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Algumas palavras sobre uma linguagem, NQ) sourmiennsias seneas arnicanas, Nos prsséupios do cinema, quando of espectadores menos intransigen- tes abriam zealmente os olhes para o novo espetéculo, mal podiam compreenslé-Jo, Mesme quando reconheciam algusras das imagens de outro lugat — win eats, am homem, uma mulher, um cavalo —, nndo chegavam aassocid-lasentre si.A ago ea historia os deixayam sonfsos, Cont ume cultura baseada em rica ¢ vigorosa cradicio ‘ral, nfo conseguiam se adaptar Aquela sucesso de imagens silen- Giosas, 0 aposto absolute daguilo a que eseavam aeostumados. Ficavam atordoados. Acolad da tela,churante todo o filme, tha qe permanecer um homers, para explicar o que acontecia, Luis Busiuel ainda conhecew esse costume (que subsistia na Africa na década de 1950) em suainfanela na Espanta, em torno de 1908.04 1910. De 1é, cot sm longo bastfo, 0 homem apomrava os personagens na tla licadort, ‘parte, Porque o cinema criou uma nova — absclutamente nova — linguagem, que poucos espectadores podiam absorver sem esforgo ou ajuda, Bem mo principio, nto era #88 © caso (pelo menos € 0 que Simaginantos), Nos primeiros dez anos, um filme ainda era, ape [ Bvespanl na origin (NE) A Lencusonw senate a etnias ) 15 basa areas 08 LAI snag, uma sequléencia de tomadas estiticas, tentral, Os aconte outro, em sega! imével,« podia-se acompan reagio da platéia era de de saber de que cra nterrupta, dentro daquele engquadramento iF aagho bem factlmente, A pri , que se expunbam diante de ao era diferente do que acontecia no oe elaramente demarcado, Naquele am, encontravamse- trocavam gestos wando deixavam © campo de vist0 (quase sempre) cor, que tudo aquilo eta decididamente Inferior aa teatro de verdede, "Nao surgi uma linguagem sucenticamente nova até Stas comeyasstin & cortar © filme em cenas, atéo n: coms outra, que 6 cinenta realmente gerow ume nov ‘Mo ardor de sua irmplementagéo, essa téenica aparentemente sim- ples ctiow um vocabuldrio e uma gramtica de incrivel variedsde. Nenbuma outta midia ostenta um processo como esse Podemios tentar descrevé-lo, primeiramente, em termos €le- ‘mentaves: Um homem, nus quarso féchado, se aproxima de waa ae olba para fora, Outra imagem, outa comada, sucede apri= meira, Aparece a rua, onde vemos dois personagens — » mulher > homem e o amante dela, por exernplo, / wa nds, atualmente, a simples justaposigo dessas duas ima- bemos mais ss conexto elementar, automt uma espécie desentido extra essacapacidade jena de percepsio)Hé oitenra anos, no entan luna discteta mas Verdadeira revolugto; daf 0 papel essene! explicador, apontanda os personagens coz o bastio: homem clha pel ‘Vea mulher dele com outeo homem, na rua.” E calvez, se & imagem seguinte fosse, por exemplo, 0 kosto enraivecidona espreita, desca vez perto da cimera uma nova oust: dia, nova mudanga, novo tamanho da figura, novo uso do esparo}, ‘ explicador continuaria:"O homem esti furioso.Acaboudereco- nhecer oamante da mulher, Esta com l Das primeiras seqincins de desenhos dos artistas pré-hist. ricos até a sucessio das chapas de projegde da lantertia magica, 2 mio €o olho humanos trabalharam ineansavelmente, ¢ as vezes ‘com surpreendente sucesso, para nos mostrar oimpossivel— pata ‘nos mostrar movimento numa imagem esttica, Sé desse pontade vista, 0 cinema repeesentou um peodigioso avango tecnico. Mas a verdadeira inovagio — empolgante, nunca vista e talvez nunca senhada — reside na justaposigo de duas cenas em movie mento, a sequrida anulanda a primeira, ao sucedé-e, Fiquemos por um momento com ¢ home que espreiea pela janela aboca da vinganga. Agora, a mulher se despede do amante © s¢ sla vé o uarido na janela, & treme de meda, Quase pocemas ouvir seu coragio bater, ‘Se, nesse momento, o marido for filmado do ponto de vista de miller, direcamente de baixa para cima, inevitevelmente vai parecer ameazador, toda-poderose, Apenss a posto da cimera produzira esse cfcito, independente de nossas proprios sentimentos, For ‘outro lado, se virmosa muther do ponito de vista do marido, de cima para baixo, cla parecerd amedrontada, vulnerével, culpada, Imaginemos que a cena se passa a noite. Se o ditetor decidir disper as luzes de modo que o rosta do marido fique iluminada por baixo, fazendo os dentes brilharem, exagerando os ossos das ‘magas-do rostae as rugas da testa (elemento importante de filmes de horror), o homem parecerd cruel e aterradar. Por outro lado, gio suave, impressionista, pode fant-lo parecer cle- Atanouagen tnenmea oe erneus } 17 aaweiceseese mente, As comédias sempre pedirars uma iluminagio bei alegee: « fiivolidade evita as sombras, O divertimento foge dos contrastes violentos — ou costumava ser assim, porque, nese ‘campo, os padrdes esto mudando rapidamente, Tudo fiz parte da vida e do amadurecimento de uma linguagem. Vokemos por um momento ao nossa simples como parece, pade, de repente, se complicar, porque ‘cinema, provide de novas armas de Sbvlo potencial, logo foxgou caminho no mundo das idéias, da imaginagio, da meméria ¢ dos sonhos de seus personagéns. Especislmente o cinema mudlo, que ios eselarecer sobre sen 6tigs, laborouese a mais surpreen Logo surgiu um codiga bastante p Se, depois da toma- da do rosto enraiveeide, vemos a homem esttangulando selva~ gemente a mulher, podentos admitir que isto é real, que estamos emunhando a conclusio prev jugs algumas horas depois. Mas se, epais dessa cena no qu: ‘mos & expressio irada, a0 marido ainda olhands pela mesms jane- Jae vendo os mesmos personagens na rua, uma espécie de instinto secrete nos diz. que a cena do estrangulamento nto accntecen de verdad, sue fol nserida simplesmente para nos mostrar a faatasia ido tealdo, seu desejo oculto, talver até sua firme i w ele ainds.ndo real res da filme quisessem que soubéssemos {mediaca- 4 cena se passa fia mente, poderiam até usar wm artticio fuzera figura ose, cu se dissolve raalmente, ou se parecer. Esse recurso forenal, embora hoje poses #,que estava acontecendo uma rapida fuga da cealidad, 105 outro artificlo. © homem olha para a rua, 268 slesaparevent. Agora, verios a igrima he escorre pela face. Aqui, no testermunhamos uma cena de verdade, mas urna thus 10. 