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Primeira parte: O encontro com os fundamentos A Psicologia Humanista* Nicolau Tadeu Arcaro TAdoptado de ARCARO, Nicolau Tadeu.Caracteristicasfondamentas do humanismo. i: ARCARO, Universidade de So Pai, S80 Paulo, 297, p 46-53 (verso dgtal no stra integra de blot: casda Universidade de Sao Pale; hep: fwwrecusp bi. terapla: Enconteos O humanismo é a vertente da psicologia fenomenoldgica que conta com o maior nimero de adeptos e abordagens psicoterapicas, dentre as quais figura, como uma das mais proeminentes, a Gestalt terapia. De acordo com Smith (1990), a corrente humanista surgiu_ como um movimento social dentro da psicologia, que acabou por se estabelecer como uma perspectiva duradoura. Tal perspectiva dé prioridade aos tipos de experiéncia mais especificamente humanos. Estes, a seu ver, sio insuficientemente abordados por outras visoes. Conforme explica DeCarvalho (1990), 0 iniciador primordial do movimento humanista foi Abraham Maslow. Psicélogo expe- rimental talentoso dos Estados Unidos, Maslow foi colocado no © ostracismo por seus colegas quando come¢ou a explorar assuntos considerados nao convencionais. A partir dai, passou a fazer con- tato com colegas que, por assumirem posigdes semelhantes, tam- bém estavam na mesma situacio. Em 1954 organizou uma mala direta com 125 autores para que houvesse um meio de troca de * trabalhos mimeografados entre eles. Essa mala foi crescendo, mas conforme ele préprio e Anthony Sutich, um colega que se associou mais proximamente a ele em sua empreitada, observaram, nao era um método eficiente de comunicagao. Perceberam que, na reali- dade, era necessario organizar uma revista cientifica, 0 que ficou principalmente a cargo de Sutich. Apés varias discussdes sobre qual seria seu nome, decidiram, por influéncia de Anthony Cohen, genro de Maslow e também ligado a area, chamé-la Journal of Humanistic Psychology. Entre ‘0s componentes de seu primeiro comité editorial figuravam Kurt Goldstein, Rollo May, Erich Fromm e Clark Moustakas. O primeiro niimero foi publicado na primavera de 1961, e seus primeiros assinantes foram os integrantes da mala direta mencionada a. Ainda segundo DeCarvalho (1990), a medida que a revista foi ganhando félego, outros psicdlogos, além dos contatados por Maslow até ento, comecaram a procurar por Sutich, 0 que 0 levou a considerar necessario que os assinantes do periddico tivessem sua prépria associagéo. Ele e Maslow discutiram 0 assunto com outros colegas e, gracas a uma verba obtida por Gordon Allport, ‘A icologia Humanista © primeiro congresso da Associagao Americana de Psicologia - Humanista? aconteceu na Filadélfia em meados de 1963. No entanto, foi somente no fim de 1964 que a psicologia humanista terminou, de fato, de estruturar-se como uma terceira forca mo panorama norte-americano. Isso ocorreu através da conferéncia realizada em Old Saybrook, na qual as apresentacoes dos participantes voltaram-se para as questées tedricas basicas implicadas por essa nova corrente da psicologia. Houve, a principio, dissidéncias entre dois grupos que assumiam posigées diversas: um queria definir o humanismo simplesmente como oposicio ao comportamentalismo e a psican: queria identificé-lo, de maneira mais positiva, coma introdugao de valores e significados humanos na psicologia vigente. Chegou-se a umacordo em favor da segunda postura, pois adotando a proposta defendida por Bugental (1963), concordaram que, ao invés denegar as orientagées psicanaliticas e comportamentalista, poderiam incorporé-las a uma visdo mais ampla, de carater fenomenolégico, que enfatizava o valor e o significado da experiéncia humana. A partir disso foram estruturados os primeiros estatutos do novo movimento, baseados em cinco postulados: ~ apessoa é mais que a soma de suas partes; ~ ela é afetada por seu relacionamento com outras pessoas; ~ ela é um ser consciente; cla tem possibilidade de escolha; ~ ela apresenta um cardter intencional. Entretanto, como o proprio DeCarvalho (1990) salienta, tais postulados eram um tanto quanto vagos. Uma tal indefinicao, contudo, naoeradeseestranhar, umavez.queatarefadecaracterizat © humanismo nao ¢, de fato, simples. Isso porque, ao contrario das outras correntes da psicologia, ele nao se iniciou a partir das idéias de um determinado autor ou escola de pensamento, mas, conforme expliquei, como uma aglutinacao