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Augusto Joaquim Maria Gabriela Llansol Jodo Barrento ASSIRIO & ALVIM __houve uma breve hestacio da partede quem transportava o secém-nascido ___ 0 meu edo Jade, bhi muito tempo: muito, ¢ com grande intensidade, sconteceu durante esse tempo breve em qu Jade fi di xxado suspenso sobre um medronheiro, sem mie visivel, num bergo nem celeste, nem teresee, No lugar que toda a planta acolhe, eque ‘orcmeregata a0 medronheire, senta sobre si uma incidéncia animal aad, aque nem era verdadeiramente pissaro, nem verdadeiramente quadripede Era um fio de vor soando a altura do corpo musical {que compunha a mata, um choro que coincidia com a ‘convulkdo das primeiras gotas de chuva; um sentimento ‘enue envolviaa cabora emergindo do verde, ¢ as pequeni- nas patas, saidas de um pano de baptist, io comoviam a planta lenhosa, jd habituada a palpitagies fothas. ‘mas 0 ritmo novo que, pouco & pouco, no se identi cava com a chuva,¢ tomava vermelho de tempo activa a atmosfer, fez erguer o medronhiro sobre si mesmo ‘que ser to frigil mais alto do que ew Se oar nfo tivese uma densidadeleve, teria quebrado. Jade, Jade, que acabara de nascer sobre as bagas purpairess dos medronhos, 0 ruide dos ramos partidos, ji pensava. Um pense: mento delete subia nos tos pedregosos, fora do local dda easa, ¢ da cerca com cerros © penhascos, Fle trazia nos olhos um instrumenta aul para medir o didmetro do sol © dos astros;la-se ncles uma lings sm que s6 mais tarde, muito mais tarde, encontraria equivalente na hoes: 10 meu Pui nio existe fora da desctigio do Sol cami sho através da murta, do adeno, da arocira, © avstei 8 cota serra em que @ meméria vé primeito 0 porto de nas cer, mal nasc,situci-me, em vida interior, em face do ‘mar; etgo para a minha dona os meus olhos fedgeis, ‘opondo-me a uma adversitia que, de certeza, me ama: fago-the pedidos luca comigo: dé-mea sensagao de ter suido vencido, mas com rebel- Por que ter uma vergonha nodosa de pensar live mente sobre ti? — respndicthe. Olhat, num dia. simples, as questoes filosdficas. Dois planos se apresentam imediatamente: 0 do jogo e do poco Estou si «brincar no Jardim da Estrela, com o rosto da crada ola ddo a0 fando, principalmente para mim. Ex posso, na reaidade perder-me a brincar com os bringuedos do silencio, e ‘com 0 meu cio Jade, que ainda nem sequer encarnou. Palavea contra palavr, flea de um ser humano, surge a sia sombra fora do campo de jogos onde hi aria, um: piscina, baldes e pis. Eu digo sempre & minha eriada +Bu ai nio enteo. determina fem mim, que ‘obedece. As outras criangas brincam entte si, evoluem A volta umas das outras, ou seguinda os contornos da piscina Eu apago-me no cio que desejo, « vejo-0 mais longe, 20 fndo do Coreto, disigindo-se para mim mesma, com o seu andar de levantar nuvens, e conhecer-me, Principio a recorrer is palavras que anunciam a reali dade: — Por que brinas? Por que ndo brineas? Por que Drincas sozinha? — Por necessidade de conhecet. De conhecer-te respondo, Eneraste no reine onde eu sou cio, Pesaa palavea Eu peso, — Desenha a palavra. — Fu desenho. Pensa a para Eu penso, cluin e Avango outra palavra por entre os canteis, na espe ranga afinal, de que ela fique muda, ¢ eu poss brinear melhor sozinha, com o tago de unio que me & prdprio ce me hé-de ligar,no futuro, & sua imagem — Que cio ‘io 85, vou acompanhé-lo comigo, Lango, de facto, aimagera de um cio para o meio das ‘outta criangas. Reparam nele porque no pode estar no parque infantil, mas nao o vem como cio, Esta surpresa € um obsticulo a que o meu eu mais interior se disspe, e Perca a consciéncia de ir buscat-me a outro lugat. Ha um grande abalo sob aquele solo onde as outras criansas brincam, projectadas no meu pensamento, onde o «te do futuro & 0 meu verdadeiro interlocutot. Um sensagio cnvolvente de ter encontrado © meu amigo no seu uni verso, marca o meu rso de lugares obseuros c luminasos, sempre constantes, _Auavés do outro, com face do outro, sob o seu olhas sum ser endo fora sua identidade. Vejo distintamente uum segmento ruivo — a trela do meu clo, Numa das cxtremidades, estou eu; na outa, estéo ruive Jade, E-me dito, finalmente; — Ou ea me vences a mim; ou cu te wa, Faso vvengo a ti, — Arravés do Sol que bi nessa pa uumaalianga com o Sol, easua grander luminosa,s6 se por urna divisio nacual parada dest Jade, partindo a trela, pedi-me que eu Ihe filasse ininterruptamente par aprender a