primeiro verso, formado pela palavra Kwrtihog (Kotilas)’, perecbemos Hermes a enredar as palavras, porque charlatdo ¢ tagarela traduzem bem o cardter falseador, astuto, do mensageiro dos deuses. Sob esta perspectiva, a nova trama ou 0 novo tecido (Gxprov véov ), construido(a) por uma mde gorjeante (uoxpc Aiyeut), nada mais € que o proprio texto, distribuido aos homens pelo tonitroante Hermes (2pifoos Epyas). Ora, Hermes, conforme postulagées de Sécrates-Platao, se confunde com o proprio discurso em sua totalidade signica ¢ significativa: os caracteres de intérprete (hermeneus), de mensageiro, de ladrdo astuto, de falseador de palavras e habil comerciante supdem todos uma atividade que se reduz as palavras e ao poder do discurso. Conquanto parecer clara a atividade extorsiva de Hermes, a0 arrebatar © discurso de sua querida mde (pthog worrpds) € lancé-lo no meio das tribos dos homens, 0 texto revela, @ primeira vista, toda sua asticia de falsear ¢ de tecer palavras. O poeta 4 sua semelhanga, camufla os signos ao claborar um pocma simultancista, de tal forma que tenhamos a seqiiéncia a partir da primeira ¢ da dltima linha até a medida de dez, ou seja, até chegar aos dois versos mais extensos, que correspondem ao décimo de cima para baixo ¢ de baixo para cima, Temos, assim, um discurso hermético in se, porque se fecha como que formando dois tridngulos. ‘Nao se trata apenas de um hermetismo semintico, mas, sobretudo, de um fechamento 3 - A tradugao do vocdbulo nao figura na versao inglesa da revista Art News Annual, de onde retiramos ‘© poema. Como a tradugao portuguesa procurou seguila, quase a0 pé da letra, 0 vocabulo ficou sactificado. Todavia, para a andlise é ele fundamental. 4 - PLATON. (1979), p. 527. 48 FERNANDES, José. Pocsia ¢ magia semiético, porquanto € 0 poema erigido de fora para dentro, compondo um objeto- signo todo significativo: Wh yap Lyris oe UpBdas epee Meats nape Agee evepd bee slpave: ” eM De pitpae mereBlnaess bye wp Raw Nixpeer plows voip wal Bpeis wah! Ads eur bpecedbor dadper vin ly Kaper Uperas roel Abpue war Ap tpban Laver ihre Menet Apglnnds: Dkr Ohp de adawy Beldueree dade pexendey sheet Bae: eda Aneto Kgep Ader nigebbher Met piue fase aye Dy delnew Bardo esl wektwhead jetlen glepa pedi Hepa nerphaesier dadinbe Space! ebrde, parphe eda perdy paidjar sd Badlor Irate daoe Brazel B afer wehcby an A bpdue raphe WBaw varvegipes In be hepa toupee FALE Aebpbey wey pines parphe pier! alfa wef bncpierte pai be fare Ob ve raleder Mueplter porddivase asthe Apbpbe ale AV iyeler abner vlport® prtnae Goh otha Dae wr apeisn carpe Rbyead pur ad Ups parpun ale awplay Aqhinee ae ap. 5 - SIMIAS, R. In BOULTENHOUSE, C. (1959), p. 67. Eis aqui uma nova trama de uma mie gorjeante, um rouxinol dérico; recebe-a com um animo verdadeiramente bom; pois imaculada era a mae cuja dor pungente teceu-a. O tonitroante Hermes, 0 arauto dos deuses, arrebatou-a de debaixo das asas de sua querida mae ¢ lancou-a no meio das tribos dos homens ¢ mandou-a multiplicar-se mais € mais; aquele niimero conservando 0 tempo adequado da ordem dos ritmos ~ desde a medida de um pé até as medidas completas de dez: ¢ logo fertilizou Ié de cima a encosta inesperadamente inclinada de seus pés errantes, atingindo, @ medida que avancava, nao sé um estilo verdadeiramente colorido, mas também um grito adequadamente harmonioso das Musas Piérides, ¢ trocando de membros com os cervos dgeis os rebentos velozes dos veadas de pés agitados. Agora esses cervos, através de um descjo imortal de sua querida mée, correm velozmente para as tetas amadas, todas passando com os pés apressados sobre o cimo dos montes na trilha daquela afével guardid, ¢ com um balido eles vio pelas pastagens da montanka das mil ovethas nutrizes e pelas grutas das Ninfas de tornozelos delgados, até que de repente alguma besta de coragao cruel, recebendo seu grito ecoante no redil de sua toca, langa-se velozmente do leito de seu covil rochoso na intencao de pegar um dos rebentos vagantes daquela mae mathada, ¢ enido Prontamente seguindo 0 som de seu grito, chispa através do vale desgrenhado das montanhas vestidas de neve. De pés tao ligeiros