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Tntrodugio Este relatério refere-se aos trabalhos geoarqueoldgicos realizados nos anos de 2003 © 2004; estes vém completar as pesquisas que comegaram em 2002, dentro do Parque Estadual do Rio Preto, Na fase atual, foram iniciados os estudos geomorfoldgicos, ambientais, socioecond- micos, assim como as primeiras andlises dos grafismos rupestres. Foram realizadas trés visitas ao Parque (agosto © setembro de 2003 ¢ julho de 2004) no intuito de iniciar os estudos geodinimicos do relevo, realizar as. primeiras—_andlises arqueolégicas, assim — como — dar continuidade ao trabalho de prospecgao e anilise dos sitios. As observagdes do setor estudado por especialistas franco-belga- brasileiros de diversas areas, © os dados apresentados em —congressos estilo resumidos neste relatorio € no "poster" que foi doado ao Parque, disponivel em formato JPEG. Um dos dados mais importantes deste perfodo de trabalho € a constatago da riqueza carstolégica presente nas formagGes rochosas do setor, Geralmente o quartzito no é conhecido pela abundancia de grutas, de condutos, de lapiés ou de recortes realizados pela Agua, Estas formas sio mais comuns em macigos calcéreos. No entanto, no relevo do Parque Rio Preto, as formas cérsticas stio abundantes, 0 que permite uma nova abordagem para este tipo de rocha. Foram estas observagdes que apresentamos no "I Encontro Brasileiro de Estudos do Carste", realizado em Belo Horizonte em julho de 2004 [Willems et al, 2004]. Outro resultado interessante desta pesquisa refere-se as primeiras andlises sobre as pinturas rupestres encontradas dentro do Parque, Apesar do estado avangado de degradago dos suportes pintados, foi possivel identificar algumas téonicas de realizagao destas pinturas, assim como. definir 0 estilo © contextualizé-lo em estudos macro-regionais : trata-se do estilo denominado "Tradigiio Planalto". ‘As prospecgdes iniciadas em 2002, continuaram dentro e fora do parque (10 entorno proximo). Os resultados sao produtivos e alentadores : foram encontra- dos machados —polidos _pré-histér cos. Também pudemos observar diques de rochas basicas & jusante do rio Preto, Este tipo de rocha é normalmente utilizado pata realizagio de objetos polidos. Alguns pontos. com quartzito de excelente qualidade para lascamento foram observados em locais _estrategéticos (préximo a agua, em altitude). Estes resultados serio descritos em detalhes ao longo deste relatério, que & dividido em duas partes principais: na primeira parte apresentaremos 0 quadro natural do setor, em segunda os resultados arqueolégicos obtidos; seguidas de reflexdes sobre as questdes ambientalistas. Em conclusio, apresentarmos uma sintese dos trabalhos realizados. Enfim, chamamos a atengao ao fato de que nossa equipe é interdisciplinar e se compoe de gedlogos, geomorfdlogos, arquedlogo: ambientalistas, 0 que permite uma andlis de varias esferas do setor de estudo, A arqueologia pode ser vista como uma ciéncia ou como uma técnica de andlise, mas ela sé tem valor quando € sustentada pour outras disciplinas das quais depende intrinsecamente para validar e contextual zat suas descobertas no pasado © no presente, Deste modo, nos sentimos realizados por poder contar com uma equipe de pesquisadores de disciplinas tao diferentes, to importantes e complementares. =... Cee Ta - Contexto geomorfolégico 1.1 = Geologia da bacia O Parque Estadual do Rio Preto situa-se dentro do macigo do Espinhago, constituido essencialmente por meta- arenitos quartziticos com intetcalagiio de metapelitos ¢ metabisicos. Estas rochas epimetamérficas pertencem ao supergrupo Espinhago, constituido de acumulagées detriticas dentro de uma fossa teotOnica do Mesoproterozdico, na borda oriental do craton do So Francisco. As rochas ergueram-se em discordaneia angular, por empilhamentos detriticos. do Grupo Macatibas e debordaram sobre 0 craton em. dirego oeste. Mais tarde, estas formagées foram sobrepostas, em discordincia de ravinamento, sobre a parte mais a oeste do craton, por depésitos do Grupo Bambui. Apés as fases tecténicas do fim do Mesoproterozdico e do fim do Neoproterozéico (Brasiliano), as formagdes do Espinhago foram moderadamente plissadas, metamorfisadas e deversés em diregio & oeste em encavalamento sobre & margem do craton do Sao Francisco. Toda esta regifo & coberta por uma cartografia geolégica 1/1000 000 realizada em 1996, por um projeto comun entre a COMIG (Companhia Mineira do Estado de Minas Gerais) e a UFMG (Uni Federal de Minas Gerais), em razio dos recursos diamantiferos do setor 1.2- Estratigrafia Nosso estudo inicia-se pela anilise do relevo cérstico ao longo do rio Preto, setor situado dentro do Parque Estadual. As cavidades cérsticas estudadas situam-se essencialmente dentro dos_meta-arenitos quartziticos da formagio -—-Sopa- Brumadinho (folha Rio Vermelho). ‘A formagio Sopa-Brumadinho ¢ dividia em tres partes (fig. 1) : a) a parte inferior & constituida de meta- arenitos quartziticos de grios finos a meédios, interestratificados de meta- argilitos. ) a parte média é mais clastiea, com meta- arenitos _grosseiros, as_—vezes ferruginososs ¢ micéceos e de lentes de ‘meta-conglomerados (diamantiferos na regitio de Diamantina), ©) @ parte superior & mista, com meta- argilitos, meta-siltitos e brechas. do ar e da chuva) e da camada vegetal (cido hiimico, lixiviagao do solo), e onde ha uma maior variagao de temperatura ao longo do ano. Enfim, parte importante dos terrenos abertos foram utilizados para pastagem ou agricultura, resultando um solo revolvido com presenga de vestigios geralmente quebrados. - Sitios mistos ou de associagao: sao siti a céu aberto com extensio em abrigo, ou sitio de abrigo com extensio a céu aberto, Estes dois tipos so na verdade sitios mistos, onde os dois setores do sitio podem ter sido usados para atividades diferentes. Enfim, ressaltamos que dentro do Parque 08 vestigios arqueolégicos