You are on page 1of 17
GRUPOS | CASAIS € FAMMILIAS | €A\ LUIZ CARLOS OSORIO ‘Médico, Especialista em Psiquiatsia pela sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). ado pela international Psychoanalytical Association (IPA), ipette com formagdo em psicodrama e em terapia familiar, sistemas humanos, fundador e ditetor técnico da GRUPOS, ormadora de grupoterapeutas eterapeutas de familia. ISBN 978-85-65852-52-4 manos — Grupos. 3. Sstemas 4, Sistemas huntanes ~ Empress. eDUIS99.0724 Catalogagio na publicayio: Ana Paula M. Magnas ~CRB-10/2082 ms GRUPOS TERAPEUTICOS 0 grupo, como um espago terapéutico, remonta a tempos imemoriais, Podem-se at seres primevos intercambiando cuidados reciprocos, seja no conte: s familias primordiais ou nos arcaicos clas que esbogaram a ordem si do a linguagem verbal nao passava de grunhidos veiculando emosses ou indo expressat contedidos fragmentirios de pensamento ¢ mais se valiam do verbal para comunicarem suas necessidades uns aos outros. Dé-se agora uum salto de muitos milénios no processo trio, até 0 into do século XX, para encontrarmos aquele que se considera 0 prot6ti- le um grupo com objetivos explicitamente terapéuticos na experiéncia de com seus pacientes tuberculosos, Pratt observou que esses pacientes, reuni- na sala de espera de um dispensério enquanto aguardavam suas respectivas as, interagiam ¢ estabeleciam relagdes emocionais que melhoravam seu Jo de animo. Isso o estimulou a reuni-los, inicialmente para dar-Ihes um “unio de higiene pessoal ¢ logo mais com propdsito de que intereambiassem iv experigneias na maneira como enfientavam a enfermidade; mais adiante, 1 no grupo o testemunho de pacientes que se haviam curado para ani Jhi-los com esperangas em relagao aos resultados do tratamento, pratica que foi mada depois pelas chamados “grupos de autoajuda’. Para tanto, estabele- a umn setting grupal que consistia em reunides semanais de uma hors meia ‘Ue duragao com a presenga de aproximadamente vinte pacientes, sentando ao ‘0 aqueles que haviam mostrado progressos e podiam se constituis em 105 a serem seguidos pelos demais. Pratt, portanto, fo} o primeiro a se utilizar de forma sistematicae intencio- al das emogdes suscitadas nas interagoes ocorridas-em um espago grupal paraa Shilengto de um resultado terapeutico, 132 wizcans oon covo RaaaHaacoNsisenas HUM — 133 Posteriormente, 0 advento da psicandlise e os intos mara 1s ou idosos (faixa etdria), independentemente da condigdo mérbida ciais teGrico-téenicos que o sucederam tais como 0 psicodrama, a tear clomentos constituintes; igualmente so considerados grupos homogé ‘culos ¢ 05 grupos operativos, a dinimica de grupos ¢ a gestalterapia @ dle individuas com sofrimento compartilhado, tais como diabéticos, obe- que cognitive-comportamental, e outros mais, forneceram os subsidios nnaticos, depressivos, drogaditos, portadores de deficiéncias fisicas, colos- desenvolvimenta de modalidades de abordagens terapéuticas dos grupy Jyailos, mastectomizadas e demais pacientes de uma lista quase intermindvel as temos hoje, Todas esas inseridas no padrao epistemologico que ident ‘l\ins0es, cujo atendimento em grupo tem revelado significativos resultados paradigma linear. livio de seus padecimentos. Na esteira do surgimento do paradigma circular, emergi a tera | familia seria um grupo homogéneo ou heterogeneo? Nem ume coisa ne liar sistémica, que podemos considerar sta face clinica, © pensemento Aqui se necessita diferente critério paca defini-la quantoa sua constituigao nal-sistémico exerceu forte influéncia na ressignificagdo dos processos junto grupo, Alguns autores a designariam como “grupo natural’, para dife- suas abordagens terapéuticas. J& ado se pode conceber um terapeuta de contemporaneo que, ao menos, no tenha se deixado influenciar pelos + als « priori da intervengao terapéutica e serem constituides em fungio desta do nove paradigma, ‘vengio. Essas denominagées, contudo, ndo nos parecem adequadas; preferi- ‘Como em outro livro’ abordamos extensamente 2 evolugao dos “s lesignar a familia como um grupo com histéria ou convivéncia prévia, que terapéuticos sab o marca-passo dos mencionados referencizis te6rico-p) que adistingue dos demais, cuja histsria como grupo ¢ convivéncia entre seus nos limitaremos neste capitulo a referir o que diz respeito especificamente sibros comeca