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Diet Deone «Phas (1980) A Frolucc. den Tdeies CexSrctar 7 A REVOLUCAO MARGINAL E O TRIUNFO NEOCLASSICO HE 2- Boole & geralmente aceito que os brita- nicos da. pri eonstituiam uma escola identificdvel de pensamento econémico, Compartilha- vam um quadro caracteristico de idéias econdmicas, confi- gurado por um conjunto particular de axiomas e teorlas e geralmente earacterizado por uma forte ontsgéo no gen- Ho de poliieas geauArleas que tavoreclam o individualism econémico e o laissez-Jaire. Pode-se questionar s€ ssa escola de pensamento constituia uma “comunidade.cientifica”, no sentido em que T. 8, Kuhn usa o termo em sua anilise da estrutura das revolucées cientificas, ou se seria melhor des- crita como uma “escola pré-paradigmal”. Na concepgio de ‘Kuhn, uma comunidade-cientifica consiste nos profissionais de uma espeefalidede-eientifica que compartilham um. para- digma comum. “Numa extensio sem paralelo nf maloria dos outros campos, eles passaram por educagées e iniciagées profissionais similares; no processo, absorveram a mesma literatura téeni extraindo muitas das mesmas licoes, Usualmente, as fas dessa literatura padrdo maream 0 limite de uma matéria elentifica”. 1 Certamente, os economistas do século XIX retiraram es suas suposigdes ¢ técnicas basieas das mesmas fontes textuals 1, §, Kuhn, The Strusiure of Setentifie Revolutions (1969), p. 177. ‘A Revourgho Manonvat, — Adam Smith, David Ricardo, Nassau Sentor e John Stuartz: ‘Mill constituindo os principals elos numa continuldade. dee: pensamento claramente perceptivel — embora ainda néo® houvesse uma educagéo formalmente reconhecida para um’ economista.: A dtivida, porém, no é se a comunidade de eco- nomistas do século XIX compartilhou “educagies e iniclaé: ges profissionais similares”, mas se eram profissionais de.. uma especialidade cieritificd. A duvida permanece no sé, culo XX, apesar do fato de que os economistas, agora, rarae. mente debatem a questo “a Economia é uma ciéncia?” que, tipicamente, proporcionava a aula inaugural de cursos uni- versitérios da teoria econdmica até a década de 1930. © pro- blema bisico na identificagéo da comunidade cientifica de economistas € que a Economia nfo era (é) uma prerrogativa, exclusiva de um grupo de tedricas académicos e pesquisado- res empiticos (amadores ou profissionals), mas um ativo interesse de um conjunto heterogéneo de jornalistas, ban- queiros, furieionérios ptiblicos, politicos e outros, cujas ten- tativas visando a explicacHo e/ou proviso objetiva do com- portamento econdmico Ihes dio o mesmo direito de fazer par- te da comunidade intelectual de economistas que os acadé- micos possuiem, Uma_revolucio intelectital ou_clentifica na Economia envolve a conversa desse grupo mais amplo anova ‘ortedoxia, assim como dos professores académicos e dos pes quisadores ue trabalham sob a sua supervisio, & isso, na verdade, 0 que esta iraplicito no termo_revolucio marginal aplicado pélos historiadores do pensamento econémico as mondancas metodolégicas que ocorreram na Economia orto- doxa nos Witimos vinte € cinco anos do século XIX. As décadas de 1850 e 1860 foram um periodo de relativa prosperidade para a evondififa britanica e de relativo con- senso (ou complacéneia) no pensamento econémico britani- co, Embora as teorlas ricardianas do valor e da distribuico estivessem sujeitas a um ataque influente, a andlise de Ri ‘eardo dos beneffelos do_comércio internacional, suas concep- ges sobre politica monetér orientagio ideolégiea em favor de uma economia individualista de livre mercado, que herdara de, Adam Smith, ainda dominavam 0 pensamento ezondmico ortodoxo. O Clube de Economia Politica comecara, ‘a debater questées do tipo “Ricardo estava certo...” pou- os anos dépois da morte do mestre, mas os principals eco- nomistas —; Nassau Senior, John Stuart Mill e mesmo Karl 330 A Evotupio pas Intzas Boonduacss Marx — aceltavam a sua “autoridade” original, ainda que muitas vezes dele discordassem em detalhes e, algumas ve- zes, de um modo bastante geral. Observando-a , pode- se perceber as crescentes rachaduras na fachada da Economia Politica eldssiea. Nassau Senior J havia reln- frodtaio & nogie de ublidede iretainente ot ‘em sua teoria do valor da yy Jevons apresentara a sua “Breve Explicacéo de uma Tera Matematica Geral da Eco- nomia Politica” & Associacéo Briténica para o Avanco da Ciéncia em 1862. Mas pouca atengio foi dada a ambas essas mudangas de énfase que se afastavam de uma teoria-ia-ya- baseada_exclt er verdes ao trbalao de Gomer o sties somo que publicara em 1854 um livro que elaborava duas leis basicas — (1) o principio da utilidade decrescente; e (2) a maximi- zacio das satisfagdes como 0 alvo de toda a conduta humana —e as formulava em termos totalmente geométricos e algé- bricos, ¥ como se o tempo tivesse de estar maduro para a acel- tagiio de um novo paradigma, e quando o tempo estava ma- duro tal paradigma emergiu de um modo indepen- dente e simulténeo em varios lugares. Em_187J, Je- vons publicou a sua Teoria da Economia Politica, que era uma tentativa de produzit uma teorla da ciéncia_explici tae mente_mateméatica, inspirada pelo célculo da felicidade de Bentham.2 No mesmo ano, o economista austriaco Meng produziu os seus Prinefpios de Economia, que tambelt abo. Tavam uma teoria subjetiva do valor. Como Jevons, Menger fez a sua teoria do valor depender da utilidade marginal como © determinante das razdes is quais as bens_eram trocados, embora no fosse matematico e se baseasse numa légica ver- bal muito precisa. Finalmente, em 1874, e novamente de um modo independente, o economista francés Walras publi- cou os seus Elementos de Economia Pura que apresentavam maig-como Um_conjuinto de fungies-de-demanda_e-ofecta com_um equilibrio determinado; ‘trés anos mais tarde, pu- “—Blicou a-segunda