0 maridainfeliz (ou possivelmence o vitwo) estava-vendo uma coisa que hauia aconcecido naquele lugar, algum cempo antes. E assim por diante: ele podia ter se visto ao lado da mulher; podia ter visto ume ¢ 3b 0 chapéu do amamte quanclo este se vitou para olhat de repente, uma mulher diferente da sua, vestinde as mesmas roupas. Em cada caso, a s encarada como um tado contaria uma historia diferente, € Jinguagem se teria adaptado para se ‘mulkidia e, de sibito, param. Se, nesse momento, outro personagem for imediaramente focalizado, sabe- | tos que © prinito homem esta olhando para cle. Sea direpno for bem estabelecida, essa relagia fica deme: sombra dedivida, ‘0 segundo personagem ¢ destacado, isolado; percebenda isso ‘ou mito, ele é colocado raum ro homem. Um relacianamento ‘mesmo quacro adi, na hist foo justaposigte fosse pos ‘Esses processes narra 568, as navas fo Jos, e88as somparagdes, essas impres nentos por esses assorn: Dall, Luis Bufiwel fol aParis buscar filmes que ourras cécnicas, como a de filmar em eine a imagem, o que petmitia ver o que mune _gecminagio-e o crescimento de uma planta, por exempls. Cheio de entusiasmo, organizou palestrasem Madri ¢ aptesentou pes soalmente essas mar i an Epstein escrew do cinema.” rica cinemacogrdficaé especifica Aamovasen snenera we cteanes 19 ‘Todas ficaram espantados, Depois de um quatto de século sendo visto apenas como um espetéculo do tipo: peepsion em geral difemado pelos drbitros do gosto, o cinema finalmente era aclamado como a mais recente forma de ate, uma formaque, com co americana, que viaa mnho capaz de converter 0 espageem tempo amenge ao cinema como "a maior sur- press filos6fica desde Kane” cura, gem divide alguma, jf existia uma linguagem \s efeltos espectficos que izava logo se tor is de convengo internacioni de cédigo planetario. A era manip ferences, conforme s¢ quisesse sugerir um sonho (nesce caso, em primeiro hugar, 08 olhos do personagem se fecha ‘yarn, uma lembranga ou o impeto de agit, © rosto ¢, particular. riente, os alhos do ator projetavam e recebiam sinais que orge- nizavam a narrativa e criavam sentimentos. As imagens falavaun através do olhar, ; E falavam para todas, Ao contrério da escrita, em que as pala- vras estio sempre de acordo com um codigo que voc8 deve saber nia sénova, como também universal: um antigo soho. Pouco a pouca, enquanto a cinema amadurecia — e ele ama- ide maxima, arrastado pelo {mpeto do mais , essit regras formals que constituiram a nova inguagem renderam @ ocupat cdesapareceram. Uma linguager que mal mortendo, Em A belada tarde, de 1966, Luis Bufuel interrompes, de forma repentina, uma cena em gii¢ Catherine Denese sobe ‘uma escada numa casa desconhecida, para mostrar wma cena en que aparece uma menininha. Ele fer esse corte sem nenhums rmudanga pereeptivel na imagem, sem nenhum tipo de sinal oset- 1, enevoamento, escurecimento, passagem da cor para o preto tute ampindos por una lent, stands wn peguenoel fis (NT) + branco} que nos avisasse — como teria sido o caso, trinta anos antes — que estivamos saindo da vertente principal da historia, E, ainda assim, percebemos de imediata ('n6s", os espectadores sé Europs ¢ dos Estados Unidos, mas possivelmente de nenhum utto lugar), e virtualmenee sem nenhuma possibilidede de erro, que essa menininha-¢a propria Séverine (a per i tada por Catherine Deneuys), quando erianga. Com a brusquidao ar nosscs sencimentos vutis assaltaramena enguanto elasubia aquele escada extremamente banal Nocasode beladatande, somos ajudades por uma, ade sua rie, Quando a cena da lembransa comega, ela chama.s menininha pelo nome: “Séverine!” Desde que jé subemos 0 ptitncito nome da personagem, esse grito (inacessvel aos reaizadores do cinema mudo, que precisariam ter procurado uma solugo diferente © possivelmente mais ciativa), esse grito nos orienta sem problema Hoje, parece quase explicativo demais. Quase erinta anos depois, am 1993, esa sinalizagioac estilodos anos 1960 parecer, por sud vez, demecessiria,c seria retirada. E Bunuel talvee pudesse passa de uma imagem para outra sem qualquer precausdo desse tipo, como fez O disreto charme da burguesa, coma outros fazern. © espantoso ¢ que, & medida que nosso século avanga, renta mos ainda, de algums forma, acompankar essa bizarra evolugio Lingnistica. O.queestd era ago aqul € umnarelagh entre aqueles que fazem filmes © aqueles que assistem a filmes, uuma regio que nunca é vists por ninguém, mas queé umaprovin- cia demuitos olhos. Os cineastas, que so eles proprios espectado- res de filmes feitos por outros, cém uma vaga idéla sobre se serdo ‘ou nto compreendides por seus contemporineos, Este iltinios, ‘por sua vez, se adaptam (involuntariamente, cow freqléncia de miido ‘iiconscfeie) a Formas de expeessio que par um breve periodo parecem ousadis, mas logo se tornam lugar ns. ‘0 primero homema fazer a imagem cremer a fin de indicat uaa] foi um verdadeiro inovador. © segundo aperfeigoando 0 processo. Na tetceira Hees fu A vcuscen rreatrs ea conten ) tt 10, algo ja visto, algo j8 realizado, acolhem como se fosse um velho amigo. Uma ram (um diretor pode também podle ented isco caleulado. E or gue ew 30 doveria? Mas isso eduzit sus concentragto. Um ousar—e,de vex em quan Quase no-comeso da aventura, os cineastas perceberam que & ria de imagens re e duradoura do que a de palavras e Frases. Lembramase corpo brane de uma ido de um transatlanti¢o vermelhe, dd forma muito mals vivid, do que palavras que deserevam mats ov menos satisivoriamence aquelé corpo ot aguele navio em chamas, Estamos, de qualquer modo, dando com um outro género dé meméria, completamente dife- rente, que pode ser partilhada por poves diversos, no importa & Lingua que eles falem. Toda tipo de expressio — pictorica, tea ias reconhecidas ou néo reconhecidlas, ‘uma fonte de conheciientos, pablica ow privada, que brilha com ‘maior intensidade pata alguns e com menor para outros. E todo nnundo encontra sua voz, sua postura, seu cardter, nesse denso oom que todos habitamos—uma posturae umeardver que tros, um dia, irao redescobrir ¢ lembeae. (0 inema fez uso préiligo de tudo o que velo ances dee. ‘Quando ganhows fala em 1930, requisitou oservigo de escritores; ‘ou pintores; recoree a mésicos com sua visio, com sia forma mulher, ou um incéndie social — vive de men com 0 sucesso da cor, at ec arquitetas, Cad de expressito, Mas ele se formou, antes de mais nada, 2 partir de si mesmo. 