observados até agora encontram-se principalmente em setores abrigados (pinturas, cerdmicas, pecas. liticas, fogueiras). No entanto, 5 “ocorréncias isoladas de pinturas” observadas sobre rochas completamente _expostas (Véraea da Estrela). No mais, na area do entomo do Parque, hd ocorréncia de vestigios a céu aberto: blocos de quartzo_ hialino trabalhados (néicleo). No entanto, as pesquisas estio ainda muito recentes ¢ nlo podemos afirmar com certeza tratar-se de Vestigio pré-historico : 0 local foi muito Utilizado por garimpeiros que trabalhavam fo quartzo, O resultado dos restos brutos de debitagem destes & muito trabalhos é proximo ao dos vestigios pré-hist6ricos 2.2 ~ Sitios arqueolégicos: Inventario Neste capitulo faremos uma descrigao fisica geral dos sitios arqueologicos ou dos locais de ocorténcia isolada de vestigios rupestres, 2.2.1 —Metodologia do estudo © primeiro passo & a localizagao do sitio ‘em sistema GPS, no caso do Parque, Cérrego Alegre. Quando em abrigo: realiza-se descrigao do material de superficie (cerfimica, litico, fogueiras, ete) em geral, assim como do piso sedimentologico. Fotografa-se © descreve-se os grafismos rupestres, as vezes realiza-se croquis das pinturas, Descreve-se 0 estado material do suporte do abrigo. Um crogui do recomendavel. Enfim, descreve-se a vegetagao do entomo asim como a distancia da agua mais proxima. abrigo ¢ também 2.2.2 — Sitios arqueol6gicos Lapa do Urubu Ponte GPS UTM 0675696/7997471 A 922m (Corrogo Alegre). 20 © sitio encontra-se ao pé de uma falésia de aproximadamente 30 m de altura. A parte abrigada & de aproximadamente 60 m de comprimento. Figura 13. - Lapa do Urubu: aaproximativa dos painéis de pinta. my ) \ locatizagio © solo constitui-se principalmente de sedimento arenoso proveniente da dissolugio do substrato rochoso (meta~ arenito quartzificado) e é alimentado, entre utros, por um cone de dejegto situado @ esquerda. A mata que margeia a falésia protege as paredes do abrigo da luz direta Yo sol durante uma grande parte do dia, ¢ dia poeira proveniente da estrada situada @ alguns metros de distancia. A vegetaco compée-se de arbustos e arvores de porte médio a grande (nome popular: Gquaresmeita, tapicuri, -murici, candela, jacarandd, ..) Os vestigios de pinturas encontram-se expostos em dois grandes painéis na parede do abrigo (fig. 13). Um terceiro painel foi observado sobre um bloco que Gesprendeu-se do macigo principal feneontra-se na parte direita do setor abrigado [M.J. Rodet ef al, 2003]. Um loco caido (parte abrigada) foi também utilizado como suporte. ‘Algumas pinturas localizam-se na parte baixa do abrigo (em relagao ao solo atual) acessiveis & mao. Outras encontram-se mais altas, necessitando de um suporte para alcanga-las, ‘A tematica dos painéis : Pai pas sob lim av Painel I: sao animais: veados, peixes, passaros (2), provavelmente com sobreposigio e/ou oxidagiio da tinta ou limpeza das pinturas, A cor predominante & a vermelha (fig. 14 e 15) VU Figura 14 ~ Peixe: exemplos observades sabre 0 ainel Painel IL: somente restos dos gafismos podem ser observados, extremamente deteriorado, Em relagio ao pigmento utilizado, observa-se 0 vermelho ¢ o amarelo, Painel III : mal conservado, bastante descamado. Os motivos so animais e uma niio, Ha partes da rocha no chao, com pinturas, Figura 15 - quadrupedes: crogui de pinturas observadas no painel | 21 © estado de conservagtio do suporte é precério; fatores naturais e antropicos (evolugio do quartzito - muito fridvel, carstificaga0, ninhos de cupins, fogo, ...) participam & degradagao das pinturas (fig 16). Figura 16 - Lapa do suporte. As pinturas foram realizadas na camada Urubu: degradagao do que corresponded allteragéo da rocha (recristalisagdo superficial). Esta soltaste facilmente porfendmenos naturals e antrépicos, Os vestigios arqueolégicos observados em superficie se resumem : 3 nucleos de quartzo (hialino © leitoso), lascas de quattzo leitoso, cacos ceramicos decorados (finos, grossos, de cores claras avermelha- das, com bordas © algas), carvoes Provenientes de uma fogueira, Um cupinzeiro, quebrado, pode ter sido usado como fogio. As pinturas rupestres, em estado avangado de degradagiio sao observadas em grande parte da superficie da falésia, assim como sobre os blocos caidos. Ressaltamos que © material arqueoligico nao foi coletado. Nesta primeira fase das Pesquisas, preferimos deixar os vestigios in situ pois 08 sitios so bem resguardados haja visto que os responsaveis pelo parque ndio permitem a visitagio destes. locais pelos turistas, Um grande problema de coleta de material é em seguida, a stocagem do mesmo, Lapa do Veado Ponto GPS UTM 065769/799605, & 811m (Cérrego Alegre). Lapinha da pintura Lapa do Veado Figura 17 = Visto geral de umn dos stores com pinturas:conjunto de sts ppréximos a.um sitio maior, a Lapa tema principal (veados). Logo acima da cachoeira, onde encontra-se a Lapa Pogo do Veado, nota-se uma linha de grandes blocos de arenito quartzificado Neste sctor existe um outro sitio com ppinturas rupestres denominado Lapa do Veado (fig. 17). Figura T8- Lapa do Veado: panel. ‘As pinturis sto realizadas sobre 0 suporte de um pequeno abrigo bastante alto (aproximadamente 9 m de altura x 5 de vision. A geomorfologia dos abrigas & bastante présima, assim como a téenica ‘de reslizagdo das pinturas & 0 largura), aberto em diregio ao rio Preto, situado a alguns metros de distincia (fig 18), Observa-se no minimo tres figuras de yeado (cor laranja/vermelho), Pelo menos um dos vestigios foi realizado apos @ descamagao da rocha. Em relagio a outros tipos de vestigio, ressaltamos que foi observado um instrumento lascado sobre seixo e uma tasea de quartzo hialino. © piso do abrigo € composto de sedimentos bastante arenoso proveniente principalmente da desagregaglo da rocha Jocal, mas também de fibras vegetais ¢ de coquinhos provavelmente trazidos por roedores, A. vegetagtio do entorno proximo de