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Declaro por minha honra, que este trabalho é o resultado da pesquisa por mim feita, o mesmo não
foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico e será
submetido a comissão científica da Faculdade de Ciências de Saúde, como requisito parcial para
aquisição do grau de Licenciatura em Farmácia pela Universidade Lúrio. Por ser verdade, passa a
ser assinado por mim e meus orientadores:
O autor: O tutor:
_____________________________ _____________________________
(Noé Tomás Tivana) (Dr. Alexandre Biquiza)
A co-tutora:
_____________________________
(Dra. Nádia Vereschak)
iii
FRASE INSPIRADORA
“Não é o desafio com que nos deparamos que determina quem somos e o que estamos nos
tornando, mas a maneira com que respondemos ao desafio. Somos combatentes, idealistas, mas
plenamente conscientes, o que não nos obriga a ter teoria sobre as coisas: Só nos obriga a sermos
conscientes. E, enquanto acreditamos no nosso sonho, nada é por acaso.”
(Henfil)
iv
DEDICATÓRIA
Ao meu avôs Penicela Mupuque Tivana Chifenga e Cheicuasse Yambane e minha tia Ana
Muzanhua, que partiram sem terem visto o fruto deste grande sonho.
v
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais Tomás Chirima Tivana e Marta Gumissane, por terem me proporcionado todas as
condições para enfrentar as dificuldades que ora me vem pela frente, apesar das suas limitações
(académicas) me ensinaram a vislumbrar os valores e as virtudes da vida;
À minha esposa Arminda Sitole e à meus filhos Manuel, Sara, Ana e Rosita pelo amor, carinho,
compreensão e por acreditarem em mim durante a realização deste sonho;
Aos meus familiares e meus irmãos em especial Manuel Tomás Tivana, minhas cunhadas
Conceição e Génifa, pela contribuição financeira e moral;
À coordenadora do curso de Farmácia, dra. Yalina Turros pelo amor e carinho na realização deste
sonho;
Aos meus tutores: dr. Biquiza e dra. Nádia pela disponibilidade, paciência e conhecimentos
transmitidos no decorrer deste trabalho;
Aos meus docentes do curso, pelo amor, carinho, paciência e aptidão na contribuição de
conhecimentos técnico-científicos durante o curso;
E um grande abraço a todos aqueles que de forma directa ou indirectamente contribuíram para
realização deste sonho.
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
viii
LISTA DE GRÁFICOS /FIGURAS
LISTA DE TABELAS
Tabela VI: Relação entre Sexo com Abandono ao Tratamento da Tuberculose………. …...Pág.36
ix
LISTA DE ABREVIATURAS SIGLAS
x
1-INTRODUÇÃO
Uma das principais preocupações, hoje, para aumentar a efectividade dos programas nacionais de
controlo da tuberculose é o aumento da aderência ao tratamento, com a redução das taxas de
abandono. A busca de casos e o tratamento da tuberculose, apesar de não reduzir imediatamente o
número de indivíduos infectados pelo bacilo, é definitivamente o que levará a uma redução do
problema a longo prazo.
A tuberculose sendo uma doença infecto-contagiosa que pode ser curada, no entanto, há uma
expressiva taxa de não adesão ao tratamento da tuberculose casos novos com BK+ de acordo com
índices de abandonos e mortes por esta doença, acima referidos. Frente a este panorama
despertou a necessidade de analisar o nível de adesão e sugerir algumas estratégias que poderão
ser cumpridas de modo a ultrapassar este cenário no PNCTL, no Centro de Saúde 1º de Maio.
11
1.1- TUBERCULOSE
A tuberculose é uma doença infecciosa cuja história é tão antiga quanto a da própria civilização.
Há relatos de evidência de tuberculose espinhal em esqueletos pré-históricos datados de 8000
a.C., encontrados na Alemanha. Arqueólogos também observaram lesões em coluna vertebral de
múmias do Antigo Egipto datados de 3900 a.C1.