quanto as deles exigiu aquele célebre Deus 0 trabalho, enquanto acelerava as medidas miltiplas da cancao. Signética 4: 47-60, jan./dez. 1992 49 As medidas dos pés, antes de figurarem como componentes esotéricos, revelam a afirmagao de uma postura filoséfica que vé nos nimeros a constituigao do proprio universo. Se 0 universo € uma combinagdo de nimeros*, um poema tecido segundo a astticia de Hermes € que deve ser modelo para os deuses- poetas, também deve pautar pela medida. Sob este prisma, a progressdo dos pés até a medida completa de dez nio configura um capricho da técnica grega de escansio, mas obedece a um principio que rege, inclusive, a harmonia do universo. As duas diregdes, ascendente ¢ descendente, partem da unidade simples para a unidade composta ¢ vice-versa. A presenga do niimero 1 nas duas extremidades, caminhando para a unidade complexa representa, usando palavras de René Allendy, 0 ponto de Ppartida, agente dindmico que caminha para uma estado estético que exprime 0 equilibrio realizado na unidade’. Ora, na concepgio grega de estética, este equilfbrio nada mais € que a simetria, a aproximagao das artes com as matemiticas, como propusera Arist6teles: Com efeito, as formas mais estimadas do belo sao a ordem, @ simetria e a limitagdo, coisas que ddo a conhecer em alto grau as ciéncias matemdticas®. Mesmo que esta ordem se multiplique, através dos pés dos cervos dgeis, € imperioso que a unidade seja mantida, porque € ela a consciéncia do logos, ou seja, do discurso-tecido sendo. Quando 0 movimento passa dos pés de Hermes para os pés dos cervos, observamos a passagem do uno para o miiltiplo, uma vez que o tecido sai da Grbita dos deuses ¢ dos homens e se tansfere para a 6rbita dos animais e dos objetos. Eo momento em que as coisas saem do caos da inominagao e se langam na existéncia, porque essencialmente determinadas pelo nome. Neste contexto, a seqiiéncia numérica fechada no dendrio configura o eterno retorno a unidade, a mae (uorrepos) € reflete bem a circularidade do poema, indo e voltando sobre si mesmo. Como os tecidos do discurso, a volta implica sempre passagens pelas encostas inclinadas dos pés errantes, ou seja, pelo habil falseador de palavras e forjador de nova trama. O ir-e-vir dos ntimeros da unidade a unidade representa a incomum capacidade de renovagio da palavra, uma vez que o denério nao somente € um niimero perfeito, pois constitui o total dos quatro primeiros algarismos, mas, maxime porque € ele um némero circular. Seguindo esta interpretacao, nado € sem razdo que a palavra anfipalton (GugiaaA tov), langado ao redor, se encontra exatamente no décimo verso descendente, como a confirmar a circularidade do numero e do poema. Ao permitir que a palavra, trama (otpov) se multiplique até dez, ou seja, até o uno ¢ o milltiplo, fica claro o sentido de totalidade, consubstancia- do pela incrente perfeigio do denério, resultante da soma dos quatro primeiros 6 - ARISTOTELES. (1973), p. 917. 7 - ALLENDY, R. (1984), p. 288 8 - ARISTOTELES. (1973), . 1065 50 FERNANDES, José. Poesia e magia algarismos, 1 + 2 + 3 + 4 = 10. Nao nos esquecendo de que este pocma encerra postulagées da filosofia grega, confirmadas pela agao de Hermes, o deus da revelagio, © spiritus vitae’, ou seja, da criagdo, vamos verificar que, para os pitagéricos, o dendrio € a propria criagdo. Se tudo dela deriva, tudo a ela retorna. Ela materializa, em conseqiéncia, a totalidade do movimento, isto é, da vida. Entanto, a circularidade, para o pocta, nio € um componente abstrato, encerrado no simbolismo do mimero. © comparecimento da dezena em ambas as diregdes, a partir da unidade, simplesmente sela a conformagao do pocma que, a um sé tempo, 6 circulo, ovo e triangulos. Se 0 denirio incorpora 0 simbolismo de renovagio ¢ de renascimento, o mesmo podemos dizer do circulo € do ovo. A conformagao circular, também ligada 4 unidade e a perfeigao, aliada a circunstancia de os dois dendrios encontrarem-se no centro do poema, ratifica a nogdo de simetria, de renovagao segundo as pegadas de Hermes, isto &, dentro do movimento dos circulos concéntri- cos, da unidade dentro da multiplicidade. Ao