ao se iniciar 0 processo grupoterapico, xis com grupos na érea de sade como a visualizamos nos dias atuas, ind Soriam também grupos com historia prévia aqueles jé constituidos como dentemente de sua matriz.teérica. ‘nies da presenga do grupoterapeuta ou em que, como muitis vezes ovorte |. grupos atendidos em instituigdes de ensine ou ambulatérios de satide Jil, 0 grupo ja vinha cm atendimento com outro terapeuta ¢ tem com esse Modalidades de atendimento grupal 14 histéria prévia a0 ingresso de um novo coordenador. Jim restumo, poderiamos classificar os grupos quanto a sua constituigéo em: ila dos demais grupos tidos, entio, como “artificiais”, por nao existicem co- 0s grupos terapéuticos, quanto a sua constituigdo, podem ser classifica “nomnogineas” e “heterogéncos” A homogeneidade ou heterogencidade grupo, por sua vez, pode ser determinada por varios elementos de sua cons Homogénecs Gio: populagdo-alvoa que se destina,o sexo ou idade de seus component condigao morbida de seus membros. ‘A hist5tia dos grupos terapéuticos iniciou-se, conforme mencionamo Hetorogtneds teriormente, por um grupo homogeneo quanto & condigio mérbida de x componentes,a tuberculose; jd os grupos analticamente orieniados, eget cos em meados do século passado, eram heterogineos quanto A sintomatol neurdtica apresentada por seus componentes, embora pudessem conserva hhomogeneidade quanto a faixa etdria desses. ' pratica, consideram-se grupos homogéneos aquetes que privilegh homogeneidade com relagdo determinado aspecto, em funjio dos objel a que se destinam, Por exemplo, sip grupos homogéneos os grupos de cria ‘Grupos com Historia Prévie Giupos sem Histéria Previa Os grupos ainda podem ser classificados em “abertos” ¢ “fechados’ sonforme seja aceito ow nio o ingresso de novos membros apos sew inicio, Por ‘4 propria natureza os grupos abertos sio de tempo ilimitado e os fechaclos cos Juunam ser de duragto previsivel embora nie necessar © OSORIO, 1.C. Grupeterapiax abordagens alt o Alege’ Artin, 2007, 134 wizcanics osomio Semelhangas ¢ diferengas na abordagem terapéutica de grupos distintos Como jé referido em outro capitulo, os fendmenos do campo grupal sia ‘= comparecem em qualquer grupo. terapéntico ou nfo, ¢ independenter quem é terapeuta ou coordenadot € quem so os pacientes ou parti ‘A constituigéo de um grupo homogéneo quanto a condigo morh seus membros padera oferecer outro fator de simileridade com relaglo géncia das queixas ou dos conflitos vinculados a essa condicao, As demall Thangs que possam existir entre os distintos grupos tetapeuticos atendidi lum mesmo terapeuta residem no referencial teorico-técnico que empr ‘Assim, um grupo de pacientes obesos, atendide por terapeutes com ciais tedrico-técnicos diferentes, apresentaré semelhangas quanto A ocd dos fendmenos grupais ¢ 03 softimentos compattillados por seus membiO diferiré no andamento do processo grupal e nas intervencdes terapeuti postas. Um grupo de pacientes disbéticos e outro de pacientes portads deficigncias fisicas diferirao significativamente quanto ao cariter do sof que trarao para discussao no grupo, mas poderdo ser similares quanto a fy abordagem proposta por um mesmo terapeuta, além de manifestarem nos do campo grupal similares, sejam estes identificados pelo terapeuta 60 de suas intervengoes ou nao. Com isso, queremos enfatizar, respondendo as inguictudes de 1 profissionais em busca de bibliografia especializada sobre o atendimentod crescente gama de grupos homogéneos quanto ao sofrimento compattill {que as varidveis nao estio centradas propriamente nas técnicas para abordl {grupos e sim nos quadros clinicos que apresentam seus participants; dei neira, quem se prope a tratar, por exemple, grupos de epiléticos ou hi sos, alem de dispor de um referencial te6rico-técuiee para a abordag pal em geral, precisa é conhecer as peculiaridades da patogenia desses quidros mérbidos, Dizendo de outra forma, 1:40 hé uma especificidalle tro da abordagem empregada por deterininado grupoterapeuta, para de paciente ou situagao clinica que apresente; as diferengas estao nas viven sofrimentos determinados pela condigao mérbida que determinow a es agiupamento geupal homogéneo. Contudo, um comentiria que nos parece pertinente fazer aqui, € que, cientes com um sofrimento similar eompartilhado forem reunidos, pode tamente fayordvel ao