cerrado, circundada em dirego a0 rio, pela ‘mata cilia. NN ee Enfim, ressaltamos que o painel de pinturas esta bastante —_degradado: exposigio permanente a clatidade, descamamento da rocha, presenga de cupinzeito de raizes sobre as pinturas. Lapinha da Pintura Trata-se de um pequeno abrigo (fig. 19) situado na mesma linha de afloramentos da Lapa do Veado (fig. 17), a poucos metros deste (aproximadamente 40 m) e préximo a0 rio Preto (100 m). A pintura retrata um grande cervideo (70 x 30 cm) de cor vermetha-alaranjada Cys hie 4 eae A, Figura 19 ~ Lapinha da Pintura visi atamar do abriga No piso do abrigo foi observado um seixo de arenito quarizificado (rolado no rio) com estigmatas de percussio (pré-histrico » ?. A vegetacao é a mesma que circunda a lapa do veado : cerrado ¢ mata ciliar (em dirego ao rio). O abrigo encontra-se no mesmo estado de conservagio dos ‘outros, ou seja, as 23 pinturas esto extremamentes deterioradas, principalmente por problemas de exposi- G40 as intempéreis e pela evolugao natural da rocha, muito fridvel. Abrigo dos Tropeiros 1 Ponto GPS 0676953/7989422, 1283 m (Cérrego Alegee). O abrigo encontra-se a 3 horas & cavalo da sede do Parque. Segundo as informagées, 0 local era parada dos tropeiros que faziam a rota Rio Vermelho/Diamantina O sitio encontra-se & aproximadamente 100 m do Cérrego dos Tropeiros. A vegetagao do entorno sao os campos de altitude. Figura 20 - Lapa dos Tropetros: abrigo vista geral do Trata-se de um pequeno abrigo (21 passos de extenstio), baixo (aproximadamente 4 m) que abre-se em diregao ao rio (fig, 20). Os vestigios arqueolégicos resumem-se a um grande painel pintado com dezenas de figuras zoomorfas (veados, tamandués, porco do mato, ...). As pinturas encontram- se num estado avangado de destruigtio (fig, 21), Os principais agentes sio : a foligem das fogueiras dos tropeiros, a desagregagaio de blocos das paredes pelo calor do fogo, as pixagdes modernas. Na parte central do abrigo, onde nfo ha vestigios de fogueira, nota-se desprendi- mento natural de placas da parede, pixagdes (azul e carves - 1994) sobre pinturas pré-histéricas de cor amarela Nenhum outro tipo de vestigio pode ser observado em superficie, a no ser uma pequena lasca de quartzo hialino (natural °, Abrigo dos Tropeiros I Ponto GPS 23L, 0676984N/79893891, 1299 m (Cérrego Alegre). Logo acima do abrigo dos Tropeiros, & aproximadamente 200 m da agua, encontra-se um segundo abrigo, menor (15 passos de extensio), porém mais alto (aproximadamente 6 m), mais ventilado, portanto mais fresco, aberto em diregio este. O suporte € 0 mesmo meta-arenito quartzi- tico, sendo que dentre os _blocos desmantelados que encontram-se uns sobre 0s outros, € possivel observar uma parte em quartzito claro (quase branco). Na parede principal do abrigo, _ onde encontram-se as pinturas, nota-se feigdes cirsticas em forma de alyéolos. Vestigios de pinturas encontram-se na parte mais baixa da parede e estio em estado avangado de destruigao (fig. 21). Figura 21 - Lapa dos Tropeiros: figuras em ‘amarelo (alto) e laranja (baixo). Foi possivel observar um pequeno quadripede em vermelho. Foram também observados 2 seixos (I bem liso, 0 outro em arenito), semi-enterrados, ceteados por algumas lascas de quartzo hyalino e leitoso. Ha também restos de fogueiras ¢ armadilhas, provavelmente contemporii- neas a passagem dos tropeiros. Abrigo do Cristal Ponto GPS UTMO0673583/7993589, & 981 m (Cérrego Alegre). Situado nas partes mais altas das terras do Parque, o abrigo, uma pequena boca de caverna, abre-se em diregao ao sul no topo da falésia acima do rio Preto. A localizagiio do sitio permite uma boa visio de parte do vale. © solo do abrigo compée-se de matriz arenosa, marrom, com cone de dejegio a esquerda. O suporte rochoso deve ser 0 mesmo do entorno, 0 meta-arenito quartzificado. A vegetagio do local é do tipo cerrado € compie-se de arbustos © arvores de pequeno porte, além de variedades de gramincas. Nomes populares: vinhatica, pau terra, candeira, carne de vaca, pau ‘magro, . Em relagdo aos vestigios arqueolégicos, foram observados: fogueira, — fogtio, conjunto de debitagem de quattzo hialino contendo varias Jascas e alguns niicleos, provavelmente realizados por garimpeiros que utilizavam o lugar para exploragao limpeza de quartzo hialino (jazida de quartzo hialino préxima ao abrigo). O local foi abandonado aproximadamente 30 anos. A singularidade do Abrigo do Cristal € que 30 anos mais tarde os vestigios deixados pelos garimpeiros apresentarem uum estado de conservagtio excelente (néo cobertos por sedimentos), dando a impresstio de terem sido feitos ontem. Lembramos que, a passagem dos garimpeiros no setor & um “objeto arqueolégico” importante e merece ser estudado dentro de uma proposta de pesquisa para o Parque. Nossa intengio ¢ fazer um trabalho de experimentagio junto a um — dos garimpeiros que utilizou o local e que mora nas proximidades do Parque. Nenhuma pintura péde ser observada no teto, no entanto a camada de foligem npede uma boa visualizagao do suporte. Pedra das Figura Ponto’ GPS: 23K 0675475 7998845. 3351, (Cérrego Alegre). ‘As pinturas encontram-se sobre pequeno bloco (préximo de 4 m de altura x 2 de largura) de meta-arenito quartzitico, muito préximo da estrada que corta 0 parque (menos de | m), no inicio da subida, antes da Lapa do Tatu (fig, 22). Figura 22 ~ Pedra das Figuras: vestigios de inturas zoomorfas podem ser observados sobre wn loco de arenito quarteitico muito préximo a estrada que leva é sede do Parque. ‘esi ‘ ‘As pinturas (tamandua, tridéctilo) esto bastante degradadas por causa do supporte muito fridvel, da exposigio constante is intempéreis, da descamagao da rocha e & deposigao de poeira, Lapa do Tatu Ponto GPS: UTM 0675476/998508, 899 m (Corrego Alegre). O sitio € parcialmente circundado pela estrada de acesso (aproximadamente 6 m) que leva a sede do parque (fig. 23). A pintura encontra-se na parede de um Pequeno abrigo (5 m de altura, 4 m de 25 largura), dentro de um nicho a 1,80 m da base do solo. Os pigmentos utilizados so de cores amarela e vermelha ea técnica & do tipo pintura preenchida, Figura 23 ~ Lapa do Tatu: vista da Lapa do Tatu, ‘mostrando sua proximidade com a estrada e sua exposiedo ao sol e & poeira. O suporte do abrigo & um afloramento de meta-arenito quartzificado, proximo a outros afloramentos do mesmo tipo. A gua mais proxima é a do rio Preto (aproximadamente 50 m). Figura 24 - Lapa do Tatu: a pintura do estilo “Planalto” encontra-se bem conservada na parte inférior (pés, barriga). No emanto na parte superior (cabéca) os tracos desapareceram. 