Hipócrates foi o primeiro a descrever a doença como tísica do grego, que significa “derreter-se”
ou “fundir-se” devido ao seu carácter consumptivo1. Em 24 de Março de 1882, Roberto Koch,
comunicava a sociedade Médica de Berlim a sua grande descoberta: o bacilo causador da
tuberculose já havia sido identificado1. A tuberculose foi uma causa de morte na Europa e nos
Estados Unidos da América (EUA), até o início do século XX, desafiando e ocupando a posição
de maior destaque na medicina de Hipócrates e de Roberto Koch1,3.
A tuberculose (TB) é uma doença infecto - contagiosa de evolução crónica, de amplitude mundial
e seu principal agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, identificado em 1882 por
Robert Koch. Esta enfermidade pode resultar da reactivação de uma primo-infecção ou pode ser
decorrente de infecção recentemente adquirida.
A TB é causada por um bacilo aeróbio denominado Bacilo de Koch (BK), que se propaga através
do ar, por meio de gotículas contendo os bacilos expelidos por um doente com tuberculose
pulmonar ao tossir, espirrar ou falar em voz alta. Quando estas gotículas são inaladas por pessoas
sadias, provocam a infecção tuberculosa e o risco de desenvolver a doença1, 2,3,6,8.
12
1.1.3 - Fisiologia, Estrutura e Virulência do Bacilo de Koch (BK)
Existem dois tipos de tuberculose: Tuberculose pulmonar, em que o local de infecção são os
pulmões e Tuberculose extrapulmonar, aquela que afecta qualquer órgão do corpo, fora dos
pulmões, como por exemplo: pleura, linfonodos, ossos, epidídimo, gânglios, tuba uterina, olhos,
pele e outras partes do corpo1,11.
1.1.5 – Epidemiologia
1.1.5.1-Tuberculose no Mundo
13
casos em 2011 e 1,4 milhões de mortes por tuberculose (990 000 entre HIV negativo e 430 000
mortes associadas ao HIV\TB) 26.
Em África, cerca 15% das mortes associadas ao HIV são causadas por tuberculose e mais de 50
milhões de pessoas estão infectadas com HIV e com M. tuberculosis.26 Esta região possui mais
de ¼ de todos os casos de Tuberculose reportados no Mundo inteiro e é único continente onde a
taxa de infecção por esta doença aumenta cada vez mais. Dos 15 países com a mais alta
incidência estimada da TB no mundo, 12 estão em África.
Em 2003, a Região Africana com apenas 11% da população mundial, do total de casos de TB
notificados no mundo inteiro, 27% correspondiam a esta região, no mesmo ano a mais alta taxa
de notificação da TB (719 casos por 100.000 habitantes) foi registada na Região Africana
(Swazilândia). A Região Africana foi a pior das 3 regiões epidemiológicas da OMS devido a
maior incidência da TB12.
A TB ainda constitui um sério problema de saúde pública em Moçambique, sendo uma das
principais causas de morbimortalidade da população no País.12 Estimativas feitas pela OMS
indicam um agravamento de não adesão nos anos 2005 e 2006, este agravamento é testemunho da
taxa de incidência de 447 para 460 casos novos por 100.000 habitantes de 2005 para 2006,
respectivamente13.
Em 2007, Moçambique foi o 19° país com elevado número de casos de TB, dentre os 22 Países
com maior peso da TB no mundo, com a incidência de todas as formas de TB de 431 casos novos
por 100.000 habitantes, a incidência de casos novos com baciloscopia positiva de 174 casos
novos por 100.000 habitantes, a taxa de prevalência de TB em Moçambique de 504 casos por
100.000 habitantes, a taxa de mortalidade de 127 mortes em 100.000 habitantes, a
seroprevalência do HIV nos pacientes com TB de 47%12. Em 2010, em Moçambique a taxa de
abandonos foi de 4.2% todos casos da TB28.