estabelecimento de um processo terapeutico pela id ‘OMOTRABALMAR COM SISTEMA HMANDS §=—- 135. ‘aio imediata de uns com outros membros do grupo, mas, ao longo do tempo, 4 homogeneidade pode funcionar como um fator de incremento da discrimina- $40 a que séo submetidos, ese submetem aqueles que se sentem diferentes e infe- tisacos socialmente pelos problemas que apresentam. Por isso, recomendames, srupoterapeutas que tém a seus cuidados grupos com tais caracteristicas que Juocurem diversificd-los em fases posteriores do atendimento, de tal maneira que componentes possam conviver “terapeuticamente” com quem nao pertenga slusivamente ao que determinado pasiente vognominou sua “tribo patelogica’ Como formar um grupo terapSutico: selegao © agrupamento, indicagGes e contraindicagées | formagio de um grupo terapéutico seré feta a partir de 1rés elementos a cons: vido do grupo, conforme as modalidades apresentadas no item anterior; 0 ‘nico referencial tebrico-técnico do grupoterapeuta ¢, last but net least, as idios- sinctasias pessoais deste, ou sea, stas preferencias por trabalnar com grupos de \iolerminada faixa etaria, composicao asicopatologica ou que se vinculem a sua experiencia anterior como terepeuta irdividual, Tomamos aqui os termos selegto e agrupamento no sentido que Thes Joi conferido por Zimmermann (1969): “a selegio consiste em investigar as, saructeristicas de um pacientea fim de verificar a indicagao ou nao de psicotera- ls de grupo, enquanto por agrupamento deve-se entender a cleigio adequada do Jpiciente ji selecionado para determincdo grupo terapéutico” Obviamente a selegdo e agrupamento diferirio conforme se trate de um grupo homogénco ou heterogeneo. Para o segundo grupo,a complexidade da ta- fli de selecionar e agrupar ser4 maior, pois € justamente na elcigao da diversi- Jule esperada e desejada que reside a funcionalidade operativa do grupo. Team fe como regra que, quanto maior for essa diversidade, tanto maiores serio as Ailiculdades iniciais para obter-se uma iluidez do processo grupal e integral Jos participantes, mas, correspondentemente, tanto maiores serio as beneficios Jetapeuticos calhidos ao longo da evolugio do grupo. edite frequentemente o sucesso ou 0 fracasso de um grupo Jenypeutico aos critérios vigentes na sclegao de pacientes, a verdade é que ainda Aiypomos de escassas coordenadas para nos guiar nesse procedimento prelin Jo do processo grupal propriamente dito, O critério predominante Parece seh por enquanto, 0 contratransferencial de bases mais intuitivas do que ‘Centificas, e que foi glosado no jocoso aforismos evida rernpenta tem o grupo que Embora se Har ao 134 — izeanios osonio COMO TRABKLHAE ComSsistEMaSHUNANGS = 135, Jinediata de uns com outros membros do grupo, mas, ao longo do tempo, terapéutica de grupos aistintos Jonoxencidade pode funcionar como wm fator de incremento da discrimina + uc sto submetides, ese suibmetem aqueles que se sentem diferentes ¢ infe- ‘ \uilos socialmente pelos problemas que apresentam, Por iso, recomendamos jv upoterapeutas que tém a seus cuidads grupos com tais caracteristicas que stem diversificd-los em fases posteriores do atendimento, de tal maneira que w componentes possum conviver “terapeuticamente” com quem nio pertenga Isivamiente ao que determinado paciente cognominow sua “tribo patalégica”. Semelhangas € diferencas na abordagem Como jé referido em outro capitulo, os fendmenos do campo grupal si0 © comparecem em qualquer grupo, terapéutico ou nao, ¢ independentet quem €0 terapeuta ou coordenador e quem sto os pacientes ou part ‘A constituicao de um grupo homogéneo quanto & condicao mor seus membros podera oferecer out fator de similaridade com relagio t gencia das queixes ou dos confltos vinculados a essa condigao. As demall Ihaneas que possam existir entre os distintos grupos terapéuticos atendid = eee ea aiden go wicca Wolo eal oe ial ino formar um grupo terapéuticn: selegao ‘Assim, um grupo de pacientes obesos,atendido por tezapeutas com i jurupamento, indicagées e contraindicacbes ciais te6rico-técnicos diferentes, apresentaré semelhangas quanto 060 dos fendmenos grupxis 08 sofrimentos compartillidos por seus membit Jormacdo de um grupo terapéutico sera feita a partir de trés elementos: a cons- diferird no andamento do proceso grupal e nas intervencdes terapéutit Hive do grupo, conforme as