14 a. mesmo c imediatamente ge copiou, se reinventou © assim por diante. Invencou at cldas: operador de cimera, di mesmo Fungaes sinda desconhe- r montader, engenhel som: todos, gradalmente, desenvolverara apaduria tes instrumentos de trabalho, E fol através da repetigao de formas do contato cotidiano com todos o8 tipos de platéias, que a line guiagem tomou forma ¢ s¢ expandi, com cada grande cineasea enriquecendo, de seu proprio cito,o vasto¢ invisivel dicionario que hoje todos nés consultamos. Uma llaguagem que co en mutegto, semana a semana, dia a di dessas relagdos obscuras, coma reflexo: velox wérias, i elagdes que cons sociedades humans : \ Equa extromamente velo Em menos de meio séulo, cinema passou por tudo 0 que acomteceu entre of saliéquios de Racine e « poesia surrealist entre as afrescos de Giotto e as pinturas de Kandinsky. FE uma rte em movimento, uma arte apressada, uma arte em incessan- te solavanco ¢ desordem, lt0, As vezes, leva 0s elneastas a vet snudangas profundas em meras al HeNroE-&H Liiguagem (embora nfo da propria linguagem, i@ Verettion Caitinua se de roncande com os mesmas obs imento, réenics « de mudanga com ‘nfo hd nada que o cinema ndo py i Quras formas de arte parecemestar muito defi juais sia verdadeiras e raros — ea enxergar apenas nesinas rotinas reperidas no mais recente disfarce tecnoldgico, A tunousaen enenera 50 ctness ] 15 yp aici rnb aca bia ‘Sem o:percebermos, somos semelhantes iqueles dignisarios afti- canod: por tet muito para ver, nossas olhies, com Frequéncia, nde conseguem vet mais coisa algumta, Por isso, eésa.confusto que vemos & nossa wolta, essa sensagio ae “revolugdo" permanente, de exaleagfo ¢ insatisfario, de ums compulsie-quase patolégica por mudar as formas exterlores — & vot confundie esse proceso com uma verdadeira mnudanga, Wo existe uma resposta nova para a velha questo. A evoluglo da linguagem cinentatogréfica.e paricularmente & i montagem, fot ripida eextensa Tanto assim que, na época anterloe 20 apare: cimento da televisto, prisioneiros recém-libertados, privados de filmes por cerea de dex anos, cont freqaenciatinham problemas para entender © que se passava nas telas dos cinemas. ‘Os novos filmes cram répidos demais para eles. Como video — géneto nde multe compreensivel no qual as for mes sto apreendidas de maneita fugidia demats para ques possi- thos apreciar ou mesmo Wentficar —, ests eveluguo entrou numa fase inteiramente nova. Os efeitos de montagem acelerada cerci- mente nic sionavos (s80 conhecidos desde 1920}, mas, porlengo tempo, foram meras experimentagees escéticas, semelhantes & pintura abstrata ow misica atonal, Enereranto, aliadas as formas vais exttemas de-mmisica pop, essesmesmios efeitos de montage volume de som desses slips perma- {em outras palavras, extrermanente alto), nao importa 0 quio afastados estejamos dos milsicos & dos cantores, masasimagens se sucedem, wms 3s outras, numa série 1 inesperados, em mudangas espasmiédicas de formato fe de Angulo. camo ge tentassem fragmentar e dispersar nossts faculdates de percepfio, com a intengae manifesta de eBmimar & conseiéncia etalvex até mestio a vista. “B uma linguagem ao mesmo teripo desordenada ¢ efusiva, Nio exige ada da mente, pols procura negr cérebro © ctho no. ‘momento-em que éles preeisam estabelecer contato, assim como eausar um curto-cireulito no nervo dtico, estimulande dire- e avisine aaudigdo, sem obeneficio de um intermediéric, Bea dissesse: is 10 se dissesse: isso € 0 mals longe onde ire é aqui queew ses ek epee may pee toon Ye sm alas one nr aca Na frnes| manac de dee minados videos, existe a visio sinistra de uma pristo, na qual se se invernos enlouguectios. L4 estao eles, maquela imagem plana projeteda, na qual os limites da tela de tevé ou de sinema ‘os encerrou, Reflevores brilham dus rorres de vi Prisioneiros parecem uivar por seu desespeco ‘apenas imagens encarceradas niio deixa escapar nada, mas is cdo, Aqueles que escudaram an a chama de “o mais complexe objeto domi cara a ore a linguagem estd situado no onde tram a ravio, 3 légica, a memés stameciets intoligente de idéias e patcepsées. A faculdade se ‘visio, por sta Vea, sitta-se no lado direito, junto com a imagina- #0, aintuigoe a aa ade normal do eérebro pressupae que os dois hemisfé “onem em harmonia através de incontveis, mindsculase velozes conexdes, Se isso ¢ verdade, entao nenhum oérebro traba Tha com maior amplitude ¢ com mais intensidade do que aquele de licitado constantemente a. fundir © verbal Entretanto, dizeii que os japoneses tém seu centra de lingua- xem do lado direito, junto com as imagens e a misica. ado do smo lado — 0 que no os impede de realizar filmes t20 bons fo capitulo, sugere — mas ndo inipoe — uma pausa, Parece alcancel o fim de uma fase do meu texto e est pronto para outra, © Ieitor pode fechar 0 livro e descansar antes de if — suponidasse sempre qu ra prossoguir, ‘Nie consigo pensar em nenhum equivatente cinematogréfico para esse tipo de pausa, para essa pectliaridade que caracteriza a jguagem escrita. A duragio dessa pausa depende da vontade do ; €0 a utilizo em meus prOprias lirras porgue gosto de me deparar com ela nos livros de outras pessoas, Antes de mais nada, enquanto vejo um filme, no posso interrompé-lo antes do fim (@ rida set queo esteja vendo em video). Aceito o requisivo da passi- sidade da espectador: me deixo levar e, como o resto da platéia, souarrastado, Se odiretor insere uma pausa fisica no filme—uma série de imagens om preto e branco, por exemplo (ou um comer- al) —, comete um ato arbitedtio cnja arcogineia pode me chocar ine feritar, um ato que & bem possivel que ex rejeite, Numa livre, © pode descomsiderara pausa sugericda ¢ pula frente, imedia- tamente, para.a continuagio do texto, Num filme, apausa se fornia 1, 0-espaso se converte em tempo. E esse tempo ameaga romper @ nart eu interesse, ainda que o cincasta ppossa considerar fundamental esse momento de descanso, como se fosse sma parada, a beira da estrada, dentro da historia, para contemplar um crepiisculo ou tma bela paisegem. ‘Mas isso apresenta riscos, Riscos cada vee malores, Rotelnos matilados por edi qu gem do texto, em lapis vermelho —: danger de zapping, traduzivel damente como “cuidade com o treca-traca de can: O que significa: cortar paraa perseguigio! ol nao embromar! As outras emissoras jé est4o nes nossos calcanhares, np vamos desperdisar tempo ¢ petder espectadores som essa beleza soporifera! E se estou uma {pois é nela que geratmente vemos filmes ou os revemas pela segunda vez), e perco a paciéncla com o tipo de quiccude de que mie desacostumel, ou estou aberreetido com a inerusio inesperada ‘de un comercial, rapidamente, com acontrole remote, roudo para E, se acho um filme interessante, esqueso tudo sobre co nove filme me prende totalmente a atenglo. Assim — como autor acidental, favorecida pelo acaso —, zeetio, com ‘em casa, assistinda a um filme na tev 26 Ene Gunver Cannitne esd s tuma 86 milo, 6 en0$ de imagens e sons que hoje em dia co se ou nio disso, o aparelhinko préto de controle remoto é o mais recente instrumenta individual de realizagto de filmes. ta individual que, em certos as0s, jé pose ser chamada de auto-expressio © que, algum di ser chamada de arte, e388 " que se re apertarmos © botio do controle cemoto, quase sempre de modo it palayea em ct na lingoagem so cinematogréfica; 0 s era desconhecida 0 camesa, a cinema escrevia antes de saber como escrever, tes mesmo de saber que estava escreveride, Era o Eden de Linguagem. Como num roteiro bem elaborad, a ago precedis a intengao ‘$0 uma coisa conta a resolugio de problemas wenicas, a fin de contat ita hist6ria com clareza. A realizagie de filmes selangava carajosamente na avencura. Exatemente como um honetn for sado a lutar sozinho por sua