0 piso do abrigo se compde principalmente de rocha quartzitica e de sedimentos proveientes do entorno do afloramento. A vegetagio local de cerrado compée-se principalmente de arbustos, Nomes populares : quaresmeira, tapicuri, mutici de flor amarela, candeia, pau terra, jacarandé, alecrin do campo, . Nao foram encontrados outros vestigios arqueolégicos no solo do abrigo ou em seu entorno, a no ser uma tinica lasca de quartzo leitoso (antrépiea ?) e coquinhos, provavelmente trazidos por —roedores Enfim ressaltamos que a pintura (fig. 24) esté exposta ao sol e recebe os raios da manha,, nfo havendo nenhuma protegdo pra filtré-los [M.J. Rodet et al., 2003]. Lapa do Pogo do Veado Ponto GPS UTM_ 065868/7996793, & 804. m (Corrego Alegre). A pintura encontra-se num abrigo de meta- arenito quartzificado situado as margens do rio Preto, no local onde este forma um grande pogo (fig. 17). De acordo com 0 gerente do Parque, 0 local ¢ sistematic mente inundado pelas enchentes anuais do rio. Figura 25 - Lapa Pogo do Veado: em superficie, 0 sedimento atual do abrigo & a areia fina proveniente da desagregagdéo da rocha e' dos cohivios do rio Preto Este fenémeno ¢ visivel tanto pela quantidade de areia que inunda o local (fig. 25), formando uma grande praia até a parede do abrigo (a areia trazida Prineipalmente pelos colivios do rio é atualmente 0 nico componente de sedimentagiio do solo do abrigo, como pela presenga a uma certa altura do solo, de galhos secos presos vegetagao ribeirinha. Neste contexto, o tinico vestigio observado € uma pintura (veado) pouco visivel, realizada em pigmento vermelho. O suporte encontra-se muito degradado exposig%io permanente A luz, exposigo ao sol, presenga de — microorganismos, evolugdo natural da rocha, .... A falta de Protegiio do suporte expdes os vestigios a contrastes de calores e & instalagao de micro-organismos Enfim, a vegetaco € o cerrado (parte mais alta) e a mata ciliar (préximo ao r ). Varzea da Estrela Ponto GPS 0675693/7997461 (Cérrego Alegre). Este sitio € situado proximo a estrada da Serraria, Os grafismos (dois veados e um peixe) foram realizados sobre uma superficie nao abrigada (fig. 26). ‘Trata de um setor rochosos onde no ha vegetagao no entorno préximo (setor norte, parte mais alta, acima das cachoeiras) ¢ a morfologia da rocha ndo apresenta setores protegidos; deste modo as pinturas foram realizada em um local completamente expostao ao sole A chuva, em consequéncia as figuras encontram-se bastante deterioradas. Vale ressaltar que 0 Jocal abriga uma nascente. se ores Figura 26. ~ detalhe das pinturas: a localizagao das pinturas & a céu aberto, Nao hé nenhuma protegdo natural. 26 Sitio da Santa Ponto GPS: 067502 N/79907521D, 1077 m (Corrego Alegre). A imagem de Nossa Senhora Aparecida (fig. 27) esta instalada sobre um bloco de de arenito quartzitico (altar construido com © mesmo material). Acima da imagem, no setor liso da rocha encontram-se vestigios de pinturas: quatro quadrapedes sobrepos- tos por pixagées modemas. Os vestigios pré-historicos so de cor amarela. ¢ alaranjada e sio do mesmo estilo. O Suporte € sempre o mesmo, arenito quartzificado claro. A Agua mais préxima do sitio é 0 eérrego Taiobal (proximo 1 km). A vegetagio do entorno do sitio & 0 cerrado e os campos de altitude. Foi realizada uma ripida prospecedo no entorno préximo : nenhum outro vestigio pdde ser observado. Enfim, vale ressaltar que suporte esti bastante alterada, nao s6 por degradagde: antrépicas atuais, mas também pela prépria estrutura da rocha que descama-se facilmente. Figura 27 ~ Sitio da Sama: 0 local é ainda uilizado para veneragdo de Nossa Senhora Aparecida. Para terminar este capitulo € necessério assinalar um local prospectado, que nos foi indicado por Deco, um dos funcionétios do Parque. Trata-se de um grande macigo (meta-arenito quartzificado), completa- mente carstificado (no minimo trés niveis) com condutos, canais, alvéolos, (fig. 28). Por questées de seguranga e tempo somente os niveis inferiores, préximos a0 solo foram B interessante notar que o local tem varios aspeetos positivos para uma ocupagdio, sem que no entanto pudessemos observar qualquer sina da passagem humana: Protecio contra o calor e contra a chuva, ventilagio, matéria prima de alta qualidade para lascamento (setor com quartzito muito fino), visio sobre uma grande parte do vale, protegio em fungio da altura, proximidade com agua, paredes lisas para pintura, E possivel que o local tenha sido pintado, no entanto a maior parte da camada superficial da rocha foi _naturalmente retirada e péde ter levado consigo os vestigios dos grafismos, Um trabalho detalhado deyerd ser feito no setor. Demos um nome provisério ao. sitio, Labirinto de Zeus, na espera do nome definitive que deverd ser indicado pelo “inventor do sitio”, 0 Deco. Figura carstificagdo da rocha que criou tocais extremamente agradéveis e de rara beleca 27 2.3 - Vestigios Ceramicos Para a ocorréncia de vestigios ceriimicos, 08 trabalhos se restringiram a andlise de alguns vestigios cerdmicos encontrados em um tinico abrigo visitado, e a levan- tamentos de informagdes orais. Também foram assinalados locais potenciais, para futuras prospecgdes. 