parte dessa obra — uma teorla da ‘pro- 7 R. D.C. Black, “Jevons, Marginalism and Manchester”, Man- 7, desereve-a como “uma teoria de Morgan ¢ 0 edlculo da felleidade de Bentham". @ AA Revoust Maovsnt duc&o qué aplicava as mesmas téenicas de andllse do equl-— eee. ab te Cambhdge, Allred Mare ae priugao, Ab mesmo tempo, ent Cambrage, shall entio ensinando Economia Polftica aos estudantes de ‘Cambridge que se preparavam para o exame de distingéo em Ciénetas Morais na década de 1870, j4 havia comecado a ene A chamada revolucio_marging! envolveu uma ampla transformacio_da_metodologla caracteristica da Economia analitiea, por intermédio do que constituia, essenclalmente, um insttimento matemético derivado do calcul, “A Teo- ria da Economia assim tratada”, escreveu Jevons no Prefé- cio da primeira edigao de sua Teoria da Economia Politica, apresenta uma grande enalogia com a cléncla da Mech mies statics, e as Lels da. troca sip visias-come-seme- Thantes £2 Leis do Equilibria ge ume alavanca, conforme Xs determinadas pelo principio das yelcidades virtuals. A x Maburere-de-Riauem edo Valor é.explicada pela comsl- ‘e-Wor,-da_mesma forma quest : incinidamente pe-| ‘apolabrse=ne-igudigade- de montantes ‘Também para Walias, a analagla consciente cama clén- cig, Helen eo concoite-central deequsiliheio eram tragas.essen- ciais de um novo tipo de metodalogia que ajucava a deter- minar, néo s6 as técnicas de anélise apropriadas a tearla-eco- némies, yas também, no fim, o tipo de questdes sobre as quais 0 tedrico normaimente se concentrava. Detnl . ok nomlaspura (isto é, 2 Economia tedrica, em conteaposisi Beonomig-splieada’ou Economia social) como uma ‘sinus “Cisiccuundtematica’"ideologicament mente—voltada-pare-a “teotiada- determinacio, das prevos I Sugit Levou o imsirumental marginal 4s suas conclusées l6gico-mat 9s, aplicande-o aos mekcados em geral — e néo simplesmente ao comportamento do consumidor — ligan: do assim os mercados de hensaos mereados de_tatores de 3 WS, Jevons, Theory of Political Economy (18717, 44 ed,, 1911, 132 ‘A Evouv¢ho nas Iniias Eoondacroas producéo, num sistema de equacées mutuamente dapenden- tes, relacionando precos © quantidades. A sua contribulcio ma, emi ‘de um equilibrio de mercado tinico e determinado, e estivesse fundamental mente interessado nos mercados de bens de consumo, também estava tentando descayolyer uma teoria_econémica_geral, ~) baseada_na_anélise marginal e focalizada nos_problemas—de | determinacto dos precos em mercados competitivas. fécil enfatizar excessivamente 0 coneeito de uma “re volugio marginal” na teorla econémica, atribuindo-a funda- mentalmente a trés pensadores Inovadores, cada um deles publicando sua obra de um modo repentino e independente, aproximadamente na mesma época (Inicio da década de 1870), e estabelecendo nessa “descoberta miiltipla” a origem de uma transformagao né cas, valores, técnicas, etc., compartilhada pelos membros” da_ Comunidade cientifica de economistas. Aqueles que inter- pretam a revolucio margina) dadécada_de1370 como uma miudanca de patadigma representou uma desastrosa fuga aos problemas reais que se apresentam aos economistas — um afastamento da Economia Politica socialmente “relevante”” sn.direede-e-um_formalisma.estéril. Oy_acreditam que fol oe a rt fica que, pela u-se uma teoria testdvel — néo 86 logica- no mais rigoroso sentido matematico do sm empirieamente testdvel. Ambas as es- colas de pensamento podem ser confirmadas em suas con- viegdes co se 0s postulados ideolégicos que ten- inente sobre os agentes da ‘“descoberta mais livremente, sobre os seus dise{pulos. ‘Ao que parece, a revolugdo margina} na Economia ajus- tase com alguma aq_grande papel ie uma tau. Gangactotal-de Gestalt. im primeiro lugar, os “cosas da_chamada revolucio — Jevons, Walras.e Menger — compartilhavam a mesma constelagdo de crencas, valores, 5 Ver T. 8. Kuhn, op. cit, (1969), p. 175. 8 A Revowugio!Maronat 133 dores fossem mesmo marginalistas, no sentido em que esse termo 6 geralmente aplicado a Jevons, Walras e & escola ned cldssica em: geral.6 Em segundo lugar, a sua influéncia dire. ta sobre o desenvolvimento subseqtiente das concepeées dos economistas ortodoxos acerea do campo ¢ da, metodologia da Economia fol claramente bastante Iimitada. Jevons, que more reu antes dos 60 anos, fieou conhecldo entre os seus contem- porfineos mials como um economista pratico do que como um tedrico, e aisia Teoria da Economia Politica jamais se tornou tio amplamente acelta, como texto, quanto os Principios de Mill ow os iPrincfpios de Marshall. 'Waltas revelou-se .dema- siadamente matemético para ser acessivel & maioria dos teé- Ke ricos econdmicos até époces relativamente recentes. Os seus 7] Elementos nfo foram nem mesmo traduzidos para o inglés até_1954. Finalmente, e em terceiro lugar, foram necessé- rios mals de vinte anos para que as inovagbes maetodolégieas associadas & revolugdo marginal exercessem uma influéncla sobre a ortodoxia econémica corrente suficiente para fustl= fiear o ponto de vista de que um novo e sélido paradigma estava-se afirmando, Por otitro lado, a realidade de uma revolugéo ndo de- pende de todos os seus agentes serem inclufdos no mesmo molde — o molde sendo aquele adotado pelos herdeizos da revolug&o — e ainda é verdade que a obra de Jevans, Walras e Menger mareot o inielo de uma_grande.mudanca na_con cépeaia—dos-econamistas. sobreo.campo ¢. 