prépria vida, ou camo um homem perdido numa terra selvagem, de habitos e lingua desconhecidos, + que, pouco a poueo, descubre mantiras de se fazer entender, de envolver os outtos, de artinjar-se com aajudadeles. No comeso, € Sbri9, 0 impartente era mostrar tude, Nada de zonas de penumbra no filme. Amplas tomsdas estéticas, mov :ntos simples, emogbes sem ambighidade, © triunfo da vis (Os atores exageravam cada movimento, revieavam os olhos, aper- fava as mos, Eram exortadas a tornar cristalinas 0 enredo, a ayaa, e, de qualquer modo, herdavam uma teadigdo teatral q privilegiavaa declamagao ea postiira,e que, por excmplo, imped as mullexes — pot tuma simples questo de elegincia e dec — dé descer as mitos abaixo da cintura, Portanto, 20 verem frus- tradas suas oportunidades de deelamar, eles compensivi i in in ac ‘exagerada, Quatro ou cinco sentimentos bisicos cram.o bastante, B os diretores rodavam filmes em velocidade méxitna; no havia tempo para refinamentos. Ito viria mais tarde, quando o cinema descobriu o mistério e 2 ambigtidade, quando descobriu codes as coisas que nao precisavam mais ser mostradas, Mas, antes que isso acontecesse, com a ajuda de telas de fundo pintadas, fogos+ de-bengala, restos de figurinos © muleides de figurantes, sexe ou ito cenas eram suficientes pura reconstituir a Guerra de Tr6ia © © cinema sempre sto esse (nnpeto de se atirer de cabesa, essa aceitecao dvida das coisas nao planejedas, impulsi res, Isso remonta as origens, aos primeiros vinte anos ‘es, untes que os modismos (uma vez que a chamada Grande Guerra jf estava fora do caminho) se apoderassem da “sécima arte". Antes que os intelectuais (comesando por volta de 11925) langassem longos e sutis teatados analiticas ate hoje, enehetian vitlos cargueltos giganteseos, 0 . Bra possivel, © ainda ¢, tor itfrlos ou de urna fortuna particular, Mas esté cada Nao hé razto para deplorara procissto de eriticas que peram- bbulam através de um século extraordinariamente propenso.i ani« lise ea interpretagio (mais ainda doque aséeulo XV1rido durante muito tempo como daminante ne:se campo), nem paralamentar 6 intermindvel cortejo de liveos palestras, quios, Obviamente, o cinemando podia continvar sendo u cio de pargue de diversdes, sempre repetindo como um papagaio © mesmo vocabulério, Cada contimecro do curco — mias i mente petedrrida —caminho do pastelao carieato da Chapl epoca da Keystone até os momentos sublimes de O grande ditador ou de Monsieur Verdoux estava por sor atravessado. Q que foi feito. com orgulhs compreensivel, pois que outro sécula poderia vangloriar-se de inventar wma:nova forma de arte? De eolocar urn novo espelho diante da humanidade? Foi realmente uma coisa admirar, digna de orgulho ¢ reflexto, particulermente porqu durante todo esse curto percurso, a linguagem cinematogrdtica 56 expandit constantemente, se modificou, se adaptou 4 incons- tincia dos gostos, Uma evolugdo fundamental, pois as formas que apenas se repetem morrem rapidamente de esclerose. ‘Tantas experiéncias num tinico século! N doas coisas se destacam para mim:\presss solavancos, estas investidas em todas as diregdes, essa luta ‘estabilizar a produglo, para estabelece sas paises mals inesperados, essas expedicoes em grupo, essas ‘exploragées de terreno, no ha divida de que tudo isso tina que acontecer. Existe até umm género de afiecionados, perversos 6 bastante para examinar culdalosamente a projegdo de sistentes. E, conseguin- do isolar aquete tiniea fotograma—a mais breve das rida entre imagens ensolaradas —, sem diivida correrio paracasa «fim de vangloriar-se de sua descoberca, Néo, nlaguém deve lamentar nada disso, Ainds que toda essa pressa e esse frenesi tenham gerado a compreensto (is vezes desesperada) de que a corrente da cinema flui mais rapidamente doqueas outras, de que toe se entredevoram, de que aio por née athavessade fui através de corredeiras e sobre cachocizas, de que as eléssicos sio logo esquecidos, de que as inovagdes nao tardam a envelhecer, dle que « inspiragio pode nos abandonar repentinamente, No comego deste século, as pessoas escreviam exat te do Schnisaler, e wantos outros, sto nossos eontemporiineos. O balbo deles nos afeta diretamente, sem nenhuma neces modificasaa, Assim como na pinture, jé que ¢ ébvic que todas as fotitas existentes hoje em dia foram descobertas e exibidas 10 priblico até 1914, Nodecarrerdeste mesmo sécula, ajovem linguage ptssoupor uma incrivel diversificasto, eeontinua a procut nici cas quisar O surgimente de novastéentas de filmageme de projeqio, reimosa guerra contra o plano, o encerrado, 0 enquadrado — ange de um geténgulo achatado com ode do decepgtes comterciais, ajuda a aperfeigoar ¢ @ volver essa lingnagem, De vez, em quando, como se vencidos ‘lo eansagoda busca intermindvel, alguns de nés somos tentados parar.a dizer ssa, chegamos Ii nass0 vorabulirio es con ppleto, nossa sintaxe js fot c dda, Sobre a dimensto relativa thos enquadeamentos, sobre as denskdades da luz. @ movimento de camera, saemos tudo, Nada mais testa para ser descoberto, proclamamos. Vamos sistentatizat de wma ver por todas © nos scimento, [Esta 6 uma tentaggo recorrente pata tades os criadores. No fim dos anos 1940, as professores das ceseolas de clnema {que exam tambem cineastas) de fato mediam 08 ‘romada inveetids de wm rosto que escuta mas nao fala aio deve hunea exceder 48 quadros", diriaan aos seus alunos. Queros, em de produto, deixaram axiomas comerciais pats = pos teridade: "O herdi tein que morrer no final, ou *Nada de filmes sobre a [dade Média”, ou “Evite © munda do boxe como se evita num citule”, virania encl hd, ine di vocé ainda pode cot conta. Nem se modifica, foram de gramtica cincmatogréfica — provavelmente tedioso, que eu empreen= ja que breve, dessa linguagem de ima- ‘porque a tecnologia iguagem: sabemos que srpretardo uma cena de modo bastante al ¢ que dois montadores, utilizando 0 mesmo ¢recho imado, mas organizando-o de mania diferente, podem pro- emogoes diversas ¢ melhores momentos de um ator mediocre, pode torné-lo candidato verassimil a prémios Nao sé a linguagem ¢ complena, jé que se dirige a cada espec+ = dividualmente e & platéia como um todo (com reacoes podem falam de seu proprio -am seus propwios recursos © idéins, se Acincuaceu secnera ne crucas) 31 Possivel com seu préprto estilo suas préprias limicagoes sincrasiag Peter Brook costuma dizer que dirigit uma pega tornarvisivel 2 invisivel. A imagem do encontro decisive corn a platdia desde que o trabalho comesa, na prépriaescolha da pera existe como uma forma imprecisa, imersa mama névoa, Todo o trabalho subscquente precisa se concentrar na elucidasto dessa for le palpavel. Ao longo do percurso, inevi- tavelmente, a névon i se lssipando e revelando contarnés pre- isos, Iremos ver 0 que no conseguiamos — 0 mada como