de diversas tendéncias que se contrapunham ao comportamentalismo e a psicanélise (BOANAIN JR., 1995). Tem ag dadoocarditer internacional Gestalt terapia: Enconteas Nao obstante, apesar da diversidade das abordagens que a ele se filiaram, o movimento apresenta alguns aspectos fundamentais e genéricos, que se estruturaram a partir das bases em que buscou inspira¢ao para se constituir (0 humanismo filos6fico, 0 existencialismo, dissidentes de Freud como Adler e Jung, teéricos da personalidade, proposigées gerais da psicologia da gestalt e, dentro dela, concepcées mais especificas de Lewin e Goldstein). Para melhor explici-lo, portanto, devo-me remeter a esses aspectos’. Um deles é 0 de se tomar a experiéncia subjetiva como referéncia basica para a compreensao, numa postura de teor fenomenolégico. De acordo com Burow e Scherp (1985), tal -m grande medida, inspirada pelo humanismo e pelo existencialismo filoséficos. E preciso todavia acrescentar que, no ismo, ndo ha uma completa coincidéncia de idéias entre ele e a psicologia humanista. Conquanto uma vertente desta iltima apdie-se bastante em idéias existencialistas, a ponto de alguns chamarem tal vertente de ‘humanista-existencial,, isso nao consiste numa posigao genérica (BOANAIN JR., 1995), Além disso, deve-se ressaltar que a influéncia importante para a corrente humanista foi a do existencialismo filoséfico, e nao a da psicologia existencial e fenomenolégica européia. Muito embora, por ocasiao do estabelecimento do humanismo, tenha havido uma interagao significativa entre ele e a psicologia existencial 0 relacionamento entre ambos nem sempre foi dos mais .0s. Como explica DeCarvalho (1990), tal relacionamento foi mais de paralelismo de idéias, que de influéncia de uma escola sobre a outra Cabe acrescentar que 0 mesmo ocorreu relativamente feno- menologia husserliana: apesar de essa visio ser adotada por al- guns humanistas, outros adotam o que Boanain Jr. (1995) chama de uma versao simplificada, levada anteriormente para os Esta~ dos Unidos pelos gest: a i (alguns autores preferem chamar de ‘fenomenismo’ a esta titima 5 Gotara de dear claro que o aspectos que menceno aba nd so apresentadeeem orem de Iinpotincla, mas apenas na que me parecev mais convenianteexpé-ls, mesmo porque é dl saber quai dels 830 mais ou menos relevantes ‘A Psicologia Humanista versio da fenomenologia). Tal versao, de sentido mais amplo, foi - 4 que embasou, por exemplo, varias elaboragdes de Carl Rogers. Nao implica em adotar todos os parametros desenvolvidos pela primeira, mas simplesmente em buscar o significado da experién- ia vivida nos proprios fendmenos que a constituem'. Explicando melhor, essa postura propée que se tente compreender tais fend- menos a partir de sua observagao e dos significados que surgem estritamente associados a ela, endo através de uma estrutura te- rica explicativa. E preciso explicar, ainda, que a compreensao mais caracteristica~ mente fenomenolégica dos humanistas consiste num estilo, numa tendéncia, e nao numa atitude exclusivista. Dessa forma, apesar dea maioria das abordagens humanistas procurarem, no trabalho terapéutico, entender a experiéncia da pessoa acompanhando em- paticamente tal experiéncia, e nao interpretando-a teoricamente, esta tiltima estratégia nao ¢ totalmente excluida. E algo semelhante também ocorre relativamente ao trabalho de pesquisa: no obstante serem realizadas investigacdes de enero mais propriamente fenomenolégico, também 0 sao as de cardter mais positivista. Este ¢ 0 caso, entre outros, dos extensos e sofisticados trabalhos voltados para a anilise do contetdo de sess6es terapéuticas conduzidos por Rogers e seus colaboradores (Cf. Marsden, 1971). Mencionando agora um outro aspecto importante do humanis- ‘mo, tem-se que, para ele, o ser humano apresenta possibilidade de escolha, ou seja, capacidade de livre arbitrio. Este aspecto tam- bém foi, em certa medida, inspirado pelo humanismo e pelo exis- tencialismo filoséficos (BUROW; SCHERPP, 1985), e deve-se ainda levar em conta a influéncia da psicologia da gestalt, principalmen- te no que se refere ao trabalho de Kurt Lewin. Também é preciso ir que, como detalharei melhor a frente, essa idéia de livre arbitrio nao consiste numa visao utépica de plena liberdade, mas na convicgao de que o proprio individuo é uma das fontes de deter- minacao de seu comportamento e de sua experiéncia subjetiva. {De