modalidades apresentadas no item anterior; © ee q sco relerencial tedrico-técnico do grupoterapeuta e, last but not least, as idios- Um grupo de pacientes diabéticos e outro de pacientes portadaty ‘sruvias pessoais deste, ou sea, suas preferencias por trabalhar com grupos ée deficiencies fisicas diferirao significativamente quanto ao carter do sof Jerminada faixa eciria, composigao psicopatclogica ou que se vinculem a sua que trardo para discussao no grupo, mas poder ser similares quanto’ Weriéncia anterior como terepeuta individual. abordagem proposta por um mesmo terepeuta, além de manifestarem fp nos do campo grapal similares, sejam estes identificados pelo terapeuta ¢0 de stas intervengoes ou nao. Com isso, queremos enfatizar, respondendo as inquietudes de profissionais em busca de bibliografia especializada sobre o atendimentodl erescente gama de grupos homogéneos quanto ao softimento compattil que as variaveis nao estio centradas propriamente nas técnicas para abordy grupos e sim nos quadros clinicos que apresentam seus participantes di neira, quem se prope a tratar, por exemplo, grupos de epiléticos ou Hi 505, além de dispor de um referencial tw6ricu-tétnico para a abordag pal em geral, precisa € conhecer as peculiaridades da patogenia desses dil quadros mérbidos. Dizenéo de outra forma, nao ha uma especificidad tro da abordagem empregeda por determinado grupoterapeuta, para cid de paciente ou situagto clinica que apresente; as diferengas estao nas Vive sofrimentos determinados pela condigao mérbida que determinow a e ageupamento grapal homogéne Contudo, um comentirio que nos parece pertinente fazer aqu tes com um sofrimento similar compartithado forem reunidos, pode tamente fivorivel ao estabelecimento de um processo terapético pela i Jomamos aqui os termos selegio © agrupamento no sentido que thes confetido por Zimmecmann (1969): “a selegio consiste em investigar as Jacleristicas de um pacientea fim ée vetificar a indicagao ou néo de psicoters- Ae yrupo,enquanto por agrupamento deve-se entendera cleigio adequada do Jente ja selecionado para determinado grupo terapéutico”. ‘Obviamente a selecdo e agrupamento diferirao conforme se trate de um Jpo homogéneo ou heterogeneo. Pata o segundo grupo, a complexidade da ta- le selecionar e agrupar sera maior, pois é justamente na eleigao da diversi- J eperada e desejada que reside a funcionalidade operativa do grupo. Tem como regra quc, quanto maior for essa diversidade, tanto maiores serio as Wklades iniciais para obter-se una ihuidez do processo grupal ¢ integracio participantes, mas, correspondentemente, tanto maiores serao os beneticios jpeaticos cothidos ao longo da evol.gio do grupo. Imbora se credite frequentemerte 0 sucesso ov o fracasso de um grupo {peutico aos critérios vigentes na selegio de pacientes, a verdade é que ainda jomios dle escassas coordenadas para nos guiar nesse procedimento prelimi- £40 inicio do processo grupal propriamente dito. O critério predominante eee en por enquanto, o coritratransferencial, de bases mais intuitivas do que Alifleas, & que foi glosado no jocoso aforismos eacla rerapewra ter o grupo que 136 wizeatos osono merece, Esta claro esté que © proprio critério contratransferencial apo) clementos disgndsticos.e, sobretudo, prognésticos, incorporados & nossa ancia pregressa como grupoterapeutas. Outzos elementos nao menos sign ficativos para a selecio sdequal modo como se processao contato inicial do candidato 4 grapoterepia, asi {906s e justificativas que apresenta para vir tratat-seem grupo a avaliagd0\ receptividade a0 convivio ¢ intimidade com outros participantes e, find aquilo que a falta de uma melhor denominagao poderfamos chamar sta sobre 0 que esta determinando a busca por ajuda psicoterdpica ¢ a fanta tem sobre como obterd essa ajuda do grupo. Quanto ao agrupamento, quando se tratar de um grupo ja em andi contamos com 0 expediente de imaginar como aquele determinado paciel selecionamos poderi se situar no contexto dos demais participantes do g) que é uma vantagem considerivel em relagdo ao agrupamento feito por: de um grupo se inicias. No que diz respeito as inudicacdes e contraindicagdes também essas es diretamente telacionadas com a modalidade do grupo em questao. D dizer, contudo, que ha certas contraindicagdes universais para o atendiment grupo: pacientes com alto