mesmo tempo, a forma ovular, além de ratificar a postura de Hermes como origem do discurso, conjugada ao circulo, corrobora a trama ¢ a palavra como formas primordiais, porque materializages do ovo do mundo, ou da arte da palavra. Fechado em si € por si, isto é, de fora para dentro e de dentro para fora, € cle a imagem do discurso po¢tico, composto de signos ¢ de simbolos que se mostram e se escondem. Partindo da unidade para a dezena, € cle o germe que se deposita no interior da mde imaculada (Geyuttc uatpas), a fim de aprisionar ¢ de tecer a trama, a palavra primordial. A configuracao ovular do poema cleva-o a condigao de pocma- ‘objeto ¢ de poema-coisa; nao no sentido empregado por Charles Boultenbouse, em que 0 objeto ndo exerce as fungées de significante ¢ de significado, mas um objeto que, aliado as palavras, expressa a propria esséncia do texto: a palavra ¢ a linguagem sendo e acontecendo. Sob este prisma, 0 ovo, expresso simbélica da realidade primordial, contém semias de multiplicagao dos seres ¢ das palavras, consoante a ordem de Hermes. Além disso, se na alquimia, conforme postula J. van Lennep, € ele o nécleo do universo, encerrando em sua casca os elementos vitais, assim como 0 vaso hermeticamente fechado, 0 composto da obra"®, a conformacao do poema, afora ratificar 0 significado de hermético que o domina pela prépria construtura, constitui ele 0 recipiente que conserva ¢ que gera as palavras € 0 tecido do discurso desde a sua mais remota origem. Ao materializar o recipiente ¢ a semente da palavra, a nova trama, 0 ovo, abriga a inteireza do discurso ¢ dos seres, em esséncia, porque a totalidade dos entes percebeu identidade através da linguagem. A integridade do tecido € que confere beleza ao discurso. Ao parecer um ser incompleto, afirma 9 - Cf. JUNG, C. G. (1943), p. 148. 10 - LENNEP. J. V. (1966), p. 19. Sign6tica 4: 47-60, jan./dez. 1992 SI Platao, 0 mundo nao poderia ser belo''. Ora, a beleza do poema reside na capacidade de, mediante a arte de nominar ¢ de multiplicar a criagéo na ¢ pela palavra, conter a totalidade dos seres, de tal maneira que tenhamos um todo sem que as partes padecam qualquer ameaga a sua constituigao fisica ¢ ontolégic: Como o poema é a palavra acontecendo no tempo € no texto, desde as origens, tanto pelas maos dos deuses, quanto pelas dos homens, é imperioso registrar que sua forma ovular, expresso do eterno fazer do discurso, alia-se também a forma triangular. Forma que se estende a todas as direcdes, como a confirmar 0 ideal estético de simetria ¢, mormente, a proporgdo e a harmonia, intrinsecas ao simbolismo do tridngulo ¢ @ reconstrugao do universo através da arte. © poema assim configurado constitui uma sintese do universo, porquanto abriga todas as possibilidades da linguagem no transcurso do tempo. Cada vez que 0 homem-poeta, assemelhando-se aos deuses, acelera as miltiplas medidas da canga © universo € recriado, sobretudo se considerarmos, com Platéo, que ao tridngulo correspondem 0s quatro elementos que 0 compéem. Significativamente, a superficie deste poema corresponde aquela descrita como equivalente a superficie terrestre™, estabelecendo estrcita relagao entre a mae que gera todos os seres, a Terra, ¢ aqucla que concebe as palavras. Passando a outros simbolos que patenteiam a interagao semidtica-semantica do texto, verificamos tanto o perfeito imbricamento dos componentes signicos ¢ lingiiisticos, quanto a propagagao de novas semias que confirmam sua riqueza estética ¢ filosGfica, Assim, a reiterago do vocdbulo pé, no sentido fisico, afecto ao homem e aos animais e, no aplicado 4 méwica, vem demonstrar a incrivel correlagdo dos signos dos simbolos, porquanto pé alia-se as diregdes ¢ aos mundos que compéem o universo. Ora, como a superficie do pocma representa um tecido de palavras, que interliga as pontas do tempo, mediante a recriacdo dos objetos na e pela linguagem, o pé confirma a permanéncia de Hermes na criagdo, através da palavra, uma vez que ele se retira e nao se retira do poema- palavra, agindo e sendo linguagem que (des)vela os seres na tessitura do universo € do discurso, porquanto os pés contém as energias da palavra e encerram o segredo do Nome". O que € 0 segredo do nome, senao a esséncia do objeto nomeado, sendo © langar-se na existéncia? Nao nos esquecendo de que a ordem de Hermes - mandou-a multiplicar-se mais e mais - associada as medidas ¢ aos pés errantes que descem pelas encostas do poema, da palavra e de toda a criagio prefigura toda a extensio do criado, conseqiiéncia de o pé sintetizar a totalidade do corpo. Se os pés marcam 11 - PLATON. (1979), p. 1135 12 - Cf. PLATON. (1979), p. 1152. 