14
Tabela I - Comparação dos Resultados de Tratamento da TB entre Províncias em 2005
Taxa/Província %
Sofala Tete Zambézia Nampula Cabo Delgado
Taxa de Cura 79.3 79.8 77.9 86.1 85
Taxa de 4.8 2.5 5.7 6.7 6
Abandono
Taxa de Óbito 13.7 11.8 10.9 5.5 7.3
Taxa 6.7 6.3 9.4 8 7.3
desfavorável
Fonte primária12
As gotículas mais pesada são depositadas no chão e as mais leves ficam em suspensão no ar,
essas podem ficar suspensas por longos períodos e carregadas por correntes de ar, disseminando-
se por todo o ambiente ou outros locais com aglomeração da população4,5,6. Cada doente com TB
pulmonar/ laríngea BK+, infecta 10-12 pessoas por ano, destas 10% (HIV-) e 50% (HIV+)
desenvolvem a TB doença. Doentes com TB pulmonar com BK-, infecta 1-2 pessoas por ano11.
15
1.1.7 - Patogenia da Tuberculose
A infecção latente acontece caso os bacilos não sejam destruídos, eles proliferam no interior dos
macrófagos libertando as citoxinas que atraem outras células inflamatórias iniciando uma reacção
local com a formação de um granuloma (nódulo de Gohn). Dependendo da imunidade celular
adquirida, há controlo da proliferação dos bacilos não existindo portanto a progressão da TB
doença, como acontece em 95% dos casos.
Cerca de 95% das infecções latentes passam desapercebidas deixando apenas a positivação do
teste tuberculínico (TB secundária). Nos 5% restantes das infecções em que a resposta
imunológica não foi suficiente para deter a proliferação do bacilo de Koch (BK), desenvolve-se
TB primária geralmente nos primeiros 5 anos após a primo-infecção1,8,9,21.
A profilaxia para exposição pode incluir a isoniazida por 9 meses. Rifampicina por 4 meses, ou
rifampicina e pirazinamida por 2 meses, pirazinamida e etambutol ou levofloxacina são usados
por 6 a 12 meses após a exposição a Mycobacterium tuberculosis4,8. Imunoprofilaxia com Bacilo
de Colmette e Guérin (BCG), em países endémicos. Controle da doença através da vigilância
activa, intervenção terapêutica e profilática e cuidadoso monitoramento de casos3.
A protecção individual faz-se mediante máscaras faciais denominadas de Protecção Facial Fitro-2
(PFF2) ou tipo N95 em profissionais que lidam com doentes de tuberculose5. O sol, através dos
raios ultravioletas, mata o BK em 5 minutos. Assim, manter as casas bem ventiladas e deixar
entrar os raios solares, constituem medidas acessíveis e eficazes contra a transmissão da TB1,27,28.
16
1.1.10- Diagnóstico da Tuberculose
Os sintomas respiratórios suspeitos de TB não são específicas da TB, pois muitas patologias
respiratórias podem apresentar sintomatologia semelhante e, por isso, devem fazer parte do
diagnóstico diferencial da Tuberculose27.
17
1.1.10.2.2 - Cultura
Este é um dos grandes problemas actuais, pois devido a pandemia do HIV/SIDA, os doentes com
TB e infectados com o HIV têm uma probabilidade maior de terem TB pulmonar com
baciloscopia negativa. Contudo, embora a TB pulmonar seja muito frequente, nem todos os casos
de queixas respiratórias em doentes com HIV/SIDA são casos de tuberculose e tem que se pensar
noutras patologias respiratórias em especial as pneumonias, antes de avançarmos para o
tratamento da TB28.
A prioridade é iniciar o Tratamento Anti-TB (TAT), pois o início tardio do TAT tem mau
prognóstico. Com base nos vários estudos, o TAT deve ser iniciado como emergência dentro de 2
semanas antes do início do TARV em doentes com TB com contagens de CD4 inferiores a 50
cels/mm3 e o mais cedo possível (entre as 2 e 8 semanas) antes do início do TARV em todos os
outros casos de TB/HIV12,28.