2.3.1 - Ocorréncias dos vestigios cerdmicos Lapa do Urubu Os vestigios ceramics observados no abrigo encontram-se depositados sobre o solo de superficie, dispersos em 2 conjuntos distintos perfazendo o total de 12 fragmentos, sendo que um destes fragmentos permanece enterrado, podendo ser a metade de um vasilhame ou mesmo ser um vasilhame inteiro (seria necessério escavar o local para saber se 0 vestigio esta inteiro ou em fragmento). ‘A maior parte dos fragmentos se concentra proximo @ parede do abrigo, incluindo o “pote” enterrado, os outros fragmentos se encontram dispersos em torno de uma estrutura de combustio, e também proximos a um pequeno canal de pingueira (parte sul do abrigo). Conjunto 1-8 fragmentos Cor: amarela clara. Espessura: entre 5 e 6 mm. Tratamento de superficie: decoragio plastica. Decoragio plist (motivos geométricos). Manufatura : rolete. Pasta: areia, gros de hematita, gréios de quartzo (<1 mm). Queima: nao foi possivel identificar. Obs.: ocorréneia de fuligem face externa da pega. alisado e com estriado, — incisa Decoragiio Plistica : = Incis Localizagiio na pega: poryio superior do bojo, até a metade do pesco¢o; striado. Localizagiio na pega: porgao superior do pescogo até a borda (fig. 29). Estado de conservagiio dos vestigios : 2 fragmentos se encontravam bastante erodidos ¢ muito pequenos. Figura 29 - fragmento conjunto I: notase foligem na face externa, Conjunto 2 ~ 4 fragmentos Cor: bege. ‘Tamanho dos fragmentos : +/- 4,5 em, Espessura: 7mm. Manufatura: modelagem. Tratamento Superficie: alisado e decoragio plastica. Decoragio plistica: estriado, _inciso geométrico. Figura 30 ~ conjunto 2: incisbes geométricas na ‘face externa, Pasta; muito compactada, argila, gros de quartzo (< 3mm); mica em baixissima proporgao. som de Queima: a Vitvificagao — queima com oxidagao total pega apresenta da pega, Decoragio: face interna — alisamento estriado; Decoragio : face extema — alisado sob inciso geométrico; foi possivel identificado a posigdio dos fragmentos na morfologia do vasilhame (fig. 30). Vestigio enterrado: Este vestigio pode ser um vasilhame inteiro ou a metade de um pote; é possivel visualizar em superficie a metade exposta do bojo, o pescogo e a borda. (fig. 31). A peca geométrica presenta decoragio incisa Wie eis ras fi noe Figura 31 ~ vestigio emterrado: a decoragdo & também incisa e geométrica Enfim ressaltamos a presenga de um fragmento com um "alga" provavelmente utilizada como suporte para pegar a vasitha. Este tipo de suporte remete as panelas de ferro utilizadas pelos colonizadores, 0 que leva a pensar em um_ vestigio "caboclo", portanto mais recente 2.3.2 - orais Leyantamento de informagées Iniciamos 0 levantamento de informagdes orais nas regides que circundam a area do Parque e que apresentam condigdes favordveis a0 manejo, tanto para 0 assentamento humano como para a agricultura 29 Iniciamos as entrevistas na comunidade de Santo Antonio, localizada a SE do parque, € a comunidade mais proxima ao mesmo ; foram entrevistados alguns moradores da localidade, indicados pelo guia. As informagdes coletadas nesta etapa, confirmaram a ocorréncia de vestigios arqueolégicos na regifio, sendo que 0 Sr Clarinho tinha em sua posse um machado polido que foi doado pelo entrevistado, que alegou nfo ter a intengdo de manter em casa uma pedra que atrai raio — a casa do entrevistado foi atingida por um raio 4 aproximadamente 2 anos passados, na ocasitio 0 machado foi jogado fora no pasto proximo @ casa; 0 machado foi recuperado no dia da entrevista, depois de uma meticulosa prospecgiio na rea O Sr. José Ferreira, antigo morador das Boleiras, achou 2 machados polidos Capiio do Imbiré (Indequicé), 0 local era usado para agricultura; o filho do Sr. Clarinho a 3 anos passados, encontrou um. machado polido a aproximadamente Ym de profundidade, quando fazia buraco de cerca, 0 local se chama Grota do Acaba Mundo. Outras informagées indicaram a ocorréncia de vestigios cerdmicos nos _locais denominados: = Cachoeira dos Crioulos (2 potes inteiros, decorados) = Lapa do campo do Veado (0 Sr. Clarinho achou pote inteiro). - Capo dos Negros encontrou 3 potes inteiros), Estas informagées serao checadas na fase de prospecgées. (St. Alcides Também visitamos © local onde existiu um antigo forno: as ruinas se encontram muito descaracterizada na superficie, no possibilitando fazer uma descrigaio do mesmo, 0 local teria que ser escavado. Enfim © machado doado encontra-se sob nossa guarda, Por uma questo de tempo este niio foi ainda estudado. Comprome- temo-nos a estudé-lo ¢ este sera entregue ao Parque Rio Preto, devidamente analisado no nosso préximo relatério. Pontos GPS (Cérrego Alegre) = cacos cerdimicos: 23 675643- E / 8002272- N, +748. = local do forno: 675637-E /8002231 m +750 ~ Machados polidos (2 — encontrados por Sr. Alcides): 674570-E / 8002921-N, + 806 Encosta ingrime, os distanciavam um do aproximadamente 150m machados se outro em 2.3.3 - Conelusiio Esta primeira etapa de reconhecimento, possibilitou ao grupo um primeiro contato com os moradores dos arredores do Parque. Pretendemos realizar prospecgdes com énfase nos locais tradicionalmente Utilizados para lavoura, sem no entanto esquecer os locais indicados _nestas entrevistas. Quanto 4 analise do material cerdmico encontrado na lapa do Urubu, esta se restringiu a um. registro sumario de caracteristicas fisicas dos fragmentos de superficie, portanto um estudo muito preliminar de caracterizagao tecnolégica e de filiago cultural. Wa — Geoarqueologia e Meio ambiente Nossa abordagem € uma proposta de investigagdo que visa contribuir com 0 educador ambiental em sua tarefa de educar e conscientizar sobre a importancia da preservagio do meio ambiente, em especial, dos sitios arqueologicos ¢ de seu entorno. ‘A educagio ocupa um lugar fundamental nna formagio para uma nova mentalidade em relago as atitudes de preservagtio do meio ambiente. A escola deve tornar-se uma forte aliada na conscientizagaio em termos do saber cuidar do planeta em que vivemos, formando