13 - SOUZENELLE, A. (1984), p. 67 32 FERNANDES, José. Poesia ¢ magia o ritmo ¢ as energias do corpo, nada mais significative que eles se multipliquem ao longo do poema, harmonizando-se com 0 miiltiplo ¢ variado canto das Piérias (tow ROVoa OA OV Tuepdov Kovodouroy MoyaLoroy xtepidoy). Os pés ¢ a harmonia sdo 0 ovo sendo, ou seja, a forga de realizacao do germe a maturidade da palavra, a capacidade de a palavra extrait 0 objeto do nada que antecede o nome ¢ enredé-lo nas malhas do discurso, conferindo-lhe esséncia e confirmando-lhe a existéncia. A fertilizagdo que Hermes proporciona a tessitura da nova trama € total e completa, porque, provinda do alto, desce pelas encostas do poema que, em decorréncia de sua conformacio elipsdide, é atingido pelo poder da palavra em toda a sua inteireza. Se nado bastasse a constituigao fisico-visual do poema, toda a construtura se apéia em elementos afectos 4 fecundidade. Além de constituir 0 germe de que a vida-palavra se desenvolve, uma vez que nenhum objeto é dotado de consisténcia. ontolégica sem prescindir da palavra, sobressacm, ainda, outros componentes cristalizados pela cultura, como simbolos de fecundidade. Dentre eles, © cervo (€opov), ao ligar-se as semias de renascimento, marcado por um ritmo que assinala 0 eterno fluir das coisas, consolida o papel impresso & nova trama, isto é, multiplicar a criagdo por intermédio da harmonia e do ritmo das palavras. Se o cervo procede & fecundacdo da linguagem, a ovelha (Gyvas) gera, concebe ¢ conserva a palavra nas grutas das Ninfas de tornozelos delgados. Conscrvar a palavra sob a protecao Ninfas € possibilitar-Ihe constante atualidade; no outro universo das ninfas-palavras 0 cnvelhecimento nao implica a supressao da beleza nem a perda das semias originais. Ademais, a ovelha condensa a simbologia de multiplicagdo e de vitima, na medida em que as palavras, com 0 transcurso do tempo, se renovam e se substituem, sem, no entanto, perderem a forca arquetipica do logos. Observamos, por este pocma, que j4 hé 300 anos antes de Cristo, 0 pocta procurava, mediante 0 consércio da palavra ¢ dos signos nao verbais, a condensacao de um linguagem plena. A participacao de simbolos matematicos ¢ esotéricos, em termos artisticos ¢ até religiosos, nao constitui um capricho de poeta, mas uma imposicao do texto estético, objetivando a consecugdo de uma linguagem absoluta ¢ integral, capaz de se aproximar da poténcia e do ato criador dos deuses. 2 - ARTE OU PENTACULO? A claboragio do poema visual, grosso modo, nao constitui um jogo aleatério em que as pecas se encaixam segundo as leis do acaso, Segue ela um ordenamento pautado por principios filos6ficos que propiciam a instauragdo do belo ou, em terminologia mais atual, a instalagdo da literariedade. As normas filos6ficas seguem-se preceitos fundados na cabala, como a gematria que consiste em aproximar duas palavras que tém o mesmo valor numeral; 0 notarikon, construgio de palavra nova com as iniciais ou as iiltimas letras das diversas de uma frase, © SignStica 4: 47-60, jan./dez. 1992 33 a temura, que se caracteriza pela substituigdo de uma letra ou de wma palavra por outra, de acordo com combinagdes alfabéticas chamadas tsirufim'*, Como resultado, os textos se tornavam essencialmente herméticos, porquanto a leitura implica conhecimentos metalingiifsticos (além da linguagem). Os poemas, em decorréncia, se convertiam em enigmas. Durante a Idade Média ¢ mesmo no final da Antiga, os textos visuais, carregados de simbolismos cabalisticos ¢ mandalicos, transformaram-se em objetos dotados de faculdades capazes de atrair forcas superiores benéficas ou maléficas, consoante