18
1.1.11.2- Tratamento Preventivo com Isoniazida em Adultos
Fármacos da 1ª linha - são aqueles que possuem alto índice de eficácia/ risco pelo que
devem ser empregados em primeiro lugar, são eles a estreptomicina, o etambutol, a
isoniazida, a pirazinamida e a rifampicina20.
Fármacos da 2ª Linha – são aqueles cujo índice eficácia/ risco é menor pelo que pode
resultar muita toxicidade em relação aos anterior ou a resistência desenvolvida os “deixa
fora do jogo”20. São eles: canamicina, amicacina, capreomicina, etionamida, cicloserina,
ácido p-aminossalicílico5.
19
Tabela II: Fármacos Anti-tuberculosos de Primeira Linha
Icterícia
Fonte primária 3
Legendas:
20
Tabela III: Fármacos Anti-tuberculosos de Segunda Linha
Legendas:
ADN - Ácido Desoxirribonucléico;
ARN – Ácido Ribonucléico
21
1.1.13- Objectivos do Tratamento da Tuberculose
São os objectivos de tratamento da tuberculose: Curar o doente com TB, restabelecer a qualidade
de vida e a produtividade, prevenir a morte por TB activa ou suas sequelas, prevenir as recaídas,
recorrências e falências, diminuir a transmissão da doença na comunidade, evitar a progressão da
infecção com o HIV, prevenir o desenvolvimento da resistência adquirida aos medicamentos e
prevenir as sequelas de TB11, 28.
O tratamento é feito mediante a terapia prolongada com múltiplas drogas para prevenir o
desenvolvimento de cepas resistentes a drogas, o tratamento dura 6 meses e é constituída por
duas fases: Fase intensiva, com duração de dois meses, constituída por quatros fármacos,
isoniazida (H) rifampicina (R), etambutol (E) e pirazinamida (Z) e fase de manutenção,
constituída por isoniazida e rifampicina por quatro meses3,11,8,13,15,19.
22
2DFC: R (Rifampicina – 150mg) + H (Isoniazida - 75mg).
23
1.2- ADESÃO AO TRATAMENTO
A primeira alusão à importância do cumprimento das prescrições médicas foi feita por Hipócrates
há 2400 anos. Deste modo a adesão ao regime terapêutico, adesão terapêutica ou ainda adesão ao
tratamento são diferentes modos de nomear a mesma entidade29.
“O termo adesão será utilizado como uma relação onde o paciente consegue compreender a
própria condição, os aspectos básicos de sua doença e a importância de sua adesão e não apenas
para melhorias do quadro clínico individual, mas também no contexto da história da doençaʼʼ29.
Na actualidade surge o termo adesão parcial que se refere a situações em que o doente
não manifesta uma adesão total. Exemplo desta situação é quando o doente toma a dose
na hora errada ou a dose incorrecta. A adesão parcial pode ser intencional e acontece
frequentemente numa fase mais aguda da doença (e.g. quando se sentem pior tomam a
medicação e, ao contrário, quando não há sintomatologia, ignoram o tratamento
medicamentoso). A adesão parcial não intencional é mais comum em idosos e crianças e
é causada pelo esquecimento da dose prescrita (causa mais comum), pela confusão nos
esquemas de tratamento, rótulo impreciso e/ou incapacidade de abrir as embalagens30.
24
1.2.1- Não Adesão ao Tratamento
Pode ser considerada como “universal”, estando relacionada com diversos factores relativos ao
profissional de saúde, ao tratamento, à patologia e ao doente. São exemplos de não adesão ou não
cumprimento do regime medicamentoso, o facto de o doente não comparecer às consultas
médicas e não seguir as mudanças no estilo de vida recomendadas29.
Os comportamentos de não-adesão devem ser entendidos como respostas dos indivíduos à falta
de coincidência entre as suas ideias e as dos profissionais de saúde relativamente aos seus
problemas ou tratamentos30.
A não adesão terapêutica pode ser classificada em intencional, quando o doente não
cumpre o tratamento, apesar de o conhecer, ou não intencional, quando este não
compreende a informação prestada pelo profissional de saúde, quando se esquece ou
sente dificuldade em gerir a medicação, muitas vezes resultado de má comunicação entre
30
o doente e o profissional .