ume imagem entra em foco lehtamente no visor da eémera, Torna seria esta averdadcira fungio detodas as lingwagens? © cinema jamais caminhou sozinho. Ninguém, ot mais que esteja absorio na solidio, mesmo convencido de {ive est 56, jamais se desloca sem cofpanhia. fntencionalmente Ou nilo, © cinema coexistiy, as vexes do modo mais divide, com todas as outras formas. Ora, nos ileimos cingueata anos, 0 tro pds grande énfise no ndo-dite, no subtexto, Prestames inals atengio no que havia nas entrelinhas das pesas de Tehekhov do ue no préprio texto {felizmence, existe um bocado de coisas nae entrelinhas de TchekhosyE, assim como a arte nfo-figuraciva Ueto espago (is vEzes o espago todo) para a imaginagio ae quem a contempls, também 2 misice, buscando vibragaes Perdidas entre 2s notas, descabtiu, para além da melodia, outras Jepides menos comuns. Nurs famoso comentirio, Sacha Guitry disse uma vez: *O concerto que vacés acabaram de ouvie € de Molfgang Amadeus Morar E o silencio que veio depots tam bém € de Mozart.” Virios misicos contemparineos dizem que eu objetivo principal é deslocar.se de um siléncia para our, 2y Grotowski, «arte da danga se manifesta a quundo 5 pés dos bailarinos no tocam @ solo, também n6s sonhamos com o effmero, w leve, o que & tansportado pelo ar, todas as coisas que dizemos sem falar, ate mostramos sem exibir, Cegamente na maioria das veres, estendemos fos invistveis entre sigaos que acreditamos visiveis demais, chamativos demais, pesados demals, 52 [ awecuaver Canarian Tudo se situs na secret atividade do tempo, nos obscuros séeulo, dentro daquelas Forgas acumuladas 8 demais para serem analisadas a brilhante luz do dia, A Propria ciéncia, com seu penetrante espirito crftico, focaliza, mais dda que os préprios Faro, relagio entre estes ¢ as forgas quase insondivels que os deterrninatn, Todo o nosso século, ainda que obstinadamente conereto, pate ee secretamente obcecado com a criagto de mileplas inateriali- 245006 do invisivel. O cinema, é claro, tomou paste dessa busca. ‘Algumas vezss até mesino assumiu a dianteira desse processo, ‘Come-seu papel exigi gens em movimento, mas tambéit mostrou-nos afinidades insusps ‘So unir duas tomadas, confeontou pers sucedem um 20 out, altrando, desta forma, a herarquis nor dos objetos.no_espase (D.W, Griffith recebeu o erédi por essa descoberta), © cinema exibiu rostos humanos ‘ampliados nonstreigsamente © até mesmo, em Um edo ardgluz, o close de na navalha cortando um globo ocular (mulheres desmaiaram na la) Inyentou modos de falar, €xtases afligGes, novos tipos de ‘error, Pode até ter nos ajudadaa descobric emnés mesmos seniti- tmentos até entio desconhesidas, ‘Assim, através da incessante efervescéncia técnica que ¢ sua inatea tegistrada, o cinema (ainda que possa parecer apressado, veres até convulsive, excessivo, estridente) desempeahou um | insubstituivel na exploragio de associag bes, E porque vive exclusivamente de associagdes: entre imagens, es, Personagens. Mas também porque sua técnica v sua iagem particulares permitiram que ele empreendesse notiveig explorité sem que nds 0 percebéesemos, am todas 6 artes préximas, calvez até mesmo nossa ca pessaal la de microfones ou alea-falantes, a teatta do séeulo XIX. tcondenado & declamagio. Os filmes falades nos trouxeram 9, Intimidade das relagoes werdadeiramente reservadas, smo o arquejo, a pulsagso, Utiizsrzm o olhar humane com idadeecominarama arte dasiléncia, B, dos estra- A A cimousces axentrs oo einen} 4g 3 nnhos sentimentos dos quats vive a raga humana, extrairam signi+ ficados chelos de nuances, que o teatro tradicional jamais poderia expressar eque a ficsdo literdria abordou de forma diferente, atra~ \és do-eco percebido (ou nfo percebida) de determinadas palavras e determinadas frases. /O cinema amas siléncia—e, nele, asom de um suspiro funds, °'B especialists em povoar 0 siléncio, em escuci-lo as vezes para | melhor destruf-lo, Também pode eolocar dois siléncios frente a frente, como em O boulevand da crime, em. que vernos emogtes eralmente indescri lenciosamente 0 rosto branco-de giz do sempre ain belo mamento no estiidio, quando o engenheiro de som pede alguns momentos de siléncio, Ele vai gravar esse léncio; necessita dele, Val usclo para alguma coisa (ninguérm sabe exacamente o que). Ess fa absolute nao existe nan: rera, Até o interior das flerestas ¢ animado pela ruido do vento nas folhas. © siltncio s6 pode ser obtida num estidio hermeti- ccamente fechado, A luz vetmelha se acende ¢ todas as portas 50 fechamn; tudo se paralisa,atores e eéenicos ficam iméveis, prendem a respiragio, Cria-se 0 siléncio! Com seus fones de ouvido, © engecheito de som escuta esse léncio, saboreia-o com seriedade, Podem-se comparat dots silén- jos, tanto quanto dois pintores padem comparar dois pi dois brancos. Nao exister dois siléncios iguats, Passam-sed és minutos, Ninguém sé mexe, AS mentes esto vazias, E entto, acaba; 0 engenheira de som esté satisfelto. Ele agradeee a todos, as sons voliam lentamente, todas se prepa ram para a prxima cena, © cinema nasceu silenctaso ¢ continua a amar o siléneio, Mas também pode amar a ambighidade, a emosto indefinids. A esse respeito, passou por uma incrivel mudanga nos tltimos sessenta anos — da gesticulagio excessiva do comego a a atu ide de determinades rastos cinematograficos, Hoje em imp esmente através do comportamenco au da expresso de alguns atores podemos entender 0 que se passa, dependendo do (fesn- Chavon Caantine nosso estado de espirito, do dia, do cinema em que estamos, dos espectadores que estdo-A nossa volta, (Paras dlignitérios afti- de olhos fechados, essas readies imediatas eram realmente Mas também apreendemos coisas que , tem identificdveis, nem definive lada subltamente por um relance de um meneio de ombras, uma curva sobre a qual nio podemos dizet nada, para aqual nio temos palavras, eainda assim percebemos que contérn alguma coisa significativa, De vez em quando, essa linguagem se ai inca explorados, em directo aos limites do po: ‘Anderson, que, a0 conte, ragarelz sem cessat. Numa longa cena, Id pelo la qual ela afirma ter tomado parte. Bsca historia dura oto minutos; nem por tm segundo deixamas de ver 0 08 ado pela repetigzo de uma agae frase (como pode ser vistoem O anjo exterminda falava com freqaéncia dessa cena de Persona, sem dtivida sae singular. Em 19) de passar um tempo ‘com Bergman e fiz — em nome de Butuel e no meu préprio—a inevieavel pergunta (que ele, coin certeza, jé ouvira uma cencena je aquilo nunca fora sua intengio, nem enquanto escrevia o roteiro nem ditrante as filmagens, Ele tencionara monear esta sequitncia dé narragio do jefto que elas s20 montadas: em geral, cortando diversas vezes, rosto de uma mulher para orosto da todo aquele movimento de vai-e-vem acarretaxa tensio, cumulo Auunevaeun ancanra ow cinta.) 