a destinagdo a que se determinavam. A arte colocava-se a servigo da magia. E evidente que o caréter magico nao elimina o engenho que norteou a estruturacao do discurso, possibilitando o aprimoramento dos princfpios estéticos inerentes a feitura do pocma. Mesmo que, em tese, 0 texto visasse ao exercicio e a pritica da magia, a sua esséncia, ou seja, a conformagio visual, a disposigao das palavras segundo célculos geométricos ¢ a conseqiiente arquitetura numérica dos vocébulos ¢ da totalidade do texto, transformaram-no em discurso altamente estético € poético. Poético no sentido das produgcs visuais, porquanto € a palavra explorada desde a esséncia, em todas as potencialidades semioldgicas © seminticas. A arquitetura de um texto esotérico consoante com os cénones da cabala chega, inclusive, a dispensar 0 consércio da palavra que, as vezes se converte em mero acess6rio, uma vez que uma letra, com seu correspondente numérico, pode incorporar ¢ desprender semias proprias. A magia ¢ a arte, nestas circunstincias, residem exatamente em uma construtura em que a simetria ¢ 0 sentido esotérico se interdependem, porque enigma, mistério ¢ estética se coproduzem. Uma amostra palpavel da unifo da arte com a magia é a palavra-pocma abracadabra, que, segundo Jean Rivitre, vem do hebreu abreg ad habra (N771 N7IN), que significa: envia seu raio (fogo) até a morte’. O significado, se concordarmos com Chevalier e Gheerbrant que a palavra-tridngulo visa.a atrair as energias positivas do altos'® afigura-se-nos perfeito, porquanto raio ¢ fogo materializam o poder infinito da Divindade. A forma triangular, voltada para baixo, ao simbolizar 0 proprio homem e¢ o recipicnte afunilado por que descem as potestades celestes, sugere que todas as forgas devem dirigir-se ao homem e por ele passar. Se a cmbocadura do tridngulo visualiza 0 objeto que capta as energias, o seu simbolismo, como um todo, 0 confunde com 0 Supremo, que se manifesta nos elementos criados que estio em baixo. Deus é um 14 - ALEXANDRIEN, (1983), p. 81 15 - RIVIERE, J. (1974), p. $4. 16 - Cf. CHEVALIER, J. & GHEERBRANT, A. (1988), 4 FERNANDES, José. Poesia ¢ magia tridngulo em chamas que incendeia e fecunda, com seus raios, 0 homem que 0 invoca: TIATIAR1TIR JTTIRTIR T1TARTIR TIN TIR IRNTIR R1TIRX TIAR IR x A inversao do triéngulo, se considerarmos a sua conformagao c6nica, se enquandra perfeitamente com a concepgao religiosa medieval, que via nas relagées do homem com Deus posturas de integral dependéncia. Ora, se o cone ascendente se correlaciona com a evolugio da matéria em diregao ao espirito, 0 descendente, ao atrair, de forma turbilhonante, os raios flamejantes da Divindade, patenteia as limitag6es ¢ a eterna subordinagdo do homem ao criador, necessitando, em decorréncia, de constante segura protegdo. O homem ascende a Deus somente por intermédio dos triangulos de aleph (X). Para isso, necessita empreender uma viagem que compreende etapas Arduas, até retornar 4 unidade, ou seja, ao aleph inicial, sobretudo se verificarmos que, cnquanto 0 angulo ascendente se encontra mais na posigao horizontal, o descendente se posiciona verticalmente, como a mostrar que, a despeito de se justaporem, permanece uma insuperavel distancia entre eles. Tendo o texto uma configuragéo triangular, é légico que ele incorpore as semias inerentes aos predicados semiolégicos que Ihe sao intrinsecos. Entanto, como todas os seus componentes so regidos por preceitos cabalisticos, nao somente a ternariedade do triangulo respons4vel pela produgao de significados; também os atributos do ternério participam da estruturagao do poema-talisma. Assim, observamos, de imediato, que, na formacao da palavra que se dissolve a0 longo do texto, o ternério age de forma intensa. Primeiramente, porque cada letra se apresenta és vezes na extensdo do vocdbulo, sendo que o aleph (X), a letra primordial, lendo da direita para a esquerda, 0 abre, 0 medeia ¢ 0 fecha. Como 0 ternério € 0 nimero da aco, o aleph (X) triplicado, sendo uma Ictra sagrada, imagem do proprio Deus", seria a agio de Deus na totalidade de seus raios exercitando e praticando as potencialidades do bem sobre