ler; Nao Ihe digo que ¢ impossivel estabelecer uma rela so entre nés dois porque ew no sou cio; ¢ ele diz ‘que me tem confundido com o arvoreda, a mim, no intervalo do afecto entre os perigos de poro cos pra ees do jg Quer aprender ler sobre um texto que cu porei aa der por ele: afirma que o sopro de vida & digo-the que sé tarde principiaci a escrever, com esse designio, sobre a viagem que acaba de nos conduit aqui Jade, 0 manso, cortou os ares —o seu e dos outros; cstavaferido na sua alma, que eta a sua direcgdo,e casca 4 amarge; diamante ainda em bruto, estava aser chamado de muito alto. eEscou aqui porquce movimento ga passagem obrigatéria para a pupila. Vou daqui porque este €o ponto onde os meus alhos se formaram. Fico com 0 desassossego, ¢ 0 dilivio, ou seja, 0 voo dobedescente que depois do depois (mais tarde), me ha: de ligar a0 puso abrasidor do meu Mestre: levo na boca a palavra obediente que parti ‘em us pedagos iguais — um, para partir ainda: outro, para pattie de novo, € 0 tercciro para fazer desapacecer no puro espitico, donde resultou obedescente Partie e obedrcer: wie estou sujcito a0 poder da minha dona por temor; no posso serbom ser se aio estiver na perpendicular do ce _—_ as actividades priticas do silencio si0 0 ssse 0 de sat, a alegria de no interceptar as vores que me {alam € 0 sentimento deter um movimento idéatico 20 de Jades também ¢ ume actividad prética do sléncio, a propria descrisdo do silencio por mefo do silénci, 6 Nomeio-the atiia,«erva-cidreia, alucialima, o pessegueiro de jar ddim, o louecito, sementeita das plantas arométicas da Provenga,o linho, a salsa, os coenteos, a arruda, meio da terra formada por bancos de pedras cieulares ° alecrim, a silva, as chagas, o rosmaninho. Leio alto para as plancas,avisanddo-as de que, segundo Hippon, as sementes subtis produzem fémess e que, das mas espessas, nascem os machos hi sementes Fecadas ce abertas. © principio da luz é uma area; descobre, Jade, como sobre este jardim se correspondem, em miniaturas de fogo ao sol, grandes distincias, «Eu fi o primeito que afirmei que sou ihuminado por tie» F quase meio-dia, clevano-me da minha pedra com Jade nos calcanhares porque, como era natural, ool venceu-nos; € visivel que hii no sol muitos invisiveis, nossosadversifios,e que esse eal combate corpo a corpo 0 principio, contnério & luz comunn, da nossa alianga (© que éa luz comum? E.a queilumina marido e mulhes, paise filhos, sent clos & mesa; mas eu, basta sentir-me, wm momento, de {qualidade inferior’ narureza da prata que podria alean- sa, para afasar a luz comum, ¢ nio descjar o fim do ‘combate, Procuro outro lugar a mes, o lugar ae lado do ‘outro que me estimule e cause medo dizendo, por exer plo, aos que dormem tranquilamente 4 comer o amor a absbada celeste acaba de vu. Eses rostos nto me aparece de maneirasistemética com os seus lugares marcados pela meméria; surgem, ccertamente, com ume lei propria, lei do dbito de que me impele, Jade, a olhardiferentemente os hibitos do mundo, sio vultos de frases, plancas to originais, que nem sio plantas, vasos que deitaste por terra, de onde es tas almas se desprendem, 19 Pela primeira ver aimentei Jade (que adoeceu repen- ‘namente),aintervalos certos, durante dias; ele compri- mia a minha mio com as patas, ¢ eu dava-the leite vieaminado com uma seringa; 3 medida que, neste tra batho, o aproximava de mim, e eu o sabia conscrugio viva da natureza, principiea sent uma alma ineipiente insuflada nele, e que duraria até a0 fim do mundo, per iuntande sempre «o que é a luz comm? Eu sou da luz comum, ou uma primeira aterasio dessa luz clar Chamo: — Ver, Jade niion, design’ + mas, com um prazer muito ia por alma crescendo. Fata relagio de alma crescendo que se estabeleceu en tre nds; é esta rlago, fora da luz comum, que estabele- ‘eas dferengzs que desempenham o papel de elementos perturbadores nos hdbitos de serviros acto ew ia. a diner ‘que, nesta ordem de er, ler é nunca chegar a0 fim de um livro respeitando-the a sequéncia cocritva das fases,€ as paginas. Una frase, lida destacadamente, aproxima- da de outra que talve jhe cortespondesse em siacio, uma alma cracendo. Eu no consign abrangee infin tude do namezo ¢ da hatmonia das alas, nem 0 cexto de um vertadeiro livto, nem a terra de um jandim que se mantém hi g — _proausei primeito 0 sol, depois ‘a mesa, ¢ senteisme. Um pardal estava no parapeite €8-

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