ecrdo como Novo condo do tingua portuguesa Ferrer, 1985 uma das defines de Yens- ‘mene’ é "Tudo que épercebide pelos sentios oy pla consciéci ima caracteristica basica do movimento humanista, que deve ser lembrada, é a crenca numa tendéncia do ser humano para a auto-realizagao e 0 crescimento. Fundamentada prin- cipalmente nas idéias de Goldstein (Cf. Smith, 1990), tal crenga prega que o homem é orientado pela necessidade, intrinseca a todos os organismos vivos, de efetivar ao maximo seu potencial € atingir 0 estado mais amplo e sofisticado de que for capaz. De acordo com ela, se a pessoa tiver suas necessidades mais basicas ¢ individuais adequadamente satisfeitas, tenderd a se voltar para interesses como os sociais ¢ espirituais, que se associam as etapas mais elevadas de seu desenvolvimento. Alguns autores importantes, como novamente é 0 caso de Ro- gers, tém uma visio bastante otimista a respeito da natureza hu- mana, segundo a qual o individuo tende a crescer num sentido vo, a nio ser que entraves s6cio-ambientais o desviem desse caminho. Entretanto, essa visio, embora talvez dominante, nao 6 hegeménica dentro do humanismo. Um exemplo disso é Rollo May, que se baseou num existencialismo mais cético. Embora tam- bém se apresente relativamente otimista quanto A natureza das pessoas, acredita, por outro lado, que forcas negativas possam ter papel motivacional relevante em suas escolhas (DeCARVALHO, 1990). Desse modo, conquanto seja geral a crenga num impulso natural do ser humano para o crescimento, nao ¢ geral a de que esse impulso seja predominantemente positivo. Como quer que seja, uma das caracteristicas mais marcantes ¢ genéricas da compreensao humanista a respeito da natureza hu- mana est em rejeitar concepsdes estaticas desta tiltima, conce- bendo-a como um constante processo de crescimento, de vir a ser (BOANAIN JR., 1995). E com base nisso, inclusive, que o huma- nismo opée-se & adogao do modelo médico na psicoterapia. Em sua compreensio, o trabalho psicoterdpico deve consistir num proces- 50 que favorega o crescimento que acabei de mencionar, sendo o terapeuta essencialmente um facilitador do mesmo. Nao encaram, portanto, a atividade terapéutica como a cura de patologias, con- forme prega 0 modelo em questo. A Psicologia Humanista ‘a pata a auto-realizacio, outra particularidade importante » humanismo é 0 interesse nos aspectos mais caracteristi- os do ser humano. Esse interesse associa-se est voltado para os fatores que possibilitam a auto-realiza- (0, como a satisfacao das necessidades de seguranca emocional, a quisigao de identidade propria, e de autonomia, a criatividade, os valores sociais mais elevados e a espiritualidade. Para os humanistas, uma psicologia realmente humana exige que se aborde as peculiaridades do comportamento das pessoas tanto em termos de espécie animal como de caracteristicas indivi- iais. Discordam, assim, de estratégias que procuram conhecer 0 omem através da pesquisa com animais, como muitas vezes faz psicologia comportamental. Além disso, ainda coerentes com a idéia de auto-realizagio, créem que se deva privilegiar, dentro da investigacao das experiéncias tipicamente humanas, o estudo de individuos saudaveis e bem dotados, que podem indicar cami- nhos para um desenvolvimento pessoal mais satisfatorio. Desta forma, contrapdem-se as escolas como a psicandlise, que estrutu- raram suas teorias a partir da observacao de casos considerados patolégicos. Enfocando agora outras facetas do movimento humanista, uma das mais fundamentais, de grande repercussao te6rica e pratica, é a de abordar o ser humano a partir de uma 6tica holista (BOA- NAIN JR., 1995; DeCARVALHO, 1990; SMITH, 1990). De acordo com Boanain Jr,, tal visio foi adotada por influéncia da psicologia da gestalt e também de Adler. Consiste em privilegiar uma com- preensao integral da totalidade do homem ao invés de analisé-lo através de seu fracionamento em partes, acreditando que ele seja mais que a soma dessas partes. Essa estratégia opde-se as de card ter elementarista utilizadas por outras escolas do pensamento da psicologia. Os humanistas rejeitam as concepedes reducionistas fragmentadoras da psicanilise e do comportamentalismo. Em sua opinio, a primeira delas enxerga a pessoa como um animal lascivo e feroz, movido por instintos voltados para o prazer ea agressao. E apenas as custas de um trabalho Arduo de repressao e