potencial paranoide, hipomaniacos ou mono} dotes, com acentuados distirbios de conduta, portadores de deficiéncias cctuais ou em estados de desagregacao mental de diferentes origens, estio aqueles que nio 56 ndo obtém provcitos das abordageus grupais como as culizam e impedem que outros delas se beneficiem. As regras do jogo terapéutico: o setting grupal Estabelecer o setting ou enquacle grupal consistena constituigao de um ambit normativo (continentc) onde se desenvolveré o processo grupal (comtetida), inclui desde espaco fisico onde as sessdes transcorrerdo até as combinagdes; vias sobre hordrios, frequéncia e daragao das mesmas, além da prépria cont] sigdo do grupo. E como se fosse a formatagao que nos permite a redacao de texto num computador, Jé no estabelecimento do setting, vamos ter configuradas as distingoes {re as virias madalidedes grupoteripicas: no psicodrama o espago cénico exigi para a realizago das sessoes é bem distinto da habitual composigio de cadeii em cfrculo para uma sessto de grupoterapia analitica; uma sesso de grupo criangas exigiré a utlizagao le material hidico, enquanto um geupo de psicopy filaxia cirdrgica terd“que ocorrer em um ambiente hospitalar como iapALNAR comsistewasiUMANoS — 137 0 seiting grapal, com todo 0 con.unto de procedimentos € normes que 0 poderd se tornar um elemento mais bloqueador que facilitador do ovo grupal. Jd Winnicott (1982) observava, referindo-se as exigéncias do “yypanalitico convencional, que paradoxo do setting enalitico € que ofetecemos ao paciente tempo, espaso ¢ ‘oportunidade para se expressaremn na linguagem em que sio capazes de Joy mas ao mesmo tempo exigimos eubmissio ao regime rigidamente orga- nizado de nossis técnicas de falar conosco numa forma que esta muito acimma dle seus recursos e aptidoes. Ff conveniente que todas as regras ndo explicitadas no contrato com os ‘Poientes ao inicio do processo grupal scjam objeto de discussto e busca de Jysenso com 0 préprio grupo no transcurso do referido processo; no entanto, “jonas explicitadas por ocasiia do contraia devem ser justificadas e suficien- ‘vente Mexiveis para que no prejudiquem a interagdo dos membros do grupo | lestes com o terapeuta. Seria ainda aconselhavel que tais regras se limitas ‘91 4 estabelecimento do que seja irdispensivel ao balizamento do processo ipoteripico, confiando em que o préprio grupo deva ter, com seu ulterior eonvolvimento, condigdes de repensé-las ¢ eventualmente modificd-las em “onsondncia com os propésitos da terapia ¢ o respeito recfproco entre todos seus Puticipantes, Assim, por exemplo, se cabe ao (erapenta fixar seus honoririos prolissionais e reajusta-los dentro de critérios que, por si sé, possam ser avaliados weitos pelo grape, ao grupo cabers eventualmente, com a anéncia do tera- 1 decisiio quanto & modificagao de hordrios que se tornem incompativeis, a presenga da maioria dos participantes (como nao raro ocorre com grupos ‘de olescentes quando ingressam na universidade}, Com relagéo 2o sigilo do material trazido ao grupo, nfo é certo que sua “plleitagio a priori possa resultar em: maior comprometimento do grupo em ‘impri-lo; nada é tio eficaz para ofetivé lo como uma regra a ser obedecida que | propria circunstancia de estarem todos expostos aos mesmos inconvenientes ‘on seu eventual descumprimento. & se apesar desta reciprocidade dos Alguem vier a quebrar tal norma o préprio grupo habitualmentetrata de elimi jr infiaton, com a dovida concordancia do terapeuta, nto sem que este pro- Jrcunstincias e motivagaes para tal destize. ‘ire antes analisar com o grupo as Bim resumo, se as regras e leis sio feitas para seem cumpridas, sabemos jue, ba pritica, a sua simples existéncia é estimulo suficiente para que muitos ss queiram yer desobedecidas, Neste contexto, colocaria a proibigao de que os nembros dem grupo terapeutico tenham no decurso do mesmo relagdes amo- Toss ou sexual 138 wicncsosam Poucas e bem funcamentadas regras sao mais facilmente aceitas € cu das que muitas regras geralmente unilatersis, como as que vemes frequentemefl rocessos interacionais que ebjetivam o 10 ddos alunos para viver em um mundo fortemente influenciado pela visio ‘novo paradigma, © professon pela propria natureza de suas fansdes, esté convocado a exer- fo papel de coordenador de grupos no exercfcio cotidiano de suas atribui- «melhor o