35 © bruseas mudaingas emacionais. Alguma eoisa nio funcfonava bbem, Por esse motive, decidiu manter os dois relatos, idénticos quanto ao texto falado, diferentes visualmente, wm ap6s-@ outro, Eleacrescenton do 6 a miesma quea pessoa ouve. Bergman conrou tamt ia, durante uma entrevista cole- tlva, como the veio 4 ideia para o filme Gritos ¢ sussurros. Wiring vezes, estave penisando tm cutra coisa ¢ inesperadamente lhe ‘aparecia uma imagem. A principfo, bastante vaga: quatro figuras dimnte de um fundo vermelho. Ele a rejetou, mas a imagem eta petsistente, Novame feve que rendersse, Entio, descobriu que aquelas quatro figuras cram quatro mulheres vestidas de branco num quarto forrado de vermelha, Bascado na primeira e quuse obsessiva imagem que se havin imposto (pois, sem saber, ele estava & procura de um filme), pos tos tobra, Deu contornos bem definidos Squelas figuras inspee- itas, atribuin-thes rostos e nomes, criowt relacionamentas entre 184, prosesso que se assemelha 4 forma indeterminada, envolia emnnévoa, menclonada por Peter Brook, O problema aqui era aco ther uma definida e levé-la a uinia definigio, presetvanda nnesse processo (como Bergman faz no filme) 05 momentos amnbi- 00s, as passagens secretas: porque, quando. imaginacao fica sem freios, as coisas nitidas tetdem 2 tornarse delineadas em excess0, secase frias demais, inflexiveis, Pata um chamado lesse géneto, obviammente sem palavras, quase 0 qué, a principio, € io de un faneasma, guagem, to pessoal quanto estar ciente de que, a cada momento, dependemoe de tudo © que nos rodela ¢ nos mantém juntos. Nossa ‘or, em filmes dirigidos pelos mescres japoneses Kenji Mizoguchi ¢ Akira Kurosawa, ceproduz, como por instinta, o rirna.eo modo de andar de wm devoro em visita a um santuério, soeCuavin Can 364 Anda mais mistertoso: pertencemos a uma espécie em que-os 8 sio mais mumerosos do que os canhotas (fendmeno raro, 8 animais parecem fazer pouca distingéo entre dlireita ¢ ‘esquerda no uso de seus membros) Deane vem essa propensioaa serdestto, que, segundo oscien- "istas, nos torna singulares? Ninguém sabe realmente. Alg ‘aram estabelecer um vinculo cam amancira de escre ficil para. um destro escrever da esquerda para a direita porque, lezen forma, suas malos se afastam do corpo; acaneta do canhota, ¥ entanto, se aproxima do corpo, impelinda-o es vezes forgan. do-e a entortar a coluna, quase-a esccever de cima para baixo, O canhovo 86 fica inteiramente a vontade escrevendo em érabe, que parece ter sido feito para ele, A predominancia dos destros parece estar gravads ers alg ‘git secreta dentro de nés, Um neurologists francés, Frangots ee, conta a soguinte historinha, Demaneira muito simples, We desenha «terra inclinada em diregao 20 mar, colocando o mar ido direito do desenho, Na agus, pie 0 esboco de um barco, vem indicar onde é 2 proae ondeé a popa, facto pergunta para onde estdindoobarco. A maioria absoluta © ‘esponde que o bareo esté parcindo, avangando mar adentra, Se 0 desenho, sem nenhuma alteraso, for virado a0 contrétio lo paraadirelta,s Provavelmente, essa tencléncia a ver ea inserit movimento onde fo existe 2 parte de nde sem que apercebamos. Sem di ~plica parcialmente por que o priseiro impulso de um ‘de cimera, ou de'um dicetor, é mover camera pataa di a0 ator que andeda esquerda para a direita, como se esta tora mais facil emais natural a seguir (c, mais ainda, a geralmente do lado esquerdo da camera, o que torna rural mové-la para a dineita), Movers na diregao aposta licaao teatro}. Exige esforgo, deter Vai contra nosso impulso inicial Ane a utea forma esquecida: por trés ou quatro séeulos, nos acos rumamos a olhar mapas com o norte em cima ¢ © leste & direita. Esse habitn grava dentro de nds uma geogratia bastante arbiteétia, ja que em cimae embaixo, dieita e esquerda obviamente nto exis- tom no universo, TInvluntariamente, © cinema adq ee Via Ss cia ‘mente na tela da diceta para a esquerda, Sem sedar conta, oi ‘ma repete as convens6es cartagrafices. O contrdio disso—colo- ‘caro oeste & direita — perturbaria nossa percepyio, mesmo que nuio consegulsse mes explicar o porque, Assim, ainda que seja verdadeiramente novo, o-cinema nto 6, de mado algum, isolado e autonome, Formas cradicionais, mais as outras, s¢ introduzem nas téenicas de hoje. E, carteganios dentto de ros outras formas invistveis, que determinani a manelra pela qual vemos ¢ retratamos o mundo. Provavelmente, tao dificll escrever um livrosobre cinema quanto 5, © 08 livras sobre a hist6ria do cinema, ilustrados com fotos, sempre me pareceram hibridos © imos. Endo, figoo queposs sdedescrever em pal Ab abl abet Be lteage Sabemos que, no teatro, quando um acor entra no paleo era. todos os olhos da platéia se fixam sofre consequtncias des- a, postade lado, A com nnicagio se petde, € toda uma trajetdria tem que ser percorrida novamente, Uma miragem, um perigoso embelezamenca, que é chamado, de forma um tanco desdenkosa, de “efeieo", acaba por prejudicar a histéria que nos mantinha atencas, que parecta ser a coisa mais importante, 0 motivo presumivel de nossa ida 20 ceatro (reamceaon Canninas A bistoria da iceratura est cheia de floreins de estilo desse género..0 que é“escrever bem’ PO escritoe deve seen{eitar sempre com frases elegantes, do jeto que algumas pessoas vestem raxpas elegances, apenas para conferir poder ¢ importéncia As suas pala. 1? Ou deve (como Stendhal recomendava) expressai-se com a ‘bjetividade desapaixonada do eédigo penal? Alguns esc atentos 20 duplo perigo —a pl de Bouvard ¢ Pécu ‘ianga em relagao a arrogancia, Inutilidade © aautocomplicéncia de um estilo eatacteristico, Mas esse fendmeno do estilo, essa “obsessio por “escrever bein, em outras palavras, por ndo escrever ‘soma © testo das pessoas, por colocar sua propria marca distintiva palavras ~ como nes isso? Naa faz realmente parte de jetividade absoluca? se que 0 “olho mecinica” do ria — que bastava montaz 12 cAmera numa rua e deixi-la filmando os transeunces para jar uma espéeie de relatério cinematografico, de clnéma-verite is @ que dizer do enquadramento, que eircunscreve um dever- nade teecho da rua? Ou das lentes iméveis ante o tempo, que leza ao passado todas as coisas tar contemplativo, ee nossa esc dia verdade? E qual verdade? jesmo no cinema de fiegao, muitos direcores tentaram apager ional, de modo a permitie \yue o Filnse existisse¢ falasse por si mesmo, Mavimentosde clime- a dessa rua especifica? Onde v.JeaneLucGodard castumava dizer que para realigar ara bom no se deveria usar nune: lente 200m. Junto com alguas camber, de ndicis infaliveis para iden- ingide por uma rajada dé metralhedora e morrendo emt Jena & wea filme ruim," © uso desse expediente, com sua me choca, por sua vulgaridade e obscenidade, Camera lenta (ou, arecia indicar que determi- tertirél