2 motodologia-de- pplina, Essa transformagdo pode ser plausivelmente add como uma mudanca de paradigma no sentido mals restrito do conceito de Kuhn, isto é como uma trans formagao penetrante nos critérios, jes G regras de pro- cedimento ‘tinicos accitas_como_ elosetonamiitas profissionais, que frouxe consigo novas maneiras de formular, classificar e abordar os problemas criticos ndo-resolvidos na. agenda de pesquisa académica, O elemento-chave-para a mu- issler, "To what extont was ‘Sehool mar- Black, Coats e Good < no mesmo simpést 134 A Bvowwcho pas Iotias Eoonourcas danea de paradigma, assim interpretada, fol a aplicacio da Eee caracteristica ‘da andlise marginal. fol ini cialmente aplicada a teoria do valor em termos do conceito _de_utilidade, um coneeito com o qual os economistas classicos estavam inteiramente famillarizados, mas que, em virtude de nfo terem ainda imaginado uma forma de quantiticé-lo, ten- deram a deixar fora de suas teorias do valor e troca. Viu-se entéo que era aplicével As tearias da producéio e distripnicso, tanto quanto as teorlas do valor e troca, ¢ uma vasta Srea de Economia teérica fol assim colocada dentro de seu raio de aleance. Em essénela, como apontou Boulding, a_andlise murginal nada mals era do que uma “descticia detalhada tearla.da-maximizaciio — ou seja, a teoria de que a posigao étima das varidveis de qualquer’ organizagdo econdmica é aquela dada pela posigdo maxima da varlével que mede a de- sejabilidade ou preferéneia”,7 isto 6, utilidade ou produgio, ‘A revolugda_marginal teve signifieativas impliengses, tanto para o campo quanto para a metodologia da teoria econdmica ortodoxa. Pols, 20 wrelonag ao teérico um conjunto conveniente de inetrumentas-anatisleos que eram facil e eficazmente apticados numa vasta gama de-isos, alter rou a orientacio de problemas da ortodexta-econémiea e (no proceso, embora néo necessariamente de um modo delibe- ado) asseelon a essa ortodoxia significativas tendancias. as ¢ idealdgleas, Em resumo, a qnélise marginal vis ‘at a alocacdo mais 5s 0_igualados, isto ¢, os _ganhos_a_serem jobtidos da colocacKo de uma unidade de um recunso.énciim |] uso Bio exatamente igunis As perdas envolvidas em sua retire ‘Isso pode ser aplicado diretamente a varlas.ques- toes. — A aloeacto de uma renda fixa entre uma gama de bens de consumo, ou de um gasto fixo entre um conjunto de fatores de producdo, ou do tempo entre trabalhe-elazer. Toda vez que se obtém retornos deerescentes na colocacio de uma dada unidade de renda, tempo ou recursos produtivos em um uso determinado, o resultado étimo é obtido quando 5 valores sao igualados na margem, Dentro das suposi¢ées convencionais da anélise marginal, pode ser logicamente de- + K Boulding, The Shills of the Economist, p. 34. A Revouugio Manomat, 135 rmonstrado {ue a concorréncla perflta leva & alocagdo eqith ‘Munidos dessa_técnica, 05 economistas neoclassicos fo- ram capazes de produzir uma .explicacio logicamente con- sistente da ‘determinaco dos precos das mercadorias e dos fatores nun sistema de mercado, e de definir as candigdes. para a maximizaco das satisfagdes dos consumidores. Foram: ‘até mesmo capazes, em principio, de quantificar os insumos | produtos ma economia a nivels micro e macro, pois, defi-; ninda_o-xalar, como equivalonte eo_prego-aum-méteada-pete fellamente competitivo, podianr niedii=o valor das saUsatses pilal em termos aditivos objetivos. A fares e o raio de aleance analitieos da_nova técnica, 2 plaustvel simplificidade de sua suposigéo bésica — que 03 consumidores e produtores com portarse-lam naturaimente de modo a maximizar as suas satisfagdes ou lucros num mercado competitive — eram imen~ samente atraentes aos estudantes da Economia “pura”, isto @, aos teéricos académicns que estavam mais a verdade.clentifica, definida como teoria_abstrata, do que aos ‘programas politicos. Nao é de surpreender, portanto, que @ metade de século anterlor & Primeira Guerra Mundial, quando a grtodoxia neocléssica — a_herdeira da_resalugio. ‘marginal — estava efetivamente estabelecida na Gra-Breta~ ha e nos Estados Unidos, tenha sido também o perfodo em que os Iideres da disciplina tenderam a ser académicos com maior freqiiéneia do que em outras eircunsténcias. 8 ‘A despeito de suas origens matematicas, as téenteas x i marginals desenvolvidas nesse perfodo eram plenamente aces: destituidos de formagao numérica; mas, de fato, elas se prestavam prontamente a expresso ¢ abstragéo inatemtieas — uma qualidade que entao (como ety agora) ajudou a atraix para. a profissdo ilustres graduados q em Matematica que passaram a dar grandes contribulgdes & teoria econdmica.9 A medida que a Economia se tornou Snall_nem Heynes possuiam qualtficacdes académlcas rm Economis, Ambos eram Cambridge Wranglers, 1st0 ¢, eradugdos.em Matematica com distingao.de primeira classe ‘ i 136 ‘A Evowugio nas Intias Koondureas: mais profissionalizada e mais académica, os seus tedricos : inovadores tenderam cada ver mais a focalizar problemas " teGricas abstratas e a abstrair seus modelos do mundo real. Ww fo f{qco da andlise marginalera.a mercado, e os teéricos neo- cléssicos, em conformidade com isso, estreitaram .ocampo -tie_sen_chjeta de estudo de modo a se limitarem, quase que exclusivamente, ao, estudo, dos_processos-de-mercado, Con- seqiientemente, embora teéricos neoclassicos individuais pos- sam ter sido, e alguns certamente o foram, téo fortemente estimulados por objetivos politicos e socials quanto qualquer de seus predecessores entre os economistas classicos, eles concentraram a maior parte de sua_atengSa, enquanto eco- nomistas, em_assuntos tedricos abstratos que ndo_tinham qualquer Ugacio-tmediata com as urgentes questées de po- |-litica de agdo da época. Entre as raz6es que Kuhn, em seu estudo das revo- lugGes cientificas nas ciéncias naturais, identificou como tipieamente importantes em induzir uma comunidade cien- vamente os problemas que vieram a ser considerados como crucialmente importantes; (ii) a capacidade do novo paradig- ma para resolver us problemas que levaram 0 sett predecessor & de um modo mais efetivo do que os seus predecessores neocléssicos. Quanto & incidéneia de uma “1 ica”, ha ind meras evidéncias-de um agugamento G3 o.cams | -Po-e.a metodologia da Economia dominante nas décadas de 1870 e 1880. Jevans referiu-se em sua Teoria _da_Ecgnomia | Potitigg & tondtona. repetiggo de doutninasgudstionarels correntes” e, num artigo publicado em 1876, lamentou que “cem anos 2pds a primeira publicacdéo de A Riqueza das Na- g0es, verificamos que 0 estado da cléncia 6 quase calico” Ha certamente menos concordancia agora sobre o que é a Eco- A Revouuglo Manomat, ce aT nomia Politica do que existia hé 30 ou 50 anos atras”. 