os homens. A repetigao ternéria das letras aleph (X), bet G1) € res (1) permite-Ihes reduplicar a trindade a partir da unidade, aleph (8). Se 17 - Cf, SOUZENELLE, A. (1987) ¢ SKARIATINE, M. V. (1968) Signética 4: 47-60, jan./dez. 1992 5S a palavra-texto, além da invocagio & Divindade, visa a atrair os raios que dela emanam, o terndrio, sendo um nimero dindmico, traduz a ado de aleph (X) sobre as demais letras. Nao € por acaso que ela se repete em toda a extensao dircita do poema, visualizando a descensao da unidade até 0 miltiplo, ou seja, de Deus as criaturas. Nao se trata de uma descensao que Ihe va diminuir a unidade; ao contrario, vai confirmé-la, porquanto 0 uno nao o € sem a existéncia do miltiplo. Ademais, a reiteracao eneddica de aleph () eleva-o da unidade & pluralidade, mas uma multiplicidade que Ihe devolve a unidade, Sabiamente, a conformacao do poema- talisma a introduz na ternariedade, a eleva a terceira poténcia, materializando a ternariedade do tringulo ¢, ao mesmo tempo, fi-la dobrar-se sobre sim mesma. Ser trés, scis ou nove, sem deixar de ser um, € uma necessidade metafisica de aleph (X) € do préprio texto, uma vez que os raios do terndrio chegam 4 totalidade dos homens através do uno. Além disso, aleph (X), aliado ao um, letra € némero masculinos, vio corporalizar os significados ocultos do poema-triingulo, uma vez que aleph (X) e um, conforme postula Annick de Souzenelle, simbolizam a forca divina penetrante que experimentamos em seu ato criador d medida que descobrimos o nascimento das diferentes letras" ¢, no caso, & medida que scus raios se expandem sobre aqueles que invocam a agio da flama celeste. Sendo aleph (X) a fonte divina que fecunda as demais letras para novamente Ihes insuflar a unidade"’, nada mais légico que cla se repetisse nove vezes ao longo da linha direita do poema tridngulo. Primeiro, 0 novendrio ¢ inegavelmente o némero apropriado para ratificar as semias referentes 3 fonte de que se desprendem os raios que descem aos homens, pois os miiltiplos de nove sao sempre compostos de nimeros cuja soma é igual a nove”. Significa que, por mais que aleph (X) se pluralize ao longo do texto, em momento algum a unidade se vé ameagada, porquanto nove, aleph (X) € um so, no fundo, a mesma ménada que emite os raios em diregao ao miltiplo. Além disso, se Deus € aleph (X) € tau (TI), primeira e Gltima letra do alfabeto hebraico, nada mais evidente que tivéssemos 0 primeiro e 0 Gltimo némero simples, para deixar claro que, dentro da mentalidade medieval, suplica-se aquele que € o principio o fim de todo 0 criado, quer sob a Stica do logos (AdAos), quer sob a ordem dos niimeros, porquanto 0 verso ¢ 0 niimero sao insepardveis na construtura do universo. Através de aleph (®) todas as energias do uno se canalizam para aqueles que Ihe imploram as flamas da verdade. Se aleph (X) encerra em si todas as outras letras, a fim de fazé-las participar da unidade, o mesmo ocorre com o néimero nove que, sendo o Gltimo némero simples, 18 - SOUZENELLE, A. (1987), p. 29 19 - Idem, p. 30 20 - ALLENDY, R. (1984), p. 258-259. 56 FERNANDES, José. Poesia e magia contém em si todos os que Ihe precedem. Para distribuir as energias, Deus age com todas as suas potencialidades: verbal e numérica, porque ¢ ele logos ¢ nimero. A interagdo aleph-novendrio € elaborada sobre principios semioldgicos executados segundo a ciéncia ¢ a tradicao da cabala. Destarte, se aleph (X) se confunde com a ménada ¢, em conseqiiéncia, com Deus, que se manifesta por intermédio da palavra, 0 ntimcro nove vem corporificé-la, uma vez que é definido como o veiculo real e objetivo do poder do Logos, (...) 