cidadios criticos © atuantes. Apenas, a sensibilizaglo ¢ conscientizagao ambiental ou social em que se discutem as causas ¢ as razdes dos problemas nao séo mais suficientes. E necessirio adequar bons valores & agtio do homem. Em principio, para que possamos desenvolver uma mentalidade que respeite ¢ preserve 0 ambiente devemos estimular em cada um a capacidade de questionar 0 nivel de qualidade de vida desejavel para inés e para os nossos descendentes. Implica também avaliar 0 grau de importincia que a Terra tem, pois vivemos num planeta onde todos os elementos que o constituem © habitam esto interligados @ sio interdependentes. Edgar Morin [1993:189] afirma que existe uma complexidade fisica, bioldgica e antropoldgica que caracteriza © nosso planeta, “onde a vida é uma emergéncia da historia da Terra, e 0 Homem, uma emergéncia da historia da vida terrestre”. Esta concepgdo contribui para justificar 0 nossa discussio, que se propée a investigar © papel da escola na preservagto ambiental e dos sitios arqueolégicos. O ambiente ¢ 08 sitios arqueologicos sio marcados pela historia da evoluga do préprio homem, ou a seja, a nossa identidade cultural constituida a partir do passado, do quem fomos do que somos ¢ do que desejamos ser, Os sitios arqueolégicos se relacionam intimamente com o meio ambiente. Quando se encontram protegidos em Unidades de Conservagao hé menos riscos de depredagio, mas, mesmo assim, os riscos existem (seja por parte daqueles que escavam, seja por parte dos visitantes ou moradores da regio). Para que os riscos de depredagdo diminuam no caso de escavagdes ¢ necessiirio que toda a equipe de exploragao tenha embasamento sobre os principios ¢ pritieas da Educaglo ‘Ambiental ¢ Patrimonial, sobre o saber cuidar e, consegiientemente, € necessirio que tenham construido valores sociais, conhecimento, habilidades, atitudes. & competéncias voltadas para a conservacio do meio ambiente em sua totalidade incluindo ai os sitios arqueolégicos. Os sitios quando esto espalhados ¢ sem uma protegio institucional tornam-se, mais facilmente, alvo de vandalismo € depredagao. ae Comunidade e Geoarqueologia Em relagdo a comunidade, seré necessério tealizar um trabalho de informagio ¢ sensibilizagdo por meio da escola. As escolas nas comunidades so um importante instrumento de formagao, devido a sua abrangéncia e missio. Para sabermos como a escola vem formando seus alunos, devemos nos perguntar sobre quais so 0s conhecimentos © discursos que elas tém cultivado sobre o assunto, ou seja, precisamos saber em que medida 0 imaginétio construido pelos docentes ¢ discentes interfere ou niio concretamente na preservagio do meio ambiente e dos sitios arqueolégicos localizados em seu entomo, Para isso, busca-se 0 auxilio das teorias do imaginério e da andlise do discurso, incluindo Foucault, para aleangar © imaginario, ou seja, busca-se explicitar sobre as representagdes que os diversos individuos de uma comunidade tém sobre 6s sitios arqueoldgicos. Para que possamos estudar 0 imaginario social e as representagdes da comunidade escolar em relagéo ao meio ambiente e sitios, devemos analisar quais so os conhecimentos prévios dos professores e alunos sobre 0 tema, Com base na anélise do discurso, identificaremos se esses conhecimentos so suficientes para promoverem mudangas de atitudes como apontam as tendéncias contemporineas da educagio (saber fazer). Confrontaremos & escolheremos dentre as teorias do discurso quela que melhor se adapta ao estudo do imagindrio e das representagdes para esse caso. Como exemplo podemos citar que em conversas informais que realizamos junto @ equipe da arquedloga Maria Jacqueline Rodet, colhemos alguns depoimentos orais da populagdo local da APA da Serra do Sabonetal (Municipio de Itacarambi). Seus discursos demonstram em geral a idéia de que os sitios servem como fonte de renda, ou seja, por meio deles podem “ganhar a vida”, como dizem, eles oferecem a “possibilidade de encontrar material para a comercializagio”, numa ““perspectiva de lucro pessoal”, novas Essa_vistio reducionista que percebemos no € representativa da populago em set Conjunto, mas podemos especular que, como ocorre com a maioria das cidades brasileiras, essa imagem carece de uma perspectiva de valorizagio patrimonial e histérica, Em paralelo com a questio da preservagio ambiental, o conceito de patriménio natural e histérico integra a perspectiva de — universalidade, de coletividade, em que a posse de um bem piblico supera o imaginério do privado. O meio ambiente, tem sido colocado hoje como um bem defendido por todos os: povos, Como afirma [Morley 1999: 375], “Seria interessante lembrar que o bem arqueolégico tem também esse cariter universal, pois revela dados importantes sobre o passado da humanidade”. A falta dessa informago sobre o valor do passado e, em especial, do significado do que sto da importincia de sua preservagio e universalizagao como patriménio da humanidade leva Morley [1999; 374/5] a afirmar que qualquer esforgo para preservar 0 patriménio histérico serd inécuo se nao se contar com a participagao da sociedade, incluindo ai, obviamente, a comunidade escolar. 