Os métodos para avaliar a adesão dos doentes ao regime terapêutico são inúmeros, agrupando-se
em directos e indirectos.
25
1.2.3- Factores que Facilitam Adesão
Criação de equipas de saúde que vão a busca dos faltosos, a ajuda psicológica e financeira por
parte dos familiares ao paciente6,29.
Também fazem parte dos aspectos que facilitam a adesão ao tratamento da tuberculose, a
introdução de medicamentos em doses fixas combinadas (DFC) e regime terapêutico de curta
duração12.
A não adesão é hoje conhecida como a principal causa para o aumento da morbilidade e
mortalidade, redução da qualidade de vida, aumento dos custos médicos e excesso da utilização
dos serviços de saúde. Dentre os factores que condicionam a não adesão destacam29:
Os homens prevalecem com taxa de abandono de 17,3% comparativamente com as mulheres com
uma taxa de 9.3% com um proporção de 74,3% em relação ao total do abandono, e quanto a cura
predomina as mulheres com uma taxa de 76,1, foi verificado a prevalência de tuberculose mais na
faixa etária de 31 a 40 anos3.
27
1.2.6- Consequências do Abandono do Tratamento da Tuberculose
Tudo na saúde tem o seu impacto, no actual cenário da luta contra a tuberculose um dos aspectos
e mais desafiadores é o abandono do tratamento pois repercute no aumento dos índices de
mortalidade, incidência e estirpes multi-droga-resistentes3.
O portador de tuberculose que não adere à terapêutica permanece como fonte de contágio11. O
tratamento incompleto ou irregular afecta acura, leva à resistência medicamentosa e compromete
o controlo da tuberculose aumentando o tempo e o custo do tratamento21,26.
O PNCTL trata em média anual 515 pacientes com Tuberculose de todas as formas, associada e/
ou não ao HIV/SIDA, diagnosticados nesta unidade sanitária ou vindo das outras. Este programa
contém 26 activistas preparados para palestrar em dias alternados em comunidades e em buscas
activas dos pacientes faltosos. O programa conta com dois profissionais que atendem todos os
casos da Tuberculose e Lepra.
28
1.3.1- Tratamento da Tuberculose no PNCTL do Centro de Saúde 1º de Maio
O tratamento é feito mediante fármacos que apresentam-se em forma de 4DFC (4 Doses Fixas
Combinadas) administrados a cada paciente durante 2 meses assistido pelo profissional de saúde
competente nos dias em que o paciente vem levantar os medicamentos na US e pelos activistas
nos dias em que este faz o tratamento em casa e 2DFC (2 Doses Fixas Combinadas)
administrados a cada paciente durante 4 meses assistido pelo profissional de saúde competente
nos dias em que o paciente vem levantar os fármacos tuberculostáticos na US e controlado por
activistas nos dias em que o paciente faz o tratamento em casa. Para além da dispensa dos
medicamentos antituberculosos, o PNCTL também é responsável pela dispensa dos
medicamentos para tratamento da lepra.
Para cada paciente nesta unidade sanitária recebe medicamentos na segunda, terça e sexta-feira
(três vezes numa semana) durante a fase intensiva que tem a duração de 2 meses e quarta-feira
(uma vez numa semana) durante a fase de manutenção, com duração de 4 meses, perfazendo os 6
meses de tratamento da tuberculose, casos novos com exame de BK+, facto que obriga o
aparecimento semanal de cada paciente no PNCTL para levantar os medicamentos.
A adesão ou não adesão verifica-se de duas maneiras, pela presença ou ausência do paciente no
dia de levantamento dos medicamentos e pelo abandono ao tratamento. Define-se como faltoso, o
paciente que não se faz presente no dia de levantamento de medicamentos no PNCTL, marcando-
se com um X (presença) no quadradinho de cada tabela de uma das fases de tratamento na Ficha
de Tratamento de Tuberculose e no caso contrário coloca-se F (falta). O abandono ao tratamento
refere-se aos pacientes que não vem levantar os seus medicamentos no PNCTL pelo menos há 2
meses consecutivos.