0 meio de propagagao de todas as vibragées césmicas, aquele que permite suas combinagdes, suas ressontin- cias, suas agées e realizagées rectprocas, em suma, todos os aspectos do universo Assim entendida, a conjungao de aleph (X) com o némero nove, que Ihe lita repetir-se eneadicamente na parte direita do tri_ngulo, vem visualizar c materializar os raios cmanados da Divindade. O nove ¢ o aleph (N) sao as combinagées ¢ as ressondincias das energias que se desprendem do alto. Sao as forgas celestes sendo € acontecendo. Conquanto a esséncia do nimero trés dominar a totalidade do texto, também a letra bet (2) parece fugir a esta estruturagao, porquanto é regida pelo bindrio. Todavia, se observarmos que o fonema bet (A) se apresenta trés vezes na formacio da palavra, verificamos que, a0 um s6 tempo, ele se adequa a ternariedade do tidngulo e & masculinidade de aleph (X). Primeiro, porque sendo bet Q) uma letra feminina, ao repetir-se trés vezes, mantém a exigéncia do par, uma vez que sua principal caratcristica € a receptividade: receptividade a aleph (X), elemento masculino, ¢, em decorréncia, aos raios emitidos pela Divindade. Bet (2) nao somente nao coloca em risco 0 ternrio, como, inclusive, eleva-o a terceira poténcia, multiplicando no triangulo as energias da ménada, Além disso, se atentarmos para a construtura do poema-tidngulo, vamos averiguar, em segundo lugar, que a reciprocidade de aleph-bet, como esté escrito nas origens das Ictras, perdura: aleph (8) € bet @) concorrem 0 mesmo niimero de vezes na tecedura do texto. Aleph (X) coloca diante de bet (2) a alteridade sem, no entanto, dele se separar, porque 0 habita, € seu par insepardvel. Se € aleph () a ménada, bet (A) é a criagdo, os raios que se desprendem da divindade, tanto que bet (2), juntamente com aleph (X), chega ao vértice do triangulo. Entretanto, as energias de bet (1) se expandem através de aleph (X), realizando 0 que Annick de Souzenelle chama mistério de bet (Q), ou seja, bet é colocado como outro, separado de aleph X e é no entanto, ndo separado dele. Mistério do 2 que secretamente contém o 1, como 0 ovo o contém o germe. Mistério da Criagao que é chamada a germinar seu Criador, a colocd-lo no mundo, a fim de ser integrada a Ele. Para que os raios de aleph (N) ¢ da ménada, isto 6, da 21 - ALLENDY, R. (1984), p. 170 22 - SOUZENELLE, A. (1987), p. 34 Sign6tica 4: 47-60, jan.jdez. 1992 37 Divindade, descam Aqueles que a invocam, ¢ imprescindivel a integracao entre o um € 0 dois. Somente assim, 0 uno pode se irradiar sobre o miiltiplo. Essa irradiagao se torna mais manifesta, quando verificamos que também a letra res (1), inserida no miltiplo, tem como correspondente numérico 0 dois ¢, como simbolismo principal, a receptividade. O binério permite que ela componha par com aleph (X), pois, acresce-se ser ela uma letra feminina. A receptividade, por outro lado, possibilita que ela, a0 mesmo tempo que recebe eflévios de aleph (X), também exerga influéncia sobre ele, Esta arquitetura semidtico- semantica se nos aclara ao interligarmos o significado etimolégico de X7171 8718, abreg ad habra, palavra magica, com um dos simbolismo de res (1): fogo. Res (1), sendo fogo, materializa, na construtura do poema-talisma, as energias que sao langadas sobre aqueles que invocam as divindades. Entretanto, como res (1) nao chega ao 4pice do tridngulo, porque miltiplo como os suplicantes, deve atingi-lo por intermédio de aleph (X), ou seja, por intercesséo do uno. Dentro do espirito magico, teolégico e filoséfico que perpassa a montagem do texto, fica claro que mesmo o miltiplo, para se expandir sobre a multiplicidade, necessita do uno. irradiacao se torna mais evidente, quando verificamos que res (1), a despeito de ser regida pelo binério, nao elimina a ternariedade do triéngulo, porquanto contribui triplicemente para a composigao do vocébulo que conforma o poema talismanico. Além disso, a repeticao novendria de aleph (8), a0 inicio, transforma-o em um simbolo césmico que, em decorréncia, engloba as demais letras. Esta corrente de evolugao j4 fora objetivada pelos fonemas aleph (X) e bet GQ), presentes dezesseis vezes, cada um, na conjuntura visual do poema-tridngulo, E interessante observar que se trata de uma evolugao positiva, uma vez que dezesseis se reduz a sete, 1 + 6 = 7, ntimero da liberagao cérmica. Destarte, as energias dispendidas por aleph (X), a letra que libera o fogo de res (1), serdo sempre positivas, porque regida pelo niimero sete. Res (1), entretanto, colabora somente treze vezes na constituigao do poema-talisma. Ora, treze nao se configura um mémero aleatério, conformado a estrutura visual do texto. Na