10 Um ano , em 1877, 0 Professor de Economia Polftica em Oxford; Bonamy Price, estava tio desencantado pelas preten- s6es cigntificas da disciplina que propds suspender a sua'con- tribulefio anual para a Associacdo Briténica para o Avango da Ciéncia. 1 Pode-se argumentar, sem duvide, que as diver-. génclag entre os defensores de paradigmas concorrentey (os Aistoridistas e marginalistas, por exemplo) eram similates as divergénclas anteriores entre Malthus e Ricardo ou entre Senior ‘e McCulloch. Mas estavam numa escala diferente, a rea sobre a qual os protagonistas admitiriam concordancia era menor, a perda de prestigio profissional era maior e a regolucSo do conflito tinha implicagdes mais amplas pata a concepeso ortodoxa da metodologia e campo da eiéncia eco- nomatce, Pofler-se-ia esperar, naturalmente, que as crises metodo- l6gicas'— controvérsias metodolégicas divisérias que polari- zam ag opiniges entre os principals profissionais da disclpll- na — fossem uma ocorréncia freqdente para a Economia, No contexto social, institucional ¢ econdmico em transformagio em que surgem os problemas de politica, a_necessidade de ngvas formas revolucionérias de interpretacio e andlise_da realidade deve aparecer com maior freqiiéncia do que nas cléncias naturais, simplesmente porque a forma e 0 contetido dos problemas de politica econémica que sucessives geragées de formuladores de politica consideram fundamentals mu- dam constantemente. % de surpreender, na verdade, e pode refletir a forga das restricdes ideolégicas sobre a Yberdade de manobra intelectual clentistas sociais, que as re- volugdes na matriz disciplinar do pensamento econdmi- co nao ocorram com maior freqiiéneia do que aparente- mente ocorrem. No caso, 0 fato de que os economistas neoclassicos do periodo até_la14 for zes de manter intacta a orien: tagio classica_para. jualisino. econémico_e. laissez faire, € 0 colorido id ue isso deu as conclusdes de politica deduziveis de suas andlises, podem ter tido mais a conn ibe 138 ‘A Evouuglo nas Inkias Econduicas ver com 0 sucesso do paradigma neocléssico do que as suas qualidades de resolugio de problemas. Os problemas de va- Jor ¢ distrbulgéo que tnhatn preocupado os sleardlanos foram resolvidos, ou, mais precisamente, poder-se-la dizer, tirados de cena, por'um simples processo de definigao. Os prsblemesderresrimanie-fleavam far-do alvance efetivo da ‘Spdlise_marginal, e novas consideragdes sobre eles foram ‘ ‘conselentemente adiadas.12 Ao mesmo tempo, o proprio jar- q 4 capla“dlima” de teeursen, sjuoa a acentaato.aeu cole ido Ideolégico e prestou aparente apoio ‘‘cientifico” a um status quo politico que dependia da aceltacfo de uma filo- Sats ae inaliduatisso eecnamio ¢ neammonia” Foram necessérias duas-décadas, aproximadamente, para ‘predacassaz-cléssico nos livros-textos, vene: } We-weoque,o paradignaa nencléslco comocasse a suplantar © seu safio de seus princinaig rivais na época — os-historicistas. 6 novo lider, contudo, nao fol Stanley Jevons que lancou o pri- meiro ataque bem-sucedido na Inglaterra com a sua Teoria da Economia Politica (1871), mas sim Aifad=BMasshall. ‘Geib, Marshall publicou os seus Reineiaos-de-Beangm a biblia da escola neocléssica ingtesay~mas,-n68s8, Ep0C! tivera leclonando Economia por vinte anos em Cambridg Bristol e Oxford, e havia_doutrinado os ocupantes de metade, das cadeiras de ‘E2onamia na Inglaterra. # A definicio for- , no prefclo da primera edigéio de sua ‘ainda & um artigo de Jornal ‘dq Economia na Inglaterra estio ‘ea parcela asiumida por eles na 'na Inglaterra € ainda malor do que do aus: “metage 4 geupndas, por_sciis Mistrurio” cconomiea i a A A Revouugho Mascivat, mal e expljcita da posigéo da nova ortodoxia com relagio i. metodologla ¢ ao campo da disciplina epareceu em Cé Método da|Econo ia es, 1 qug™ ‘im modo bem apropriado, no mesmo ang: sd Nevillotagmes fol um dog’ € seu colega em Cambridge: fol tambérh o pat de John Maynard. © tom do tratado metodolégico de J. N. Keynes refletia © sucesso da revolueio, era o tom antes de um pactfleador que de umi contendor, antes fudicioso que declamatério, an- tes expositive que-argumentativo. “Procure”, escreven ele no Pretécto, dvitar 0 tom de um partidério e busqu no tratamento de questdes controverti: {ative de levar @ efelto uma comple fencenebes Opetas, pute mestrar ques natures da i¢do entre elas’ tem sido, por vezes, mal compreen- ida, e sua extensio, conseqientemente, exagerada. 16 Neville Keynes distinguiu trés conceltos de Economia Politica, a fim de focallzar a interpretago que considerava elaramente como fundamental: Sq) uma cincia positiva, siste atizado” uma ciéncia normativa ou reguladora: imento sistematizado relativo aos eritérios do que deve ser ¢ interessado, portanto, no ideal, em contra “am corpo de ema de regras para a realizacdo de um determinado fim’’ ‘Nao tinha muito parece ter sido defini dizer sobre (2), um conceito que , em grande parte, para distingui-lo Economy passou por jo sido relmpresso em ico. AS referénclas que se segue sdo & relm~ wo A Bvowucho DAs Initas Boondutcas fe explicitamente exeluf-lo) da Economia positiva; embora ivo que Neville Keynes se dispusesse & chamé- jm apéndice ao conceito (3) efetivamente o da diseiplina, com a conelusio de que “uma arte de- tas para a regulacéo da conduta humana, ter4 limites detinidos e um cardéer em grande parte ndo-eco- (grifo nosso). , embora deliberadamente se abstendo de tragar ‘exclusivas, e embora admitindo livremente que a Economia Politica mistura-se com outras ciéncias sociais ¢ vale-se intensamente das ciénclas morais, Neville Keynes en- Tatizou, repetidas veees, a necessidade de dlstingult qitida- mente entre o que chamava deEconomia_positiva, isto é, a sifnelg econdmiea, e totlos os outros aspectos concebivels da como a funcio primordial da economista prafissians!, o pon- to de partida ldgico e o pré-requisito essenclal para quais- quer consideracées normativas ou de formulagéo de politica, ou para qualquer investigagéo empirica relacionada (tal como a historia econdmica).’ Somente atrés da barreira de supo- sigdes abstratas e restritivas, que delimitavam a Economia Positiva, poderia o economista esperar conduzir uma anélise precisa e rigorosa e aE a leis (em prine{pio) quantificd- veis ¢ universais, Fora bem definidas, as Jels A outra recorrente controvérsia_metodolégica que Neville Keynes efetivamente destez foi a disqussio sobre quais eram A Revouuglo Mancnvat aL ine quastda quo mulls afligh os sconomidte do seculo XIX, ansiosos em estabelecer as credenclals elen- tificas de| sua disciplina, e cujo ressurgimento poderia, talvez, ser encailado como indicacdo de um agucamento do sentido de inseguranga profissional que Kuhn julga_caracteristico dos periddos de crise metodolégica. Era entdo geralmente aceito que as.cléncias naturals apolavam-se, em grande te, em idenioas indutivas, eos bistaricistas (sustentando @ sua autoridade em-Bacdn) assumiram uma posicgo-extrema cbsexzagio empirica, assim como por esta verificadas. Taso fol uma zeacho contra o_método dedutive dos ricardianas, que, deliberadamente, taciocinavamc.priai..c néo a poste: riori, a0 baseerem a gua teoria num pequeno-nimerode su- posigdes-seerca das propensdes due guiam o comportamento humano — suposicies verlficadas, se tanto, apenas por in- trospeced Caracteristicamente, Neville Keynes. encetrou essa con- trovérsia ao visuglizar camnno.tante-pare-ag-téenioasindutixes, uantn pao aaa iinela-econdmica.Clssiticau-a o (abstratos) e dos Porém, embora concordando, em princi que 0 ‘teérico deveria basear o seu raci su igual. peso 8. Me ‘A Evouvgio pas Inttas Eeondurcas, que reconhecia plenamente @ conveniénela de testar a teoria contra-os.fatos histéricos e de desenvolver~o ‘tipo-de teoris. que pudesse ser aplicado & solugdo dos problemas correntes de politica. Finalmente, Neville Keynes tratou as questées ideologi- cas envolvidas ho debate metodolégico, absolvendo a teoria econbmica cldssica e neocléssica de tendenciosidade {deolé- gica. Os economistas cléssicos basearam seus {ulgamentos normativos em fundamentos filosdficos ingleses tradicionais gue incorporavam uma mistura de doutrina do direlta natu. raldo século XVIUI ¢ de utilitarismo henthamista, Tinham sido totalmente francos quanto ao seu compromisso ideol6- gico com o laissez-faire. Keynes havia observado que “inde- pendentemente das divergénclas com relacéo ao campo e mé- ica, a escola alem& dominante, isto antigos por uma diferenca de atitude face ao laissez-faire € & interferéneia governamental”. 41 Referiu-se, porém, 2 pro- nunciamentos metodolégicos anterlores da escola cléssica de economistas para demonstrar que eles consideravam a Eco- nomia Politica como “uma ciéneia, néo uma arte ou uma esfera de investigacdo ética. ¥ descrita como permanecendo neutra entre as eléncias socials concorrentes, Fornece infor- macdo quanto as provaveis conseqiiéncias de determinadas Unhas de acdo, mas ela mesma néo transmite julgamentos morais nem se pronuneia sobre o que deve ou néo deve ser”.22 E, no Apéndice desse capitulo, Neville Keynes passa a justi- ficar a si classica caracteristica do laissez-faire em do que mesmo entre os eco- I adesio a0 laissez-faire aches e excecdes e dando de jufzo de valor” para ples”; e (b) porque ‘nas sociedades econdmicas ‘modernas, © laissez-faire tem sido, de fato, a regra geral no entanto, reivindicando neutralidade ideo! nomia positiva, insistindo que “nem o laisser-faire nem qual- quer outra regra de conduta pode constituir parte integrante para a Eco- TW. Keynes, op. cit. p. 25. = Tid. p13 ‘A Ravorvgho Marcrvat us de seus ensinamentos”. Essa pretensio de neutralidade ideo- l6gica. velo ® constituir uma das principals caracteristicas da escola neocdssica. Uma: das caracteristicas que se pode razoavelmente es- perar que uma nova ortodoxia bem-sucedida exiba é um. su- cesso major no trato dos problemas nos quais esbarrara o seu predecestpr.28 No ¢ facil, porém, identificar as problemas espeeifiegs que podem ter precipiiado uma crise metodol6- gica — alnda que somente porque os fracassos da velha orto- doxia terkiem a ter um efeito cumulativo em desestimular os seus profissionals. Mais importante ainda para a Economia € que os seus profissionais nunca séo os jufzes exclusivos de seu sucesso, e quando os economistas caem em descrédito popular por nfo terem conseguido sugerir politicas patente mente titels, que a comunidade clentifica mais restrita adm! tirla estarem fora de sua competéucia profissional, o rest tante sentido de inseguranca pode espalhar as suas préprias sementes de dtivida metodolégica. © enigma que sempre provocou_os econamistas cléssicas. fol, naturaimente, o pi ‘Adam Smith julgou necessarlb dedicar os Capitulos V-VII do primeiro Livro de A Riqueza das Nagdes aos “principios que.regulam_o valor de troca_das mercadorias”. Ricardo teve de produzir uma_teo- ria do valor antes que pudesse comecar a enfrentar 0 pro- blema que tinha em mira, ou seja, a distribuicéo das rendas; e, como vimos, ainda estava lutando com a teoria do valor quando more. # verdade que J. 8. Mill achou que a teoria da matéria estava “completa”. 2 “Mas os seus leitores podem ser perdoados por néo se deixarem convencer por essa asser- Pois.o préprio Mill i demanda'e da verte iam ests efeitos poderiam ii efetivo. 