29
4-TEMA
4.2- Justificativa
A tuberculose é uma das principais causas de morte em Moçambique e afecta adultos, jovens e
crianças e sobre ela determinadas interpretações são construídas e buscam dar sentido a uma
doença com a qual os indivíduos se relacionam no quotidiano. Por necessitar de um longo
tratamento, tem sido uma ”dor de cabeça” para muitos governos, devido diversas discrepâncias
na aderência da sua terapia, levando as vezes muitas consequências que até culminam com a
morte. O tratamento incompleto ou irregular afecta a cura, leva à resistência medicamentosa e
compromete o controlo da tuberculose aumentando o tempo e o custo no tratamento21,26. O
indivíduo que não adere ao tratamento da tuberculose permanece como fonte de contágio11.
Estimativas feitas pela OMS indicam um agravamento de não adesão nos anos 2005 e 2006, este
agravamento é testemunho da taxa de incidência de 447 para 460 casos novos por 100,000
habitantes de 2005 para 2006 respectivamente6. Em Moçambique, a taxa de prevalência também
aumentou de 597 para 639 casos por 100.000 habitantes de 2005 á 2006 respectivamente6,11.
30
Em 2007 Moçambique ocupou o 19° lugar com elevado número de casos de tuberculose dos 22
países com maior peso da TB no mundo, neste período registou-se um aumento de 38.044 para
45.493 casos novos de tuberculose, dos quais 19.579 (47%) representam os casos mais
infecciosos da doença6. A introdução de regimes de curta duração e adopção da estratégia DOTS,
melhoram a adesão ao tratamento da TB, fazendo com que a taxas de cura, de abandono e de
óbito passassem de 83% para 83.6%, de 4.6% para 4.2% e de 10.2 % para 8.3% em 2006 a 2010
respectivamente, em todos casos diagnosticados11.
31
5- OBJECTIVOS
32
6- METODOLOGIA DO ESTUDO
Escolheu-se a população alvo de acordo com os objectivos da pesquisa, sendo esta, pacientes
ambulatórios com tuberculose, classificada como caso novo, com exame de baciloscopia positiva
(BK+), tratados no período entre Janeiro de 2013 a Abril de 2014 no PNCTL, instalado no Centro
de Saúde 1º de Maio na cidade de Nampula. Seleccionou-se de forma convencional 174 pacientes
por meio de Fichas de Tratamento de Tuberculose.
Dos 174 indivíduos analisados 114 foram do sexo masculino e 60 do sexo feminino
representando 65.5% e 34.5% respectivamente. O estudo realizou-se no período entre 15 a 30 de
Maio de 2014.
33
6.4- Critério de Exclusão
Não fizeram parte do estudo mediante Fichas de Tratamento de Tuberculose (anexos II), todos
pacientes com idade inferior a 18 anos e superior a 72 anos de idade, pacientes com exames de
baciloscopia negativa no inicio do tratamento, pacientes óbitos, pacientes transferidos, pacientes
em retratamento, fichas de pacientes com dados incompletos, fichas degradadas e fichas com
dados invisíveis.
Considerando que não houve contacto directo com os pacientes, não se precisou de apresentação
individual de paciente, não foi necessário o exame do paciente, não se utilizou o nome do
paciente. O trabalho foi realizado mediante a apresentação de uma credencial no Centro de Saúde
1º de Maio (Anexos I).
6.6-Material e Métodos
Para a recolha de dados, elaborou-se uma ficha de recolha de dados (Apêndice I), em folha de
tamanho A4 contendo o sexo, ocupação, número de faltas e abandonos. Para o registo de dados
usou-se lápis, borracha e caneta.
Para além das técnicas de colecta de dados descritas acima, fez-se a consulta bibliográfica que
consistiu na busca, leitura e análise das informações inerentes a tuberculose em alguns manuais e
obras de ciências médicas, existentes na biblioteca da Universidade Lúrio, Faculdade de Ciências
de Saúde, também usou-se as fontes da Internet.