sublimagao que uma tal pessoa pode adquirir algum verniz de sociabilidade, \de-se dizer também que, coerente com a idéia de uma ten- _ Gestalt-terapa: Encontros mas vivendo, por causa disso, uma existéncia frustrada e infeliz, Ea segunda vé o individuo como uma marionete manipulada por contingéncias de estimulacao exteriores que, na melhor hipétese, poderd optar entre um condicionamento fortuito e um planejado. Ja segundo a visio holista, 0 ser humano consiste num sistema complexo e organicamente integrado, cujas qualidades mais es- senciais advém de sua estrutura total. © homem é, de acordo com. la, um ser bio-psico-social. Coerentes com essa visdo, os humanistas, inspirados princi- palmente pela teoria organismica de Kurt Goldstein, vinculada a logia da gestalt, opdem-se a divisio cartesiana entre corpo € mente, enxergando a ambos como aspectos intimamente rela- cionados de um mesmo fendmeno bio-psiquico. Nesse sentido, acreditam que tudo o que ocorra em ambito organico tenha sua ida no psiquico e vice-versa, adotando um enfoque Por outro lado, mais influenciados por Kurt Lewin, 0s huma- nistas também véem o ser humano como indissociavelmente li- gado ao seu ambiente e influenciado por ele. Isso nao quer dizer, entretanto, que o comportamento humano seja propriamente de. terminado pelo ambiente, como propdem os comportamentalis- tas, 0 que contradiria 0 principio de livre arbitrio defendido pelo humanismo. A concep¢do humanista inspira-se, sim, na teoria de campo desenvolvida por Lewin. De acordo com esta, é um campo ico composto pelo individuo e seu meio que determina a experiéncia deste individuo. Sendo ambos, individuo e ambiente, as duas forcas polares basicas que estruturam tal campo, 0 com- portamento ¢ fruto de sua interagao, e nao exclusivamente de uma ou outra. Dessa forma, a pessoa exerce parcela significativa de de- terminacdo sobre suas prdprias aces, apesar de elas estarem inti- mamente associadas a fatores ambientais. A visao bio-psico-social encontra uma expressao talvez mais clara na metafora empregada por Koestler (1978) para explicar a concepgao sistémica. Este autor utiliza a imagem de Jano, o deus romano de dois rostos opostos, para expressar o carter basico da existéncia humana. Da mesma forma que esse deus, a pessoa apre- ‘A Psicologia Homanista senta duas faces ou tendéncias simultaneas: uma é ade se compor- _ como um sistema independente, articulando numa totalidade e 0 psiquico e afirmando sistemas mais amplos, como o s6cio-ambiental. , em medida significativa, como fruto de uma tal compreensao que houve, no humanismo, grande desenvolvimento de métodos dle intervencio, tanto corporais, dada a associagao intima entre 0 jolégico e 0 psiquico, como grupais, dada a relagao igualmente préxima entre o individuo e seu meio social. Cabe entretanto es- larecer que, relativamente aos primeiros, também foi importante a influéncia do pensamento de Reich, como se pode observar na gestalt-terapia, que apresenta formulagdes baseadas na idéia de couraca muscular desse autor. E no que se refere aos procedimen- tos grupais, foram, da mesma forma, importantes as concepcdes de Moreno, criador do psicodrama. Com base em tais influéncias, muitos humanistas passaram a utilizar estratégias corporais que envolvem massagem, toque, danga, movimento, métodos catarticos com alta mobilizagao or- ganica, exploracao ¢ intensificacao de sensacdes e outros recursos. E também adotaram procedimentos grupais que abrangem, além da psicoterapia de grupo em sentido mais estrito, ampla gama de is. Estes podem ser realizados com pequenos ‘ow grandes grupos, apresentarem carter intensivo (workshops com até varios dias de duracio ininterrupta) ou extensivo (cur- tas sessdes periddicas), bem como serem pautados por temas ou estratégias de intervencao definidos, ou simplesmente terem a proposta de as pessoas explorarem o que parecer interessante no momento. E além da pratica de trabalhos corporais e grupais, pode-se ain- da associar a visio holista outro dos aspectos fundamentais do hu- manismo: acreditar que o ser humano apresente um cardter eminentemente dialogal (Cf. Boanain Jr., 1995). Coerente com a teoria de campo de Lewin, tal consiste na crenga de que o homem nao existe, realmente, como individuo isolado, mas s6 se define e se realiza plenamente no encontro pessoal com seus semelhantes. 