23 2 Of, Kuhn, op. cit, p. 158: “Provavelmente, a pretension mals, co- os proponentes de um nove a ee ” ver, Por exemplo, a eitaglo a que se refere a nota 20 do Capi- tule 5. 4% Ibid, p. 477: “O valor das mereadorlas ... depende prinetpal- mente’... da quantidade de trabalho requerida para a sua pro- Me ‘A Bvowugho pas Inéras Bcondurcas lectual podem estabelecer a sua posicdo, porém, é reformular 0s problemas que perturbam a. ortodoxia tradicional e propor cionar respostas para o que constitui um conjunto de inda- " gagdes realmente diferente e aparentemente mais relevante, e a inal inspirou-se em téenicas de andlise an- loséticas, e teve 0 efeito de desviar ‘a atengdo dos economistas de Sua busca de um significado do valor — uma busca que tinha profundas implicagées filo- ! soficas — concentrande-se, em vez, disso, nos detemminantes 1, dio preca de. mercado, Jevons, por exemple, pés o valor intrin- 8 ‘seco de lado, como uma entidade inexistente: “‘a palavra va- Jor, na medida em que pode ser corretamente usada, expres- sa simplesmente as circunsténeias de sua troca, numa certa razio, por alguma outra substéncia”, concentrando-se, em vez disso, no eonceito de utilidade “coma o objeto de estudo da Economia”.% Passou assim a desenvolver-ums-teoria da troea, em lugar de uma teorla do valor. Adotou um instrur mento matematico — o_cAleulo diferenclal"— para analisar | oNcampertsmento-do scaisiiuo-muasimisadee_de-utildade e inspirou-se em analogias mecdnicas no desenvolvimento de seus conceitos. Tendo-ent mente essas analogias, propds-se, x { explicitamente, a desenvolver uma teoria~econémica que ‘usasse os conceitos e as téenicas analiticas da “clénela da —mecdnica estatica”, 2 Jevons encontrou a inovagio eruclal contida na “revo- iade_que_o_valor_de_troca_ou_preeo~dependia, ‘Marshall quem, abandonando o hedonismo vons e introduzindo tanto a.oferta como.a de- _manda.na equaeao do prego, inventou o paradigma neoclissi- co. A teoria marshalliana do valor ser discutida mais adian- ¥ Ver a citagio a que se refere a nota 3 deste capitulo. ‘A Revowugio, Manama 145! te, no Capitulo 8. No momento, o que precisa ser dito & que a madura escola neocléssica substituiu @ andlise fragmenteda da eS:0le~eldssica, multas vezes definida vagamente e orientagio jfiloséfica, por uma teoria-integrada-do valor de, usg.e-do-valor de troca, na qual o prego. de mercado-ere-sa tematicamente determinado pela intersecdo das curvas de ida, O quadro referencial foi apresentado ‘no Prinefpios de Marshall, a segao que ele consi- ‘como contendo a esséneia de sua prépria mais do que qualquer coisa que ‘os cléssizog tivessem definido como valor) tornou-se mais do que uma te ese uma teorla-ia io -caglon_de vesursns-eseassos- a-usos especificos, sob o duy incentive da maximizacio_da_utilidade, para o consumidor, e da maximizacdo dos lucros, para 0 produtor, empregando conceitos, critérios e téchicas derandlise que podiam ser apll- cados, de forma andloga, em todo o sistema econémico. No sistenia marshalliano, entéo, citando um de seus discipulos posteriores: do que qualquer outra parte, e ‘mals do que em qualquer outro lugar, tratar as questdes penden- tes da cléncia” (grit nosso). 8 ‘A Evotugio pas Inéras Boonourcas fo atuando, por toda, parte como uma _chave-mestra Fudo taso € litelramente estranho h maneita. Je pensar de Blcardo.e & ds MLS A orlentacio explicitamente matemética da nova escola e suas pretensées de precisio_quentitativa podem, na ver- dade, ter contributdo para o seu sucesso, nfo 86 diretamente, mas também aumentando as suas qualidades estéticas — a sua maior-generalidade, por exemplo, e 0 fato de que os mes ‘mos instrumentos e conceitos podiam ser apli virtual mente a toda a gama de problemas sobre os quais os econo- mistas neocléssicos decidiram concentrar-se, @ saber, os pro- blemas~associadas & alocagaig de recursos_escassos a fins de- terminados. Pode-se dizer, finalmente, que o enfoque neo- cléssico fluminou um importante aspecto do proceso eco- nOmico que antes s6 havia sido percebido obscuramente. Ao demonstrar mnatematicamente a interdependéncia total do sistema econémico — 0 fato de tudo depender de tudo mais —a nova escola revelou novas regularidades e intereonexdes, sugerindo téenicas de andllse novas e mais fecundas. Mesmo para o economista néio-matemético, havia uma atragio es- pecial em sua eficécia fmpar como técnica de andlise para toda uma gama importante, ainda que restrita, de proble- mas econémicos. A tomada eficiente de decisdes econdmicas (@ nivel macro ou mlero) depende, numa extensio considerd- vel, da elucidacéo da relagtio entre fins alternativos e melos escassos. A nogéo de um sistema integrado no qual as va- rlagées nos precos e quantidades, na demands e oferta, po- diam ser interpretadas como um sistema de forcas opostas, e manipuladas com as téenleas de mecAnica estitica, forne- ceu uma téenica de andlise notavelmente eficaz e gerou toda uma gama de instrumentos fecundos porém simples (por exemplo, 0 conceito de elasticidade) que possibilitaram a co- locagao do aparato conceitual académico em uso pratico di- reto, no esclareeimento de questdes crueiais envolvidas em muitos problemas de politica do mundo real. , Portanto, explicacdes para a atracio exer ‘cas marginals de andlise caracteristicas da ica que surgiu da revolugo marginal e co- mecou a dominar o pensamento econdmico predominante nas 3G. F. Shove, “Marshall's Principles in Economle Theory", Eco- nomic Journal (1942), p. 303. A Ravouuglo Mancrcat ut Ailtimas décadas do século XIX. Efetivamente, passou por cima do problema do valor que constitutra, com extrema per= tinécia um constante atoleiro para o seu predecessor; “ofe- receu uma precisio quantitativa superior aos sistemasede pensamento clissico ou historieista; revelou de modo mals efetivo do que ambas as alternativas o