faria, seguramente, se em sua formiagao profisional, ao lado do rato. pedagdgico, recebesse substdios sobre como desempenhar essa tareft, iandlo-se na compreensto e manejc dos fendmenos grupais. ‘A pedagogia moderna vé o professor no mais como wm mero “instrutor” sdeseus alunos, mas como um *mediador” entre estes eos conhecimentos dispo- Aivois, Mais “educagto’, menos "ensino’ € a palavra de ordem, @ se atentarmos pra a etimologia dessis palayras, nos diremos conta de quio adlequada ¢ essa olocagito; “ensino” (in signo) quer dizer por nossa mares ou sinal em alguém, 154 we casos sono COMO TRAEALHAR cc SHTEMS HANDS —- 155 enquante “educayao” (e-ducare) significa exteriorizar ou conduzir aso, 0 conhecimento latente ou potencial do educando). Pois bem, nessa mudanga de paradigma, o professor esta con) sempenhar menos 0 papel de quem, detentor do saposto saber, 0 dh tiraoaluno ¢ mais, muito mais, o de um catalisador da curiosidade cadesse, 0 processo deaprendizagem é, sobretudo, ativo e seletivo: sh © que quer eo que interessa, O resto “apreende-se": pode ser retido 6 tempo suficiente para que se o despeje no cumprimento formal mentos de avaliacio, ou automatizado para efeitos de sobrevivénei 20 imprint intelectual que 0 tore disponivel pata 0 exercicio eral sas fungGes mentais. io incgavelmente os guias das futuras graces nas trilhas que levam a {Nor qualidade de vida relacional. f || paula desse aprendizado esta no desenvolvimento de interagces satisfato~ “+ wtublecimento de comunicagdes operativas entre todos os componen jsna educacional (doeentes, discentes e familiares). Pule-ve dizer que o grande absticulo ao progresso humano — expresso no “Jy (orre de Babel - esté na incomunicabilidade humana, alimentada pelo “\\vol desejo de poder e 0 consequente desrespeito ao dieito alheio. | slivridade humana, que se exercita no contexto dos grupos, pressupde ‘yoo e a convivéncia com as diferengas, sendo a vida escolar o primeito J: (ese de eapacitacao do individuo para o que sera o cotidiano desta exis- viver em grupo. Apronder a estar e trabalhar em grupo é, sobretudo, aprender a converser “Jos seutidos etimol6gicos da palavra conversar é “imuclar juntos” (eon + ver~ Je uma conversa os que dela participam clevem sair “transformados’; isto {uns comp outros tendo experimentado o enriquecimento com a troca de cresce de impartincia e significados a fangao do professor como a aprendizado em sala de aula. & algo que transeende cou papel de pi conhecimentos para inserit-se na pauta do que~ para fugirmos con género do termo “hominizagao” ~ podertamos denominar a “pessoall ser humano. Somos “pessoas” € no apenas “individuos” quando int a nogao de altetidade em nosso universo cognitivo-afetivo, Existe a interpessoal, mas nio interindividual, para caracterizar esse espago viriual enire os seres humanos. Diré, alguém, que 0 aprendizado da interpessoalidade comega no familia e que o individuo vem para a escola com 0 selo desse aprendi auséncia dele} familiar prévio, Fé, contudo, uma peculiaridade que vl cola como um Iécus ao mesmo tempo privilegiado e crucial para este zado: nela se experiencia a condigéo prototipica da diversidade hum convivincia de individuos provenientes de distintas “culturas’ familiares experiéncia é orquestrada pelo professor, que pode enriquecé-la com 0» dientes da tolerancia, da solidarieade, da cumplicidade amiga, ou manté NENDENDO A TRABALHAR COM GRUPOS EM GRUPO pobrecidae desvirtuada pelo estimuto a rivalidade, a intransigéncia ed di fhagto entre os diferentes. . Estar em grupos, viver em grupes, trabalhar em grupos, ideologiza grupos, pensar, sentir ¢ agir grupalmente ~ tal & a prixis a que nosconduz garismo de nossa condigéo humana. Para isso ¢ preciso aprender € preciso escotar para conversar. Se cada um quer apenas sylar seus argumentos e ser ouvido (como ocorre tantas vezes em um casal swinido), © mais provavel € que ambos saiam da discussdo mais arraigados a Jpontos de vista e empobrecidos na interagao. E a “conversa” nao tera passa- Ue in mondlogo a dois (ou “didlogo de surdos?). Jiido isso para enfatizar que 0 aprendizado de estar em € com grupos Joi pela disponibilidade em “conrersar’, no sentida supracitado. A escola, jponto de vista, é, entao, um espago privilegiado para que se aprenda antes Ja de tudlo a conversar, a*mudar juntos”, professores e