e infernal dos filmes que Entre outros estigmnas, estavam tados os tipas de deformagoes flarmense as arvisticamente des- de amantes correndo, em cimera lenta, para se samente estendidas; qualquer cena.em que avelenente encontrar, bragos tum personagem pae maquiagem de palhag: } qualquer Imagem de no erepisculo); e todas o8 hi \do vtis anos com video, tornou-se recentes avangos técnicos, Felizmente, nnenhuma regra perdura! Contudo, nomomentoemqueum efeitoaparece,corremos oriseo cde vor tdenica, unicamente téenics. Quanda a cémera toma conta da tela, nos damos conta, imediatamennte; pervebemes de repente que ‘estamos num cinema — endo na interior da histéria que views ver. Essa teansgressdo & especielmente dbria e incomodi em filmes de epoca, Nesse tipade filme, pasado, porexemplo, no século XVI, um feito cinematogréfico chametivo revelaria uma incongreéncka que arruinaria a continuidade e nos faria perder a interesse. Lembro-me do cuidado com que Daniel Vigne siuava sua camora em © retorno de Martin Guerre, escelhende a aleura. do ponto devista, mantendo a tos imperceptiveise sempre concetenados com o movimenta de determinado personagem. A méxima diserigdo, como se estivesse se desculpando por essa intrusdo de parafernalia moderna em meio a camponeses erajados &modado sécula X¥1. Qualquerum que tenhaalguma vez tentado © passado com 0 maximo de felidade se defrontou com os mesmas problemas e tipos de Anno ser que se faga des quebra wtidacle, a propria esséncia do filme, A nde ser que aintromissio da clmera na Wlacle Média seja.0 verdadeico tema, A nfo ser que o diretor decida ocultar num traje clegante um corpo que ele sabe estardoente. Ando ser que... ‘As opgbes esta sempre em abetto, no cinema ou em. outrs lugar, Toda Linguayem tende a se exibiz, a ent tornar-se vaidoss, ow ¢ntdo, numa espécie de afetagi 45, a chafuutdar no linguajar das ruas, Toda linguagem tende & se expandir e a conguistar, a ficar satésfeita, em tlkima instane! também a pratigaram, Acreditavam que as pal ras, atuando em wontsto conosco sem mediagées, ¢ livres do controle da mente, expressam coisas que nila mais percebemos ou sentinos, pois idos demais por nossos hibitos culeurais O cinema também passou pela tencagso da “filmagem incom Lica” da clmeza sem rumo (¢, por falar nisso, ele tem flertado com todas as grandes teneagbes artsticas desde os anos 1920, conn restl- tados geralmeste efémeros). As técnicas que 0 criaram tiaham limites nitidos e intinseces, Elas se tomnaram € ainda so um embargo, O cinema nla pode estapar do seu destino: nto pode sor nada mais do.quc uma série de forografias encadeadas por nos- soselhos, o que introduz movimento nessa sequténcla de unidades imdvels. Os filmes sto exatamente isso: imagens fotogrificas em. Inada desde a juventude por efeitos iais (mesma por volta de de seu espanto préprias dlmes, Procurava obter uma imagem neutra, quase , na fronteira com a banalidade, Um exemple: para o final Acuimeusgas suenits ee cannes) 4 le Nazar ietor de forografia,o mexicano Gabriel Fi ptepatou uch enquadraniento esplendide, com montanhas altas 20 findo, cactos em peimeiro plano nuvens ayeludadas mum cfu imenso. Mesmo sem olhar o visor, Bufiuel girou a cdmera com violencia, apontando-a para a diresdo oposta, o que forgou a ar-se com dificuldade para novas posigbes, « avés de campos arados quit cseura bem elzborado; de oportuna ranger de uma porta, da imagem encvoada, da cimera lenta, Desconfiava completamente de tados os tipos de efeitos cinematogeificas, tejeltando-o8 por Jem vex do obscuro, Era cauteloso em relacao & beleza. No entanto, em ven delmejar (pot exemplo) um formalismo repetitivo no genera dos enquadramentos fixos e da camera em tngulo beixo de Yasufiro O2u, via um poder hipndtico misterfoso no tremor das exteemi- dades do-quadro, no movimento quase imperceptivel da c&mera, como a.cabega oscilante de uma serpente ern busca da presa. ocupagao em conter a técnica em favor de uma coisa ssa ops deliberada de cvitar efeitos, essa desconsian- gem relagto & sempre sedutora beleza, parece particularmente perigoss. No cinema, 0 virtwosismoé extrememente tranqiiliza- doe, © & por Issa que, com tanta frequeneie, arai principiantes. A tejeigdeo a0 vir uosismo pressupoe seguransacem relagtod forgado que esti sendo mostrado. Nos anos 1950, tinhamos um cinema convenciot recricae mente impecivel, que nos convinha chamar de tradicional, mas que logo pateceu estar se repetindo. Os mesmos desenhistas de peodugio trabalhavam com as miesmos diretores de fotografia e com as mesmos montadores, de mode que, levando em cor Go apenas o estilo da diresao, com freqaéncia eraimpossivel dife~ renciar um filme do outro, As pessoas até se preocupavam com a possibilidade dea linguagem cinematogréfica — indistinguivel de uum filme para outro — estar agonizando, 42 {fonn-ceswen Canasene Naquele tempo, o ditetor era apenas um artestio entre muitos, Embora, freqtentemente, fasse ele quem escolhia © assunto do filme, nao fazia mito mais além de dirigir os atoces.c super o plano de trabalho, As vezes, par exemplo, no sistemade producio americano dos anos 1930 ¢ L940 (sistema esse que, possuindo uma visio estritamence indusetal, mesmo oroteiroe a montagem éicavam solssua resportsbilidade. produtor, senhor absolute do-Slme trara-Ine 08 copioes no fim de cada dia, pura edied-log em outto luigar, Com frequéreta, © sglado, piilando ds arra ou cinco (com frequéncia, se ele for seu proprio produto), riticas parecom impossiveis, exceto para as séiries de televi- so. Mas, nesse dltimo caso, 0 diretor € pouco malt do que um fe Veneza de 1986, sm Peter Fleischmann perguntowa unsaplatéia de duzen e#enitas pessoas do setor: — Quem ¢ 0 diretor de Dallas? juém soube responder. utylo—ou “ctmera-caneta”, cimera como in ' —,decinema de auzor A lingua gem das filme! — comum a peculiara cada um —voltsu 8 ordem do di, beneficiando a. Energy das sombras: percebida nas telas,, #eus avangat eadlos, assim coma seu amadurecimento, suas reperisbes, igbt8, 48 vezes seus desastres. Acanovecen stenast 68 shina] 44 ‘Em pouco tempo — pois nada mantém o freseor ¢, segunda © provérbio indiano, “Deus esta sempre envolvido com os comeyos” — essa nogto de cinema de autor foi deturpadae, em conseqaer cia, a lingnagem foi prejudicada. Da espléndida declragto que todos nés aplaudimos — “um filme deve trazer a marca de seu fala de si mesmo". Entre as duas abordagens, is nna, a diferenga é pouso palpavel, Mas ¢ completa e intransponivel Descambando para a awtoconaplactncis da segunda definigz0, 1 grande porta se escancara ¢ revela as intetmindvels Fantasias cexaltadas que nos atolaram nos anos 1970, Esse foi especialmente caso da Franga, onde tantas vores em off — geralmente mond- imagens anémicas, Todos queriam “expressar” suas fantasi lerbeatigas, até