fenémeno da inter dependénela econdmica; possuia qualidades especials devge- netalidade e simplicidade, que se revelaram especialmente satisfatorias ao economista de orientagdo mais matemética; abriu novos horizontes mesmo para o economists destituido de formgeao matemAtica mas interessado nos problemas de politica publica envolvidos na alocaggo de recursos. H4 aqui interessgntes analogias com as razdes sugeridas por Kuhn ‘como sehdo comumente responsévels pelo sucesso de um pa- radigmaj novo nas cléncias naturals. Mas os problemas enfrentados pelas ciéncias sociais tem intimas conextes polfticas, numa extensdo que nfo se aplica as ciénclas naturals, existindo um outro fator a ser levado em conta na avaliacdo de um novo paradigma — as suas implicagdes ideolégicas. possivel que este soja mais impor- tante do que qualquer outro fator isolado na explicacéo do triunfo neoclassico. Pois embora a nova_matriz.disciplinar_ apresentasse atrativos especiais para os economistas mate- méticos; a maiorla dos economistas profissionais sentia-se & Yontade num quadro referencial de anélise antes filo- séfico, Iogico ou histérico do que matemstico. Além disso, a + nova matriz era_um instrumento_particularmente poderoso apenas em relagéo a um conjunto de problemes econdmicos — 65 problemas alocetivs — em decorréncia do que os pro- blemas de eseolha, de “fazer economia”, logo se tornaram os problemas fundament algumas notivels observar o reflexo dessa mudanca de énfase, por exempla, na rapidez de Neville Keynes em reconhecer a po- 5 Por exemplo, A. C. Pigou, Economics of Welfare Schumpeter, ‘Theory of Economic Developmen a A Evowvcho as Initas Heondurcas slgGo da escola histériea na questiio do desenvolvimento eco- némico. Admitiu, por exemplo, que: “‘A teorla do progresso econémico é excepcional em sua quase total dependéncia do método de tratamento histérico, e ... é mais distintamente subordinada & Sociologia geral do que outras partes da dou trina econémica”, 31 B prosseguit: coneluindo: sso esti de acordo com a concepelio ... de que, investigagdio dedutivos, ao passa que as anaiogias blolé- gleas ou ‘evoluciondrias sugerem métodos indutivos. Voltou a esse tema no capitulo que examina as conexées entre a Economia e a Historia econémica, Por exemplo: “Nos problemas mais gerais relativos ao crescimento e Progresso econdmicos, 0 papel desempenhado pelo racloeinlo abstrato reduz-ce a0 minimo e a dependéncia do economista em rela- gio as generalizacdes histéricas atinge um nivel maximo. AS teorias do crescimento e progress econdmicos podem ser vis- tas como constituindo a filosofia da histéria econdmica”. 3 ‘A diminuiggo do raio de aleance de sua disciplina era ‘um prego elevado a ser pago pela comunidade cientifica mais ampla de economistas (por melhor que se pudesse ajustar as predilocdes daqueles dentre eles mals inclinados & Mate- miatica), sendo necesséria uma justificacdo muito especial para converter os economistas préticos, assim como os te6- ricos. a es¢ quadro referencial relativamente restrito, Um atrativo, sem diivida, fol 0 fato de que as implicacées ideold- s do patadigma neoeléssico eam mais apeteciveis do que ‘qualquer alternativa concebivel. Os economistas ingleses, educados numa tradigio cujas premissas tilos6ficas inclufam 1a da harmonia social e cuja inelinagdo politica fa- 0 livre coméreio e um minimo de intervencio gover- namental, viam sua ideologia individualista econémica sob crescente pressio nas décadas de 1870 e 1880. H4 varias razées para fsso: a inctistria britdnica enfrentava uma con- ‘A Ravowuclo Manama. Mo corréncia: internacional cada ves maior no exterior e cres- centes probleiias irabalhistas dentro do prdprio pais; os. pro- blemas ‘sociais € econémicos associados a uma economia industrial urbanizada pareciam exigir uma revisio do dogma tradicional referente ao papel do governo—na-eeonemia; 0 prozesso de reforma constitucional estava estendendo 0 voto & classe trabalhadora, num momento em que a diferenga de rendas entre os ricos ¢ os pobres estava-se tornando, se nao maior, pelo menos mais ébvia. Nessas dificeis circunstancias, uma metodologia que tomava como seu modelo central uma demonstracio da alocactio étima de recursos escassos e subs- tituia a|antiquada suposiggo filosdfica do “direlto natural” por um bonceito “cientifico” de equilibrio num mercado per- felto valia, decididamente, um certo estreitamento do campo da disciplina. Pols permitia aos economistas justificar uma inainasto ideolégica pelo status quo de distribuigaéo da ren- da numa base aparentemente apolitica. ‘As alternativas dispon{veis aos economistas eram muito menos atraentes. A alternativa marxista, discutida mais adiante,'no Capitulo 9, situava-se demasiado distante de sua tradigio cultural para’ ser um competidor sérlo. Um desen- volvimento menos herético da tradicéo ricardiana poderia também conduzir a caminhos perigosos. Algumas das afir- mativas,do proprio Ricardo traziam consigo certas impli- cages perturbadores para aqueles que se dlspunham a levé- las a conelusées séclo-politicas: por exemplo, a sua afirmati- ‘va, no Ensaio, de que “o interesse dos proprietérios de terra é sempre oposto ao de qualquer outra classe na comunida- de”.35 Havia, entdo, a sua teorla do valor-trabalho que, co- Jocando salérios e lucros numa relacdo inversa entre si, sugeria o fundamento légico para um conflito inerente entre 0 capital e o trabalho. 