39 Gestal-terapia: Encontros Entretanto, ndo obstante essa sintonia com idéias da psicologia da gestalt, tal crenca baseia-se menos nesta escola de pensamento e mais em concep¢oes existencialistas, principalmente no que toca is expressas por Martin Buber, Segundo Buber (1979), 0 encontro a que me referi acima nao estd associado a qualquer comportamento interpessoal, mas ape- nas aqueles em que se estabelece o que ele chama de ‘relacao Bu- Tu’. Nesta, os participantes nao assumem uma atitude utilitarista, e sim uma atitude verdadeiramente empatica e auténtica, de sin- cero respeito e compreensao entre si. Em conformidade com o que expus acima, os psicoterapeutas humanistas acreditam que o relacionamento de pessoa para pes- soa seja 0 mais favorsvel para o crescimento do individuo e sua auto-realizacdo. fem fungao disso que propéem a adogao de uma postura relacional na psicoterapia. Orientados por ela, abandonam. a estratégia mais tradicional e, a seu ver, defensiva, de se abordar 0s clientes de psicoterapia como objetos a serem analisados e ma- nipulados. Isso para poderem se relacionar com eles de maneira mais pessoal e aberta, respeitando sua maneira de ser. Diga-se, inclusive, é devido a tal postura que os humanistas nao izam o termo ‘paciente’, mas sim ‘cliente’, para designar a pes- soa que busca atendimento psicol6gico. A idéia de paciente esta associada a imagem de uma pessoa passiva, basicamente direcio- nada pelas influéncias do terapeuta, e no A de uma pessoa cujas caracteristicas e liberdade de decisio devam ser respeitadas’, E ainda fundamentados por sua visio dialogal de ser humano € sua crenca na tendéncia para a auto-realizacao, os humanistas também propéem que o individuo busque uma existéncia mais espontanea, auténtica e auto-consciente. E dessa forma que, em sua compreensao, ele pode obter 0 maximo de realizacao pessoal e ‘mais verdadeiro e profundo relacionamento com os outros. Nesse sentido, questionam uma série de valores e praticas sociais mais conservadoras, que inibem a expressio e a liberdade de escolha [Una das defines do Nov dionéro da lingua portuguese (Ferrer, 1986), paraa palawa pacien- fe'6"0 quesofrecu€abjetode uma agdo" ‘APsicologia Humanista individual. Nao se entenda isso, é claro, como uma negagao de - limites necessérios para a vida em sociedade e 0 respeito métuo entre seus integrantes. A oposicao é feita contra restrigdes arbitrarias e obscurantistas, que ao invés de promoverem o bem estar ea evolugao individual e social, acaba por atravancé-los. © humanismo acredita que a melhor chance de um relaciona- mento social produtivo esta exatamente numa postura aberta das pessoas, o que permite que se compreendam melhor ese sensibili- zem mais para as necessidades umas das outras. Foi devido a isso que, nos anos 60, houve uma ligacao proxima entre o humanismo ea contracultura, pois ambos questionavam valores sociais que consideravam arcaicos ou destrutivos. Finalmente, diante do exposto nas paginas anteriores, pode-se expressar, demaneira concisa, as caracteristicas mais proeminentes da corrente humanista como sendo: - colocar no centro das atencées a vivencia pessoal, sendo as explicacdes tedricas e 0 comportamento observavel vistos como secundarios; ~ acreditar na possibilidade, embora nao irrestrita, de livre arbitrio; ~ exer num impulso natural para a auto-realizagao; ~ acreditar que, tendo suas necessidades mais basicas, fisicas ¢ emocionais, satisfeitas, a pessoa tende a voltar-se para aspira- Ges mais amplas, como as de ordem social e espiritual; ~ visar, como objetivo fundamental da psicoterapia, o cresci- mento e a autonomia psicolégica do cliente; - exer na importancia de se levar em conta as singularida- des da espécie humana e de cada individuo para que se possa compreendé-los; - adotar uma visio holista de ser humano, segundo a qual le 86 pode ser compreendido como um todo integrado, e nao através da andlise isolada de seus diferentes aspectos (atitude clementarista); Gestalt-terapia: Encontros ~ abordé-lo em sua real magnitude, criticando outras corren- tes por pregarem que a experiencia humana pode ser compre- endida através de um modelo mais simples do que realmente é (atitude reducionista); - crer na importancia de o terapeuta relacionar-se empatica e autenticamente com o cliente; ~ acreditar que a existéncia humana deva ser pautada pela espontaneidade ea autenticidade. 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