alunos, pela experi- Jaa mnditua convivéncia, “apacitagto para o trabalho com grupos ou equipes de qualquer natureza pres- Jnoe « ulilizagio do proprio grapo como veiculo pedagégico. Esse proposito “Suisubstanciou-se com o surgimento dos grupos de reflexto. acon ‘Os grupos de reflexdo apareceram no cendrio das praticas grupais na década 4 con+duzir nossos processos grupais de maneira que os esforyos individ {Je 1990 do século passaclo como uma variante dos grupos operativos criados al- suplementem em busca da prosperidade, do entendimento e bem-estar cole' june lustros antes por Pichon-Riviére e destinados « proporcionar a médicos A escola € 0 inestimével laboratério para esse aprendizado, assim como ox Jesldentes em psiquiatria no Instituto Borda de Buenos Aires a oportunidade ‘como TRABALKAR COM siStEMAS HuNANOS = 157 156 — wzcrnses osorio 9) interferéncia indesejavel e que compromete a eficiéncia do grupo de refle- ‘So enquanto instrumento de aprendizegem, Nossa experiéncia com 0 emprego sistemética dos grupos de reflexiio no “ino das praticas grupais data dos anos 1980, e desde entao os incluimos como “hale peimordial em nossos cursos de capacitagio de profissionais para tra- Jolhor na coordenagao de grupos, terapéuticos ou nao. Mais recentemente introduzimos em nossos cursos de especializagao em ‘opin de cassis e familias um espago vivencial denominado “grupos de refleco “ove vivéncias familiares’, em que asalunos trazem saas reflextes sobre as fa- ‘ilios de origem eas atuais pare compattilhar com o grupo de coleges, sob nossa ‘wolenagio, Para auxiliar o aporte de informagdes sobre suas respectives fami- Jy) 05 alunos sao encorajados a se valerem dos meios que julguem melhor pata “sspressar suas impressdes e sentimentos, desde a cléssica elaboragio do geneto- sina comentado até a apresentacio de fates, videos, desenhos, textos ou me- ‘iss uaa tudo maisque sa esolaepontnes era proponta Fisses momentos sao subdividides em duas fases: epresentagdo ¢ revisdos de ‘Winnyto varidvel conforme o nimero de participantes da turma e as necessida. “Jos sde cada um, destinando 0 segundo deles i avaliogae por parte do apresenta- Joy, com a auxilin dos demais componentes do grupo e do(s) coordenador(es) {J curso, do impacto mobilizador de ta's vivéncias, bem como de sua contribui- “ho potencial 20 trabalho de cada um com as families que atende. Seguindo os delineamentos técnicos ¢ os propésitos dos grupos de refle- 440 evitlamos que tais momentos se transformem em “sessdes psicoterépicas’ sybora reconhecendo, com Pichon-Rwvitre, que, na prética, aprendizagem ¢ ‘Seropia se confundem, Alguns de nosso alunos tem emergido de tais exercicios “siyunciais sobre suas relacoes familiares mobilizados para continuar examinan: 4 ais relages no contexto de terapias individuais ov grupais fora do ambito de neles elaborar as tensdes geradas no trabalho com pacientes psiqui Posteriormente, jé no limiar dos anos 1970, foram incorporados a foray profissionais para coordenar grupos em geral e grupos terapéuticos em il lar, com o propésito de criar um espaco reflexivo em que os alunos pudesse venciara experiéncia de participar como membros de um grupo. Nao se sabe a0 certo quem empregon pela primeira vez a expresso de reflesao, mas foi certamente um dos membros do grupo pioaeiro introduso como instrumento de aprendizagem nas praticas grupais, Dellarosa (1979), quem a consagrou, no seu livr, hoje jé cléssico, publica Essa modalidade reflexiva na formagio de profissionais voltados a0 ho com grapos tem como antecedentes os T-groups, ou grupas de formags proposirto original de Lewin, na década anterior de que se examinasse i ueios na comunicacio interpessoal impediam o progresso das investigage seu Centro de Pesquisas sobre Dinamica de Grupos do M.LT. Dellarosa, ao sistematizar a técnicas dos grupos de reflexto, ob gue seu objetivo, prectpuo era propiciar aos alunos, durante seu tre a oportunidade de viverem a experiéncia de pattcipar como membros grupo e que esse grupo se constituisse em um espago onde pudessem ¢ rar as tenses engendradas pelas atividades do cuuso, a relagio com 08 pra res € entre 0s colegas, Ainda que o foco fosse o exame das dificuldades nais presentes durante a tarefa de aprendizagem, ndo se deveria esperar qué grupos cumprissem fungdes terapéaticas, devendo, portanto, seus coordel res