Após a colecta, os dados foram compilados e tratados no sistema Microsoft Office Excel 2007 e
em seguida apresentados em tabelas e gráficos.
34
7- APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Intervalo de 0 – 10 10 – 20 20 – 30 30 - 40 40 – 50 50 – 60 Total
Faltas %
Fases de Int Man Int Man Int Man Int Man Int Man Int Man
Tratamento
Sexo Masculino 2 8 2 3 0 2 0 1 0 1 0 0 79.2
Feminino 0 2 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 20.8
Total 2 10 2 4 0 3 0 1 0 1 0 1 100
Fonte do autor
Legendas:
Int – Intensiva;
Man – Manutenção.
Dos 5 pacientes do sexo feminino, nenhum teve faltas no intervalo de 0 a 10 faltas, na fase
intensiva e 2 tiveram na fase de manutenção. No intervalo de 10 a 20 faltas, nenhum dos 5
35
pacientes do sexo feminino teve faltas na fase intensiva e apenas 1 teve na fase de manutenção, a
semelhança daquilo que se verificou no intervalo de 20 a 30 faltas. No intervalo de faltas de
30,40,50, dos 5 pacientes deste sexo, nenhum teve faltas na fase intensiva, assim como na fase de
manutenção. Finalmente, no intervalo de 50 a 60 faltas, nenhum dos 5 pacientes do sexo
feminino teve faltas na fase intensiva e apenas 1 teve na fase de manutenção. O total percentual
dos indivíduos com faltas foi de 79.2% que correspondem a 19 homens e 20.8% que
correspondem a 5 mulheres. (Tabela V)
Masculino 15 75
Feminino 5 25
Total 20 100
Fonte do autor
Legendas:
No- Número de indivíduos;
36
Tabela VII: Relação entre Ocupação com Faltas no Tratamento da Tuberculose
Legendas:
No- Número de indivíduos.
Quanto a relação entre a ocupação com faltas no levantamento dos antituberculosos, a tabela
indica que dos 24 pacientes faltosos, 3 são domésticos, igual número de professores que
corresponde a 25% da amostra. Destes 2 são estudantes, igual número de polícias, motoristas e
vendedores, que correspondem a 33.2% da amostra. Dos mesmos, 1 é enfermeiro, igual número
de carpinteiros, mecânicos, médicos tradicionais pintores e pedreiros, perfazendo 25.2% da
amostra. Finalmente, destes, 4 são camponeses, correspondendo a 16.6% da amostra. (Tabela
VII).
37
Tabela VIII: Relação entre Ocupação com Abandono ao Tratamento da Tuberculose
Legendas:
No- Número de indivíduos.
Quanto a relação entre a ocupação com o abandono no tratamento da tuberculose, a tabela indica
que dos 20 pacientes que compõem a amostra em análise, 2 pacientes domésticos, abandonaram o
tratamento, igual número dos professores e vendedores, que corresponde a 30% da amostra.
Destes, 3 são estudantes, que corresponde a 15% da amostra.
38
Tabela IX. Relação entre Sexo com Adesão ao Tratamento da Tuberculose
Sexo Aderentes (No) Percentagem (%) Não aderentes (No) Percentagem (%)
Masculino 80 70.2 34 29.8
Feminino 50 83.3 10 16.7
Total 130 44
Fonte do autor
Legendas:
No - Número de indivíduos.
Quanto a avaliação da adesão em relação ao sexo, a tabela ilustra que 80 dos 114 pacientes do
sexo masculino, aderiram o tratamento, que corresponde a 70.2% e 50 dos 60 pacientes do sexo
feminino, aderiram o tratamento, que corresponde a 83.3% (Tabela IX).