3° Até mesmo os esforcos brandos de J. 8, Mill para ampliar os horizontes da filosofia econémica, Gf, G: Myrdal, The Potiticat Element in the Development of Eco- % Ver tambem as passagens a que se Teferem as notar § 6 do apttulo 5. % Seguitdo H, 8. Foxwell, por exemplo, “fol Ricardo, ¢ nio Owen, quem. efetivamente inspirou o social trodusio a A. Menger, The Right dour (1800), p. LEXI. mt eA lc os wa ciet 350 ‘A Bvouvgio pas Indias Eooxdatrcas ‘A Ravonueho Maxcixat 15 yelacionando-a com outras ciéneias socials, e as suas ten- ‘a sua demanda e oferta ao equilfbrio, Marshall passou a olhar déncias no sentido de um tipo de soclalismo liberal, traziam para uma série de dados de. transversal. Considerou, consigo um certo potencial incémodo, quando vistos sob o por exemplo, coma.uma firma indivi nl histria en- ponto de vista do individualista econémico do laissez-faire. contraria o seu preca.e prot : se fossem ell- Finalmente, os historicistas que tiraram a sua inspiragdio da ‘minadas, por suposic&io, as complicacoes que se originavam Alemanha compartilhavam a inclinacéo_dos_historicistas fora de suas proprias condigdes especiais de demanda e ofer- ; alemaes por uma economia dirigida pelo Estado, o que cons- ta, A‘anélise de equilibrio parcial explicava, assim, a_deter- titula tim anldtema para a maiorla dos economistas ingleses { ‘minagsio-dos-nrseos-mum-dado-mercado, supondo-se que to- e americanos, ‘ os 0s essem imévels (ou seja, ceteris paribus). Partindo de uma andlise das candigées de No final, embora a revolugo marginal nfo fosse de for- ' ‘ma alguma exclusiva dos economistas anglof6nicos, 0 livro- domantia e oferta de-um-produtor ingividual, Marshal-ten- Y texto basico para o novo paradigma nio foram os matemalt- i relas x6 pra camente rigorosos Elementos de Economia de Walras mas os “finma representativa”; fol capaz de seguir adiante i ighespara o equilibrie-de producso-de em ter de fazer a suposicéio de que to- juais na industria estavam em equili- Pois ao ler os Princfpios de Marshall, o economista inglés ou americano, educado num regime de Adam Smith, Ricardo e i ‘Mill, logo Se encontraria em terreno familiar. Pols Marshall, \ ‘a fosse um matemdtico por formagao e enfoque inte- : lectual, deliberadamente deixou a sua Matemética na reta- : guarda de sua Economia, insist | dinada as suas aplicagGes e envol massa de material descritivo e ico que se destinava mais aos leigos do que aos economistas profissionais. Até mesmo as suas curvas de demanda e oferta foram relegadas a uma nota de pé de pagina, onde 0 economista facilmente enfas- tiado pela Matematica poderia, convenientemente, ignoré-las, Para a sua audiéncia de economistas, assim como para os a Além disso, embora a andlise marshalliana tenha sido estudantes que tinharm uma bibliografia de economistas clés- So concebida dentro de um_quadro de equilfbtio geral, ela foi sicos a digerir, os Principios de Marshall possuiam a suprema Telacionada com o mundo real pela técnica especial do equi- vantagem de ndo pretenderem derrubar a ortodoxia classica Mprio pareial de Marshall. Em_vez de busear_uma solucdo — mas simplesmente complementé-la e modernizé-la, Tal- para o problema de como a economia como um todo levava 30 fundamento lénico para a supostedo encont ‘biolégiea de arvores m eseala presumivelmente levaria a um crescimento desproporeio- nal do tamanho das firmas melhor sucedidas, destruindo, assim. as, condigdes compelitivas nas quals toda a anéllse se baseava. 152 A EvoLugio pas Inizas Econdaicas vez seja relevante, ademais, a0 avaliar o impacto do sistema marshalliano sobre os economistas da época, relembrar a forca da tradicao historlea,entre a massa dos economistas britanicos e americanos nas uiltimas décadas do século XIX, 29 e o grande respeito de Marshall pelo papel da Histéria eco- némica como um ramo da Economia aplicads. O Livro T dos Principios era um amplo estudo histérico que se estendia por 120 paginas na 48 edicéo; e embora tivesse sido reduzido para menos de 50 paginas ha 8 edic&o, Marshall jamais per- dew seu forte interesse na Histéria econdmica. Para aqueles que nutrem certa simpatia pelo ponto de vista histérico, mals facil deixar-se seduzir pelos Princfpios de Marshall do que aceltar a Teoria de Jevons ou os Elementos de Walras. LEITURA ADICIONAL Literatura primdria H, 8, Foxwell, “The Economic Movement in England”, Quar- terly Journal of Economics (1888) W.S. Jevons, Theory of Political Economy (1871). J_N. Keynes, The Scope and Method of Political Economy, LSE Reprints (1930). Alfred Marshall, Principles of Economics, 8* ed. (1952). ‘A. C. Pigow ; Memorials of Alfred Marshall (1925). Leon Walras, Elements of Pure Economics, trad. por W. Jatté (1954). Literatura secundéria R, D.C. Black, “Jevons, Marginalism and Manchester”, Man- chester School of Social and Economic Studies (1972) ® ‘Segundo Blaug, “A concepeio dominante entre os eeonomistas ingleses nas décadas de 1810 ¢ 1880 era a da Escola Historica (eB Partl ‘Southern E déncla das universidades americanas em relagao aos economis- fas americanos que tinham completado os seus estudos de pos- graduaeio na Alemanha, onde a esecta histérlea era dominante. Por volta de 1900, contudo, “O interesse dos estudlosos ameri nnos tinha-se deslocado para os prineipais economistas britani Cujas coniribuleses tedrieas passaram a ser amplamente adst das nesse pais” (p. 5). t A Revouugho Marcia, 153 R. D.C, Black, A. W. Coats, Craufurd D. W. Goodwin, The “Matginal Revolution in Economics (1973). ‘A. W. Coats, “The Historicist Reaction in English Political Ecohomy, 1870-1800", Economica (1954). R. §, Howey, The Rise of the Marginal Utility School 1870- 1889 (1980). ‘TW, Hutchison, "Positee” Beonomics and Policy Objectives (1964) 'T, W. Hutchison, Review of Economic Doctrines 1870-1929 (1988) J. M, Keynes, “Alfred Marshall”, in Essays in Biography, op. ict. J. M. Keynes, “William Stanley Jevons”, in Essays in Bio- graphy, op. cit. G. Myrdal, ‘The Politieal Element in the Development of ‘Ecdnomic Theory (1953). L, Robbins, “The Place of Jevons in the History of Economie Thought”, Manchester School of Social and Economic Studies (1936). G. F, Shove, “Marshall's Principles in Economie Theory", ‘Beonomie Journal (1942).

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