conjuncéo dos signos, o némero treze se integra geracdo de semias destinadas 4 ampliagdo e 4 confirmacio do campo de raio ou de fogo. Assim, 0 nimero treze s6 poderia estar afecto a res (1) que, ao aliar-se a0 simbolismo de fogo, é também atividade, movimento, Este nimero, afirma-nos René Allendy, representa um principio de atividade, 3, se exercendo na Unidade de um todo, 10, que ele contém e que ndo faz produzir, se ndo um ciclo de renovagées perpetuamente idénticas (1 + 3 = 4)". Acima das particularidades numéricas de cada letra, observamos que, em conjunto, as letras compéem uma enéada, associando as energias individuais 23 - ALLENDY, A. (1984), p. 356. 38 FERNANDES, José. Poesia e magia as vibragées césmicas de aleph (X), a harmonia do triéngulo que as conduz a multiplicidade dos homens que se dirigem, splices, 8 Divindade. Mas a ternariedade ¢ a légica do texto nao se atém somente ao nivel das letras, estendem-se também, A arquitetura do pocma- trifngulo. E para atest4-lo que devemos verificar a soma de todas as letras que crigem o pocma: quarenta € cinco, ou seja, 4 + 5 = 9, nimero que robustece os simbolismos da unidade césmica corporificada pelo aleph (N). Ademais, todas as semias do nimero quarenta e cinco, descritas por René Allendy, fazem parte da organizacio fisica do poema: Nés temos aqui a vida, 5, nas revolugées do mundo, 40, se dispersando ao infinito, mas tendendo @ solidariedade do novendrio (4 + 5 = 9). Este niimero se afigura um quintuplo novendrio (45 = 5 x 9), simbolizando esta solidariedade cdsmica que se exprime na vida de todos os seres™. & seguindo esta ética que texto é um talisma, porque todas as letras, juntamente com a palavra mégica ¢ com o tridngulo, materializam as energias ¢ todas as forcas césmicas emanadas da Divindade. A despeito de os simbolismos impressos a cada signo interligarem-se as semias dos talismas ¢ dos pentéculos, a arquitetura do texto obedece a um engenho cabalistico que o insere na isotopia do pottico, notadamente se observarmos que o poema visual deve pautar pelo velamento de um mistério, de um enigma, seja ideolégico, tcolégico ou filoséfico. Importa que a palavra, as letras € a conformagao visual sejam signos densos de significados, que toda a cadeia dos signos seja construida segundo um campo seméntico determinado, de tal forma que tudo se processe de conformidade com as leis da simetria, imprescindiveis instalagao do belo, e consoante as leis da cabala, que direcionam a conjungéo dos signos esotéricos. Destarte, as letras, na totalidade do poema, nao sdo meros fonemas que se aglutinam para compor a palavra; sio simbolos que se conjugam para gerar significados que se emaranham 4 integridade do objeto estético-esotérico. Chegam mesmo a ultrapassar a ordem semantica da palavra, como se cada letra fosse um lexema independente que se amalgama ao texto semistico. A letra, assim entendida, além de carregar as prOprias semias, incorpora as semias dos némeros da figura em que esté inserida, formando um objeto semidtico todo semintico. ABSTRACT ‘This study intends to show, through esoteric analysis related to cabala and mandala, how the structure of visual Greek poems and Hebraic pentacles follow a creative process which is typical of the poetic text, even though they were created with religious intentions aiming at magic. 24 - ALLENDY, R. (1984), P. 386-387. Signética 4: 47-60, jan /dez. 1992 ES) REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALLEXANDRIEN. Histéria da filosofia oculta, Lisboa: EdigSes 70, 1983. ALLEAU, René. A ciéncia dos simbolos. Lisboa: Edigies 70, 1976. ALLENDY, Docteur René. Le symbolisme des nombres: essai d’arithmosophie. Paris: Chacor- nac Frere, 1984, ARISTOTELES. Obras, Madrid: Aguilar, 1973. BOULTENHOUSE, Charles. Poemas in the shapes of things. Art News Annual, New York, v. 28, p. 65-173, CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Diciondrio de simbolos. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1988. EVOLA, Julius. La tradizione ermetica. Roma: Mediterranee, 1991 FERNANDES, José. Dimensdes da literatura goiana. 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