3.2 —- Comunidade e Educagao Ambiental Nesse sentido, como sugerido por este autor, considera-se importante que sejam adotados alguns pressupostos onde a educagao na sua integralidade, incluindo a Educagéo Ambiental, trabalharia no sentido de preservar o meio ambiente, em especial, os sitios arqueolégicos ¢ 0 seu entomno junto as comunidades, sto eles: -desmistificar a Arqueologia destruindo os aspectos fantisticos e equivocados e fortalecendo a sua importéncia intrinseca através da difusio de — informagdes cientificas; -valorizar manifestagdes culturais; incluir temas relacionados 4 — Arqueologia, principalmente, os relacionados a pré- histéria, nos curriculos _escolares, utilizando sempre ~——_informagaes. provenientes de textos produzidos no Brasil; = ¢, finalmente, a formagio de uma consciéneia sobre a importincia do patriménio arqueolégico, como fonte de informagées e que pode ser usuftuida por todos. E muito. importante dizer que esta conscientizagio é, antes de tudo, base da nogiio de cidadania, A formagio de uma consciéncia sobre a impotténcia do Patriménio historico, inserida na formagai para a cidadania, implica analisar a Proposta de referéncia curricular nacional para as escolas, A formago para a cidadania é encarada como fundamental pela educagio escolar brasileira, A LDB n° 9394/96 apresenta Prinefpios que norteiam a proposta dos ONS sobre a formagio da cidadania, Dente outros aspectos apontados no artigo 32, a escola deve criar condigdes de aprendizagem para: “II - a compreensiio do ambiente natural e social, do. sistema Politico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade” [PCNs, 1997: 16]. A concepgao de conteiidos curriculares como meios para que os alunos desenvolvam — suas capacidades exige uma resignificagaio, em que a nogio de contetido escolar se amplia para além de fatos € conceitos, ou seja, de metas informagées, passando a incluir procedimentos, valores, normas e atitudes, em um aprender a fazer que resignifique ages pouco comprometidas, por exemplo, com a preservagio do meio ambiente Para que o aluno tenha uma visio global das questdes ambientais e, em especial, da Preservagio de sitios arqueolégicos, espera-se que todos os profissionais da re ee ee especialidades para trabalhar os temas do meio ambiente, incluindo as relativas & preservagao dos sitios arqueoligicos, de forma interdisciplinar, ¢ que possam conjuntamente discutir e avaliar as questdes levantadas, possibilitando na pluralidade de saberes, aberturas para a Compreensio e transformagio de atitudes em relagio a realidade. Desa forma Procuraremos investigar e questionar se efetivamente a escola procura trabalhar os temas transversais (especificamente 0 que trata do meio ambiente) em busca de um aprender a fazer. 45 No entanto, quando falamos do papel da escola na preservagio. dos sitios arqueolégicos, estamos entendendo que a escola tem como papel principal contribuir na formagio de uma sociedade consciente de que a perda da meméria cultural é algo impossivel de ser recuperada, sua Preservagiio é tarefa de todos e esta “Iuta” no tem fim, Esses achados arqueolégicos epresentam o pasado da humanidade, mostram como os homens ocupavam o espago ¢ o transformavam para atender as suas necessidades, E necessario compreender que somos herdeiros deste Patriménio e preservando-0 estamos contribuindo para a meméria cultural do pais, A escola se insere neste contexto, como instrumento coletivo capaz de conttibuir para a construglio de uma nova mentalidade e de um novo fazer em relagao aos sitios arqueolégicos (do entomo das comunidades escolares), principalmente, os situados em Unidades de Conservagiio, 33 — Proposigées para as comunidades préximas ao Parque Rio Preto Algumas sugestdes para serem aplicadas has escolas © nas associagdes do entorno do Parque: ) aprofundamento te6rico sobre o tema, com a intengio de fundamentar os conhecimentos dos professores (proposig0 pelos arquedlogos de textos, livros, filmes,...); b) observagdes participantes, entrevistas e questionarios poderdo ser elaborados ¢ aplicados na comunidade escolar afim de que seja diagnosticado o discurso utilizado na escola; ©) criar um trabalho de educac&o ambiental € patrimonial entre o Parque e a comuni- dade escolar (palestras de especialistas nas escolas, visitas de alunos ao Parque, ...). Conclusio A definigio do contexto geolégico ¢ geomorfoldgico veio confirmar nossas observagdes em relagio a fragilidade da tocha suporte das pinturas rupestres, A geologia do setor de estudo é constituida principalmente por meta-arenitos quartzifi- cados, rocha muito friavel e muito sensivel as _mudangas ambientais. Sua evolugao natural € a desagregagao das particulas (gros de areia), 0 que leva a perda total dos, vestigios rupestres, Nota-se que esta evolugao esta em fase adiantada e que suportes que nfo apresentam atualmente nenhum vestigio podem ter sido locais com pinturas. Neste sentido, um trabalho de salvamento em alguns dos sitios (Urubu ¢ Tropeiro I) é fator fundamental Outta contribuigéo direta da geologia tefere-se ao constato de que o meta-arenito evolui setorialmente em quartzito. muito fino, bem cimentado (Labirinto de Zeus); 0 que corresponde a uma matéria prima de excelente qualidade para o lascamento ida no foram encontrados indicios da utilizagao arqueolégica desta rocha, no entanto a presenga destas jazidas pode indicar locais estratégicos de ocupagaio pré- histérica, No mais, no baixo rio Preto (fora do Parque), diques de dolerita puderam ser observadas dentro do leito do rio, Esta matéria prima tem utilizagao bastante especifica dentro da pré-historia brasileira em geral, como suporte de objeto polido (lamina de machado, méo de pilio, ...). A lamina polida de machado é muito provavelmente retirada destas jazidas, mas nenbum exame foi ainda realizado que Possa confirmar nossa hipdtese. No que se refere a contextualizagaio geral dos vestigios dentro da paisagem, notamos que alguns dos blocos com pinturas esto proximos & passagens atuais (estradas ou caminhos). Algumas pinturas encontram-se 49 em locais muito especificos do tipo col (en francés): que so passagens naturais (¢ mais facéis de serem empreendidas) entre dois vales ou dois topos de montanhas, A ttadugdo mais proxima em portugués seria “passo” (lugar de passagem habitual) Como exemplo podemos citar a Lapa do Tatu, situada numa passagem entre dois vales (a estrada atual passa no setor) ¢ a Lapa da Santa. As pinturas da Varzea da trela estio também numa “passagem”, mas neste caso, com um detalhe a mais niio ha reentrincias nas rochas locais, 2 pinturas foram entdo. (exceptionalmente) realizadas sobre as rochas a céu aberto, A questo que nos colocamos & de saber se estas pintutas