evitar a utilizagio do material emergente para fazer consideragbes qu dissem a vida priveda dos participantes. Segundo Dellarosa (1979) “Nos grupos operativos, a tarefa interna que os membros realizem uma permanente indagagao das operacoes que alizam no scio do grupo, em funcao da relagao com a tarefa externa, vista organizadora do processo grupal’. Esta stitude de“se-fletir(se)” sobre a exp abo Mencionamos essa adaptagio_ que fizemos do modelo original propos “J por Dellarosa, para inclui-lo na forriacio de terapeutas de casais e familias, 5 ‘ 0 obj ‘aro amplo espectro de aplicagbes dessa modalidade de cia do proprio grupo enquanto grupo é0 ponte de partida des grupos de Bin o objetivo de enfatizar o amplo espectro : : Cig hte ‘pects ai ‘{hupo operativo a que denominamos “grupo de rellexio” na pratica pedagogi- dades dos participantes de “pensar” o proprio grupo a partir de uma experk ham geral, Os grupos de reflexio, inicialmente empregados na formagio dos grupo- {erypeutas latino-americanos, tém recentemente ampliaclo seu leque de aplica- ‘joes para outras areas pedagogicas, mesmo fora do eixo psicoterapico. Assim, Jposdemos encontrd-los, em suas variantes ¢ sob denominagdes outras, no ambito wala, nas eonsultorias empresariais, dos com os euidadores. cia compartilhada de eprendizagem, mantendo, contudo, uma cuidadosa d minagio entre a proposta de utilizar os sentimentos emergentes do gripe compreender o fendmenos grupais (e simultaneamente desenvolver as habil des de seus componentes) ¢ qualquer outra intengio de cunbo psicoterspi rigid a seus membros. Esa inten, sempre que estiver presente, seja na dlo(s) coordenador{es) como na dos demais participantes, sera entendida ‘hos programas de educagio médica conti hos laboratérios de relagdes interpessonis e nos eu 158 wizcrrtos osono SUPERVISAQ (INTERVISAQ) NO TRABALHO COM SISTEMAS HUMANOS A relagio do mestre com seus aprendizes, na transmissio de conhecimel sobre como exercer um oficio, & 0 protétipo do que hoje conhecemos como " pervisao’” A supervisao, como a etimologia do termo sugere, pressup0e a & «ia de um profissional mais experiente que lance um olhar sobre o traba seu colega ~ menos expertente e geralmente mais jovem ~ e que, da posigao pi legiada de quem detém o saber desejado, o oriente parernatisticamerte nos dros da sua pritica profissional Otermo “supervisio” denota uma postura hierarquizante, colocande supervisiona coma detentor de um suposto saber que iré transferir 20 apt do oficio, mediante a pritica do trabalho supervisionado, Essa postura é um quicio da verticalizagio do conhecimento proposto pelo paradigma linear paradligma sistémico-relacional,a vivéncia singular do aprendiz, no exercicia sua tarefa, passa 2 ser valorizada como um conhecimento per se, que ir alimentar a fungao do supervisor. A supervisio torna-se, ento, uma intervi ‘ou seja, um olhar compartilhado pelo mestre e seu aprendiz sobre o objeto) aprendizad. A super-visio, nesta concepsio, transforma-se, entdo, em uma co-visd inter-visdo, em que 0 olhar mais experiente necessariaments nio éo gue mel percebe ou discrimina, mas tio somente o que aponta os trajetos js palma ou participa conjuntamente com o supervisionado da descoberta das cami a percorter: E dai quese deriva 0 uso pedagdgico da expressio ensino-aprendi gem ou “ensinagem” (Anastasiou; Alves, 2010). Por se tratar de um termo com grado pelo uso, feitasas ressilves anteriores, passamos a utilizar a expresso" pervisio” para identificar © procedimento em pauta neste topico. No campo das ciéncias psicoldgicas, foi a psicandlise que introduziu em praxis educacional a supervi psican 1@ camo uum dos pilares do treinamento de nowt A relagao dual psicanalista ~ paciente fbi transferida para a rel dual supervisor ~ supervisionado. Mais adiante, com o surgimento das prit terapéuticas grupais, a supervisio passou a ser também uma tarefa compartilh da por varios supervisionandos com seu supervisor. ‘As modalidades de supervisao apresentam um largo espectro determin do por imtimeras varidveis; referenciais tebrico-técnicos do supervisor, props to-aquese destinam, objetivos a aleangar; recursos pedagégicos dispontveis, le brando que os avangos tecnolégicos propiciaram condigoes para que as supe s0es se processassem “a distancia” e por veiculos midiaticos distintos.

You might also like