39
Gráfico I: Taxa Acumulativa de Adesão ao Tratamento da Tuberculose
Fonte do autor
40
7.2-Análise e Discussão dos Resultados
A literatura parafraseia que, os factores sócio-demográficos tais como a idade, o sexo e o estado
civil influenciam na adesão ao tratamento de uma doença crónica, bem como, os factores
relacionados com o tratamento em que se incluem, a duração, a ausência imediata de melhoria
dos sintomas e os efeitos secundários da medicação, assim como desaparecimento imediato de
sintomas, onde a maioria dos pacientes ganham uma sensação de melhorias durante o
tratamento29. É provável que o factor sexo, bem como a sensação de melhorias na parte dos
pacientes durante o tratamento da tuberculose, tenham influenciado nas faltas no levantamento
dos tuberculostáticos, prejudicando assim a adesão, visto que os resultados deste estudo,
demonstram maior número de pacientes do sexo masculino faltosos (19), quando comparados aos
pacientes do sexo feminino (5) e a maioria das faltas foram verificadas na fase de manutenção,
onde também é provável que estes pacientes tinham uma sensação de melhorias no tratamento da
doença (Tabela V).
No que diz respeito ao abandono em relação ao sexo, o estudo mostra maior número de
abandonos no tratamento da tuberculose em pacientes do sexo masculino, quando comparado ao
sexo feminino, correspondendo a 75% e 25% respectivamente (Tabela VI). Os estudos quase
semelhantes, feitos no Brasil em 2008, indicam que os homens prevalecem com uma proporção de
74,3% em relação ao total do abandono, quando comparados com as mulheres3.
Quanto a relação entre ocupação com faltas no levantamento dos antituberculosos, os resultados
mostram maiores percentagens em pacientes camponeses, professores e domésticos, com 16.6%,
12.5% e 12.5% respectivamente em relação aos pacientes com outras ocupações diferentes, é
provável que o tipo de ocupação tenha influenciado nas faltas no levantamento dos
tuberculostáticos. (Tabela VII). O estudo semelhante realizou-se se em Portugal no ano 2011, que
diz que os factores como a situação profissional, influenciam na adesão ao tratamento da doença
crónica29.
No que diz respeito a relação entre ocupação com abandonos, os resultados indicam que os
pacientes camponeses lideram com maior taxa de abandonos de (35%), seguido dos estudantes
com 15% (Tabela VIII). É provável que o tipo de ocupação tenha influenciado nos abandonos ao
tratamento da tuberculose.
41
A semelhança do estudo feito no Brasil em 2010,que diz há maior percentagem dos abandonos
em pacientes muito ocupados quando comparados dos menos ocupados3.
Segundo estudos realizados pela Organização Mundial Saúde em 2003, revelam que os factores
tais como, a idade, sexo, educação, ocupação, rendimentos, estado civil, raça, religião, etnia e
vida urbana versus rural não têm sido claramente associadas à adesão31.
O estudo mostra maior adesão em pacientes do sexo feminino (83.3%), quando comparado aos
pacientes do sexo masculino (70.2%) (Tabela IX), o que é provável que no contexto
moçambicano a grande maioria dos homens é ocupado em relação as mulheres, podendo deste
modo fracassar na adesão a terapia antituberculosa.
42
8- CONCLUSÃO
43
9- LIMITAÇÕES DO ESTUDO
É provável que haja registo de casos de óbitos como abandonos durante o tratamento;
44
10- RECOMENDAÇÕES
Que se realize estudos que aprofundem as causas de não adesão ao tratamento da tuberculose;
Recomenda – se que, se efectue as buscas activas dos faltosos mais rápido possível.
45
11- BIBLIOGRAFIA
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Representações Sociais da Tuberculose no Bairro de Mavalane na Cidade de Maputo. [acesso
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107-114).
48
12- ANEXOS
Anexo I
Fonte primária
49
Anexos II
Fonte primária
50
13- PÊNDICES
Fonte do autor
51
ÍNDICE
1-INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11
4-TEMA ........................................................................................................................................ 30
5- OBJECTIVOS ........................................................................................................................... 32
52
6- METODOLOGIA DO ESTUDO .............................................................................................. 33
8- CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 43
11- BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................... 46
53