estariam servindo como “mareadores” de passagens. No entanto, somente 0 conhecimento de um maior limero de sitios aliado a um trabalho mais, detalhado de posicionamento e andlise dos sitios em carta geomorfolégica, permitira uma verdadeira hipotese de estudo, No mais, de acordo com nossas observagdes de campo, podemos apontar ara a possiblidade de uma organizagao de Pequenos sitios (sitios satélites) em torno de um sitio maior. Notamos que préximo & Lapa do Urubu, na margem direita do tio, existem 3 sitios “satélites” onde a morfologia dos abrigos, as téenicas de pinturas e a temética principal (veados) so muito proximas, Outra observagao pertinente é que os sitios, até agora repertoriados, esto todos localizados préximos a pontos de agua, Ao que parece, somente algumas cachoeiras foram privilegiadas com grafismos, mas é preciso nilo perder de vista que a evolugao natural das paredes rochosas certamente consumiu muitos vestigios rupestres Nosso estudo esta ainda em fase inicial estas informagées niio sfio outra coisa que partes de um grande quebra-cabega. Nao podemos ainda fazer conclusées ou apreciagdes muito profundas. Por enguanto apreendemos os dados. Os vestigios rupestrespertencem a chamada “Tradigo Planalto”, onde destacam-se grandes animais de corpo preenchido por linhas com predominancia de figuragdes de veados, Estando os painéis rupestres em acelerado estado de desintegragdo, o maior potencial informa- tivo destas ocorréncias rupestres reside em sua articulaggio com os demais pontos de evidéncia grifica e/ou com o meio ambiente. A conscientizag4o ambientalista precisa ser desenvolvida no Parque, Fica evidente a necessidade de levar até as escolas das comunidades do entorno do Parque um conhecimento da pré-histéria local. E preciso no separar 0 Homem de seu meio ambiente, demonstrando que, tanto no passado como no presente, estes doi elementos estio intrinsecamente ligados. Acreditamos ser fundamental que a comunidade participe ao projeto de valorizago e protegio de seu patriménio cultural, caso contrério ele teria sentido. No caso do entorno do Parque, & preciso dar s_— comunidades. 0 conhecimento para que estas possam aprender a valorizar este patrimdnio. Neste sentido um trabalho de especialistas (arquedlogos, ambientalistas, gedlogos, ...) junto as escolas e associagdes & fundamental. No entanto & preciso reconhecer € compreender certos limites destas populagdes ¢ transforma-los em objeto pedagdgico. A escola deve ser 0 nosso vetor para que estas comunidades tomem parte no conhecimento e conservagaio dos sitios geoarqueolégicos da regio, assim o fato de que a escola vem cre nndo na regiao é 50 visto. como um ponto positive pois demonstra uma —_preocupagio das autoridades locais em educar a populagato. ‘A. proximidade, 0 municipio de Diamantina que, por razGes evidentes, apresenta um indice de desenvolvimento mais elevado, pode ser considerado como um local onde a mensagem de valorizagaio dos vestigios geoarqueolégicos da regiio seré mais facilmente absorvida. Mas, em Diamantina, como na maior parte do Brasil, a pré-histéria ¢ completamente desconhecida. Como exemplo, citamos as pinturas rupestres proximas & cachoeira dos Cristais, completamente abandonadas e descomhecidas. Neste sentido € preciso, num primeiro momento, sensibilizar os dirigentes locais para a necessidade da protegao destes sitio: Por outro lado, a partir do momento que os sitios arqueolégicos do Parque estejam aptos a receber visitagtio, a cidade de Diamantina podera servir como captador de turistas. As visitas aos sitios geoarqueolégicos poderiio ser propostas pelo IEF e a Secretaria de Turismo de Diamantina. Enfim, o Parque podera ser um produtor de renda expondo e vendendo o artesanato local. Ressaltamos que nossas pesquisas esttio ainda no inicio, nao temos nem uma visio global da ocupago do espago, nem uma visio de detalhes dos sitios. Mesmo o material de superficie nao foi ainda coletado. Dentro da légica do nosso abalho, a coleta de material de superficie © as escavagées estratigraficas sé devem comegar quando tivermos um local propicio para guarda do material (local seguro, sem umidade, ventilado, com possibilidade de mesas para analises de material, ...). Acreditamos que este local devert ser criado dentro do Parque, onde a guarda e a organizagao dos vestigios ficaré 4 cargo dos responsiveis do Parque (IEF), de um _arquedlogoresponsavel do IPHAN. Este local poderd também servir as escolas, onde alunos e professores poderiio assistir 4 palestras ou fazer pequenos estdgios, Um ponto merece ser levantado antes do final deste capitulo: trata-se da maneira Rotivel que os responséveis pelo Parque do Rio Preto, assim como seus funciondrios, se interessam © se envolvem com ay esquisas realizadas no setor. Além do fato de sermos bem recebidos e alojados, no ‘hd nunca nenhum empecinho quando trata. se de fazer pesquisas dentro do Parque. Este fato, que pode parecer simples, & para © pesquisador, fundamental pois permite que ele se concentre em sua pesquisa e nao em problemas burocriticos, como ¢ geralmente 0 caso, Neste sentido agradecemos ao IEF, nas pessoas de seus fepresentantes no Parque Estadual do Rio Preto. SSO! =a Breuiocraria - BretiocraPnie Alves-Mazzoti A.J., Gewandsznajder F, (1998). O método nas ciéncias naturais € sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa, Pioneita, Sao Paulo: 203 p. Brandio-Nagamine H. (1995), Introdu- $40 & Aniilise do Discurso. Unicamp, Campinas: 13-37, Dias-Freire G.. (2000). Educagéto ambien- ‘al: Prineipios e Préticas. Contexto, Sao Paulo: 201-355 Funari P.P., Noelli F.S, (2002), Pré-histé- ria do Brasil. Contexto, Sao Paulo, Gadotti M. (2000). Pedagogia da Terra. Petrpolis, Sdo Paulo: 77 p. Gil-Carlos_ G. (1996). Como elaborar Brojetos de Pesquisa, Atlas, Sao Paulo: 144-150, Japiassu H., Marcondes D. (1990). Dicio- nério bdsico de Filosofia. 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