mesmo suas idéias particulates, Tados se se autorizados a fazer isso e, mais tarde, era com dolo- xosa surpresa que viamt seu trabalho de ourrés diasde exibigéo, num cinema peque (emectt A tendéncia atual, por uma centena de razdes pertinentes, ‘caminha para wth retorino—em si mesmo perigosa —a um cine- ma de roteitista, Neate caso, 0 contedde aque a forma: o filme setia felto apenas para no o roteiro para permitir que o filme ganhe vida, Valtare’ poste- rriormente a abordar o dificil papel do roreirista, sempre enredada nclas conflitantes. Digamos que, desde as anos 1980, «@ roteirista ocupa um lugar de honra, honraem demasia. No mundo inteino, dedicam-se conferencias ao tema (a men ver, compl tamente refratétio) do roteiro. Em especial, sabe-se ld par que, proliferaram centonas de semindeios sobre otépica da sdaprago Daf o perigo: um retariio a imagem cm favor das palavras. Imagens cainda constantemente ua 44 Lienscunwen canerene juecimento da armadilha das coisas jd testadase aprovadas, das coisas medianas. ‘0 fim do ernpenho, da experimentagio. Mas isso ¢, sem davida, apenas uma oseilagzo do péndulo, ‘nduzida por incertezas comerciais, Uma esellagio que, espero, serd logo revertida. acontecét uma coisa parscida nos Estados U: quando o cinema falado seimpds. De repente, 36 porque os filmes sinham som, os executivos das maiores companhias resolveram contratar os mestres da palavra escrita — ou seja, os grandes seseritores, Convocaram Faulkner, Pitegerald, Steinbeck ¢ outros, Ofereceram-thes casas, escritorios, secretivias ¢ sakirios ¢ 08 nuseram para trabalhar no que, bastant mente, presuimi- 0 campo deles, a5 palavras, Entre conflitos, disparates ¢ tos sentimentos hostis, nasceu « persists um duradouro equ vaco, Algumas vezes, essa medida prodivziu resultados ¢xcslentes (a colaboragio de William Faulkner e Howard Hawks, por exes ts também desastres extraordinérias, Alguns historiadores {alam até num declinto stmulkineo da linguagem cinematogrific, no se 0 uso do didloga de maneira prodigae as vezes excesstva pusesse os diretores & preguica, suprimindo anecessidadede wadas poderosas, comps gminoses © embleméticas, cada, ng 2 Buster iro, ‘ty disso, essa8 imagens universais, antes eompreendidas esforgo no mundo inteiro, foram entdo substituidas por uma ugem falada que reco ‘eaton — alguns anos antes, pareciaconter ofl ‘6 trabalho tanto quanto possivel. Passaram-se meses, 08 ns de Alexandte Traitier ficaram prontos, mas nem uma tava escrita. dia, Faulkner anunciou que havia comegada o traballto. O chegou, achou o escritor morrendo de rire pergun lade, Fanlkner mostrou-the « primeira 46 isis coeate didlogo, Q fars6, visitando 0 local ds consteugdo, perguntav a seus trabalhadores: = Como é que tia coisa, rapazes? Essa simples frase em inglés, que Faulkner tinha posto na boce do faraé, fe com que ele ficasse rindo incontrolavelmente por horas. Mas, posteriormente, acaliou escrevendo o roveiro. E entlo, coma todas as modas, a moda dos grandes escritores passou (Nose séeulo testemunhou a invengio de uma linguager e dia- tlamente observa a sia metamorfose, Ver uma Linguagem ganar vida, uma verdadeira linguagem apta a dizer qualquer coisa, © participar, mesmo que camo espectader, desse contiamuo process de descoberta, me impressiona por ser um fendmeno singular, aque deveria estimular semidlogos, psicélogos, soctdlogos e antro~ pologos. Mas taluez essa linguagem tenha se tornado fami domais para nés— muito pouco observaca até — para eontinuar ‘4 manter nosso interesse, Bastaram quatro geragOes de fregien- ‘adores de cinema para que a linguagem ficasse gravada em nossa meméria cultural, em nossos reflekos, talvee até enh nossos genes, As seqiiéncias cinematogréficas que nos envolver ¢ nosinundam hoje em-dia sto t20 numerosas e interligadas que se poder que els constituem o que Milan Kundera chama de ‘vio semin- cofocar uth letigo sobre os olbas ¢ nao nals ver nem uma linguagem & também uma coise que podemos decidir parar \ ide entender; nma coisa que pode ser recusada, rejeitada, Fellini disse certa vez que a televisio criou uma nova gerasio de espectadares que ele roticamente impacientes, quer hora, o que aniquils = narrativa, de ps a procura de uma coisa a mais (a idéia de que imagens que eu ndo estou vendo esto sendo exibidas em outro lugar € inroterével) originow espets- culos de fogos deartificio que jarram das pantas de nassos dedos (ean Cuacoe Cannetne © mégice controle remato nos dé a ilusto ale que essas imagens nos pertencem, de que temos poder total sobre existriam sem nés, Elas sio simples imagens pers vagens, sem nenhuma esperanga de erags-las, Essa inapacié Fellini, nunca poderia ser satisteita ou mitigida, pois ndo-cor imos fxar nossos clhos numa ise antes de ellminarn filme que eseivamos assistinds, assim como nio podemos sunciar duas pilavzas ao mesmo tempo. & urna peocura vi, «que causa depressio c fadiga. O proprio espectacor & dest por esse papel febril. A sequéncia de imagens nao pode cle. Despedaga-se em suas mios, E cle afunda junto, ‘Quer seja vac’ o falante ou 0 ouvinte, obviame controle sobre alguma linguagem. Para.estar capacitade a gostar ‘nema inceiramente, vocé precisa estat apto afazé-to semima- sem cinema. E uma questio de independéncia, Assim como moleiros de antigamente s6 ouviam as pis de sews moinhos tando elas paravam de rodar, nés também sé podemos observar wigens & nossa volta na medida em que temos forcas para .guilas is, de deve manter Algumas palavras sobre uma linguagem IN geersinstmse antenna do cinema, quanda os espectadores menos intransigen: tes abriam realmente os olhos para 0 novo espeticulo, mal podiam, sdé-lo, Mesmo quando reconheciam algumas das imagens homent uma mulher, wm eavalo—, ente sl Aapiae a hit6ria os debeavans confusos. Com uma cultura baseada em rica © vigorosa oral, néo canseguiam se adaptar aquela sucessio de imagens silen- losas, 0 oposto absoluto daguilo a que estavanm acostumados, ‘Ficavam atordoadas, Aolado da tela, durante todo o filme, tinha que permanecer um homem; para explicar oque acontecia, Luis Bufiuel ainda conhecen esse costume (que subsistia na africa na decada de 1950) em sua infaincia na Espanha, em torno de 190% ou 1910. De ‘pé, comm longo bastdo,o homem apontavaos personagens na tela ¢ explicava o que cles estavam fazendo. Era chamade explicador’, ‘Desapareces — pelo menos na Espanha — por volva de 1920. ~ Imagino que surgiam tipos como esse mais ou menos em toda parte. Porque o cinema criou uma nova — absoluramente nova = lingwagem, que poucas espectadores padiam absorver sem esforgoou ajuda, ~ Bem no principio, nao era esse o caso (pelo menos € © que imaginamos). Nos primeiros dez anos, um filme ainda era, ape- 1Eavespanhol, aocrigzal. (8)

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